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ESTRUTUR A L APLICADA

2019 Associação Brasileira de Geologia de Engenharia – ABGE


Av. Professor Almeida Prado, 532 – Prédio 11 – Cidade Universitária
São Paulo – SP – CEP 05508-901

Impresso no Brasil

Autores
Yociteru Hasui
Eduardo Salamuni
Norberto Morales

Projeto Gráfico, Diagramação e Capa


Rita Motta – Editora Tribo da Ilha

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Geologia estrutural aplicada / Yociteru Hasui,


Eduardo Salamuni, Norberto Morales,
(organizadores). -- 2. ed. rev. -- São Paulo :
ABGE - Associação Brasileira de Geologia de
Engenharia e Ambiental, 2019.

Bibliografia.
ISBN 978-85-7270-077-1

1. Geologia estrutural 2. Geologia estrutural -


Estudo de casos I. Hasui, Yociteru. II. Salamuni,
Eduardo. III. Morales, Norberto.

19-31118 CDD-551
Índices para catálogo sistemático:

1. Geologia estrutural 551

Cibele Maria Dias - Bibliotecária - CRB-8/9427


YO C I T E RU HASU I
E DUA R D O S AL A M U N I
NOR BE RTO MOR A L ES
(Organizadores)

EST RUTUR AL A PL IC A DA

2ª Edição, revisada

São Paulo, 2019


DIRETORIA ABGE GESTÃO 2019/2020

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TRANSFORMA

A capacidade de transformar os elementos e modificar a natureza é o que nos faz humanos. Da terra,
da água ou do ar, a engenharia é capaz de criar mais alimentos, mais segurança, mais conforto e mais
energia, transformando as nossas vidas para melhor. Todas as descobertas, máquinas, equipamentos
que facilitam e enriquecem o nosso dia adia são conquistas da engenharia.

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO...................................................................................................... 13

parte 1 – BASE TEÓRICA


TIPOLOGIA ESTRUTURAL......................................................................... 17
Yociteru Hasui
Eduardo Salamuni
Norberto Morales

1 Conceitos básicos.............................................................................................. 17
1.1 Estrutura..................................................................................................... 17
1.2 Força e esforço............................................................................................ 18
1.3 Deformação................................................................................................ 20
1.4 Deformação progressiva e finita.............................................................. 23
1.5 Deformação rúptil e dúctil....................................................................... 24
1.6 Deformação homogênea e heterogênea.................................................. 27
1.7 Deformação coaxial e não-coaxial.......................................................... 27
2 Tipos principais de estruturas......................................................................... 33
2.1 Foliação e lineação..................................................................................... 33
2.2 Dobras......................................................................................................... 40
2.3 Redobramento............................................................................................ 45
2.4 Juntas........................................................................................................... 48
2.5 Falhas........................................................................................................... 50
2.6 Bandas e zonas de cisalhamento dúctil................................................... 55
3 Análise e síntese estrutural............................................................................... 64
3.1 Diagramas de dados estruturais.............................................................. 64
3.2 Orientações preferenciais......................................................................... 66
3.3 Determinação de eixos de deformação e de tensão............................... 69

REGIMES TECTÔNICOS....................................................................................... 72
1 Definição............................................................................................................ 72
2 Regime e sistema distensivos........................................................................... 73
3 Regime e sistema compressivos....................................................................... 77
4 Regime e sistema transcorrentes..................................................................... 82

TECTÔNICA DE PLACAS..................................................................................... 88
Yociteru Hasui
Eduardo Salamuni

1 Introdução.......................................................................................................... 88
2 O interior da Terra............................................................................................ 88
3 Tectônica de Placas........................................................................................... 96
4 As placas e seus movimentos........................................................................... 98
5 As bordas das placas....................................................................................... 100
5.1 Bordas divergentes................................................................................... 102
5.1.1 Margens continentais passivas.................................................... 104
5.2 Bordas convergentes................................................................................ 106
5.2.1 Zona de subducção....................................................................... 108
5.2.2 Fossa submarina........................................................................... 109
5.2.3 Prisma de acreção......................................................................... 109
5.2.4 Bacia antearco............................................................................... 110
5.2.5 Arco magmático........................................................................... 110
5.2.6 Orógeno......................................................................................... 111
5.2.7 Bacia retroarco..............................................................................120
5.2.8 Bacia de antepaís........................................................................... 121
5.3 Bordas transformantes............................................................................ 123
5.4 A intraplaca.............................................................................................. 126
5.4.1 Sismicidade intraplaca..................................................................126
5.4.2 Tensões intraplaca........................................................................ 128
5.4.3 Epeirogênese.................................................................................. 129
5.4.4 Plumas mantélicas........................................................................ 132
5.4.5 Grandes províncias ígneas (LIPs)...............................................136
5.4.6 Superintumescências e superplumas......................................... 138
6 O motor das placas.......................................................................................... 139
7 A Tectônica de Placas através do tempo....................................................... 142
7.1 Abertura de oceanos................................................................................ 143
7.2 Fechamento de oceanos.......................................................................... 145
7.3 Transição para um novo supercontinente............................................ 146
8 Os supercontinentes........................................................................................ 147
8.1 Hadeano.................................................................................................... 148
8.2 Arqueano e o Supercontinente Kenorlândia........................................ 149
8.3 Paleoproterozoico (>1,8 Ga) e o Supercontinente Colúmbia............ 152
8.4 Paleoproterozoico-Mesoproterozoico e o Supercontinente Rodínia... 153
8.5 Neoproterozoico-Cambriano, o Supercontinente Pannotia e o
Megacontinente Gondwana................................................................... 156
8.6 Triássico-Hoje e o Supercontinente Pangea......................................... 158
8.7 As Placas no futuro.................................................................................. 160

neogeno-quaternário DO BRASIL..................................................... 162


Yociteru Hasui

1 Apresentação.................................................................................................... 162
2 Compartimentação da Plataforma Sul-Americana.................................... 163
3 Etapas evolutivas da Plataforma Sul-Americana......................................... 166
4 A quarta etapa: Neogeno-Quaternário......................................................... 168
4.1 Depósitos sedimentares.......................................................................... 172
4.1.1 Unidades do Oligoceno Superior-Mioceno Inferior............... 173
4.1.2 Unidades do Neógeno.................................................................. 174
4.1.3 Unidade do Neógeno-Pleistoceno.............................................. 181
4.1.4 Unidades do Plioceno-Pleistoceno............................................ 182
4.1.5 Unidades do Pleistoceno............................................................. 185
4.1.6 Unidades do Pleistoceno-Holoceno........................................... 186
4.1.7 Unidades do Holoceno................................................................ 190
4.2 A Neotectônica no Brasil........................................................................ 191
4.2.1 Ordens das tensões intraplaca.................................................... 191
4.2.2 Idade da Neotectônica no Brasil................................................. 193
4.2.3 Métodos de determinação de regimes de tensão..................... 193
4.2.3.1 Análise de falhas............................................................ 193
4.2.3.2 Análise geomorfológica................................................ 195
4.2.3.3 Análise de mecanismo focal de sismos....................... 196
4.2.3.4 Análise de breakout de poços profundos.................... 196
4.2.3.5 Análise de tensões por fraturamento hidráulico....... 197
4.2.3.6 Análise por sobrefuração.............................................. 197
4.2.3.7 Análise de dados geodésicos......................................... 197
4.2.4 Determinações de tensões no Brasil.......................................... 198
4.2.4.1 Determinação por análise geomorfológica................. 198
4.2.4.1.1 Região da Amazônia brasileira.................. 198
4.2.4.1.2 Estado de São Paulo e adjacências............. 214
4.2.4.2 Determinação por análise de falhas............................ 217
4.2.4.3 Tensões atuais determinadas por análise de falhas...... 242
4.2.4.4 Tensões determinadas por análise de mecanismo
focal de sismos............................................................... 248
4.2.4.5 Tensões determinadas por análise de breakout de
poços profundos............................................................ 254
4.2.4.6 Tensões determinadas por fraturamento hidráulico...... 257
4.2.4.7 Tensões determinadas pelo método de sobrefuração.... 258
4.2.4.8 Tensões determinadas por dados geodésicos............. 259
4.2.4.9 Outros dados.................................................................. 260
4.2.4.10 Comparação dos dados............................................... 261
4.2.5 O quadro regional da Neotectônica no Brasil...........................264

parte 2 – EXEMPLOS DE CASOS

O REGIME DE TENSÃO DO MACIÇO ROCHOSO DA UHE SERRA


DA MESA, RIO TOCANTINS (GO).................................................................... 271
Yociteru Hasui
Fábio Soares Magalhães
José Augusto Mioto
João Luiz Armelin

AS DESCONTINUIDADES E INSTABILIZAÇÕES DO MACIÇO


ROCHOSO DA UHE XINGÓ, RIO SÃO FRANCISCO (SE-AL)..........................286
Yociteru Hasui
Fábio Soares Magalhães
Luiz Alberto Minicucci

ANÁLISE ESTRUTURAL DO MACIÇO ROCHOSO DE FUNDAÇÃO DA


BARRAGEM DE PORTO PRIMAVERA, RIO PARANÁ (SP/MS).................. 299
Fábio Soares Magalhães
José Donizete Marques Júnior
Edgard Serra Júnior
ANÁLISE DA DEFORMAÇÃO RÚPTIL NA REGIÃO DA UHE MAUÁ (PR)..... 309
Ramon Sade Zapata Rivas
Eduardo Salamuni
Isabella Françoso Rebutini Figueira

MODELO GEOESTRUTURAL DA MINA DE CANA BRAVA (GO) COM


VISTA À ANALISE DA ESTABILIDADE DE TALUDES.................................. 332
Yociteru Hasui
Fábio Soares Magalhães
Armando Mangolin Filho

O FRATURAMENTO NO MACIÇO ROCHOSO DA MINA DE METACALCÁRIO


DA SANTA SUSANA MINERAÇÃO, TIRADENTES (MG)............................ 343
Norberto Morales
Yociteru Hasui
Alberto Coppedê Júnior

ANÁLISE CINEMÁTICA DE TALUDES DA PEDREIRA SÃO JORGE,


BALSA NOVA, PR................................................................................................... 367
Marina Lima
Andrés Miguel Gonzalez Acevedo
Juciara de Carvalho Leite
Eduardo Salamuni

ESTRUTURAÇAO GEOLÓGICA E TRECHOS CRÍTICOS NA ABERTURA


DO TUNEL T-O7-17 (TUNELÃO) DA FERROVIA DO AÇO, SERRA DA
MANTIQUEIRA (MG)........................................................................................... 381
Yociteru Hasui
Luis Massayosi Ojima

FRATURAMENTO DO MACIÇO ROCHOSO PARA SUBSIDIAR A


AVALIAÇÃO DO IMPACTO DO RESERVATÓRIO DE PINDOBAÇU
NA ÁREA DE GARIMPOS DE ESMERALDA DE CARNAÍBA (BA)............. 392
Norberto Morales
Yociteru Hasui

TECTÔNICA RÚPTIL COMO CONTROLE HIDROGEOLÓGICO NO


COMPLEXO ATUBA (CURITIBA, PR)............................................................... 415
Eduardo Salamuni
Lilian Chavez-Kus
Amanda Lang Pereira
MODELO ESTRUTURAL NA ÁREA DO PROJETO COBRE SAO MATEUS,
MUNICIPIOS DE CACONDE E MUZAMBINHO (SP/MG).......................... 425
Yociteru Hasui
Francisco Gonzalez Filho
Duílio Rondinelli

MODELO ESTRUTURAL DO COMPLEXO METAVULCANOSSEDIMENTAR


ARROIO MARMELEIRO, RS................................................................................ 432
Yociteru Hasui
Norberto Morales

REFERÊNCIAS......................................................................................................... 446
APRESENTAÇÃO

O conhecimento do contexto geológico é fundamental em muitas situações


práticas de riscos à segurança e dispêndios até vultuosos no desenvolvimento das
atividades, como na implantação de obras civis, mineração subterrânea e a céu
aberto ou prospecção mineral. Ele é normalmente alcançado através da análise
da constituição rochosa (mineralogia, petrografia, geoquímica) e da estruturação
dos corpos litológicos (tipos de estruturas, geometrias, relações), completando-se
com a interpretação da origem, que deve ser lógica e coerente, à luz do rigor do
raciocínio cientifico e do conhecimento geológico. Definido factualmente e en-
fatizando os aspectos de interesse à aplicação, além de se prestar às necessidades
práticas, o contexto geológico pode se configurar como modelo previsional de
eventualidades.
Em 1992, visando veicular a investigação de estruturas geológicas em pro-
jetos diversos, atividade em destaque na época, a Diretoria da Associação Brasi-
leira de Geologia de Engenharia publicou o livro Geologia Estrutural Aplicada,
contendo um apanhado do embasamento teórico e alguns estudos de casos. Essa
obra esgotou-se rapidamente e não foi republicada.
Passados mais de 25 anos, diante do avanço dos conhecimentos da Geolo-
gia, da Geologia Estrutural e da Geologia do Brasil, a atual Diretoria considerou
adequado retomar o tema. Ele é abordado com o mesmo espírito nesta edição,
com uma síntese atualizada da base teórica e ilustração com alguns estudos de
casos que servem de exemplos de aplicação. Foi mantido o mesmo título para a
obra, Geologia Estrutural Aplicada, agora com renovação da coordenação.
As estruturas tectônicas, que são as de interesse aqui e de tipos variados
aparecem em associações decorrentes dos sistemas de esforços não aleatórios
que atuam em âmbitos locais ou regionais, e decorrem de tipos de movimentos
de massas rochosas, impostos, em última análise, pelos deslocamentos de placas

13
tectônicas. Assim, o entendimento das estruturas deve passar de uma apresenta-
ção delas (Tipologia Estrutural) para os tipos de movimentos (Regimes Tectôni-
cos) e para a dinâmica das placas (Teoria das Placas), isto é, de feições de detalhe
para as regionais. Deve ainda embutir um resumo da evolução geológica mais
recente do Brasil, enfatizando a Neotectônica.
A presente abordagem e as citações bibliográficas tiveram de ser muito res-
tringidas em função dessa amplitude, bem como do objetivo da obra e da limita-
ção de espaço. O detalhamento de cada item é tratado em vasta literatura especia-
lizada e em muitos livros-texto, que poderão ser consultados pelos interessados.
A apresentação desses temas constitui a PRIMEIRA PARTE do livro.
A SEGUNDA PARTE apresenta alguns estudos de casos relacionados a
barragens e reservatórios, túneis, minas e pesquisa mineral. Sendo a Geologia
Estrutural uma disciplina básica das Geociências, tem aplicação na maioria das
atividades geológicas. Os casos abordados representam apenas alguns exemplos
de situações práticas. Em parte, eles foram mostrados na edição de 1992 e são
reapresentados por constituírem bons exemplos de aplicação. Os demais casos
são posteriores.
Os autores, além do apoio de diversas instituições, empresas e colegas para
a realização desta obra, destacam o estímulo e apoio da Diretoria da ABGE, dei-
xando aqui consignados os agradecimentos.

Os Organizadores

14 geologia estrutural aplicada


parte
1
BASE TEÓRICA
TIPOLOGIA ESTRUTURAL
Yo c iteru H asu i 1
E duard o Sal amu ni 2
Norb erto Morales 3

1 Conceitos básicos
Aqui são apresentados alguns conceitos fundamentais para o entendimen-
to das estruturas e suas inter-relações. Apenas algumas referências bibliográficas
são feitas neste item por se tratar de tema abordado em muitos artigos disper-
sos em diversas revistas geocientíficas e, sinteticamente, em vários livros-texto
como os de Turner & Weiss (1963), Ramsay (1967), Hobbs et al. (1976), Ramsay
& Huber (1983, 1987), Price & Cosgrove (1990), Park (1997), Van der Pluijm
& Marshak (2004), Pollard & Fletcher (2005),Twiss & Moores (2007), Marshak &
Mitra (2006), Fossen (2012) e Hasui (2012a).

1.1 estrutura

Por estrutura entende-se o arranjo espacial dos componentes de um todo.


Na Geologia, o todo é a Terra e os constituintes podem ser vistos na escala do
átomo, mineral, rocha, maciço rochoso, camadas do planeta e globo.

1
  Universidade Estadual Paulista – UNESP/Campus de Rio Claro. Ex-Geólogo do Instituto de Pes-
quisas Tecnológicas do Estado de São Paulo.
2
  Universidade Federal do Paraná.
3
  Universidade Estadual Paulista – UNESP/Campus de Rio Claro.

17
As estruturas tectônicas são aquelas originadas por deformações promovi-
das por forças induzidas pela dinâmica do interior terrestre. São elas abordadas a
seguir em termo de forças, esforços, deformações e os tipos gerados.
As estruturas atectônicas, relacionadas com os processos de formação
de rochas e atuação da força de gravidade na superfície (sedimentação,
esfriamento de magmas, movimentos de massas em encostas etc.) não são
aqui contempladas.

1.2 força e esforço

Sob o ponto de vista mecânico, força (force) é a ação física que causa defor-
mação ou altera o estado de repouso ou movimento de um objeto. Existem vários
tipos de forças, classificadas genericamente como de contato e de corpo. As forças
de contato mais referidas na Geologia são (Fig. 1):

Figura 1. Tipos de forças mais citadas na Geologia. Setas vermelhas: forças aplicadas; setas
azuis: pontos fixos.

• tração (tension): forças atuando na mesma direção com sentidos diver-


gentes e acarretando alongamento do objeto;
• compressão (compression): forças atuando na mesma direção com senti-
dos convergentes e produzindo encurtamento do objeto;
• flexão (bending): forças atuando em dois pontos com mesmo sentido e
paralelamente, criando ondulação;
• torção (torsion): força num plano ao qual induz um momento, retorcendo-o;
• flambagem (buckling): força compressiva atuando longitudinalmente a
objeto de pequena espessura, induzindo arqueamento;
• binário ou conjugado (shear force): forças paralelas e de sentidos opostos
atuando em partes do objeto, promovendo deslocamentos diferenciais.

A expressão força tectônica refere-se apenas àquela que atua no globo ter-
restre, gerada por movimentos das placas litosféricas e do manto, e pela ação da
gravidade na subsuperfície.

18 geologia estrutural aplicada


Esforço ou pressão (stress, pressure) é a força ( ) tratada em termos de atua-
ção sobre área (A) unitária de superfície (Equação 1). A unidade de medida da
tensão é o Pascal (Pa), que equivale à força de 1 Newton aplicada uniformemente
numa superfície de 1 m2.

