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PROJUDI - Processo: 0032088-82.2020.8.16.0030 - Ref. mov. 161.

1 - Assinado digitalmente por Robson Batista Montanheiro


30/01/2023: JUNTADA DE PETIÇÃO DE INTERPOSIÇÃO DE RECURSO. Arq: Petição

Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
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AO JUÍZO DE DIREITO DA 4ª VARA CÍVEL DE FOZ DO IGUAÇU/PR.

Autos n. 0032088-82.2020.8.16.0030

EFIGÊNIA DE OLIVEIRA PAREDES, já qualificada nos autos em epígrafe, onde


demanda contra BANCO C6 CONSIGNADOS S.A, também qualificada, vem,
respeitosamente perante este Juízo, inconformado com a sentença proferida no seq.
158.1, com fundamento no artigo 1.009 e seguintes do Código de Processo Civil,
interpor o presente RECURSO DE APELAÇÃO, conforme razões que seguem.

Requer-se seja a parte contrária intimada para, querendo, oferecer suas


contrarrazões no prazo legal, e, posteriormente, sejam os autos remetidos ao
Egrégio Tribunal de Justiça do Paraná.

Nestes termos, pede deferimento.


Foz do Iguaçu, 17 de janeiro de 2022.

ROBSON BATISTA MONTANHEIRO


OAB/PR 96497
PROJUDI - Processo: 0032088-82.2020.8.16.0030 - Ref. mov. 161.1 - Assinado digitalmente por Robson Batista Montanheiro
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AO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO PARANÁ

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RAZÕES DO RECURSO DE APELAÇÃO

Apelante: Efigênia de Oliveira Paredes


Apelado: Banco C6 Consignados S.A
Autos n. 0032088-82.2020.8.16.0030
Origem: 4ª VARA CÍVEL DE FOZ DO IGUAÇU/PR.

Egrégio Tribunal de Justiça,


Colenda Câmara Julgada
Eminente Relator

I. DO RECOLHIMENTO DO PREPARO:

A recorrente é beneficiária da Justiça Gratuita.

II. DA TEMPESTIVIDADE RECURSAL:

O prazo para interposição e resposta dos recursos na sistemática do CPC de


2015 é de 15 dias, salvo embargos de declaração. Tendo, a rigor, termo inicial a data
em que o advogado é intimado da decisão, na forma do art. 1.003 do CPC.
A sentença foi proferida em 13 de janeiro de 2023. Devendo a contagem do prazo
iniciar somente dia 24 de janeiro terminando em 14 de fevereiro de 2022. Portanto,
tempestivo.

III. DOS FATOS OCORRIDOS E DA DISCUSSÃO JURÍDICA:

A recorrente ingressou em juízo em dezembro de 2020. Foi durante aquele


contexto pandêmico que a recorrente notou que a recorrida havia unilateralmente
formalizado um contrato, emprestando-lhe valores que não havia contratado.

Após tentativa administrativa frustrada, ajuizou a presente ação visto que ela
própria entendera como abusiva a conduta de emprestar-lhe o dinheiro e assim
constrangê-la a permanecer com eles e consequentemente obrigada pelo vínculo
contratual.
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Pretendeu, portanto, a declaração de inexistência de relação jurídica

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fraudulentamente praticada pelo recorrido, e acessoriamente sua condenação ao
pagamento de indenização por danos morais, além de concessão de tutela de
urgência.

O juízo a quo recebeu a inicial, concedeu a tutela de urgência e determinou a


citação do réu (seq. 12.1).

Em sede de contestação, alegou-se regularidade no negócio jurídico onde o


réu apresentou um contrato escrito e supostamente assinado pela recorrente.

Na réplica, defendeu-se a falsidade da assinatura aposta ao contrato,


instaurando-se procedimento incidental.

O contrato foi submetido ao exame de profissional expert, perito grafotécnico,


o qual concluiu como não pertencente à recorrente a assinatura constante no
contrato apresentado pela recorrida. (seq. 112.1).

O incidente foi julgado procedente (seq. 121.1)

Entretanto, a ação foi julgada parcialmente procedente, porquanto reconheceu


procedente a declaração de inexistência da relação jurídica mas também pela
improcedência do pedido quanto aos danos morais sofridos. (seq. 158.1)

IV. DAS RAZÕES RECURSAIS – FUNDAMENTOS PARA REFORMA DA


SENTENÇA ATACADA:

DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

O juízo a quo reconheceu a relação de consumo ocorrida, uma vez que as


partes se enquadram nos conceitos de consumidor e fornecedor previstas no Código
de Defesa do Consumidor.

