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PROJUDI - Processo: 0006879-76.2014.8.16.0045 - Ref. mov. 153.

1 - Assinado digitalmente por Luciano Souza Gomes:16194


22/09/2020: JULGADA PROCEDENTE EM PARTE A AÇÃO. Arq: Sentença

Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO PARANÁ
COMARCA DE ARAPONGAS
1ª VARA CÍVEL DE ARAPONGAS - PROJUDI
Rua Ibis, 888 - Edifício Fórum - Centro - Arapongas/PR - CEP: 86.700-195 - Fone: 43-3055-2202 -

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Autos nº. 0006879-76.2014.8.16.0045

Processo: 0006879-76.2014.8.16.0045
Classe Processual: Procedimento Comum Cível
Assunto Principal: Seguro
Valor da Causa: R$150.000,00
Autor(s): ANTÔNIO ALMEIDA DE ALCÂNTARA ME
EMÍLIA TALIARI DE ALCÂNTARA
ESPÓLIO DE ANTÔNIO ALMEIDA DE ALCÂNTARA
JENNIFER CAROLINE TOALIARI DE ALCÂNTARA representado(a) por
EMÍLIA TALIARI DE ALCÂNTARA
JHENNYFER FREIRE DE ALCÂNTARA
Réu(s): BANCO COOPERATIVO SICREDI S/A
ICATU SEGUROS S/A

SENTENÇA

RELATÓRIO

Trata-se de ação de cobrança c/c ressarcimento por danos morais proposta por ANTONIO ALMEIDA DE
ALCANTARA – ME e ESPÓLIO DE ANTONIO ALMEIDA DE ALCÂNTARA, representado por seus herdeiros
EMILIA TALIARI DE ALCÂNTARA, JENNIFER CAROLINE TOALIARI DE ALCÂNTARA e JHENNYFER
FREIRE DE ALCÂNTARA em face de BANCO COOPERATIVO SICREDI S/A e ICATU SEGUROS S/A, na
qual sustentam, em apertada síntese, fazerem jus (a) à atualização monetária da indenização securitária
paga sob o manto da Apólice nº 3.104.324; (b) ao pagamento do valor residual da indenização atinente à
Apólice nº 77.000.090, no valor de R$ 3.028,60 (três mil vinte e oito reais e sessenta centavos), devidos à
herdeira JHENNYFER FREIRE DE ALCÂNTARA, com a respectiva atualização monetária, bem como a
atualização dos valores já repassado às demais herdeiras, relativos à mesma apólice; e (c) ao recebimento
integral das indenizações securitárias a que se obrigaram as requeridas por meio das Apólices nº 77.000.024
e nº 93.700.097, com as atualizações devidas. Também pleiteiam (d) o pagamento de indenização por danos
morais. Acostou nos autos os documentos necessários à apreciação do pleito (seq.1.2-18).

Foi concedida assistência judiciária gratuita aos requerentes (seq. 14.1).

Devidamente citada, as requeridas apresentaram contestação (seqs. 23.1 e 24.1), alegando,


preliminarmente, (a) a ilegitimidade passiva da primeira requerida (BANCO COOPERATIVO SICREDI S/A) e,
no mérito, (b) a falta de previsão contratual para se efetuar a atualização monetária das indenizações nos
moldes pugnados pelos requerentes, bem como (c) a impossibilidade dos requerentes postularem a
cobrança judicial das obrigações insculpidas nos contratos, visto que, (c.1) na Apólice nº 77.000.090, o
segurado falecido não figurava como beneficiário do referido contrato, mas sim a primeira requerida;
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enquanto que (c.2) na Apólice nº 93.700.097, o falecido integrou o negócio jurídico contratual apenas como
sócio administrador da empresa contratante do seguro de vida em grupo, sem que ele mesmo fosse
contemplado pelas coberturas ali pactuadas; e, por fim, (c.3) com relação à Apólice nº 77.700.090, houve o
pagamento integral da indenização securitária, conforme recibos anexados nos autos. Pugnaram ainda (d)
fosse reconhecida a inexistência do suposto dano moral. Juntaram documentos (seqs. 23.2-19 e 24.2-16).

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Foi anunciado o julgamento antecipado do mérito, na forma do art. 330, I, do Código de Processo Civil (seq.
75.1).

Os autos vieram-se conclusos.

