Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO PARANÁ
COMARCA DE ARAPONGAS
1ª VARA CÍVEL DE ARAPONGAS - PROJUDI
Rua Ibis, 888 - Edifício Fórum - Centro - Arapongas/PR - CEP: 86.700-195 - Fone: 43-3055-2202 -
Processo: 0006879-76.2014.8.16.0045
Classe Processual: Procedimento Comum Cível
Assunto Principal: Seguro
Valor da Causa: R$150.000,00
Autor(s): ANTÔNIO ALMEIDA DE ALCÂNTARA ME
EMÍLIA TALIARI DE ALCÂNTARA
ESPÓLIO DE ANTÔNIO ALMEIDA DE ALCÂNTARA
JENNIFER CAROLINE TOALIARI DE ALCÂNTARA representado(a) por
EMÍLIA TALIARI DE ALCÂNTARA
JHENNYFER FREIRE DE ALCÂNTARA
Réu(s): BANCO COOPERATIVO SICREDI S/A
ICATU SEGUROS S/A
SENTENÇA
RELATÓRIO
Trata-se de ação de cobrança c/c ressarcimento por danos morais proposta por ANTONIO ALMEIDA DE
ALCANTARA – ME e ESPÓLIO DE ANTONIO ALMEIDA DE ALCÂNTARA, representado por seus herdeiros
EMILIA TALIARI DE ALCÂNTARA, JENNIFER CAROLINE TOALIARI DE ALCÂNTARA e JHENNYFER
FREIRE DE ALCÂNTARA em face de BANCO COOPERATIVO SICREDI S/A e ICATU SEGUROS S/A, na
qual sustentam, em apertada síntese, fazerem jus (a) à atualização monetária da indenização securitária
paga sob o manto da Apólice nº 3.104.324; (b) ao pagamento do valor residual da indenização atinente à
Apólice nº 77.000.090, no valor de R$ 3.028,60 (três mil vinte e oito reais e sessenta centavos), devidos à
herdeira JHENNYFER FREIRE DE ALCÂNTARA, com a respectiva atualização monetária, bem como a
atualização dos valores já repassado às demais herdeiras, relativos à mesma apólice; e (c) ao recebimento
integral das indenizações securitárias a que se obrigaram as requeridas por meio das Apólices nº 77.000.024
e nº 93.700.097, com as atualizações devidas. Também pleiteiam (d) o pagamento de indenização por danos
morais. Acostou nos autos os documentos necessários à apreciação do pleito (seq.1.2-18).
Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
enquanto que (c.2) na Apólice nº 93.700.097, o falecido integrou o negócio jurídico contratual apenas como
sócio administrador da empresa contratante do seguro de vida em grupo, sem que ele mesmo fosse
contemplado pelas coberturas ali pactuadas; e, por fim, (c.3) com relação à Apólice nº 77.700.090, houve o
pagamento integral da indenização securitária, conforme recibos anexados nos autos. Pugnaram ainda (d)
fosse reconhecida a inexistência do suposto dano moral. Juntaram documentos (seqs. 23.2-19 e 24.2-16).
É o relatório. Decido
FUNDAMENTAÇÃO
I – Preliminar
Da legitimidade passiva
A primeira requerida alega sua ilegitimidade para figurar no polo passivo da demanda, uma vez que sua
posição jurídica nas relações contratuais é de mera estipulante em favor de terceiro, não possuindo
responsabilidade alguma pelo estrito cumprimento da obrigação avençada.
Contudo, afasto desde logo a preliminar de ilegitimidade, posto ser cediça a jurisprudência do STJ no sentido
de reconhecer a solidariedade da relação obrigacional entre instituição financeira/cooperativa de crédito e
companhia de seguro, quando a oferta de cobertura é efetuada por aquela, em nome desta:
Não é ocioso registrar a aplicação aos contratos de seguro do Código de Defesa do Consumidor, que, em
seu art. 3º, § 2º, define com serviço qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante
remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das
relações de caráter trabalhista.