Reconheceu também a inversão do ônus da prova com direito básico do


consumidor, fazendo-o recair sobre o recorrente.
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Ocorre que embora em sede de contestação tenha apresentado contrato em

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juízo, demonstrou-se por perícia técnica tratar-se de documento apócrifo cuja
assinatura nele aposta não pertencia ao punho caligráfico da autora.

Inegável que no caso dos autos, era do recorrido o ônus de provar a higidez e
a validade da relação jurídica relativa ao contrato apresentado.

Assim, aquele que alega fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito


assume o ônus de provar, realidade jurídica esta que torna verdadeira regra de
julgamento.

Como o recorrente não se desincumbiu do ônus que lhe cabia, a penalidade


jurídico-processual é a integral procedência da tese autoral, com a lógica concessão
do pedido apresentado, haja vista que a satisfatividade está materializada nos
pedidos.

Por essa razão a procedência do pedido da autora à medida que se impõe,


sendo absolutamente necessária a reforma da decisão originária.

Tal entendimento está de acordo com o a decisão do STJ no REsp n. 1846649/MA


de 09/12/2021.

RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL.


ACÓRDÃO PROFERIDO EM IRDR.
CONTRATOS BANCÁRIOS. EMPRÉSTIMO
CONSIGNADO. DOCUMENTO PARTICULAR.
IMPUGNAÇÃO DA AUTENTICIDADE DA
ASSINATURA. ÔNUS DA PROVA. RECURSO
ESPECIAL PARCIALMENTE CONHECIDO E, NESSA
EXTENSÃO, DESPROVIDO.
1. Para os fins do art. 1.036 do CPC/2015, a tese firmada
é a seguinte: "Na hipótese em que o consumidor/autor
impugnar a autenticidade da assinatura constante em
contrato bancário juntado ao processo pela instituição
financeira, caberá a esta o ônus de provar a sua
autenticidade (CPC, arts. 6º, 368 e 429, II)." 2.
Julgamento do caso concreto.
2.1. A negativa de prestação jurisdicional não foi
demonstrada, pois deficiente sua fundamentação, já que
o recorrente não especificou como o acórdão de origem
teria se negado a enfrentar questões aduzidas pelas
partes, tampouco discorreu sobre as matérias que
entendeu por omissas. Aplicação analógica da Súmula
284/STF.
2.2. O acórdão recorrido imputou o ônus probatório à
instituição financeira, conforme a tese acima firmada, o
que impõe o desprovimento do recurso especial.
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3. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa

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extensão, desprovido.
(REsp 1846649/MA, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO
BELLIZZE, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 24/11/2021, DJe
09/12/2021)

DA VIOLAÇÃO DA SÚMULA 479 DO STJ E DA OCORRÊNCIA DE DANOS


MATERIAIS E MORAIS.

A sentença proferida violou a súmula 479 do STJ aplicável ao caso, visto que
as instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos gerados por fortuito
interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros em suas operações.

As instituições financeiras respondem objetivamente pelos


danos gerados por fortuito interno relativo a fraudes e
delitos praticados por terceiros no âmbito de operações
bancárias.

Ocorre que no curso do processo foi produza competente prova pericial. Nomeou-
se perito, o qual após aplicar todos os métodos teóricos de minucioso exame,
concluiu pela falsidade da assinatura aposta no contrato.

Portanto, os fatos amoldam-se em absoluto ao teor da referida súmula. Tal


situação, manifestamente constrangedora e aflitiva, supera a esfera do mero
aborrecimento do cotidiano, havendo se impor efetiva responsabilização ao recorrido.

A manutenção da decisão proferida pelo r. juízo de primeiro grau descredibiliza o


poder judiciário e se mostra como verdadeira licença para instituições financeiras
praticarem as mais inusitadas formas possíveis de atos ilícitos na sociedade, certos
de que não sofrerão real responsabilização por suas ações, desestimulando o cidadão
tanto de realizar negócios jurídicos necessários e importantes para a economia
quanto provocar a máquina estatal em busca de justiça.

A partir do momento em que o ser humano se sente ameaçado, passa a ter a


necessidade de se proteger. Para isso ele precisa de alguém maior e imparcial que
possa garantir seus direitos e é o Estado quem desempenha esse papel.