σ = /A (Eq. 1)

Para se conhecer o estado de tensão em um ponto, é preciso determinar as


tensões que agem nos infinitos planos que o contém. Para cada plano existe um
vetor de tensão, que tem orientação e magnitude. Os vetores são oblíquos aos
planos e costumam ser tratados em termos de um componente perpendicular
ao plano e dois outros contidos no plano, referidos como tensão normal (normal
stress) e tensões de cisalhamento ou tangenciais (shear stress), respectivamente.
De maneira muito simplificada, para conhecer a tensão num ponto consi-
dera-se um sistema cartesiano de referência e três planos quaisquer que sejam
ortogonais entre si e contenham o ponto. As projeções das três tensões normais
e seis tensões de cisalhamento desses planos são relacionadas por equações li-
neares que definem a tensão aplicada no ponto e pode ser determinada por uma
matriz 3x3. Essa é a matriz de tensões ou tensor de tensão (matriz de Cauchy).
Dentre os planos referidos, em três atuam tensões normais, mas não tensões
de cisalhamento – são os planos principais de tensão, que são ortogonais entre si
e cujas interseções são os eixos principais de tensão representados por s1, s2 e s3,
considerando s1>s2>s3.
O estado de tensão num corpo é o campo de tensão. Num ponto pode ser
visualizado pela distribuição das extremidades dos vetores de tensão, que defi-
nem um elipsoide, chamado elipsoide de tensão, cujos eixos principais são s1, s2
e s3. O sistema com três eixos diferentes é triaxial; se dois eixos forem iguais e o
terceiro diferente, é biaxial, e se dois forem nulos, é uniaxial. Esses eixos podem
ser de compressão ou de distensão, convencionados em Geologia como valores
positivos e negativos, respectivamente.
O elipsóide de tensão pode ser pensado como a soma de duas partes:
• uma é representada pela esfera nele inserida: representa uma pressão
uniforme em todas as direções (s1=s2=s3) exercida pela carga de rochas
acima do ponto considerado. É a chamada pressão litostática, de carga,
geostática ou confinante nesse ponto (análoga à pressão hidrostática, que
atua em meio líquido);
• a outra parte é a chamada tensão diferencial ou deviatórica (differential
stress, deviatoric stress), que varia conforme a direção e produz as defor-
mações que o corpo sofre.

parte 1 – tipologia estrutural 19


Se for considerado um corpo, e não apenas um ponto, o estado de tensão
pode variar ao longo dele. Ele é constante se o corpo é homogêneo, o que rara-
mente ocorre na natureza. Em corpo heterogêneo, ele variará em orientação e
magnitude ao longo dele. Este último tipo é importante por explicar a diversida-
de e variações das feições geológicas geradas.

1.3 deformação

A deformação (strain) é a mudança de forma (distorção), atitude (rotação),


posição (translação), volume (dilatação positiva ou negativa), ou combinações
dessas propriedades. As mudanças são devidas aos movimentos tectônicos, que
são os deslocamentos de massas rochosas impostos por forças tectônicas. Embo-
ra via de regra sejam consideradas apenas a distorção e a dilatação, que acarre-
tam mudanças nas posições relativas dos pontos componentes do objeto, e sejam
deixadas de lado a translação e a rotação por não envolverem tais mudanças, é
importante lembrar que, no caso geral, a deformação natural envolve esses quatro
tipo de transformação.
Se considerarmos uma esfera e raios, a deformação os afetará. As extremi-
dades dos vetores dos raios configurarão um elipsoide, que é chamado elipsoide
de deformação. Considerando os seus eixos principais Z>Y>X, eles terão relação
com as tensões principais: Z//s1 Y//s2 e X//s3 (Fig. 2).

s1
(a) Z
(b)

s3

s2 Y

s1 // Z > s 2 // Y > s 3 // X

Figura 2. Elipsoides de tensão (a) e de deformação (b). Esses elipsoides são triaxiais no caso geral.
A relação dos dois é de paralelismo de X com s3, Y com s2 e Z com s1.

O estudo da deformação e do fluxo de materiais sob influência de tensões é


a Reologia e dependem de fatores que afetam a ductilidade ou rigidez das rochas.
São esses fatores:

20 geologia estrutural aplicada


• a tensão diferencial. A deformação elástica, que obedece à Lei de Hooke,
é proporcional à tensão aplicada e é reversível. Ao atingir o limite de elas-
ticidade a rocha pode se fraturar. Se não se fraturar, além desse limite,
sobrevém a deformação plástica, que não é reversível;
• a pressão confinante – seu aumento acarreta a necessidade de maiores
esforços para produzir uma mesma deformação;
• a temperatura – seu aumento torna mais fácil a deformação plástica;
• o tempo de aplicação do esforço – se a aplicação da tensão for rápida a
rocha reage com alta resistência e apresenta deformação elástica ou rup-
tura; se for lenta e constante, a rocha flui lentamente no estado sólido – é
a fluência (creep). A fluência pode começar a temperaturas já abaixo da
metade do ponto de fusão e ela é importante nas profundezas da crosta e
no manto superior, onde as temperaturas e pressões são altas;
• a presença de fluidos ajuda a promover deformação.

O fluxo plástico pode ocorrer por deslocamentos ao longo de superfícies


de contato de grãos (intergranulares) e mediante deslizamentos em planos dos
retículos cristalinos (intracristalinos). As deformações reticulares são tanto mais
fáceis quanto menor a densidade do mineral e podem ser discernidas ao micros-
cópio por extinção ondulante, presença de lamelas, bandas de deformação, kink
bands, geminação etc. Os retículos deformados por incremento da temperatu-
ra ou da deformação, podem ter rearranjos buscando configurações estáveis,
o que se dá mediante a formação de subgrãos. Estes podem ser pequenos e
com pequenas diferenças de orientação reticular, o que é chamado recupera-
ção (recovery). Se os seus contatos são poligonais, fala-se em poligonização
(polygonization). Na progressão, os subgrãos aumentam por migração dos limi-
tes dos grãos e entre eles há grande diferença de orientação cristalográfica: é a
recristalização (recrystallization).
É importante destacar que na natureza a deformação dos maciços rocho-
sos depende da anisotropia, heterogeneidade e integridade dos maciços rochosos
afetados (Fig. 3).
• A anisotropia de uma rocha diz respeito à variação das propriedades
composicionais e mecânicas conforme a direção que se considere. Ela é
gerada pela presença de variações de composição da rocha (p. ex., mu-
danças de fácies sedimentares) e de textura (arranjos não uniformes dos
grãos dada, por exemplo, por foliação e lineação). Em geral os corpos e
maciços rochosos são anisotrópicos. A anisotropia influi na orientação
de estruturas geradas, como fraturas, em relação aos eixos de tensão ou
deformação (Figs 3A e 3A´).

parte 1 – tipologia estrutural 21


• A heterogeneidade é marcada pela presença de componentes distintos.
Toda rocha é formada de minerais diferentes e os maciços rochosos po-
dem ter rochas diversas, sendo em geral heterogêneos e cada componente
reage de modo próprio nas transformações. Uma descontinuidade que se
forme terá traçado quebrado em função da variação dos ângulos que faz
com s1 (Fig. 3B).
• A integridade aqui referida diz respeito à coesão das rochas ou maciços ro-
chosos, isto é, à ausência de descontinuidades preexistentes (juntas e falhas).
Se presentes, elas podem ter orientações em ângulos diversos com a tensão
aplicada, a qual tende a ser reorientada e aliviada ao longo delas, antes de
formação de outras descontinuidades. Caso seja gerada uma nova desconti-
nuidade, ela terá ângulo com os eixos principais de tensão ou de deformação
diferente do que seria normal na rocha ou maciço coeso (Figs. 3C e 3C´).

Tensão s1
Falha C
s1 A
B
a
q Anisotropia s1

a s3
30 s3
20 A´ C´
10
q s1
30 60 90

Figura 3. Influência de anisotropia, heterogeneidade e coesão na deformação. A: influência de


anisotropia preexistente (p. ex., xistosidade) em ângulo a com s1. A falha que se forma faz ângulo
q com s1. A´: a descontinuidade se desenvolve ao longo dela se a for menor que cerca de 10°; acima
desse valor, a descontinuidade se forma com q crescente até cerca de 30°. B: influência da hetero-
geneidade ilustrada por um maciço com várias camadas de diferentes características mecânicas,
em que se desenvolve uma descontinuidade. O ângulo q varia nas diferentes camadas e a ruptura
assume traçado quebrado. Se a descontinuidade evoluir para uma falha, o movimento dos blocos
esmagará as paredes. C: influência da presença de uma descontinuidade (traço preto) afetando a
coesão. As tensões s1 e s3 reorientam-se nas vizinhanças da descontinuidade como indicado pelas
linhas verdes e azuis, respectivamente. C´: detalhe da área indicada em C, mostrando novas des-
continuidades (em vermelho) que podem se formar fazendo ângulos q com s1.

Em Geologia, o comportamento de minerais e rochas é referido em termos de


competência. A competência diz respeito à capacidade de transmitir esforços – ela
é maior ou menor conforme maior ou menor for a rigidez (menor ou maior a plas-
ticidade). Rochas de comportamento mais rígido são ditas mais competentes. As de
comportamento mais plástico são ditas mais incompetentes (Fotos 1 e 2).

22 geologia estrutural aplicada


Foto 1. Bandas quartzo-feldspáticas alternada- Foto 2. O anfibolito (escuro) foi segmentado
mente pobres em biotita e anfibólio (claras) ou em porções, das quais uma é mostrada, ten-
ricas nesses minerais (escuras), que foram esti- do se comportado como material competente,
radas na horizontal em maior a menor graus, as enquanto o gnaisse envoltório deformou-se
últimas, sendo mais competentes, foram menos plasticamente, como material incompetente.
deformadas. Migmatito estromático do Comple- Gnaisse bandado do Lineamento Além-Paraíba,
xo Atuba, Curitiba (PR). Foto: E. Salamuni. Além-Paraíba (RJ). Foto: E. Salamuni.

Partição é um termo usado em muitos contextos para indicar diferença de


distribuição de uma propriedade em domínios contíguos e limitados. Na Geo-
logia é usado em relação à deformação. Como os maciços rochosos são aniso-
trópicos, heterogêneos e descontínuos, a deformação não é uniforme, mas varia
em distintas porções. Assim, dentro de um todo deformado, podem-se separar
domínios com diferentes características de deformação. Essa distribuição da de-
formação em domínios é o que se tem chamado partição da deformação.

1.4 deformação progressiva e finita

Toda estrutura resulta de deformação de um objeto de um estado inicial


para outro, o estado final. O estado inicial pode ser aquele de uma rocha qual-
quer, magmática, sedimentar ou metamórfica, ou resultante de modificações im-
postas por um evento de deformação anterior.
A deformação se processa por incrementos infinitesimais ou deformações
incrementais seguindo uma trajetória de deformação. Essa trajetória compreende
etapas sucessivas, com pulsos de atividade e intervalos em equilíbrio ou de menor
atividade: é a deformação progressiva (Fig. 4). Diferentes trajetórias podem levar
a estados finais semelhantes. O estado final é chamado deformação finita. É com
ela que o geólogo lida na natureza, a partir da qual procura reconstituir a evolu-
ção, isto é, a trajetória de deformação.

parte 1 – tipologia estrutural 23


Figura 4. Deformação progressiva. Os números indicam os estágios de deformação, tratando-se
de deformação progressiva; o estágio final é a deformação finita. Em A, as camadas mais competen-
tes apresentam estricção (camada (azul clara) e budinagem (camada marrom). Em B as camadas
sofrem dobramento.

Na Fig 4A, camadas estiradas se adelgaçam em porções mais ou menos


espaçadas (estricção, pinch-and-swell structure), progredindo para segmen-
tação (budinagem, Fotos 3 e 4) com separação de segmentos (budins). Na
Fig. 4B, as camadas sofrem ondulação (dobramento) com variações de espessu-
ras, comprimentos e rotação do pacote.

Foto 3. Gnaisse migmatítico, com grãos defor- Foto 4. Gnaisses migmatíticos milonitizados
mados de feldspato (branco) e finas bandas mais e alterados, com níveis de anfibolito estirados e
e menos finas essencialmente de quarto e biotita budinados. Complexo Varginha-Guaxupé, Ca-
– na parte superior uma camada clara quartzo- conde (SP). Foto: Y. Hasui.
-feldspática mostra estricção e na parte central
uma camada mais escura de anfibolito sofreu
budinagem. Lineamento de Além-Paraíba, Três
Rios (RJ). Foto: E. Salamuni.

1.5 deformação rúptil e dúctil

A deformação é classificada como rúptil, friável ou quebradiça quando a


rocha se rompe e perde a continuidade, e dúctil ou plástica quando mantém a

24 geologia estrutural aplicada


integridade. Também a deformação elástica pode ocorrer em um campo limitado
da litosfera. A Fig. 5 esquematiza esses tipos de deformação em função da pro-
fundidade e variações de tempo de aplicação, tensão aplicada e temperatura.
Como os maciços rochosos são sempre heterogêneos, tanto em constituintes
minerais como em componentes litológicos, a deformação sob determinadas con-
dições físicas pode levar a combinações de feições rúpteis e dúcteis. Daí falar-se
também em comportamento intermediário, referido como rúptil-dúctil ou dúc-
til-rúptil, que ocorre na zona de transição indicada na Fig. 6. As Fotos 5, 6 e 7
mostram casos de deformação rúptil, rúptil-dúctil e dúctil.

Elástico Litosfera
Profundidade
Astenosfera

Figura 5. Esquema mostrando os campos de comportamento mecânico na litosfera. O campo elásti-


co é restrito, desaparecendo com o aumento do tempo de aplicação da tensão, da tensão aplicada e da
temperatura. No geral, a deformação é rúptil em baixa profundidade e dúctil em profundidade maior.

A B Série
cataclástica
km incoesa °C
0
1 Transição
4 <250°C
Produtos do cisalhamento

5 Série 150
cataclástica
coesa
Cisalhamento

10 300
Transição
250-350°C
15 450

20 600
Série
milonítica
25 750

30 900

Figura 6. Zona de cisalhamento na crosta e tipos de materiais gerados pelos deslocamentos. Em


A, perfil esquemático de uma zona de cisalhamento. Os blocos dos esquemas menores indicam de
cima para baixo os deslocamentos rúptil, rúptil-dúctil (ou dúctil-rúptil) e dúctil. A faixa afetada
pelo deslocamento tende a ser cada vez mais espessa em profundidade, o mergulho decresce até
horizontalizar na base da crosta (ou da litosfera) e se dissipar mediante movimentos plásticos. Em
B, indicação das profundidades e séries cataclástica e milonítica. Os valores de profundidades e
temperaturas são apenas indicativos de ordem de grandeza, podendo variar conforme as caracte-
rísticas de gradientes geotérmico e geobarométrico da região.

parte 1 – tipologia estrutural 25


Foto 5. Falhas normais de mergulhos opostos Foto 6. Falha normal em gnaisse migmatítico
formando um gráben. Formação Pindamo- com pequenos arrastos laterais indicando ajus-
nhangaba, Rodovia Carvalho Pinto, Taubaté te parcialmente plástico. Complexo Camboriú,
(SP). Foto: N. Morales. Camboriú (SC). Foto: E. Salamuni.

Foto 7. Gnaisse bandado com foliação milonítica afetado por uma discreta banda de cisalhamento
dúctil normal com arrasto das porções laterais. Complexo Atuba, Colombo (PR). Foto: Y. Hasui.

Considera-se que a deformação rúptil começa com uma rede de desconti-


nuidades microscópicas, em cujas extremidades ocorre concentração de tensão
que é aliviada progressivamente. Em profundidades menores, a fratura de dis-
tensão que se forma requer que o limite de resistência à distensão da rocha seja
ultrapassado e ela se dispõe na perpendicular ao eixo principal distensivo. Em
profundidade o regime de tensão se torna compressivo: o eixo principal horizon-
tal é compressivo e muito maior do que o distensivo. A razão disto está ligada à
movimentação das placas litosféricas, que induz tensões em que o eixo compres-
sivo máximo é horizontal. A ruptura desenvolve-se quando se ultrapassa o limite
de resistência à compressão e ela permanece selada a partir de até alguns quilô-
metros de profundidade em função do aumento da pressão confinante.

26 geologia estrutural aplicada


1.6 deformação homogênea e heterogênea

A deformação de um objeto pode ser homogênea, de modo que cada ponto


tem as mesmas modificações e elementos paralelos permanecem paralelos du-
rante todo o processo; ela é dita heterogênea se essas características não se man-
tiverem (Fig. 7).

Figura 7. Deformação homogênea (A) e heterogênea (B).

1.7 deformação coaxial e não-coaxial

A deformação pode envolver mudanças de forma, volume e translação. Essa


é a deformação coaxial, também chamada não-rotacional ou cisalhamento puro.
Alternativamente, pode envolver ainda rotação – essa é a deformação não-coa-
xial, também referida como rotacional ou cisalhamento simples.
Os dois tipos podem ocorrer em regimes rúptil e dúctil. Eles são ilustrados
na Fig. 8. O produto final pode ser parecido e a diferença está na incidência ou
não de rotação dos elementos do objeto deformado.

Figura 8. Deformação coaxial, não rotacional ou cisalhamento puro (A) e não-coaxial, rotacional
ou cisalhamento simples (B). Na primeira, retas paralelas permanecem paralelas; na segunda há
rotação dos elementos. X e Z são os eixos de estiramento e encurtamento do elipsoide de deforma-
ção, respectivamente, e são perpendiculares a Y.

parte 1 – tipologia estrutural 27


Na deformação coaxial rúptil, as descontinuidades que podem se formar
são esquematizadas na Fig. 9.

B C
A
s1 (Z)

s3 (X)

Zonas de cisalhamento Falhas normais


conjugadas Falhas inversas/
Fratura de partição reversas
Dobras
Fratura de alívio

Figura 9. Esquema da deformação coaxial rúptil. A: esfera submetida aos esforços s1 (Z) e s3 (X).
B: descontinuidades que podem ser geradas – um par conjugado de fraturas de cisalhamento, ten-
do ângulo q com s1 (em média de 30°) e contendo s2 (perpendicular ao desenho), e o plano T per-
pendicular a s3, que corresponde à fratura de partição. C: orientações de outras possíveis estruturas
que podem aparecer associadas; elas estão indicadas em relação aos eixos de tensão/deformação.

Essas descontinuidades são:


• fraturas de partição, de extensão ou de distensão, que se formam perpen-
dicularmente a s3 ou X. Também são referidas inadequadamente como
fraturas de tração e fraturas de tensão. O termo fratura é usado para de-
signar qualquer descontinuidade nas rochas, isolada ou em conjuntos
(neste caso em planos paralelos formando juntas).
• fraturas de cisalhamento, que podem aparecer em pares conjugados (Foto
8). Esse par é simétrico em relação a s1, formando com ele ângulo q, e a
interseção é o eixo s2. Podem gerar juntas e, se ocorrer deslocamentos com
atrito dos blocos separados, originam-se falhas. O valor de q varia muito e
depende do tipo de rocha e das condições físicas ambientais (temperatura,
pressão, presença de fluidos). Ele depende do coeficiente de atrito interno
(f) da rocha e da coesão (c) e se relaciona com a resistência ao cisalhamen-
to t e a tensão efetiva s atuante no plano, segundo a equação t = c + s.tgf
(critério de ruptura de Mohr-Coulomb). Ensaios laboratoriais de ruptura
de cilindros de rochas mostram que o ângulo q é de 45° ou menos, depen-
dendo do tipo de rocha, com média em torno de 30°.

28 geologia estrutural aplicada


Foto 8. Falhas normais conjugadas de pequeno rejeito em quartzitos do Complexo Atuba, região
de Registro (SP). Foto: N. Morales.