PROJUDI - Processo: 0006879-76.2014.8.16.0045 - Ref. mov. 153.1 - Assinado digitalmente por Luciano Souza Gomes:16194
22/09/2020: JULGADA PROCEDENTE EM PARTE A AÇÃO. Arq: Sentença
Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
Há que se considerar, igualmente, que o contrato de seguro constitui contrato típico de adesão, devendo,
portanto, ser interpretado do modo mais favorável ao consumidor aderente, nos termos do art. 47 do Código
de Defesa do Consumidor e do art. 423 do Código Civil.
À vista de tais ponderações e considerando, ainda, a hipossuficiência técnica da parte autora frente à
No entanto, a discussão acerca da inversão do ônus probatório revela-se irrelevante na hipótese, diante do
julgamento antecipado da lide, uma vez que não há necessidade de dilação probatória e as matérias
discutidas são essencialmente de direito.
II – Mérito
Da indenização securitária
Inicialmente, cumpre salientar que a causa petendi evocada pelos requerentes engloba quatro situações
obrigacionais distintas, consubstanciadas em igual número de instrumentos contratuais, a seguir
discriminadas:
a) Apólice nº 93.700.097:
Trata-se de seguro de vida em grupo contratado pela empresa requerente (ANTONIO ALMEIDA DE
ALCANTARA – ME), com o capital segurado no valor de R$ 80.000,00 (oitenta mil) reais, contando como
beneficiários os funcionários da requerente, conforme indicado na proposta de adesão (seq. 24.8).
As requeridas aduzem que a referida apólice fora estipulada tão somente em favor dos funcionários da
empresa, não do falecido, que a integrava na posição de administrador.
Os requerentes, por seu turno, contra argumentam que o falecido foi induzido a erro no preenchimento da
proposta de adesão. Certamente imaginava estar incluindo as herdeiras como beneficiárias do seguro, eis
que sequer possuía funcionários.
De fato, verifica-se que a atividade econômica do falecido se ajustava à modalidade de empresa individual.
Portanto, depreende-se que a desempenhava por si só, sem o auxílio de empregados ou demais prepostos.
O art. 422 do Código Civil erige salutar matiz principiológica para os contratos em geral, trazendo à baila a
boa-fé objetiva e o comportamento probo como elementares à fiel consecução do contrato, fazendo
prevalecer a vontade real dos contraentes, à contramão da vontade formalmente manifesta no instrumento.
No caso presente, a vontade do falecido caminhou inequivocamente no sentido de incluir as herdeiras como
beneficiárias da apólice.
Nada obstante os termos da proposta de adesão não espelharem fielmente a volição do falecido, as
requeridas quedaram-se inertes, preferindo convalidar a execução do contrato, mesmo detendo total
conhecimento acerca dessa dissonância.
Outrossim, impõe reconhecer a existência do dever de indenizar, visto que relação contratual instaurada de
fato entre as partes coloca o falecido na posição de segurado, beneficiando suas herdeiras na
superveniência do evento morte.
PROJUDI - Processo: 0006879-76.2014.8.16.0045 - Ref. mov. 153.1 - Assinado digitalmente por Luciano Souza Gomes:16194
22/09/2020: JULGADA PROCEDENTE EM PARTE A AÇÃO. Arq: Sentença
Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
Nesse sentido,
Pois bem. Reconhecida a responsabilidade indenizatória das requeridas, passa-se à divisão da indenização
securitária entre as beneficiárias, ante a falta de expressa previsão contratual.
Nesse sentido, conforme dispõe a cláusula 16.2 da apólice em comento (seq. 24.3), não havendo indicação
de beneficiários pelo segurado, a distribuição do capital segurado ocorrerá de acordo com legislação vigente
à época da pactuação, a saber, “(...) metade ao cônjuge não separado judicialmente, e o restante aos
herdeiros do segurado, obedecida a ordem da vocação hereditária.” (art. 782 do Código Civil) (Grifou-se).
b) Apólice nº 77.000.024:
Trata-se de seguro prestamista contratado pelo falecido, com o capital segurado individual no valor de R$
80.000,00 (oitenta mil) reais.
