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Francilene Gomes de Brito
Antonio Jorge Pereira Júnior
Organizadores
FICHA CATALOGRÁFICA
_________________________________________________________
R322r
ISBN 978-85-7966-074-0
CDDir: 341.272
CDU: 347.925
________________________________________________________
Elaborada por: Lityz Ravel Hendrix Brasil Siqueira Mendes (CRB 1-3148)
Gestão 2016/2019
Diretoria
Claudio Lamachia Presidente
Luis Cláudio da Silva Chaves Vice-Presidente
Felipe Sarmento Cordeiro Secretário-Geral
Ibaneis Rocha Barros Junior Secretário-Geral Adjunto
Antonio Oneildo Ferreira Diretor-Tesoureiro
Conselheiros Federais
AC: Erick Venâncio Lima do Nascimento, João Paulo Setti Aguiar e Luiz Saraiva Correia; AL:
Everaldo Bezerra Patriota, Felipe Sarmento Cordeiro e Thiago Rodrigues de Pontes Bomfim; AP:
Alessandro de Jesus Uchôa de Brito, Charlles Sales Bordalo e Helder José Freitas de Lima Ferreira;
AM: Caupolican Padilha Junior, Daniel Fábio Jacob Nogueira e José Alberto Ribeiro Simonetti
Cabral; BA: Fabrício de Castro Oliveira e Fernando Santana Rocha; CE: Caio Cesar Vieira Rocha,
Francilene Gomes de Brito e Ricardo Bacelar Paiva; DF: Ibaneis Rocha Barros Junior, Marcelo
Lavocat Galvão e Severino Cajazeiras; ES: Flavia Brandão Maia Perez, Luciano Rodrigues Machado
e Marcus Felipe Botelho Pereira; GO: Leon Deniz Bueno da Cruz, Marcello Terto e Silva e
Valentina Jugmann Cintra; MA: José Agenor Dourado, Luis Augusto de Miranda Guterres Filho e
Roberto Charles de Menezes Dias; MT: Duilio Piato Júnior, Gabriela Novis Neves Pereira Lima e
Joaquim Felipe Spadoni; MS: Alexandre Mantovani, Ary Raghiant Neto e Luís Cláudio Alves
Pereira; MG: Eliseu Marques de Oliveira, Luís Cláudio da Silva Chaves e Vinícius Jose Marques
Gontijo; PA: Jarbas Vasconcelos do Carmo, Marcelo Augusto Teixeira de Brito Nobre e Nelson
Ribeiro de Magalhães e Souza; PB: Delosmar Domingos de Mendonça Júnior, Luiz Bruno Veloso
Lucena e Rogério Magnus Varela Gonçalves; PR: Cássio Lisandro Telles, José Lucio Glomb e
Juliano José Breda; PE: Adriana Rocha de Holanda Coutinho, Pedro Henrique Braga Reynaldo
Alves e Silvio Pessoa de Carvalho Junior; PI: Celso Barros Coelho Neto, Cláudia Paranaguá de
Carvalho Drumond e Eduarda Mourão Eduardo Pereira de Miranda; RJ: Carlos Roberto de Siqueira
Castro, Luiz Gustavo Antônio Silva Bichara e Sergio Eduardo Fisher; RN: Aurino Bernardo
Giacomelli Carlos, Paulo Eduardo Pinheiro Teixeira e Sérgio Eduardo da Costa Freire; RS: Cléa
Carpi da Rocha, Marcelo Machado Bertoluci e Renato da Costa Figueira; RO: Bruno Dias de Paula,
Elton José Assis e Elton Sadi Fülber; RR: Alexandre César Dantas Soccorro, Antonio Oneildo
Ferreira e Bernardino Dias de Souza Cruz Neto; SC: João Paulo Tavares Bastos Gama, Sandra
Krieger Gonçalves e Tullo Cavallazzi Filho; SP: Guilherme Octávio Batochio, Luiz Flávio Borges
D’Urso e Márcia Machado Melaré; SE: Arnaldo de Aguiar Machado Júnior, Maurício Gentil
Monteiro e Paulo Raimundo Lima Ralin; TO: Andre Francelino de Moura, José Alves Maciel e
Pedro Donizete Biazotto.
Presidentes Seccionais
AC: Marcos Vinicius Jardim Rodrigues; AL: Fernanda Marinela de Sousa Santos; AP: Paulo
Henrique Campelo Barbosa; AM: Marco Aurélio de Lima Choy; BA: Luiz Viana Queiroz; CE:
Marcelo Mota Gurgel do Amaral; DF: Juliano Ricardo de Vasconcellos Costa Couto; ES: Homero
Junger Mafra; GO: Lúcio Flávio Siqueira de Paiva; MA: Thiago Roberto Morais Diaz; MT:
Leonardo Pio da Silva Campos; MS: Mansour Elias Karmouche; MG: Antonio Fabricio de Matos
Gonçalves; PA: Alberto Antonio de Albuquerque Campos; PB: Paulo Antonio Maia e Silva; PR:
Jose Augusto Araujo de Noronha; PE: Ronnie Preuss Duarte; PI: Francisco Lucas Costa Veloso; RJ:
Felipe de Santa Cruz Oliveira Scaletsky; RN: Paulo de Souza Coutinho Filho; RS: Ricardo Ferreira
Breier; RO: Andrey Cavalcante de Carvalho; RR: Rodolpho Cesar Maia de Morais; SC: Paulo
Marcondes Brincas; SE: Henri Clay Santos Andrade; SP: Marcos da Costa; TO: Walter Ohofugi
Junior.
Ex-Presidentes
1. Levi Carneiro (1933/1938) 2. Fernando de Melo Viana (1938/1944) 3. Raul Fernandes
(1944/1948) 4. Augusto Pinto Lima (1948) 5. Odilon de Andrade (1948/1950) 6. Haroldo Valladão
(1950/1952) 7. AttílioViváqua (1952/1954) 8. Miguel Seabra Fagundes (1954/1956) 9. Nehemias
Gueiros (1956/1958) 10. Alcino de Paula Salazar (1958/1960) 11. José Eduardo do P. Kelly
(1960/1962) 12. Carlos Povina Cavalcanti (1962/1965) 13. Themístocles M. Ferreira (1965) 14.
Alberto Barreto de Melo (1965/1967) 15. Samuel Vital Duarte (1967/1969) 16. Laudo de Almeida
Camargo (1969/1971) 17. Membro Honorário Vitalício José Cavalcanti Neves (1971/1973) 18. José
Ribeiro de Castro Filho (1973/1975) 19. Caio Mário da Silva Pereira (1975/1977) 20. Raymundo
Faoro (1977/1979) 21. Membro Honorário Vitalício Eduardo Seabra Fagundes (1979/1981) 22.
Membro Honorário Vitalício J. Bernardo Cabral (1981/1983) 23. Membro Honorário Vitalício Mário
Sérgio Duarte Garcia (1983/1985) 24. Hermann Assis Baeta (1985/1987) 25. Márcio Thomaz Bastos
(1987/1989) 26. Ophir Filgueiras Cavalcante (1989/1991) 27. Membro Honorário Vitalício Marcello
Lavenère Machado (1991/1993) 28. Membro Honorário Vitalício José Roberto Batochio
(1993/1995) 29. Membro Honorário Vitalício Ernando Uchoa Lima (1995/1998) 30. Membro
Honorário Vitalício Reginaldo Oscar de Castro (1998/2001) 31. Rubens Approbato Machado
(2001/2004) 32. Membro Honorário Vitalício Roberto Antonio Busato (2004/2007) 33. Membro
Honorário Vitalício Cezar Britto (2007/2010) 34. Membro Honorário Vitalício Ophir Cavalcante
Junior (2010/2013) 35. Membro Honorário Vitalício Marcus Vinicius Furtado Coêlho (2013/2016).
34. Membro Honorário Vitalício Ophir Cavalcante Junior (2010/2013) 35. Membro Honorário
Vitalício Marcus Vinicius Furtado Coêlho (2013/2016).
Comissão Organizadora
Francilene Gomes de Brito, Régis Gurgel Jereissati, Márcia Maria Lima Dutra, Maria Noêmia
Pereira Landim, Antonio Jorge Pereira Júnior.
Comissão Científica
Antonio Jorge Pereira Júnior, Maria Yannie Araújo Mota, Carolina Rocha Cipriano Castelo,
Nardejane Martins Cardoso, Luis Armando Saboya Amora, José Weidson de Oliveira Neto, Daniel
Hamilton Fernandes de Lima, Marília Bitencourt C. Calou P. Rebouças, Eriverton Resende Monte e
Viviane Teixeira Dotto Coitinho.
APRESENTAÇÃO
Claudio Lamachia
Advogado e Presidente Nacional da OAB.
i
PREFÁCIO
iii
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
iv
SUMÁRIO
Acadêmica em Direito pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Ex-bolsista do
Núcleo de Práticas Jurídicas (NPJ). Membro do Grupo de Estudos em Direito e
Assuntos Internacionais (GEDAI). Monitora da Disciplina História e Estudo do
Direito. Email: anakatrinemsn@gmail.com.
Acadêmica em Direito pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Ex-bolsista do
Núcleo de Práticas Jurídicas (NPJ). Membro do Grupo de Estudos em Direito e
Assuntos Internacionais (GEDAI). Email: nataliacarvalhop97@gmail.com.
1
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
1 INTRODUÇÃO
2
No Estágio I, há a elaboração de peças processuais, isoladas
ou em processos simulados, a participação em atividades externas
(como audiências e sessões de órgãos colegiados) e a presença em
palestras previamente designadas, cujos temas são voltados aos
aspectos práticos da vida profissional. No Estágio II, os alunos efetuam
atendimento ao público, prestando assessoria e consultoria jurídica,
recebem os documentos dos interessados e elaboram as petições
iniciais, sendo a capacidade postulatória exercida pela Defensoria
Pública do Estado do Ceará. O Núcleo não se presta, outrossim, apenas
para o direito litigioso, pois no Estágio II fomentam-se os métodos
extrajudiciais de solução de conflitos, a exemplo da mediação. Todas as
atividades das suas disciplinas ofertadas através do NPJ são realizadas
com a supervisão dos professores orientadores, cuja autonomia
acadêmica e liberdade de cátedra são mantidas e respeitadas (SILVA,
2012).
O Núcleo de Práticas Jurídicas é vinculado a Defensoria
Pública do Estado do Ceará, que por sua vez se consolida como
instituição permanente essencial à função jurisdicional do Estado,
incumbindo-lhe como expressão e instrumento do regime democrático,
fundamentalmente, a orientação jurídica, a promoção dos direitos
humanos e a defesa, em todos os graus, judicial e extrajudicial, dos
direitos individuais e coletivos, de forma integral e gratuita, aos
necessitados na forma do inciso LXXIV do art. 5° da Constituição
Federal.
A importância da Defensoria Pública para a comunidade
cearense é evidenciada na expressiva demanda de processos e
atendimentos tanto nos Núcleos de Práticas Jurídicas quanto em sua
sede na própria Defensoria. Destacam-se dentre o grande leque de
direitos tutelados o usucapião, por exemplo, onde aquele que possui
coisa móvel como sua, contínua e incontestadamente durante três anos,
com justo título e boa-fé, adquirir-lhe-á propriedade. Fazendo a
ressalva se a posse da coisa móvel se prolongar por cinco anos,
produzirá usucapião, independentemente de título ou boa-fé.
Outra demanda tutelada habitualmente no NPJ é o processo de
alimentos, quando quem os pretende não tem bens suficientes, nem
pode prover, pelo seu trabalho, à própria a mantença, e aquele, de quem
3
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
4
grupos vulneráveis, como pessoas em situação de rua e
assim fortalecer ainda mais o relacionamento com a
Defensoria.
5
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
6
outras palavras, o processo deve corresponder, em
remédios práticos, àquilo que a ordem
constitucional espera dele, como instrumento ágil de
efetivação das garantias integrantes do sistema.
7
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
8
(quando os custos processuais não ultrapassassem vinte salários
mínimos) em que não há necessidade de representação por advogado e
a inexistência daquele formalismo presente nas audiências que iam
desde a forma de comunicação até o vestuário. Deixando o cidadão
mais à vontade e afastando o temor ao Judiciário.
A experimentação pode ser entendida como aquele momento
em que se constata se os meios utilizados (petição, documentação
pessoal ou referente à demanda) são viáveis para alcançar o fim a que
foram propostas. Se obtivessem êxito passariam para as vistas da
defensora. Caso isso não ocorresse alterações eram feitas tanto na
petição quanto na documentação e assim serem submetidas à defensora.
O resultado era concretizado quando se deferia o pedido
presente na petição inicial. Ele também era obtido quando se fazia
acordos extrajudiciais, já que o Núcleo de Práticas Jurídicas possui um
projeto chamado Dialogar onde são realizadas a Conciliação e a
Mediação. Na conciliação, o conciliador (no caso professoras) tem uma
participação mais ativa no processo de negociação, podendo inclusive
sugerir soluções para o litígio. A técnica da conciliação é mais indicada
para os casos em que não havia vínculo anterior entre os envolvidos.
Enquanto na mediação, o mediador não propõe soluções aos
interessados. Ela é por isso mais indicada nos casos em que exista uma
relação anterior e permanente entre os interessados, como os casos de
conflitos societários e familiares. Portanto, ao utilizar- se desses meios
extrajudiciais não haveria a necessidade de acionar o Poder Judiciário.
Dentre a dinâmica do Núcleo de Prática Jurídica existem
alguns procedimentos processuais. O procedimento como assim é
entendido pela doutrina processualista como uma sucessão de atos
interligados de maneira lógica e consequencial visando a obtenção de
um objetivo final.
Ao aplicar- se essa definição ao Núcleo de Práticas Jurídicas a
sucessão de atos se dava com o atendimento, produção da petição,
revisão pelos professores, envio para a defensora e caso estivesse apta
recebia um protocolo para só então ser enviada a sua respectiva Vara
(Cível ou de Família) nesse momento era realizada uma ligação para
informar ao assistido que ele deveria entrar em contato com o Tele
Justiça a fim de adquirir uma senha para acompanhamento do processo
9
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
10
Cumpre observar que, embora sejam espécies de
autocomposição, e por tal razão formas de equivalentes jurisdicionais, a
transação, a renúncia e a submissão podem ocorrer também durante um
processo judicial, sendo que a submissão nesse caso é chamada de
reconhecimento jurídico do pedido, enquanto a transação e a renúncia
mantém a mesma nomenclatura.
Verificando- se durante um processo judicial, o juiz
homologará por sentença de mérito a autocomposição (art. 269, II, III,
V, do CPC), com formação de coisa julgada material. Nesse caso, é
importante perceber que a solução do conflito deu- se por
autocomposição, derivada da manifestação da vontade das partes, e não
da aplicação do direito objetivo ao caso concreto (ou ainda da criação
da norma jurídica), ainda que a participação homologatória do juiz
tenha produzido uma decisão apta a gerar a coisa julgada material.
Dessa forma, tem-se certa hibridez: substancialmente o conflito foi
resolvido por autocomposição, mas formalmente, em razão da sentença
judicial homologatória, há o exercício de jurisdição.
5 CONCLUSÃO
11
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
REFERÊNCIAS
12
A MEDIAÇÃO E A CONCILIAÇÃO COMO
INSTRUMENTOS DE ACESSO À JUSTIÇA:
perspectiva a partir dos direitos humanos
Possui graduação em Bacharelado em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras de Cajazeiras (PB) (2016). Possui pós-graduação em
Direito Penal pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Cajazeiras (PB)
(2017). Mestranda em Ciências Criminológico - Forense pela Universidad de la
Empresa - UDE - Montevidéu (Uruguay).
Graduado do curso de Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Filosofia,
Ciências e Letras de Cajazeiras (FAFIC). Especialista em Direito Penal pela FAFIC.
Atualmente cursa especialização em Docência do Ensino Superior. Advogado pela
OAB-PB.
13
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
1 INTRODUÇÃO
14
socorrer junto ao sistema judicial para reivindicar direitos violados,
seria o Centro de Mediação e Conciliação uma alternativa adequada e
eficaz com capacidade de favorecer o acesso à justiça?
Constituiu-se como metodologia deste estudo o foco nos dados
coletados e armazenados pelo Núcleo Prática Jurídica (NPJ) da FAFIC,
durante o período que vai de setembro de 2013 a setembro de 2015. Por
quatro dias foram levantados os termos positivos e negativos de
audiência e outros documentos junto às dependências do NPJ. Com
isso, priorizou-se selecionar informações relacionadas a quantidade de
casos aportados, suas respectivas áreas do direito e a quantidade de
processos que foram efetivamente objeto de sessão de mediação e
conciliação.
O trabalho está dividido em três seções. Na primeira seção,
busca-se situar o leitor quanto às questões atinentes a concepção atual
de acesso à justiça, considerando, para tanto, a abordagem de
Cappelletti e Garth (1988). Na seção seguinte, pretende-se estender o
tema do acesso à justiça diante da perspectiva dos direitos humanos,
utilizando o discurso de Santos (2003 e 2007). Na terceira e última
seção, são apresentados os dados colhidos junto ao NPJ/FAFIC no
sentido de expor os primeiros resultados alcançados com esse desafio
que é lidar com os mecanismos alternativos de resolução de conflitos.
2 O ACESSO À JUSTIÇA
15
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
16
intensificação das relações sociais, a concepção dos direitos humanos
começou a sofrer uma mudança radical, na percepção de Cappelletti e
Garth (1988). Paralelamente a predominância de relações mais
coletivas do que individuais, passou o Estado a ser demandado como
parte ativa, responsável por uma atuação positiva, no reconhecimento
de direitos, menciona Brandão (2010). Com isso, os direitos sociais
passaram a ser contemplados a nível constitucional.
Ao relacionar a efetividade de direitos com a expansão não
restrita ao acesso à justiça, surge então a noção de “ondas renovatórias”
desse acesso, alerta Brandão (2010). Ao todo, são três as “ondas
renovatórias”: a um, a associada com a assistência judiciária; a dois, a
relacionada com a representação jurídica dos interesses difusos; e, a
três, com o “enfoque de acesso à justiça”, desenvolve Cappelletti e
Garth (1988).
A terceira “onda renovatória”, denominada de “enfoque de
acesso à justiça”, receberá especial atenção neste estudo por se entender
mais pertinente no tratamento de questões relacionadas aos
mecanismos extrajudiciais de resolução de conflitos. Esta onda
direciona-se para a expansão dos instrumentos relacionados a um pleno
acesso à justiça, isso porque ela dar ênfase ao conjunto geral de
instituições e mecanismos, pessoas e procedimentos usados para
processar e inclusive prevenir embates nas sociedades contemporâneas,
articula Cappelletti e Garth (1988). Trata-se da Justiça informal, da
ampliação da mediação e da simplificação da lei.
Conforme lição de Gryszpan (1999, p. 100), a terceira onda:
Essa onda tratou de lidar com a busca por soluções para dois
problemas bem específicos, quais sejam: a um, a adoção de
procedimentos mais especializados e que sejam econômicos e
17
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
18
As Constituições de 1937 e 1946, por sua vez, inspiraram-se
na Justiça de Paz do Império, o que resultou nas figuras dos
conciliadores e dos juízes togados com investidura limitada no tempo
que tinham competência para julgar causas de pequeno valor.
O Código de Processo Civil (CPC), de 1973, apresentava uma
seção a respeito da conciliação. No CPC de 2002, o artigo 125, IV,
autorizou o juiz a convocar, a qualquer tempo, as partes para tentar
conciliar. Isso é igualmente reafirmado no artigo 331, que foi modicado
pela Lei n. 8.952/94, e pela Lei n. 10.444/02.
A conciliação está prevista nos artigos 21 ao 26, da Lei n.
9.099/1995, denominada de Juizados Especiais, onde se percebe certa
prioridade à tentativa de conciliar. Nessa mesma Lei, merece destaque
ainda o artigo 57 que trata da validade do acordo produzido
extrajudicialmente que passa a ter valor de título executivo judicial. A
conciliação também teve o seu espaço estabelecido na Consolidação
das Leis Trabalhistas (CLT) que prevê expressamente a conciliação em
seus artigos 846 e 850, em momentos distintos do processo,
incentivando a composição amigável, dentre outras, evidenciam Chaves
e Sales (2014).
O debate sobre mediação foi difundido no Brasil com a vinda
de profissionais especializados de outros países nos anos de 1980. A
partir daí, criou-se em 1994 o Instituto de Mediação e Arbitragem do
Brasil (IMAB) e o Conselho Nacional das Instituições de Mediação e
Arbitragem (CONIMA), entre outras instituições.
No ano de 2010, com a Resolução nº 125, o Conselho
Nacional de Justiça, com o intuito de criar uma cultura do consenso,
instituiu a Política Judiciária Nacional que visa dar um tratamento
adequado e eficaz aos conflitos de interesses através da utilização dos
mecanismos de resolução de conflitos, passando a honrar, de fato, o
princípio da razoável duração do processo.
Em 2014, foi debatido o Projeto da Mediação, denominado de
Projeto de Lei n. 7.169/14, na Câmara dos Deputados, sob a relatoria
do Deputado Federal Sérgio Zveiter, que visualizava os métodos
alternativos de resolução de conflitos como instrumentos
concretizadores da democracia. Tal Projeto de Lei foi transformado na
Lei Ordinária n. 13.140/15.
19
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
1
Por globalização entende-se aqui o processo onde dada condição ou mesmo
entendida local expande seu poder ao restante do mundo e, assim feito, desenvolve a
capacidade de visualizar como sendo doméstica outra condição social ou entidade
rival, conforme Santos (2003).
2
A globalização hegemônica compreende os processos guiados para a acumulação e
apropriação capitalista, sendo que sua hegemonia está no consenso que beneficia os
grupos dominantes, o que promove a exclusão social.
3
A globalização contra-hegemônica reúne os vários movimentos locais, algumas
vezes articulados mundialmente e que buscam a solidariedade e o bem comum, que
batalham em desfavor dos efeitos cruéis da globalização hegemônica, de acordo com
Santos (2003).
20
Assim sendo, é necessário que as formas de localismo
globalizado e de globalismo localizado sejam modificadas 4. Nessa
esteira, surge o cosmopolitismo subalterno de oposição5,
compartilhando a batalha contra a exclusão social, com articulações
concretizadas através da tecnologia de informação e de comunicação.
Surge ainda o patrimônio comum da humanidade, que volta atenção aos
temas mais importantes na comunidade internacional, como outros
formatos habilitados para favorecer uma globalização contra-
hegemônica, nos termos de Santos (2003).
O cosmopolitismo subalterno de oposição se revela como uma
alternativa de refúgio para aqueles socialmente excluídos, vitimados
por uma concepção hegemônica. De tal sorte, o cosmopolitismo
subalterno solta aos olhos daqueles que tem sua dignidade
desrespeitada, especialmente se considerada a comunidade humana em
que habitam.
Por sua vez, para a realização de outros formatos, Santos
(2003) indica pressupostos para a mudança da globalização
hegemônica em projeto cosmopolita. Assim, forma o conjunto desses
pressupostos a sugestão de superação da discussão sobre as concepções
universalista e relativista cultural, propondo a aceitação da existência
de diversas ideias diferentes de dignidade da pessoa humana que não
somente estaria pautada em termos de direitos humanos. Estaria
reunida nesse conjunto a necessária distinção entre luta pela igualdade
e luta pelo reconhecimento igualitário das diferenças, assim como a
ideia de que cada cultura não é completa, principalmente pela
existência de uma pluralidade de culturas.
Considerando esses pressupostos, tem-se estabelecido um
diálogo intercultural que desemboca em uma noção multicultural de
4
O localismo globalizado consiste na forma na qual um fenômeno específico local se
torna global. Já o globalismo localizado compreende o impacto de práticas e
imperativos internacionais nas condições locais, segundo Santos (2003).
5
O cosmopolitismo subalterno de oposição “[...] é a forma político-cultural de
globalização contra-hegemônica. É, numa palavra, o nome dos projectos (sic)
emancipatórios cujas reivindicações e critérios de inclusão social se projectam (sic)
para além do capitalismo global” (SANTOS, 2003).
21
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
22
Na contramão da exclusão social a que estão
acostumados, esses sujeitos têm deixado pistas de como
podem existir outras manifestações de questionamento,
justamente pela via do direito, pela via da legalidade.
Nessa linha, [...] entende-se que esse acesso à justiça
pode-se transformar em um mecanismo de inclusão
social. Na medida em que se volta para o reconhecimento
de que outras relações sociais também têm guarida na
arena de poder, que tem o Estado como árbitro, entende-
se que esse acesso pode vir a fortalecer a cidadania.
23
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
6
A mediação pode ser compreendida como um método fundamentado, teórica e
tecnicamente. Funciona com a figura de uma terceira pessoa, neutra e especialmente
treinada, que ensina os mediandos a despertar seus recursos pessoais para que
consigam transformar o conflito. Essa transformação constitui oportunidade de
construção de outras alternativas para o enfrentamento ou a prevenção de conflitos,
lenciona Barbosa (2004).
7
A conciliação consiste em um mecanismo de obtenção de autocomposição
desenvolvido através da figura do conciliador que pode ser exercido por qualquer
pessoa indicada pelas partes, desde que seja um terceiro, neutro e imparcial. Tem
como método a participação mais efetiva desse terceiro na proposta de solução, tendo
por objetivo a solução do conflito que lhe é apresentado nas petições das partes,
destaca Calmon (2007).
8
É válido desde já mencionar que a conciliação e a mediação têm características
próprias que os distinguem. A conciliação é indicada aos conflitos de natureza não
afetiva, onde as partes envolvidas não pretendem ter um convívio ou relação futura.
Enquanto que a mediação, como já foi dito, atua na esfera dos conflitos de cunho
emocional, afetivo, dentro de uma relação continuada de sentimentos. Dessa forma,
percebe-se que a conciliação se distingue na mediação quanto à sua natureza, haja
vista, a Conciliação ser mais utilizada nas hipóteses de conflitos que envolvam
questões tanto comercial/empresarias como questões referentes ao consumidor. Tanto
o mediador como o conciliador, atuam como facilitadores de um possível acordo entre
as partes, porém, diferente do mediador o conciliador tem a faculdade de apontar a
melhor opção de solução para assim se resolver um conflito, indicam Andrade e Sales
(2004).
24
aqueles processos que foram objeto de sessão de mediação e
conciliação, visto que nem todos as pessoas que buscaram os serviços
do Centro deram prosseguimento ao feito.
Nesse sentido, o quadro a seguir trata dos casos que foram
aportados no NPJ.
NÚMERO DE
CASOS/ANO TOTAL DE
ÁREAS
CASOS
2013 2014 2015
Direito de família 7 38 19 64
Ação de cobrança 7 33 18 58
Ação de obrigação
3 29 22 54
(fazer/dar)
Ação de indenização
por danos morais e 8 5 7 20
materiais
Ação de execução 0 8 0 8
Ação previdenciária 1 4 3 8
Ação de retificação
0 2 1 3
de nome
Ação de reintegração
1 2 2 5
de posse/usucapião
Ação declaratória 2 0 0 2
Ação de restituição –
ressarcimento de 6 1 2 9
valor ou coisa
Ação de reclamação
0 5 2 7
trabalhista
Ação penal 0 5 2 7
Ação de repetição de
0 2 4 6
indébito
Ação de consignação 0 0 1 1
25
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
em pagamento
Ação de inventário 0 0 1 1
Ação reclamatória em
face de nomeação por 0 0 1 1
concurso público
Ação de impugnação
0 0 1 1
à contestação
TOTAL 35 134 86 255
Fonte: Os autores.
26
2014 consiste em 24 casos arquivados devido as partes terem preferido
se socorrer ao Poder Judiciário; 57 casos tiveram sessão de
mediação/conciliação realizada; 23 processos foram arquivados em
virtude de desídia ou desistência das partes; quatro processos estão
aguardando alguma movimentação e, por isso, estão paralisados no
cartório do NPJ.
Ainda quanto aos casos do ano de 2014, registrou-se que 15
processos foram arquivados por falta de documentação; três encontram-
se arquivados devido requerimento do estagiário ou recomendação da
coordenação do NPJ por se enquadrarem nos casos de incompetência
de foro; sete casos foram arquivados por falta de algum dos
pressupostos da ação; e um por falecimento da parte autora.
No tocante a situação processual dos casos levados ao NPJ em
2015, observou-se que nove encontram-se arquivados por terem sidos
judicializados; 37 processos foram levados à mediação, vinte e cinco
foram arquivados por desídia ou desistência das partes; sete casos estão
arquivados por falta de documentação; quatro processos estão
arquivados por requerimento do estagiário ou recomendação da
coordenação do NPJ por se enquadrarem nos casos de incompetência
de foro; e quatro foram arquivados por falta de algum dos pressupostos
da ação.
Pode-se perceber que dos 255 processos que foram aportados
no NPJ/FAFIC, durante o período em que foram coletados os dados,
nem mesmo metade chegaram a ser objeto de discussão em alguma
sessão de mediação e/ou conciliação, mesmo as partes tendo sido
avisadas de todas as vantagens que o processo da mediação/conciliação
traria para as partes.
Muitos dos processos foram arquivados por ausência das
partes, e, em alguns casos, ausência da própria parte que buscou o
serviço do NPJ/FAFIC, ou mesmo a falta de entrega da documentação
necessária, o que demonstra algum desinteresse nesses mecanismos de
resolução do conflito. Houve ainda quem preferisse acionar o Poder
Judiciário, mesmo com a possibilidade de um desgaste físico e
psicológico maior, além da morosidade processual que caracteriza o
sistema judicial. A cultura do conflito ainda se faz presente na
mentalidade das pessoas que residem em Cajazeiras-PB.
27
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
28
conciliação, em seis processos alcançaram-se termos positivos, ou seja,
acordos foram efetivados. Em quatro casos as partes nem se quer
compareceram à sessão, portanto, foram lavrados termos negativos; e
em três processos, mesmo depois do processo de medição e/ou
conciliação, as partes resolveram recorrer às vias judiciais, o que
acarretou na lavratura de termos negativos; e em um caso as partes não
levaram a documentação necessária, razão pela qual o termo negativo
foi produzido.
No ano de 2014, dos 57 processos que foram levados à
mediação e/ou conciliação, 22 tiveram termos positivos; em 30, as
partes nem se quer compareceram à sessão, portanto, resultaram em
termos negativos, incluindo-se os casos de desistência da parte; em um
caso, mesmo depois do processo de medição e/ou conciliação, as partes
resolveram recorrer às vias judiciais; e em quatro processos as partes
não chegaram a um acordo.
No que diz ao ano de 2015, observou-se que 37 processos que
foram levados à mediação/conciliação, em 10 tiveram termos positivos;
em 20 casos, as partes nem se quer compareceram à sessão, incluindo-
se nos casos de desistência da parte; em seis processos houve
impossibilidade de acordo; e teve uma situação em que se caracterizou
a indisponibilidade do interesse público.
Dessa forma, foram feitas 108 sessões de mediação e/ou
conciliação ao todo no período que vai de setembro de 2013 a setembro
de 2015. Houve 38 sessões em que as partes fizeram acordos, sendo
que as 70 sessões restantes não resultaram em acordos pelas razões
acima detalhadamente mencionadas. Assim, o que se percebe é que,
mesmo diante desse novo horizonte representado pelos mecanismos
alternativos de resolução de conflitos, ainda permanece arraigado no
imaginário das pessoas alguma preferência pela litigiosidade que o
sistema judicial tem a oferecer.
Não restam dúvidas do caráter inovador da ação desenvolvida
pelo NPJ/FAFIC em convênio com o Tribunal de Justiça da Paraíba,
uma vez que se tem no Centro de Mediação e Conciliação um espaço
democrático, de luta no que diz a reivindicação de direitos humanos e
da dignidade humana violada da população cajazeirense que, não raras
vezes, enfrenta inúmeros obstáculos no acesso à justiça formal. É uma
29
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
5 CONCLUSÃO
30
É importante não perder de vista que a promoção de direitos
em um cenário de fortes desigualdades como é o Brasil,
especificamente Cajazeiras-PB, não significa que o Centro de
Mediação e Conciliação do NPJ/FAFIC esteja destinado ao sucesso ou
ao fracasso. É bem verdade que na realidade, as diversas contradições
podem sugerir que experiências bem-sucedidas podem ser construídas
em contextos adversos e de muita complexidade. Contudo, apenas o
tempo e a luta diária poderam definir o resultado desse desafio.
REFERÊNCIAS
31
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
32
EDUCAÇÃO JURÍDICA E A MEDIAÇÃO COMO
EIXO DE REFUNDAÇÃO DAS ESCOLAS DE
DIREITO
Advogada. Graduada em Direito pela Universidade de Fortaleza – UNIFOR.
Especialista em Direito Público pela Universidade Federal de Santa Catarina. Mestre
em Direito pela Universidade Federal do Ceará. Doutoranda em Direito pela
Universidad Rovira i Virgili - URV. Professora da Universidade de Fortaleza –
UNIFOR. Presidente da Comissão de Ensino Jurídico da OAB/CE. E-mail:
apaholanda@hotmail.com.
Advogada. Graduada em Direito pela Universidade de Fortaleza. Especialista em
Direito e Processo do Trabalho pela Faculdade de Tecnologia de Palmas. Membro da
Comissão Especial de Mediação, Conciliação e Arbitragem e da Comissão de Ensino
Jurídico da OAB/CE. Assessora Jurídica da Regional VI da Prefeitura Municipal de
Fortaleza. E-mail: mariabarros_advce@hotmail.com.
Advogada. Graduada em Direito pela Universidade de Fortaleza. Especialista em
Direito e Processo do Trabalho pelo Centro Universitário Christus, Mestranda em
Processo e Direito ao Desenvolvimento no Centro Universitário Christus. Membro da
Comissão de Ensino Jurídico da OAB/CE. E-mail: marleanobre@hotmail.com.