Na deformação coaxial dúctil ocorre fluxo plástico com encurtamento


perpendicular a Z ou s1 e estiramento segundo X ou s3. Na direção de Y ou
s2 pode haver estiramento ou encurtamento. A deformação transforma uma
esfera num elipsoide, com formato variável desde extremamente achatado
lembrando uma panqueca, ou estirado com forma de um charuto (Fig. 10).
Essa deformação é também chamada achatamento (flattening; aplatissement).
Quando a deformação ao longo de Y é desprezível ou Y permanece constante,
é chamada de deformação plana.
Representando estruturas pelos diâmetros de um círculo, na deformação
para uma elipse eles se encurtam, ou estiram, ou encurtam e depois estiraram,
gerando dobras, estricção e budinagem (Fig. 11).

Figura 10. Formatos de elipsoides, que podem passar de prolatos muito estirados a oblatos muito
achatados.

parte 1 – tipologia estrutural 29


s 3 (X)
s 3 (X)

Deformação
3

crescente
s 1 (Z)
2
1

1 2 3
A C
B

Figura 11. Deformação coaxial dúctil. A: esfera submetida às tensões s1 e s3 (deformações Z e X),
sendo s2 perpendicular à figura. As feições estruturais 1, 2 e 3 situam-se nos campos verde, azul
e amarelo, respectivamente B: elipsoide resultante da deformação, com indicação desses campos.
C: geometria de 1, 2 e 3 com a progressão da deformação, sofrendo encurtamento (dobramento),
encurtamento seguida de estiramento (dobramento seguido de budinagem), e estiramento (budi-
nagem), respectivamente.

A deformação não-coaxial rúptil gera fraturas segundo o modelo de Riedel


(Fig. 12). As fraturas podem formar juntas e falhas.

d d
A s3 B g C
R´ s3
b T
P d
a Y=D fn
s1 R
b fir s1
X
a=0° d=dobras
b=45-(f/2)° fn=falhas normais
g=45° fri=falhas inversas/
d=45+(f/2)° reversas

Figura 12. Modelo de Riedel. A: faixa afetada por cisalhamento não-coaxial, que induz as tensões s1s3.
O círculo representa uma porção da faixa. B: elipse de deformação com a orientação das falhas que se
desenvolvem. Estão indicados os ângulos das descontinuidades com a borda da faixa, considerando
θ de 30° (ângulo de atrito interno). No caso, R´ tem movimentação sinistral, oposta à movimentação
da faixa, enquanto as demais zonas de cisalhamento têm movimentação destral análoga à geral. Notar a
fratura de partição T. C: estruturas que podem se associar na faixa deformada.

Esse modelo foi elaborado por Cloos em 1928 e Riedel em 1929 com base
em simulação de cisalhamento simples em laboratório utilizando argila. Ele foi
testado depois com novos experimentos e em observações na superfície do ter-
reno em escalas regional, local e de amostras de solos e rochas sedimentares,
incluindo casos de falhas geradas por terremotos.

30 geologia estrutural aplicada


Foi mostrado por muitos autores que rochas sedimentares e solos, compor-
tando como maciços homogêneos, isótropos e contínuos, melhor mostram as
falhas estreitas e paralelas, dispostas escalonadamente, formando feixes dentro
das zonas afetadas pela deformação. Nesses casos o modelo de Riedel é válido e
os desvios de ângulos em relação aos do modelo foram relacionados com varia-
ções dos materiais afetados (coesão, ângulo de atrito interno) e a influência de
descontinuidades do embasamento reativadas.
A sequência de formação dos feixes de falhas não é questão resolvida. Pri-
meiramente foram reconhecidos três estágios: o estágio de pico, quando se for-
mam R e R´, o estágio pós-pico, em que se desenvolvem as P, e o estágio residual,
em que se formam falhas paralelas à faixa. Contudo, observou-se que primeira-
mente se formam as R, depois R’, as P podem se formar concomitantemente ou
em seguida a R, e finalmente acrescentando-se falhas paralelas à faixa afetada
(Y ou D), bem como aquelas designadas X.
É preciso lembrar que, com o progresso da deformação, a rotação impõe
mudança dos ângulos citados, bem como adensamento dos planos das falhas.
Além disso, os blocos separados pelas falhas têm seção losangular que diminui
progressivamente.
Na deformação não-coaxial dúctil o fluxo de materiais na direção de X ou de
s3 é tal que um elemento planar (p. ex., uma camada) sofre encurtamento ou estira-
mento, acompanhado de rotação. Se num círculo forem traçados diâmetros, acom-
panhando o comportamento deles com a deformação, verifica-se que partes se esti-
ram continuadamente, se encurtam ou primeiramente encurtam e depois estiram
(Fig. 13). O encurtamento leva a dobramento e o estiramento, a estricção e budina-
gem, o comportamento dependendo da orientação do elemento considerado.

s 3 (X)

s 1 (Z)
Deformação
crescente

2
1
1 2 3

A B C

Figura 13. Deformação não-coaxial dúctil. A: esfera, com três feições estruturais 1, 2 e 3 submeti-
das a cisalhamento destral. As cores azul, verde e amarelo indicam os campos em que feições neles
situadas deformam-se diferentemente com a progressão da deformação. B: elipsoide resultante da
deformação, indicando os eixos de tensão e de deformação s1 (Z) e s3 (X). C: as feições 1, 2 e 3 que
sofrem encurtamento (budinagem, em amarelo), encurtamento seguida de estiramento (dobra-
mento seguido de budinagem, em verde), e estiramento (dobramento, em azul).

parte 1 – tipologia estrutural 31


Esses tipos de estruturas são comuns, resultando da deformação concentra-
da em faixas de espessuras variadas, submilimétricas a quilométricas. As de pe-
quenas espessuras, de nível de amostra de mão ou de afloramento, são as bandas
de cisalhamento (Foto 9); as de espessuras maiores são as zonas de cisalhamento
não-coaxial dúctil (Foto 10).
No caso de dobras afetadas por cisalhamento desse tipo, com o progressivo
achatamento perpendicularmente a s1 e alongamento segundo s3, elas podem ter
os flancos progressivamente estirados, acabando por separar segmentos e ápices
de dobras isolados, as chamadas dobras intrafoliais (Fig. 14).

Foto 9. Bandas de cisalhamento em gnaisses Foto 10. Zona de cisalhamento em gnaisses


estromáticos da região de Granja, CE. Foto: Y. migmatíticos. A espessura é de cerca de 2 km
Hasui. de largura e extensão de centenas de quilô-
metros, em meio à qual o Rio Paraíba do Sul
se encaixou na divisa do Rio de Janeiro e Mi-
nas Gerais. Lineamento de Além-Paraíba, uma
das mais destacadas zonas de cisalhamento
transcorrente do Sudeste. Além Paraíba, RJ.
Foto: E. Salamuni.

1 2 3 4

Figura 14. Esquema de dobra (1) espessando os ápices e adelgaçando os flancos (2) até o rom-
pimento destes (3), isolando ápices cada vez mais apertados (4). As dobras isoladas são as dobras
intrafoliais. A passagem de 1 para 4 representa o processo chamado transposição, envolvendo ro-
tação gradativa para nova orientação.

32 geologia estrutural aplicada


2 Tipos principais de estruturas
Os tipos mais importantes de estruturas são resumidos a seguir.

2.1 foliação e lineação

Por foliação entende-se feição planar que controla a ruptura da rocha em fa-
tias mais ou menos finas. Ela inclui diversos tipos de feições planares do interior
de rochas ou dos maciços rochosos, podendo ser primárias, formadas durante
a sedimentação ou magmatismo (p. ex., planos de fissilidade de folhelhos, dis-
posição planar de minerais por fluxo magmático) ou secundárias (geradas por
processos tectônicos e atectônicos). Dentre as tectônicas destacam-se as apresen-
tadas a seguir.
• Clivagem ardosiana, xistosidade (xistosidade plano-axial, xistosidade em
leque) e gnaissosidade, decorrentes de orientação planar de minerais pla-
coides, alongados e agregados minerais achatados (Fig. 15). A clivagem
ardosiana é a foliação de ardósias (Foto 11), a xistosidade de xistos e fili-
tos (Foto 12), e a gnaissosidade de gnaisses (Fotos 13 e 14).
Penetratividade de uma estrutura é a sua distribuição na rocha de modo
uniforme em uma determinada escala. As foliações citadas costumam ser
penetrativas.

a
b

1 2 3 4

Figura 15. Xistosidade. Foliação definida por orientação planar de minerais placoides (1), mi-
nerais lineares (2) e agregados minerais achatados (3). 4: refração da xistosidade em camadas
de diferentes naturezas – xistosidade plano-axial (a), xistosidade em leque convergente para o
núcleo da dobra (b), xistosidade em leque divergente do núcleo da dobra (c). Em (d) camada
de composição variando de menos para mais competente do topo para a base, com xistosidade
plano-axial passando para convergente para o núcleo da dobra; as elipses representam deforma-
ção com eixos X e Y no plano da foliação.

parte 1 – tipologia estrutural 33


Foto 11. Clivagem ardosiana em ardósias do Foto 12. Xistosidade plano-axial em micaxis-
Grupo São Roque. Serra dos Cristais, Jundiaí, tos. Grupo Bambuí, Lagoa Santa (MG). Foto: E.
SP. Foto: Y. Hasui. Salamuni.

Foto 13. Gnaissosidade definida pela orienta- Foto 14. Gnaissosidade definida pela orienta-
ção de minerais máficos e agregados de felds- ção de minerais máficos e agregados de feldspa-
pato róseo e quartzo. Gnaisse do Complexo to róseo e quartzo. Hornblenda gnaisse miloní-
Amparo, Barragem de Caconde, Caconde (SP). tico, Complexo Varginha-Guaxupé, leito do Rio
Foto: Y. Hasui. Pardo, Caconde (SP). Foto: N. Morales.

• Crenulação e clivagem de crenulação – a primeira é a micro-ondulação


de rochas xistosas por ação de cisalhamento e a segunda aparece com o
progresso da deformação em forma de superfícies de cisalhamento sepa-
rando microlitons, dentro dos quais a foliação exibe micro-ondulações
cada vez mais apertadas (Fig. 16, Fotos 15 e 16). Essas superfícies de ci-
salhamento podem ter espaçamento variável e guardar relações de para-
lelismo ou de anastomoses – se maior que 1 mm elas são consideradas
como espaçadas; caso contrário, como contínuas.

34 geologia estrutural aplicada


4
1 2 3

Figura 16. A rocha (1) tem a xistosidade microdobrada (2) – esse processo é a crenulação. Na con-
tinuidade, as ondulações se tornam mais apertadas e aparecem planos de cisalhamento separando
fatias de rocha dobrada (3), seguindo-se adensamento desses planos e diminuição das dobras (4).
As fatias são os microlitons, e a estrutura é a clivagem de crenulação. Notar a rotação.

Foto 15. Micaxisto fino crenulado. Formação Foto 16. Micaxisto crenulado, mostrando os
Capiru. Almirante Tamandaré (PR). Foto: E. Sa- planos de cisalhamento que separam microli-
lamuni. tons. Formação Betari, Iporanga (SP). Foto: E.
Salamuni.

Em rochas mais competentes, como quartzitos e metacalcários, pouco ou


nada metamorfizadas, dobradas e não-foliadas, é comum aparecer super-
fícies de cisalhamento com disposição plano-axial ou convergente para
o núcleo da dobra ou dele divergente – é a clivagem de fratura (Fig. 17,
Foto 17). Essas superfícies têm espaçamentos maiores que 1 mm, sendo
referidas como espaçadas. Podem ser paralelas, anastomosadas ou estilo-
líticas (em rochas calcárias).

parte 1 – tipologia estrutural 35


Figura 17. Clivagem de fratura nas camadas Foto 17. Clivagem de fratura convergente para
superior e inferior, em ambas convergente para o núcleo da dobra. Filito, Formação Capiru, Co-
o núcleo; a intermediária tem foliação contínua lombo (PR). Foto: E. Salamuni.
divergente do núcleo da dobra.

• Bandamento composicional – é a estrutura dada por camadas de espes-


suras mili- a centimétricas alternadamente com diferentes composições
mineralógicas e/ou texturas. É comum em gnaisses, diferenciando ban-
das claras e escuras (Foto 18).
• Foliação de transposição – é a estrutura resultante de deformação rota-
cional, como as esquematizadas nas Figs. 14 e 16, o conjunto ganhando
nova orientação (Foto 19).
• Foliação milonítica – é a estrutura produzida pelo processo de miloniti-
zação durante o cisalhamento dúctil (Foto 20), dissolução por pressão ou
acamadamento fino. Essa foliação, na deformação finita, corresponde ao
plano XY (eixos de tensão s3s2) e é perpendicular a Z (eixos de tensão s1).

Foto 18. Bandamento composicional de gnais- Foto 19. Gnaisse com bandamento regular
ses migmatíticos do Complexo Atuba, Serra de produzido por milonitização e transposição ao
Itatins, Pedro de Toledo (SP). Foto: Y. Hasui. longo da Zona de Cisalhamento Transcorrente
do Rio Jaguari, Guarulhos (SP). Foto: Y. Hasui.

36 geologia estrutural aplicada


Foto 20. Foliação milonítica de gnaisses. Complexo Atuba, Balsa Nova (PR). Foto: E. Salamuni.

• Acamadamento – é definido pela disposição paralela de faixas de rochas


afetadas pelo cisalhamento de maciços heterogêneos (Fig. 21, Fotos 21 e
22). Essas faixas envolvem estiramento, encurtamento e rotação de porções
dos maciços, podendo sofrer dobramento, estricção e budinagem (Fig. 13).
As dimensões variam muito, de escala microscópica a megascópica. Ele
tem disposição no geral paralela à foliação milonítica, de modo que se pode
deduzir as orientações dos eixos XYZ (s3s2s3) na deformação finita.

Figura 18. Acamadamento. A deformação de maciços distintos resulta em produtos acamadados.


Seções transversais a Y.

parte 1 – tipologia estrutural 37


Foto 21. Acamadamento de gnaisses do Com- Foto 22. Acamadamento produzido por cisa-
plexo Costeiro definido por bandas quartzo- lhamento em quartzitos do Grupo Martinópole,
-feldpáticas claras e escuras, estas com biotita e noroeste do Ceará. Foto: Y. Hasui.
anfibólio na constituição. Paraibuna, SP. Foto:
Y. Hasui.


É importante destacar que o acamadamento é fruto da tectônica, sendo por
vezes confundida com acamamento-relíquia e não deve ser levado em con-
ta na reconstituição de arranjos e empilhamentos estratigráficos originais.
• A lineação é o alinhamento de objetos alongados, traços de feições plana-
res e suas interseções, e outros elementos lineares de feições estruturais.
Como as foliações, também podem ser primárias ou secundárias.
Das secundárias, destacam-se a desenvolvida por objetos, incluindo a
lineação mineral, definida pela disposição paralela de minerais (quartzo,
feldspatos e outros) e agregados minerais (seixos e outros), budins etc., de
formato alongado, e a lineação de estiramento (stretching lineation), de-
corrente de cisalhamento que produz alongamento desses tipos de objetos
(Fig. 19, Fotos 24 a 26). Outros tipos de lineação são dados por interseção
de estruturas planares, eixos de dobras e outros elementos geométricos.

Figura 19. Lineação dada por agregados minerais, budins ou outros objetos alongados (à esquer-
da) e minerais (à direita).

38 geologia estrutural aplicada


Foto 24. Gnaisse estruturado em planos
de foliação milonítica com lineação de es-
tiramento. Complexo Granja, Granja (CE).
(CE). Foto: Y. Hasui.

Foto 23. Gnaisses exibindo foliação milonítica com Foto 25. Quartzito com lineação de esti-
proeminente lineação de estiramento suavemente ramento. Grupo Martinópole, Martinópole
inclinada para o interior da pedreira. Pedreira, Li- (CE). Foto: Y. Hasui.
neamento Além Paraíba, Entre Rios, RJ. (CE). Foto:
Y. Hasui.


A lineação de estiramento forma-se com estiramento gradativo e co-
minuição em subgrãos e tende a se paralelizar com as bordas da faixa
cisalhada. Situa-se no plano da foliação milonítica de zonas de cisa-
lhamento dúctil e indica a direção de X (s3) da deformação finita. Em
falhas (zonas de cisalhamento rúptil) as estrias de atrito são também
lineações desse tipo.
Rochas com feições planares dominantes são os tectonitos S e as com pre-
domínio de lineação são os tectonitos L, existindo termos intermediários,
os tectonitos SL ou LS.

parte 1 – tipologia estrutural 39


2.2 dobras

As dobras são as ondulações adquiridas por feições planares (acamamento,


bandamento composicional, foliação, falha etc.), aqui importando as geradas por
esforços tectônicos. Também elementos lineares se dobram (eixos de dobras, li-
neação mineral ou de estiramento, e outros).
A Fig. 20 resume os elementos de uma dobra desenhada por uma camada.
Nessa figura os elementos estão indicados para a porção da dobra voltada para
cima; na porção voltada para baixo, eles são análogos – apenas o termo charneira
é substituído por calha. Cabe destacar que as linhas de charneira e de calha nem
sempre são as mais altas ou baixas nas dobras: estas linhas são referidas como
linhas de crista e linhas de fundo, respectivamente.
Como está indicada a polaridade estratigráfica, a figura é um par anticli-
nal/sinclinal; na posição inversa, a dobra seria um par sinclinal/anticlinal. Caso
não se conheça a polaridade, a convexidade para cima ou para baixo distingue a
antiforma (antiform, Foto 26) e a sinforma (synform, Foto 27), respectivamente.
Estes dois últimos termos dizem respeito à forma da dobra, pelo que não são ade-
quadas as traduções antiforme e sinforme que têm sido usadas com frequência.

ch
B abertura
1 2 3 linha de
a crista
li t t´
calha
amplitude
A´ A A´ A
sa linha de
comprimento fundo
sa de onda
pe

Figura 20. Elementos da dobra de uma camada. Em 1, círculos tangentes à camada com diâme-
tros máximos e mínimos tangenciam a dobra em A e B. Esses pontos marcam as linhas li e ch,
designadas linha de inflexão e charneira, respectivamente. A charneira é o eixo de dobra. As char-
neiras traçadas nos perfis das camadas sucessivas definem uma superfície sa, a superfície axial; se
ela é plana, fala-se em plano axial. Os trechos entre a charneira e as linhas de inflexão são os flancos
da dobra. A seta indica o sentido da porção ou camada mais nova: é a polaridade estratigráfica
(pe). Em 2, comprimento de onda e amplitude das dobras. As tangentes t e t´ passando por A e A´,
formam o ângulo a, que é o ângulo interflancos ou de abertura da dobra. Em 3, as linhas de crista
e de fundo são as linhas mais altas e mais baixas das dobras.

40 geologia estrutural aplicada


Foto 26. Dobra antiformal inclinada de calcá- Foto 27. Dobra sinformal em itabiritos. Mina
rios e rochas cálcio-silicáticas metamorfizadas de Gongo Soco, Barão dos Cocais (MG). Foto:
da Formação Alcantil (Grupo Itataia) na área da N. Morales.
jazida fosfático-uranífera de Itataia, Santa Qui-
téria (CE). Foto: Y. Hasui.