Assim, o ser humano aceita abdicar de sua liberdade para se submeter às leis da
sociedade e do Estado. Por sua parte, o Estado se compromete em defender o
homem, o bem comum e dar condições para que ele se desenvolva. Essa relação
entre o indivíduo e o Estado é chamada por Thomas Hobbes de Contrato Social.
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No caso sub judice, não houve aplicação da súmula porque não houve aplicação
de qualquer responsabilidade ao recorrente. O consumidor foi aviltado,
desmoralizado, pois teve sua assinatura falsificada e aposta em um contrato
particular em absoluta má-fé. Seja da instituição financeira, seja de seus
correspondentes, culpa esta irrelevante ao consumidor lesado.

Essa é a razão de ser da súmula mencionada. Ela foi editada para o fim de
garantir, de proteger direitos dos mais frágeis nas relações contratuais perante
instituições financeiras.

De fato, houve danos materiais, pois a recorrente teve gastos com advogado,
gastos com deslocamento à agência Nexo e ao Procon. Contudo, relativamente aos
descontos, eles não chegaram a acontecer, pois a recorrente ingressou em juízo
antes do início dos descontos mensais no seu benefício. O que significa que eles
teriam ordinariamente acontecido durante o deslinde da ação, caso não fossem
suspendidos.

Destaque importante a se fazer é que a recorrente JAMAIS TERIA SEU


NOME NAGATIVADO POR INADIMPLEMENTO, pois os descontos se dariam
consignados à folha de pagamento do seu benefício de pensão por morte
do falecido marido, fato este que torna a conduta do recorrido mais
aviltante e merecedora de incisiva reprimenda do estado.

De outro lado, há evidente dano de ordem moral. O abalo consiste em todo o


incomodo, perda tempo produtivo do consumidor, inclusive discutido na propositura
da inicial. O abalo moral existe também pelo fato da ineficácia da solução
administrativa e a necessidade de contratar advogado para a defesa de seus
interesses.

Esses danos se protraem no tempo, pois desde então, diga-se dois anos, a
consumidora vive o drama da incerteza de ter que assumir as responsabilidades
contratuais contra sua vontade e de ter que devolver os valores depositados em sua
conta.

Assim, por todos esses fatos não há como conceber que tudo não passou de mero
aborrecimento do cotidiano. Sendo medida de justiça que se reconheça os danos
sofridos na esfera moral com efetiva e necessária indenização.

Nessa esteira de entendimento, o TJPR já se posicionou em casos idênticos sobre


a incidência dos danos morais. Veja-se

APELAÇÕES CÍVEIS - AÇÃO DECLARATÓRIA DE


INEXISTÊNCIA DE NULIDADE CONTRATUAL C/C
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INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL E MATERIAL-

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SENTENÇA DE PARCIAL PROCEDÊNCIA.APELO (1)
– RECURSO DA PARTE RÉAfastamento de condenação
por danos morais ou redução do valor – Ausência de
interesse recursal – Magistrado singular que não
condenou a parte ao pagamento de indenização por
danos morais.Alegação de legalidade da contratação –
Não provimento – Fraude na contratação em razão de
assinatura falsa reconhecida por perícia grafotécnica –
Responsabilidade objetiva do banco – Art. 14 do CDC.
Afastamento de repetição do indébito na forma dobrada –
Não acolhimento – A repetição do indébito em dobro
somente é admissível quando há prova da má-fé no ato
da cobrança indevida – Comprovada má-fé da instituição
financeira – Banco que utilizou de assinatura falsa para
perpetração do contrato de empréstimo consignado via
RMC.Sentença mantida.APELO (2) – RECURSO DA PARTE
AUTORAPedido de indenização por Dano Moral –
Acolhimento – Falsificação de assinatura no contrato de
empréstimo bancário – Utilização fraudulenta do
instrumento contratual – Instituição bancária que não
agiu com a necessária cautela e diligência –
Responsabilidade civil objetiva – Súmula 497 do STJ –
Quantum de indenização fixado em R$ 10.000,00 (dez mil
reais), valor que se mostra proporcional à situação
ocorrida.Sentença reformada.RECURSO DE APELAÇÃO (1)
– PARCIALMENTE CONHECIDO E NÃO
PROVIDO.RECURSO DE APELAÇÃO (2) – PROVIDO.