Advogado. Graduado em Direito pela Faculdade Farias Brito (2015.2). Atualmente é
Secretário Geral Adjunto da Comissão de Ensino Jurídico e membro da Comissão de
Direito Internacional da Ordem dos Advogados do Brasil, Secção Ceará. Pesquisador
do Grupo de Estudos em Direito e Assuntos Internacionais na Universidade Federal
do Ceará - GEDAI – UFC. E-mail: amorim.advce@gmail.com.
33
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
1
Com a vinda da família real para o Brasil ocorreu o engajamento da mesma na
realidade ainda precária da cultura nacional. Em 1808, D. João VI cria as escolas
especiais de Medicina na Bahia e no Rio de Janeiro, a cadeira de Artes Militares. Tal
medida ameniza apenas parcialmente a carência nacional, pois não se constituía em
Faculdades, quiçá Universidades. A sociedade brasileira continuava a ser dependente
de Portugal, no tocante à cultura jurídica; só os abastados é que podiam alimentar-se
do bacharelismo. O direito não possuía um celeiro para desenvolver suas pesquisas,
pois estávamos atrelados aos ensinamentos e doutrinas estudadas em Coimbra. É com
este precário panorama nacional que se defrontava nosso país após a Independência.
2
Na época professores eram chamados de lentes.
34
havia um descompasso entre a realidade acadêmica e os desejos da
sociedade, sedenta de novos saberes, e ávida por aplicação concreta dos
estudos de então. Fato que percorre o século XVII e no final do século
XIX e início do século XX assim se posiciona Clóvis Beviláqua: o país
necessitava de uma reformulação do ensino, direcionando-o para uma
realidade concreta, tendo como proposta que “o ensino da primeira
idade é preciso ser dado em família, para que bem longe se lance pela
vida do homem a salutar influência feminina, cabendo ao Estado o
ensino posterior” (BEVILÁQUA, 1975, p. 44).
A reforma do “ensino livre”3, iniciada em 1870, gerada apenas
após a Proclamação da República surge de forma ainda precária e
distante da real necessidade brasileira. Basta se ter em mente que
ausência dos estudos de Psicologia, que para Clóvis Beviláqua, é de
fundamental importância seu estudo nos cursos jurídicos, por entender
se tratar de um conhecimento necessário ao aprendizado da filosofia do
direito bem como do direito criminal.
Para Clóvis Beviláqua (1975, p. 375); a reforma do ensino
promovida por Benjamin Constant
3
Reforma do ensino livre foi idealizada e implementada por Benjamin Constant, em
2 de janeiro de 1891, por meio do decreto n° 1232-H.
35
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
4
LUZ, E. P. G.; HOLANDA, A. P. A.; MACIEL, M. N. C. Entrelaçamentos das
escolas de Direito do Brasil e de Portugal: reflexões sobre o passado e o porvir na
cultura de Paz e nos Direitos Humanos. In: HOLANDA, Ana Paula Araújo de et al.
(org.). Direitos Humanos: Histórico e Contemporaneidade. Fortaleza: Premius
Editora, 2014. v. 1, p. 49-64.
36
O Conselho Federal de Educação em 1962, regulamenta pela
primeira vez um currículo mínimo5 para os cursos de Direito. Haja vista
que até o momento tinham ocorrido pequenos ajustes sem grande
reflexo no cenário do ensino do direito. Com esta concepção de
currículo os cursos podiam adaptar o currículo pleno à realidade local e
regional através das disciplinas a serem ofertadas para totalizar a carga
horário do curso.
Com a Resolução n. 3 de 1972 do Conselho Federal de
Educação amplia o espaço humanístico na educação jurídica. A
estrutura curricular mínima passa ter como disciplinas básicas:
Introdução ao Estudo do Direito, Economia e Sociologia e como
disciplinas profissionalizantes: Direito Constitucional (Teoria Geral do
Estado), Civil, Penal, Comercial, Trabalho, Administrativo, Processual
Civil e Penal e mais duas a serem escolhidas entre: Direito Internacional
Público e Privado, Tributário, Marítimo, Romano, Agrário,
Previdenciário, Medicina Legal, e adiciona o estágio, muito embora
alguns cursos entenderam-no como Disciplina de Prática Forense Civil
e Penal.
Com a obrigatoriedade de estágio, a carga horária é ampliada
para 2700 horas, tendo como tempo de duração de 04 (quatro) a 07
(sete) anos. Com estas alterações mesmo assim é preciso uma
reformulação acadêmica herdada pelas mudanças sociais e políticas
ocorridas no Brasil. O Brasil ingressa na democracia ainda com os seus
cursos de direito atrelados ao modelo da ditadura militar. Urge a
necessidade de adaptação aos novos paradigmas condizentes com a
realidade social e política do Brasil liberto.
Em 1994 em consonância com as demandas das academias de
Direito, que desejam profundas mudanças no desejado perfil do egresso
a Portaria MEC N. 1.886/19946, que passou a ser a base moderna de
regulação dos currículos dos cursos de direito, conjuntamente com as
5
O Ministério impõe o curso com duração mínima de 5 anos e elenca 14 disciplinas
obrigatórias: Introdução à Ciência do Direito, Direito: Civil, Comercial,
Constitucional (incluindo TGE), Internacional Público, Administrativo, Trabalho,
Penal e Financeiro, Práticas: Civil e Penal, Medicina Legal e Economia Política.
6
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Portaria nº 1886, de 30 de dezembro de 1994.
Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, 5
jan. 1996, seção 3, p. 238.
37
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
7
Consultar: <http://portal.mec.gov.br/sesu/arquivos/pdf/dir_dire.pdf>. Acesso em: 10
out 2014. Tais orientações contou com a ampla participação da comunidade
acadêmica que teve suas opiniões sistematizadas pela Comissão de Especialistas de
Ensino de Direito (CEED/SESu/MEC) em parceria com a Comissão de Ensino
Jurídico do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
8
Disposições básicas: a) carga horária: 3300h; b) tempo: 5 a 8 anos; c) o curso de
Direito deverá abranger as atividades de ensino, pesquisa e extensão; d) institui as
atividades complementares. Conteúdo mínimo: 1) disciplinas fundamentais:
Introdução ao Direito, Filosofia Geral e Jurídica, Ética Geral e Profissional,
Sociologia Geral e Jurídica, Economia e Ciência Política; 2) disciplinas
profissionalizantes: Direito Constitucional, Civil, Administrativo, Tributário, Penal,
Processual Civil e Penal, Trabalho, Comercial e Internacional; 3) estágio obrigatório
de no mínimo 300 horas; 4) Trabalho de conclusão de curso um monografia; 5)
disciplinas optativas com foco na regionalização e contextualização sócio-econômica
e 6) novos direitos. Assim ficam distribuídos os eixos no currículo pleno.
38
Portanto, as diretrizes curriculares têm uma concepção
didático-pedagógica voltada para a humanização do profissional do
Direito. Os projetos pedagógicos dos cursos de Direito passam a ter
maior autonomia acadêmica, com maior inserção regional de cada
curso, segundo suas vocações, demandas sociais e mercado de trabalho,
propiciando ao acadêmico seu melhor preparo intelectual e profissional.
Propõem as diretrizes uma ruptura como o modelo antigo de
educação jurídica, centrada e concentrada no montante de informação,
sem a devida percepção em formar uma cultura crítica aos seus
bacharéis em direito.
Com a implementação da Portaria nº 1.886/94, somando-se as
Condições de Oferta dos cursos, os Padrões de Qualidade, a aplicação
do Exame Nacional de Cursos, além da própria adoção do Exame de
Ordem pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), tais mecanismos
redefiniram os Cursos Jurídicos no Brasil, adicionando a todos estes
instrumentos a definição de um Projeto Pedagógico democrático e
participativo.
Em 2004 surge uma nova diretriz curricular para o Direito
através da Resolução n° 9, de 29 de setembro de 20049 do Conselho
Nacional de Educação, como intuito de aprofundar as matrizes da
previstas na Portaria N. 1886/1994. Tal normativa visa possibilitar aos
acadêmicos um espaço educativo mais reflexivo e crítico acerca do
fenômeno jurídico, sem perder de vista a dimensão inerente ao homem
o exercício da cidadania, tendo por fundamento os eixos de
9
BRASIL. Resolução CNE/CES n° 9, de 29 de setembro de 2004 do Conselho
Nacional de Educação. Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de
Graduação em Direito e dá outras providências. Disponível em:
<https://goo.gl/uekCEe>. Acesso em 26 dez 2014. Ver também: Pareceres CNE/CES
ns 236/2009 e 150/2013.
39
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
10
Resolução nº 9/2004: Art. 5o O curso de graduação em Direito deverá contemplar,
em seu Projeto Pedagógico e em sua Organização Curricular, conteúdos e atividades
que atendam aos seguintes eixos interligados de formação: I - Eixo de Formação
Fundamental, tem por objetivo integrar o estudante no campo, estabelecendo as
relações do Direito com outras áreas do saber, abrangendo dentre outros, estudos que
envolvam conteúdos essenciais sobre Antropologia, Ciência Política, Economia,
Ética, Filosofia, História, Psicologia e Sociologia, II - Eixo de Formação Profissional,
abrangendo, além do enfoque dogmático, o conhecimento e a aplicação, observadas
as peculiaridades dos diversos ramos do Direito, de qualquer natureza, estudados
sistematicamente e contextualizados segundo a evolução da Ciência do Direito e sua
aplicação às mudanças sociais, econômicas, políticas e culturais do Brasil e suas
relações internacionais, incluindo-se necessariamente, dentre outros condizentes com
o projeto pedagógico, conteúdos essenciais sobre Direito Constitucional, Direito
Administrativo, Direito Tributário, Direito Penal, Direito Civil, Direito Empresarial,
Direito do Trabalho, Direito Internacional e Direito Processual; e III - Eixo de
Formação Prática, objetiva a integração entre a prática e os conteúdos teóricos
desenvolvidos nos demais Eixos, especialmente nas atividades relacionadas com o
Estágio Curricular Supervisionado, Trabalho de Curso e Atividades Complementares.
40
integrante do currículo pleno, em um total de 300 horas
de atividades práticas simuladas e reais desenvolvidas
pelo aluno sob controle e orientação do núcleo
correspondente.
§1º O núcleo de prática jurídica, coordenado por
professores do curso, disporá instalações adequadas para
treinamento das atividades de advocacia, magistratura,
Ministério Público, demais profissões jurídicas e para
atendimento ao público.
§2º As atividades de prática jurídica poderão ser
complementadas mediante convênios com a Defensoria
Pública outras entidades públicas judiciárias
empresariais, comunitárias e sindicais que possibilitem a
participação dos alunos na prestação de serviços jurídicos
e em assistência jurídica, ou em juizados especiais que
venham a ser instalados em dependência da própria
instituição de ensino superior.
Art. 11. As atividades do estágio supervisionado serão
exclusivamente práticas, incluindo redação de peças
processuais e profissionais, rotinas processuais,
assistência e atuação em audiências e sessões, vistas a
órgãos judiciários, prestação de serviços jurídicos e
técnicas de negociações coletivas, arbitragens e
conciliação, sob o controle, orientação e avaliação do
núcleo de prática jurídica. (grifo nosso)
41
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
11
BRASIL. Lei Complementar nº 80, de 12 de janeiro de 1994. Diário Oficial [da]
República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, 13 jan. 1994. Disponível
em: <https://goo.gl/n8wgzA>. Acesso em: 10 jan. 2008. CEARÁ. Lei Complementar
No. 06, de 28 de abril de 1997. Diário Oficial [do] Estado do Ceará, 29 abr. 1997.
Disponível em: <http://www.defensoria.ce.gov.br/normas/lei-organica-estadual/>.
Acesso em: 10 jan 2008.
12
Por meio da Portaria no 3 de 9 de janeiro de 1996 foi alterada a aplicação das
diretrizes curriculares fixando sua obrigatoriedade “aos alunos matriculados a partir
de 1997, nos cursos jurídicos que, no exercício de sua autonomia, poderão aplicá- las
imediatamente.”
13
O curso de Direito da Universidade de Fortaleza inaugurou seu Escritório de
Práticas Jurídicas - EPJ em agosto de 2000 devidamente conveniado com a
Defensoria Pública do estado do Ceará, sob a coordenação de Ana Paula Araújo de
Holanda. Em 2001 amplia seu espectro de atendimento com uma sala de conciliação.
Fato que de pronto se demostra insuficiente e de imediato são construídas mais duas
salas com nova especificidade, passam a ser denominadas salas de conciliação e
mediação. Em 2004 o EPJ cria o Serviço de Solução Extra-judicial de Disputas –
SESED (mediação, conciliação, negociação e aconselhamento patrimonial). Ver:
HOLANDA, 2014.
42
mencionava apenas a técnicas de negociações coletivas, arbitragens e
conciliação, ou seja, muito havia que ser percorrido.
14
BRASIL. Resolução n° 9, de 29 de setembro de 2004 do Conselho Nacional de
Educação. Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em
Direito e dá outras providências. Disponível em: <https://goo.gl/VrQEhj>. Acesso
em: 26 dez. 2014.
15
O curso de Direito da Universidade de Fortaleza através do seu Escritório de
Práticas Jurídicas – EPJ já disponibilizava os serviços de mediação e conciliação
desde 2002, ou seja, muito antes de tias institutos ingressarem formalmente nos
instrumentos de avaliação. Posto que a Resolução 09/2004 não tratava expressamente
destes institutos.
43
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
16
BRASIL. Programa Nacional de Direito Humanos (PNDH-3). Secretaria
Especial de Direitos Humanos da Presidência da República, Brasília: SEDH/PR,
2010. Disponível em: <https://goo.gl/vhd3SS>. Acesso em: 10 out 2014. Foi criado
inicialmente pela Decreto N. 7.037, de 21 de dezembro de 2009 e atualizado pelo
Decreto N. 7.177, de 12 de maio de 2010.
17
BRASIL. Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos. Brasília,
Secretaria Especial de Direitos Humanos, Ministério da Educação, 2003. Disponível
em: <https://goo.gl/zJG6n7>. Acesso em: 10 out. 2014.
44
[...] produção do conhecimento é o motor do
desenvolvimento científico e tecnológico e de um
compromisso com o futuro da sociedade brasileira, tendo
em vista a promoção do desenvolvimento, da justiça
social, da democracia, da cidadania e da paz.
45
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
46
5 EM NOTAS CONCLUSIVAS: desafios e perspectivas
47
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
20
Resolução n° 9, de 29 de setembro de 2004 do Conselho Nacional de Educação.
Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Direito e dá
outras providências.
48
Repensar a educação em Direito a partir do olhar da cultura de
Paz nos faz transcender as matrizes tradicionais e propor novos
caminhos. Caminhos estes entrelaçados umbilicalmente com ações
pautadas nos conteúdos a serem ministrados nas academias, porém com
metodologias desafiadoras, que propõe romper com o espaço fechado
das salas de aulas e praticar o ensino em simulações, rodas de
conversas, teatro, dentro e foras das IES, nas praças, nas praias, nas
ruas..., enfim, todo ambiente como espaço de diálogo, saber e troca de
conhecimento.
Muitos obstáculos já surgiram, alguns foram vencidos e outros
ainda não. O principal é fazer com os atores deste processo, quer
professor, quer aluno, quer a estrutura administrativa das IES creiam na
possibilidade de transmissão/troca de saberes para além das formas
prontas.
REFERÊNCIAS
49
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
50
________. Educação jurídica como promoção da efetividade da justiça:
um modelo teórico-prático. Revista Pensar, Fortaleza, v. 10, n. 10, p.
6-10, fev. 2005.
51
A PRISÃO DOMICILIAR E A SITUAÇÃO DA
MULHER PRESIDIÁRIA SOB A PERSPECTIVA DO
ACESSO À JUSTIÇA: por quais motivos o Superior
Tribunal de Justiça (STJ) denegou mais de 300 pedidos
de prisão domiciliar do gênero feminino, porém autorizou
o da esposa de um ex-governador (caso Adriana
Ancelmo)?
anabritobg@hotmail.com.
victoribiapinacunha@hotmail.com.
sidney@unifor.br.
53
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
1 INTRODUÇÃO
54
O Poder Judiciário, um dos Três Poderes da nossa Federação,
responsável por fazer valer um ideal de Justiça e igualdade, mantém
sob seus auspícios situações que não denotam uma estrita obediência a
estes princípios. O próprio Superior Tribunal de Justiça, guardião da
lei, protagoniza um caso que está virando emblemático de clara
demonstração de falta de devido acesso à justiça em uma perspectiva,
como dito, horizontal. Ao julgar o caso da advogada e esposa do ex-
governador Sergio Cabral, Adriana Ancelmo, possibilitando a esta que
cumpra sua pena em prisão domiciliar demonstra a desigualdade
latente, à medida que é denegado o benefício a 300 outras mulheres que
o pleiteiam da mesma forma.
Isso leva a crer que o acesso à justiça, nessa acepção, é um
mecanismo utilizado mais fortemente pelos favorecidos e mais
abastados que, via de regra, possuem defensores de renome e
influência, que possam fazer valer sua “justiça", na medida que o
restante dos réus fica à margem de um sistema que não confere suporte
suficiente. Nesse diapasão, espera-se do Judiciário uma atitude que
convergisse à superação de tais desigualdades, conferindo assim um
julgamento justo e isonômico, o que não parece acontecer, conforme
será demonstrado neste artigo.
O presente trabalho, então, tendo como caso paradigma o
citado em epígrafe (Adriano Anselmo), tem como objetivo geral
discutir o acesso à justiça da mulher presidiária no seu direito à prisão
domiciliar. Já os objetivos específicos são entender a prisão domiciliar
na perspectiva do acesso à justiça; analisar, objetivamente, através de
números censitários (INFOPEN), a situação da mulher nos presídios
brasileiros; por fim, explicar os motivos pelos quais o STJ deferiu o
pedido de prisão domiciliar da Adriana Anselmo, tendo denegado mais
de 300 pleitos neste sentido. Com este estudo, busca-se a melhoria das
práticas institucionais e formulação de políticas públicas prisionais.
Para tanto, foram desenvolvidos 03 (três) tópicos. No
primeiro, abordou-se a Prisão domiciliar sob a perspectiva do acesso à
justiça; no segundo, desenvolveu-se sobre a situação da Mulher
presidiária em números; já, no terceiro, discorreu-se acerca da decisão
do STJ que concedeu prisão domiciliar à mulher de ex-governador,
Adriana Anselmo, tendo, antes denegado outros 300 (trezentos) pedidos
55
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
56
sob esse prisma, nenhuma dificuldade de acesso. O
problema é de "saída", pois todos entram, mas poucos
conseguem sair num prazo razoável, e os que saem,
fazem-no pelas "portas de emergência", representadas
pelas tutelas antecipatórias, pois a grande maioria fica lá
dentro, rezando, para conseguir sair com vida (ALVIM,
2003).
57
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
58
2.2 A SITUAÇÃO DA MULHER PRESIDIÁRIA EM NÚMEROS
59
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
1
Dados da pesquisa mais recente realizada pelo INFOPEN datam de 2015.
60
Figura 1: Evolução da população prisional, segundo gênero no Brasil,
de 2000 a 2014
61
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
62
De cada 10 unidade femininas, apenas 3 possuem berçário, e
nas unidades mistas oferecem dados alarmantes de apenas 3% unidades
prisionais com existência de berçário e/ou centro de referência. Apesar
da notável relevância do relatório da INFOPEN Mulheres, visto o
aumento gradativo da população carcerária feminina, seus dados ainda
são insuficientes em relação a quantas mulheres presas são mães,
informação imprescindível para sua aplicabilidade em políticas efetivas
para a diminuição do encarceramento em massa.
Pesquisa quantitativa realizada por LEAL (2016) com uma
população nacional de 495 mulheres (206 gestantes e 289 mães),
concluiu as precárias condições sociais das mães que pariram nas
prisões. Entre outras coisas, a precária assistência pré-natal, o uso de
algemas durante o trabalho de parto e parto, bem como o relato de
violência e a péssima avaliação do atendimento recebido, denotam que
o serviço de saúde não tem funcionado como barreira protetora e de
garantia dos direitos desse grupo populacional. Isso contraria o
princípio de que as mulheres presas devem se beneficiar do mesmo
tratamento que a população livre, de acordo com Constituição Federal.
Em pesquisa realizada em 2015 no banco de dados STF, do
STJ e dos Tribunais de Justiça do Rio Grande do Sul, Paraná, São
Paulo e Mato Grosso, no período de 2002 a 2012, pode-se concluir que,
por estar privada de liberdade, as condições de cumprimento da pena da
mulher repercutem em seus filhos, notadamente naqueles de parca
idade que permanecem no cárcere, implicando grave violação a direito
fundamental, por não serem oferecidas condições de adequada
assistência. Em geral, não é observado o princípio constitucional da
transcendência da pena, segundo o qual nenhuma pena passará da
pessoa do condenado, nos exatos termos do artigo 5º, inciso XLV, da
Constituição Federal brasileira (SIMAS, 2015).
Com relação aos poucos processos cíveis encontrados,
imperou a lógica da destituição do poder familiar diante da ausência de
políticas públicas focalizadas para essa parcela da sociedade. É
praticamente inexistente o debate acerca da responsabilização estatal no
63
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
64
conseguiu junto ao STJ o benefício da prisão domiciliar. O benefício
foi concedido em decisão na primeira instância, no dia 17 do mês de
março. Adriana Anselmo responde pelo crime de corrupção.
O caso ganhou notoriedade e grande repercussão de forma
negativa pelo fato do Juiz Marcelo Bretas, que deferiu a prisão
domiciliar, assim como a ministra Maria Thereza de Assis Moura, da 6ª
Turma do STJ, que cassou a negativa do MPF em autorizar o benefício,
à medida em que tal benefício fora negado a tantas outras mães em
situação análoga. O argumento da procuradoria para pedir a revogação
da prisão baseou-se no princípio da isonomia, alegando que conceder
tal benefício seria uma “enorme quebra de isonomia” perante outras
mulheres (HC 362.922 e RHC 81.300). Isso denota a discrepância entre
as acusadas, mostrando uma desigualdade latente no quesito de acesso
à prestação do Poder Judiciário.
Muito embora o caso tenha ganho ampla notoriedade pela
mídia, a decisão do magistrado não deve se basear apenas no clamor da
opinião pública. A conduta de quem julga deve ser discreta e recatada,
fugindo da exposição pública e das vaidades ateadas pela mídia.
Muitas vezes, a decisão correta e justa não é a mais popular, mas os
juízes devem ser íntegros, seguir suas consciências e motivar suas
decisões de forma racional. A grande questão é a desigualdade de
suporte entre as detentas que dificilmente alcançarão uma assessoria
capaz de subverter decisões como esta, evidenciando que o acesso à
justiça ainda não foi alcançado substancialmente, mas sim
formalmente. (SABINO. 2011. p. 112)
A obra de CAPPELLETTI (1988, p.32) é bastante eficaz para
analisarmos esta questão, quando traz à discussão do acesso à justiça
em três ondas, mais notadamente na primeira, que retrata a assistência
jurídica aos pobres e suas dificuldades. Os métodos para proporcionar a
assistência jurídica àqueles que não podem custear, são, por isso
mesmo, vitais.
Diante da decisão, em ofício a ministra Carmen Lúcia, a
ministra dos Direitos Humanos, Luislinda Valois, defende que a medida
65
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
2
O sistema Judiciare, que de acordo com Cappelletti (1988, p. 35) trata-se de:
“[...]um sistema através do qual a assistência judiciária é estabelecida como um
direito para todas as pessoas que se enquadrem nos termos da lei. Os advogados
particulares, então, são pagos pelo Estado. A finalidade do sistema judicare é
66
Nesse diapasão, seria um sistema em que conferiria um direito
às mulheres encarceradas de terem uma assistência judiciária em razão
de sua situação, pela falta de políticas eficazes e que venham a
proporcionar um efetivo acesso à justiça tal que esteja ligado de
maneira íntima à garantia do devido processo legal, assegurando aos
que necessitam da tutela jurídica em contrapartida ao Estado que deve
prestá-la. (BATISTA. 2010, p. 47)
O outro trazido por Cappelletti (1988, p. 35) é o Advogado
remunerado pelos cofres públicos, que se diferenciam do sistema
judicare, pelo fato de serem escritórios particulares pagos através de
impostos dos contribuintes para garantir às presidiárias pobres,
enquanto classe, acesso à prestação jurisdicional proporcionadas por
escritórios particulares pagos pelo Estado.
Ou ainda, como o exemplo da Suécia efetivar um modelo
combinado que maximiza essa prestação enquanto direito, aplicando,
repise-se às mulheres presidiárias que, pobres como podem ser,
necessitam de um serviço adequado (CAPPELETTI, 1988, p. 43).
Assim, levando em conta a realidade pátria, é necessário do
Estado um apoio nesse sentido acima delineado, para possibilitar às
presidiárias uma assistência eficaz que pudesse fazer valer seus direitos
de maneira igualitária, como o intuito de concretizar o devido processo
legal e o acesso à justiça como garantidor da dignidade humana.
3 CONCLUSÃO
67
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
68
decisões de tribunais, na medida em que conseguiu frente ao STJ
suscitar o entendimento jurisprudencial pacifico de que o mecanismo
processual utilizado pelo MPF, liminar em mandado de segurança, para
suspender a decisão do juízo de piso, que concedeu a prisão domiciliar
não é admissível quando haja recurso previsto. A isonomia é
vilipendiada.
Mas acredita-se que um dia o exercício dos direitos através do
processo será isonômico, à medida que o judiciário zele por isso, e o
acesso à justiça se dará por completo, conferindo ao grande número de
mulheres presidiárias, como acima ilustrado e evidenciado, a correta e
justa espada da Justiça.
REFERÊNCIAS
69
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
70
representações sociais. Psicologia teórica e prática, São Paulo, v. 7, n.
1, p. 61-79, jun. 2005. Disponível em: <https://goo.gl/fRu3nN>. Acesso
em: 17 abr. 2017.
LOPES JR., Aury. Direito processual penal, 10. ed. São Paulo:
Saraiva, 2013.
71
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
72
ACESSO À JUSTIÇA ATRAVÉS DA CONCILIAÇÃO
NO PROGRAMA ESTADUAL DE PROTEÇÃO E
DEFESA DO CONSUMIDOR - DECON
Advogada.
Advogada.
Advogada.
73
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
1 INTRODUÇÃO
74
conflito para que haja concretamente a efetivação de direitos, sem que
ocorra, entretanto, a exclusão da apreciação do direito pelo Estado, caso
a sua atuação seja realmente imprescindível.
Com o objetivo de possibilitar o caminho para uma solução
mais célere e a melhor obtenção final da causa ensejadora foram
criados os instrumentos de solução de conflitos de forma extrajudicial,
sendo eles a mediação, a arbitragem e a conciliação. Assim sendo, a
conciliação de forma sintética é o meio pelo qual a atuação perpassa o
conciliador e as partes em que se encontram em um determinado
conflito, com a capacidade de sugerir uma solução positiva para a
contenda. Visto que como salienta Neto (2003, p.20):
75
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
76
inúmeras contendas da sociedade brasileira. Neste contexto,
analisaremos a forma como o acesso à justiça poderá ser alcançado com
a ajuda, em especial, do DECON – Programa Estadual de Proteção e
Defesa do Consumidor, cuja principal tarefa é atuar na facilitação deste
direito fundamental.
77
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
78
constatada a prática de infração, pode ser feita a lavratura de auto de
infração para a apuração de irregularidades.
Importante ressaltar que, no decorrer do processo
administrativo, será oportunizada a concretização de acordos entre o
consumidor e o fornecedor. Para isto, serão realizadas sessões de
conciliação para que haja um entendimento entre as partes. Para que
haja tal entendimento, o conciliador intermediará o diálogo entre as
partes e deixará claro que ninguém será obrigado a assinar um acordo,
caso não concorde com os termos e condições apresentados.
Após a realização do acordo, um termo de conciliação será
lavrado e assinado pelas partes para que surta os efeitos legais e
administrativos. Caso ocorra descumprimento do que for pactuado em
audiência, o reclamante poderá levar o referido documento para a
apreciação do Poder Judiciário.
79
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
80
motivo de configurar um processo mais profundo, de uma interferência
singela do mediador para não promover propostas para o deslinde da
causa, devido a sua complexidade e quando envolve um conflito
causado pelo lado emocional dos participantes.
No ordenamento jurídico brasileiro faz parte a existência da
conciliação extrajudicial e judicial. A extrajudicial ocorre antes mesmo
do processo. Sendo caso de não haver o acordo, as partes que estão
envolvidas, caso decidam pela solução do conflito direcionem o
conflito para ser decidido no âmbito do Poder Judiciário. No caso
ocorrerá a conciliação judicial, ela acontece durante o processo, e não
havendo solução para a deslinde, dar-se-á o prosseguimento ao
processo para decisão do juiz.
Em se tratando da legislação atuante para as causas de
conciliação está presente a Lei nº 13.140, de 26 de junho de 2015.
Considerando na parte em que é tratada a mediação judicial, como
consequência equipara-se e traz à tona a conciliação sendo
reponsabilidade dos tribunais para criarem centros judiciários de
solução consensual de conflitos, responsáveis pela realização de
sessões e audiências de conciliação, pré-processuais e processuais, e até
pelo desenvolvimento de programas destinados a auxiliar, orientar e
estimular a auto composição.
81
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
82
mínimos, no caso de até 20 salários mínimos é dispensado a atuação do
advogado.
Sobretudo, caso não seja possível diante das hipóteses
supracitadas a solução quanto a demanda consumerista, é oportuno que
dependendo da resposta dada pela parte do fornecedor quanto a última
fase da intermediação do Procon, a reclamação fundamentada deverá
ser registrada como atendida ou como não atendida. Após a feitura
desse procedimento, o resultado da proposta é posto por meio de dados
no Cadastro Nacional de Reclamações Fundamentadas, que anualmente
possui resultados.
Segundo dados do Conselho Nacional de Justiça, em 2015 os
processos sobre relações de consumo totalizaram 1.667,654 ações,
ficando em quarto lugar no ranking dos dez assuntos mais recorrentes
no Poder Judiciário, representando um total de 9,6% das ações deste
órgão. No Ceará, segundo dados do CNJ, os processos de relações de
consumo equivaleram a 11,1% das ações do TJCE no referido ano.
Dentre as principais ações de defesa do consumidor podemos
destacar a atuação da Secretaria Nacional do consumidor- SENACON,
criada pelo Decreto n 7738, de 28 de maio de 2012, que integra o
Ministério da Justiça e tem atribuições estabelecidas no artigo 106 do
Código de defesa do Consumidor e no artigo 3 do Decreto n 2181/97.
Sua atuação concentra-se no planejamento, elaboração, coordenação e
execução da política nacional das relações de consumo, na análise de
questões que tenham repercussão nacional e interesse geral, na
promoção e coordenação de diálogos setoriais, dentre outros.
Atuando junto a SENACON, temos o Departamento de
proteção e defesa do consumidor-DPDC, o órgão que auxilia a
SENACON na execução de política nacional das relações de consumo,
monitorando o mercado de consumo e realizando diálogos setoriais
com fornecedores, na cooperação técnica com órgãos e agências
reguladoras, exercendo a advocacia do consumidor, prevenindo e
repreendendo práticas infratoras aos direitos do consumidor, em
questões que tenham repercussão nacional e interesse geral.
O DPDC integra os Procons e centraliza as informações
relativas ao cadastro nacional de reclamações fundamentadas. O
Procon, por sua vez, é o órgão do Poder Executivo que atua no âmbito
83
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
84
verificar o alcance deste serviço à população. Assim, serão
consideradas as estatísticas de atendimento, abertura de reclamações,
bem como o índice de resolutividade compreendidos no período entre
01 de janeiro de 2016 a 31 de dezembro de 2016.
De acordo com as informações colhidas no site do Ministério
Público do Estado do Ceará, durante o ano de 2016 foram realizados
26.497 atendimentos, que podem ser identificados como abertura direta
de reclamação, atendimento preliminar, cálculo, atendimentos
cancelados, CIP (Carta de Informações Preliminares), Extra Procon,
Reclamações de Ofício e simples consulta.
Fonte: http://www.mpce.mp.br/decon/estatisticas/
85
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
86
Figura 2: Meios de Consumo
Fonte: http://www.mpce.mp.br/decon/estatisticas/
87
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
Figura 3: Reclamação
Fonte: http://www.mpce.mp.br/decon/estatisticas/
88
percentual de 80,9% de resolutividade das demandas trazidas pelos
consumidores. Isto significa que apenas 19,1% das pessoas que
procuraram o DECON precisaram buscar a efetivação de seus direitos
perante as vias judiciais.
6 CONCLUSÃO
89
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
REFERÊNCIAS
90
mediação e arbitragem. São Paulo: ABC Editora, 2003.
91
ACESSO À JUSTIÇA E IGUALDADE MATERIAL: um
diálogo necessário
ABSTRACT: This article aims to bring into light the close relationship
between material equality and access to justice, especially when
analized through a broad sense. In order to reach this purpose, an
exploratory research with a bibliographical and documental approach
was developed. Initially, the need to implement the principle of equality
Especialista em Direito do Trabalho e Processo do Trabalho pelo Complexo
Educacional Damásio de Jesus. Graduado em Direito pela Universidade Federal do
Ceará (UFC). Analista Jurídico da Companhia de Integração Portuária do Ceará
(Cearáportos). E-mail: danielmtcruz@gmail.com.
Mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal do
Ceará (PPGD/UFC). Graduada em Direito pelo Centro Universitário Christus
(Unichristus). Advogada. E-mail: mariana_urano@hotmail.com.
93
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
1 INTRODUÇÃO
94
Muito além da seara jurisdicional, objetiva-se explanar como o
princípio em comento pode promover a tão almejada justiça social, que,
há tempos, exige a superação dos limites da máquina judiciária. Sem se
negar as melhorias trazidas com a aplicação dos princípios
constitucionais do processo, deseja-se indicar em que proporção os
meios alternativos de resolução de conflitos, por exemplo, têm
contribuído para a construção de uma sociedade justa e igualitária.