Os requerentes alegam que a verba indenizatória decorrente do sinistro ainda não foi paga às herdeiras
beneficiárias.
Por seu turno, os requerentes alegam que as herdeiras não são titulares da indenização securitária
estipulada na apólice, porquanto serve o seguro prestamista para subsidiar as obrigações pecuniárias
assumidas pelo devedor dentro de uma relação contratual adjacente, na hipótese de ocorrência do sinistro
para o qual detém cobertura; obrigações pecuniárias estas, no caso, advindas do saldo correspondentes à
integralização das quotas junto ao consórcio integrado pelo falecido.
Nesse passo, não merece guarita a pretensão dos requerentes no sentido de obter o pagamento da
indenização securitária às herdeiras do falecido, seja em sua totalidade ou seja com relação à diferença
entre o valor dispensado para a quitação da dívida e o capital segurado, ante a total ausência de previsão
contratual.
Veja:
RECURSO INOMINADO. AÇÃO DE COBRANÇA CUMULADA COM INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS.
SEGURO PRESTAMISTA. DESCABIMENTO DE INDENIZAÇÃO AOS HERDEIROS DA SEGURADA
FALECIDA. COBERTURA PARA SALDO DEVEDOR DE CARTÃO DE CRÉDITO. IMPROCEDÊNCIA.
PROJUDI - Processo: 0006879-76.2014.8.16.0045 - Ref. mov. 153.1 - Assinado digitalmente por Luciano Souza Gomes:16194
22/09/2020: JULGADA PROCEDENTE EM PARTE A AÇÃO. Arq: Sentença
Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
SENTENÇA MANTIDA PELOS PRÓPRIOS FUNDAMENTOS. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO.
(TJPR - 1ª Turma Recursal - 0011331-98.2019.8.16.0031 - Guarapuava - Rel.: Juíza Maria Fernanda
Scheidemantel Nogara Ferreira da Costa - J. 23.06.2020 - Grifou-se);
Assim sendo, em consonância com o contido na cláusula nº 69 do regulamento geral dos consórcios – bens
móveis (seq. 144.2), devem os requerentes aguardar a contemplação do bem básico por meio de sorteio, vez
que a quitação das quotas mediante o pagamento da indenização não enseja a automática contemplação
deste, conforme bem consignado pelo Ministério Público (seq. 150.1).
c) Apólice nº 93.104.324:
Trata-se de seguro de vida pactuado pelo falecido, contando com capital segurado no valor de R$ 83.328,00
(oitenta e três mil trezentos e vinte e oito reais), em benefício das herdeiras EMILIA TALIARI DE
ALCÂNTARA, JENNIFER CAROLINE TOALIARI DE ALCÂNTARA e JHENNYFER FREIRE DE ALCÂNTARA
(seq. 24.8).
Os requerentes alegam que as herdeiras receberam as importâncias devidas, contudo, sem a atualização
monetária prevista na apólice.
Analisando os termos da apólice, verifica-se que a aludida cláusula contratual prevê a reposição monetária
dos capitais segurados e dos prêmios correspondentes no mês de aniversário de cada seguro, ocasião em
que a atualização abrangeria os 12 (doze) meses anteriores ao mês de aniversário.
No entanto, ao teor da manifestação exarada pelo Ministério Público (seq. 101.1, item 3.1), em consonância
com o enunciado da Súmula nº 632 do STJ, que prescreve a incidência correção monetária desde a
contração até o efetivo pagamento da indenização, nos contratos de seguro celebrados sob a égide do
Código Civil, é medida de direito reconhecer a nulidade dessa cláusula e, consequentemente, acolher como
válida a pretensão dos requerentes à incidência da correção monetária desde o momento de celebração do
pacto securitário até seu efetivo pagamento.
