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PROJUDI - Processo: 0001686-35.2022.8.16.0131 - Ref. mov. 47.

1 - Assinado digitalmente por Daniel Proenca Larsson


19/07/2022: PROFERIDA DECISÃO POR JUIZ LEIGO. Arq: Decisão

Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO PARANÁ
Comarca de Pato Branco – Juizado Especial Cível

Validação deste em https://projudi.tjpr.jus.br/projudi/ - Identificador: PJLKX WEPBC 8RZAQ QF6LD


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Autos nº 0001686-35.2022.8.16.0131

SENTENÇA

1. Relatório.

Dispensado o relatório formal, nos termos do artigo 38, “caput”, “in fine” da Lei
n° 9.099/1995.

2. Fundamentação.

2.1. Aplicação do Código de Defesa do Consumidor.

Reconheço a aplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor ao caso,


porquanto a parte requerente se enquadra como consumidora, mesmo que
indiretamente, e a parte requerida como fornecedora prestadora de serviços artísticos,
nos moldes do art. 17 da lei consumerista.

Assim, concluo que as partes se qualificam como consumidora e fornecedor


de serviços, formando uma típica relação de consumo, bem como devem ser aplicadas,
salvo exceções, todas as disposições constantes na Lei nº 8.078/1990.

2.2. Questão processual: Revelia.

Pelo que se retira dos presentes autos, em que pese a inexistência do


comprovante de citação do requerido, entendo que houve sua ciência inequívoca acerca
do feito e da designação da audiência de conciliação, haja vista os documentos
constantes nos eventos 17 e 23.
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Todavia, mesmo ciente da audiência de conciliação, a parte requerida não se
fez presente pessoalmente, vez que pugnou pela concessão de prazo para a juntada de

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carta de preposição.

Nos termos do Enunciado nº 20 do FONAJE, tem-se que “O comparecimento


pessoal da parte às audiências é obrigatório. A pessoa jurídica poderá ser representada
por preposto.”. Ademais, não existe previsão legal para a representação de pessoa
física em audiências.

Portanto, a decretação da revelia da parte requerida é medida que se impõe,


nos termos do art. 20 da Lei nº 9.099/95.

2.3. Questão preliminar: Ilegitimidade passiva.

Em sede de preliminar, a requerida arguiu sua ilegitimidade passiva, visto que


apenas interpretou a música, não sendo o compositor originário.

Contudo, entendo que não assiste razão ao requerido, eis que por se tratar de
relação consumerista, está inserido na cadeia de consumo.

Assim sendo, rejeito a preliminar.

2.4. Mérito.

Pelo que se retira da petição inicial, a parte requerente alega, em síntese, que
vem recebendo milhares de ligações e mensagens em seu número particular (46 99912-
5003) dos seguidores do requerido. Alega que a razão do incómodo é citação do seu
número de telefone em uma música de grande sucesso nacional do requerido. Alega,
ainda, que algumas mensagens possuem conteúdo pornográfico e de ameaça. Em
razão disso, pugna pela condenação do requerido ao pagamento de indenização a título
de danos morais.

Em sua defesa de mérito, a parte requerida alegou, em suma, a inexistência de


danos morais sofridos pela requerente, visto que não consta na referida música o
número completo da requerente. Da mesma forma, alega que os prints oriundos do
aplicativo de mensagens WhatsApp não se prestam como provas.
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Impugnação à contestação no evento 30.

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Pois bem.

Pelo que se retira do documento constante no evento 1.10, é inquestionável a


titularidade da requerente do número 046 99912-5003. Ainda, constam diversos
documentos que comprovam as incessantes mensagens e ligações recebidas pela
parte requerente (eventos 1.5/1.9).

Em razão da revelia ora reconhecida, os fatos alegados na petição inicial


devem ser tidos como relativamente verdadeiros. Ainda que assim não fosse, as
alegações constantes na contestação apresentada pelo requerido não bastam para
afastar a sua responsabilidade.

Em que pese a existência de inúmeros DDD’s distintos em todo o território


nacional, tal fato não significa dizer que o requerido poderia inserir um número aleatório
em sua canção, sem se precaver da titularidade. Ora, sabe-se que existem mais de 214
milhões de habitantes em nosso país, pelo que é extremamente provável que números
aleatórios tenham seus respectivos proprietários.