95
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
96
compreensivo (CAPPELLETTI; GARTH, 2002, p. 31).
Todavia, se, de acordo com a Constituição em comento, todas
as pessoas gozam de plenos direitos e são iguais, por que a maior parte
delas continua alegando desigualdade e expondo apelos por justiça
social? (COSTA, 2016, p. 729). Malgrado os recursos públicos, não
raras vezes, serem insuficientes para a universalização dos direitos
fundamentais, deve-se reconhecer o seguinte:
97
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
98
Para o atendimento do acesso à justiça enquanto sinônimo de
acesso ao Judiciário, a submissão aos princípios constitucionais do
processo é imprescindível (BARACHO, 1995, p. 10). Sem se pretender
suprimir o valor do Direito Processual, entende-se, hodiernamente, que
todos os ramos jurídicos devem obediência à Constituição Federal,
elencando estes princípios fundamentais atinentes aos litígios
justamente com a finalidade de fortalecer as disposições da legislação
processualista.
Remetendo-se à evolução da ciência processual, pode-se
constatar que o acesso à justiça recebeu o devido destaque na fase do
instrumentalismo, que atribuiu, de forma simultânea, grande atenção à
efetividade do processo e aos escopos sociais, políticos e jurídicos
(DINAMARCO, 2005, p. 382). Por oportuno, cite-se o art. 1º do
Código de Processo Civil de 2015, que promete constante obediência
aos valores e às normas fundamentais.
O Direito Processual Civil, assim como outros ramos do
âmbito jurídico,
99
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
100
é o único que pode solucionar conflitos. Por esse prisma, o acesso à
justiça precisa ser visto “como o requisito fundamental – o mais básico
dos direitos humanos – de um sistema jurídico moderno e igualitário
que pretenda garantir, e não apenas proclamar o direito de todos”
(CAPPELLETTI; GARTH, 2002, p. 12). Compreende-se, dessarte,
101
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
102
têm se mostrado indispensáveis, cabendo-lhes a defesa e a
conscientização do ser humano.
As crises de eficiência e de identidade e todos os reflexos a
elas correlatos trazem, como consequências, o “esmagamento” da
justiça e a descrença do cidadão comum (SPENGLER; SPENGLER
NETO, 2013, p. 11). Nesse diapasão, a eliminação dos litígios deve
atender ao critério de justiça, visto que o seu valor figura como objetivo
da jurisdição no plano social; caso contrário, haverá mera sucessão de
arbitrariedades (SPENGLER; SPENGLER NETO, 2013, p. 5).
Diante do agravamento da conjuntura social e política
brasileira, a demanda pela assistência dos órgãos estatais aumentou
vertiginosamente. Nesse ínterim, a resposta ao impasse inclusão-
exclusão tem consistido, muitas vezes, na eleição dos grupos sociais
que devem permanecer protegidos pelo Estado Democrático de Direito,
sobretudo diante da persistência da crise econômica (COSTA, 2016, p.
732).
Além das causas de exclusão de natureza econômica e
cultural, Rocha (1999, p. 172) cita ainda as de origem ideológica. O
Estado insiste em ignorar que o alcance do chamado “direito aos
direitos” (MIRANDA, 1988, p. 252) pressupõe o conhecimento de sua
titularidade, o que, não raras vezes, resta impossibilitado em razão da
injusta seletividade do poder público quanto ao público-alvo de suas
políticas.
O interesse em torno da superação desses entraves ao acesso à
justiça adveio da adoção de três posições básicas, ou “ondas”
(CAPPELLETTI; GARTH, 2002, p. 31). A primeira diz respeito à
assistência judiciária; a segunda refere-se à representação jurídica dos
interesses difusos; e a terceira versa sobre o atual “enfoque no acesso à
justiça”, que inclui as “ondas” anteriores e vai muito além delas,
consistindo em uma “tentativa de atacar as barreiras do acesso de modo
mais articulado e compreensivo” (CAPPELLETTI; GARTH, 2002, p.
31).
Como aduz Silva (2014, p. 72), é preciso “buscar soluções que
legitimem o acesso à justiça, não somente numa visão macro, mas nos
detalhes que minimizam a atual atividade jurisdicional”. O fomento à
cultura demandista (RÉ, 2015, p. 41), ao não se mostrar compatível
103
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
5 CONCLUSÃO
104
fraterna, e não apenas restrita aos patamares eleitos pelo Estado. O
grande desafio é justamente superar as barreiras de cunho econômico,
social e ideológico, possibilitando-se que o acesso se dê não apenas de
modo formal, mas que implique em igualdade material e na efetiva
realização da justiça.
REFERÊNCIAS
105
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
106
COSTA, Eliane Romeiro. A universalização da justiça e da igualdade: a
dualidade do direito social de quase todos. Fragmentos de Cultura,
Goiânia, v. 26, n. 4, p. 711-773, out./dez. 2016.
107
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
108
SPENGLER, Fabiana Marion; SPENGLER NETO, Theobaldo. O
acesso à justiça brasileiro após a Constituição de 1988. In: XI
SEMINÁRIO NACIONAL DEMANDAS SOCIAIS E POLÍTICAS
PÚBLICAS NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA, 11., 2015,
Florianópolis. Anais eletrônicos... Florianópolis: UNISC, 2015.
Disponível em: <https://goo.gl/LHjM89>. Acesso em: 12 fev. 2017.
109
A INOVAÇÃO DOS MEIOS ELETÔNICOS COMO
FORMA ALTERNATIVA DE RESOLUÇÃO DE
CONFLITOS E ACESSIBILIDADE À JUSTIÇA
Advogada. Bacharel em Direito pela Universidade de Fortaleza – UNIFOR.
Especialista em Direito e Processo do Trabalho pela Faculdade Tecnológica de
Palmas – FTP.
111
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
1 INTRODUÇÃO
112
conflitos diferentes das judiciais, isto é, meios extrajudiciais, os quais,
atualmente, está sendo o maior foco dos atuantes da justiça, vez que, a
solução de disputa extrajudicial acaba sendo uma forma mais célere e
eficaz para a dissolução dos litígios.
Conforme a evolução da nossa sociedade vai ocorrendo, é
necessário que o nosso sistema jurídico também acompanhe esta
modernidade, caso contrário, o sistema se torna obsoleto e ineficaz para
a solução dos conflitos. E, por esta razão, os meios eletrônicos, os quais
já fazem parte da vida cotidiana dos indivíduos, passaram a integrar,
como ferramenta essencial de acessibilidade dos indivíduos, aos litígios
judiciais e extrajudiciais.
A aplicação dos meios eletrônicos às soluções de disputas
extrajudiciais facilitou ainda mais o acesso à justiça e a celeridade do
desfecho do litígio, haja vista que, por meio do CPC 2015 e Resoluções
do CNJ, foi introduzida a aplicabilidade nos processos judiciais
eletrônicos, videoconferências e à mediação através de Whatsapp, o
que já vem sendo utilizado por alguns Tribunais brasileiro.
Destarte, o intuito deste artigo é responder a determinados
questionamentos, como: Para que serve a mediação e como ela pode ser
inserida no contexto atual? Qual o impacto dos meios eletrônicos
causados na mediação? Quais foram as mudanças trazidas por esta
inovação nas soluções de disputas extrajudiciais? E quais outros modos
podem ser inseridos os meios eletrônicos na esfera judicial?
No que diz respeito aos aspectos metodológicos, as hipóteses
de incidência foram averiguadas pelo estudo descritivo-analítico,
desenvolvido através de pesquisas. Quanto ao tipo, ela será
bibliográfica, através de livros, monografias e dados oficiais publicados
na Internet. Quanto à utilização dos resultados, ela será pura, pois terá
como única finalidade a ampliação dos conhecimentos sobre o assunto
proposto. Quanto à abordagem, ela será qualitativa, pois objetiva a
criação do tema de pesquisa cuja principal limitação é a carência de
disponibilidade de estudos voltados para a inserção dos meios
eletrônicos, em especial, nas mediações. Quanto aos objetivos, ela será
descritiva, pois, levando em consideração a falta de bibliografia
específica, a maior contribuição deste trabalho é o seu pioneirismo em
estudar os meios eletrônicos, com formas inovadoras de soluções de
113
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
114
excluindo suas convicções pessoais, e resumir a problemática trazida,
apresentando os pontos convergentes, para que cheguem ao acordo
final.
Deste modo, para que haja mediações satisfatórias para ambas
as partes é essencial que o mediador seja bem treinado e entenda que
ele é apenas um facilitador do diálogo entre as partes. Por isto, foi
necessária a implementação da política Judiciária Nacional para
promover curso adequado para formação de instrutores da mediação
judicial, ENFAM, aliando-os à resolução nº 125, de 29 de novembro de
2010, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
Os mediadores devem atuar de acordo com princípios
fundamentais, estabelecidos na resolução supracitada, que são:
confidencialidade, decisão informada, competência, imparcialidade,
independência e autonomia, respeito à ordem pública e às leis vigentes,
empoderamento e validação. Além dos princípios estabelecidos pela
Lei nº 13.140, sancionada em 26 de junho de 2015, mais conhecida
como Lei da Mediação (Online, 2015): informalidade, simplicidade,
economia processual, celeridade, oralidade e flexibilidade processual.
As etapas da mediação são bastante simples. Primeiramente, o
mediador apresenta-se de forma breve e clara para as partes e, em
seguida, explica o conceito e o procedimento da mediação. Após, cada
uma das partes terá sua vez de manifestar sua problemática, para, em
seguida, o facilitador elaborar um breve resumo, explanando os pontos
contraditórios e os interesses do litígio. Por fim, se as partes
conseguirem entrar em consenso, é redigido um acordo de linguagem
simples e objetiva, sendo assinado por ambas as partes e mais duas
testemunhas.
Um dos pontos positivos da Mediação é a finalidade de trazer
aos cidadãos o conhecimento e a participação ativa em suas relações
conflituosas, proporcionando a eles o dever de responsabilidade civil e
de cidadania para uma convivência harmônica, vez que o acordo resulta
tão somente da comunicação e entendimento entre as partes.
Por este motivo, o Poder Judiciário, através do CNJ, passou a
impulsionar a Mediação como uma de suas atribuições, conforme
preceitua o artigo 4º, da Resolução nº 122/2010 (Online, 2010), do
CNJ: “Compete ao Conselho Nacional de Justiça organizar programa
115
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
116
desafios para o acesso à justiça entre nós são
infinitamente mais acentuados individuais quanto os
direitos políticos, os direitos sociais e os coletivos. Ou
seja, os desafios para o acesso à justiça entre nós são
infinitamente mais acentuados. Em terceiro lugar, nos
países centrais, a preocupação com o acesso à justiça é
principalmente com a manutenção de um certo padrão de
garantia dos direitos, de eficácia e de penetração dos
direitos na sociedade. Ora, entre nós, a preocupação com
o acesso à justiça não é de manutenção, mas sim de
obtenção de algo que nunca foi conquistado: a afirmação
da cidadania pela via judicial.
117
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
118
3.1 O NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL E OS MEIOS
ELETRÔNICOS
119
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
120
(BRASIL, 2015), especificamente em seu artigo 236, §3º, o qual aduz:
“Admite-se a prática de atos processuais por meio de videoconferência
ou outro recurso tecnológico de transmissão de sons e imagens em
tempo real”, consolidou o uso de meios tecnológicos no mundo
jurídico, pela chamada Info via do Judiciário, o qual utiliza o sistema
de áudio e imagem com confiável segurança no tráfego de informações
transmitidas do Conselho Nacional de Justiça.
Corroborando com o recente entendimento da utilização da
videoconferência como meio facilitador de litígios, o CPC 2015
(BRASIL, 2015) também introduziu o uso da videoconferência, ou
outro recurso tecnológico, para depoimentos pessoais, oitiva de
testemunha, acareação ou sustentação oral do indivíduo que se encontra
em comarca diversa da que tramita o processo, consoante disposto nos
artigos 385, §3º, 435 §1º, 461, §2º e 937, §4º, do diploma legal
supracitado.
Ainda com o avanço da tecnologia é possível afirmar que o
Judiciário está se tornando mais eficiente e célere quanto aos processos
e litígios judiciais e extrajudiciais. Tendo em vista que o Julgamento de
recursos pode ser realizado por meio eletrônico, conforma aduz o artigo
945, do mesmo diploma legal: “A critério do órgão julgador, o
julgamento dos recursos e dos processos de competência originária que
não admitem sustentação oral poderá realizar-se por meio eletrônico”.
Desta forma, há a possibilidade de qualquer das partes
litigantes apresentarem discordância do julgamento por meio
eletrônico, conforme preconiza o mesmo artigo supracitado, em seu §2º
e 3º, independente de motivação, que será apta a determinar o
julgamento em sessão presencial.
Além da videoconferência, há também outro aplicativo, muito
conhecido atualmente: o Whatsapp, que, apensar de não ter sido criado
para esta finalidade, está facilitando o acesso dos litigantes às soluções
de conflitos judiciais e extrajudiciais.
A exemplo disto, a Justiça do Trabalho do Ceará (TRT/CE),
criou um novo canal como forma inovadora de solucionar os conflitos,
a conciliação via Whatsapp. Meio este em que as partes solicitam uma
audiência de conciliação pelo aplicativo, apontando o número do
processo e o nome das partes interessadas.
121
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
122
rápida e eficaz, satisfazendo o interesse das partes litigantes.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
123
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
litígios, para que seus atos sejam menos formalistas e passem a dar
maior atenção ao que realmente importa, que é a resolução do conflito,
impulsionando uma maior economia processual e aproximando as
partes do juiz. Ademais, devem ter como prioridade o incentivo das
partes à solução de conflito extrajudicial.
Já o Estado, deve tomar medidas adequadas para que haja o
real incentivo à estas soluções de disputas e inovações aos meios
eletrônicos, investindo financeiramente em equipamentos apropriados e
publicidades educativas, para que este objetivo chegue à todos,
principalmente à população de baixa renda, designada como
necessitada, que tem o acesso à justiça mitigado e possuem pouca
informação. Com isto, prezando por uma sociedade mais justa, menos
conflituosa, igualitária e em sintonia com os fundamentos assegurados
na Constituição Federal: Dignidade Humana e Cidadania.
REFERÊNCIAS
124
2017.
125
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
126
O ACESSO DOS TRABALHADORES À JUSTIÇA
ATRAVÉS DA SUBSTITUIÇÃO PROCESSUAL
Advogada.
Advogado.
127
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
1 INTRODUÇÃO
128
processar coletivamente demandas que versem sobre direitos
individuais homogêneos, mostra-se de suma importância uma análise
aprofundada sobre este, que é um instrumento para a tutela de direitos
coletivos, o que justifica o presente estudo.
O método de abordagem utilizado no presente trabalho é
indutivo e a técnica de pesquisa é a bibliográfica qualitativa.
129
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
130
remoção de todos os obstáculos que se anteponham ao
acesso efetivo à Justiça com tais características
(WATANABE, 2009, p. 135).
131
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
132
manutenção do status quo, reforçando a subsistência do estado de
exclusão de considerável parte da população.
Esse panorama traçado gera um afastamento abismal entre as
pessoas que buscam a tutela jurisdicional e o próprio Poder Judiciário,
reforçando a ideia trazida neste estudo de que a substituição processual
por Sindicatos serve como um rompimento para esses empecilhos,
fortalecendo a promoção dos Direitos Fundamentais, sobretudo da
dignidade da pessoa humana, do acesso à justiça, da inafastabilidade da
jurisdição e da razoável duração do processo.
1
SUBSTITUIÇÃO PROCESSUAL. SINDICATO (cancelamento mantido) - Res.
121/2003, DJ 19, 20 e 21.11.2003 e republicada DJ 25.11.2003I - O art. 8º, inciso
III, da Constituição da República não assegura a substituição processual pelo
sindicato.
[...] II - A substituição processual autorizada ao sindicato pelas Leis nºs 6.708, de
30.10.1979, e 7.238, de 29.10.1984, limitada aos associados, restringe-se às demandas
que visem aos reajustes salariais previstos em lei, ajuizadas até 03.07.1989, data em
que entrou em vigor a Lei nº 7.788/1989. III - A Lei nº 7.788/1989, em seu art. 8º,
assegurou, durante sua vigência, a legitimidade do sindicato como substituto
processual da categoria. IV - A substituição processual autorizada pela Lei nº 8.073,
de 30.07.1990, ao sindicato alcança todos os integrantes da categoria e é restrita às
demandas que visem à satisfação de reajustes salariais específicos resultantes de
disposição prevista em lei de política salarial. V - Em qualquer ação proposta pelo
sindicato como substituto processual, todos os substituídos serão individualizados na
133
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
134
trabalho graças ao contorno que tomou com seu amadurecimento,
desde o momento em que deixou de ter mera previsão no ordenamento
jurídico – sobretudo na Constituição Federal e passou a ser aplicada,
sendo amplamente admitida no âmbito do Tribunal Superior do
Trabalho e, inclusive, pela Corte Máxima. Pode-se atrelar sua
importância a diversos fatores que serão pormenorizados. Pode-se
iniciar tal análise partindo do que se pode chamar de
“despersonificação” e do que se pode chamar de “despersonalização”
dos conflitos.
Explica-se. A despersonficação é o que contempla em um
único processo uma quantidade expressiva de pessoas, desatrelando-se
da lógica do processo individual que conduz a uma situação em que
diversas pessoas que sofreram a mesma lesão ou ameaça a direito
ingressem individualmente em juízo com suas demandas, contribuindo
para o afogamento do judiciário e a insegurança jurídica da
possibilidade de soluções diferentes para lides com origem comum e,
portanto, situações idênticas. Sob essa ótica, o processo coletivo por
substituição processual permitiria o ajuizamento de demanda única para
o julgamento de lesões de origem comum, permitindo uma decisão
uniforme e mais célere - aspectos positivos para o Judiciário e para os
trabalhadores envolvidos.
Quando à despersonalização, esta resolve uma questão
amplamente conhecida, que é a exposição do trabalhador que compõe o
polo ativo da demanda ao empregador que ocupa o polo passivo da
lide. Ora, tal situação é, sem dúvida alguma, grande empecilho para os
trabalhadores que tem seus direitos ameaçados ou lesados, quando
pensam na possibilidade de ingressar judicialmente a fim de obter um
provimento jurisdicional. Isso porque há um confrontamento entre
aquele que se encontra no lado mais “fraco” da relação de emprego,
versus aquele que se encontra na posição de mando, detentor do meio
de produção e do poder econômico. Não raramente, o ingresso do
trabalhador em juízo ainda durante o curso do contrato de trabalho
causa grande insegurança ao obreiro a respeito da continuidade de seu
emprego, ora porque teme sofrer represálias, ora porque teme pelo
próprio emprego. Além de que o conflito existente tem forma
adversarial no atual modelo de processo que se tem.
135
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
136
Conforme detalha Mota (2008), na década de 1980
contabilizou-se a propositura de 9.164.557 processos trabalhistas; Na
década de 1990 esse número cresceu para 20.856.684; Na década de
2000, somente até 2005 o TST já contabilizava 13.550.714 processos
autuados em todo país. No ano de 2015, o TST computou 2,6 milhões
de ações distribuídas pelas Varas do Trabalho de todo país.
Conforme aponta o site do TST 2 em relação ao relatório “Justiça em
números” do CNJ, o desempenho da Justiça do Trabalho foi o seguinte:
2
FEIJÓ, Carmen. Relatório Justiça em Números 2015 destaca produtividade e
informatização da Justiça do Trabalho. TST, Brasília, [15 jan. 2015]. Disponível em:
<https://goo.gl/xrQzZH>. Acesso em: 15 jun. 2016.
137
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
138
4 CONCLUSÃO
139
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
REFERÊNCIAS
140
Brasil, Poder Executivo, Brasília, 9 ago. 1943. Disponível em:
<https://goo.gl/nMor6d>. Acesso em: 27 mar. 2017.
141
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
142
A SISTEMATIZAÇÃO DO AMICUS CURIAE NO
NOVO CPC COMO INSTRUMENTO DE ACESSO À
JUSTIÇA
ABSTRACT: The entry into force of the new Code of Civil Procedure
brought several improvements to the procedural law of the country,
especially the systematization, in its own chapter, of the third intervener
called the amicus curiae. This significant figure is not new in Brazilian
law, but there is no doubt that such systematization granted greater
legitimacy to the institute, as well as a greater detail not previously
predicted. The activity of the friend of the curia begins to have a
Advogada.
Possui graduação em Direito pela Universidade de Fortaleza - UNIFOR. Foi
aprovada em vários concursos públicos, tendo exercido o cargo de procurador da
Petrobrás e juiz de direito substituto do Estado do Pará. Atualmente, integra a
magistratura do Estado de Tocantins. Publicou no ano de 2009 um livro sobre
controle de constitucionalidade.
143
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
1 INTRODUÇÃO
144
quais leis está presente no ordenamento jurídico nacional.
Numa segunda abordagem, será retratado como a inserção do
amicus curiae de forma autônoma no novo CPC propiciou o acesso ao
Poder Judiciário nas suas dimensões objetiva, subjetiva e funcional,
configurando um avanço para o Direito Processual Civil e trazendo a
possibilidade de uma decisão ainda mais justa.
Sem a pretensão de encerrar o debate sobre o tema, resta claro
que essa modificação legislativa trouxe um novo enfoque ao amigo da
cúria, alterando o modo como o mesmo é tratado na realidade fática do
processo, trazendo novas margens à sua atuação e, consequentemente,
fomentando o acesso à justiça processual brasileira.
145
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
146
comumente também é denominado amigo da cúria ou amigo da corte. A
doutrina não encontra uniformidade sobre a real origem dessa figura.
De acordo com Bueno (1998), alguns entendem que o instituto teve
surgimento no direito romano, para outros no direito anglo-saxão,
especialmente no direito penal inglês medieval. Este último, por sua
vez, teria apresentado amplos reflexos no direito norte-americano,
legislação esta que proporcionou maior desenvolvimento do tema.
O primeiro caso a tratar sobre o assunto nos Estados Unidos
foi The Schooner Exchange vs. McFadden, no ano de 1812. Nesse
processo, um general foi chamado para dar sua opinião sobre a matéria
posta a julgamento, a fim de que falasse sobre questões referentes à
marinha. Depois disso, os tribunais americanos passaram a admitir
particulares como amigos da cúria, em processos de direito privado, e
logo depois, associações privadas. (BUENO, 2012)
Houve uma inegável ingerência trazida pelo direito norte-
americano ao amigo da corte no Brasil, muito embora tenha sofrido
também influência do direito inglês, francês, italiano e argentino.
Convém destacar a atual redação da Rule 37 da Corte Suprema
Americana, citada por Bueno (2012, p.122), que faz reflexões sobre o
que se espera do amicus curiae, a dizer:
147
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
148
É de suma importância a atuação do amigo da cúria como
auxílio à atividade judicial. Em razão de sua representatividade
institucional, o amigo da corte apresenta uma parcela de informações
adicionais, apresentando ao juiz ou tribunal o assunto sob diversos
ângulos, nem sempre avistados pelo Juízo. O seu exercício é a prática
da própria cidadania e busca da segurança jurídica, onde ocorre o
resguardo da ordem constitucional e dos princípios e garantias
jurídicas.
Bueno (2012, p. 39) explicita sobre a importância de tal figura
para o ordenamento jurídico:
149
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
1
Insta salientar a utilização de algumas das intervenções de terceiro na jurisdição
coletiva, a exemplo da assistência. No entanto, o CPC/73, quando de sua edição, tinha
por prioridade disciplinar conflitos individuais.
2
A nomeação à autoria se encontrava prevista no art. 62 do CPC/73. O CPC/2015
extinguiu tal figura como hipótese de intervenção de terceiro. No entanto, criou
instrumento genérico que faculta a alteração do polo passivo de qualquer tipo de
demanda, caso o réu alegue ser parte ilegítima. A fim de não fugirmos da temática
discutida, remetemos o leitor à consulta dos artigos 338 e 339 do Código de Processo
Civil vigente.
150
processual buscou mitigar o déficit de legitimidade de decisões que
eventualmente pudessem irradiar seus efeitos para além das partes
formais ou envolvesse matéria de grande relevância, em insofismável
observância ao regime democrático e ao pluralismo social.
Nesse diapasão, o instituto do amicus curiae foi positivado nos
seguintes termos:
TÍTULO III
DA INTERVENÇÃO DE TERCEIROS
[...]
CAPÍTULO V
DO AMICUS CURIAE
Art. 138. O juiz ou o relator, considerando a relevância da
matéria, a especificidade do tema objeto da demanda ou a
repercussão social da controvérsia, poderá, por decisão
irrecorrível, de ofício ou a requerimento das partes ou de
quem pretenda manifestar-se, solicitar ou admitir a
participação de pessoa natural ou jurídica, órgão ou
entidade especializada, com representatividade adequada,
no prazo de 15 (quinze) dias de sua intimação.
§ 1o A intervenção de que trata o caput não implica
alteração de competência nem autoriza a interposição de
recursos, ressalvadas a oposição de embargos de
declaração e a hipótese do § 3o.
§ 2o Caberá ao juiz ou ao relator, na decisão que solicitar
ou admitir a intervenção, definir os poderes do amicus
curiae.
§ 3o O amicus curiae pode recorrer da decisão que julgar
o incidente de resolução de demandas repetitivas.
151
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
152
PROCESSO CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. AÇÃO
COLETIVA. CARÊNCIA DE AÇÃO.
REPRESENTATIVIDADE ADEQUADA.
ILEGITIMIDADE ATIVA. PROIBIÇÃO DE
PRODUZIR E COMERCIALIZAR CIGARROS.
RESERVA DO POSSÍVEL. IMPOSSIBILIDADE
JURÍDICA DO PEDIDO. EXTINÇÃO SEM
RESOLUÇÃO DE MÉRITO.
1.NADA OBSTANTE O CONTROLE JUDICIAL
SOBRE A REPRESENTATIVIDADE ADEQUADA SE
OPERE OPE LEGIS E DE FORMA OBJETIVA,
VERIFICA-SE QUE O SISTEMA SE AJUSTA MAIS A
UMA DISCRICIONARIEDADE JUDICIAL. O
MODELO DO DIREITO COMPARADO, QUE
ATRIBUI AO JUIZ O CONTROLE DA
"REPRESENTATIVIDADE ADEQUADA" (ESTADOS
UNIDOS DA AMÉRICA, CÓDIGO MODELO PARA
IBERO-AMÉRICA, URUGUAI E ARGENTINA)
PODE SER TRANQÜILAMENTE ADOTADO NO
BRASIL, NA AUSÊNCIA DE NORMA IMPEDITIVA.
[...]
2. A REPRESENTAÇÃO ADEQUADA É UM
CONCEITO JURIDICAMENTE
INDETERMINADO, ABERTO, PORTANTO, A SER
INTEGRADO NO CASO CONCRETO PELO
CONVENCIMENTO MOTIVADO DO JUIZ DE
ACORDO COM A FINALIDADE DA LEI.
EXISTEM DADOS SENSÍVEIS QUE
CARACTERIZARIAM A REPRESENTATIVIDADE
IDÔNEA E ADEQUADA. SEGUNDO A DOUTRINA,
ESSES DADOS SÃO: A CREDIBILIDADE, A
SERIEDADE, O CONHECIMENTO TÉCNICO-
CIENTÍFICO, A CAPACIDADE ECONÔMICA, A
POSSIBILIDADE DE PRODUZIR UMA DEFESA
PROCESSUAL VÁLIDA.
[...]. (DISTRITO FEDERAL. Tribunal de Justiça do
Distrito Federal e Territórios. Apelação Cível nº
359465420068070001-DF, Primeira Turma Cível.
Relator: Flávio Rostirola. Brasília, 15 de agosto de 2007.
Diário de Justiça, 18 set. 2007, Seção 3, p. 109, grifo
nosso)
153
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
154
se, pois, uma fixação da interpretação constitucional nos
‘órgãos oficiais’, naqueles órgãos que desempenham o
complexo jogo jurídico-institucional das funções estatais.
Isso não significa que não se reconheça a importância da
atividade desenvolvida por esses entes. A interpretação
constitucional é, todavia, uma ‘atividade’ que,
potencialmente, diz respeito a todos.
155
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
156
processuais inerentes à condição de parte3 atribuída pelo CPC/2015 a
tal terceiro interveniente, consoante vier a ser fixado em decisão
judicial.
Nesse diapasão, a sistematização do amicus curiae apresenta,
a par de uma ampliação objetiva e subjetiva, uma ampliação funcional
em sua atuação. Tal fato trouxe novos contornos ao instituto e descerra
o nítido caráter democrático do processo como instrumento de efetivo
acesso à Justiça, em consonância com o espírito do novo processo
constitucional civil.
Longe de encerrar o debate, muito ainda há de ser discutido
sobre a temática, que merece ser aprofundada em razão da notável
alteração do instituto no novo Código de Processo Civil. Considerando
a relevância do assunto e possibilidades de sua aplicabilidade, resta
aguardar a manifestação da jurisprudência dos Tribunais sobre a
temática, dado o indubitável aperfeiçoamento do acesso à Justiça
promovido pela sistematização da atuação do amicus curiae.
4 CONCLUSÃO
3
Antes da edição do CPC/2015 havia grande controvérsia doutrinária sobre a
natureza jurídica do amicus curiae. Atualmente, o diploma constitucional processual
elucida a questão, não restando dúvidas de que o amicus curiae possui natureza
jurídica de parte. Nesse sentido, veja-se o Curso de Direito Processual Civil, de Fredie
Didier Jr, p. 591, 2017.
157
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
158
REFERÊNCIAS
159
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
160
ATUAÇÃO DO ADVOGADO EM BUSCA DO ACESSO
À JUSTIÇA CONSENSUAL
1 INTRODUÇÃO
Advogada.
Advogada e Professora.
161
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
162
referidos meios para as partes, para os próprios advogados e para o
Poder Judiciário, visando ao efetivo acesso à Justiça.
163
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
164
inerentes ao diálogo cooperativo se interpõem. Aos
advogados, nesse aspecto, cabe prestar tanto o
esclarecimento, quanto todo assessoramento legal
sobre aquelas questões (SAMPAIO; BRAGA NETO,
2007, p. 112-113, grifo nosso).
165
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
166
realizada, de acordo com o artigo 172 do CPC, conforme já descrito.
Sobre o tema, cumpre evidenciar que recentemente o Conselho
Nacional de Justiça (CNJ) entendeu que os estudantes de Direito
podem atuar isoladamente como conciliadores judiciais, caso tenham
participado do curso de capacitação. In verbis:
167
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
ser aceito ainda que não haja a assinatura do cliente, caso não existam
indícios de falsificação de assinatura, ou outros motivos relevantes.
168
De fato, geralmente é o advogado quem possui os
conhecimentos técnicos necessários ao bom encaminhamento do
procedimento arbitral. No entanto, como explanado pelo autor,
entendeu-se que a autonomia da vontade das partes deveria se sobrepor
à obrigatoriedade de constituição de advogado na arbitragem, apesar
das causas que são submetidas à arbitragem serem notadamente
complexas, na maioria das vezes. Não obstante, destaque-se que ‘‘[...]
competirá ao árbitro ou ao tribunal arbitral [...] tentar a conciliação das
partes [...]’’, conforme art. 21, §4º da Lei nº 9.307/1996. Nesse sentido,
caso as partes cheguem a um acordo, cabe ao árbitro ou o tribunal
arbitral declarar a existência do acordo em sentença arbitral, se as
partes requererem, conforme está posto com art. 28, da referida lei.
169
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
170
na mediação, e poderá usá-las para mais bem administrar outros
conflitos. Além do exposto, na mediação há maior rapidez e menor
custo da mediação em relação ao processo judicial; não há necessidade
de provar fatos; é confidencial; há o diálogo em ambiente imparcial, na
presença do facilitador, que ajudará as partes a dialogarem; e há a
possibilidade de administrar o conflito, de forma que se possa ‘‘[...]
manter ou aperfeiçoar o relacionamento anterior com a outra parte’’
(AZEVEDO et al., 2015, p. 143). Sobre o tema:
171
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
1
Formulado pela autora, com apoio das fontes: AZEVEDO, André Gomma de et al.
Manual de mediação judicial do Conselho Nacional de Justiça, 5. ed. Brasília,
2015. [s.n]; BACELLAR, Roberto Portugal. Mediação e Arbitragem, 1. ed. São
Paulo: Saraiva, 2012. (Coleção saberes do direito ; 53); SCAVONE Jr., Luiz Antonio.
Manual de Arbitragem: Mediação e Conciliação, 7. ed. Rio de Janeiro: Forense,
2016.
172
Manter ou
Possibilita prever
aperfeiçoar o Irrecorribilidade
consequências
vínculo
Administração do Não precisa provar
Informalidade
conflito fatos
Celeridade/Baixo
Ausência de ônus Confidencialidade
custo
173
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
174
De fato, como já foi abordado, ao atuar como mediador ou
conciliador em seu escritório, por exemplo, o advogado está
contribuindo para a diminuição do número de causas submetidas à via
judicial, além de, consequentemente, estar fomentando o direito de
acesso à Justiça, que é destinado a todos, e foi preceituado no art. 5º,
XXXV, da Carta Magna. Nesse sentido, ‘‘[...] as pesquisas demonstram
que os meios consensuais foram responsáveis por apenas 11% da
solução dos conflitos, apesar do imenso investimento do CNJ e dos
tribunais’’ (CNJ, 2016, p. 382, grifo nosso). Nota-se que o percentual
de causas extintas por meios consensuais é notoriamente
desproporcional aos esforços empreendidos pelo Conselho Nacional de
Justiça (CNJ), dentre outros, para fins de fomento do uso dos meios
pacíficos e do consequente tratamento adequado aos conflitos.
Acredita-se que, quando o pensamento não adversarial for mais bem
entendido e aplicado na sociedade pelos indivíduos em seus próprios
conflitos, o Poder Judiciário certamente irá se beneficiar ainda mais
com a diminuição no número de demandas submetidas ao seu juízo.