Anticlinórios e sinclinórios são estruturas com flancos dobrados e podem ter


grande porte. As dobras menores são as dobras parasíticas – elas são simétricas na
zona apical (tipo M), mas nos flancos são assimétricas. Essa assimetria é observa-
da com dois flancos longos separados por um mais curto, dispostos em sucessão.
O arranjo de flancos longo-curto-longo lembra um S ou um Z e permitem deduzir
a posição do eixo do sinclinório ou anticlinório (Fig. 21, Fotos 28 e 29).

Dobra
em M

Dobra
Dobra em S
em Z

Figura 21. Anticlinório. As dobras dos flancos têm perfis em S e Z e permitem deduzir os lados
onde se encontram os eixos das dobras maiores – no caso, as setas indicam o ápice do anticlinório.
As dobras apicais têm formato de M. Em azul, envoltória traçada flanqueando as dobras menores,
e em verde, envoltória média passando pelas linhas de inflexão dos flancos.

parte 1 – tipologia estrutural 41


Foto 28. Anticlinório com dobras parasíticas Foto 29. Dobra assimétrica em Z. Quartzitos
em Z no flanco esquerdo, em S no flanco direi- do Grupo Canastra, Trilha do Letreiro na Serra
to e em M na charneira. Mármore da Forma- da Canastra, São João Batista do Glória (MG).
ção Apiaí, Grupo Lajeado, Apiaí (SP). Foto: E. Foto: N. Morales.
Salamuni.

As dobras têm sido classificadas segundo a forma ou disposição dos seus


elementos geométricos. A Fig. 22 mostra algumas classificações. As Fotos 30 a 35
ilustram dobras de aberturas distintas.

0 10 30 70 120 180
Dobra Dobra Dobra Dobra Dobra Dobra Dobra
suave aberta fechada cerrada isoclinal simétrica assimétrica

Dobra Dobra Dobra Dobras de eixos e/ou Dobra Dobra


normal inclinada recumbente planos axiais inclinados reclinada vertical

Kink band Dobra em Dobra em Dobras sanfonadas Dobras Dobras


caixa leque de ápices de ápices policlinais ptigmáticas
contínuos rompidos

Figura 22. Algumas classificações de dobras.

42 geologia estrutural aplicada


Foto 30. Dobras suaves, quartzitos da Serra da Foto 31. Dobras abertas desenhadas pelo aca-
Babilônia, Grupo Canastra. Parque Nacional da mamento. Sequência turbidítica, North Cornwall
Serra da Canastra, Delfinópolis (MG). Foto: N. (Inglaterra). Foto: Luiz Felipe Nadalin.
Morales.

Foto 32. Dobra fechada desenhada pelo ban- Foto 33. Dobra cerrada e recumbente em
damento. Gnaisse estromático do Complexo quartzito bandado. Grupo Canastra, Rodovia
Caraíba, Mina de Caraíba (BA). Foto: Y. Hasui. MG 050, km 321, próximo ao acesso para a Bar-
ragem de Furnas. Foto: N. Morales.

Foto 34. Dobras isoclinais em gnaisses banda- Foto 35. Conjunto de dobras abertas a isocli-
dos da unidade pré-cambriana dos Terrenos Ja- nais desenhadas por leitos de metaturbiditos,
guaribeanos, Zona de Cisalhamento de Itaiçaba, Grupo Mulden Inferior. Vale do Rio Ubab, re-
leito seco do Rio Jaguaribe, na cidade de Itaiça- gião de Cunene (Namíbia). Foto: Marcel Leo-
ba, Ceará. Foto: N. Morales. nard Hessen.

parte 1 – tipologia estrutural 43


A classificação mais precisa segue o critério das isógonas de Ramsay (1967),
como esquematizado na Fig. 23. Uma dobra é classificada de acordo com a po-
sição da sua curva isogônica (Fig. 23A) num dos campos do gráfico da Fig. 23B.
Esses campos correspondem às classes de dobras (Fig. 23C).

C
Dobra
B supratênue
1,5
A
Classe 1a
Dobra
A 1a isópaca
C
1,0 1b
t0 X
is Classe 1b
a Y
D B Z Dobra anisópaca
1c (isógonas convergentes)
t1 0,5
Dobra anisópaca
(isógonas divergentes)
Plano Classe 1c
axial 3
2
0 Dobra
30 60 90
similar
Classe 3
Classe 2

Figura 23. Classificação de dobras pelo critério das isógonas. A: dobra de camada com espes-
sura apical to (linha AB, ligando as charneiras da dobra em uma camada). As tangentes paralelas,
traçadas em pontos como C e D, são inclinadas de um ângulo a em relação à horizontal e cuja
distância é t1. A linha CD é uma isógona. B: gráfico mostrando as relações de t1/t0 e a, demarcan-
do os campos das dobras das classes 1a, 1b, 1c, 2 e 3. Numa dobra, determinando várias isógonas,
pode-se lançar os valores de t1/t0 e a, obtendo-se pontos como X, Y, Z..., que definem uma curva
contida num dos campos separados pelas linhas vermelhas (no caso, a curva situa-se no campo
de 1c). C: padrão das isógonas das classes de dobras. Notar o aumento das espessuras apicais e
diminuição da espessura dos flancos sucessivamente de 1a para 3, indicativas de condições de
plasticidade crescente.

As classes são:
• Classe 1a: dobra de ápice adelgaçado e isógonas divergentes do ápice para
os flancos. É chamada dobra supratênue e ocorre em baixas profundida-
des, destacadamente em rochas sedimentares.
• Classe 1b: dobra desenhada por camada de espessura constante e isógo-
nas convergentes para o núcleo. É a dobra isópaca (Foto 30). Ela pode se
formar por flexão, daí ser também chamada dobra flexural. Também se
forma por compressão lateral (flambagem).
• Classe 1c: dobra anisópaca de ápice espessado e isógonas convergentes
para o núcleo (Foto 32).

44 geologia estrutural aplicada


• Classe 2: dobra anisópaca de ápice espessado e isógonas paralelas ao pla-
no axial. É a dobra similar, assim chamada por ter perfis iguais nas cama-
das sucessivas (Foto 33).
• Classe 3: dobra anisópaca de ápice espessado e isógonas divergente do
ápice para os flancos (Foto 34).

As dobras podem ter dimensões variáveis de microscópicas a quilométri-


cas. Aparecem ocasionalmente com orientações variadas, geradas por processos
deformacionais locais (p. ex., acomodando deslocamentos de falhas profundas).
Aparecendo tais dobras em âmbito regional fala-se em dobramento germanótipo
ou idiomórfico, próprio de áreas plataformais. Já em cinturões orogênicos apa-
recem dobras sucessivas (sinclinais e anticlinais, sinclinórios e anticlinórios) de
eixos e planos axiais paralelos ou subparalelos, com vergência para um ou ambos
os lados do cinturão – elas configuram o dobramento linear ou holomórfico. Ver-
gência é o sentido de transporte de massas rochosas no processo de deformação
por dobramentos e falhamentos de empurrão.

2.3 redobramento

Um evento tectônico se desenvolve por pulsos, que são as fases de defor-


mação. A deformação gerada em duas ou mais fases é dita polifásica e as fases
de deformação são estabelecidas com base em sequências de tipos de estruturas
através de relações de truncamento e superposição.
No caso de duas fases sucessivas de dobramento, os padrões geométri-
cos gerados pela superposição foram delineadas no fim da década de 1950.
A Fig. 24 resume os padrões extremos, existindo transições entre eles. Nessa figu-
ra as fases foram consideradas de intensidades semelhantes, o que normalmente
não se verifica e então se destaca a mais importante e as figuras são assimétricas.
As Fotos 36 a 39 ilustram casos de redobramento.

parte 1 – tipologia estrutural 45


2 1 3

+
2

90° Ângulo entre os eixos de D1 e D2 0°


+
3 0°
Ângulo entre a direção do plano
axial de D1 com o eixo de D2
1
Domos e bacias (Reapertamento)
ou caixa de ovos
A B
Em laços ou
C D bumerangue

2
+ 90°

3
+
Cogumelos 1 2

Figura 24. Modelos de redobramento em duas fases superpostas (D1 e D2) de intensidades se-
melhantes. 1 é a dobra original que é redobrada pela dobra 2; 3 é o produto do redobramento. Os
padrões resultantes são designados domos e bacias ou caixa de ovos, cogumelos e em laços ou bu-
merangue. O reapertamento (caso B) não cria figura geométrica diferente. Na porção central estão
indicados os padrões em cortes de afloramentos horizontais (A e C) e verticais perpendiculares
aos eixos das dobras (B e D) – eles representam os casos extremos de ângulos entre eixos de D1 e
D2 (de 0° e 90°, da esquerda para a direita) e de ângulos entre a direção dos planos axiais de D1 e
os eixos de D2 (de 0° e 90°, de cima para baixo); as setas em vermelho indicam que há transições
entre esses extremos.

46 geologia estrutural aplicada


Foto 36. Dobra redobrada em laço. Migmatito Foto 37. Dobra redobrada em laço. Dolomitos
estromático do Complexo Atuba, Quitandinha da Formação Gandarela, Rio Acima (MG). Foto:
(PR). Foto: E. Salamuni. E. Salamuni.

Foto 38. Dobra redobrada em padrão cogume- Foto 39. Dobra redobrada em padrão caixa-
los. Quartzitos e micaxistos do Grupo Andre- -de-ovos. Migmatito estromático, Complexo
lândia, Arantina (MG). Foto: Y. Hasui. Atuba, Quitandinha (PR). Foto: E. Salamuni.

É frequente o caso de uma primeira fase de dobras recumbentes, contempo-


rânea ao metamorfismo e por isso tendo xistosidade plano-axial, seguida de uma
segunda fase, de modo a haver superposição de qualquer dos casos indicados
na Fig. 24. Uma terceira fase pode ocorrer, com desenvolvimento de crenulação
e clivagem de crenulação nas rochas xistosas, seguindo-se ondulações suaves.
As feições derradeiras são falhas e juntas. Uma tal sucessão denotaria arrefeci-
mento gradativo da área, passando-se de deformações dúcteis para as rúpteis.
Outros casos existem em que foram admitidas numerosas fases superpostas que
teriam gerado um todo extremamente complicado, com variações de orientação
de eixos de tensão de difícil reconstituição e entendimento.
As fases de dobramento são identificadas com base nos padrões geométri-
cos mostrados, de superposições sucessivas em áreas limitadas sob regime de
tensão mutante. As fases costumam ser referidas pela letra F e as dobras pela letra
D, ambas com índices indicando a sucessão (p. ex., F1, F2 ... ou Fn, Fn+1 ...; D1, D2,
D3 ... ou Dn, Dn+1 ...). Elementos associados também têm sido indicados por letras:

parte 1 – tipologia estrutural 47


lineações por L (L1, L2, L3, ...) e planos (S1, S2, S3 ...). S0 é utilizado para representar
o acamamento quando identificado.

2.4 juntas

As juntas são descontinuidades sem deslocamento e atrito dos blocos, que


se apresentam em superfícies, geralmente planas, dispostas paralela a subparale-
lamente e separando fatias de rochas. Esse conjunto é uma família de juntas. As
Fotos 40 e 41 mostram casos de uma e três famílias de juntas. O termo diaclase ou
diáclase é sinônimo de junta, mas usualmente tem sido reservado para se referir
a fraturas em rochas ígneas, que se formam com o seu esfriamento, e em rochas
sedimentares, enquanto junta o é para as fraturas geradas por esforços tectônicos.

Foto 40. Uma família de juntas verticais/sub- Foto 41. Três famílias de juntas entrecruzadas,
verticais com espaçamento decimétrico em mig- de espaçamentos decimétricos, separando pa-
matitos. Granitoide Ibiúna afetado pela Zona ralelepípedos de quartzito do Grupo Canastra,
Transcorrente de Caucaia na escavação que Serra da Arnica, Ipameri (GO). Foto: Y. Hasui.
foi aberta para construção da estação Pinhei-
ros do Metropolitano de São Paulo, S. Paulo.
Foto: Y. Hasui.

Em geral, aparecem várias famílias de diferentes orientações entrecruzan-


do-se, constituindo um sistema de juntas, que separa blocos poliédricos de dife-
rentes formatos geométricos e tamanhos. Elas podem se formar por ação de ten-
sões regionais, comparecendo com orientações semelhantes por grandes áreas.
Também podem se formar localmente, associadas a dobras flexurais e a falhas
(juntas penadas, Fig. 25 e Foto 42).
A nomenclatura das juntas é variada, existindo diversos critérios de clas-
sificação (relação com outras estruturas a que se associam, arranjo geométrico,
origem, finalidade). As direções em que se formam juntas de distensão ou de
partição (T) e de cisalhamento foram mostradas anteriormente (Figs. 9 e 12).

48 geologia estrutural aplicada


Z
X

Elipse de
deformação

Figura 25. Falha normal com desenvolvimento de juntas penadas nos dois blocos. A elipse de
deformação mostra as orientações da falha e de XZ – as junta penadas são paralelas a Z.

Foto 42. Zona de falha normal, com faixa de rochas cataclásticas associada, representando brecha
de falha, e juntas penadas na capa. Rodovia MG-050, km 322, próximo à Barragem de Furnas.
Passos (MG). Foto: N. Morales.

Os planos de famílias de juntas nunca são estritamente paralelos. A causa


certamente é de que elas não se formam instantaneamente, mas gradativamente,
de tal modo que a formação de uma influi no ângulo das seguintes em relação a
s1. Essa variação de orientação é acompanhada de espaçamentos distintos. Isso
torna necessário utilizar procedimentos estatísticos para se determinar a orien-
tação preferencial média das juntas de uma família e das famílias entrecruzadas,
bem como os espaçamentos médios. Com isso, pode-se determinar o bloco uni-
tário, com as orientações gerais de suas faces e suas distâncias médias. Essa ca-
racterização do fraturamento de maciços rochosos por juntas é importante para
aplicações práticas diversas.
As famílias não têm expressão uniforme em escala de afloramento ou de
área, apresentando variações de geometria (planar ou curviplanar), superfície
(áspera ou lisa), espaçamento entre os planos (variando de milímetros a metros),
continuidade das descontinuidades (mensurável em centímetros a metros), grau

parte 1 – tipologia estrutural 49


de abertura (aberta ou fechada), preenchimento, alteração das paredes, percola-
ção de água e outros aspectos de interesse geotécnico.

2.5 falhas

As falhas, paráclases ou zonas de cisalhamento rúptil são descontinuidades


ao longo das quais os blocos deslocaram atritando-se um contra o outro. As super-
fícies de atrito são os planos de falha (Fotos 43 a 46). No atrito, os grãos minerais
são cominuídos muito finamente, formando uma farinha de falha, geralmente de
cor escurecida e polida pelo atrito. A superfície lisa e brilhante assim formada é o
espelho de falha. Grãos de minerais ou porções mais resistentes formam sulcos no
espelho de falha durante o atrito, que são as estrias de atrito. Se o deslocamento
afetar porções dos blocos separados, formam-se faixas de rochas cominuídas que
são as zonas de falha, zona de dano (damage zone) ou caixa de falha.

Foto 43. Estrias de atrito (slickensides) de plano Foto 44. Estrias de atrito sobre espelho de fa-
de falha transcorrente sinistral em metacalcá- lha transcorrente destral marcado por óxido de
rio. Mineração Santa Susana, Tiradentes (MG). manganês em rochas sedimentares da Forma-
Foto: N. Morales. ção Ponta Grossa. Rodovia BR-153, Tibagi (PR).
Foto: N. Morales.

Foto 45. Estrias de atrito de falha transcorrente Foto 46. Estrias de atrito de falha normal. Már-
destral. Gnaisse granítico, Batólito Florianópo- more da Formação Votuverava, Pedreira Santo
lis, Imbituba (SC). Foto: N. Morales. Olavo, Rio Branco do Sul (PR). Foto: E. Salamuni.

50 geologia estrutural aplicada


As falhas passam de rúpteis para dúcteis ao se aprofundarem na crosta
(Fig. 6), ali formando zonas de cisalhamento dúctil. O campo rúptil situa-se na
crosta superior, ocorrendo a fragmentação incoesa nos primeiros quilômetros
de profundidade, passando para coesa daí para baixo, existindo vários tipos de
produtos de segmentação e cominuição.
Muitas classificações de produtos da zona da falha foram propostas desde a
de Higgins (1971) e houve intensa discussão de processos, sendo uma das mais
adotadas a de Sibson (1977). O Tabela 1 mostra uma classificação que considera
os termos utilizados mais correntemente.

Tabela 1. As série cataclástica e milonítica e outros materiais gerados nas zonas de cisa-
lhamento rúptil e dúctil.
Produtos % matriz
Brecha de falha
Série cataclástica incoesa
Farinha de rocha
Brecha tectônica 0-10
Rúptil
Protocataclasito 10-50
Série cataclástica coesa
Cataclasito 50-90
Ultracataclasito 90-100
Protomilonito 0-50
Dúctil Série milonítica Milonito 50-90
Ultramilonito 90-100
Fusão e mobilização para fraturas Pseudotaquilito
Recrisalização pronunciada Blastomilonito
1 ou 2 foliado, com quartzo e micas Filonito

As rochas da série cataclástica e têm tipos classificados de acordo com a coe-


são e os fragmentos cominuídos. Elas têm fragmentos (porfiroclastos) em uma
matriz fina resultante de cominuição, podendo ser coesas ou não, sempre envol-
vendo aumento de volume (empolamento) e podendo estar cimentados ou não
por precipitados de soluções percolantes.
Abaixo do horizonte dessa série passa-se para o campo dúctil através de
uma zona de transição com incidência de transformações metamórficas de inci-
pientes até de fácies xisto-verde. A cominuição dúctil desenvolve a série miloní-
tica, com alguns produtos classificados de acordo com as proporções de matriz e
com metamorfismo de fácies xisto-verde a mais alta.
Acrescentam-se três termos particulares:
• o pseudotaquilito, que é uma rocha de granulação ultrafina e cor escura,
gerada por fundidos resultantes de aquecimento que formam veios preen-
chendo fraturas abertas na zona de falha ou junto a ela. Ele inclui vidro e
microfragmentos. O nome deve-se à aparência semelhante à do taquilito;

parte 1 – tipologia estrutural 51


• o blastomilonito, que diz respeito a rocha milonítica fortemente recris-
talizada;
• o filonito, que é milonito ou ultramilonito foliado, formado principal-
mente por quartzo e micas, lembrando filito ou xisto fino. É também
chamado milonito hidratado por se formar envolvendo dissolução por
pressão, metassomatismo e hidrotermalismo.