PROJUDI - Processo: 0006879-76.2014.8.16.0045 - Ref. mov. 153.1 - Assinado digitalmente por Luciano Souza Gomes:16194
22/09/2020: JULGADA PROCEDENTE EM PARTE A AÇÃO. Arq: Sentença
Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
Nesses termos:
d) Apólice nº 77.000.090:
Trata-se de seguro prestamista contratado pelo falecido, contando com capital segurado correspondente ao
valor inicial do débito, em benefício, primordialmente, da parte credora no contrato de mútuo bancário e,
subsidiariamente, havendo saldo remanescente, das pessoas indicadas pelo segurado ou, na sua ausência,
daquelas elencadas na forma da legislação vigente.
Os requerentes afirmam que parte da diferença entre o saldo remanescente, na proporção de R$ 3.028,60
(três mil vinte e oito reais e sessenta centavos) não foi pago à herdeira JHENNYFER FREIRE DE
ALCÂNTARA, sendo que os valores efetivamente repassados às demais herdeiras prescindiram da devida
correção monetária.
Todavia, dos diversos recibos acostados aos autos pela requerida, verifica-se que a parcela da indenização
securitária objeto de cobrança nestes autos foi escorreitamente paga à Sr.ª Leidiane Freire de Alcântara,
representante legal da herdeira à época (seq. 67.2), à despeito da ausência de atualização monetária.
No entanto, pelos mesmos fundamentos supra deduzidos, é de rigor a incidência da correção monetária
pleiteada desde a contratação do seguro até seu efetivo pagamento.
Do dano moral
Em sua inicial, os requerentes pugnaram, ainda, pela condenação das requeridas em danos morais,
afirmando que a recusa do pagamento da indenização causou danos aos seus direitos individuais, e à sua
personalidade.
O dano moral indenizável é aquele que pressupõe dor física e moral e se configura sempre que alguém aflige
outrem injustamente, em seu íntimo, causando-lhe dor, constrangimento, tristeza e angústia; sem, com isto,
causar prejuízo patrimonial. Alcança valores ideais, embora simultaneamente possa estar acompanhado de
danos materiais, hipótese em que se acumulam.
No caso dos autos, o simples fato de ter sido negado o pagamento da indenização securitária aos autores, e
também o fato de ter sido obrigado a tomar providências judiciais para compelir a ré ao pagamento, não são
aptos a ensejar lesão psíquica grave, mas tão somente transtornos e incômodos que, por si sós, não têm o
PROJUDI - Processo: 0006879-76.2014.8.16.0045 - Ref. mov. 153.1 - Assinado digitalmente por Luciano Souza Gomes:16194
22/09/2020: JULGADA PROCEDENTE EM PARTE A AÇÃO. Arq: Sentença
Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
condão de tornar possível a indenização pleiteada.
O inadimplemento contratual levado a termo pelas requeridas não é capaz de seviciar a honra subjetiva dos
requerentes, não colocando em risco sua credibilidade, nem mesmo sua imagem, inobstante os dissabores
decorrentes da frustração em face da negativa de pagamento.
Desta forma, não restou configurada a ocorrência de danos morais passíveis de indenização.
DISPOSITIVO
Ante o exposto, com fulcro no art. 487, I, do Código de Processo Civil, JULGO PARCIALMENTE
PROCEDENTE a pretensão deduzida na inicial, a fim de:
Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
Por fim, considerando que os litigantes foram reciprocamente sucumbentes, condeno-os ao pagamento das
custas e despesas processuais, na proporção de 50% (cinquenta por cento) para cada uma das partes (art.
86, do Código de Processo Civil).
Condeno, ainda, os requerentes ao pagamento de honorários advocatícios em favor da parte adversa, estes
Deixo de compensar os honorários de sucumbência, com fundamento no art. 85, § 14, do Código de
Processo Civil.
Juiz de Direito