É cediço que o andamento dos processos judiciais tem se
mostrado ineficazes quanto a duração razoável do processo. Na fase de
execução, os dados são ainda mais alarmantes, na medida em que os
‘‘[...] juizados especiais – criados a partir dos princípios da sim-
plicidade, informalidade e economia processual – também sofrem o
impacto da morosidade da execução’’ (CNJ, 2016, p. 381, grifo nosso).
Isso porque, ‘‘[...] enquanto na Justiça Estadual os casos em
execução permanecem aguardando desfecho por quase 9 anos (em
média), nos juizados especiais o tempo médio [...] é de 6 anos e 9
meses’’ (CNJ, 2016, p. 381, grifo nosso). Por isso, faz-se necessário
que haja uma atuação advocatícia mais consciente sobre a relevância
dos meios consensuais, para que o advogado oriente as partes sobre as
benesses do uso tais meios, a fim de cumprir seu dever de fomentar o
uso dos meios adequados de solução pacífica de controvérsias.
Nesse sentido, pesquisas ‘‘[...] demonstraram que o
encerramento de boa parte dos processos pela via da conciliação
nos juizados cíveis ocorre ao final do processo de conhecimento,
quando o requerido percebe que não obterá êxito em sua defesa’’.
175
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
6 CONCLUSÃO
176
por fim, na arbitragem há a confidencialidade, além de maior
celeridade, etc. Quanto ao advogado, observou-se que, além de
contribuir com a busca de soluções pacíficas que beneficiem seus
clientes, o referido profissional poderá ter a possibilidade de exercer
suas atividades em uma área que tem ganhado destaque, o que é
evidenciado pelas recentes mudanças na legislação pátria no sentido de
promover o adequado tratamento aos conflitos, por exemplo.
Conclui-se, portanto, que os meios consensuais são uma forma
eficaz e célere na busca pela solução adequada das controvérsias, na
maioria das vezes. Acredita-se, por fim, que o advogado está
efetivamente contribuindo para a diminuição do número de causas
submetidas ao Poder Judiciário ao atuar como mediador, conciliador ou
árbitro, além de, consequentemente, estar fomentando o acesso à
Justiça de forma consensual, que é direito de todos.
REFERÊNCIAS
177
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
178
________. A evolução da mediação através dos anos- aprimoramento
das discussões conceituais. In: ________.; BRAGA NETO, Adolfo
(org.). Aspectos atuais sobre a mediação e outros métodos extra e
judiciais de resolução de conflitos Rio de Janeiro: GZ, 2012, p. 140-
160.
179
A (IN) CONSTITUCIONALIDADE DO JUS
POSTULANDI NA JUSTIÇA DO TRABALHO: uma
análise da efetividade da prestação jurisdicional à luz da
constituição de 1988
ABSTRACT: The study deals with the conflict between the possibility
of applying in court without the intermediary of a lawyer, through the
institute of jus postulandi, whose main objective is to analyze the
constitutionality of this institute, considering that, at least apparently,
there is a conflict of rights Fundamental rights relating to access to
justice, guarantee of judicial performance and provision of essentiality
Advogada.
181
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
1 INTRODUÇÃO
182
coletivos ou individuais da categoria por ele representada, inclusive em
questões judiciais ou administrativas;
Vislumbra-se, pois, a necessidade de aperfeiçoamento do
tema, fornecendo uma visão peculiar do problema, não apenas do ponto
de vista da crítica das expressões contidas na lei processual, mas para a
necessária estruturação do judiciário e sua instrumentalização, sempre
buscando os melhores resultados e a efetividade da justiça,
característica inerente ao processo, seu maior objetivo.
Na vivência profissional é possível visualizar, diariamente, o
fenômeno da busca pelo cidadão por direitos perante a justiça do
trabalho desamparado de profissionais técnicos qualificados para lhes
assistirem, em que pese as previsões legais e constitucionais que
garantem, pelo menos em tese, o acesso a justiça.
Dessa observação nasceu o interesse em averiguar as
implicações no processo do pleito judicial por meio do jus postulandi,
garantido na Consolidação das Leis Trabalhistas, traçando um perfil do
reclamante e/ou reclamado, e sua expectativa/possibilidade de sucesso
no pleito, face ao desconhecimento da técnica.
Surgiu ainda o questionamento acerca da constitucionalidade
de tal instituto, uma vez que, pelo menos aparentemente, tem-se um
conflito de normas a ser descortinado.
Não seria impróprio falar em possível afronta à constituição no
que respeita a previsão do jus postulandi, uma vez que a própria
constituição prediz o advogado como indispensável à administração da
justiça, quando, por outro lado, norma infraconstitucional dispensa sua
atuação, em determinados procedimentos processuais.
Consta na Carta Magna previsão expressa de que toda lesão ou
ameaça pode e deve ser apreciada pelo poder judiciário, direito este
incluso em seu art. 5º, compondo o rol de direitos fundamentais.
Mais adiante, no art. 133 da mesma Carta, vislumbra-se a
previsão de essencialidade do advogado na administração da justiça,
bem como, no art. 134, institui a defensoria pública como órgão
essencial à função jurisdicional do Estado, cabendo a ela a defesa e
orientação, em todos os graus, dos necessitados.
A Lei Federal nº. 8.906/1994, conhecida como Estatuto da
Advocacia e da OAB também traz em seu bojo, especificamente no
183
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
184
É diante desta dicotomia que se desenvolve o estudo em
apreço, a fim de verificar tanto a constitucionalidade do jus postulandi,
em face de aparente colisão que este revela entre o direito fundamental
de acesso a justiça e a essencialidade do advogado. Serve-se, ainda, a
presente pesquisa para constatar a eficácia da prestação jurisdicional
ofertada por meio de referido instituto.
185
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
186
sendo inviolável por seus atos e manifestações no exercício da
profissão, nos limites da lei.
No mesmo sentido, dispõe o artigo 2º e seus incisos, da lei
8.906/94, comumente denominada de Estatuto da Advocacia,
afirmando ainda que, no seu ministério privado, o advogado presta
serviço público e exerce função social, bem como que no processo
judicial, o advogado contribui na postulação de decisão favorável ao
seu constituinte, ao convencimento do julgador, e seus atos constituem
múnus público e que, no exercício da profissão, o advogado é
inviolável por seus atos e manifestações, nos limites desta lei.
Verifica-se, ainda, que o advogado é detentor da capacidade
postulatória, conforme se depreende do artigo 36 do CPC: "A parte será
representada em Juízo por advogado legalmente habilitado. Ser-lhe-á
lícito, no entanto, postular em causa própria, quando tiver habilitação
legal ou, não a tendo, no caso de falta de advogado no lugar ou recusa
ou impedimento dos que houver."
Extrai-se do texto normativo que a atuação do advogado em
favor do cidadão é de fundamental importância, principalmente por ser
ele o detentor do conhecimento técnico e prático para atuar junto ao
judiciário a fim de garantir o exercício do direito fundamental de acesso
a justiça de forma eficaz e segura.
Tanto é assim, que a postulação a órgão do Poder Judiciário é
previsto no art. 1º da Lei 8.906/94 como ato privativo de advocacia,
bem como a consultoria, assessoria e direção jurídica, constituindo
contravenção penal de exercício irregular da profissão (art. 47 da Lei
3.688/41- Lei das contravenções penais), a realização destas atividades
por pessoas não habilitadas e sendo os atos nulos (art. 4ª da Lei
8.906/94).
Ocorre que não há como o exercício da jurisdição ser efetivo,
sem a presença do advogado nos atos processuais, sob pena de restar
prejudicado prejuízo o contraditório, a própria defesa de direitos,
restando a parte que estiver desacompanhada de profissional capacitado
e habilitado, totalmente desamparada.
O advogado é quem possui conhecimento técnico e jurídico,
sendo o mais indicado para acompanhar todo e qualquer processo até a
decisão final, inclusive por estar externo às emoções do direito posto
187
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
188
Do texto legal é possível constatar a atribuição à Defensoria
Pública a responsabilidade tanto pela orientação jurídica como a
promoção de direitos judicial e extrajudicialmente sejam individuais ou
coletivos, de forma que sua atuação no âmbito trabalhista deveria ser
instituída e aparelhada de forma a atender a população que necessita
destes serviços.
Na mesma legislação há previsão dos objetivos e funções
institucionais da defensoria, se não vejamos, dos quais destacam-se os
artigos 3º, IV e 4º, IV, V, XI e § § 2º e 5º. Vejamos:
189
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
190
6 JUS POSTULANDI
191
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
192
sujeitou a validade do processo judicial, não importa o
órgão jurisdicional perante a qual se instaura, a
capacidade postulatória consubstanciada no binômio
parte-advogado. [...]
As, considerações, que se acabam de fazer sobre juizados
especiais cíveis e sobre a justiça da paz alcançam também
a necessidade criada pela norma impugnada, que rompeu
com vitoriosa tradição, de representação do reclamante
perante os órgãos da Justiça do Trabalho da 1ª instância,
[...]
Se a opção política, contida na regra impugnada, é
censurável porque se destina, claramente, apenas a
ampliar o mercado de trabalho da nobre classe dos
advogados, sem outras preocupações, que a realidade
brasileira torna impositiva, aquele preceito não resiste ao
confronto com os arts. 98, I e II, 116, e 5º, XXXIV, ‘a’, e
XXXV da Constituição Federal, tornando-se
indispensável a declaração de sua inconstitucionalidade.
(BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Medida Cautelar
na Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 1.127-DF,
Tribunal Pleno. Relator: Min. Paulo Brossard. Brasília, 6
de outubro de 1994. Diário de Justiça: 29 jun. 2001 -
Relatório do Acórdão da ADI)
193
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
194
instância) e Tribunais Regionais do Trabalho (TRTs – 2ª instância), não
sendo possível que a parte, sozinha, interponha recursos junto ao
Tribunal Superior do Trabalho nem alcançando Ações Rescisórias,
Ações Cautelares e Mandados de Segurança.
Trata-se da Súmula nº 425, a qual traz em seu bojo limitação à
aplicabilidade do princípio do “jus postulandi” na Justiça do Trabalho.
Vejamos:
195
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
196
8 CONCLUSÃO
197
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
REFERÊNCIAS
198
________. ________. Portaria nº. 502 de 26 de agosto de 2011. Item
38. Consulta projeto piloto de instituição de ofícios trabalhistas.
Disponível em: <http://goo.gl/NieEyD>. Acesso em: 26 jul. 2017.
199
O ACESSO À JUSTIÇA NO PANORAMA JURÍDICO-
CONSTITUCIONAL ATUAL: novas políticas de
democratização
Graduanda em Direito pela Universidade Regional do Cariri. Bolsista pelo programa
PIBIC-URCA. Integrante do grupo de estudos e pesquisas em direitos humanos
fundamentais. Email: robertagbm@gmail.com.
Doutoranda em Direito Econômico e Socioambiental pela Pontifícia Universidade
Católica do Paraná (PUC-PR). Suficiência investigadora na área de Direito
Administrativo no programa de doutorado "O Direito Público e as Institucións
Públicas ante a Unión Europea e o Mercosur" da Universidade de Santiago de
Compostela (USC-Es). Mestre em Direito Público pela Universidade Federal Ceará
(UFC). Graduada em Direito pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Email:
edineusapamplona@gmail.com.
201
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
1 INTRODUÇÃO
202
cada ser ou classe integrante do meio social, assim, defendendo-se que
para o acesso à justiça se efetivar é preciso um suporte diferenciado do
Estado a certos grupos (GAMBA; MONTAL, 2008).
É no sentido da materialidade do acesso à justiça que este
artigo delimita o seu objeto de investigação. Destaca-se que o trabalho
foi divido em duas etapas: a primeira consistiu em uma análise teórica e
a segunda em uma pesquisa empírica realizada através da aplicação de
questionários em escolas da rede pública de ensino da cidade de Crato-
CE.
O objetivo principal deste artigo consistiu na analise das
principais dificuldades dos alunos do ensino médio de escolas, do
município supracitado, em relação à justiça e seu acesso, bem como,
em ressaltar a importância do desenvolvimento do ensino dos direitos
humanos e fundamentais dentro do ambiente escolar.
Com base nos resultados dessa pesquisa de campo, pode-se
contrapor com os dados teóricos obtidos através da análise de livros e
períodicos cientificos que versem sobre a temática em comento. Além
disso, destaca-se que a pesquisa possui natureza qualitativa quanto à
análise dos dados e caráter descritivo.
203
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
204
progressos. Foi na Idade Média que a teologia e a fé preponderaram
sobre a razão, resgatando-se a ideia de que um ser supremo é a causa e
o efeito de tudo. Esse período marcou-se pela inquisição, punindo-se
aqueles que se manifestassem contra os ensinamentos da igreja
(MINGATI; RICCI, 2011).
Somente nos séculos XIV e XV, quando estado e igreja
começaram a separar-se, tomou-se lugar o período que ficou conhecido
como Renascimento. As explicações medievais já não vinham mais
satisfazendo os anseios da população, assim, no período da renascença
opta-se por retomar as ideias da Grécia e de Roma, voltando-se ao
passado no sentido de atender as demandas presentes e futuras. Neste
período, prepondera a ideia do humanismo e da fundamentação de que
o direito não estava mais na religião, e sim na razão (PAROSKI, 2006).
Como afirma Mingati e Ricci (2011), após o renascimento o
movimento na busca de maiores garantias sociais ganhou força, e no
século XVIII, conhecido como século das luzes, pregou-se com maior
veemência o pensamento de igualdade de todos perante a lei, de
igualdade religiosa e da livre manifestação do pensamento. Os
iluministas, que criticavam fortemente o regime vigente na época,
ganharam a adesão da burguesia no intuito de reivindicar perante a
aristocracia uma condição de igualdade jurídica, bem como, defendiam
a implantação de um governo constitucional e parlamentar.
Através de lutas, consolidou-se o estado liberal no século XIX
e inicio do século XX, positivando-se nos textos constitucionais a ideia
da igualdade entre os homens. Neste período, o direito de ingressar com
uma ação perante o órgão jurisdicional já estava garantido a todos,
contudo tal direito ainda reduzia-se a pequena parcela que conseguia
arcar com as custas judiciais (MINGATI; RICCI, 2011).
Surge neste período a distinção entre acesso à justiça formal e
material. Neste ponto, as constituições dos estados ocidentais passaram
a se preocupar com o reconhecimento e a efetivação dos direitos
sociais. Citando como exemplo o Brasil, o acesso à justiça só foi
incluído de forma explicita pela primeira vez na Constituição de 19461.
1
Art. 141. A Constituição assegura aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no
País a inviolabilidade dos direitos concernentes à vida, à liberdade, a segurança
individual e à propriedade, nos termos seguintes: [...] § 4º. A lei não poderá excluir da
205
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
206
Mauro Cappelletti e Bryant Garth são tidos como uns dos
principais expoentes dentro dos estudos do acesso à justiça. Ambos
dedicaram-se a criação da obra “acesso à justiça”, elaborada a partir do
desenvolvimento de projeto Florença de Acesso à Justiça2 cujo objetivo
era analisar os sistemas judiciais de 23 países3. Ressalta-se que este
estudo foi realizado entre os anos de 1973 a 1978, mas ainda hoje é
usado como uma das principais doutrinas acerca dessa temática.
Ambos buscaram analisar, primeiramente, qual seria o
conceito e quais os obstáculos desse acesso, e posteriormente
identificar as possíveis soluções para os problemas identificados. Com
base nisso, foram desenvolvidas as três primeiras ondas revolucionárias
de acesso à justiça.
O conceito adotado pelos autores tinha o acesso à justiça como
um direito Humano e Fundamental de um sistema jurídico moderno,
objetivando garantir a igualdade de direitos entre todos os cidadãos e
não tê-los apenas como promessas. (CAPPELLETTI; GARTH, 1988).
Já os obstáculos por eles identificados nas pesquisas
resumiam-se basicamente a três: as altas custas judiciais; a
possibilidade das partes, não só financeira, mas de saber reconhecer
que um direito seu está sendo violado; e a falta de interesse em proteger
os direitos coletivos, pois nem sempre a luta pela garantia desses
direitos refletia na conquista de causas tão vantajosas devido as custas
serem altas o retorno financeiro mínimo.
Com base na identificação de tais obstáculos Cappelletti e
Garth puderam estabelecer um panorama daquilo que poderia ser feito
para promover mudanças. Surge a primeira onda revolucionária
destinada a assistência jurídica aos mais pobres, pois as desigualdades
sociais surgidas em decorrência do estado capitalista promoveu a
exclusão de diversas camadas populacionais da dinâmica não só
econômico-social, mas também jurídica. (SILVÉRIO, 2008). Assim,
propuseram um sistema de assistência gratuita voltado para atender as
2
Relatório geral do projeto foi intitulado de “Access to Justice: The Worldwide
Movement to Make Rights Effective. A General Report”. Publicado em Milan (1978)
3
Austrália, Áustria, Bulgária, Canadá, China, Inglaterra, França, Alemanha, Holanda,
Hungria, Indonésia, Israel, Itália, Japão, Polônia, União Soviética, Espanha, Suécia,
Estados Unidos, México, Colômbia, Chile e Uruguai.
207
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
208
Entretanto, apesar das obras desses três grandes pesquisadores
do acesso à justiça, contemporaneamente outras demandas começaram
a surgir, não se podendo considerar a quarta onda revolucionária como
a última. Desta forma, formaram-se novas perspectivas voltadas para
concretização e democratização do acesso sob uma perspectiva ainda
mais social, voltado para efetivação do conceito atual que se tem do
acesso a justiça material.
209
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
210
só será realmente enraizado se for adquirido na base da formação
cidadã, que é a escola.
211
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
212
A terceira questão confirmou uma das hipóteses levantadas
neste artigo. Na visita as escolas para aplicação dos questionários
constatou-se a presença de disciplinas como a de ética e de cidadania,
voltadas principalmente para construção cidadã dos jovens, fator que
consequentemente deveria possuir na grade curricular lições sobre
direitos e deveres. Contudo, como mostram os dados dessa questão
92% dos participantes afirmaram que não existem atividades de ensino
sobre tal temática.
Analisando-se a Lei das Diretrizes e Bases da Educação
Nacional 9.394/96 ressalta-se que esta traz em seu texto a necessidade
de inclusão de conteúdos referentes ao ensino dos Direitos Humanos e
do Estatuto da Criança e do Adolescente na grade curricular das
escolas. No entanto, dificuldades são enfrentadas, muitas vezes, devido
à ausência de capacitação dos professores sobre essas temáticas.
Diante desse déficit enfrentado por alunos e professores,
justifica-se aqui a ideia anteriormente levantada da necessidade de
criação de políticas públicas que visem suprir tal necessidade. O
interesse dos alunos é real, pois 85% afirmaram que gostariam que em
sua escola fosse ensinada noções básicas de direito, falta incentivo não
só da gestão escolar, mas do governo.
213
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
4
A psicologia do desenvolvimento se caracteriza como um ramo que tem a finalidade
de estudar a interação dos processos físicos e psicológicos e às etapas de crescimento,
a partir da concepção até ao final da vida de um sujeito (BOCK, 2001).
214
A sexta questão foi dividida em seis perguntas. O intuito era
identificar se os participantes da pesquisa sabiam o significado de
trechos do nosso texto constitucional. Muitas das leis Brasileiras são
criticadas pela complexidade com que os legisladores elaboram o seu
texto, diante disso, selecionaram-se incisos do artigo 5° da referida lei e
perguntou-se se os alunos achavam que aquela afirmação era
verdadeira ou falsa.
A questão que obteve um maior índice de acertos foi a “6f”
que aborda a prática do racismo como crime inafiançável e
imprescritível. Isso se justifica foi essa ser uma temática bastante
trabalhada no ambiente escolar, já que situações de racismo são
enfrentadas diariamente neste local. Frisa-se aqui o reconhecimento por
essa inclusão das discussões sobre racismo na escola, contudo o leque
de debates deve abranger uma pluralidade de assuntos para construção
ética e cidadã desses adolescentes.
215
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
216
Como visto, com base em estudos da psicologia do
desenvolvimento a escola é um dos principais ambientes capazes de
promover uma consciência cidadã nos jovens. Analisando-se os dados
coletados com a pesquisa de campo constatou-se que o interesse em
adquirir esse saber por parte dos estudantes é nítido, contudo questões
como a falta de capacitação dos professores em relação a essa temática
e o mínimo interesse do Estado em incluir mais uma disciplina na grade
curricular das escolas de ensino médio, contribuem para que o a busca
pela concretização do acesso à justiça material e participativo torne-se
cada vez mais complexo.
Destarte, diante de tais fatores, conclui-se pela necessidade de
inclusão de uma disciplina de direitos e garantias fundamentais no
ensino regular. Esta implementação não versa apenas sobre o âmbito
pedagógico e jurídico, mas do próprio objetivo da Constituição Federal
em formar cidadãos conscientes dos seus direitos e obrigações.
REFERÊNCIAS
217
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
218
(Mestrado em Direito)-Universidade Estadual de Londrina, Londrina,
2006.
219
INTERVENÇÃO RELIGIOSA NO CUMPRIMENTO
DE MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS: a essencial tutela
dos direitos do menor
1 INTRODUÇÃO
Graduando em Direito.
221
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
222
socioeducativo, fornecem suporte para intervenções dentro dos
sistemas de cumprimento de medidas por crianças e jovens.
Historicamente as medidas socioeducativas só encontraram a
menor condição de efetividade quando se viram orientadas pelos
princípios da prioridade absoluta e da proteção integral como
norteadores de sua aplicação. Articulados, a sociedade civil e os
sistemas estatais atraíram para si a responsabilidade de garantia e
manutenção dos direitos fundamentais.
Assegurar educação, saúde, lazer, segurança e oportunizar
assistência religiosa em harmonia com as crenças pessoais do menor é
essencial não só para prevenir seu conflito com a lei, mas, já em fase de
execução de medida socioeducativa, para que as possibilidades de
inserção social sejam potencializadas e a reincidência não venha a
ocorrer.
É preciso lembrar que, quando se trata do menor inimputável,
a reprovação social de sua conduta não se consubstancia na aplicação
da pena, mas na responsabilização pela lesão decorrente do ato
infracional e sua consequente reparação. Mesmo a medida de
internação, análoga à pena privativa de liberdade, tem por objetivo
oportunizar a (re)educação do jovem dentro de valores construtivos e
socializadores e orientá-lo ao convívio em comunidade. A abordagem
socioeducativa é holística, e recorre à educação formal e profissional, à
prática de atividades esportivas e artístico-culturais, ao atendimento
psicológico e social e à assistência religiosa como meios para a
consecução de seus objetivos.
O procedimento para apuração de ato infracional, além de
seguir o disposto na Seção V do ECA, também está subordinado a toda
a estrutura principiológica do ordenamento jurídico brasileiro, ainda
aquela que se aplique ao processo penal. O princípio da presunção de
inocência estrutura o sistema processual em obediência ao devido
processo legal, à defesa técnica, assistência jurídica gratuita e à
necessidade de que o jovem tome conhecimento de maneira plena do
ato infracional que lhe seja atribuído.
A fase de execução da medida socioeducativa – em especial a
internação, que afasta o jovem do meio social onde vive – também
implica o respeito a uma série de princípios constitucionais, inclusive o
223
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
224
ritualísticas inerentes à religião, envolve a reunião de duas ou mais
pessoas para comunicação e compreensão espiritual, e, por
mandamento constitucional, cabe ao Estado não apenas deixar de
intervir nessa associação como garantir que ela seja preservada.
Por fim, a comunicação de ideias religiosas permite a prática
do proselitismo, que se configura como a tentativa de conversão do
indivíduo através do discurso ou da catequese. Professar a fé e difundi-
la também é garantia constitucional, desde que respeitadas as crenças e
individualidades daqueles a quem se aborda.
A prática do proselitismo é o que oportuniza, por exemplo, que
membros de comunidades religiosas se aproximem de estabelecimentos
onde são cumpridas medidas socioeducativas e promovam intervenções
no processo de recuperação de menores em conflito com a lei.
Também é o que, em audiências judiciais e extrajudiciais, facilita o
contato mais próximo de magistrados e profissionais do Direito com
esses jovens, quando normalmente há aconselhamento ou aplicação da
medida de advertência.
O inciso VII do art. 5º da CF, embora não trate
especificamente da assistência religiosa em ambiente socioeducativo,
prevê analogamente sua prestação em ambientes onde é aplicada a
privação de liberdade como “nas entidades civis e militares de
internação coletiva”. A Constituição, no art. 19, veda a todos os entes
federativos o estabelecimento de cultos religiosos, a obstrução ao seu
funcionamento e a manutenção de relações de dependência ou aliança,
desde que essa colaboração tenha por fim o interesse público.
A exceção apresentada pelo dispositivo constitucional, em
simbiose com os mecanismos previstos pelo ECA em seus arts. 94 e
124 – que versam sobre a obrigação de as entidades de internação
prestarem assistência religiosa aos socioeducandos e a garantia de que,
privado da liberdade, o jovem tenha direito a amparo religioso de
acordo com suas crenças – é o que possibilita a inserção de grupos e
entidades confessionais.
225
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
226
potencialidade dos jovens e se configurem verdadeira jornada
pedagógica rumo ao desenvolvimento e à conquista da inserção social
de que foram um dia privados. A execução do projeto envolve não só a
participação dos socioeducadores e dos menores internos, mas também
dos coordenadores dos cursos de formação profissional, professores,
membros de entidades religiosas, cidadãos da comunidade local etc.
As atividades externas contemplam 69% das internações em
todo o país, e assumem um dos sustentáculos do sistema
socioeducativo, uma vez que põem os menores em contato com práticas
pedagógicas prazerosas e variadas. O ambiente precisa (e deve) se
afastar ao máximo da ideia de prisão e se tornar cada vez mais
acolhedor, inclusive para que as evasões sejam evitadas.
Conforme se depreende do gráfico abaixo (CNJ, 2012), a
estrutura e o pessoal compõem peças importantes para a manutenção de
uma instituição mais adequada a sujeitos em condição peculiar de
desenvolvimento. Mas as adequações físicas limitam-se quase
exclusivamente a garantir o que se considera essencial à formação dos
internos. Outras necessidades, como as práticas confessionais e o
desenvolvimento da espiritualidade, acabam encontrando pouco
amparo e, consequentemente, as estruturas de apoio para essas
atividades se apresentam em proporção menor.
227
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
228
sejam supervisionados e não venham a ofender as liberdades
individuais do menor.
Pedro Simões (2012) demonstrou, em estudo, a atividade dos
profissionais do Direito com respeito à adoção de princípios religiosos
em suas relações com os adolescentes do estado do Rio de Janeiro. O
papel dos magistrados ganha atenção aqui, porque são eles os principais
responsáveis pela avaliação da necessidade e duração do cumprimento
das medidas socioeducativas e também os que mais têm contato com os
menores quando da aplicação de quaisquer dessas medidas (da
advertência à internação).
Um dos juízes realizava audiências públicas semanais em que
os adolescentes em regime de semiliberdade deveriam comparecer. O
ambiente, a unidade de semiliberdade do sistema, era decorado com
imagens sacras e as audiências ocorriam com a leitura de textos de
conteúdo evangelizador. Ainda que não declaradas as intenções
dogmáticas, o magistrado se valia de suas prerrogativas legais, para, em
constrangimento do menor e de seus responsáveis, aplicar uma
perspectiva própria do que seria educação moral. Havia descrença por
parte dele de “qualquer proposta de socioeducação que reafirme valores
cívicos e que não estejam ‘impregnados’ de conotação religiosa.”
A posição que os magistrados abordados pela entrevista
assumiam era, via de regra, a de tutores dos jovens. Partindo do
pressuposto de que “os adolescentes que chegam ao sistema estão
perdidos, necessitados de orientação” e que “a fé ajuda sempre que se
está em desespero”, a religião acaba por se confundir com a própria
prática socioeducativa, numa avaliação que não contemplava os
interesses do menor ou suas particularidades.
Nessas condições, o discurso de autoridade acaba se
deturpando e cria discrepâncias entre a interpretação dos profissionais
do Direito sobre a lei e a real garantia que existe sobre os conceitos de
liberdade religiosa e de crença.
Nos sistemas de internação, onde o contato com o meio
externo inexiste durante o cumprimento da medida, o acesso à
assistência religiosa depende cada vez mais da administração dos
estabelecimentos socioeducativos e dos grupos religiosos que deles se
aproximam. A oferta de atividades religiosas é solicitada por entidades
229
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
230
estrutura primordial dentro desse processo, já que passa a ser o novo
ambiente de acolhimento e vivência em que o menor fora
compulsoriamente inserido por força de decisão judicial.
A estrutura da unidade e a abordagem pedagógica devem ser
pautadas em valores construtivos e que se adequem às peculiaridades
de cada interno, inclusive sua liberdade de crença. Mas o que ocorre, ao
contrário, é o descumprimento de muitas dessas garantias ainda em fase
de apuração do ato infracional.
O contato com magistrados muitas vezes envolve o
estabelecimento de relações verticais, onde o menor se vê constrangido
e o juiz se utiliza de prerrogativas legais para extrapolar suas
atribuições e aconselhar o adolescente com base em seus valores
pessoais e em princípios religioso-dogmáticos que não se harmonizam
com as convicções do menor.
Já na privação de liberdade, a prestação de assistência
religiosa no sistema socioeducativo evidencia uma carência não só
estrutural – considerando que apenas 18% de todos os estabelecimentos
tinham um local específico para que se realizasse esse tipo de
intervenção (CNJ, 2012) – mas também relativa à discricionariedade
com que os gestores das unidades elegem os grupos religiosos que irão
ter contato com os menores internos.
231
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
REFERÊNCIAS
232
FERRAZ JUNIOR, Tércio Sampaio. Introdução ao estudo do
Direito, 9. ed. São Paulo: Atlas, 2016.
LOPES JUNIOR, Aury. Direito processual penal, 14. ed. São Paulo:
Saraiva, 2017.
233
ACESSO À JUSTIÇA NA PERSPECTIVA DA LEI
BRASILEIRA DE INCLUSÃO DA PESSOA COM
DEFICIÊNCIA
Advogada, Especialista em Direito Civil e Processual Civil. Mestranda do Mestrado
Profissional em Planejamento e Políticas Públicas – UECE.
Assistente Jurídico do 24º Juizado Especial da capital. Advogado licenciado.
Especialista em Direito Civil e Empresarial. Mestrando do Mestrado Profissional em
Planejamento e Políticas Públicas – UECE.
235
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
1 INTRODUÇÃO
236
expondo sobre o conceito desse acesso, o reconhecimento de igualdade
a partir da Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, além
das barreiras existentes no órgão jurisdicional.
2 O ACESSO À JUSTIÇA
1
Conforme prevê o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), é considerada
criança aquela pessoa com até doze anos incompletos; ao passo que o adolescente é
aquela pessoa que tem entre doze e dezoito anos de idade. Já o jovem é aquele que
está na idade compreendida entre quinze e vinte e nove anos, nos termos do Estatuto
da Juventude (Lei nº 12.852/2013). Além disso, está inserido no contexto de adulto
aquele que tem entre trinta e cinquenta e nove anos; e, idoso, aquele que tem sessenta
anos ou mais, como dispõe o Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741/03).
237
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
238
após mais de 20 anos de existência da supramencionada lei, percebe-se
que inexiste profissionais habilitados, na recepção dessas pessoas com
deficiência, tampouco os sistemas virtuais conseguem garantir à pessoa
com deficiência o devido acesso à justiça.
Uma das principais violações constitucionais que ocorre no
Poder Judiciário refere-se à inexistência de acesso à justiça a essa
pessoa com deficiência, seja essa de natureza física, mental, intelectual
ou sensorial. São inúmeras as barreiras enfrentadas pela pessoa com
deficiência, visto que a estrutura física atual do Judiciário brasileiro não
consegue atender em sua plenitude o devido acesso, seja em
decorrência de problemas estruturais, seja devido à ausência de
servidores capacitados para atender as pessoas com deficiência, mesmo
diante de clara previsão no art. 79, da Lei nº 13.146 (Estatuto da Pessoa
com Deficiência), in verbis:
239
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
240
pessoa com deficiência, com a finalidade de acabar com as barreiras
existentes para esses indivíduos, principalmente as barreiras atitudinais
que, conforme o art. 3º, inciso IV da lei em comento: “[...] são atitudes
ou comportamentos que impeçam ou prejudiquem a participação social
da pessoa com deficiência em igualdade de condições e oportunidades
com as demais pessoas.”
Para a efetivação ao acesso à justiça, a LBI trouxe mudanças
na capacidade civil da pessoa com deficiência, visando, em condições
de igualdade, à inclusão social e à cidadania dessas, assegurando, desta
forma, o reconhecimento de igualdade dessa pessoa perante a lei para
desempenhar sua capacidade legal em igualdade de condições com as
demais pessoas. A partir da LBI, vários artigos do Código Civil de 2002
foram alterados, bem como toda a teoria das incapacidades.
241
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
242
[...] Assim, é de se ter em conta a obrigação de o Estado
adotar medidas que visem a promover o acesso das
pessoas portadoras de necessidades especiais aos sistemas
e tecnologias da informação e comunicação, sobretudo de
forma livre e independente, a fim de que possam exercer
autonomamente sua atividade profissional. Entendo,
portanto, presentes a plausibilidade das alegações
contidas na inicial e, também, o periculum in mora. Isso
porque a exigibilidade de peticionamento eletrônico
como única forma de acesso ao Poder Judiciário, sem que
os sistemas tenham sido elaborados com base nas normas
internacionais de acessibilidade web, impede o livre
exercício profissional da impetrante (MS 32.751-DF).
243
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
244
são necessárias para que as barreiras existentes à essa pessoa sejam
sanadas, principalmente aos obstáculos que cerceiam o direito dessa
pessoa a um devido acesso à justiça.