Para fins de descrição, as falhas são classificadas segundo vários critérios geo-
métricos, de movimentação e origem. A classificação de Anderson (1951) baseia-se
na orientação dos eixos do regime de tensão gerador. Nessa classificação, conside-
ra-se que o sistema de eixos principais de tensão tem um deles na posição vertical
e dependendo de qual seja ele, as falhas podem ser de três tipos, com orientação e
mergulhos diferentes: normais, de empurrão e transcorrentes (Fig. 26).
Os tipos básicos de falhas são (Fig. 27):
• falhas normais, em que a capa (bloco superior, teto) desce e a lapa (bloco
inferior, muro) sobe (Fotos 47 e 48). O mergulho é da ordem de 60°. São
também chamadas falhas de gravidade, pelo fato de a capa se abater por
efeito da gravidade;
• falhas de empurrão, de cavalgamento ou inversas, em que no movimento
relativo a capa sobe e a lapa desce (Fotos 49 e 50). Seus mergulhos são
baixos. Podem aparecer falhas com mergulho maior, acima de 45°: a são
chamadas falhas reversas;
• falhas transcorrentes, de rejeito direcional ou de rejeito lateral, que têm
movimentos relativos horizontais (Fotos 51 e 52). Como o ângulo de
mergulho é vertical, não se distinguem capa e lapa.

A s3 C s2
s1 B

90°
60°
30°
s3 s1 s3

s2 s2 s1

Figura 26. As falhas e os sistemas de eixos de tensão segundo o modelo de Anderson (1951).
As falhas possíveis contêm s2 e, se o ângulo q é de 30°, os mergulhos são de 60°, 30° e verticais.
Os pares conjugados de falhas são de tipos normal (A), de empurrão (B) e transcorrente (C). Em
A o círculo amplia aspecto do plano de falha, mostrando estrias de atrito e ressaltos transversais.
Observar que os três blocos são iguais e estão apenas rotacionados de 90°, de modo a colocar um
eixo de tensão na vertical. Notar também os movimentos relativos dos blocos, com abatimento,
acavalamento e deslocamento horizontal de blocos.

52 geologia estrutural aplicada


Figura 27. Tipos de falhas: normal (A), de empurrão (B) e transcorrente (C).

As falhas verticais com movimentos inclinados a verticais não se enqua-


dram nessas categorias, do mesmo modo que as falhas horizontais. Elas são des-
critas mencionando a postura e a orientação dos deslocamentos.
A identificação da falha é feita por indicadores, dos quais os diretos são o
plano e espelho da falha, o material cominuído (Foto 44), as estrias de atrito (Fo-
tos 43 a 46), ressaltos (Foto 45 e 46), truncamentos e dobras de arrasto (Foto 6).
Muitos outros critérios existem, mas indiretos (mudanças de litotipos, de estilo
estrutural, expressão no relevo e outros).
O deslocamento dos blocos pode ser (1) oblíquo sinistral, levógiro ou
anti-horário, (2) destral, dextrógiro ou horário, e (3) frontal em relação à direção
da falha (Quadro 1). Podem ser distinguidos os movimentos (1) convergentes
destrais, sinistrais e frontais, (2) divergentes destrais, sinistrais e frontais, e (3)
direcionais destrais e sinistrais.

Foto 47. Falhas normais em arenitos, pelitos Foto 48. Falhas normais, com forte bascula-
e caulim da Formação Itapecuru, Alcântara mento das camadas, definindo um horste. Are-
(MA). Foto: Y. Hasui. nitos da Formação Pindamonhangaba da Bacia
de Taubaté, trevo da Rodovia Carvalho Pinto,
km 125, Taubaté (SP). Foto: N. Morales.

parte 1 – tipologia estrutural 53


Foto 49. Falha inversa em depósitos cenozói- Foto 50. Falhas inversa. Formação Capiru
cos, Areado (MG). Foto: N. Morales. sobre paleosolos recentes, Campo Largo (PR).
Foto: E. Salamuni.

Foto 51. Falhas transcorrentes no Grupo Tau- Foto 52. Zona de falha transcorrente, desta-
baté, Taubaté, SP. Foto: Y. Hasui. cando planos com proeminente lineação de es-
tiramento. Gnaisse do Complexo Atuba, Balsa
Nova (PR). Foto: E. Salamuni.

Vista em planta Vista em perfil


com movimentação com movimentação
Forças Falhas sinistral destral frontal destral frontal
sinistral
Falhas de
empurrão
Compressão (mergulho <45°)
e reversas
(mergulho >45°)

Distensão Falhas
normais

Falhas
Cisalhamento transcorrentes

Falha Sentidos de movimentação dos blocos Bloco que se aproxima do observador


Movimentos relativos das falhas Bloco que se afasta do observador

Quadro 1. Tipos de falhas principais. Olhando em planta, os movimentos podem ser oblíquos
sinistral ou destral e frontal em condições de distensão e compressão; nas falhas transcorrentes são
sempre oblíquos. Olhando a falha em perfil, os blocos se aproximam ou se afastam do observador,
exceto nos movimentos frontais, indicando o sentido do movimento.

54 geologia estrutural aplicada


2.6 bandas e zonas de cisalhamento dúctil

Outra feição comum e muito importante é decorrente da concentração da


deformação dúctil em faixas.
O tipo mais comum é aquele resultante de processos de cisalhamento dúc-
til não-coaxial. Tendo espessuras milimétricas e submilimétricas (Fotos 7 e 8),
são chamadas bandas de cisalhamento (shear bands) ou bandas S (S bands). As
mais espessas são as zonas de cisalhamento dúctil (shear zones, Fotos 10, 19, 22 e
23). Os blocos laterais se deslocam um em relação ao outro em sentidos opostos,
como nas falhas, mas o deslocamento é acomodado mediante cominuição de mi-
nerais e ajuste plástico nessas bandas ou zonas. As rochas formadas são da série
milonítica e quando fortemente recristalizadas são blastomilonitos (Tabela 1);
Também existem aquelas formadas por diminuição de volume. São chama-
das bandas P (P-bands), faixas ou zonas de dissolução (solution seams, pressure
solution stripes). Elas se formam por dissolução sob pressão de materiais da rocha
ao longo de faixas. As soluções migram carreando componentes e deixando resí-
duos insolúveis, principalmente de minerais máficos. Geometricamente elas são
parecidas com as anteriores.
Esses dois tipos podem apresentar combinação, em que incide o cisalha-
mento não-coaxial dúctil e dissolução parcial por pressão. Trata-se das bandas
PS (PS bands).
As bandas e zonas de cisalhamento dúctil desenvolvem-se pela atuação de
fatores diversos, como a existência de anisotropias, percolação de fluidos, inci-
dência de cominuição que facilita os mecanismo de deslizamentos inter e intra-
granulares e concentração de calor gerado pela própria deformação (strain hea-
ting), os quais incidem localmente e promovem o abrandamento da resistência
das rochas, facilitando a deformação (strain softening).
Muitos aspectos das zonas de cisalhamento dúctil têm sido descritos e al-
guns mais importantes são mencionados em seguida.
• A foliação milonítica e a lineação de estiramento que se formam (Fotos
22 e 25) são oblíquas às bordas da faixa cisalhada (Fig. 28A) e o ângulo
tende a diminuir com o incremento da deformação.
A foliação milonítica é dada pela disposição planar de grãos, subgrãos e
agregados granulares produzida pelo fluxo plástico (Fig. 28B). O plano
XY (s3s2) da deformação finita corresponde ao plano da foliação, e o eixo
Z (s3) é perpendicular a ele. A lineação de estiramento é definida pelo
eixo maior de componentes estirados, sendo paralela a X (Fig. 28C).
Nos casos mais simples de zona de cisalhamento, a distribuição da deforma-
ção é tal que aumenta à medida que se adentra no seu interior (Figs. 28 e 29).

parte 1 – tipologia estrutural 55


A
L

Protomilonito
Rejeito

Espessura

Milonito
Z B
X

Ultramilonito
Y X//L
C
Lineação de
Foliação estiramento (L)
milonítica

Figura 28. Zona de cisalhamento dúctil. A: zona de ci- Figura 29. Porção de uma zona de cisa-
salhamento inversa e lineação de estiramento. B: seção lhamento não-coaxial dúctil mostrando
paralela à lineação de estiramento. Os círculos indicam o incremento da cominuição da borda
as rochas indeformadas e as elipses, na faixa de rochas (topo) ao centro (base), passando de pro-
deformadas com graus de deformação crescentes da tomilonito a milonito e ultramilonito.
borda para o meio. As linhas cruzadas correspondem às
direções de X (s3) e Z (s1). Estão indicados a espessura
da zona de cisalhamento dúctil e o rejeito. C: esquema da
foliação milonítica, formada pelo fluxo plástico no plano
XY, e a lineação de estiramento (L) paralela a X.

Nos casos de zonas de cisalhamento mais espessas e deformação heterogê-


nea, de início o fluxo ocorre ao longo de bandas de cisalhamento de orientações
segundo R e R´ (e possivelmente P, Y e X), que se anastomosam e formam uma
trama de amêndoas e sigmoides, configurando o padrão amendoado ou sigmoi-
dal (Fig. 30, Fotos 53 a 55). Essas lentes e amêndoas têm porções de rochas me-
nos deformadas e até mesmo podem ter preservadas em seu interior estruturas
preexistentes (acamamento So, foliação S etc.). Com a progressão, as bandas de
cisalhamento se ampliam e as amêndoas e os sigmoides tendem a tornar cada vez
menores. A foliação rotaciona no sentido de se paralelizar com as bordas da faixa
afetada pelo cisalhamento.
• A deformação de maciços heterogêneos, além da foliação milonítica,
gera outras foliações, como xistosidade (Fig. 15, Foto 7), acamadamento
(Fig. 21 e 22) e o bandamento composicional (Fotos 10 e 19).

56 geologia estrutural aplicada


• A deformação finita deve ser vista como produto de uma deformação
progressiva e rotacional. Assim, o sistema de eixos de tensão ou de defor-
mação são rotacionados incrementalmente.
O fluxo plástico pode ser uniforme, mas ele é via de regra perturbado em
função de heterogeneidades das rochas e dos minerais envolvidos, decor-
rendo encurtamentos, estiramentos e rotações sucessivos e a geração de
tipos de estruturas diferentes com superposições, reativações e transposi-
ções. Esses processos são mais importantes do que os dobramentos sucessi-
vos nos cinturões orogênicos profundamente erodidos, como os do Brasil.

Figura 30. Padrão amendoado. A: mapa estrutural da região de Águas de Lindóia (SP). Sigmoides
com dobras da foliação definidas por observações de campo, orientações (190 atitudes em 140 km2)
e lentes quartzíticas (Hasui et al. 1988). B: mapa de parte do Complexo Lewisian da região de Tor-
ridon (Escócia), mostrando o padrão amendoado, destacando áreas de maior e menor deformação
(Wheeler et al. 1987). C: esquema de sigmoide, mostrando a disposição da lineação de estiramento
e dos eixos de deformação.

parte 1 – tipologia estrutural 57


Foto 53. Estrutura amendoada em gnaisse pré- Foto 54. Estrutura amendoada em gnaisse
-andino, vista em escala mesoscópica. Uspallata milonítico álcali-granítico (alaskito), vista em
(Argentina). Foto: E. Salamuni. escala menor. Zona de Cisalhamento Campo
do Meio, Complexo Varginha-Guaxupé, Monte
Santo de Minas (MG). Foto: N. Morales.

Foto 55. Estrutura amendoada em micaxisto da Formação Betara, vista em escala microscópica.
Núcleo Betara, Itaperuçu (PR). Foto: E. Salamuni.

• Muitas são as feições de escala microscópica observadas nas zonas de


cisalhamento não-coaxial dúctil. Dentre elas podem ser citadas: (1) mi-
nerais com estrutura em moldura formada por grãos com bordas de sub-
grãos; (2) minerais ou agregados de minerais fortemente estirados, com
limites entre os grãos perpendiculares às suas maiores dimensões (rib-
bons); (3) grãos rotacionados, com zonas de sombra de pressão; (4) grãos
com inclusões indicando crescimento antes e durante rotação; (5) grãos
com extinção ondulante que evolui para kinks, geminações, lamelas e até
separação de subgrãos; (6) microdobras, estricção, budinagem e bandas
de cisalhamento geradas pelo fluxo plástico; (7) feições de dissolução por
pressão; (8) grãos de seção pisciforme, principalmente em micas (mica
fish); (9) feições de recuperação, recristalização e neoformação de mine-
rais (p. ex., Passchier & Trouw 2005). Em escala macroscópica e megas-
cópica também várias feições são observadas.

58 geologia estrutural aplicada


Dentre tantas feições, as mais importantes são aquelas que indicam ro-
tação e o sentido desta, sendo referidas como indicadores de rotação, in-
dicadores cinemáticos ou critérios de rotação. Dentre elas destacam-se:
(1) estruturas S-C definidas pela relação de bandas ou zonas de cisalha-
mento (C) em ângulo com uma foliação preexistente (S), tendo C fletido
S por arrasto, de modo a indicar o se sentido de movimento (Fig. 31 e
Fotos 7 e 9); (2) dobras de arrasto desenvolvidas nos dois lados da faixa
cisalhada (Foto 7); (3) grãos minerais de tipo pisciforme (p. ex., micas).
Outros critérios são utilizados, mas exigem precaução, como é o caso de
grãos maiores (porfiroclastos) com caudas assimétricas de subgrãos, cuja
assimetria é frequentemente utilizada para indicar o movimento, quando
na realidade podem resultar de rotação ou de cominuição desses grãos
por cisalhamento em bordas opostas.
• No interior da zona de cisalhamento dúctil é possível encontrar ele-
mentos planares e lineares preexistentes incorporados na deformação
(p.ex., acamamento) e outros que são gerados em diferentes momentos
no processo de deformação dúctil, rotacional e progressiva (p.ex., veios
de quartzo ou quartzo-feldspáticos). Dependendo da orientação origi-
nal desses elementos, eles podem se comportar como mostra a Fig. 14.
A Fig. 32 esquematiza os casos de dobras preexistentes no maciço, que,
dependendo da sua orientação, podem ser apertadas, estiradas ou aper-
tadas e em seguida estiradas.
• Dobras preexistentes podem ser envolvidas em zona de cisalhamento
não-coaxial dúctil e também ser estiradas ou encurtadas (Fig. 33).
• Lineações preexistentes também são estiradas ou encurtadas. A Fig. 34
esquematiza alguns casos.

C
2 cm

Figura 31. Estrutura S-C em gnaisse milonítico. Acima, S é uma foliação afetada por C. Notar
escala. Abaixo, detalhe de S e C, mostrando porfiroclastos de feldspatos envoltos por massas de
quartzo e mica. Baseado em Ramsay & Hubert (1987).

parte 1 – tipologia estrutural 59


A B C

Figura 32. Deformação de uma feição linear ou tabular dentro da zona de cisalhamento. A dispo-
sição prévia da feição em relação à faixa deformada controla o seu comportamento dobrando (A),
dobrando e em seguida estirando (B) ou estirando (C).

0 1 3 6 10

Figura 33. Deformação de dobras preexistentes em zona de cisalhamento dúctil não-coaxial. A


zona de cisalhamento é destral. Em A, as dobras são apertadas gradativamente; em B, elas são esti-
radas, tendendo a ser desfeitas: o comportamento depende da orientação prévia em relação à zona
de cisalhamento. Os números indicam os valores de g. Baseado em Skejernaa (1980).

c´ b´
b c
a

Figura 34. Deformação de lineações preexistentes em zona de cisalhamento dúctil. O prisma


original é deformado no poliedro alongado e as lineações são estiradas (linhas coloridas); não foi
representado o caso de encurtamento.

60 geologia estrutural aplicada


• Dobras aparecem nas zonas de cisalhamento dúctil e, além daquelas que
geradas nos processos acima citados, podem ser formadas por arrastos
das porções marginais da zona de cisalhamento e também nucleadas por
perturbações de fluxo plástico devidas a anomalias locais, como irregu-
laridades, zonas de estricção, budins, lentes de rochas, bolsão de quartzo,
como esquematizado por A a D na Fig. 35.
As dobras geradas por perturbações de fluxo plástico são assimétricas,
com vergência para o rumo do deslocamento e os eixos têm direções va-
riáveis que dependem da rotação (Fig. 35E); com a progressão da defor-
mação, os flancos tendem a ser estirados e romper, e os planos axiais a se
paralelizar com XY e os eixos com X.
Sendo a deformação heterogênea, os pontos do eixo de uma dobra se
deslocam diferencialmente e ele se encurva, podendo chegar ao extremo
de ganhar forma de U, cujas pernas são paralelas a X (Fig. 35F). Essa é
a dobra em bainha (sheath fold), típica de zonas de cisalhamento dúctil.
Elas aparecem no interior de sigmoides, não havendo sucessão regular
de tais feições formando trens de dobras. Em corte transversal a seção é
elítica e é chamada dobra em olho (eye fold) (Fig. 35G, Fotos 56 e 58).

A C

B D

G
F

Figura 35. Dobras geradas na zona de cisalhamento não-coaxial dúctil. Alguns fatores que
perturbam o fluxo plástico, nucleando dobramento: em A, irregularidade em contato; em B,
presença de objeto (p.ex., seixo); em C, zona de estricção; em D, aparecimento de budins.
E: a dobra nucleada tem seu eixo e plano axial alterando em função da deformação crescente.
F: dobra se desenvolvendo com deformação variável e ganhando geometria encurvada e alongada
na direção de X, formando dobras em bainha. G: seção de uma dobra em bainha, sendo a elipse
chamada dobra em olho.

parte 1 – tipologia estrutural 61


Foto 56. Seção transversal de dobra em ba- Foto 57. Seção transversal de dobra em bainha
inha de gnaisse bandados do Complexo Granja, de quartzitos do Grupo Andrelândia, Andrelân-
Granja (CE). dia (MG). Fotos: Y. Hasui.

Como na deformação da zona de cisalhamento dúctil o fluxo se processa


progressivamente na direção de X, pode-se entender que dobras geradas
em um momento, com eixos perpendiculares e oblíquos a ele, podem ser
deformadas por dobras formadas em momento posterior.
Se há recristalização síncrona dobras adquirem foliação plano-axial.
O estiramento segundo X adelgaça os flancos, chegando à separação de
ápices e porções dos flancos, gerando dobras intrafoliais e budins.
Pode-se encontrar dobras de diferentes estilos, preexistentes, neoforma-
das com ou sem foliação plano-axial, desenhadas por foliação formada
em momento anterior, com um ou ambos os flancos rompidos, com dife-
rentes padrões de redobramento e eixos de orientações variadas.
Em um mesmo afloramento pode-se observar dobras geradas em mo-
mentos sucessivos de deformação, mas a correlação de dados de aflora-
mentos sucessivos e a regionalização de fases de deformação superpostas
não são simples e não podem ser baseadas apenas em aspectos geométri-
cos de dobras.
• Uma deformação que envolva deslocamentos diferenciais ao longo da fo-
liação milonítica da zona de cisalhamento, leva a deformação da lineação
de estiramento (Foto 58).

62 geologia estrutural aplicada


Foto 58. Lineação de estiramento no plano de milonitização de quartzito do Grupo Martinópole,
Martinópole (CE). Foto: Y. Hasui.