DA FALHA NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS

Oportuno destacar que a conduta do banco neste momento já viola enunciado 1.5
da 3ª Turma Recursal do TJPR que trata do Call center ineficiente e consequente
configuração de dano moral.

A falha na prestação dos serviços, combinada com a


ausência de solução administrativa aos reclamos do
consumidor, configura dano moral.

Conforme declarado na inicial, a recorrente não contratou o serviço de


empréstimo com o banco recorrido. Assim que tomou conhecimento, fez contato
telefônico com banco solicitando o cancelamento da operação. Ao que recebeu
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pronta afirmativa de que o cancelamento aconteceria e que o valor seria estornado

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da conta. Passados alguns dias, a recorrente procurou o Procon que a orientou
procurar um advogado.

Portanto, a recorrente desde o início se esteve imbuída de boa-fé valendo-se


das tratativas administrativas, porém todas foram infrutíferas. Esse fato, segundo o
enunciado supra, já enseja reparação de danos morais. Além disso, desde aquela
data, novembro de 2020, a autora sofre as dores de ter sido violada em seu direito,
tendo que recorrer ao poder judiciário para obter uma solução.

DA PRÁTICA ABUSIVA

A violação de direitos, atingindo exclusivamente a esfera moral da recorrente, tem


assento tanto no Código Civil1, quanto em outro enunciado de Turma Recursal do
TJPR o de n. 1.7.

Este enunciado expõe o entendimento de que caracteriza verdadeira prática


abusiva e, portanto, comportando indenização por danos morais não somente a
cobrança pelos serviços não contratados, mas também a disponibilização.

O referido enunciado não exige o efetivo desconto de parcelas para a incidência


de dano moral, mas somente para a restituição em dobro. Os danos morais
indenizáveis constam da disponibilização e cobrança pelos serviços não solicitados.
Veja:

A disponibilização e cobrança por serviços não


solicitados pelo usuário caracteriza prática abusiva,
comportando indenização por dano moral e, se tiver
havido pagamento, restituição em dobro, invertendo-se o
ônus da prova, nos termos do art. 6º, VIII, do CDC, visto
que não se pode impor ao consumidor a prova de fato
negativo.

Assim, os danos sofridos na esfera extrapatrimonial pela recorrente, são


decorrentes do ato ilícito da recorrida que tanto na forma da Lei pertinente ao caso
quanto no entendimento deste Egrégio Tribunal de Justiça são passíveis de
indenização.

1
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito.
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Requer, pois, majoração dos valores a título de danos morais indenizáveis,
sofridos pela recorrente, pelas razões acima expostas.

DA DEVOLUÇÃO DOS VALORES

O juízo sentenciante determinou que a autora devolva os valores recebidos em


conta, porquanto sua manutenção geraria um verdadeiro enriquecimento sem causa,
não justificado pelos fatos descritos nos autos.

Com a devida vênia, não deve prosperar tal raciocínio.

Primeiro, é uma Lei Federal que estabelece que serviços prestados ou produtos
remetidos ou entregues ao consumidor, sem solicitação prévia, equiparam-se a
amostras grátis2, inexistindo obrigação de pagamento. Sendo, portanto, a obrigação
de devolver os valores nitidamente afrontosa ao texto de lei.

Segundo, não há que se falar em enriquecimento sem causa, visto que a natureza
do estatuído no artigo 39, III, § único do CDC é penalizatório é pedagógico, pois
consta topograficamente do rol de práticas abusivas. A percepção de enriquecimento
sem causa, está para as relações civis ordinárias 3, devendo ser afastada aqui, ante a
incidência do princípio da especialidade de normas.

É exatamente o caso dos autos. A autora não solicitou qualquer empréstimo, mas
o recorrido efetuou depósito mesmo assim. Destaque-se que os fatos se
desenrolaram de forma on-line, comprovando-se que a recorrente não buscou
presencialmente pelos serviços da requerida. Tão somente foi surpreendida com a
notícia da existência da contratação.

O suposto negócio jurídico regular defendido pelo recorrido, foi desbancado,


quando provado por perícia que a assinatura constante no contrato apresentado em
juízo era falsa.