5 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
245
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
246
________. Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira
de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com
Deficiência). Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil,
Poder Executivo, Brasília, 7 jul. 2015. Disponível em:
<https://goo.gl/7Xsbfq>. Acesso em: 15 maio 2016.
247
MEDIAÇÃO: uma forma de acesso à justiça
Bacharel em Direito pela Faculdade de Ciências Jurídicas de Paraíso do Tocantins
(FCJP). E-mail: watinaamorim@gmail.com
Professor Mestre da Faculdade de Ciências Jurídicas de Paraíso do Tocantins (FCJP)
e Faculdade Católica do Tocantins (FACTO). E-mail: isamfreitas@ig.com.br.
Professor Doutor da Faculdade de Ciências Jurídicas de Paraíso do Tocantins
(FCJP), Universidade Federal do Tocantins (UFT), Faculdade Católica do Tocantins
(FACTO) e Centro Universitário Luterano de Palmas (CEULP/ULBRA). E-mail:
viniciusmarques@uft.edu.br.
249
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
1 INTRODUÇÃO
250
notar uma grande demanda de processos judiciais, ocorrendo assim um
engessamento do Poder Judiciário (BRASIL, 2016a, não paginado).
Importante dizer que, para haver possíveis mudanças nas
soluções dos conflitos através do Poder Judiciário é necessário não
apenas investimentos neste, mas, em todo o contexto cultural da
população. Observando essa necessidade, foi inserido então no
contexto brasileiro, meios autocompositivos de solução de conflitos,
como a mediação, tema central deste artigo.
Conceitualmente, a mediação “é a atividade técnica exercida
por terceiro imparcial sem poder decisório, que, escolhido ou aceito
pelas partes, as auxilia e estimula a identificar ou desenvolver soluções
consensuais para a controvérsia”, como dispõe a Lei n° 13.140/2015,
que trata da mediação (BRASIL, 2015a, não paginado).
Contudo, a relevância desse artigo consiste no fato de que, ao
perceber que o acesso à Justiça parece ser algo utópico para alguns e
muito difícil para outros, a mediação veio para quebrar esse paradigma,
pois com as alterações do Novo Código de processo Civil e a criação da
Lei 13.140/2015, ficou mais nítido o acesso à justiça, bem como a
solução de conflitos por meio deste instituto, que busca
prioritariamente a satisfação das partes mediadas.
251
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
252
ativamente dos procedimentos, bem como, na solução amigável de seus
conflitos (KIRCHNER; BARBOSA, 2014, p. 26).
Destarte, é possível notar que alguns países têm buscado
facilitar os sistemas judiciais, da mesma maneira, buscam também a
integralização dos métodos alternativos para simplificar a disputa das
partes conflitantes, nesse sentido afirmam Morais e Silveira (1998, p.
70):
253
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
254
descritas na Resolução, primeiramente se faz necessário abordar a
definição de “política pública” nesse contexto, e para tanto, esta pode
ser definida como um “[...] programa de ação governamental que
resulta de um processo ou conjunto de processos juridicamente
regulados visando coordenar os meios à disposição do Estado e as
atividades privadas, para a realização de objetivos socialmente
relevantes e politicamente determinados [...]”, na finalidade de fazer
algo que seja de ordem pública ou, na visão dos juristas, dar efetividade
ao direito (BUCCI, 2006, p. 39).
Portanto, em análise do que já fora abordado é possível
entender que quando se fala em relações sociais, onde há o
envolvimento de interesses e de expectativas dos participantes, deve
haver, portanto, uma política pública capaz de intervir
construtivamente, aplicando os meios razoáveis e adequados para que
se produzam efeitos positivos.
A mediação pede ser facilmente encaixada nesse contexto de
política pública, pois esta trata adequadamente os empasses vividos
pelos componentes da sociedade.
Diante do que foi abordado, é nítido que o instituto da
mediação trata-se não só de um método autocompositivo na resolução
de controvérsias, mas vai além, como uma política pública que precisa
ser abraçada pelos governantes. Nesse sentido, é possível afirmar que
“a política pública é uma determinação consciente de um governo.”
(HOWLLET; RAMESH; PERL, 2013, p. 6-7).
Por conseguinte, ao analisar o instituto da mediação como uma
política pública, nota-se um desejo dos legisladores de não somente
desafogar o judiciário, mas de permitir ao cidadão uma forma mais
qualitativa de resolver seus conflitos.
Para confirmar o que fora dito no parágrafo anterior, Spengler
(2016, p. 71) afirma que umas das consequências da mediação é a
celeridade processual, mas essa consequência não pode ser vista como
o objetivo principal, pois o objetivo principal é dar aos conflitantes
plena autonomia, fazendo com que estes, sejam os principais
responsáveis por suas escolhas.
Na mediação há a intervenção dos operadores do direito,
contudo, apenas no auxílio de seus clientes quanto ao caminho que
255
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
256
Administração Pública.” (BRASIL, 2015a, não paginado).
Ressalta-se que, esta lei segue o que veio proposto no novo
CPC (2015), ou seja, a mudança no que concerne à cultura do litígio,
trazendo a institucionalização da mediação, que, como já fora abordado
anteriormente, trata-se de uma forma dos indivíduos responsabilizar-se
por seus próprios conflitos.
Por institucionalização da mediação “entende-se [...] a sua
implementação, regulação e suporte conferidos pelo judiciário, quer
antes do processo Judicial, quer inicialmente a ele (mediação pré-
processual e processual).” (GABBAY, 2013, p. 65).
Diante dessa abordagem, nota-se a preocupação do legislador
em garantir a tranquilidade ao indivíduo, quando este optar pelo
método autocompositivo de resolução de conflitos, nesse caso, a
mediação.
4 MEDIAÇÃO
257
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
258
pela compreensão dos sentimentos dos mediandos, pois o que se busca
aqui é a restruturação da afetividade que se encontra abalada.
É possível afirmar que os conflitos não se dissipam, mas
apresentam uma nova roupagem, justamente pelo fato que na maioria
das vezes há uma preocupação apenas com o conflito, ao invés de
buscarem a transformação internamente.
Para dar fundamento ao que fora dito no parágrafo anterior,
Santos (2012, p. 128 apud SPENGLER, 2016, p. 109), afirma que o
mediador deve “[...] entender a diferença entre intervir no conflito e nos
sentimentos das partes. O mediador deve ajudar as partes, fazer com
que olhem para si mesmas e não ao conflito, como se ele fosse alguma
coisa absolutamente exterior a elas.”
“Os sentimentos são percebidos no silêncio, a pessoa, quando
fica silenciosa, serena, atinge a paz interior, a não violência, a
amorosidade. Estamos a caminho de tornarmo-nos liberdade. Essa é a
meta da mediação.” (WARAT, 2004, p. 26).
Na mediação não há uma hierarquia, há apenas a colaboração
de um terceiro, que como já fora abordado em um capítulo anterior,
deve ser imparcial, deve ser aceito pelas partes, e deve contribuir de
forma que possibilite e facilite a comunicação entre os envolvidos no
conflito.
Quando se analisa a palavra mediação, é possível verificar que
ela trás aos sentidos um uma ideia de centro, de meio, de equilíbrio, por
isso, verifica-se nesse instituto a ideia do mediador, um terceiro
elemento que estará entre, e não sobre, as partes conflitantes. Esse
mediador ajudará aos participantes da mediação na busca amigável de
tratamento da situação conflituosa, de maneira que permita ser possível
a continuidade de suas relações (HAYNES, 1993, p. 11).
A partir dessa análise, é possível absorver que o mediador
deverá levar em consideração todos os detalhes de uma mediação, pois
isso será de fundamental importância na finalização do acordo, não
podendo esquecer em nenhuma hipótese do princípio da
imparcialidade. É possível falar dos excelentes resultados da mediação,
porque o mediador, facilitador, estará ali, auxiliando os conflitantes na
busca pela melhor solução. Observa-se, portanto, que a mediação só
funciona porque há uma confiança dos mediandos no mediador, e
259
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
260
seu desafio mais importante é aceitar a diferença e a
diversidade, o dissenso e a desordem por eles gerados.
Sua principal aspiração não consiste em propor novos
valores, mas em estabelecer a comunicação entre aqueles
que cada um traz consigo.
261
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
262
litígio pela cultura da resolução extrajudicial/consensual de resolução
de conflitos.
5 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
263
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
264
2010. Brasília, DF: Conselho Nacional de Justiça, 2016. Disponível
em: <https://goo.gl/AWp3xv>. Acesso em: 1 out. 2016.
265
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
MORAIS, José Luis Bolzan de. SILVEIRA, Anarita Araújo da. Outras
formas de dizer o direito: em nome do acordo, a mediação no direito,
compilado por Warat, Luiz Alberto. Buenos Aires: AlmED, 1998.
266
SPENGLER, Fabiana Marion. Mediação de conflitos: da teoria à
prática. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2016.
267
A EVOLUÇÃO DO ACESSO À JUSTIÇA: das ondas
renovatórias ao direito transnacional
1 INTRODUÇÃO
Advogado.
Advogado.
269
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
1
GRECO, Leonardo. Justiça civil, acesso à justiça e garantias. In: ARMELIN, Donaldo
(coord.). Tutelas de urgência e cautelares. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 831.
2
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil: Teoria geral
do direito processual civil, processo de conhecimento e procedimento comum, 56. ed.
Rio de Janeiro: Forense, 2015. v. 1, p. 124.
270
Assim sendo, o tema acesso à justiça vendo sendo alvo de
estudos ao longo dos anos e o objetivo do presente trabalho é realizar
um breve estudo das principais e mais inovadoras contribuições
doutrinárias que circundam tal princípio basilar do direito processual.
3
CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryan. Acesso à Justiça. Porto Alegre: Sergio
Antônio Fabris Editor, 1988, p. 9.
4
"Art. 5º [...] LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que
comprovarem insuficiência de recursos."
271
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
5
Para mais sobre o assunto vide BENJAMIN, Antônio Herman V. A insurreição da
aldeia global contra o processo civil clássico: apontamentos sobre a opressão e a
libertação judiciais do meio ambiente e do consumidor. In: MILARÉ, Édis
(coord.). Ação civil pública – Lei 7.347/85: reminiscências e reflexões após dez anos
de aplicação. São Paulo: RT, 1995.
272
Noutro giro, em um terceiro movimento (terceira onda) do
acesso à justiça, mais amplo, levou-se em consideração, dentre outros,
o papel do magistrado na condução do processo. Este passa a possuir
como objetivo, o de atuar ativa e direcionadamente, contornando
obstáculos burocráticos e formalísticos que impedem seja a sua
prestação jurisdicional efetiva. Esta onda propugna, portanto, que os
magistrados abandonem o tradicional papel passivo de mero
espectador, e passem a atuar de forma ativa na busca da solução do
conflito existente, para serem criativos e inovadores durante toda a na
condução do processo. Luchiari (2012, p. 56) menciona que:
273
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
6
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Discurso do Ministro Nelson Jobim
proferido durante a cerimônia de sua posse à Presidência do Supremo Tribunal
Federal. Disponível em: <https://goo.gl/iF2PsE>. Acesso em: 15 jun. 2015.
274
do Acesso à Justiça, que atendesse a demanda social existente e ao
mesmo tempo se amoldasse à realidade judiciária brasileira.
275
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
276
social reprimida por anos, é finalmente fazer valer o princípio
constitucional de solução pacífica dos conflitos. Estes são os métodos,
e não únicos, com melhores perspectivas de efetiva integração à
realidade brasileira, principalmente se fizermos uma análise do Novo
Código de Processo Civil (Lei 13.105/15), aliado à política pública
proposta pelo CNJ através da Resolução nº 125/10.
Buscou-se assim, uma mudança na mentalidade dos
operadores do Direito, visando uma formação de novos modelos de
profissionais na área jurídica, vejamos, por exemplo, o art. 2º parágrafo
único, VI da Resolução n. 02/2015 da Ordem dos Advogados do Brasil
que aprovou o Código de Ética e Disciplina da Ordem dos Advogados
do Brasil - OAB, segundo o qual é dever do advogado estimular, a
qualquer tempo, a conciliação e a mediação entre os litigantes,
prevenindo sempre que possível, a instauração de litígios.
Através da incorporação destes métodos ao diploma
processual, podemos afirmar que o legislador cada vez mais busca
implantar no Brasil um verdadeiro "Tribunal Multiportas", um modelo
integrativo que segundo Crespo (2012, p. 29)7 pode "contribuir para a
inserção das pessoas sem voz ativa no centro das ações, em igualdade
de condições", corrigindo assim um déficit de legitimação democrática
das decisões judiciais que pode ser observado atualmente nos tribunais
brasileiros.
Segundo Sanders (apud ALMEIDA 2012, p. 33):
7
HERNANDEZ CRESPO, Mariana. Diálogo entre os professores Frank Sander e
Mariana Hernandez Crespo: explorando a evolução do Tribunal Multiportas. In:
ALMEIDA, Rafael Alves de; ALMEIDA, Tania; HERNANDEZ CRESPO, Mariana
(org.). Tribunal Multiportas: Investindo no capital social para maximizar o sistema
de solução de conflitos no Brasil. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2012. (cap. 1)
277
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
estarem lá; não existe nada [no método] que possa evitar
esse fato.
8
Segundo Barbosa Moreira (2001, p. 232): "[...] Se uma justiça lenta demais é
decerto uma justiça má, daí não segue que uma justiça muito rápida seja
necessariamente uma justiça boa. O que todos devemos querer é que a prestação
jurisdicional venha ser melhor do que é. Se para torná-la melhor é preciso acelerá-la,
muito bem: não, contudo, a qualquer preço".
278
[...] o paradigma trazido pela mediação traz em seu bojo
alguns questionamentos sobre o acesso à justiça e não
sobre a justiça ou o poder judiciário, como muitos
inicialmente observam. Esse questionamento não é
realizado com a pretensão de substituí-los ou contrapô-
los, mas sim como uma possibilidade de oferecer um
procedimento alternativo para que todos sem exceção
possam usufruir da justiça mais rapidamente ou queiram
ter seu acesso a ela facilitado, desde que possuam efetivo
interesse por esta opção. A sociedade brasileira está
acostumada e acomodada ao litígio e ao célebre
pressuposto básico que justice só se alcança a partir de
uma decisão proferida pelo juiz togado. Decisão esta
muitas vezes restrita a aplicação pura e simples de
previsão legal, o que explica o vasto universo de normas
no ordenamento jurídico nacional, que buscam pelo
menos a amenizar a ansiedade do cidadão brasileiro em
ver aplicada regras mínimas para regulação da sociedade.
279
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
280
emerge justamente a partir da valorização dos princípios
fundamentais processuais, fenômeno verificado em
diferentes países do mundo nas últimas décadas.
9
A expressão inspira-se na obra: ANDOLINA, Italo; VIGNERA, Giuseppe. Il
modello costituzionale del processo civile italiano: corso di lezioni. Turim:
Giapicchelli, 1990.
281
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
282
a mediação, a conciliação, etc.) a resolver conflitos que possuem
contornos específicos, atendendo à uma demanda social que extrapola
cada vez mais os limites nacionais, necessitando para tanto, uma
regulamentação que atenda à realidade de uma ciência jurídica que
cada dia extrapola os limites nacionais, fortalecendo a constituição de
um Direito Transnacional.
REFERÊNCIAS
283
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
284
PINHO, Humberto Dalla Bernardina de (coord.). Teoria Geral da
Mediação à luz do projeto de lei e do direito comparado. Rio de
Janeiro: Lúmen Juris, 2008.
285
ANÁLISE DA ATUAÇÃO DA DEFENSORIA
PÚBLICA NAS AÇÕES CIVIS PÚBLICAS NO
ESTADO DE SERGIPE NO BIÊNIO 2013/2014
Advogado inscrito na OAB/SE. Mestrando em Direito pela Universidade Federal de
Sergipe - UFS. Bolsista da Fundação de Apoio à Pesquisa e à Inovação Tecnológica
do Estado de Sergipe – FAPITEC/SE. Email: j.victorsantana@hotmail.com.
287
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
1 INTRODUÇÃO
1
Materialmente informado pelo princípio da igualdade de oportunidades, afirmando-
se como verdadeiro corolário do devido processo legal, que integra um conjunto de
princípios constitucionais que norteiam o Estado de Direito (CANOTILHO, 2003).
Nesse sentido, necessário destacar que o acesso à justiça deve:[...] ser encarado como
o requisito fundamental – o mais básico dos direitos humanos – de um sistema
jurídico moderno e igualitário que pretenda garantir, e não apenas proclamar os
direitos de todos. (CAPPELLETTI; GARTH, 2002. p. 12).
2
A discussão relacionada ao acesso à justiça, entorno do seu conteúdo, significado e
repercussão para a sociedade é uma questão que merece evidência na
contemporaneidade, sob pena de se correr o risco de soçobrar, definitivamente, a
estrutura judiciária brasileira, tendo em vista o preocupante avanço de entraves como
a morosidade processual (MANCUSO, 2015, p. 216). Portanto, tendo em vista que
“[...] há direitos que obrigam apenas uma pessoa, como os derivados de um contrato.
Outros obrigam o Estado, como o direito à educação básica, expresso em nossa
Constituição. Há direitos, por sua vez, que criam obrigações universais, ou seja, que
obrigam a todas as pessoas e instituições”.(VIEIRA, 2002, p.13), pode-se constatar
288
Nesse contexto de reconhecimento de conquistas, resultantes
de um recente processo de democratização3, o presente trabalho almeja
fomentar a discussão acerca da atuação da Defensoria Pública, pois
percebe-se que o processo civil adquiriu nova roupagem em virtude da
inserção de interpretações exegéticas em benefício da coletividade,
razão pela qual torna-se cada vez mais relevante a referida temática.
Partindo-se da concepção de que as ações coletivas são um dos
resultados benéficos da constitucionalização do direito4 e de fomento a
democratização do acesso à justiça, o presente trabalho visa investigar a
legitimidade ativa atribuída à Defensoria Pública para tutelar direitos
difusos e coletivos, por meio de ação civil pública, mais
especificamente no cenário da jurisdição estadual.
Para tanto, no tocante à catalogação dos dados processuais
abordados neste trabalho, foram estabelecidos os seguintes variáveis
para a elaboração dos elementos quantitativos: a) atuação de ofício ou
mediante provocação b) legitimados passivos; c) juízo em que tramitou;
d) concessão ou não de medida liminar ou antecipatória de tutela; e)
parecer do Ministério Público; f) sentença; g) recurso; h) resultado
processual definitivo.
289
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
5
Lei que alterou o artigo 5º da Lei nº. 7.347/85, incluindo a Defensoria Pública no rol
de legitimados para a propositura de ações civis públicas.
6
Nesse julgamento, o entendimento do STF fortaleceu a democratização do acesso à
justiça, visto que reconheceu mais um meio é mais um meio idôneo para “prevenir a
pulverização dos megaconflitos em múltiplas e repetidas ações individuais”
(MANCUSO, 2009, p. 147), reconhecendo que “[…] a Defensoria Pública poderá
ajuizar qualquer ação para tutela de interesses difusos, coletivos e individuais
homogêneos que tenham repercussão em interesses dos necessitados. Não será
necessário que a ação coletiva se volte à tutela exclusiva dos necessitados, mas sim
que a sua solução repercuta diretamente na esfera jurídica dos necessitados, ainda que
também possa operar efeitos perante outros sujeitos.” (MARINONI; MITIDIERO;
ARENHART, 2015,p. 417)
290
2 DEMOCRATIZAÇÃO DO ACESSO À JUSTIÇA E OS
IMPACTOS DA LEI Nº 11.448/2007 NO ESTADO DE SERGIPE
7
A mencionada polêmica fora devidamente estabilizada no mundo jurídico, através
do recente julgamento pelo STF, por meio da ADI 3943, no ano de 2015.
291
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
8
Inclusive, entendemos que, sem sombra de dúvidas, com o julgamento da ADI 3943,
o STF fortaleceu o ideal-democrático-participativo de acesso à justiça, onde o
principal beneficiário deste fortalecimento institucional da Defensoria Pública foi a
coletividade, razão pela qual não busca-se, pelo menos neste ensaio, analisar tal
decisão. Pelo contrário, adotamos esta realidade processual como premissa para o
desenvolvimento deste trabalho.
9
Por meio de uma interpretação dos seguintes dispositivos constitucionais: artigo 5º,
incisos: XXXV, XXXVII, LIV, LV e LXXIV, todos da CF/88. E, por base na
concepção de constitucionalização do direito, desenvolvida por Riccardo
Guastini(2003), já detalhada em nota de rodapé alhures.
10
Justamente para que se possa fomentar e, logicamente permitir a “prestação
jurisdicional eficaz que surgiu o processo coletivo. Não basta que a Constituição
assegure acesso à Justiça: para que essa garantia seja real, é preciso que o acesso seja
eficaz. E essa é a função do processo coletivo: centralizar numa única ação a defesa
de todo o grupo, classe ou categoria de lesados, permitindo que o julgamento de
procedência beneficie a todos”(MAZZILLI, 2012,s.n)
292
que possa haver o fortalecimento deste recente processo de
democratização brasileiro bem como garantia da efetiva
democratização do acesso à justiça, através de um panorama
quantitativa de atuação.
293
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
294
judicializa de ex officio as demandas referentes aos interesses da
coletividade.
Consequentemente, por meio destes dados, nota-se a presença
de uma postura institucional rumo à concretização e efetivação das
garantias constitucionais da sociedade, mas, acima de tudo, das
garantias constitucionais destinadas à referida instituição essencial à
justiça (como por exemplo os princípios institucionais elencados no
artigo 3º da Lei Complementar nº 80/94).
E é justamente por meio da judicialização dos direitos difusos
e coletivos, que o Poder Judiciário (no presente contexto,
especificamente por meio da Defensoria Pública), tornam concretas
todas as orientações e procedimentos inseridos na Constituição da
República/88 referentes às obrigações ainda inadimplidas pelo Poder
Público, constituindo um positivo (e nobre) ativismo do poder
judiciário para a concretização de tais direitos.
Portanto, torna-se necessária a reflexão de que a criação e
estruturação de instituições estatais com tal objetivo constitucional,
como as Defensoria Públicas, sem dúvida, se estabeleceu (e se
estabelece) como um verdadeiro avanço para a concretização do acesso
à justiça. (FENSTERSEIFER,2015, p. 54-55).
Por outro lado, não é despiciendo atentar que a necessidade de
fortalecimento institucional ainda é marcante, visto que, ainda hoje, a
instituição “Defensoria Pública” não está instalada em todos os Estados
da Federação. (BRASIL, 2013). Essa realidade é corroborada pelo
Mapa da Defensoria Pública no Brasil (IPEA, 2013) e é digna de uma
profunda reflexão11 que deve ser pautada à luz da consolidação dos
direitos fundamentais.
11
Entretanto, frise-se que, infelizmente, não há como o presente artigo se debruçar
sobre tal temática, haja vista a delimitação para discussão e o limite de laudas para
publicação. Mas, reitera-se a necessidade de uma reflexão urgente, que deve ser
realizada por meio de uma abordagem multidisciplinar, principalmente abordando-se
as vertentes: econômica e sociais.
295
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
296
sergipana enquanto que 29,79% foram tramitados nas comarcas do
interior do Estado.
Os referentes dados, já eram previsíveis por uma série de
fatores que foram constatados no decorrer da análise dos dados
coletados, dentre eles: a) Há uma maior proporção de demandas
judiciais na capital do que no interior (e esse fator está relacionado,
certamente, ao maior contingente populacional localizado na capital de
Sergipe, o município de Aracaju); b) Há, em Aracaju/SE, um maior
número de varas para a solução dos conflitos (ou seja, maior
estruturação da máquina judiciária); c) Ainda há pouco quantitativo de
quadro pessoal na instituição.
Com isso, o presente dado mostra-se esclarecedor na medida
em que serve como um alerta tanto para a sociedade quanto para a
própria Defensoria da necessidade do fortalecimento12, em termos
estruturais, da instituição na base territorial jurisdicional do interior do
Estado (até mesmo para evitar a desistência de ações por parte da
Defensoria, onde passaram a “ter no pólo ativo o Ministério Público,
assumindo a demanda em razão da inexistência de Defensor Público
com ofício nesta Comarca”13).
12
Cf. VERRI, Marina Mezzavilla. Legitimidade da Defensoria Pública na Ação
Civil Pública: Limites. São Paulo: Ribeirão Preto Gráfica e Editora, 2008, p. 105-
106.
13
SERGIPE. Tribunal de Justiça. Ação Civil Pública. Processo nº 200881200554
(julgado), da Comarca de Malhador. Requerente: Defensoria Pública do Estado de
Sergipe. Requerido: Estado de Sergipe. Distribuído em: 09/09/2008
297
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
14
Apenas a título de esclarecimento, importante relembrar que à época do biênio
2013/2014 estava em vigor o CPC/73. Atualmente, o mencionado dispositivo é
referente ao artigo 179 do Código de Processo Civil Brasileiro.
298
Destaca-se que, para a presente sistematização, nas decisões
favoráveis foram inseridas apenas as sentenças com resolução de
mérito favorável, enquanto que nas decisões desfavoráveis encontram-
se, além das sentenças improcedentes, as decisões sem resolução do
mérito fundamentadas no art. 267 do CPC/7315.
Assim, nota-se um retorno positivo, da atuação da DPE/SE,
em benefício da coletividade, diante do maior número de sentenças
favoráveis, tendo em vista que a tutela é, desde a exordial, pautada na
defesa dos direitos difusos e coletivos da sociedade civil. Em que pese,
portanto, possíveis condenações terem recaído sobre a Administração
Pública, faz-se necessário interpretar estes dados à luz do interesse da
coletividade, com base numa exegese da própria natureza jurídica da
ação processual coletiva.
15
Atualmente, com o advento do Código de Processo Civil de 2015, o referido
dispositivo é referente ao artigo 485 do CPC/2015.
299
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
300
que a atuação da Defensoria Pública pode ser considerada de
fundamental importância, pois os dados referentes à legitimidade ativa
da Defensoria Pública na defesa dos direitos difusos e coletivos , no
âmbito do judiciário sergipano, no biênio 2013/2014, comprovam que a
atuação institucional ocorreu de forma satisfatória para a coletividade.
REFERÊNCIAS
301
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
302
INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA (IPEA).
Mapa da Defensoría Pública no Brasil. Brasília: IPEA, 2013 Disponível
em: <https://goo.gl/K2Zs1Q>. Acesso em: 1 mar. 2017
SILVA, José Afonso da. Direito Constitucional Positivo, 35. ed. São
Paulo: Malheiros, 2012.
303
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
304
EM BUSCA DO ACESSO À JUSTIÇA NO CAMPO
PROCESSUAL PENAL BRASILEIRO: entre as (revira)
voltas do pensamento de Franz Kafka no inquérito
policial e o princípio do contraditório
Graduando em Direito.
Advogado.
305
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
1 INTRODUÇÃO
306
norma, enquanto previsão abstrata e quando da aplicação concreta, no
qual muitas vezes o mandamento legal acaba por ter sentido e
finalidade deturpados.
Fincado os pés nessas proposições, propõe-se com o estudo
analisar no processo penal o acesso à justiça. Partindo do estudo do
“processo” consagrado na obra literária de Kafka, adotará por foco o
princípio da dialética, mandamento basilar da justiça processual,
positivado sob alcunha de contraditório. Diante do império democrático
da norma, há legitimidade para existência de uma fase inquisitorial do
processo penal?
A exploração do tema realizar-se-á mediante uma abordagem
dedutiva através de estudo bibliográfico que comportará a análise
qualitativa de livros, periódicos, teses e textos normativos. O objetivo
central é analisar o acesso à justiça através do respeito ao princípio do
contraditório no âmbito do inquérito policial. De modo secundário
objetiva-se compreende o processo em Kafka e suas similaridades com
a persecução penal brasileira, para tanto, empregará secundariamente a
metodologia comparativa. De mesmo modo, objetiva demonstrar a
necessidade da presença do advogado para garantir o justo.
307
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
308
Josef K. não fora submetido a um processo propriamente dito,
consoante ao entendimento pátrio atual, mas sim a um inquérito.
Ao se analisar o artigo 6º do Código de Processo Penal
brasileiro que trata do inquérito policial e recordando a passagem
anteriormente citada da obra de Franz Kafka, pode-se apreender e
confirmar as similitudes existentes entre os dois textos. Possibilitando-
se, deste modo, afirmar que este trecho da legislação nacional reproduz
a cena narrada de forma límpida, além de corroborar com a ideia que
Josef K. fora submetido a um inquérito e não a um processo
propriamente dito.
Assim, devido ao seu caráter administrativo e pela ausência de
dialeticidade no que se refere às garantias constitucionais inerentes a
efetivação da justiça, o inquérito policial, por si só, não é, em regra, um
instrumento capaz de levar a condenação de um indivíduo. Contudo,
seu acervo probatório, caso seja confirmado em juízo, no qual sejam
garantidos de modo pleno o acesso aos princípios que regem as
relações processuais, são homologados e passam a ser provas legais.
309
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
310
Neste aspecto, tanto uma quanto outra possibilidade
interpretativa são lesivas ao ordenamento jurídico brasileiro, haja vista
concedem às provas formuladas pela via administrativa uma força
processual intensa. Estes fatos violam diretamente o texto
constitucional de 1988 em seus incisos LIII, LIV, LV e LVI do art. 5º e
o inciso IX do art. 93 (LOPES JR., 2016), logo não consistindo
instrumento apto para fundamentar uma decisão jurídica que objetive
uma condenação.
Neste sentido sinaliza de maneira enfática Lopes Jr. (2016, p.
90)
311
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
1
Anota-se que Josef K. diante do desconhecimento da cadeia de atos procedimentais
que irá enfrentar, mas observando o extremo abuso dos atos praticados por aquela
“justiça”, questiona-se acerca presteza e a diligência do seu advogado, chegando à
máxima de rescindir a incumbência defensiva conferida ao patrono. Episódio que
infelizmente repete-se na atualidade.
312
não representa, obrigatoriamente, que o trâmite judicial encerrará num
provimento legítimo e, consequentemente, na concretização do justo.
Nicodemos (2017) concorda com o posicionamento aqui
esposado, afirmando existir um caráter universal de acesso à justiça,
um direito que assiste a todos os indivíduos independentes de suas
qualidades e características singulares. Essa universalidade estaria na
exata concepção do que se chamou, no parágrafo precedente, de
“acesso ao judiciário”, logo apreciação de uma lide pelo Estado.
Prossegue Nicodemos (2017, p. 27):
2
A posição generalista adota não cerra os olhos aos episódios pontuais em que o
ordenamento jurídico permite ao próprio ofendido ou ameaçado proferir,
considerando os atos verbais posteriormente reduzidos a termos pelos serventuários
do judiciário, com suas próprias formas, conforme ocorre, exemplificativamente, nos
processos individuais de natureza trabalhista ou mesmo nos processos cíveis sob
trâmite nos juizados especiais nos termos da lei nº 9.099/90.
313
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
314
Evidencia-se, a priori, que não há qualquer sentido em
relacionar a atividade advocatícia com a prática sofista dos tempos
gregos. Parcialmente, é reconhecida a necessidade de maestria na
retórica para o exercício dessa profissão, tal como se dava com os
sofistas, no entanto, jamais se daria voz ou enalteceria que a atuação do
advogado como ato de convencimento mediante a boa oratória e
singular escolha de palavras.
Conforme Mascaro (2014) é visível nos sofistas um desapego
à ideia que se está a defender. A oratória representaria uma atuação
instrumental a serviço daquele que o contratou para, mediante a
argumentação articulada, convencer os demais sujeitos da democracia
ateniense.
O referido papel não se presta àqueles que advogam. Há um
compromisso com o ordenamento jurídico a pautar a atuação. Quando
se fala em ordenamento jurídico, como luz norteadora da labuta do
causídico, está a afirmar que o direito não se limita à norma posta. É
com base na completude do direito, um conjunto composto por regras
positivadas e princípios, que se dever ser prestado a defesa das
pretensões dos sujeitos de direito.
É cabível, diante dessa perspectiva, a crítica ao dispositivo
presente no Estatuto da Advocacia no art. 34, XVII. Ao classificar a
conduta de “prestar concurso a clientes ou a terceiros para realização de
ato contrário à lei...” como infração disciplinar, está o legislador a
cometer sério equívoco, inicialmente por reduzir o direito a norma
positiva e, em seguida, por marginalizar a possibilidade de a norma
posta está em descompasso com o ordenamento, desrespeitando a
hierarquia normativa pregada pelo constitucionalismo. Em situações
como essa, do advogado cabe a exigência da coragem e da prestação
positiva de resistência contra a norma simbólica que destoa com a
harmonia do regime jurídico e se afasta dos ditames da justiça.
Superado esse entrave, o que se está a clamar como
fundamento para atuação do expert jurídico é a equidade entre os
agentes no debate jurídico, uma aparente igualdade da capacidade de
intervenção na construção do discurso decisório, o provimento
jurisdicional.
315
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
316
terminologias inacessíveis, quando da própria construção dos
instrumentos normativos, aos comuns do povo decorre unicamente na
manutenção das estruturas de poder através da segregação e do
fortalecimento da casta daqueles capazes de “jogar no campo
processual”.
317
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
318
contraditório, a partir de uma compreensão histórico-dimensional,
bifurca-se: primeiramente, e nesse momento atrelado ao Estado Liberal,
restringe-se ao direito de se ter conhecimento daquilo que é alegado,
bem como a faculdade de reação, consistindo, com isso, em uma
possibilidade de contestação. Em um segundo momento, desde o
advento do constitucionalismo contemporâneo no contexto global e da
promulgação da Magna Carta de 1988 no âmbito nacional, o princípio
do contraditório passou a consistir na efetiva participação processual,
bem como a oportunidade de influenciar no seu caminhar processual
(SARLET; MARINONI; MITIDIERO, 2016).