• Outro aspecto a lembrar é o do metamorfismo nas zonas de cisalhamento


não-coaxial dúctil. Ele pode alcançar as fácies anfibolito alta e granulito,
quando se torna possível a anatexia e até palingênese, gerando mobiliza-
dos que migram carreando componentes das rochas. A par disso, na de-
formação dúctil é comum haver redução de volume, que implica também
mobilização de fluidos. Muitas são as feições indicativas de mobilização
de fundidos, soluções e fluidos pneumatolíticos e hidrotermais, como
muitas estruturas de migmatização, recristalização com hidratação, for-
mação de veios e bolsões quartzo-feldspáticos, de quartzo e de outros mi-
nerais, formação de sulfetos disseminados, alterações de rochas e outras.
Havendo mobilizações de um local para outro dentro das zonas de cisa-
lhamento e também para fora delas, resultam mudanças geoquímicas e
mineralógicas importantes nas rochas afetadas, o que impõe limitação às
considerações de sistemas fechados ou isoquímicos. Também, mobilizados
podem formar concentrações minerais importantes disseminadas ou em
bolsões, veios e ore shoots aproveitando feições estruturais como fraturas de
rochas mais competentes, zonas de sombra de pressão e aberturas criadas
por distensão. No Brasil são conhecidas várias jazidas que têm relação com
esse mecanismo, como diversas mineralizações de ouro, a jazida de cobre
do Salobo e a de esmeralda de Santa Terezinha, por exemplo.

parte 1 – tipologia estrutural 63


3 Análise e síntese estrutural
Cada tipo de estrutura é analisado quanto a sua geometria (forma, distri-
buição e orientação espacial), cinemática (processo de deformação e os eixos de
deformação) e dinâmica (tensões ou forças deformadoras).

3.1 diagramas de dados estruturais

Na análise geométrica, a forma, distribuição espacial, bem como a idade


relativa (ou absoluta, se disponível), são apresentadas em termos descritivos.
A orientação espacial envolve a determinação de atitudes de estruturas planares
ou lineares, representadas por direção, mergulho, sentido de mergulho e sentido
de movimentação.
Para indicar variações de direções ou mergulhos podem ser utilizadas rosá-
ceas ou histogramas. Em geral, a representação é feita em diagramas de projeção
esférica (estereogramas). Cabe lembrar que as atitudes de planos e de retas pode
ser feita pela notação Brunton (ou americana) e Clar – por exemplo, os planos
N30E/75NW e N40W/60SW correspondem a N-300/75 e N-230/60, e as retas
N30E/40NE e N50W/40SE correspondem a N-30/40 e N-130/40, respectivamen-
te nas duas notações.
A projeção esférica considera um plano (ou uma reta) paralelo ao real que
passa pelo centro de uma esfera de referência – o traço desse plano (ou o polo
da reta) na superfície do hemisfério inferior da esfera, é projetado no plano do
equador utilizando como ponto de vista o polo norte da esfera: as projeções são
arcos de círculo representando a projeção ciclográfíca (ou pontos, representan-
do a projeção polar). Essa projeção é referida como estereográfica ou, de forma
simplificada, estereograma. Na Geologia Estrutural consideram-se os elementos
situados no hemisfério inferior, o polo norte como ponto de vista e a projeção no
plano do equador, como esquematiza a Fig. 36.
Se forem traçados planos com ângulos de 2° entre eles e que se intersectem
segundo um eixo situado no equador, as projeções estereográficas serão arcos de
círculos, referidos como círculos máximos. Outro conjunto de planos verticais
pode ser traçado perpendicularmente a esse eixo, com distâncias angulares de
2° medidos na superfície da esfera – as projeções desses planos são arcos de cír-
culos transversais, referidos como círculos mínimos. Cada um desses dois con-
juntos tem um plano vertical; esses planos projetam-se transversalmente entre si
e dividem o equador em quatro setores e suas extremidades indicam os pontos
cardeais principais das projeções (N, S, E, W). O conjunto desses arcos de círculo

64 geologia estrutural aplicada


constituem o Diagrama de Wulff, em que cada divisão é de 2x2°, com áreas dis-
tintas (Fig. 37A). Ele mostra ângulos e relações angulares verdadeiros entre pla-
nos e retas, sendo usado correntemente na Cristalografia.

Zênite
Projeção estereográfica
do plano P
N N (círculo máximo)

Projeção Projeção
estereográfica estereográfica
da linha L do plano P
B
7'
5' Projeção estereográfica
7
6' da linha L (polo)
W E W E
4'
3'
2'
1'
A 6

Projeção linha L 2 5
esférica da 3
linha L 4
Projeção
esférica do
Hemisfério plano P
inferior S S

ESFERA DE REFERÊNCIA PLANO DO EQUADOR

Figura 36. Projeção esférica de uma reta L e um plano P. A reta, passando pelo centro da esfera de
referência, intersecta a esfera no ponto que é sua projeção esférica. Ligando esse ponto ao norte N
da esfera, determina-se o ponto no plano do equador que é a projeção estereográfica de L. O plano
P, passando pelo centro da esfera, determina na sua superfície o arco que é a sua projeção esférica.
Pontos 1, 2, 3, ... desse arco, ligados ao polo norte da esfera, determinam os pontos 1´, 2´, 3´, ... que
desenham um arco no plano do equador – este arco representa a projeção ciclográfica do plano P.
À direita mostra-se a projeção estereográfica ou estereograma de P e L.

A construção do diagrama pode ser feita de tal modo que áreas de 2x2° na su-
perfície da esfera de referência se projetem como áreas iguais no plano do equador,
resultando o Diagrama de Schmidt-Lambert ou Diagrama de Igual Área (Fig. 37B).
A Fig. 37C compara-o com o de Wulff. Ele destina-se, além de projeções de planos
de retas, a tratamentos estatísticos de dados e determinação de médias de atitudes
variadas, sendo correntemente utilizado em Geologia Estrutural. Em tratamentos
estatísticos de polos, a determinação da distribuição deles é facilitada pelo uso de
diagramas de áreas unitárias ou dispositivos demarcadores delas.
A projeção estereográfica pode ser simplificada com o uso do Diagrama
Polar (Fig. 37D), que é um diagrama equatorial dos traços de planos verticais que
contêm o eixo vertical (traços radiais) e dos traços de planos perpendiculares ao
eixo vertical afastados entre si de 2° medidos na superfície do hemisfério inferior
da esfera de referência (círculos concêntricos). Ele permite projetar os polos de
planos e retas de forma mais simples e rápida.

parte 1 – tipologia estrutural 65


N
A B

W E

S
C D

Figura 37. Diagrama de Wulff (A) e Diagrama de Schmidt-Lambert ou de igual área (B). Em C,
comparação dos diagramas de Wulff (metade esquerda) e de Schmidt-Lambert (metade da direita).
Em C, Diagrama Polar. Para melhor visualização das figuras, as divisões mostradas são de 2x2°.

Os procedimentos para projeção de dados estruturais e seus processa-


mentos podem ser encontrados em muitas obras que abordam as projeções
estereográficas, como, por exemplo, Carneiro (1996), Davis e Reynolds (1996),
Phillips (1971) e Lisle & Leshon (2004) e Carneiro et al. (2018). Diversos progra-
mas permitem o processamento digital de dados de planos e linhas, como o Stereo-
Net (Allmendinger 2019, Cardoso & Allmendinger 2013) e o Stereo32 (Röller &
Trepman 2003).

3.2 orientações preferenciais

Para uma população de dados estruturais pode-se determinar a orientação


preferencial, dominante ou média de uma ou mais famílias de feições.
Para isso, os dados polares de lineações ou de planos são plotados no Dia-
grama de Schidt-Lambert. A distribuição de polos é considerada numa malha de
áreas iguais e eles são contados em cada unidade de área. Os números permitem
traçar curvas de isofrequência, que indicam as concentrações maiores de dados,
delas se obtendo as orientações preferenciais.

66 geologia estrutural aplicada


Tal processamento pode ser feito manualmente (Fig. 38), com o uso de dia-
gramas de contagem (Fig. 39) ou digitalmente com o uso de diversos dos progra-
mas já citados.
Para a contagem manual é necessário:
• preparar (1) uma base quadriculada nas direções NS e EW em partes de 1/20
do diâmetro do círculo, e (2) um contador de papelão, com dois círculos de
raio de 1/10 do diâmetro (1% da área do diagrama) diametralmente opostos,
com uma ranhura central, cortados como se vê nas Figs. 38A e B;
• colocar a base sob o estereograma (desenhado em papel transparente) e
sobre este outra folha de papel transparente. O conjunto é perfurado no
centro por um percevejo de baixo para cima (Fig. 38B);
• centrar um círculo do contador em um ponto de interseção da base
(Fig. 38A) e anotar na folha transparente o número de polos na área no
centro do quadrado. Para pontos da base que se situam nas bordas do
diagrama o contador é deslocado com o percevejo na ranhura, de modo
posicionar um dos dois círculos numa interseção da base (Fig. 38B); os
polos contidos nos dois círculos são anotados na folha transparente nos
centros dos dois círculos;
• traçar curvas de isofrequência na folha transparente, considerando que
os números de polos correspondem à distribuição deles em áreas de 1%
do estereograma (Fig. 38C). Notar que as curvas de isofrequência que
chegam à borda do estereograma têm continuidade na outra extremida-
de. Deve-se acrescentar o número de polos processados e os valores das
curvas de isofrequência.

A N B N C N
%
0
1
2
3
4

E W E W 5
6
7
8
9
10
11,3

267 polos
S Percevejo S
Base Estereograma (fixado sob Contador (círculos
quadriculada transparente o centro da com raio de
(quadrados com (com projeções base) 1/20 do diâmetro)
com lados de1/20 de polos) e ranhura central
do diâmetro)

Figura 38. Contagem manual. Os polos do estereograma situados no círculo do contador são
contados e anotados em seu centro. Polos situados na borda do estereograma situados em um dos
círculos são contados e somados àqueles localizados no outro círculo; o número total é anotado nos
dois lados. Em C foram traçadas as curvas de isofrequência dos polos.

parte 1 – tipologia estrutural 67


Para contagem com o uso de diagramas é necessário:
• escolher um diagrama de contagem. Um deles é o de Kalsbeeck
(Fig. 39A). Ele consiste de divisões triangulares distribuídas de tal modo
que para cada interseção convergem seis triângulos; os hexágonos forma-
dos têm áreas de 1% do diagrama;
• colocar o diagrama sob o estereograma e sobre este uma folha de papel
transparente. Para cada hexágono (1 e 2 na Fig. 39B) contar o número
de polos contidos, anotando esse número no centro da folha superior.
Hexágonos que têm metade de um lado do estereograma completam-se
com a outra metade diametralmente oposta (4 na Fig. 39B). No centro
do diagrama, em vez de hexágono, tem-se um círculo (3 na Fig. 39B);
nas posições NE e SW tem-se semicírculos que se completam e o mesmo
acontece nas posições NW e SE (4 na Fig. 39B);
• traçar as curvas de isofrequência na malha de números anotados na folha
superior (mostra a distribuição dos polos por áreas de 1% do estereograma).

A B
5

1 4
2

4
5

Figura 39. Contagem com o Diagrama de Kalsbeek.

Outro diagrama de contagem usado com frequência é mostrado na Fig. 40.


Ele consiste de pontos que são centros de círculos de 1% da área do diagrama.
Para uma malha completa, os círculos são separados em duas bases. Uma base é
colocada sob o estereograma e este sob uma folha de papel transparente. É feita
contagem por área unitária, como no caso anterior, e os números anotados na
folha transparente superior. O processo é repetido com a segunda base.

68 geologia estrutural aplicada


Figura 40. Diagrama de contagem. Tem duas partes que se completam.

3.3 determinação de eixos de deformação e de


tensão

Nas análises cinemática e dinâmica, os aspectos envolvidos são interpreta-


dos para cada caso e em função da finalidade.
Para o caso de falhas, a determinação de direções e sentidos de eixos de
tensão, bem como suas magnitudes, pode ser feita por vários métodos, sendo os
mais correntes a análise das falhas de um evento tectônico, as medidas in situ, o
método do fraturamento hidráulico, a análise de sismos, a análise de deformação
da seção de poços de petróleo (breakout). As tensões de hoje têm sido sinteti-
zadas no Mapa Mundial de Tensões e suas atualizações (Heidebach et al. 2008).
A dedução dos eixos de tensão por análise de falhas não é simples. Não se
obtém seus módulos, mas a orientação dos eixos. Este tipo de dado é importante,
permitindo avançar no entendimento da deformação, bem como contextualizá-la
em ambientes geológicos regionais.
Em maciços homogêneos, isótropos e coesos as falhas que se formam po-
dem ser consideradas como tendo ângulo q (média de 30°) em relação a s1 e
contendo s2, sendo s3 perpendicular a ambos. Então, as orientações dos eixos
de tensão e de deformação podem ser determinadas, considerando o modelo de
Anderson (Fig. 24). Contudo, na natureza as rochas não têm essas características,
como já mencionado, e esse critério fica prejudicado. Em geral, em maciços pos-
suem descontinuidades preexistentes (Fig. 41) e os movimentos são acomodados
preferencialmente ao longo delas, em vez de criar novas descontinuidades.

parte 1 – tipologia estrutural 69


s1 s1

A B

s2 s2

s3 s3

Figura 41. Em A, maciço homogêneo, isótropo e contínuo que sofre falhamento – os eixos cor-
respondem ao indicados pelo modelo de Anderson. Em B, maciço previamente fraturado e sub-
metido a falhamento – as tensões são aliviadas preferencialmente mediante deslocamentos nos
planos preexistentes, em vez de criar novas falhas. Neste caso, o modelo de Anderson para cada
falha varia muito.

Obtendo-se a atitude da falha, da estria e seu movimento relativo, o melhor


método para deduzir as orientações dos eixos de tensão é a técnica dos diedros re-
tos (Angelier & Mechler 1977). Considera-se o plano da falha e um plano auxiliar
perpendicular ao plano da falha e à estria. Esses planos dividem o espaço em quatro
setores, que são referidos como diedros retos. Pelo movimento relativo da falha, é
possível saber quais são os dois diedros opostos sob encurtamento e os dois sob dis-
tensão, isto é, os diedros em que se situam s1 e s3 (Fig. 42). Para uma população de
falhas, quando se sobrepõe esses diedros de cada falha, os espaços onde se situam
os dois eixos se reduzem e, então, suas posições podem ser determinadas.
A aplicação da técnica dos diedros retos é realizada por diversos programas
de computação, como o Win-Tensor (Delvaux & Sperner 2003, Delvaux 2015) e
Stereonet (Allmendinger 2018). O programa Tratamento de Dados Estruturais
– TRADE (Carneiro 1996) também foi utilizado, mas foi elaborado no sistema
DOS. Outro programa é o ESTER (Carneiro et al. 2018).
A técnica dos planos de movimento (Arthaud 1969) considera para cada
plano de falha um plano perpendicular a ela que contém a estria (Fig. 43A) – este
é o plano de movimento. Nesse plano de movimento situam-se dois eixos de de-
formação: X a 30° (θ) da estria e Y a 60° da mesma. Z situa-se no plano de falha a
90° da estria (Fig. 43B). Considerando-se várias falhas, a posição de pelo menos
dois eixos pode ser deduzida. Dadas restrições ao método em alguns casos, ele
não tem sido muito utilizado. O processamento digital pode ser feito pelo progra-
ma Stereo32 e também o programa TRADE e Ester.
A síntese estrutural requer que, além da discriminação das estruturas associa-
das de diferentes tipos, sejam estabelecidos a sequência ou a cronologia dos con-
juntos, os eventos geradores das deformações e as respectivas tensões envolvidas.

70 geologia estrutural aplicada


N
A Plano auxiliar B C
d
Estria c
90° s3
Es c d Plano de
90° tria d c falha c
a d
e falh
Plano d s1
Plano auxiliar

N N N
D E F
c d
d
d
c
c
c
c c
d d d

Figura 42. Técnica dos Diedros Retos. Tendo-se um plano de falha e sua estria de atrito, conside-
ra-se um plano auxiliar perpendicular à estria e, obviamente, ao plano da falha (A). O espaço fica
dividido em quatro quadrantes, alternadamente sob compressão e sob distensão, inferidos pelo
movimento da falha (estria) – em B são mostrados os eixos de tensão, o elipsoide de deformação
e os quadrantes sob compressão (c) e sob distensão (d). Em C estão representados esses planos, a
estria e os quadrantes. Em D e E são mostrados dois planos de falha, seus planos auxiliares e os qua-
drantes c e d. Em F os dados de D e E são somados; os domínios sob compressão e distensão ficam
reduzidos e neles situam-se os eixos s1 e s3 – ser forem consideradas outras falhas, esses domínio
ficarão cada vez mais reduzidos, de modo a se poder determinar com maior precisão as posições
dos eixos de tensão. As projeções são do hemisfério inferior da esfera de referência. Baseado em
Angelier e Mechler (1977) e Angelier (1994).

N
A B
Plano de
movimento X
30°
Plano de
falha Estria 90°
Z
60°
Y

Estria

Plano de
movimento

Figura 43. Técnica dos planos de movimento.

parte 1 – tipologia estrutural 71


REGIMES TECTÔNICOS
Yo c iteru H asu i 1

1 Definição
Os eixos s1>s2>s3 e X, Y e Z, sendo X//s3, Y//s2 e Z//s1, representam res-
pectivamente os sistemas de eixos de tensão e de deformação, que promovem
tanto a movimentação quanto a estruturação das massas rochosas. Quando se
considera sua incidência em contextos regionais, correspondem ao que se chama
regime tectônico.
O regime tectônico pode ser de três tipos: o distensivo, o compressivo e o
transcorrente. Eles atuam em faixas de larguras e extensões variáveis, as de maior
grandeza formando os sistemas divergentes, convergentes e transcorrentes. Em
cada regime existem as estruturas mais marcantes que são as suas assinaturas
e a elas associam-se outros tipos – os conjuntos são as associações estruturais.
As estruturas mais importantes são as rúpteis ou friáveis, representadas por fa-
lhas, juntas, lineamentos, e as dúcteis, que são zonas de cisalhamento dúctil, do-
bras, foliações e lineações.
O termo lineamento é usado para se referir a qualquer feição linear no
terreno. Em Geologia, essa feição linear corresponde a vales e elevações lon-
gilíneas, reconhecíveis em mapas, fotos aéreas e imagens de sensores remotos.
Grandes lineamentos, via de regra, são reflexos de falhas verticais ou subverti-
cais, que são geradas por regime transcorrente. Acontece que essas falhas, com
frequência, após sua formação, acomodaram movimentos em regimes tectônicos

1
  Universidade Estadual Paulista – UNESP/Campus de Rio Claro. Ex-Geólogo do Instituto de Pes-
quisas Tecnológicas do Estado de São Paulo.

72
posteriores, isto é, foram reativadas. Essas descontinuidades podem ser indi-
viduais ou aparecerem em feixes de falhas paralelas, compondo o que se cha-
ma sistemas de falhas. Um lineamento pode corresponder a uma zona de falha
(exemplo: Lineamento de Pernambuco) ou a um sistema de falhas paralelas ou
subparalelas (exemplo: Lineamento Transbrasiliano).

2 Regime e sistema distensivoS


O regime e o sistema distensivos são também referidos como divergentes,
normais, extensionais, de estiramento ou gravitacionais.
Forma falhas normais sintéticas, podendo ter falhas antitéticas associadas,
apresentado mergulhos opostos entre si – são os pares conjugados. Outras falhas,
dobras e fraturas de distensão podem aparecer associadas na região das falhas
normais (Fig. 44).