É o relatório. Decido

FUNDAMENTAÇÃO

I – Preliminar

Da legitimidade passiva

A primeira requerida alega sua ilegitimidade para figurar no polo passivo da demanda, uma vez que sua
posição jurídica nas relações contratuais é de mera estipulante em favor de terceiro, não possuindo
responsabilidade alguma pelo estrito cumprimento da obrigação avençada.

Contudo, afasto desde logo a preliminar de ilegitimidade, posto ser cediça a jurisprudência do STJ no sentido
de reconhecer a solidariedade da relação obrigacional entre instituição financeira/cooperativa de crédito e
companhia de seguro, quando a oferta de cobertura é efetuada por aquela, em nome desta:

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. SEGURO DE VIDA. COBRANÇA. LEGITIMIDADE


PASSIVA DA ESTIPULANTE. SEGURO RELAÇÃO DE CONSUMO. SEGURO CONTRATADO NO INTERIOR
DO BANCO. SÚMULA Nº 83/STJ. QUESTÃO DECIDIDA COM BASE NAS CIRCUNSTÂNCIAS FÁTICAS DA
CAUSA. SÚMULA Nº 7/STJ. 1. "É parte legítima para responder à ação em que é cobrado o cumprimento do
contrato de seguro o banco que divulga o produto, recebe o valor do prêmio, expede apólice e presta as
informações necessárias ao segurado. Precedentes do STJ" (REsp 592.510/RO, Rel. Ministro Barros Monteiro,
DJ 3/4/2006). 2. "Na esteira de precedentes desta Corte, a oferta de seguro de vida por companhia seguradora
vinculada a instituição financeira, dentro de agência bancária, implica responsabilidade solidária da empresa de
seguros e do Banco perante o consumidor" (REsp 1.300.116/SP, Rel. Ministra Nancy Andrighi, DJe 13/11/2012).
3. Estando o acórdão recorrido em perfeita harmonia com a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça incide
a Súmula nº 83 desta Corte, aplicável por ambas as alíneas do permissivo constitucional. 4. Para prevalecer a
pretensão em sentido contrário à conclusão do Tribunal de origem quanto à solidariedade passiva do banco na
demanda, mister se faz a revisão do conjunto fático dos autos, o que, como já decidido, é inviabilizado ante o
óbice da Súmula nº 7 desta Corte. 5. Agravo regimental não provido. (AgRg no REsp 1040622/RS, Rel. Ministro
RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 19/11/2013, DJe 12/12/2013).

Da aplicação do Código de Defesa do Consumidor (CDC) e da inversão do ônus probatório:

Não é ocioso registrar a aplicação aos contratos de seguro do Código de Defesa do Consumidor, que, em
seu art. 3º, § 2º, define com serviço qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante
remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das
relações de caráter trabalhista.
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Há que se considerar, igualmente, que o contrato de seguro constitui contrato típico de adesão, devendo,
portanto, ser interpretado do modo mais favorável ao consumidor aderente, nos termos do art. 47 do Código
de Defesa do Consumidor e do art. 423 do Código Civil.

À vista de tais ponderações e considerando, ainda, a hipossuficiência técnica da parte autora frente à

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seguradora, seria de rigor a inversão do ônus da prova, nos termos do art. 6º, VIII, da lei consumerista.

No entanto, a discussão acerca da inversão do ônus probatório revela-se irrelevante na hipótese, diante do
julgamento antecipado da lide, uma vez que não há necessidade de dilação probatória e as matérias
discutidas são essencialmente de direito.

II – Mérito

Da indenização securitária

Inicialmente, cumpre salientar que a causa petendi evocada pelos requerentes engloba quatro situações
obrigacionais distintas, consubstanciadas em igual número de instrumentos contratuais, a seguir
discriminadas:

a) Apólice nº 93.700.097:

Trata-se de seguro de vida em grupo contratado pela empresa requerente (ANTONIO ALMEIDA DE
ALCANTARA – ME), com o capital segurado no valor de R$ 80.000,00 (oitenta mil) reais, contando como
beneficiários os funcionários da requerente, conforme indicado na proposta de adesão (seq. 24.8).

As requeridas aduzem que a referida apólice fora estipulada tão somente em favor dos funcionários da
empresa, não do falecido, que a integrava na posição de administrador.

Os requerentes, por seu turno, contra argumentam que o falecido foi induzido a erro no preenchimento da
proposta de adesão. Certamente imaginava estar incluindo as herdeiras como beneficiárias do seguro, eis
que sequer possuía funcionários.