Nessa ótica, apreende-se que o princípio do contraditório é um
instrumento democratizador, haja vista consiste na busca de uma
síntese por uma dialética processual, em que são concedidos aos
envolvidos uma paridade de oportunidade e possibilidades, mediante
um confronto de fatos e provas que segue um procedimento ordenado e
pré-estabelecido.
Ao analisar a Lei Maior de 1988 em seu artigo 5º, inciso LV,
nota-se que este dispositivo consagra o princípio do contraditório
também ao inquérito policial, que possui natureza administrativa, não
se restringindo, desse modo, à fase processual. Nesse sentido,
corroborando com essa linha de raciocínio preceitua Lopes Jr. (2005)
que no texto constitucional o legislador, objetivando salvaguardar
aquele que fora indiciado empregou essa garantia de modo a incluir os
acusados em amplo, remetendo-se aos acusados de modo geral,
abarcando, dessa maneira, aqueles que ainda estão sob o crivo de
investigações pré-processuais.
Entretanto, mesmo sendo garantida a utilização do princípio
do contraditório no inquérito policial e na fase processual, sua
incidência se dá de modo distinto nessas etapas. Enquanto que no
primeiro momento a aplicação ocorre de modo pleno, e assim o deve
ser, sob pena de invalidação da situação jurídica; naquele o princípio
também deve ocorrer, contudo, devido ao seu caráter inquisitivo, a sua
atuação não ocorre integralmente. Sua atuação, neste último caso, deve
se ater a uma atuação indispensável. Com isso, afirma-se que deve
haver a presença do princípio do contraditório no inquérito policial,
isso porque o texto constitucional assim estabelece. Contudo, essa
319
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
atuação não abarca todos os procedimentos que compõe esta fase pré-
processual. Essa é sua natureza.
Preleciona Mendes e Branco (2017) que mesmo havendo
decisões de que o princípio do contraditório não se aplica ao inquérito
policial, uma vez que este possui um caráter de procedimento
administrativo, o Supremo Tribunal Federal firmou o entendimento de
que é protegido o amplo acesso aos autos inquisitoriais pelos
advogados, podendo estes consultarem os documentos pré-processuais,
desde que seja não sigilosos. É necessário salientar que já deve ocorrer
um direcionamento das averiguações no sentido conclusivo destas,
tendo em vista não atrapalhar o caminhar das investigações, essas
últimas informações refletem que as provas devem estar documentadas
e que as análises advocatícias nos autos digam respeito ao exercício do
direito de defesa.
Nesse ângulo, são preciosas e reafirmam esse entendimento a
grafia da Súmula vinculante nº 14 do Supremo Tribunal Federal: “[...] é
direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos
elementos de prova que, já documentados em procedimento
investigatório realizado por órgão com competência de polícia
judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa” (BRASIL,
2016, p. 2049).
Nesta esteira de raciocínio, é de salientar que a Lei 13.245/16
ao alterar o Estatuto da Advocacia e permitir que o profissional tenha
acesso e examine os autos de investigação de qualquer natureza,
realizado por qualquer entidade, além de permitir assistir a “clientes”
durante as apurações, não retira o caráter inquisitorial desse
procedimento. Plausível apenas a retirada, pela nova norma, do caráter
sigiloso do procedimento.
A impossibilidade de manifestar-se no sentido de influenciar o
sujeito competente para o caminhar do Inquérito Policial, o delegado,
ou mesmo a solicitar a realização de diligências, tema vetado na lei
supra, é a mais clara constatação de ausência de contraditório. A nova
lei fornece o conhecimento e priva a ação, por isso, capenga.
Nas lições de Silva (2012, p. 78) através da possibilidade de
argumentação se materializa o Estado Democrático de Direito, uma vez
que deve o sujeito que sofrerá os efeitos do ato jurídico ter a
320
possibilidade de influenciar na construção do referido ato, logo, “[...]
uma contribuição para a investigação, afastando a ideia de que a
participação do investigado será meramente fictícia, ou apenas
aparente”.
A concretização restritiva da possibilidade de atuação, no
desenvolvimento do inquérito, atinge diretamente a presunção de
inocência e cercear a liberdade individual de modo pleno, em nível de
desconsiderar o indiciado como sujeito de direitos. Há um corpo que
realiza ações pelo imperativo racional, um homem, e sobre ele será
realizado a atuação do Estado em busca do conhecimento de uma
suposta prática delitiva. O homem reduzido a objeto.
“Invisível, de aparência desleixada e vil, a “justiça” é
onipresente”. (LIMA, 1993, p. 102). E a atualização do pensamento
Kafkiano também, para tudo e todos.
5 CONCLUSÃO
321
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
REFERÊNCIAS
322
COSTA E SILVA, José Ajuricaba da. O “jus postulandi” e a
Constituição de 1988. Revista do Tribunal Superior do Trabalho,
Brasília, v. 60, 1991. Disponível em:
<https://juslaboris.tst.jus.br/handle/1939/87848>. Acesso: 20 jul. 2017.
________. Direito processual penal, 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2016.
323
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
324
ACESSO À SAÚDE NO BRASIL: um estudo de caso da
STA nº 175 no Supremo Tribunal Federal
Pós-graduanda em Direito e Processo Constitucionais pelo Programa de Pós-
Graduação em Direito Lato Sensu da Universidade de Fortaleza.; pesquisadora do
Laboratório de Juriprudência da Universidade de Fortaleza; advogada OAB/CE nº
35.470.
325
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
1 INTRODUÇÃO
326
Essa positivação e ampliação da titularidade do direito, trouxe
consigo a possibilidade de reivindicação por parte dos indivíduos, em
busca de se fazer valer a promessa de assistência universalizada,
trazida pelo texto constitucional. Como consequência, o Poder
Judiciário vem assumindo cada vez mais um papel protagonista na
efetivação da saúde com o fito de suprir a omissão administrativa dos
entes públicos no cumprimento de seus deveres prestacionais.
Esse deslocamento da efetivação do direito à saúde para o
poder Judiciário, contudo, tem causado grandes repercussões nas
políticas públicas, e impactado diretamente no planejamento
orçamentário. Por este motivo, diversas instituições envolvidas nesse
processo têm lançado olhares para o fenômeno da judicialização
apontando para a necessidade de se estabelecer ações voltadas para a
orientação das decisões judiciais a fim de se evitar ingerências
indevidas do Judiciário na atuação dos demais poderes.
Nesse sentido, diante do excessivo número de demandas e dos
impactos negativos da judicialização nas contas públicas, diversos
debates foram fomentados visando estabelecer parâmetros e
orientações como estratégias para a resolução de tais demandas,
destacando-se como importantes marcos, a audiência pública nº 4
realizada em 2009 e a recomendação nº 31 de 2010, do CNJ.
Inserida nesse contexto, a Suspensão de Tutela Antecipada n º
175 (STA-175/CE), que teve por objeto o fornecimento de
medicamento de alto custo, representou um marco para a
judicialização da saúde. Ao definir parâmetros voltados para a
orientação das decisões dos tribunais, referida ação se propõe a tentar
amenizar os impactos decorrentes do excessivo número de demandas
repetitivas em face da ausência do descumprimento de políticas de
saúde pública, ao mesmo tempo em que evidencia problemáticas que
necessitam de soluções. Por este motivo, diante da relevância de tal
ação, o presente trabalho tem por objetivo analisar os principais
fundamentos da decisão definitiva da STA-175/CE, de maneira a
identificar os parâmetros definidos pelo Tribunal para o enfrentamento
do problema e os possíveis impactos no fenômeno da judicialização.
Referido estudo representa parte de uma pesquisa desenvolvida
perante o Laboratório de Jurisprudência da Universidade de Fortaleza,
327
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
328
oferecer soluções aos anseios da população e garantir a força normativa
constitucional.
O primeiro julgado de maior relevância em matéria de saúde
pública foi a STA nº 175/ STF, de 2010, que objetivou delinear
diretrizes decisórias em âmbito de fornecimento de medicamentos e
tratamentos no SUS, e logo será abordada neste trabalho. Contudo, há
de se observer que, no ano de 2016, o Supremo voltou a fixar
parâmetros para a judicialização da saúde no julgamento da medida
cautelar da ADI 5501, suspendendo a eficácia da Lei 13.269/2016, que
trazia autorização do uso do componente metabólico fosfoetanolamina
sintética, para uso dos pacientes diagnosticados com neoplasia maligna.
329
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
330
Como não há recursos ilimitados, será preciso priorizar e
escolher em que o dinheiro público disponível será
investido. Essas escolhas, portanto, recebem a influência
direta das opções constitucionais acerca dos fins que
devem ser perseguidos em caráter prioritário. Ou seja: as
escolhas em matéria de gastos públicos não constituem
um tema integralmente reservado à deliberação política,
ao contrário, o ponto recebe importante incidência de
normas jurídicas constitucionais.
1
STA nº 178 do STF, formulada pelo Município de Fortaleza, de idêntico conteúdo a
STA nº 175 do STF, contra acórdão proferido pela 1- Turma do Tribunal Regional
Federal da 5ª Região, nos autos da Apelação Cível nº 408729/CE (processo nº
2006.81.00.003148-1).
331
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
2
STA nº 178 do STF, formulada pelo Município de Fortaleza, de idêntico conteúdo a
STA nº 175 do STF, contra acórdão proferido pela 1- Turma do Tribunal Regional
Federal da 5ª Região, nos autos da Apelação Cível nº 408729/CE (processo nº
2006.81.00.003148-1).
332
Por meio da Constituição de 1988 e em decorrência do
reconhecimento internacional da Declaração Universal de Direitos
Humanos, além de obter status de valor jurídico universal, amparado
pelo princípio da dignidade humana, o direito à saúde passou a ser
compreendido como fundamental brasileiro, encontrando-se no núcleo
axiológico da nossa Constituição, como assevera o texto do art. 6º, da
CRFB/1988.
O artigo 24, inc. XII, da CRFB/88, dispõe que a competência
para legislar sobre proteção e defesa da saúde é concorrente entre
União, Estados, Distrito Federal e Municípios. Assim, impõe-se que
exista cooperação entre eles na formulação de medidas que garantam o
propósito da Constituição. Seguindo este raciocínio, caberá à União
estabelecer normas gerais sobre a matéria; aos Estados, suplementar ao
conteúdo de legislação federal; ao DF, as mesmas atribuições dos
Estados e Municípios; e à Municipalidade, além de suplementar as
legislações federal e estadual no que couber, compete legislar sobre
seus interesses locais, tudo em concordância com os parágrafos
primeiro e segundo do art. 24, o parágrafo primeiro do art. 32, os
incisos I e II do art. 30 da CRFB/88;
3
ACP nº 014/2006, conforme processo de nº 0003148-80.2006.4.05.8100, disponível
na Justiça Federal do Ceará.
4
Para informações sobre a doença, vide o portal da Associação Niemann- Pick Brasil
(ANPB), criada em 2010.
333
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
5
vide Nota Técnica nº 307/2013, de agosto de 2013, do Ministério da Saúde -
Consultoria Jurídica/Advocacia Geral da União, que traz informações sobre o
princípio ativo miglustate, de nome comercial Zavesca®.
334
No decorrer dos seis dias de debates, foram analisadas
problemáticas pertinentes ao tema, oportunidade em que segmentos
representantes da sociedade puderam mostrar ao Judiciário os
problemas latentes na saúde brasileira. O aprofundamento de
conhecimentos que a audiência pública proporcionou a todos foi crucial
para que o Plenário proferisse decisão paradigma para o judiciário
brasileiro. Em março de 2010, foi negado o provimento ao recurso de
agravo apresentado pela União Federal, por unanimidade, pelo referido
Tribunal.
Após obterem perspectivas mais amplas para julgar, os
ministros apresentaram seus votos. O Ministro relator, Gilmar Mendes,
compreendeu que a interferência do Judiciário nas políticas públicas de
saúde ocorre em prol do efetivo cumprimento de medidas já existentes,
e não pela criação de novas políticas, fato que caracterizaria a livre
apreciação do magistrado para determinar judicialmente o efetivo das
prestações. Assim, afastou a problemática da separação dos Poderes. O
ministro destacou a possibilidade, em casos excepcionais, de
importação de medicamentos pendentes de registro: provenientes de
setores de fora do país para o uso do Ministério da Saúde.
Ainda, ressaltou o relato do próprio Ministro da Saúde, que
asseverou a necessidade de revisão periódica dos protocolos clínicos, e
entendeu em seu voto que há possibilidade de contestá-los
judicialmente, dada sua situação questionável, e diferenciou
tratamentos experimentais de novos tratamentos ainda pendentes de
análise no Brasil, afirmando que o primeiro grupo não dispõe de
comprovação de sua real eficácia, não sendo o Estado obrigado a
fornecê-lo, ao passo que o segundo se compõe por fármacos que ainda
não foram incorporados pelo SUS.
As maiores questões que inviabilizam o fornecimento de saúde
no país estão diretamente relacionadas a falta de recursos suficientes
para suprir os gastos necessários. Nesse sentido, seria necessário
priorizar as verbas destinadas a cada ente e escolher a melhor forma
para o dinheiro público disponível ser investido. Assim, o ministro
Gilmar Mendes também afirmou que a responsabilidade dos entes
federativos deveria ser solidária, negando, ao fim, o provimento ao
agravo regimental.
335
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
336
orçamentária, alegou-se que a não observância das competências de
cada ente da federação, além de prejudicar a política pública, causaria
ainda um deslocamento indevido dos recursos que deveriam ser
utilizados na prestação de outros serviços de saúde para a população.
Mesmo diante de mais uma tentativa de reverter o
posicionamento do tribunal, o Plenário do STF negou, de forma
unânime, o recurso apresentado, e, com base nas informações coletadas
na audiência pública, o então presidente da Corte entendeu que o
medicamento requerido deveria ser fornecido pelo ente público.
Todavia, diante da complexidade da questão e do número de demandas
que tem deslocado a atenção à saúde para o cenário judicial, o STF
julgou necessário redimensionar a judicialização na saúde no Brasil
estabelecendo alguns parâmetros para orientação da atividade
jurisdicional relacionada a esta problemática.
Em síntese, os parâmetros podem ser elencados da seguinte
forma: 1. o Judiciário goza de livre apreciação das demandas
assistenciais, não havendo proibição de sua interferência em matéria
dos demais Poderes, tendo em vista que haverá apenas determinação do
cumprimento de políticas públicas já existentes; 2. Apesar da
observância da necessidade do registro do fármaco para
comercialização e uso no Brasil, há possibilidade de se conseguir
tratamentos com dispensa da análise da ANVISA; 3. A
responsabilidade dos entes governamentais é solidária, de modo que
eles cooperem entre si na construção de ações conjuntas para
concretizar o acesso universalizado do direito fundamental à saúde; e 4.
Caso inexistam políticas públicas para um tratamento específico, sem
que haja caracterização puramente experimental, poderá ser pleiteada
demanda perante o Judiciário para se questionar a elaboração dos
Protocolos Clínicos do SUS.
Uma das maiores contribuições da decisão no Agravo
regimental na STA nº 175 diz respeito ao segundo parâmetro
relacionado ao registro do medicamento. Por meio dessa orientação, o
Supremo sugere às demais instâncias do judiciário que levem em
consideração, prioritariamente, as políticas públicas desenvolvidas pelo
Estado, verificando a existência de registro na ANVISA e a previsão de
orientações nos Protocolos Clínicos. Ora, restou evidenciado que o
337
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
338
detrimento de interesses considerados como secundários. É tanto que,
uma vez considerados insuficientes os primeiros parâmetros delineados
pelo Tribunal, houve a necessidade de se fixar novos limites durante o
julgamento de medida cautelar da ADI nº 5501/STF.
Em decorrência do caráter paradigmático e orientador das
demandas, a STA ao invés de ter contribuído para melhorar o problema
da judicialização, pode ter operado o efeito inverso, de modo a
intensificar o fenômeno, uma vez que ratifica o entendimento há muito
já adotado pelos tribunais sobre seu papel na efetivação dos direitos
sociais.
Ocorre que os direitos fundamentais, em todas as suas
dimensões, dependem de recursos para sua implementação, e o Estado
precisa dispor de tais recursos para garantir a universalidade da saúde.
Na medida em que os recursos são evidentemente escassos, o
Administrador Público é obrigado a formular políticas que contemplem
de forma mais racional o atendimento à saúde, com base em estudos
técnicos e estratégias de planejamento.
Todavia, o Supremo, ao possibilitar a concessão de fármacos
por via judicial sem registro na ANVISA, acaba por interferir nas
políticas públicas, podendo gerar grandes impactos na economia dos
entes da federação, uma vez que já existe por parte desse tribunal um
entendimento sobre a responsabilidade solidária dos entes,
independentemente de planejamento ou dotação orçamentária. Esse
padrão decisório tem refletido diretamente nas contas, sobrecarregando
muitas vezes o orçamento público.
7 CONCLUSÃO
339
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
340
O recente julgamento da medida cautelar da ADI nº 5501, de
maio de 2016, que suspendeu a eficácia da lei que autorizava o uso de
fosfoetanolamina sintética para pacientes com neoplasia maligna
(câncer) nos leva a crer que os parâmetros estabelecidos durante a STA
175 se mostraram insuficientes, apesar de sua importância, tendo em
vista que novos pontos foram fixados, tais como: a necessidade de
comprovação da segurança dos medicamentos e tecnologias antes de
sua concessão, bem como do registro, sem o qual a inadequação resta
presumida; avaliação de novas práticas científicas que comprovem a
eficácia dos remédios; observância do controle prévio de viabilidade
sanitária para distribuição do medicamento e sua necessária aprovação
pelo Ministério da Saúde como condição de industrialização e
comercialização.
Dessa forma, em face da repercussão conferida ao agravo
regimental na STA nº 175, os parâmetros decisórios estabelecidos pelo
tribunal mostraram-se úteis do ponto de vista processual para a
sistematização de informações e uniformização de procedimentos no
que diz respeito aos demais órgãos do poder judiciário. Todavia, do
ponto de vista da realidade fática, os parâmetros se mostraram pouco
eficazes para os problemas gerados pela judicialização, tanto é que
houve a necessidade de o Tribunal fixar nova padronização de limites
para as deliberações judiciárias, esperando que possa se viabilizar o
controle do grande número de demandas existentes e a racionalização
de decisões.
REFERÊNCIAS
341
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
342
SARLET, Ingo Wolfgang; FIGUEIREDO, Mariana Filchtiner. Reserva
do Possível. Mínimo existencial e direito à saúde: algumas
aproximações. Revista de Doutrina da 4ª Região, Porto Alegre, n. 24,
jul. 2008. Disponível em: <http://bit.ly/2At2iit> Acesso em: 2 maio
2016.
343
O ACESSO DO ESTRANGEIRO À JUSTIÇA NO
BRASIL
Mestrado em curso (2015/2016) – Direito público e políticas públicas dos países
desenvolvimento – Université de Sorbonne, Paris V – René Descartes. Advogada
(OAB/CE 31.351)
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
1 INTRODUÇÃO
346
professora e pesquisadora em direito do estrangeiro no âmbito latino-
americano da Universidade Autônoma do México, Loretta Ahlf (2011,
p.13 apud Zanatta e María del, 2004, tradução nossa), “a gênese do
direito de acesso à justiça remonta ao due process of law, o qual se
incorporou nas emendas V e XV da Constituição dos Estados Unidos
de 1787.”
Primeiramente, vale destacar que a Constituição Federal de
1988, em sua parte introdutória, ou seja, em seu preâmbulo, denota que
a justiça é valor supremo da sociedade brasileira, de modo que, embora
seu prefácio não possua força normativa, percebe-se que ele serve
como base para os preceitos que são expostos ao longo de seus artigos.
O acesso a esse direito fundamental, pode ser compreendido, quando
Cunha Filho (2008, p. 47, online) afirma que, “o acesso ao Poder
Judiciário, órgão detentor da atividade jurisdicional, é uma das funções
do poder estatal, ao lado das funções administrativa e legislativa,
resultante da tripartição clássica dos poderes de Montesquieu.”
Ademais, segundo Oberdoff (2015, p. 205, tradução nossa), a justiça,
que deve ser independente e imparcial, deve ser também:
348
solucionar a demanda jurisdicional efetuada pelo indivíduo,
independentemente da nacionalidade ou naturalidade do demandante.
Para Moraes (2013, p. 85), no Estado Democrático de Direito, o
princípio da legalidade é basilar e a Constituição deve determinar sua
garantia sempre que houver lesão ou ameaça a um direito.
350
etc. De acordo com o pensamento do professor francês Frédéric
Rouvillois (2016), mesmo antes do julgamento ser executado, o direito
à justiça implica o acesso a um julgamento justo, reconhecido pelo
artigo 14 do Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos, de
1966 e, também, pelo artigo 25 do Pacto de San Jose da Costa Rica,
anteriormente mencionado.
Cumpre salientar também a previsão no artigo 5º da
Convenção de Direito Internacional Privado de 1928, também
ratificada pelo Brasil, a qual defende a existência de um igualitarismo
jurídico, porém não absoluto, entre nacionais e não nacionais, conforme
percebe-se abaixo:
Artigo 16 :
[…]
VI. O trabalhador migrante ou membro da sua família
que seja detido ou preso pela prática de uma infração
penal deve ser presente, sem demora, a um juiz ou outra
entidade autorizada por lei a exercer funções judiciais e
tem o direito de ser julgado em prazo razoável ou de
aguardar julgamento em liberdade. A prisão preventiva da
pessoa que tenha de ser julgada não deve ser a regra
geral, mas a sua libertação pode ser subordinada a
garantias que assegurem a sua comparência na audiência
ou em qualquer acto processual e, se for o caso, para
execução de sentença.
[…]
VIII. Os trabalhadores migrantes e os membros das suas
famílias que sejam privados da sua liberdade mediante
detenção ou prisão têm o direito de interpor recurso
perante um tribunal, para que este decida sem demora
sobre a legalidade da sua detenção e ordene a sua
libertação no caso de aquela ser ilegal. Quando
participem nas audiências, devem beneficiar da
assistência, se necessário gratuita, de um intérprete, se
não compreenderem ou não falarem suficientemente bem
a língua utilizada pelo tribunal.
[...]
Artigo 18:
[…]
352
3. O trabalhador migrante ou membro da sua família
acusado de ter infringido a lei penal tem, no mínimo,
direito às garantias seguintes:
a) A ser informado prontamente, numa língua que
compreenda e pormenorizadamente, da natureza e dos
motivos das acusações formuladas contra si;
b) A dispor do tempo e dos meios necessários à
preparação da sua defesa e a comunicar com o advogado
da sua escolha;
c) A ser julgado num prazo razoável;
d) A estar presente no julgamento e a defender-se a si
próprio ou por intermédio de um defensor da sua escolha;
se não tiver patrocínio jurídico, a ser informado deste
direito; e a pedir a designação de um defensor oficioso,
sempre que os interesses da justiça exijam a assistência
do defensor, sem encargos, se não tiver meios suficientes
para os suportar;
e) A interrogar ou fazer interrogar as testemunhas de
acusação e a obter a comparência e o interrogatório das
testemunhas de defesa em condições de igualdade;
f) A beneficiar da assistência gratuita de um intérprete se
não compreender ou falar a língua utilizada pelo tribunal;
g) A não ser obrigado a testemunhar ou a confessar-se
culpado.
354
1.1. Trata-se de norma de direito processual,
portanto, a sua incidência é imediata, aplicando-se
aos processos em curso, consoante dispõe o artigo 14
do CPC/2015.
2. Em que pese à época da apreciação da matéria pelo
Tribunal de piso, a legislação em vigor não prever a
possibilidade de concessão da assistência judiciária ao
estrangeiro residente no exterior, com a vigência das
novas regras processuais passou-se a admitir tal
hipótese.
2.1. O caput do artigo 98 do Código de Processo
Civil vigente ampliou o rol dos sujeitos que podem ser
beneficiados pela concessão da assistência judiciária, em
relação ao disposto no revogado artigo 2º da Lei
1.060/50. Portanto, não há qualquer impeditivo legal à
pessoa estrangeira residente no exterior de postular a
assistência judiciária gratuita e ter deu pedido apreciado
pelo juízo.
2.2. A análise dos demais requisitos exigidos pela
legislação para obtenção do benefício devem ser
aferidos pelas instâncias ordinárias, visto que o
presente apelo fora proposto nos autos de agravo de
instrumento.
3. Recurso especial conhecido e parcialmente provido.
(BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial
nº 1.225.854-RS, Quarta Turma. Relator: Min. Marco
Buzzi. Brasília, 25 de outubro de 2016. Diário de
Justiça: 4 nov. 2016).
356
Importante também é não deixar de destacar que muitos estrangeiros
sequer sabem por quais instrumentos legais são protegidos e descrêem
na efetividade da justiça trabalhista no Brasil, sem contar, no medo que
muitos trabalhadores possuem de sofrer represálias por parte de seus
empregadores, o que poderia tornar o acesso a outro trabalho mais
difícil.
Insta dizer, entretanto, que diversas têm sido as sentenças a
favor de trabalhadores estrangeiros no Brasil por parte dos tribunais
nacionais, conforme podemos ver, a título exemplificativo um acórdão
da 6a turma do TST de 2006, no qual um trabalhador estrangeiro
residente ilegalmente no País acionou à justiça e obteve o
reconhecimento de seu vínculo trabalhista:
358
à disposição do empregador, ver-se-ão privados da devida
remuneração em razão de informalidade de cuja ciência
prévia o empregador estava obrigado pelo artigo 359 da
CLT; e segundo, com os próprios trabalhadores
brasileiros, que poderiam vir a ser preteridos pela mão-
de-obra de estrangeiros irregulares em razão do custo
menor desses últimos, como tragicamente sói acontecer
nas economias dos países do Hemisfério Norte.
Finalmente, há que ser salientada a notória jurisprudência
do excelso STF, segundo a qual os decretos que inserem
tratados internacionais no ordenamento jurídico brasileiro
têm a mesma hierarquia das leis ordinárias, o que afasta,
no particular, o entendimento deste c. Tribunal no sentido
de que normas infralegais não se enquadram na hipótese
do artigo 896, "c", da CLT. Recurso de revista provido.
(BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Recurso de
Revista nº 750094-05.2001.5.24.5555, Sexta Turma.
Relator: Min. Horácio Raymundo de Senna Pires.
Brasília, 6 de setembro de 2006. Diário Eletrônico de
Justiça do Trabalho: 29 set. 2006)
360
casu. Trata-se, com efeito, do Acordo sobre Residência
para Nacionais dos Estados Partes do MERCOSUL,
assinado por ocasião da XXIII Reunião do Conselho do
Mercado Comum, realizada em Brasília, nos dias 5 e 6 de
dezembro de 2002. O instrumento foi inserido no
ordenamento jurídico pátrio por meio do decreto nº
6.964/2009, sendo o seu artigo 10 redigido da seguinte
forma: As partes estabelecerão mecanismos de
cooperação permanentes tendentes a impedir o emprego
ilegal dos imigrantes no território da outra, para tal efeito,
adotarão entre outras, as seguintes medidas: [...] b)
Sanções efetivas às pessoas físicas ou jurídicas que
empreguem nacionais das Partes em condições ilegais.
Tais medidas não afetarão os direitos que correspondam
aos trabalhadores imigrantes, como consequência dos
trabalhos realizados nestas condições". Recurso patronal
ao qual se nega provimento. (RONDÔNIA (Estado).
Tribunal Regional do Trabalho (2. Região). Apelação nº
00005534620135020055-SP, Quarta Turma. Relator:
Min. Ricardo Artur Costa e Trigueiros. Brasília, 24 de
setembro de 2013. Diário Eletrônico de Justiça do
Trabalho: 4 out. 2013)
6 CONCLUSÃO
362
princípios norteados nesse instrumento multilateral destinado à
proteção efetiva desses indivíduos em situação vulnerável, para
promover uma maior garantia dos direitos fundamentais dos
estrangeiros no País, dentre os quais, o importante acesso à justiça.
Ademais, no que tange à nova Lei de Migrações, oportuno
seria se esta prevêsse em seu corpo textual mecanismos de acesso dos
estrangeiros à justiça, tendo em vista que o atual Estatuto do
Estrangeiro e a lei 9.474/1997 são lacunosos no que se refere ao acesso
a esse direito fundamental por parte dos imigrantes no Brasil, de modo
que, ante o exposto ao longo deste artigo, percebe-se que muitos
julgados são fundamentados principalmente no caráter equitativo de
direitos que a Carta Magna Brasileira determina entre nacionais e não-
nacionais, entretanto, a inclusão em uma lei específica que regule o
acesso à justiça dos indivíduos que não possuem a nacionalidade
brasileira seria de relevante acréscimo protetivo aos direitos
fundamentais daqueles em situação vulnerável.
Cumpre afirmar, também, que cabe às defensorias públicas
estaduais e da União de atuarem no sentido à promover mecanismos de
informação aos trabalhadores estrangeiros no Brasil acerca das formas
nas quais eles podem acionar à justiça no caso de terem seus direitos
violados. No mesmo sentido, insta dizer, que a Polícia Federal, órgão
que concede autorizações para os estrangeiros permanecerem no
Território Nacional, poderia também exercer essa função informativa
aos não-nacionais que desejam instalar-se no País. Ademais, vale
lembrar do papel que as comissões de acesso à justiça e de direito
internacional da Ordem dos Advogados do Brasil poderiam exercer, a
fim de lutar pelos direitos dos imigrantes em vulnerabilidade no País.
Por fim, nota-se que não se deve esquecer de mencionar acerca
do papel dos sindicatos, que podem representar os trabalhadores
estrangeiros, contribuindo para a proteção dos direitos fundamentais
dos indivíduos em situação de vulnerabilidade no País.
REFERÊNCIAS
364
________. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo
Civil. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Poder
Executivo, Brasília, 17 mar. 2015. Disponível em:
<https://goo.gl/2U1Dv9>. Acesso em: 27 mar. 2017.
366
ANÁLISE DA INEFETIVIDADE DO ACESSO À
JUSTIÇA DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA
Graduanda em Direito.
367
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
for persons with disabilities, because law guarantees the right, however,
the effective realization is by not achieved, in this way, it is imperative
that there be means to effect them in a timely manner, with the purpose
of enabling the social inclusion of that part of the population that needs
a differentiated treatment.
1 INTRODUÇÃO
368
temporária ou permanente em algum momento de suas vidas é que
surgiu a preocupação de solucionar a questão social, moral e política de
como melhor incluir e apoiar as pessoas com deficiência, pois assim
como qualquer outro ser humano, essas pessoas possuem o direito de
não serem discriminadas. Dessa forma, surgiram vários documentos
internacionais como, a Convenção Interamericana para a Eliminação de
Todas as Formas de Discriminação contra a Pessoa Portadora de
Deficiência (Convenção de Guatemala, 1999) e a Convenção sobre os
Direitos das Pessoas com Deficiência, das nações Unidas de 2006 e a
Resolução n° 31/123, que instituiu o ano de 1981 como “Ano
Internacional das Pessoas com Deficiência”.
Todavia, apesar de no âmbito internacional e no nacional haver
demasiados dispositivos legislativos para assegurar os direitos
fundamentais da pessoa com deficiência, além de previsões
assecuratórias na Constituição Federal de 1988, a título de exemplo, o
artigo 24, XIV que trata da competência concorrente da União, dos
Estados e do Distrito Federal para legislar sobre: “a proteção e
integração social das pessoas portadoras de deficiência”, contudo não
há a realização de políticas públicas que assegurem de fato esses
direitos. À vista disso, há um distanciamento entre ter direitos exercer
os direitos legalmente previstos.
Portanto, o presente estudo analisou e discutiu a problemática
da falta aplicabilidade do direito de acesso à justiça das pessoas com
deficiência, sendo, portanto, uma afronta ao mínimo existencial, isto é,
ao conjunto de direitos inerentes a todos os indivíduos para que possam
viver com decência. Além disso, elencaram-se alternativas para sanar as
dificuldades de acesso à justiça dessas pessoas, considerando que é
imperioso a realização dos direitos das pessoas com deficiência, por
intermédios de ações de acessibilidade, tendo sempre como objetivo
principal minimizar ou eliminar a lacuna existente entre as condições
das pessoas com deficiência e as das pessoas sem deficiência.
Para o deslinde deste trabalho acadêmico, utilizou-se uma
metodologia de pesquisa de natureza descritiva e exploratória, por
intermédio de uma abordagem qualitativa, desenvolvida através de
pesquisa bibliográfica, baseada em livros de doutrinadores que tratam
sobre a política da isonomia e as formas de combater as desigualdades,
369
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
370
acolheu várias reinvindicações sociais, dentre elas, a de ter uma
evolução humanística e igualitária na normatização dos conceitos,
diretrizes e direitos dessa importante parcela da sociedade – que houve
de fato a tutela das pessoas com deficiência pelo Estado, sendo,
portanto o direito à igualdade o marco para os demais direitos das
pessoas deficientes, como o direito a reserva de vagas em concurso
público (art. 37, VIII da CF/88 ); ao atendimento educacional
especializado, preferencialmente na rede regular de ensino (art. 208, III
da CF/88) e a eliminação de barreiras arquitetônicas para garantir o
acesso adequado às pessoas portadoras de deficiência (art. 227, § 2° da
CF/88).
Além do texto constitucional, até ser instituída existiram
inúmeros decretos, leis e convenções que trataram dos direitos das
pessoas com deficiência até a regulamentação da legislação específica,
a Lei 13.146 de 2015 (Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com
Deficiência) destinada a assegurar e a promover, em condições de
igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais por
pessoa com deficiência, visando à sua inclusão social e cidadania.
Nesse sentido, é importante destacar os instrumentos
normativos sobre o trato das pessoas com deficiência:
371
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
372
A partir desse conceito trazido pela Lei 13.146 entende-se que
a nomenclatura pessoas portadoras de deficiência é errônea, porque o
foco estava no “portador” e não na “pessoa”. Nesse sentido, ressalta-se
o posicionamento de Fávero (2004, p.22):
373
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
374
responsável nos destinos da própria existência e da vida
em comunhão com os demais seres humanos, mediante o
devido respeito aos demais seres que integram a rede da
vida.