Figura 44. O regime distensivo. A: o regime de tensão tem s1 na vertical. B: formam-se falhas
normais sintética e antitética com mergulhos a da ordem de 60°. C: Outras estruturas podem se
associar, umas relacionadas com o estiramento (1, 4) e outras, com encurtamento (2 e 3). 5 repre-
senta fratura de alívio final.

Em conjunto, as falhas normais formam depressões que são os grábens, rif-


tes ou vales de afundimento (rift valleys). Nas bordas e interior dos grábens apa-
recem porções altas ou menos abatidas, que são os horstes (Fig. 45). Os baixos
formam bacias sedimentares, chamadas bacias tafrogênicas, com ou sem rochas
vulcânicas associadas, e os altos sofrem erosão.

parte 1 – regimes tectônicos 73


A B C D

Figura 45. Falhas normais. Falhas conjugadas configurando um gráben (A), um horste (B) e um
gráben assimétrico ou hemigráben (C). O abatimento da capa pode se dar segundo o mergulho da
falha (A, B), por falha encurvada tendo mergulho decrescente em profundidade, referida como
falha lístrica (C), e também por falha com rotação de um ou ambos os blocos, configurando a falha
rotacional (D).

Os elementos geométricos mais importantes dos sistemas distensivos são


mostrados na Fig. 46. Uma falha normal pode ser lístrica e a capa formar um sin-
clinal (Fig. 46A). À falha lístrica pode se associar um encurvamento da capa, que
é o volteio (rollover), mostrado na Fig. 46B. Falhas sucessivas separam segmentos,
que são as lascas – as próximas da superfície acomodam o abatimento da capa e o
conjunto é o leque distensivo; em profundidade a falha pode ter encurvamentos
que induzirão o aparecimento de lascas e o conjunto forma o dúplex distensivo
(Fig. 46C). Neste último caso, a capa adquire anticlinais pareados, que se formam
para acomodar a massa sobre o patamar e a rampa. A falha pode ter trecho subo-
rizontal, designado patamar ou degrau, e trecho inclinado, que é a rampa ou lanço
(Fig. 46D). O leque distensivo forma uma bacia assimétrica, que é o hemigráben, e
os anticlinais referidos na figura anterior separam depressões que abrigam a bacia
de teto e, mais afastada. a bacia tipo sag. Os leques distensivos são sintético e anti-
tético, demarcando grábens que podem ser simétricos ou assimétricos (Fig. 46E).
A falha que separa a capa e a lapa é a falha de descolamento, que em profundidade
passa para condições de dúctilidade e tende a ser absorvida.

Figura 46. Elementos principais do sistema distensivo.

74 geologia estrutural aplicada


Além dessas feições, também falhas de tipo transcorrente podem se desen-
volver paralelamente à direção de distensão, dispondo-se transversal ou obliqua-
mente ao rifte. Essas falhas ora seccionam apenas o rifte ora afetam o rifte e o
embasamento adjacente. São chamadas falhas de acomodação (Fig. 47A) e falhas
de transferência (Fig. 47B), respectivamente.

Figura 47. Falhas de acomodação e de transferência – são transversais à falha de descolamento e


afetam a capa (A, B) e também a lapa (C). Em B, planta da estrutura em teclado de piano – a capa é
segmentada por falhas de acomodação e os blocos adernados diversamente formam um hemigrá-
ben. Em D, falha normal de rejeito oblíquo, com a capa segmentando em blocos que se acomodam
por movimentos em falhas normais e inversas/reversas.

O padrão geral das falhas de um sistema distensivo e a formação de bacias


sedimentares têm sido discutidos em termos de cisalhamento puro (modelo de
McKenzie) e cisalhamento simples (modelo de Wernicke), ilustrados na Fig. 48.
No modelo de McKenzie a bacia é simétrica, com falhas normais sintéticas e an-
titéticas mergulhando para o lado interno dela. O sistema se limita à crosta rúptil
e abaixo dela a deformação é acomodada por adelgaçamento da crosta inferior e
do manto superior. No modelo de Wernicke, o mais aceito, a bacia é assimétrica,
tendo o conjunto de falhas limitado na base por uma falha de descolamento, que
mergulha para um lado e se aprofunda na litosfera até a base da crosta ou a base
do manto inferior (como mostrado na figura). Algumas variantes do modelo de
Wernicke foram também apresentadas.

parte 1 – regimes tectônicos 75


McKenzie (1978)
A
Crosta superior
inferior
superior
Manto inferior

C Wernicke (1985)
Falhas sintéticas Falhas antitéticas
Crosta

superior Zona de
descolamento
Manto
inferior

Figura 48. Modelos de sistemas distensivos. A: modelo de McKenzie ou de deformação coaxial.


B: os segmentos separados pelas falhas podem ter a forma de blocos, representando o padrão em
dominó, ou falhas lístricas separando blocos de seção cuneiforme. C: modelo de Wernicke ou de
deformação por cisalhamento simples.

Em âmbito regional o regime incide nas bordas divergentes de placas e na


intraplaca, onde atua a etapa inicial do Ciclo de Wilson (soerguimentos, riftea-
mento, abertura de oceano, formação de dorsal meso-oceânica, deriva de con-
tinentes, bordas divergentes de placas e margens passivas). São exemplos mais
destacados de regiões afetadas por esse regime o Leste Africano, o Mar Vermelho
e sua continuação no Golfo de Suez, a Província Basin and Range do oeste dos
EUA, a Bacia Panônica da Europa Central e as dorsais meso-oceânicas. Também
incide na fase final da orogenia associado ao colapso gravitacional. Ainda, gera
estruturas secundárias que se associam a sistemas compressivo e transcorrente.
Exemplo de regime distensivo é reconhecido na região costeira que se es-
tende do Rio de Janeiro ao Paraná (Fig. 49). São reconhecidas intrusões alcali-
nas do Cretáceo Inferior e do Cretáceo Superior-Paleoceno, que são relacionadas
com a movimentação que levou a soerguimento regional, ruptura e formação
da margem continental passiva com a separação Brasil-África. No Eoceno ocor-
reu vulcanismo máfico alcalino nas bacias de Volta Redonda e Itaboraí, durante
o rifteamento que originou as bacias paleogênicas mostradas e o soerguimen-
to adicional das serras da Mantiqueira, do Mar e de Paranapiacaba. Zonas de
transcorrência do final do Ciclo Brasiliano teriam sido reativadas. A Foto 59
mostra um aspecto da Bacia de Taubaté.

76 geologia estrutural aplicada


ra K
u ei
iqF a r
n t 16 a do M
M a 15 G rr
Bacia do Paraná d a H 23Se 27
ra 19 I J
Ser 17 r 18 26
14 Ma 20 24 25
d o 21 22
E ra 28
er
13
S
12 D Intrusões alcalinas e idades (Ma)
32
a 31 1 Banhadão (110) 17 Morro Redondo (74)
cab
na pia 29 30 2 Barra do Teixeira 18 Serra doss Tomazes
P ara C
3 Itapirapuã (102) 19 Tinguá (64)
d3e 11 Bacias paleogênicas 4 Barra do Itapirapuã 20 Mendanha (60)
a A Tijucas do Sul 5 Mato Preto (68) 21 Marapicu (80)
e rr1 4 10 9 Altitude
6 Tunas (117 e 82) 22 Itaúna (61)
7 (m) B Curitiba
S 2 C Sete Barras 7 Bairro da Cruz 23 Soarinho (62)
5 2.791
r
a

8 D São Paulo 8 Ilha do Cardoso (84) 24 Tanguá (68)


M

6 1.500 E Taubaté 9 Barra do Turvo (78) 25 Rio Bonito (75)


B
do

F Aiuruoca 10 Jacupiranga (135) 26 Morro dos Gatos


1.000
G Resende 11 Juquiá (139) 27 Morro São João (65)
Serra

A 500 H Volta Redonda 12 Piedade (125 e 75) 28 Cabo Frio (57)


100 km I Itaboraí 13 Ipanema (123) 29 Monte de Trigo (86)
0 14 Ponte Nova (88) 30 São Sebastião (85)
J Macacu
K São João da Barra 15 Passa Quatro (67) 31 Ilha de Búzios (79)
16 Itatiaia (67) 32 Ilha Vitória (83)

Figura 49. Feições relacionadas com soerguimentos e regime distensivo regional. São destacadas
as intrusões alcalinas principais com suas idades K-Ar e algumas Ar-Ar, as grandes serras, as bacias
do Eoceno-Oligoceno e as mais destacadas antigas zonas transcorrentes (em preto), que podem ter
sido reativadas.

Foto 59. Vista da região de Taubaté, olhando para norte. Em primeiro plano aparece a planície do
Rio Paraíba do Sul. Atrás dela destaca-se a superfície sustentada pelas rochas sedimentares da Bacia
de Taubaté. Ao fundo salienta-se a Serra da Mantiqueira. Foto: Y. Hasui.

3 Regime e sistema compressivoS


O regime e o sistema compressivos são também chamados convergentes,
de cavalgamento, de empurrão, tangenciais, contracionais ou de encurtamento.

parte 1 – regimes tectônicos 77


Eles formam dobramentos, falhas de empurrão e outras feições associadas
(Fig. 50). Foi estudado sobretudo em sistemas orogênicos fanerozoicos, principal-
mente naqueles em desenvolvimento, onde a erosão não atingiu níveis profundos.
Em níveis mais profundos dos sistemas orogênicos mais antigos expostos pela ero-
são, como os do Brasil, predominam as zonas de cisalhamento não-coaxial dúctil.

Figura 50. O regime compressivo. A: o regime de tensão tem s3 na vertical. B: formam-se falhas
de empurrão sintética e antitética com mergulhos da ordem de 30°. Para mergulhos maiores que
45° as falhas são referidas como reversas. C: outras estruturas podem se associar, perpendiculares
a Z (2, 3 e 5) e perpendiculares a X (1 e 4).

Os tipos de estruturas mais importantes são esquematizados na Fig. 51. As


falhas são zonas de cisalhamento não-coaxiais rúpteis, mas as indicações valem
também para as dúcteis. Os seguintes elementos são observados:
• as falhas podem não chegar à superfície e se expor com a erosão. As que
não afloram são chamadas falhas cegas (Fig. 51A). O conjunto de lascas
superpostas forma o leque imbricado compressivo;
• duas falhas de empurrão delimitam uma lasca de empurrão, também
chamada escama de empurrão ou cavalo (Fig. 51A);
• a deformação é acomodada numa falha de empurrão e por outra de mer-
gulho oposto, o retro-empurrão (Fig. 51B). O bloco isolado é chamado
pop-up, termo ainda sem tradução para o português. Se existe outra falha
de empurrão, como mostra o esquema, o bloco separado com a forma de
um prisma de seção triangular: é chamada zona triangular;
• geralmente decorrente de anisotropias e heterogeneidades dos maciços
rochosos, uma falha de empurrão tem traçado curviplanar, com trechos
pouco inclinados, os patamares ou degraus (flats), e outros mais inclina-
dos, as rampas ou lanços (ramps), como esquematiza a Fig. 51C;

78 geologia estrutural aplicada


• dobras podem se formar nas zonas acima de terminações das falhas ou de
encurvamentos delas (Fig. 51C);
• o traçado curviplanar ou escalonado da falha de empurrão (no caso,
falhas de descolamento) faz com que a massa em movimento se deslo-
que, por exemplo, de um patamar para outro passando por uma rampa.
Nessas anomalias do trajeto o movimento é acomodado por novas falhas
gerando lascas empilhadas, num conjunto que é chamado dúplex com-
pressivo (Fig. 51D);
• a massa rochosa é delimitada na base pela zona de descolamento (detach-
ment; décollement em francês) e nos lados pelas rampas com porções do tipos
frontal (que se comporta como falha de empurrão frontal), oblíqua (que se
comporta como falha de empurrão com deslocamento oblíquo) e lateral (que
se comporta como falha transcorrente), como mostra a Fig. 51E.
• por outro lado a massa rochosa pode se desmembrar em porções que se
movem diferencialmente. As falhas que as separam são paralelas à di-
reção do movimento geral e são chamadas falhas de rasgamento (tear
faults), ilustrada na Fig. 51F.

A Falhas de B
empurrão
Falhas cegas Superfície
pretérita Retroempurrão
Pop-up
Superfície
atual
Leque
imbricado
compressivo Bloco triangular
Lascas de Zona de Leque
empurrão descolamento imbricado Dobra de teto
compressivo
C Dobra D
Dobra Dobra

Rampa Patamar
ou lanço ou degrau
Dúplex
compressivo
Rampa oblíqua
Rampa frontal Falha de
rasgamento
Rampa lateral
E F
Movimento
do leque

Leque
Zona de compressivo
descolamento

Figura 51. Elementos do sistema compressivo.

parte 1 – regimes tectônicos 79


As lascas de grande porte com deslocamento horizontal maior que 10 km,
podendo chegar a centenas de quilômetros, são chamadas nappes. O termo nap-
pe em francês significa toalha e tem sido usado correntemente sem tradução para
o português para se referir a essas lascas (Fig. 52). Embora possam ser simples,
com rochas cada vez mais jovens para o topo ou com metamorfismo decrescente
nesse sentido, em geral são mais complicadas, tendo fatias empilhadas e separa-
das por falhas de empurrão menores, e mesmo estar dobrada.
Uma porção remanescente de uma nappe ocorrendo como uma ilha pou-
pada pela erosão é um tipo de testemunho (outlier; em alemão: klippe, plural
klippen); uma porção de rochas subjacentes exposta pela erosão das rochas sobre-
postas é um tipo de janela (inlier; em alemão fenster).
O regime compressivo incide nas bordas convergentes de placas, onde
ocorrem os processos finais do Ciclo de Wilson (subducção, consumo de placa
oceânica, borda ativa de continentes, cinturões orogênicos não-colisionais e
colisionais, e bacias de antepaís). São exemplos de regiões afetadas por esse
regime os cinturões orogênicos atuais (Andes, Cordillera, Alpes, Himalaia) e
as zonas de subducção do Caribe e do Oceano Pacífico, bem como os arcos de
ilhas, como o arquipélago japonês. Também incidem em situações de inversão
e associados aos regimes transcorrente e distensivo. Os cinturões orogênicos
pretéritos, graças à erosão que sofreram, exibem feições estruturais de profun-
didades maiores e um exemplo destacado é a Faixa Brasília do Sistema Orogê-
nico Tocantins (Fig. 52).

80 geologia estrutural aplicada


Figura 52. A Faixa Brasília do Sistemas Orogênico Tocantins. Na porção sul, os grupos Andrelân-
dia e São João Del Rei e o Complexo Campos Gerais representam segmento com cavalgamentos de
sul para norte, afetados pelo Sistema Transcorrente Paraíba do Sul que impôs os encurvamentos
observados. Ao norte, duas porções de cavalgamento são distinguidas pelas suas direções, a sul e
norte do paralelo do Distrito Federal, respectivamente NNW e NNE. Estão representados segmen-
tos das faixas Ribeira e Araçuaí.

parte 1 – regimes tectônicos 81


Os cinturões de cavalgamento conforme a profundidade que alcançam são
classificados em (Fig. 53):
• cinturões de cavalgamento peliculares ou epidérmicos (thin-skinned th-
rust belts), que afetam a cobertura sedimentar e tem uma falha de desco-
lamento de baixo mergulho. As faixas de dobras-e-empurrões de bacias
de antepaís constituem exemplos notáveis;
• cinturões de cavalgamento espessos (thick-skinned thrust belts), que afe-
tam também o embasamento abaixo da cobertura, tendo mergulhos mais
elevados. São exemplificados pelos cinturões colisionais.

Cinturão pelicular ou epidérmico km


0
10
A
20
Cinturão espesso km
0
20
40
B
60

Figura 53. Seções de cinturões de cavalgamento. A: pelicular, a exemplo das Montanhas Rocho-
sas. B: espesso, a exemplo do Himalaia. As escalas verticais dão ideia das profundidades.

4 Regime e sistema transcorrenteS


O regime transcorrente é representado por falhas transcorrentes, que for-
mam os sistemas transcorrentes ou direcionais.
A essas estruturas principais associam-se outras feições (Fig. 54).

82 geologia estrutural aplicada


Figura 54. O regime transcorrente. A: o regime de tensão tem s2 na vertical. B: formam-se falhas
transcorrentes conjugadas com mergulhos verticais. C: possíveis estruturas associadas, vistas em
planta (perpendiculares a s2) – falhas (1 e 2), dobras (3) e fraturas (4 e 5).

As zonas de cisalhamento paralelas separam fatias de rochas paralelas e elas


podem se dispor segundo diversos padrões (Fig. 55).

Decalado
com sem
Escalonado Revezado Em degrau recobrimento

Arqueado
convergente divergente

Figura 55. Padrões de disposição de zonas transcorrentes.

Contudo, em geral tipos distintos de falhas transcorrentes (como R e R´)


podem interagir através das áreas adjacentes de sobreposição lateral e, encurvan-
do-se, anastomosarem-se tanto na horizontal como na vertical, segmentando o
maciço rochoso em corpos com forma de lentes biconvexas simétricas ou assi-
métricas, de dimensões microscópicas a megascópicas, que são referidos como
amêndoas se têm perfis lenticulares, ou sigmóides se têm perfis em S. Em planta,
os corpos e suas foliações se expressam com traços delineando lentes, sigmoi-
des e fatias. Também, nas curvas de zonas transcorrentes, tal como nos sistemas

parte 1 – regimes tectônicos 83


compressivos, podem se formar cunhas, lascas ou escamas, bem como dúplexes
direcionais (Fig. 56).

Dúplex distensivo
Dúplex compressivo

Figura 56. Dúplexes direcionais em planta.

Na terminação de uma zona transcorrente dúctil a deformação é acomoda-


da por algumas estruturas nos blocos, como dobras, soerguimentos e zonas de
cisalhamento. Estas últimas se dispõem em leque e são de tipo compressivo ou
distensivo, com rejeitos oblíquos (Fig. 57). Esse é o chamado leque em rabo de
cavalo (horsetail splay).

Leques distensivos

Leques compressivos

Leque distensivo Dúplex Leque compressivo

Figura 57. Terminações de zonas transcorrentes em leques distensivos e compressivos, indicados,


respectivamente, por falhas normais, podendo gerar bacias, que acolhem depósitos sedimentares,
e falhas de empurrão ou reversas, promovendo dobramentos e blocos elevados que sofrem erosão.

Outro aspecto notável das falhas transcorrentes são os trechos de encurva-


mento em planta. As curvas (bends) podem ser convergentes (restraining bends)
ou divergentes (releasing bends), dependendo da geometria em relação ao conju-
gado que movimenta a falha. Nelas atuam esforços compressivos ou distensivos,
referidos como transpressão (de transcorrente e compressão) e transtensão (de

84 geologia estrutural aplicada


transcorrente e distensão), respectivamente. A transtensão tem sido referida tam-
bém por transtração.
Em função dessas tensões desenvolvem-se falhas de um e outro lado do en-
curvamento (Fig. 56 e 57), formando blocos que têm seção romboide e evoluem
para sigmoidal, que são dúplexes (Fig. 58), onde podem atura transpressão ou
transtensão.