De fato, verifica-se que a atividade econômica do falecido se ajustava à modalidade de empresa individual.
Portanto, depreende-se que a desempenhava por si só, sem o auxílio de empregados ou demais prepostos.

O art. 422 do Código Civil erige salutar matiz principiológica para os contratos em geral, trazendo à baila a
boa-fé objetiva e o comportamento probo como elementares à fiel consecução do contrato, fazendo
prevalecer a vontade real dos contraentes, à contramão da vontade formalmente manifesta no instrumento.

No caso presente, a vontade do falecido caminhou inequivocamente no sentido de incluir as herdeiras como
beneficiárias da apólice.

Nada obstante os termos da proposta de adesão não espelharem fielmente a volição do falecido, as
requeridas quedaram-se inertes, preferindo convalidar a execução do contrato, mesmo detendo total
conhecimento acerca dessa dissonância.

Outrossim, impõe reconhecer a existência do dever de indenizar, visto que relação contratual instaurada de
fato entre as partes coloca o falecido na posição de segurado, beneficiando suas herdeiras na
superveniência do evento morte.
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Nesse sentido,

APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE COBRANÇA - SEGURO DE VIDA EM GRUPO - SÓCIA DIREITORA -


FALECIMENTO - PAGAMENTO INTEGRAL DA INDENIZAÇÃO AOS BENEFICIÁRIOS - INEXISTÊNCIA DE

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OUTROS SÓCIOS. A despeito de se tratar de contrato seguro de vida em grupo, se firmado por
empresário com firma individual, sendo a seguradora conhecedora da situação e mantendo ainda assim
ativo o contrato, tem o dever de indenizar o valor integral avençado aos beneficiários de sócia diretora
em razão de seu falecimento. (TJMG - AC: 10000200038461001 MG, Relator: Fernando Caldeira Brant, Data
de Julgamento: 04/03/2020, Data de Publicação: 05/03/2020, Grifou-se).

Pois bem. Reconhecida a responsabilidade indenizatória das requeridas, passa-se à divisão da indenização
securitária entre as beneficiárias, ante a falta de expressa previsão contratual.

Nesse sentido, conforme dispõe a cláusula 16.2 da apólice em comento (seq. 24.3), não havendo indicação
de beneficiários pelo segurado, a distribuição do capital segurado ocorrerá de acordo com legislação vigente
à época da pactuação, a saber, “(...) metade ao cônjuge não separado judicialmente, e o restante aos
herdeiros do segurado, obedecida a ordem da vocação hereditária.” (art. 782 do Código Civil) (Grifou-se).

b) Apólice nº 77.000.024:

Trata-se de seguro prestamista contratado pelo falecido, com o capital segurado individual no valor de R$
80.000,00 (oitenta mil) reais.

Os requerentes alegam que a verba indenizatória decorrente do sinistro ainda não foi paga às herdeiras
beneficiárias.

Por seu turno, os requerentes alegam que as herdeiras não são titulares da indenização securitária
estipulada na apólice, porquanto serve o seguro prestamista para subsidiar as obrigações pecuniárias
assumidas pelo devedor dentro de uma relação contratual adjacente, na hipótese de ocorrência do sinistro
para o qual detém cobertura; obrigações pecuniárias estas, no caso, advindas do saldo correspondentes à
integralização das quotas junto ao consórcio integrado pelo falecido.

Os documentos acostados tornam incontroverso que o falecido integrava um plano de consórcio


administrado pela primeira requerida, bem como que pactuou junto a ela contrato adjetivo de seguro
prestamista, objetivando se resguardar de eventual inadimplemento em virtude da ocorrência superveniente
de certos fatos previamente determinados.

Nesse passo, não merece guarita a pretensão dos requerentes no sentido de obter o pagamento da
indenização securitária às herdeiras do falecido, seja em sua totalidade ou seja com relação à diferença
entre o valor dispensado para a quitação da dívida e o capital segurado, ante a total ausência de previsão
contratual.