375
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
376
facilitar a comunicação entre essas pessoas que precisam de tratamento
diferenciado e o Poder Judiciário.
Segundo o artigo 13 sobre o acesso à justiça da Convenção
sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência:
377
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
378
competente” e no XXXVII do mesmo artigo que: “não haverá juízo ou
tribunal de exceção”. Assim, a partir da leitura dos incisos desse artigo
entende-se que o juiz natural é aquele cuja competência é determinada
de acordo com regras previamente estabelecidas no ordenamento
jurídico, e que não poderá ser modificada posteriormente.
Assevera Botelho de Mesquita (2007, p. 149) que:
379
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
380
concentração destas está na região nordeste, além do mais conforme
Greco Filho (2006, p. 202): “[...] as regras de competência territorial ou
de foro têm por fim determinar qual a comarca em que deve ser
proposta a demanda, ou seja, qual será o seu foro”. Dessa maneira, é
razoável que para abrandar ou eliminar a dificuldade de acesso ao foro
competente quando não coincide com o foro do domicílio civil do
deficiente, seja devido as suas limitações físicas e/ou econômicas é
imprescindível que a competência seja determinada em razão do
território, com a finalidade das pessoas com deficiência possuírem uma
competência específica no sistema processual brasileiro.
381
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
382
populacional, mas também tendo como base o direito fundamental do
ser humano de viver de forma digna.
Em resumo, concernirá ao Poder Público o dever de criação e
concretização de medidas que materializem os direitos das pessoas com
deficiência, de modo, que caberá as autoridades administrativas
destinarem recursos públicos nas previsões orçamentárias anuais para a
acessibilidade desse grupo de pessoas que necessitam de tratamento
diferenciado. Todavia, se as mesmas não cumprirem com suas
obrigações deverá a sociedade se conscientizar sobre os direitos
garantidos a essas pessoas e, dessa forma, deverá fiscalizar a efetivação
desses direitos juntamente com o Conselho Nacional dos Direitos da
Pessoa com Deficiência (Conade) – órgão superior de deliberação
colegiada, criado para acompanhar e avaliar o desenvolvimento de uma
política nacional para inclusão da pessoa com deficiência – para que os
deficientes tenham mais dignidade como pessoa humana.
Sobre o papel da sociedade na superação da rejeição da
deficiência destaca-se:
383
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
por mais acentuadas que sejam, não representam uma razão para a
perda do essencial da existência humana, a sua humanidade, os seus
direitos fundamentais.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
384
adaptação processual da competência do órgão julgador quando não
corresponder com o domicilio civil da pessoa deficiente.
Em suma, é necessário a conscientização da sociedade quanto
as direitos desse segmento populacional, para que possam fiscalizar o
planejamento e a materialização das políticas destinadas à pessoa com
deficiência, por meio da articulação e diálogo com as demais instâncias
de controle social e os gestores da administração pública direta e
indireta, além de atuarem de forma conjunta com as entidades
representativas das pessoas com deficiência, para exigirem do Poder
Público a destinação de recursos para serem investidos nas áreas de
atendimento aos deficientes
Com isso, somente com a aplicação de ações afirmativas que
sejam capazes de sanar as dificuldades de acesso à justiça das pessoas
com deficiência é que será possível o tratamento justo a essas pessoas e
a sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de
condições com os demais membros do corpo social.
REFERÊNCIAS
385
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
386
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA.
Cartilha do Censo 2010 – Pessoas com Deficiência. Brasília, 2010.
Disponível em: <https://goo.gl/LvJCUf >. Acesso em: 20 abr. 2017.
387
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
388
O JUS POSTULANDI E O ACESSO À JUSTIÇA NA
JURISDIÇÃO TRABALHISTA BRASILEIRA
Advogada.
389
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
1 INTRODUÇÃO
390
é, o direito formal de um indivíduo interpor uma determinada ação ou
dela defender-se” (PORTANOVA, 2001, p. 109).
Nessa fase do liberalismo, em função da valorização dos
direitos individuais e da propriedade privada, o acesso à justiça,
entendido restritamente como ingresso junto ao Poder Judiciário, era
limitado ao caráter patrimonialista e somente poderia recorrer à
instância judicial quem tivesse condições de arcar com os custos da
demanda.
391
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
392
e das coletividades meios que propiciem um acesso amplo, eficiente,
isonômico e participativo às vias de proteção dos direitos plasmados no
ordenamento jurídico.
Em relação à jurisdição, o alcance do acesso à justiça
ultrapassa os limites da simples possibilidade de ingresso perante o
Poder Judiciário, abarcando a ideia de utilização plena dos
instrumentos processuais disponíveis, com igualdade de condições às
partes na participação da tomada de decisões judiciais legítimas,
eficazes e justas que lhes digam respeito. Essa compreensão do
conteúdo jurídico do direito de acesso à justiça se coaduna com os
princípios norteadores do regime democrático e, especificamente no
campo do direito processual, busca assegurar mecanismos e instituições
que materializem a fruição igualitária das garantias inerentes ao devido
processo constitucional.
Em vista dessa noção de acesso à justiça, questiona-se a
persistência do instituto do Jus postulandi da parte, especialmente na
Justiça do Trabalho, como meio de supostamente facilitar a obtenção da
tutela jurisdicional.
393
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
394
despedida injusta (SUSSEKIND; BONFIM; PIRAINO,
2009, p. 52).
395
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
396
A despeito do posicionamento do Supremo Tribunal Federal
acerca da constitucionalidade e validade do Jus postulandi, ainda são
sustentadas opiniões em sentido contrário, considerando que “[...]
qualquer ato jurisdicional sem a vinculação do advogado é ato ilegítimo
pela falta de suporte constitucional à sua validez, conforme estabelece
claramente o art. 133 da CR/88”. (LEAL, 2005, p. 47).
Por sua vez, em função de todas as dificuldades trazidas pelo
exercício do Jus postulandi na atualidade, o Tribunal Superior do
Trabalho veio a inadmitir o uso do instituto no seu âmbito de
competência, através da Súmula no 425:
1
Para maiores informações sobre a tramitação e o conteúdo integral do PLC 33/2013,
acessar o endereço eletrônico: https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-
/materia/112973.
397
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
sucumbenciais, que serão fixados pelo juiz entre 10% e 20% sobre o
valor da condenação, ou ainda por equidade, quando a causa não tiver
conteúdo econômico ou não houver condenação.
A justificativa apresentada para o PLC 33/2013 é a de que
sempre haverá prejuízo à parte que comparece à Justiça do Trabalho
sem advogado, pois o cidadão comum não tem condições de
compreender os intricados ritos processuais. Além disso, a inexistência
de honorários sucumbenciais nessa seara agrava ainda mais a situação
do trabalhador de baixa renda, não sindicalizado, que não consegue
contratar advogado para representá-lo.
De fato, observa-se que o Jus postulandi tem sido ineficaz
para garantir a efetividade do acesso à justiça ao hipossuficiente na
jurisdição trabalhista, sendo aplausível uma iniciativa que busque
soluções para o problema. Contudo, faz-se necessária uma discussão
mais democrática e aprofundada sobre o PLC 33/2013 antes de sua
aprovação, principalmente, com a participação das instituições
diretamente afetadas pelas suas previsões normativas, tais como
Ministério Público do Trabalho, Defensoria Pública da União, Ordem
dos Advogados do Brasil, magistrados e sindicatos, onde se estabeleça
a forma de operacionalização das previsões ali contidas.
398
A CLT apresenta uma série de dispositivos que carecem de
uma interpretação sistemática entre si e com as normas que lhe são
correlatas. A legislação consolidada vem sendo alterada em várias
ocasiões, destacando-se a recente Reforma Trabalhista (Lei n.
13.467/2017), que trouxe inúmeras modificações substanciais, dando
nova configuração às relações laborais individuais, coletivas e
processuais. Somam-se a isso dezenas de leis extravagantes que
regulam as matérias trabalhistas, as Súmulas, as Orientações
Jurisprudenciais e os precedentes normativos do Tribunal Superior do
Trabalho, bem como as Portarias do Ministério do Trabalho. A correta
assimilação e aplicação de toda essa legislação já é uma tarefa árdua
para o advogado, quanto mais para a parte que não tem formação
específica na área, tornando impraticável ao leigo definir corretamente
o embasamento normativo da sua pretensão.
399
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
400
especializados na área. Isso conduz a uma desigualdade extrema entre
os litigantes, contribuindo para aumentar o abismo entre eles. Em
grande parte dessas situações, o empregado sem advogado se vê
compelido a aceitar de plano qualquer proposta de conciliação, ainda
que esta não lhe seja tão favorável, por não ter condições de dar
prosseguimento ao feito. Nessas ocasiões, o juiz pouco pode fazer, sob
pena de ter questionada a sua imparcialidade.
401
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
402
Art. 134. A Defensoria Pública é instituição essencial à
função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a
orientação jurídica e a defesa, em todos os graus, dos
necessitados, na forma do art. 5º, LXXIV (BRASIL,
1988).
2
A íntegra do IV Diagnóstico da Defensoria Pública no Brasil se encontra disponível
em: http://s.conjur.com.br/dl/iv-diagnostico-defensoria-publica-brasil.pdf. Acesso em:
31 maio 17.
3
Dentre os vários juristas que defendem a criação da Defensoria Pública Trabalhista,
podem ser apontados: SILVA, Thaís Borges da. A imprescindibilidade da instituição e
o fortalecimento da defensoria pública trabalhista para o alcance do acesso à justiça.
Labor et Justitia. Revista do Tribunal Regional do Trabalho de 17ª Região,
Vitória, n. 4, p. 221-230, jan./dez. 2007; COUTO, Alessandro Buarque. A Defensoria
Pública na Justiça do Trabalho. Revista do Direito Trabalhista, Brasília, v. 10, n. 2,
p. 27, fev./2004) e NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito Processual
do Trabalho, 21. ed. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 192-193.
403
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
404
promover as ações políticas necessárias à materialização da assistência
jurídica integral e gratuita ao obreiro hipossuficiente, por meio da
Defensoria Pública Trabalhista; assim como estabelecer legalmente,
como regra, que sejam deferidos os honorários sucumbenciais em todas
as ações trabalhistas, sem, contudo, impor tal ônus ao trabalhador
economicamente carente, quando este for a parte vencida na lide.
6 CONCLUSÃO
405
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
REFERÊNCIAS
406
________. Lei Complementar nº 80, de 12 de janeiro de 1994. Diário
Oficial [da] República Federativa do Brasil, Poder Executivo,
Brasília, 13 jan. 1994. Disponível em: <https://goo.gl/n8wgzA>.
Acesso em: 20 ago. 2016.
407
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
408
TEIXEIRA FILHO, Manoel Antonio. Sistema dos Recursos
Trabalhistas, 9. ed. São Paulo: LTr, 1997.
409
(RE)PENSANDO O ACESSO À JUSTIÇA POR MEIO
DOS MÉTODOS ALTERNATIVOS DE PACIFICAÇÃO
DE CONFLITOS1
1
Esse estudo é fruto dos debates e reflexões oportunizados pelo Grupo de Pesquisa
“Direito, Cidadania e Políticas Públicas” ligado ao Programa de Pós-Graduação em
Direito – Mestrado e Doutorado da Universidade de Santa Cruz do Sul e financiado
com recursos da CAPES.
Doutora em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC, com pós-
doutorado em Direito pela Universidad de Burgos - Espanha, com bolsa CAPES.
Professora da Graduação e Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Direito
- Mestrado e Doutorado da Universidade de Santa Cruz do Sul - UNISC.
Coordenadora do Grupo de Estudos Direito, Cidadania & Políticas Públicas na
mesma Universidade. Especialista em Direito Privado. Professora do Curso de Direito
da Fundação Educacional Machado de Assis - FEMA. Psicóloga com Especialização
em Terapia Familiar. Autora de livros e artigos em revistas especializadas. E-mail:
marlim@unisc.br.
Mestrando em Direito pelo Programa de Pós-Graduação em Direito - Mestrado e
Doutorado da Universidade de Santa Cruz do Sul, com bolsa Prosup/Capes.
Especializando em Gestão Pública Municipal pela Universidade Federal de Santa
Maria – UFSM. Especialista em Direito Constitucional e Administrativo pela Escola
Paulista de Direito – EDP (2016). Graduado em Direito pela Universidade de Santa
Cruz do Sul - UNISC, com bolsa Probic/Fapergs (2015). Integrante dos grupos de
pesquisa: Direito, Cidadania & Políticas Públicas (Campus Santa Cruz do Sul - RS e
Campus Sodradinho - RS), coordenados pela Dra. Marli Marlene Moraes da Costa e
Direitos Humanos, coordenado pelo Dr. Clovis Gorczevski, ambos do Programa de
Pós-Graduação em Direito - Mestrado e Doutorado da UNISC e certificados pelo
CNPq. Advogado OAB/RS nº. 102.775. Autor de livros e artigos em revistas
especializadas. E-mail: rodrigocristianodiehl@live.com.
411
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
412
implementación del acceso a la justicia y en la superación de la crisis
del Judiciario. Y, por último, utilizase como método de abordaje el
deductivo, y como método de procedimiento el funcionalista y la
técnica de búsqueda la bibliográfica.
1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
413
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
414
Entretanto, diante da atual conjuntura social e política dos
Estados contemporâneos, ou considerado por alguns doutrinadores
como pós-contemporâneos, há a necessidade de rever ou de
reestabelecer os papéis que incube a cada um dos atores sociais. Pois,
de acordo com Spengler (2010) os modelos estabelecidos e em
funcionamento não conseguem mais lograr êxito nas suas funções mais
primárias e por conta desse fato constata que o Estado vive uma crise
que põe em xeque inclusive a sua própria estrutura enquanto agente de
regulamentação social.
Interessante (re)pensar que essa crise vivida pelo Estado
contemporâneo acaba por disseminar os seus efeitos nos mais diversos
recantos dessa conjuntura organizacional. Uma das principais estruturas
que convive e presencia diariamente essas crises é a do Judiciário, no
momento em que não detêm mais condições de solucionar os conflitos
existentes na sociedade, até porque utiliza técnicas idênticas ou
semelhantes a de séculos atrás. De acordo com Amaral (2009, p. 39)
“há uma miríade de problemas enfrentados pelo Judiciário de vários
países e as soluções encontradas têm se mostrado insuficientes e
inadequadas”.
Essas crises em que o judiciário está inserido devem ser
analisadas a partir de duas vertentes principais conforme Spengler
(2010): a crise de eficiência da jurisdição e a crise de identidade, sendo
aquela compreendida como consequência de outros pontos de ruptura
interna do Judiciário como a dificuldade quanto à infraestrutura das
instalações e equipamentos, baixo número de agentes, linguagem
técnico-formal, rituais forenses, burocratização, entre outros. Essas
consequências acabam por fomentar a lentidão no andamento dos
processos e como resultado tem-se o acúmulo de demandas.
Já a geração da crise de identidade pode ter como processo
inicial outros grandes problemas que atormentam o Judiciário que,
mesmo em intensidade menor, acabam por influenciar e agravar
também a crise de eficiência, que podem ser resumidos em uma
verdadeira desconexão entre a realidade social, econômica e cultural
vivida por grande parte da sociedade brasileira e a realidade legal, que
mais do nunca, apresenta-se de forma obsoleta e ultrapassada para lidar
415
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
416
Onde de um lado encontra-se a liquidez das relações humanas,
com a criação de seres humanos individualistas, incapazes de dialogar
entre si, que aos poucos perdem os laços de solidariedade
comprometendo a sua compreensão enquanto indivíduo pertencente de
um todo maior. E de outro lado, há a presença de novos conflitos,
muitos derivados das transformações sociais, econômicas e políticas,
do surgimento e do aprimoramento de novas tecnologias, que acabam
por promover conflitos de alto grau de complexidade.
A promoção e concretização do acesso à justiça precisa ser
repensada, não somente (e não menos importante) enquanto concepção
de direito humano positivado na forma de direito fundamental, mas sim
como um elemento essencial ao exercício integral de cidadania a
qualquer indivíduo, já que, o acesso à justiça não se limita a simples
possibilidade de prestação jurisdicional, mas sim a existência de
oportunidades concretas que objetivam a pacificação adequada ao
conflito, onde o cidadão possa encontrar mecanismos próprios que
efetivem os seus direitos.
Nesse ambiente, a partir dos anos setenta surgem as
denominadas ondas de acesso à justiça, sistematizadas por Cappelletti e
Bryant (1988) e que dividem-se em três, a saber: a primeira onda
engloba o acesso à justiça dos hipossuficientes, por intermédio da
assistência judiciária gratuita; a segunda incorpora os interesses
coletivos e difusos e a terceira a representação em juízo, uma nova
concepção de acesso à justiça, mais ampla e com um novo enfoque
central.
A democratização da administração da justiça, para uma
melhor prestação jurisdicional, é fundamental à democratização da vida
social, econômica e política. Esse fenômeno passa a ser operado por
inúmeras vertentes, onde a principal ideia se refere a alteração da
constituição interna do processo, incluindo diversas orientações, tais
como “o maior envolvimento e participação dos cidadãos,
individualmente ou em grupos organizados, na administração da
justiça; o incentivo a conciliação das partes” (SANTOS, 2003, p. 177).
Até porque o cidadão, diante das crises vividas pelo Judiciário,
não crendo mais na Justiça, afasta-se por completo dos mecanismos
oficiais, e soma-se a inúmeras pessoas que não mais procuram esse
417
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
418
assim, contribuir na superação das crises do Judiciário. Assunto este
que será abordado na sequência.
419
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
420
recente de criação de tribunais vicinais, que detém a principal
finalidade de tratar questões envolvendo pequenos danos ou delitos
leves, devolvendo as comunidades a oportunidade de tratar os seus
próprios conflitos, sem a necessidade da presença do Estado de forma
direta.
Acredita-se na naturalidade do poder societário de instituir
mecanismos alternativos de pacificação de conflitos baseados nos
princípios como informalidade, autenticidade, flexibilidade e
descentralização. Dessa maneira, “na medida em que o órgão de
jurisdição do modelo de legalidade estatal convencional torna-se
funcionalmente incapaz de acolher as demandas e de resolver os
conflitos inerentes às necessidades engendradas por novos atores
sociais [...] (WOLKMER, 1997, p. 309).
Essas novas conjunturas contribuem para que nos espaços
públicos de opressão existentes nas sociedades a crise volte a se
instalar, portanto, o importante é auxiliar antecipadamente,
preventivamente. “Em tal contexto percebe-se que mais heterogêneas
dimensões podem contribuir para a evolução positiva do conflito, enfim
tudo aquilo que contribui para uma reação autentica com o outro, num
processo de assunção de autonomia ou de autopoiese” (WARAT, 2004,
p. 204). Dessa maneira, estará se propiciando condições favoráveis para
as transformações das subjetividades de cada ser humano quando estas
forem submetidas a situações de conflitos.
Dessa feita, a adoção ou refutação de determinamos
instrumentos alternativos com a finalidade de pacificação dos conflitos
depende exclusivamente da auto-observação realizadas a partir do
sistema social e tendo por base os conflitos e os seus remédios e
resultados. Todavia, o que se pode afirmar até agora, de acordo com
Resta, (2014, p. 27) é que o sistema judiciário tal qual se conhece hoje
não é o único remédio na luta pela pacificação dos conflitos, “[...] mas
é o mecanismo que o sistema se deu como adequado por certo lapso de
tempo e em um segmento de sociedade vasto, mas não universal”.
Contudo, essa realidade aos poucos está se alterando, talvez
consequência direta do surgimento de movimentos sociais que
trouxeram a ideia de que a busca pela efetivação do direito ao acesso à
justiça é a ponta do iceberg. Santos (2014) realiza um questionamento
421
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
422
Entretanto, um dos principais desafios a serem enfrentados por
toda a sociedade brasileira é a (re)discussão da revolução democrática
da justiça, tendo em vista a impossibilidade de resposta célere e muitas
vezes justa por parte do Judiciário, decorrente das crises que o assolam,
a de identidade e a de eficiência. Portanto, todo o processo de
globalização deve ser voltado a possibilitar o acesso à justiça aos
excluídos e a ampliação da participação dos cidadãos nos principais
centros decisórios e de construção de uma sociedade que possa tratar os
seus conflitos.
Nesse contexto, o presente estudo teve como questionamento
central a (re)discussão dos novos mecanismos de pacificação adequada
aos conflitos sociais no cenário brasileiro (entre eles a mediação, a
conciliação e as práticas restaurativas) podem ser enquadrados como
instrumentos que visem efetivar o acesso à justiça ao mesmo tempo em
que promovem a superação das crises do Judiciário.
E em resposta a tal indagação, tentou-se demonstrar que esses
novos métodos de pacificação aos conflitos, e outros que poderão
surgir, emergem baseando-se em uma proposta de pacificar os conflitos
de forma adequada, com a principal finalidade de concretizar o acesso à
justiça e de realizar uma justiça efetivamente justa ao mesmo tempo em
que propiciam, dentro do Judiciário, o desenvolvimento de juízes
éticos, preocupados não somente com a diminuição do número de
processos, mas também com a diminuição, em termos qualitativos, dos
litígios na sociedade, corroborando na superação de suas crises.
Um importante avanço, perpassa pelo ingresso do novo
Código de Processo Civil (Lei nº. 13.105/2015) no ordenamento
jurídico brasileiro, que regulamentou a integração desses novos
métodos à jurisdição, sendo importante observar dois lados, em
primeiro lugar o louvável reconhecimento pelo Estado da necessidade
de instrumentos de solução consensual de conflitos e, por outro lado, o
risco da sua contaminação pelos símbolos, rito e mitos arraigados à
cultura judicial que poderiam contribuir para a perpetuação das crises
do Judiciário.
REFERÊNCIAS
423
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
424
GARAPON, Antoine. Bem julgar: Ensaio sobre o ritual judiciário.
Lisboa: Instituito Piaget: 1997.
425
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
426
EMPATIA: perspectivas de atuação e de possibilidades
na busca do sentimento de justiça
Advogada.
427
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
system, raised the interest and the proposed work, keeping as a focus of
analysis, the thought about the value that transcends, in the spirit of the
law. Counting on the theoretical basis of some authors, it aims to
disseminate philosophical, psychological and juridical reflections,
projecting the viability of consolidating empathy, as a primordial
element of collaboration to do justice, beyond the framework of the
restorative system. A new culture needs to be implemented, a
restructuring in the ideas and aptitude to feel the justice, so that there is
understanding of what is sought and what kind of society and
relationships are aimed to achieve.
1 INTRODUÇÃO
428
das classes menos favorecidas; e a morosidade da justiça, que leva, em
média, até 10 anos para julgar os processos.
Resta evidente, portanto, a necessidade pela busca de
alternativas para desafogar o Judiciário e oferecer, em tempo razoável,
uma resposta à sociedade. Dessa necessidade surge a efetiva motivação
para se desenvolver mecanismos alternativos que resolvam as disputas
judiciais de forma rápida, objetiva e permanente; e/ou até mesmo
evitem o caminho dos tribunais para a resolução de conflitos.
Para fins do presente trabalho, e haja vista a vastidão de
possibilidades de formulação e aplicação de mecanismos paralelos de
resolução de conflitos, o foco passará a ser voltado a discutir sobre a
execução de práticas restaurativas, tendo como base a importância da
empatia, com caráter multidisciplinar, envolvendo aspectos
psicológicos, filosóficos e sociológicos.
Espera-se contribuir para maior reflexão sobre seu
aproveitamento para o sistema penal, civil e para a conquista dos fins
que norteiam a parceria dos órgãos e pessoas na rede de proteção
voltadas às crianças e adolescentes, na organização de um sistema de
justiça acessível e hábil na intervenção de forma mais efetiva na
prevenção e solução dos conflitos.
Vale também o presente trabalho como instrumento de
informação e de uma teia de argumentos, com base em pesquisas
bibliográficas, com metodologia qualitativa entrelaçada, nos campos
pertinentes à Psicologia Positiva, Filosofia e Direito, tendo em vista
que a empatia como objeto principal, com a ideia de ser elemento
primordial no sistema restaurativo, no sentido amplo, poucas doutrinas
foram encontradas, encorajando a concepção multidisciplinar, até
mesmo porque se concebe que a empatia seja um elo entre as
disciplinas dispostas.
A violência crescente, assim como também a descrença nas
instituições, faz pensar da necessidade de se investigar e de se pensar
sobre outro viés, mudar as lentes e se desvincular do mito da
impunidade, acrescido da visão imediatista que a sociedade exige para
solução da violência, entendendo que, assim, em nada contribui para a
efetividade e para o enfrentamento da mesma. Pelo contrário,
vitimização gera vitimização, violência gera violência.
429
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
430
Conselho Econômico e Social da ONU recomenda aos Países-membros
que considerem o uso de meios amigáveis e e.g. mediação, na
composição de casos de menor potencial ofensivo, preconizando a
aceitação da reparação civil, e.g.indenização ou compensação,
prevendo, inclusive, a possibilidade de se adotar medidas alternativas
ao recolhimento do agressor a casas de custódia, e.g. prestação de
serviços voluntários e, por fim, a de n. 12 de 2002, que define os
Princípios Básicos para Utilização de Programas de Justiça
Restaurativa em Matéria Criminal.1
A sociedade se impõe sobre o indivíduo, pois é um conjunto
de normas de ação, pensamento e sentimento que existem tanto no
interior como no exterior das consciências dos indivíduos. Nesse
pensamento, nasce a Justiça Restaurativa, que, no Brasil, é incentivada
pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), por meio do Protocolo de
Cooperação para difusão da mesma, firmado em agosto de 2014 com a
Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB). Neste diapasão, em
2016, foi elaborado tanto o Manual de Mediação Judicial quanto as
diretrizes da Política Nacional de Justiça restaurativa, através da
Resolução n. 225, merecendo o alargamento das discussões e envolver
caminhos na ideia do sistema restaurativo no Poder Judiciário e na vida
das pessoas.
Mesmo com as normas criadas o sistema de restauração ainda
se apresenta equivocado, tendo em conta que coíbe o acometimento de
novas infrações por nossas crianças e por adolescentes, reproduzindo as
penas duras e de isolamento da infância de tempos mais remotos, pois
ainda na realidade padroniza o sistema de cárcere, de vigília e ratifica a
cultura da punição, contrária à máxima ordem legal vigente.
A internação, que deveria ser um período suficiente para
compreender a situação que o infrator se incluiu, não funciona como
medida socioeducativa, ao contrário, acaba atuando com caráter de
punição, reproduzindo e fortalecendo a violência, o abandono e a
rebeldia.
Assim, está sendo cada vez mais urgente, ações de grupos na
sociedade e de autoridades que incentivem meios e caminhos hábeis de
concretização da unidade, para que saia do papel, as execuções do
1
Disponível em inglês: <https://goo.gl/nu7f4a>.
431
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
2
SANTOS, Boaventura de Sousa. Metodologia e Hermenêutica I. In: ________.
432
A lei da SINASE (Sistema Nacional de Atendimento
Socioeducativo) foi marco que, em 2012, trouxe relevância para as
questões restaurativas, envolvendo discussões, alargando e
compreendendo as opiniões, no alcance do objetivo de efetivar o
consenso, buscando a inclusão e a pacificação social, ao que se refere à
criança e ao adolescente pela socioeducação.
Correlaciona as diretrizes pedagógicas no atendimento
socioeducativo, que ainda devem ser efetivadas nos centros
educacionais, de forma condutora de um processo social, transformador
e restabelecendo a vontade de ser e de fazer parte do contexto social,
estruturador da meta da proteção integral. Tem como foco de ação a
família, a criança e o adolescente e todos os programas que estão em
torno destes sujeitos, por meio de três eixos: a) de controle; b) da
promoção de defesa – onde reside o sistema de justiça, segurança,
acolhimento e a política socioeducativa; e c) de monitoria das políticas
públicas – sociedade civil.
No dizer de Inhering (1872): “Aquilo que existe deve ceder ao
novo, pois tudo que nasce há de perecer”. Consiste em um adendo ao
direito concreto, que insulta a ideia do direito que inova, pois esta
envolve a eterna renovação, o que se pretende deixar claro neste
trabalho. Nada é para sempre, tudo a todo o momento se transforma, o
ser humano, a sociedade, a lei, procurando solidez social.
A Justiça Restaurativa vem ao encontro da necessidade de
promover acesso à ordem jurídica justa com enfoque na melhor
qualidade dos serviços prestados pelo Poder Judiciário, em busca da
pacificação social, estimulando, apoiando e difundindo as práticas
consensuais de resolução de conflitos, prezando pela construção da paz.
Nesse contexto, esse inovador sistema de justiça não se
restringe a um simples método de resolução de conflito e, tampouco, a
um mecanismo de extinção de demandas ou desafogamento do Poder
Judiciário. A abordagem remete à elaboração de um novo paradigma de
justiça que influa e altere decisivamente a maneira de pensar e agir em
relação ao conflito (Sica, 2008).
433
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
3
Juiz de Direito do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, que participou da feitura
das diretrizes da Justiça Restaurativa, em âmbito nacional.
434
quando acontece um crime ou uma injustiça o que precisa ser
realizado? Como mitigar os conflitos sem aprofundar as feridas e
transformar o processo judicial em contribuição para saneamento e
pacificação? (Zerh, 2012)
A lei não basta somente ser legítima, mas deve ser eficaz na
plena capacidade de gozo de garantias na sociedade onde atua. A
finalidade da lei não é paralisar a vida, mantendo-a mais clara, mas
permanecer em contato com ela, seguir sua evolução e se adaptar.
435
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
4
É um estudo voltado a oferecer nova abordagem às potencialidades e virtudes
humanas, estudando as condições e os processos que contribuem para a prosperidade
dos indivíduos e comunidades. Possui três pilares: a) a experiência subjetiva; b) as
características individuais – forças pessoais e virtudes; c) as instituições e
comunidades.
5
Fenômeno (flourishing) das pessoas, comunidades e instituição.
6
Modelo Bioecológico de Bronfenbrenner, constando como modelo ecológico
revisado, com visão positiva do desenvolvimento do adolescente, identificando os
processos, a pessoa, o contexto e o tempo.
436
nos recursos e nas potencialidades normativas. Deve se tornar um
princípio básico de aproximação, de confiança, onde as pessoas
resgatem a satisfação social de oferecer compromisso, doando valores
sociais, efetivando seu próprio desenvolvimento e cultura de paz.
Vale indicar ainda as principais características de uma exitosa
implementação da justiça restaurativa no Brasil, em meio ao processo
de adequação, experimentação pelo Judiciário, por meio de técnicas de
facilitação do diálogo, ajudando na construção de uma melhor solução.
Assim, está se garantindo uma escuta ativa e melhor compreensão das
responsabilidades.
Por outro lado, na sua função de prevenir e evitar conflitos,
atende às necessidades da sociedade contemporânea que almeja
justamente esse embasamento de novos caminhos de convivência
pautados pelo bem-estar, pela paz, pela cultura da dignidade e dos
direitos humanos.
Dentre as várias técnicas, no Brasil, a mais utilizada, é a
desenvolvida por KayPranis (2010), norte-americana, instrutora de
Círculos de Construção de Paz. É uma das técnicas restaurativas que,
através de facilitador e de dinâmicas primam a empatia como um dos
elementos de desenvolvimento da capacidade de se colocar no lugar do
outro. Realizados no intuito de educação de valores inerentes a pessoa
em desenvolvimento, baseados na compreensão, destacando o
fenômeno de restauração.
Ao mencionar a empatia, então, deve-se levar em consideração
três outros elementos complementares: a escuta e o diálogo, para que se
consiga envolver participação ativa e de aproximação, em especial, ao
que se refere à criança e adolescente em estado de vulnerabilidade e
aquelas também que estão nas escolas públicas e privadas, pois todos
devem alcançar a habilidade de reconhecer o seu valor no mundo,
inclusive os mediadores, facilitadores, que podem atuar tanto no
sistema judiciário como fora dele, espalhando um novo olhar, com uma
visão 3D, atingindo reflexão, crítica, envolvendo nas relações sociais, a
compreensão de mundo, de comportamentos, gerando tanto resolução
de conflitos, como também uma satisfação social.
437
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
5 CONCLUSÃO
438
A doutrina da garantia integral da criança deve ser finalmente
despertada de forma contextualizada na lei, mantendo-se eficaz, por
meio de políticas públicas sociais capazes de agir com capacidade
transformadora, diante do quadro de pobreza do país e de forma a
estabelecer o equilíbrio dos direitos e dos deveres, fazendo valer a
igualdade social, com dignidade e respeito à singularidade.
A legalidade da subjetividade, já não pode mais ser colocada
para escanteio quando se fala em prática e aplicação de normas. A
hermenêutica que estuda várias ciências acabou demonstrando, através
da psicanálise, que a objetividade dos fatos jurídicos está permeada de
uma subjetividade que o direito não pode mais desconsiderar.
O Direito capta o emblemático tema, e dentro da finalidade do
bem comum, pode conseguir efetivar o apaziguamento das contradições
e controvérsias inerentes à pessoa humana, no entendimento de suas
relações, concluindo na realidade formal da norma, em conjunto com
os profissionais da filosofia, sociologia, psicologia e assistência social.
REFERÊNCIAS
439
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
IHERING, Rudolf Von. A luta pelo Direito. São Paulo: RT, 2010.
440
Graal, 2010, p. 51-77. Disponível em: <https://goo.gl/quhjEG>. Acesso
em: 29 maio 2017.
441
RETRATOS DO ACESSO À JUSTIÇA DAS
MULHERES EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA
DOMÉSTICA: epistemologia feminista do direito
Advogada.
443
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
1 INTRODUÇÃO
444
Nacional de Advogadas e Advogados Populares – RENAP, um
importante movimento autônomo de assessoria aos movimentos sociais
e litigância estratégica na conquista de direitos coletivos.