Dessa forma, o legislador intentou fazer recair sobre o praticante de conduta de


captação compulsória de clientela o risco de suportar tal prejuízo, qual seja o de

2
Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas: (Redação dada pela Lei nº 8.884, de
11.6.1994) III - enviar ou entregar ao consumidor, sem solicitação prévia, qualquer produto, ou fornecer qualquer serviço; Parágrafo
único. Os serviços prestados e os produtos remetidos ou entregues ao consumidor, na hipótese prevista no inciso III,
equiparam-se às amostras grátis, inexistindo obrigação de pagamento.

3
Na forma do art. 884 do Código Civil.
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perder valores e/ou produtos quando remetidos sem prévia solicitação, pois

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considerados como amostras grátis.

O Tribunal de Justiça paranaense também tem jurisprudência favorável a este


entendimento, reconhecendo-se por amostra grátis os valores depositados em conta
de consumidor que não os solicitou. Veja:

RECURSO INOMINADO. AÇÃO DECLARATÓRIA DE


NULIDADE DE COBRANÇA C/C DANOS MATERIAIS E
MORAIS. UNIVERSO ONLINE. FORNECIMENTO DE
SERVIÇO SEM A SOLICITAÇÃO DA CONSUMIDORA.
EQUIPARAÇÃO A AMOSTRA GRÁTIS (ART. 39,
PARÁGRAFO ÚNICO, DO CDC). COBRANÇA INDEVIDA.
PRÁTICA ABUSIVA. RESTITUIÇÃO DO VALOR PAGO, EM
DOBRO. DANO MORAL CONFIGURADO. QUANTUM
FIXADO EM R$ 2.000,00 (DOIS MIL REAIS).
OBSERVÂNCIA AOS PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E
PROPORCIONALIDADE E AOS PARÂMETROS DESTA
TURMA RECURSAL. SENTENÇA REFORMADA. Recurso
conhecido e provido.
(TJPR - 1ª Turma Recursal - 0005422-06.2020.8.16.0075
- Cornélio Procópio - Rel.: JUIZ DE DIREITO DA TURMA
RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS NESTARIO DA
SILVA QUEIROZ - J. 20.09.2021)

Outro julgado do TJPR, em sede de Recurso Inominado, corroborando a


aplicabilidade da tese de amostra grátis aos casos de serviços não solicitados. Segue:

RECURSO INOMINADO. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR


DANOS MORAIS E MATERIAIS. UNIVERSO ONLINE.
FORNECIMENTO DE SERVIÇO SEM A SOLICITAÇÃO DA
CONSUMIDORA. EQUIPARAÇÃO A AMOSTRA GRÁTIS
(ART. 39, PARÁGRAFO ÚNICO DO CDC). COBRANÇA
INDEVIDA. PRÁTICA ABUSIVA.DANO MORAL
CONFIGURADO. FIXADO EM R$ 2.000,00QUANTUM
(DOIS MIL REAIS). OBSERVÂNCIA AOS PRINCÍPIOS DA
RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE E AOS
PARÂMETROS DESTA TURMA RECURSAL. SENTENÇA
PARCIALMENTE REFORMADA. Recurso conhecido e
provido. (TJPR - 1ª Turma Recursal - 0003870-
36.2019.8.16.0044 - Apucarana - Rel.: JUIZ DE DIREITO
DA TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS
NESTARIO DA SILVA QUEIROZ - J. 16.03.2020)
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Assim, requer a reforma da decisão originária também neste ponto, a fim de

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reconhecer-se os valores depositados em conta como amostra grátis, afastando por
fim a obrigação de devolvê-los.

VI. DOS PEDIDOS E REQUERIMENTOS:

Pelo exposto, requer:

A. O recebimento e processamento do presente Recurso de Apelação, pois


preenchidos os pressupostos de admissibilidade;
B. O recebimento do recurso nos seus respectivos efeitos devolutivo, suspensivo;
C. Ao final, o conhecimento e o provimento do Recurso de Apelação, a fim de
reformar a sentença de primeiro grau;
D. No mérito, o reconhecimento dos danos morais sofridos e sua fixação na ordem
de R$ 8.500,00, pelas razões expostas e com incidência de juros moratórios desde o
evento danoso na forma da súmula n. 54 do STJ.
E. O reconhecimento como amostra grátis do valor de R$ 1.199,60 creditado na
conta da recorrente e o consequente afastamento da obrigação de devolve-los.
F. Condenação da recorrida ao pagamento de honorários sucumbenciais.

Nestes termos,

Pede deferimento.

Foz do Iguaçu, 20 de janeiro de 2023

ROBSON BATISTA MONTANHEIRO


OAB/PR 96497

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