Veja:

RECURSO INOMINADO. AÇÃO DE COBRANÇA CUMULADA COM INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS.
SEGURO PRESTAMISTA. DESCABIMENTO DE INDENIZAÇÃO AOS HERDEIROS DA SEGURADA
FALECIDA. COBERTURA PARA SALDO DEVEDOR DE CARTÃO DE CRÉDITO. IMPROCEDÊNCIA.
PROJUDI - Processo: 0006879-76.2014.8.16.0045 - Ref. mov. 153.1 - Assinado digitalmente por Luciano Souza Gomes:16194
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SENTENÇA MANTIDA PELOS PRÓPRIOS FUNDAMENTOS. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO.
(TJPR - 1ª Turma Recursal - 0011331-98.2019.8.16.0031 - Guarapuava - Rel.: Juíza Maria Fernanda
Scheidemantel Nogara Ferreira da Costa - J. 23.06.2020 - Grifou-se);

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APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO COM PEDIDO DE COBRANÇA DE SEGURO PRESTAMISTA CUMULADA COM
PEDIDO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. SEGURO PRESTAMISTA ATRELADO A CONTRATO DE
FINANCIAMENTO DE VEÍCULO.HERDEIROS QUE PRETENDEM O RECEBIMENTO DO VALOR DO
SEGURO PRESTAMISTA EM VIRTUDE DO FALECIMENTO DE SEU GENITOR, TITULAR DO CONTRATO
DE FINANCIA- MENTO. SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA. INSURGÊNCIA DOS AUTORES.
DESCABIMENTO. HERDEIROS SEM DIREITO A RECEBER A DIFERENÇA ENTRE O CAPITAL SEGURADO
INDIVIDUAL E O VALOR DA DÍVIDA, COM BASE EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS. COBERTURA QUE SE
RESTRINGE EXCLUSIVAMENTE AO ADIMPLEMENTO DO SALDO DEVEDOR DO CONTRATO DE MÚTUO.
PAGAMENTO DA INDENIZAÇÃO SECURITÁRIA REALIZADO CORRETAMENTE AO BENEFICIÁRIO DO
SEGURO. CONDENAÇÃO AO PAGAMENTO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS INDEVIDA.
INEXISTÊNCIA DE ILÍCITO CONTRATUAL. SENTENÇA MANTIDA.RECURSO DE APELAÇÃO CONHECIDO E
NÃO PROVIDO. (TJPR - 8ª C. Cível - AC - 1380667-6 - Toledo - Rel.: Juiz Osvaldo Nallim Duarte - Unânime - J.
10.12.2015 - Grifou-se).

Assim sendo, em consonância com o contido na cláusula nº 69 do regulamento geral dos consórcios – bens
móveis (seq. 144.2), devem os requerentes aguardar a contemplação do bem básico por meio de sorteio, vez
que a quitação das quotas mediante o pagamento da indenização não enseja a automática contemplação
deste, conforme bem consignado pelo Ministério Público (seq. 150.1).

c) Apólice nº 93.104.324:

Trata-se de seguro de vida pactuado pelo falecido, contando com capital segurado no valor de R$ 83.328,00
(oitenta e três mil trezentos e vinte e oito reais), em benefício das herdeiras EMILIA TALIARI DE
ALCÂNTARA, JENNIFER CAROLINE TOALIARI DE ALCÂNTARA e JHENNYFER FREIRE DE ALCÂNTARA
(seq. 24.8).

Os requerentes alegam que as herdeiras receberam as importâncias devidas, contudo, sem a atualização
monetária prevista na apólice.

Em resposta, as requeridas rebateram que, conforme dispunha a cláusula 11 da apólice, a atualização


monetária prevista, a ocorrer de acordo com o índice IPCA, dar-se-ia com frequência ânua. Dessa forma,
tendo em vista que o seguro foi contratado na data de 17/08/2012, ao passo que o sinistro se perfez na data
de 03/10/2012, sustentam que não transcorreu o lapso temporal 01 (um) ano, portanto não há que falar em
correção monetária.

Analisando os termos da apólice, verifica-se que a aludida cláusula contratual prevê a reposição monetária
dos capitais segurados e dos prêmios correspondentes no mês de aniversário de cada seguro, ocasião em
que a atualização abrangeria os 12 (doze) meses anteriores ao mês de aniversário.