Pensar o acesso à Justiça enquanto direito material é
desafiador, pois seu conteúdo não se esgota no acesso à Jurisdição. Na
verdade, aponta ao efetivo acesso a outros direitos humanos: direito à
saúde, direito à educação, direito ao trabalho, direito à dignidade,
direito à igualdade, direito a não discriminação, implicando em
consequências econômicas e também sociais. No Brasil, o acesso à
Justiça é direito fundamental garantido pelo texto constitucional,
devendo, para sua concretização, existir uma política judicial que
proporcione a universalização do acesso à justiça. Há ainda um
flagrante desnível de força entre os vários sujeitos pertinentes ao acesso
à Justiça. As instituições do Sistema de Justiça não possuem a mesma
consolidação e prestígio sócio-político, como é o caso, por exemplo, da
Magistratura em relação à Defensoria Pública, sendo por isso um tema
transversal que afeta toda a sociedade, assim como os Poderes
Judiciário, Legislativo e Executivo.
Ademais, pensar o acesso à justiça das mulheres exige ainda
mais contornos críticos para uma percepção do sistema articulado de
opressões a que estão inseridas enquanto sujeitos de direitos e
destinatárias das políticas públicas. Neste sentido, cabe uma reflexão a
partir da perspectiva de gênero, compreendendo a desigualdade
socialmente construída e materializada no lugar subalternizado ocupado
historicamente pelas mulheres. Assim, é inevitável pensar que gênero,
classe e raça serão fatores indispensáveis a qualquer análise dessa
natureza.
No que diz respeito à realidade das mulheres, segundo o Mapa
da Violência 2015 (da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais
- Flacso), a taxa de homicídios contra mulheres no Ceará aumentou
140,8 %, no período de 2003 e 2013, apresentando hoje taxa de 6,2
feminicídios a cada 100 mil mulheres, bem acima da média nacional,
que é 4,8 feminicídios para cada 100 mil mulheres. Com estes índices,
o Estado do Ceará torna-se o quinto mais violento do Brasil para as
mulheres, sendo o terceiro da Região Nordeste. Uma das mais
importantes frentes deste enfrentamento, a segurança pública, conta
445
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
446
superação da situação de violência às mulheres, é obstaculizada por
problemas com as diferenças institucionais. É neste sentido que o
presente trabalho propõe-se a avaliar sistemicamente a rede de
atendimento às mulheres, identificar assimetrias e dissonâncias, sempre
na expectativa de propor soluções e possíveis adaptações à real
necessidade das mulheres.
447
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
448
entendida como qualquer conduta baseada no gênero que cause morte,
dano ou sofrimento físico, emocional ou sexual, seja em ambiente
público ou privado. A Convenção da OEA para Prevenir, Erradicar e
Punir a Violência contra as Mulheres, também conhecida como de
Belém do Pará, de 1994, em que o Brasil e signatário, adota ainda
definição semelhante.
No Brasil, a violência de gênero traduzida em violência
doméstica e familiar contra a mulher, muito embora esta não seja a
única face da violência de gênero, alcança altos índices e impõe uma
atenção especial da sociedade. Apesar de constituir ainda um enorme
desafio em nosso pais, pode-se identificar muitos avanços importantes
na luta contra essa violência. A Constituição de 1988 trouxe uma
mudança paradigmática no que se refere a violência doméstica, pois
reconheceu que cabe ao Estado coibir a violência no âmbito
intrafamiliar (§8, artigo 226). Neste sentido rompeu com a tradição de
que a proteção aos direitos humanos se restringe a esfera da relação
entre indivíduos e estado, sem incluir aquelas que se desenrolam entre
indivíduos na esfera privada.
Neste sentido, a hipótese principal do presente estudo é que o
sistema de proteção à mulher apresenta inúmeras fragilidades no
atendimento especializado e adequado à mulher em situação de
violência doméstica, inviabilizando a dignidade do acesso à justiça,
tanto em relação ao cumprimento da Lei, como em processos
decorrentes da circunstância de violência. A execução das políticas
públicas e institucionais previstas na Lei Maria da Penha apresentam
obstáculos estruturantes no enfrentamento à violência de gênero,
ocasionando novas violações de direitos humanos. Da mesma forma,
que a leitura tradicional dos operadores do direito e dos órgãos de
justiça, quanto à compreensão da violência de gênero, inviabiliza a
aplicação adequada da Lei Maria da Penha.
449
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
450
Da mesma forma, toda atividade social, incluída a produção
científica, tem como tração esse sistema (HARDING, 1996, p. 30-32).
Gênero é, então, a ferramenta analítica ou a categoria teórica da
epistemologia feminista, que permite compreender como a divisão da
experiência social tende a dar a homens e mulheres concepções
diferenciadas deles/as próprios/as, de suas atividades, crenças e do
mundo que os cerca (HARDING, 1996, p. 29).
Assim, o estudo da condição da mulher através da ótica de
gênero, representa a ruptura epistemológica mais importante das
últimas décadas, denudando estudos que invisibilizam a mulher e
tornam a perspectiva masculina como universal e como protótipo
humano em uma visão claramente androcêntrica (FACIO, 1995, p. 30).
451
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
REFERÊNCIAS
452
GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS, 28., 2004, Belo Horizonte.
Anais... Belo Horizonte: ANPOCS, 2004.
453
ACESSO À JUSTIÇA, MEIOS ALTERNATIVOS DE
RESOLUÇÃO DE CONFLITO E O ADVOGADO NO
CONTEXTO DO ESTADO DEMOCRÁTICO DE
DIREITO
Bacharel em Direito pelo Instituto Camillo Filho – ICF. Especialista em Direito e
Processo Eleitoral pela Universidade Candido Mendes – UCAM. Mestrando em
Direito pela Universidade Federal do Ceará – UFC.
455
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
1 INTRODUÇÃO
456
bases de dados do Conselho Nacional de Justiça e do World Justice
Planet.
O estudo contribui para a compreensão do papel do advogado
no Estado Democrático de Direito e a possibilidade de democratização
e promoção do acesso à Justiça por meio de mecanismos alternativos de
resolução de conflitos. A estruturação da presente análise aborda, (1) a
função do advogado no Estado, (2) as perspectivas de acesso à Justiça e
por fim (3) os desafios e possibilidades do advogado na promoção do
acesso à Justiça.
457
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
458
fundamentais individuais, coletivos, sociais e culturais” (SILVA, 2016,
p. 124); igualitário (art. 5º, caput, e I); legal (art. 5º, II); e também
perseguidor da segurança jurídica (art. 5º, XXXVI a LXXIII). Todas
estas propriedades do Estado Democrático de Direito estão
intimamente ligadas entre si, não há o que se polemizar, é entendimento
pacífico.
Irrefutável neste contexto é a função do advogado enquanto
indispensável ao Estado e a administração da Justiça. É o advogado
profissional com aptidão técnica para atuar em prol da defesa dos
institutos do Estado Democrático de Direito, é aquele que além buscar
a observância do Direito posto, luta pela garantia dos princípios
democráticos – representatividade, participação e pluralidade refletidos
no ordenamento jurídico.
O advogado é a “antena supersensível da justiça” (BULLOS,
2012) na medida que pugna pela observância da Constituição, que é
suprema e vinculante a todos os Poderes e cidadãos, que busca a
garantia de direitos fundamentais provocando o Estado, preservando o
princípio da legalidade, da igualdade das partes perante a lei e
almejando o estabelecimento de segurança jurídica nas decisões do
Estado juiz. O causídico tem a função de defender os princípios
democráticos e o Direito, e esta defesa ocorre igualmente pela
promoção do acesso à justiça.
O acesso à Justiça constitui fundamento e uma das principais
características do Estado Democrático de Direito, é a viabilização de
acesso à uma justiça eficaz por quem dela necessitar, sem
discriminação. A Constituição Federal em seu art. 5º, XXXV, garante
que não poderá ser excluído da apreciação do Poder Judiciário ameaça
ou lesão a direito.
A Convenção Interamericana sobre Direitos Humanos de São
José da Costa Rica, da qual o Brasil é signatário, também aponta neste
mesmo sentido em seu art. 8º, asseverando que toda pessoa humana
tem o direito de ser ouvida por um juiz ou tribunal independente e
imparcial, dentro de um prazo razoável e com a observância de
459
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
460
Mauro Cappelletti e Bryant Garth (1988) entendem que o
termo “acesso à Justiça”, enquanto um direito, é muito difícil de ser
definido de uma forma que não comporte críticas, está para além da
atuação exclusiva do Poder Judiciário, mas explicam que de toda sorte
o sistema jurídico – arena onde se reivindica direitos e soluciona-se
conflitos sob a égide do Estado – possui dois objetivos principais: estar
aberto e acessível a todos os cidadãos e produzir decisões individuais e
socialmente justas. Sem dúvidas a justiça social desejada pelo Estado
Democrático de Direito só será atingida pela acessibilidade efetiva a
decisões coerentes, justas.
O direito de acesso à Justiça se modificou ao longo do tempo.
Nos séculos XVIII e XIX este direito foi classificado como natural,
anterior ao Estado, não demandando uma atuação positiva estatal para
sua efetivação, mas tão somente o zelo contra qualquer tipo de
interferência prejudicial. Note-se a clara interpretação do acesso à
Justiça a partir de uma ideia símbolo do liberalismo econômico, o
laissez faire (CAPPELLETTI e GARTH, 1988).
Segundo Mauro Cappelletti e Bryant Garth (1988) “fatores
como diferença entre os litigantes em potencial acesso prático ao
sistema, ou, a disponibilidade de recursos para enfrentar o litígio, não
eram sequer percebidos como problema” (p. 10).
Com a mudança de paradigma no modelo estatal - indo do
laissez faire para o welfare state - e a consagração de direitos sociais,
nasce a preocupação com um acesso à Justiça efetivo, deixando este
direito de ter um conteúdo meramente formal como era sob a
abrangência do laissez faire.
O acesso à Justiça dentro de um estado de bem-estar social
passa a ser buscado concretamente, tendo repercussão material,
voltando-se para aqueles que sofriam da “pobreza legal”
(CAPPELLETI e GARTH, 1998, p. 9). Rompe-se o entendimento
liberal de que a justiça somente poderia ser alcançada por aqueles que
poderiam arcar com seus custos.
Este fenômeno – a busca pelo acesso efetivo a justiça –
segundo Mauro Cappelleti e Bryant Garth (1998) e Ronnie Preuss
Duarte (2007) passou a ser característica indispensável e essencial dos
sistemas jurídicos modernos e igualitários, não constituindo somente
461
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
462
participação do advogado, sendo a primeira o acesso ao Judiciário e a
segunda os meios alternativos de resolução de conflitos.
O Poder Judiciário é atualmente no Brasil a principal forma de
acesso à Justiça, sem dúvidas. De acordo com o relatório “Justiça em
números 2016”, elaborado pelo Conselho Nacional de Justiça, o
número de litígios novos diminuiu 5,5%, os julgados detiveram um
aumento de 1%, porém os casos pendentes se maximizaram em 2,6%, o
que significa algo em torno de 73.936.309 processos parados (CNJ,
2016).
É evidente a desproporcionalidade entre os percentuais dos
processos julgados e pendentes, é sinal de que há ineficiência nos
serviços judiciais prestados à população brasileira, o que implica em
uma dificuldade de acesso à Justiça. Inclusive a diminuição na
quantidade de litígios novos pode ser sinal do descrédito do Judiciário
perante a sociedade, que já fora diagnosticado entre os anos de 2004 e
2009 conforme aponta o estudo “Panorama de Acesso à Justiça no
Brasil – 2011”.
Nesta perspectiva da demanda judicial o advogado exerce
grande papel na promoção do acesso à Justiça, vez que é o profissional
habilitado tecnicamente para - patrocinando uma causa - auxiliar o
magistrado na apuração e instrumentalização dos fatos e aplicação do
Direito. Todavia um processo célere e uma decisão justa não dependem
somente do esforço do advogado, mas de vários outros fatores inerentes
ao Estado juiz, como por exemplo o número de servidores do Poder
Judiciário, recursos de expediente administrativo e financeiro.
O World Justice Project faz a mensuração do grau de
conformação do Estado Democrático de Direito em nível mundial a
partir de um sistema de pesquisa intitulado Rule of Law Index (RLI). O
RLI apura vários fatores característicos do Estado Democrático Direito,
inclusive o funcionamento da Justiça civil e criminal de cada país, ou
seja, o nível de acessibilidade da Justiça. O RLI classifica ainda os
países em um intervalo de notas compreendido entre 0 e 1, quanto mais
próximo da nota 1 mais institucionalizado é o Estado Democrático de
Direito, portanto, o acesso à Justiça é mais efetivo.
Como não poderia ser diferente das estatísticas trazidas pelo
“Justiça em números 2016” e “Panorama de acesso à Justiça no Brasil –
463
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
2011”, o RLI 2016 classifica o Brasil com o escore 0.55, sendo que os
fatores Civil justice e Criminal justice foram avaliados com os escores
0.53 e 0.39, respectivamente (WORLD JUSTICE PROJECT, 2016). No
ranking global ocupa a quinquagésima segunda posição na
institucionalização do Estado Democrático de Direito.
Diante dos dados expostos é perceptível que o acesso à Justiça
por meio do Poder Judiciário no Brasil não é pleno. Apesar do grande
esforço técnico açodado pelo advogado no patrocínio das demandas,
existem fatores que obstaculizam o acesso à Justiça. Não há desejo em
demonizar o Poder Judiciário, tratá-lo como aquele Poder que impede o
acesso pleno à Justiça, mas sim em delatar a existência de limitações
financeiras, temporais e de pessoal que dificultam a persecução de
decisões justas e céleres, que não são amplificadoras do acesso à
Justiça.
A segunda perspectiva diz respeito as possibilidades
alternativas de resolução de conflitos como forma de facilitar o acesso à
Justiça. Diante de um sistema de justiça cada vez mais atarefado
(SOARES, 2015) a firmação de um Estado justo, eficiente, transparente
e acessível requer práticas de modernização do acesso à Justiça, que
contemplem políticas com o objetivo precípuo de aumentar a utilização
de recursos de autocomposição de conflitos, como a mediação e a
conciliação, bem como de expansão do procedimento de arbitragem.
Na conciliação um terceiro, distinto e alheio ao conflito,
procura um local comum onde as partes podem chegar a um consenso
que possa findar o conflito. Na mediação o terceiro deixa de ser neutro
e passa a recomendar as partes conflitantes uma proposta, sugerindo de
forma ativa uma solução para o conflito (FRADE, 2003). Já na
arbitragem diz-se haver um litigio de fato ou de direito, que é
submetido a um tribunal arbitral, formado por um ou mais indivíduos
capacitados, que proferem decisão vinculante com base no Direito ou
em juízos de igualdade (PEDROSO, 2001).
Neste cenário – da resolução alternativa de conflitos – o
advogado, de forma independente ou por intermédio da Ordem dos
Advogados do Brasil, pode desempenhar função essencial na
concretização do direito de acesso à Justiça, podendo em determinados
464
casos ser mais eficiente que o patrocínio de demandas judicias,
institucionalizando o Estado Democrático de Direito.
Não há que se desmerecer o mister principal do advogado
dentro da relação processual, mas a verdade é que diante de um
Judiciário deficiente e moroso (SOARES, 2015) a atuação do advogado
é de extrema importância, pois na qualidade de indispensável à Justiça
e ao Estado é também responsável pela consolidação do Estado
Democrático de Direito por meio da promoção do acesso à Justiça,
ainda que por meios inusuais, como a resolução alternativa de conflitos.
465
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
1
Henry Brown e Arthur Marriot reconheceram mais de quinze formas alternativas de
solução de conflitos postas em prática na sociedade norte americana nos anos 90,
apesar de que algumas dessas medidas alternativas estivessem ainda em fase inicial a
tendência era de larga ampliação. BROWN, Henry J. MARRIOT, Arthur. L. ADR
Principles and pratices. London: Sweet & Maxwell, 1999.
466
duração de um processo judicial, além de permitir que o mediador ou
árbitro proponha/arbitre uma solução que faz cair por terra a
disparidade das partes, visto que uma não pode impor seus interesses de
maneira prejudicial a outra, e o conciliador leva os conciliantes a uma
plataforma comum de acordo, dissipando da mesma forma a
disparidade dos envolvidos.
Podem existir críticos em oposição a utilização de medidas
alternativas, mas a boa verdade é que essas medidas no contexto
brasileiro constituem um futuro promissor na promoção do acesso à
Justiça. Acesso à Justiça ou acesso ao Poder Judiciário? Esta pergunta é
bem respondida quando Ronnie Preuss Duarte (2007), Cappelletti e
Garth (1998) e João Pedroso (2002) esclarecem que acesso à Justiça
não se confunde com acesso ao Judiciário, pois o primeiro abrange
várias formas judiciais ou não de se reivindicar direitos e buscar
pacificação social fundamentando-se em juízos de justiça.
John Rawls (2016) admite que “[...] a justiça é a virtude
primeira das instituições sociais, assim como a verdade o é dos
sistemas de pensamento” (p. 4), Rawls colabora para o entendimento de
que a justiça pode ser feita e acessada por meio do Poder Judiciário,
mas não somente por ele em razão da coexistência de outros atores e
instituições sociais, como o advogado e a Ordem dos Advogados do
Brasil, na consumação de medidas alternativas para resolução de
conflitos.
A promoção dos meios alternativos de solução de conflitos,
explica Frade (2003), não precisa necessariamente ser feita por
advogados ou instituição de classe como a OAB. Porém, pela
capacidade técnica que possui o advogado e o respectivo ente de classe
é aconselhável que, sendo um mecanismo alheio ao sistema judicial, as
medidas alternativas sejam promovidas por advogados. Esta
preocupação – da presença do advogado nos meios alternativos – se
justifica pela necessidade de se garantir internamente nestes
procedimentos alternativos as garantias previstas no texto
constitucional brasileiro, como a celeridade, igualdade, justiça e
segurança.
Há também outra forma alternativa de resolução de conflitos
que pode ser promovida no Brasil, apesar da necessidade de estudos
467
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
468
dos Advogados do Brasil, consequentemente - da sua função
indispensável ao Estado e à Justiça, o causídico é o profissional
tecnicamente capacitado para defender as instituições da Democracia e
buscar a preservação do Direito, inclusive por meio da promoção do
acesso à Justiça.
Quanto a este aspecto - promoção do acesso à Justiça – é
relevante destacá-lo como fator característico dos Estados
Democráticos de Direito, é na verdade um aspecto fundamental, que
deve ser buscado pelo Estado e por agentes responsáveis pela
realização social, entendimento que abrange os advogados e o
respectivo órgão de classe.
A Constituição Federal de 1988 caminha neste sentido
reconhecendo a indispensabilidade do advogado para a administração
da Justiça, e, por conseguinte, à organização estatal, oportunizando os
advogados uma atuação empreendendo a ampliação do acesso à Justiça
seja por vias judiciais, seja por vias alternativas.
O Poder Judiciário brasileiro atualmente, mesmo após uma
reforma emplacada pela Emenda Constitucional 45/2004, não consegue
dar respostas céleres e justas a todos que o procuram, as estatísticas
contidas no relatório “Justiça em números 2016” demonstram este fato,
e no sentido oposto é necessário crescer no acesso à Justiça para
estruturar cada vez mais o Estado Democrático de Direito. Não se trata
somente da falta de eficiência do Judiciário, mas também de outros
problemas de ordem processual como o exorbitante valor das custas, a
demora dos procedimentos e a distinção entre o judicante habitual e
eventual, por exemplo.
É diante destes problemas que obstaculizam o acesso decisões
justas e melhor institucionalização da Democracia e do Direito que o
advogado hoje é chamado a promover a ampliação no acesso à Justiça
por meios alternativos. Resta-se claro que “acesso à Justiça” não é
somente o “acesso ao Judiciário”, como fora revelado. Acessar a Justiça
é um fenômeno que pode ocorrer por várias vias, e as chamadas formas
alternativas de resolução de conflitos para o Brasil podem ser uma
forma de ampliar o acesso à Justiça.
A mediação, conciliação e arbitragem, dentre outras formas
potenciais em implementação, são mecanismos alternativos para dar
469
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
REFERÊNCIAS
470
CAPPELLETTI, Mauro. GARTH, Bryant. Acesso à Justiça. Porto
Alegre: Sergio Antônio Fabris Editor, 1988.
471
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
RAWLS, John. Uma teoria da justiça, 4. ed. São Paulo: WMF Martins
Fontes, 2016.
SILVA, José Afonso da. Direito constitucional positivo, 39. ed. São
Paulo: Malheiros, 2016.
472
ONLINE DISPUTE RESOLUTION E ACESSO À
JUSTIÇA: qual é a contribuição dos serviços privados?
Advogado. Sócio do Rocha, Marinho e Sales Advogados. Mestrando em Direito e
Gestão de Conflitos pela Universidade de Fortaleza. Especialista em Direito
Processual Civil pela Universidade Estadual do Ceará. Conselheiro Federal da OAB
(2013-2015). Professor do UNIPÊ e da ESMA, em João Pessoa-PB. E-mail:
wilsonbelchior@rochamarinho.adv.br.
473
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
1 INTRODUÇÃO
474
Investigar a contribuição dos serviços privados de ODR para
essa garantia constitucional orientou a pesquisa na decisão de elaborar
esse debate a partir de material empírico recolhido dos sites dos
próprios empreendimentos que atuam nesse segmento, com a finalidade
de perceber (a) natureza dos serviços privados de ODR oferecidos; (b)
aplicação de inovações tecnológicas; (c) vantagens anunciadas.
Concordou-se que olhar para a realidade é o meio mais eficaz
para estimular a criatividade na organização de novas soluções, ainda
que o espaço tenha restringido a pesquisa mais a uma descrição do
mercado, com a finalidade de saber como esses serviços podem ampliar
o acesso à justiça.
475
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
476
Desse modo, o aparecimento de empresas que ofereçam ao
público plataformas de ODR conseguem ampliar o acesso à justiça
perante a dificuldade de o Judiciário alterar a sua estrutura,
principalmente em cidades de pequeno porte, nas quais os recursos para
reformas e adaptações são escassos. Basta ter em mente que esses
serviços, na maioria dos casos, têm atendimento 24 horas nos sete dias
da semana, exigindo apenas conexão com a internet por meio de um
computador ou dispositivo móvel.
Reconhece-se que este é um passo importante na ampliação do
acesso à justiça, porém será decisivo no momento em que as
instituições públicas o aplicarem em processos administrativos e nas
demandas recebidas pelos juizados especiais em conjunto com projeto
de educação continuada da sociedade sobre os seus direitos, afinal de
contas não é suficiente abrir portas, mas é essencial ensinar o caminho.
477
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
478
Acordo Fechado é uma plataforma online voltada para pessoas
jurídicas, principalmente escritórios de advocacia para gestão de
contencioso de volume, com a possibilidade de realizar o contato com
as partes envolvidas, celebrar acordos, automatizar a rotina
organizacional e extrair relatórios (ACORDO FECHADO, 2017).
Adamsistemas é uma organização que desenvolve soluções
para pessoas jurídicas. Em seu site é possível encontrar com detalhes os
recursos disponíveis pelo sistema oferecido, tais como gerenciamento
de casos presenciais e virtuais; envio eletrônico de casos pelo site da
instituição; ambientes exclusivos para os envolvidos; troca de
mensagens entre os participantes; gestão eletrônica de documentos;
acompanhamentos em tempo real; recebimento de notificações por e-
mail; definição dos custos dos serviços; definição da logomarca e
nomenclaturas; criação de campos exclusivos da instituição;
possibilidade de gerenciamento de várias instituições; responsivo
(ADAMSISTEMAS, 2017).
A Abritrate propõe-se a solucionar conflitos online auxiliando
a comunicação entre as partes e o ingresso do procedimento,
oferecendo mediadores e conciliadores, anunciando a garantia de
confiabilidade e segurança em questões trabalhistas, condominiais,
cíveis e comerciais (ARBITRATE, 2017).
O empreendimento Vamos Conciliar abre o seu site de maneira
diversa dos demais apresentando vídeo explicativo que denota as
vantagens da solução adequada de conflitos e o procedimento
necessário para tanto, baseado em chat online com apoio do conciliador
ou mediador. O mix de serviços envolve métodos de prevenção,
avaliação e resolução de controvérsias com target abrangendo pessoas
físicas, jurídicas e advogados (VAMOS CONCILIAR, 2017).
Arbitranet é uma câmara de arbitragem online focada em
resolver conflitos oriundos de contratos comerciais, direcionado a
empresas ou pessoas físicas que pretendam solucionar uma
controvérsia a respeito de direitos patrimoniais disponíveis, oferecendo
também orientação acerca da cláusula arbitral. Em relação às
aplicações tecnológicas destacam-se o suporte dedicado por meio de
479
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
PÚBLIC
PRAZ
EMPRESA UF O- SERVIÇOS PREÇOS
O
ALVO
Pessoas
físicas e
jurídicas Solução de
; Conflitos; 3a7
Não
Concilie RJ PROCO Gestão de dias
informado.
N; contencioso úteis.
Tribunai .
s de
Justiça.
Taxa de
Negociação ativação
gratuita; (200,00-
Pessoas Mediação 900,00);
Solucionar físicas e online; 15 Honorários
SP
aqui jurídicas SAC dias. por sessão
. online; (250,00);
Conciliação Taxa sobre
online. Acordo
(10%-6%).
Pessoas Não
Conciliador Conciliação Não
RJ/SP jurídicas inform
online online informado.
. ado.
Gestão de
contencioso
Pessoas Não
Acordo ; Mediação Não
RJ jurídicas inform
fechado e informado.
. ado.
Conciliação
online.
480
Gestão de
contencioso
Pessoas ; Mediação, Não
Não
Adamsistemas SC jurídicas conciliação inform
informado.
. e ado.
arbitragem
online.
Pessoas
Não
físicas e Solução de Não
Arbitrate MG inform
jurídicas Conflitos. informado.
ado.
.
Pessoas
Mediação, Não
Vamos físicas e Não
DF conciliação inform
conciliar jurídicas informado.
online. ado.
.
Processo
individual:
10, 15 ou 35
Pessoas Até
mil reais por
físicas e 100
Arbitranet SP Arbitragem. processo;
jurídicas dias
Mensalista:
. úteis.
500, 1000
ou 2500
reais.
Fonte: O autor.
EMPRESA VANTAGENS
Praticidade; economia de tempo; economia de dinheiro;
Concilie legalidade; segurança dos dados; rapidez; ser sempre a
melhor via.
Solucionar Redução de custos e tempo; prevenção no desgaste da
aqui imagem corporativa ou pessoal; confidencialidade.
Rapidez e efetividade de resultados; redução do desgaste
emocional e do custo financeiro; privacidade e sigilo;
Conciliador
facilitação da comunicação; promoção de ambientes
online
cooperativos; transformação das relações; melhoria dos
relacionamentos.
481
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
482
protocolos de segurança cibernéticos usados tampouco garantias de que
o banco de dados está protegido.
O que é anunciado no site de todas as empresas analisadas e
constitui outra utilidade do ODR, de modo geral, não equivale a prover
acesso à justiça onde antes ele era praticamente nulo, mas também
fazê-lo 24 horas por dia, sete dias na semana através da internet não
sendo restringido pelo tempo ou outras condições físicas. Ele promove
rápida resolução dos conflitos ao eliminar as posturas e táticas que
usualmente prolongam negociações off-line (PALARDE, 2003).
Observou que algumas empresas têm o seu público-alvo
estruturado em torno de pessoas jurídicas, com dois propósitos: reduzir
o custo operacional com despesas legais e contribuir com a gestão de
escritórios de advocacia por intermédio da solução adequada de
conflitos na internet. Primeiramente estes empreendimentos não seriam
selecionados para amostra em uma pesquisa que utilizasse diferentes
procedimentos metodológicos, no entanto, respeitando o princípio de
não interferência do pesquisador, encontrou-se quadro mais completo
sobre a situação estudada, vez que o acesso à justiça efetivo envolve
todos os tipos de jurisdicionados, verificando, assim, diferentes
segmentos de serviços privados que envolvem ODR.
Logo, os serviços privados de ODR podem contribuir com o
acesso à justiça ao passo que atingem número expressivo de cidadãos
através da internet, difundindo seu conteúdo pelas redes sociais,
esclarecendo à sociedade a potencialidade e a exigibilidade de seus
direitos, principalmente em situações cotidianas, nas quais muitas
pessoas não reconhecem a possibilidade de reivindicar juridicamente o
cumprimento desses direitos.
483
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
484
serviços construindo contribuições significativas para a efetividade do
acesso à justiça.
O desaparecimento do mediador humano ainda não é iminente,
mas dispositivos e programas de inteligência artificial podem ser
integrados exponencialmente no cotidiano, por isso é irrealista acreditar
que o espaço da solução adequada de conflitos de alguma forma evite
essa transformação. Avatars e robôs humanoides são capazes de
envolver as partes e realizar uma introdução do caso concreto. Uma
apresentação dessa natureza pode ser disponibilizada na internet,
enviada para dispositivos móveis, ou por e-mail e visualizada
repetidamente. Diferentemente de exposições genéricas, uma
introdução feita por avatar pode ser editada para tratar de quaisquer
fatos ou preocupações e podem ser salvas para futuras mediações.
Dessa maneira, evitam-se omissões de informações importantes e
permite-se às partes por meio de um avatar com capacidades
interativas descobrir se elas têm novas questões que não foram
reconhecidas durante a primeira apresentação, as quais podem ser
abordadas pelo avatar antes de as partes se reunirem pessoalmente
(LARSON, 2010).
A holografia também é uma inovação tecnológica que pode ser
aplicada ao ODR, pois permite que existam as tradicionais qualidades
tridimensionais das reuniões presenciais, com a comunicação entre as
partes em toda extensão possível, ou seja, a palavra é ouvida, incluindo
inflexão de voz e entonação (EXON, 2011).
Os sistemas de apoio à decisão complementam as habilidades
de gerenciamento de conhecimento humano com meios baseados em
computador para gerenciar o conhecimento. Eles aceitam, armazenam,
usam, recebem e apresentam conhecimentos pertinentes às decisões
tomadas. Entre as ferramentas que automatizam os procedimentos de
ODR estão: (a) rule-based reasoning, em que o conhecimento de uma
área do direito é representado como uma coleção de regras na forma se
<condition(s)> então ação/conclusão; (b) case-based reasoning, que
usa experiências anteriores para analisar ou resolver um novo conflito,
485
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
486
extrajudiciais, com a apresentação das reclamações gratuitamente e na
língua materna, a partir de formulário eletrônico, que tem sua
admissibilidade analisada. Em caso positivo de acordo no prazo de 90
dias do recebimento do processo ele é encerrado, contudo após 30 dias
de negociações sem sucesso, a queixa é abandonada e o autor
informado sobre outras vias de recurso e da possibilidade de contatar
um conselheiro de resolução de conflitos eletronicamente (CEBOLA,
2016).
No Brasil, as instituições públicas já perceberam a necessidade
de aplicação de ODR, no entanto, na prática o que se enxerga apesar
das orientações normativas é um movimento bastante incipiente quando
se verifica a disponibilidade de novas tecnologias com utilização na
solução adequada de conflitos.
O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) por intermédio da
Resolução nº 125/2010 estabeleceu a criação de Centros Judiciários de
Solução de Conflitos e Cidadania (CEJUSCS) nos tribunais para
realização ou gestão das sessões e audiências de conciliação e
mediação que estejam sob a responsabilidade de conciliadores e
mediadores assim como pelo atendimento e orientação ao cidadão. É
uma iniciativa em conformidade com o momento vivenciado pelo
direito, entretanto, em relação à aplicação de ODR apenas arrola-se a
atribuição do CNJ para criar sistema de mediação e conciliação digital
ou à distância para atuação pré-processual e após a adesão do tribunal
abrangendo as demandas em curso, estabelecendo como prazo o início
da vigência da lei da mediação, isto é, 2015 (CNJ, 2010).
O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, por exemplo, colocou
em funcionamento o Projeto de Solução Alternativa de Conflitos –
Conciliação Pré-Processual, no qual disponibiliza para os consumidores
um e-mail como canal virtual facilitador da comunicação, com o intuito
de oferecer solução acessível e rápida para os problemas decorrentes de
relações de consumo frustradas, formalizado como título executivo
extrajudicial (TJ-RJ, 2017).
No Tribunal de Justiça do Ceará, em maio de 2017, em caráter
experimental foi utilizada a plataforma e-Conciliar, com o objetivo de
solucionar adequadamente conflitos de natureza pecuniária, por meio
da técnica de lances às cegas, de maneira exclusivamente eletrônica. Os
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ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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real durante todos os dias, avançando aprioristicamente em relação às
principais dificuldades das instituições do judiciário, como custos,
morosidade e dificuldades no reconhecimento de direitos.
Os debates na intersecção entre jurisdição, advocacia, direito,
economia digital e inovações tecnológicas necessitam ser ampliados,
lançando mão em pesquisas futuras de material empírico mais
aprofundado e olhar específico sobre instituições do judiciário, com a
finalidade de propor inovações institucionais com aplicação das
tecnologias relativas ao ODR.
Esta é uma etapa importante na concretização do acesso à
justiça, porém o caminho a ser percorrido ainda é longo, no
concernente a adaptação das instituições públicas a essa nova realidade
e a conscientização da sociedade sobre os direitos que são
juridicamente exigíveis e passíveis de violação no cotidiano dessas
pessoas.
REFERÊNCIAS
489
ACESSO À JUSTIÇA: realidade e perspectivas
LARSON, David Allen. Artificial intelligence: robots, avatars, and the demise
of the human mediator. Ohio State Journal on Dispute Resolution, Ohio, v.
25, n. 1, p. 105-164, 2010.
490
cidadania brasileira para além da concepção liberal. 2013. 247 f. Tese
(Doutorado em Ciência Política) – Universidade Federal de Minas Gerais,
Belo Horizonte, 2013.
491