Ademais, o presente caso não é isolado, ou seja, existem outros diversos


processos no território nacional com o mesmo objeto. Isso quer dizer que o requerido
não se precaveu para evitar tais problemas, pelo que não há que se falar em ausência
de culpa (art. 14 do CDC).

Acerca do dano moral sofrido pela parte requerente, entendo que este está
perfeitamente demonstrado, porquanto constam inúmeros prints do aplicativo de
mensagens WhatsApp, todos com mensagens de tom jocoso. Importante salientar que
as mensagens mencionavam explicitamente a canção do requerido.

Desse modo, tenho que restou demonstrado o dano moral sofrido pela parte
requerente e a conduta ilícita do requerido.

Portanto, ante a comprovação do ato ilícito cometido pelo requerida, bem como
do dano sofrido pela requerente e do nexo causal entre o ato e o dano, a condenação
da requerida ao pagamento de indenização por danos morais é de rigor.
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As evoluídas doutrinas e a jurisprudência já rechaçaram aquelas razões, vazias
de fundamento jurídico, no sentido de que não há como restituir o estado psicológico

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abalado ao seu “status quo ante”. Com efeito, a fixação de montante financeiro
representa, de fato, uma compensação pelo injusto sofrimento mental causado por
outrem, servindo de reparação ao dano moral sofrido.

Portanto, restando provados o ilícito e o nexo causal entre a prática adotada


pela requerida e as restrições suportadas pelo requerente em razão da indevida
negativação, surge a obrigação de indenizar, em atenção aos artigos 186 e 927 do
Código Civil/2002.

Passemos, pois, à análise do montante devido a título de reparação (com


supedâneo no art. 5º, X, da Constituição Federal e art. 927 do Código Civil).

Em se tratando de danos morais, é cediço que inexiste critério objetivo para sua
valoração, até porque deve ser fixado de acordo com as peculiaridades da hipótese
concreta, levando em conta a extensão do dano (art. 944 do Código Civil) e tomando
por base critérios de razoabilidade e proporcionalidade, para que o valor não seja fonte
de enriquecimento indevido ao lesado (art. 884 do Código Civil/2002) e, de outro lado,
para que não seja ínfimo ao ponto de não imprimir caráter punitivo ao ofensor.

Ainda nessa seara, vale conferir os ensinamentos do saudoso mestre Caio


Mário da Silva Pereira:

“A vítima de uma lesão a algum daqueles direitos sem cunho patrimonial


efetivo, mas ofendida em um bem jurídico que em certos casos pode ser
mesmo mais valioso do que os integrantes de seu patrimônio, deve receber
uma soma que lhe compense a dor ou o sofrimento, a ser arbitrada pelo juiz,
atendendo às circunstâncias de cada caso, e tendo em vista as posses do
ofensor e a situação pessoal do ofendido. Nem tão grande que se converta em
fonte de enriquecimento, nem tão pequena que se torne inexpressiva” (Caio
Mário da Silva Pereira. Responsabilidade Civil, nº 49, pág. 60, 4ª edição, 1993).

Sendo assim, e com vistas a evitar a concessão de indenização desmensurada,


mas sem me descurar da reparação do dano e do efeito pedagógico da condenação
(teoria do desestímulo), entendo consonante com a lesão à esfera ética da parte
ofendida e o vultuoso patrimônio do requerido o pagamento do montante de
R$ 48.480,00, corrigidos monetariamente pela média do INPC/IGP-DI a partir da
prolação da sentença e acrescidos de juros de 1% (um por cento) ao mês, estes a partir
da citação.
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3. Dispositivo.

Diante do exposto, julgo procedente o pedido inicial, resolvendo o mérito


com fulcro no artigo 487, inciso I, do Código de Processo Civil, para o fim de condenar
o requerido ao pagamento de indenização por danos morais no valor de
R$ 48.480,00, corrigidos monetariamente pela média do INPC/IGP-DI a partir da
prolação da sentença e acrescidos de juros de 1% (um por cento) ao mês, estes a partir
da citação.

Sem custas e honorários advocatícios (artigos 54 e 55 da Lei nº 9.099/95).

Pato Branco, 19 de julho de 2022.

DANIEL PROENÇA LARSSON


Juiz Leigo

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