No entanto, ao teor da manifestação exarada pelo Ministério Público (seq. 101.1, item 3.1), em consonância
com o enunciado da Súmula nº 632 do STJ, que prescreve a incidência correção monetária desde a
contração até o efetivo pagamento da indenização, nos contratos de seguro celebrados sob a égide do
Código Civil, é medida de direito reconhecer a nulidade dessa cláusula e, consequentemente, acolher como
válida a pretensão dos requerentes à incidência da correção monetária desde o momento de celebração do
pacto securitário até seu efetivo pagamento.
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Nesses termos:

APELAÇÃO CÍVEL. SEGURO DE VIDA. COBRANÇA DA CORREÇÃO MONETÁRIA DEVIDA SOBRE O


PRINCIPAL CUMULADA COM PEDIDO DE INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. SENTENÇA DE PARCIAL

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PROCEDÊNCIA. AGRAVO RETIDO. JULGAMENTO ANTECIPADO DA LIDE. CERCEAMENTO DE DEFESA.
INOCORRÊNCIA. RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO. APELAÇÃO CÍVEL (...) (2). CORREÇÃO
MONETÁRIA. CLÁUSULA DE ATUALIZAÇÃO ANUAL. AUSÊNCIA DE ATUALIZAÇÃO MONETÁRIA
DURANTE A VIGÊNCIA DO CONTRATO DE SEGURO QUE DUROU POUCO MENOS DE 1 ANO.
ATUALIZAÇÃO DEVIDA DESDE A SUA CONTRATAÇÃO ATÉ A DATA DO EFETIVO PAGAMENTO .
RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO. (TJPR - 9ª C. Cível - AC - 867796-3 - Curitiba - Rel.:
Desembargador D'Artagnan Serpa Sá - Unânime - J. 30.08.2012 - Grifou-se).

d) Apólice nº 77.000.090:

Trata-se de seguro prestamista contratado pelo falecido, contando com capital segurado correspondente ao
valor inicial do débito, em benefício, primordialmente, da parte credora no contrato de mútuo bancário e,
subsidiariamente, havendo saldo remanescente, das pessoas indicadas pelo segurado ou, na sua ausência,
daquelas elencadas na forma da legislação vigente.

Os requerentes afirmam que parte da diferença entre o saldo remanescente, na proporção de R$ 3.028,60
(três mil vinte e oito reais e sessenta centavos) não foi pago à herdeira JHENNYFER FREIRE DE
ALCÂNTARA, sendo que os valores efetivamente repassados às demais herdeiras prescindiram da devida
correção monetária.

Todavia, dos diversos recibos acostados aos autos pela requerida, verifica-se que a parcela da indenização
securitária objeto de cobrança nestes autos foi escorreitamente paga à Sr.ª Leidiane Freire de Alcântara,
representante legal da herdeira à época (seq. 67.2), à despeito da ausência de atualização monetária.

Em sede de contestação, a segunda requerida sustenta a ausência de atualização monetária em decorrência


de expressa previsão contratual no sentido de atrelar a modificação do capital segurado às alterações
sofridas no saldo devedor (cláusula 11.1 da apólice).

No entanto, pelos mesmos fundamentos supra deduzidos, é de rigor a incidência da correção monetária
pleiteada desde a contratação do seguro até seu efetivo pagamento.

Do dano moral

Em sua inicial, os requerentes pugnaram, ainda, pela condenação das requeridas em danos morais,
afirmando que a recusa do pagamento da indenização causou danos aos seus direitos individuais, e à sua
personalidade.

O dano moral indenizável é aquele que pressupõe dor física e moral e se configura sempre que alguém aflige
outrem injustamente, em seu íntimo, causando-lhe dor, constrangimento, tristeza e angústia; sem, com isto,
causar prejuízo patrimonial. Alcança valores ideais, embora simultaneamente possa estar acompanhado de
danos materiais, hipótese em que se acumulam.

No caso dos autos, o simples fato de ter sido negado o pagamento da indenização securitária aos autores, e
também o fato de ter sido obrigado a tomar providências judiciais para compelir a ré ao pagamento, não são
aptos a ensejar lesão psíquica grave, mas tão somente transtornos e incômodos que, por si sós, não têm o
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condão de tornar possível a indenização pleiteada.

O inadimplemento contratual levado a termo pelas requeridas não é capaz de seviciar a honra subjetiva dos
requerentes, não colocando em risco sua credibilidade, nem mesmo sua imagem, inobstante os dissabores
decorrentes da frustração em face da negativa de pagamento.

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Nesse sentido é a jurisprudência do STJ:

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO


POR DANO MORAL. ATRASO NA PORTABILIDADE DE CAPITAL DE PLANO DE PREVIDÊNCIA PRIVADA.
INADIMPLEMENTO CONTRATUAL. DANO MORAL NÃO CONFIGURADO. MERO CONTRATEMPO.
INCIDÊNCIA DA SÚMULA Nº 83/STJ. INVERSÃO. REEXAME DE MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA. SÚMULA
Nº 7/STJ. DECISÃO MANTIDA. AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO. 1. No caso em análise, o acórdão
recorrido está em consonância com a jurisprudência desta Corte no sentido de que não cabe
indenização por dano moral em caso de mero aborrecimento decorrente de descumprimento contratual
(REsp nº 1.365.281/SP, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, Quarta Turma, DJe 23/8/2013). Incidência
da Súmula nº 83/STJ. 2. Não configurada situação excepcional, passível de compensação por abalo moral pelo
Tribunal de origem, não merece subsistir o recurso especial porque nova perquirição a respeito da existência ou
não de abalo psíquico capaz de gerar direito a ressarcimento a título de dano moral demandaria o reexame
fático-probatório do feito, inviável em recurso especial, por incidência do óbice previsto no enunciado nº 7 da
Súmula do STJ. 3. Agravo regimental não provido. (STJ - AgRg no REsp: 1433546 SC 2013/0379148-9, Relator:
Ministro MOURA RIBEIRO, Data de Julgamento: 24/03/2015, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe
07/04/2015, Grifou-se).

Desta forma, não restou configurada a ocorrência de danos morais passíveis de indenização.

DISPOSITIVO

Ante o exposto, com fulcro no art. 487, I, do Código de Processo Civil, JULGO PARCIALMENTE
PROCEDENTE a pretensão deduzida na inicial, a fim de:

(a) condenar as requeridas ao pagamento da indenização securitária contratada na Apólice nº 93.700.097,


no valor de R$ 80.000,00 (oitenta mil reais), às herdeiras do segurado, na proporção de 50% (cinquenta por
cento) à herdeira EMILIA TALIARI DE ALCÂNTARA; e de 25% (vinte e cinco por cento) às duas herdeiras
restantes, com acréscimo de juros legais de 1% a.m., a partir da citação e correção monetária (índices do
INPC) desde a contratação (STJ – Resp: 1.740.449/PR, Relator: Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA,
Data de Publicação: DJ 29/06/2018);

(b) condenar as requeridas ao pagamento da diferença correspondente à incidência de correção monetária


sobre o valor do capital segurado às herdeiras do segurado, atinente à Apólice nº Apólice nº 93.104.324,
desde a data da contratação (17/08/12) até o pagamento efetivo da indenização, com acréscimo de juros
legais de 1% a.m., a partir da citação;

(c) condenar as requeridas ao pagamento da diferença correspondente à incidência de correção monetária


sobre o valor do capital segurado às herdeiras do segurado, referente à Apólice nº 77.000.090, desde a data
da contratação (19/09/12) até o pagamento efetivo da indenização, com acréscimo de juros legais de 1%
a.m., a partir da citação.
PROJUDI - Processo: 0006879-76.2014.8.16.0045 - Ref. mov. 153.1 - Assinado digitalmente por Luciano Souza Gomes:16194
22/09/2020: JULGADA PROCEDENTE EM PARTE A AÇÃO. Arq: Sentença

Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
Por fim, considerando que os litigantes foram reciprocamente sucumbentes, condeno-os ao pagamento das
custas e despesas processuais, na proporção de 50% (cinquenta por cento) para cada uma das partes (art.
86, do Código de Processo Civil).

Condeno, ainda, os requerentes ao pagamento de honorários advocatícios em favor da parte adversa, estes

Validação deste em https://projudi.tjpr.jus.br/projudi/ - Identificador: PJYTC K45AT K8FXX 3A8LD


fixados em 10% (dez por cento) sobre o valor atualizado da condenação, tendo em vista a natureza da
demanda e o tempo exigido para o serviço, nos termos do disposto no art. 85, §§ 2º, do Código de Processo
Civil, observando-se o deferimento anterior dos benefícios da assistência judiciária gratuita.

Considerando a sucumbência recíproca, condeno também as requeridas ao pagamento de honorários


advocatícios em favor da parte adversa, estes arbitrados em 10% (dez por cento) sobre o valor atualizado da
condenação, tendo em vista a natureza da demanda e o tempo exigido para o serviço, nos termos do
disposto no art. 85, §§ 2º, do Código de Processo Civil.

Deixo de compensar os honorários de sucumbência, com fundamento no art. 85, § 14, do Código de
Processo Civil.

PUBLIQUE-SE. REGISTRE-SE. INTIMEM-SE.

Cumpram-se as disposições do Código de Normas.

Arapongas, 22 de setembro de 2020.

Luciano Souza Gomes

Juiz de Direito

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