Figura 58. Esquema de transtensão e transpressão em falhas transcorrentes destrais. 1: curvas


divergentes e convergentes. 2: falhas paralelas e decaladas, com porções de recobrimento lateral. A
direção de estiramento origina falhas normais; a de encurtamento forma falhas reversas e dobras.
3: seções AB e CD, mostrando abatimento e elevação de blocos. As falhas dessas estruturas conver-
gem em profundidade e se juntam à falha transcorrente, formando estruturas em flor.

Nos trechos sob transpressão formam-se falhas reversas que se movimen-


tam no sentido de levantar as lascas rochosas, gerando altos topográficos; estes
são as estruturas de ejeção (push ups) e se sujeitam a erosão. Nos trechos sob
transtensão, o movimento é oposto e formam-se falhas normais que geram de-
pressões em que se instalam bacias sedimentares. Estas bacias recebem diferen-
tes designações, sendo as mais usadas bacias de afastamento (pull-apart basins)

parte 1 – regimes tectônicos 85


ou, se têm seção horizontal losangular, bacias rômbicas ou romboidais (rhombic,
rhomboidal basins, rhombochasms). As falhas dessas feições se juntam em pro-
fundidade na falha transcorrente e constituem as estruturas em flor ou em pal-
meira (flower structure, palm tree structure), típicas dos sistemas transcorrentes
(3 da Fig. 59, Fotos 60 a 62).

Foto 60. Falhas em flor em arenitos do Gru-


po Paraná, entre Tibagi e Ponta Grossa, PR.
Foto: Y. Hasui.

Foto 61. Falha em flor em arenitos do Gru- Foto 62. Falha em flor em mármore da Formação
po Paraná, entre Tibagi e Ponta Grossa, PR. Capiru, Rio Branco do Sul (PR). Foto: E. Salamuni.
Foto: N. Morales.

As bacias transtensivas referidas têm litosfera adelgaçada e podem se ex-


pandir de maneira tal a ocorrer subsidência por efeito de carga e até permeação
magmática (intrusões e derrames). Elas podem ter larguras de dezenas de quilô-
metros, comprimentos de centenas de quilômetros e espessura de sedimentos de
vários milhares de metros. Os sedimentos que se acumulam apresentam varia-
ções de fácies, espessuras, localização do depocentro e distribuição horizontal e
vertical, devidas à variação da geometria da bacia com a deformação progressiva.

86 geologia estrutural aplicada


A transpressão e transtensão decorrem de movimentos oblíquos conver-
gentes e divergentes e podem incidir em escalas horizontais variando de uma
zona de cisalhamento até a uma borda de placa, e profundidades em escalas de
afloramento até litosférica. Combina encurtamentos/estiramentos horizontais e
deslocamentos transcorrentes.
Sistemas transcorrentes relacionam-se com zonas transformantes oceâni-
cas e continentais. Exemplos notáveis de sistemas transcorrentes são o de San
Andreas no oeste norte-americano, o Alpino na Nova Zelândia, e outras zonas
transformantes dos fundos oceânicos. No Brasil existem sistemas pré-ordovicia-
nos proeminentes mostrados na Fig. 59, que se associam aos sistemas compressi-
vos dos sistemas orogênicos brasilianos.

Figura 59. Os principais sistemas transcorrentes do Brasil, gerados no Ciclo Brasiliano.

parte 1 – regimes tectônicos 87


TECTÔNICA DE PLACAS
Yo c ite ru H asu i 1
E duard o Sal amu ni 2

1 Introdução
A tectônica de placas, como tema fundamental das Ciências da Terra, tem
sido tratado em vasta literatura, dispensando aqui a infinidade de citações que po-
deriam ser apresentadas, assim como dos livros que a tem sintetizado, como os de
Park (1988), Lamb & Sington (1998), Moores & Twiss (1995), Condie (1997), Ores-
kers (2003), Van der Pluijm & Marshak (2004), Moores & Twiss (2006), Kearey
et al. (2009), Molnar (2015), Frisch et al. (2011) e Hasui (2012b), dentre outros.

2 O interior da Terra
As placas e seus movimentos têm relação com a dinâmica do interior da
Terra, cabendo aqui resumir o conhecimento que se tem sobre o tema.
Esse conhecimento começou com observações diretas das rochas e minerais
expostos, em parte originados na superfície do terreno e em parte provenien-
tes de níveis mais profundos da crosta, como as rochas metamórficas, e até do
manto. São materiais expelidos por vulcões ou incorporados em rochas e mine-
rais de origem profunda, como os xenólitos de rochas magmáticas e o diamante.
Tais materiais também têm sido obtidos em minas subterrâneas (por exemplo, na

1
  Universidade Estadual Paulista – UNESP/Campus de Rio Claro. Ex-Geólogo do Instituto de Pes-
quisas Tecnológicas do Estado de São Paulo.
  Universidade Federal do Paraná.
2

88
mina de ouro de Tau Tona, na África do Sul, com cerca de 3.600 m de profundi-
dade), e em perfurações para pesquisa e extração de petróleo (as mais profundas
alcançando 12.261 m na Península de Kola e cerca de 12.350 m na Ilha Sacalina,
ambas na Rússia).
Considerando que a crosta terrestre alcança profundidades bem abaixo des-
sas nos continentes, a observação direta é muito limitada, e se torna necessário
abordar a constituição e estruturação das partes não visíveis por métodos geo-
físicos, focando principalmente aspectos sísmicos, de magnetismo, gravidade e
fluxo térmico. Acrescem ainda as sínteses laboratoriais de minerais e rochas sob
altas temperaturas e pressões, e modelagens numéricas considerando parâmetros
físicos obtidos de diversas fontes. O estudo de meteoritos tem também sido im-
portante, por fornecer informações sobre a origem, idade e composição interna
dos tipos de corpos celestes de que derivaram (planetas, satélites, asteroides e
cometas do sistema solar), semelhantes à Terra.
A Sismologia tem fornecido as informações mais importantes. A movimen-
tação de placas gera tensões que se acumulam em seu interior ou borda e são
liberadas quando alcançam valores capazes de induzir a formação de novas fa-
lhas ou promover deslocamentos ao longo de descontinuidades existentes. Esses
deslocamentos, devido ao atrito de duas massas rochosas ao longo de falha, por
ocorrer em espasmos instantâneos e sucessivos, liberam energia quantificável.
A energia mecânica gera ondas que se propagam pelo interior do planeta (ondas
de corpo, tipos P e S) ou limitam-se a baixas profundidades (ondas de superfície,
tipos Rayleigh e Love), segundo padrões bem conhecidos: são as ondas sísmicas,
detectadas por uma rede mundial de sismógrafos, que registram o tipo, a intensi-
dade e o tempo de percurso delas.
As ondas sísmicas de tipos P e S são as duas mais importantes para os es-
tudos do interior da Terra. As ondas P, primárias, longitudinais ou compressivas
propagam-se mediante oscilação das partículas em movimentos de vai-e-vém
longitudinalmente a seu trajeto; elas são mais rápidas e atravessam os materiais
sólidos, líquidos ou gasosos com velocidades que crescem com o aumento da
densidade e diminuição da temperatura do meio em que se propagam. As ondas
S, secundárias, de cisalhamento ou transversais propagam-se com oscilações das
partículas em vai-e-vém perpendiculares ao trajeto, são mais lentas do que as
ondas P e atravessam somente materiais sólidos, com velocidades que crescem
com o aumento da densidade.
Na sua trajetória de propagação, essas ondas sofrem reflexão ou refração em
interfaces de materiais diferentes e podem mudar a velocidade de modo abrupto
ou gradual. Essas alterações na propagação das ondas demarcam superfícies que

parte 1 – tectônica de placas 89


separam camadas com diferentes fases mineralógicas ou composições, que são
as descontinuidades sísmicas, ou indicam faixas de mudanças graduais de com-
posição ou de condições físicas, que são as zonas de transição. Assim, permitem
definir as camadas concêntricas da Terra e suas propriedades físicas (densidade,
temperatura, macroestruturação etc.) pela análise das variações de velocidades
e trajetos. Também, mediante uso de técnicas apropriadas, os estudos das ondas
permitem localizar o centro irradiador de energia, que é o hipocentro, e a sua
projeção na superfície do terreno, que é o epicentro. Permitem também determi-
nar a orientação do plano de falha que gerou o sismo (solução de plano focal) e o
tipo de movimento nela ocorrido (solução de mecanismo focal).
A Terra tem a forma de um geoide com diâmetros ligeiramente diferentes:
o polar de 12.713,82 km e o equatorial de 12.756,77 km. Em geral a forma é sim-
plificada em termos de uma esfera com diâmetro aproximado de 12.700 km. Sua
massa total é de 5,6.1021 toneladas e sua densidade média é de 5,53 t/m3.
Ela é constituída por camadas esféricas (Fig. 60), cuja distinção pode ser ba-
seada em termos de composição admitida dos materiais, distinguindo-se crosta
continental e oceânica, manto superior e inferior (mesosfera) e núcleo (endosfe-
ra). Baseado no comportamento mecânico são distinguidos:
• a película rígida periférica segmentada em placas, a litosfera, e abaixo
dela a astenosfera, uma camada dúctil sobre a qual as placas se movi-
mentam e que corresponde a uma zona de baixa velocidade sísmica (low
velocity zone, LVZ);
• o manto superior, sólido, cujo limite com a crosta é marcado pela Des-
continuidade Mohorovičić, ou simplesmente, Moho. Trata-se de uma
zona de transição entre 410 e 660 km onde a rigidez aumenta com a
profundidade e a base marca a separação com o manto inferior. Na por-
ção basal do manto há a camada D”, de velocidade sísmica ultrabaixa
(ultra-low velocity zone, ULVZ), cuja base é denominada Descontinuida-
de de Gutenberg;
• o núcleo possui a porção externa líquida e a parte interna sólida, separa-
das pela Descontinuidade de Lehmann.

A casca rígida periférica da Terra é a litosfera (em grego: lithos = rocha), que
está segmentada em porções maiores e menores, as placas litosféricas ou tectôni-
cas. Ela tem espessura que depende do comportamento das isotermas: onde estas
se elevam (por exemplo, por ação de correntes de convecção ascendentes) ocorre
adelgaçamento; onde estas sofrem subsidência e esfriamento, dá-se espessamen-
to. Como pode haver movimentos horizontais das células de convecção e tam-
bém mutações delas no tempo, ocorrem deslocamentos horizontais, elevações e

90 geologia estrutural aplicada


subsidências de isotermas, de modo que a litosfera possui espessuras que variam
no espaço e no tempo.

B COMPARTIMENTAÇÃO
SÍSMICA
COMPARTIMENTAÇÃO
COMPOSICIONAL Litosfera (sólido)
Astenosfera - LVZ (dúctil)
Crosta
Descontinuidade de Moho
Manto
superior Sólido 50-100 km
150-200 km
410 km
Zona de transição 660 km
(Rígidez aumenta
Manto para baixo)
inferior
(Mesosfera) Sólido
Camada D´´
ULVZ
2.650 km
2.900 km A
Núcleo Seção esquemática
C (Endosfera) Descontinuidade da Terra
de Gutenberg
Seção esquemática Líquido
da crosta Núcleo
externo
Oceano Descontinuidade
Crosta Sedimento de Lehmann
continental Crosta
oceânica
Sólido 5.150 km 6.378 km
30-40 km 2.890 km
(75 km) 6-8 km Núcleo
Moho Núcleo
interno
Manto superior Manto

6.380 km
Crosta

Figura 60. Estrutura geral da Terra. Em A, dimensões do manto e núcleo. Em B, camadas confor-
me a composição (esquerda) e conforme as propriedades mecânicas (à direita). Estão indicados as
camadas e o estado físico geral, bem como as descontinuidades. Os números indicados em A e B
são profundidades que podem variar, existindo citações de valores diferentes na literatura. Em C,
detalhe da porção mais próxima da superfície para ilustrar a distribuição da litosfera e astenosfera
nos continentes e oceanos. Sem escala.

A litosfera é formada pela crosta e o manto superior, separados pela Des-


continuidade de Mohorovičić ou Moho, assim designada em homenagem ao sis-
mólogo croata Andrija Mohorovičić, que a delineou em 1909. A velocidade das
ondas P (Vp) passa de valores inferiores a 7 km/s na crosta para mais de 8 km/s
no manto; a densidade média aumenta de aproximadamente 2,65 g/cm3 na crosta
superior e 2,8 g/cm3 da crosta inferior, para 3,4 g/cm3 no manto superior.
A crosta tem espessura variando de 20 a 40 km nos continentes (média ge-
ral de 40 km, valores de até 70 km sob cadeias montanhosas modernas) e 5-10
nos oceanos (média geral entre 6-8 km, valores de até 25-30 km nas cadeias

parte 1 – tectônica de placas 91


montanhosas oceânicas). Ela perfaz cerca de 1% do volume da Terra. Desse volu-
me, a crosta continental participa com 0,8% e ocupa 40% da superfície terrestre; a
crosta oceânica participa com 0,2% e ocupa cerca de 60% da superfície terrestre.
Esses tipos de crosta são correntemente referidos como continental e oceânica,
com significado geológico e geofísico e não geográfico, porquanto extensas por-
ções continentais se encontram submersas.
A crosta continental é dividida em crosta superior e inferior, que têm es-
pessuras médias de cerca de 20 km cada uma. Ela é uma verdadeira colcha de
retalhos de rochas ígneas, metamórficas e sedimentares. As composições dessas
camadas são, na média, semelhantes à do andesito. Tendo como componentes
químicos principais o silício e o alumínio, a crosta continental é também cha-
mada sial. As condições metamórficas são de fácies anfibolito alta a granulito na
crosta inferior, e de fácies anfibolito baixa a não-metamórfica na crosta superior.
A crosta superior é marcada pelo comportamento mais rígido, pela pre-
sença de poucos refletores sísmicos com mergulhos e padrões variados, e pela
localização dos hipocentros. Ela é também denominada crosta rúptil ou sísmica.
Na sua base, a crosta superior transiciona para a crosta inferior ou tem um limite
muito tênue detectado pela passagem da velocidade das ondas sísmicas P (Vp)
de 6 para 6,4 km/s, a Descontinuidade de Conrad. Este limite, onde presente,
localiza-se a profundidades variáveis, da ordem de 10-25 km nos continentes,
alcançando 50 km sob cinturões orogênicos.
A crosta inferior é marcada essencialmente por Vp de 6,4 km/s e foi consi-
derada até a década de 1960 como de composição basáltica, equivalente à cros-
ta oceânica, a qual se estenderia sob os continentes. Essa composição se coa-
duna com as caracteríticas fisicas indicadas pela Sismologia. Com o progresso
dos conhecimentos sobre os cinturões orogênicos e os terrenos pré-cambrianos,
passou-se a interpretar essa porção como constituída de rochas de alto grau
metamórfico que também safisfazem aos dados sismológicos – este é o modelo
granulítico. Os complexos de alto grau, que foram alçados à superfície por tec-
tonismo e formam os cinturões granulíticos (ou de alto grau), incluem ortog-
naisses quartzo-feldspáticos (Vp de 6,4 a 6,8 km/s, densidade média da ordem de
2,8 g/cm3) e pequena proporção de metassedimentos plataformais (mármores,
rochas cálcio-silicáticas, metapelitos, paragnaisses, paranfibolitos), rochas meta-
máficas e ultramáficas, estas últimas, por vezes, em corpos apresentando dife-
renciação. Além da constituição heterogênea, a estruturação é complexa, com
foliação, acamadamento, dobras recumbentes, falhas de empurrão, zonas miloní-
ticas e imbricações, condizentes com a indicação da sísmica de reflexão de que a
crosta inferior tem muitos refletores suborizontais, indicando estrutura lamelar

92 geologia estrutural aplicada


de baixos mergulhos ou horizontais, em franco contraste com a crosta superior e
com o manto superior.
Essa crosta inferior teria viscosidade menor, isto é, comportamento menos
rígido ou mais dúctil do que a da crosta superior e também do que o manto
superior. Os sismos seriam gerados na maior parte na crosta superior, que é rígi-
da, mas alguns de magnitude até 6 (escala Richter) ocorreriam no manto inferior,
que também teria rígidez.
Desse modo é possível determinar que a litosfera possui três camadas de
diferentes comportamentos mecânicos configurando o que foi denominado mo-
delo sanduíche na década de 1980. Posteriormente, alguns relacionaram os hi-
pocentros localizados no manto superior à crosta inferior, a qual em algumas
regiões parece ser mais rígida do que o manto superior – com isso, a concepção
de sanduíche litosférico foi abandonada. Todavia, os estudos no Himalaia mos-
tram distribuição bimodal da profundidade dos hipocentros: uma concentração
na crosta superior e outra em zona compreendendo parte da crosta inferior e
parte do manto superior, chegando a 90 km de profundidade.
A crosta oceânica, por sua vez, é dividida em quatro camadas, de cima para
baixo: a dos sedimentos marinhos, a dos basaltos almofadados, a dos diques má-
ficos e a de gabro (Fig. 61). Na média, a composição química é semelhante à dos
basaltos. Como os constituintes químicos predominantes são o silício e o magné-
sio, a crosta oceânica é também chamada sima.

Figura 61. Configuração típica da estratigrafia da crosta oceânica à esquerda e da crosta conti-
nental à direita.

parte 1 – tectônica de placas 93


Abaixo da crosta aparece o manto, que representa cerca de 84% do volume
da Terra, e se admite como formado por rochas ultramáficas (peridotitos, duni-
tos, eclogitos). Ele é sólido em função de suas altas temperaturas e pressões, mas
deforma-se por lenta fluência. Em sua parte superior possui estruturação muito
complexa e ainda é mal entendido. Na parte inferior, também referida como me-
sosfera, a homogeneidade e resistência são maiores.
No manto são identificadas:
• uma zona de baixa velocidade (low velocity zone – LVZ) reconhecida por
Beno Gutenberg em 1959, com profundidades variáveis de região para
região, tendo topo entre 50 e 100 km e a base entre 150 e 200 km. Ela apa-
rece sob os oceanos e continentes, parecendo estar ausente sob porções
de crosta mais antiga (crátons). É caracterizada, entre outras peculiari-
dades, por temperaturas anomalamente altas e fusão parcial das rochas.
Essa camada se caracteriza pela deformação por fluência lenta, contínua
e permanente com o tempo, sob ação de forças inclusive abaixo do limite
de elasticidade (creep). Ela corresponde à astenosfera (em grego: asthenia
= fraca), onde se acomodam os movimentos das placas;
• duas descontinuidades marcadas por mudanças de velocidades sísmicas
a 410 e 660 km de profundidade. A porção acima de 660 km é o manto
superior, de possível natureza peridotítica e dotado de alguma ductilida-
de, e aquela abaixo é o manto inferior, de natureza peridotítica e eclogí-
tica, cuja densidade aumenta rapidamente com a profundidade e desce
até 2.900 km. Entre 410 e 660 km tem-se a camada designada zona de
transição, onde as velocidades sísmicas e a densidade aumentam de cima
para baixo. O manto superior possui uma parte integrante da litosfera,
que costuma ser referida como manto litosférico; a porção que desce até
660 km é por vezes referida como manto sublitosférico.

Na crosta e manto superior a pressão aumenta gradativamente em profun-


didade chegando a atingir valor presumido da ordem de 22.000 MPa. A tem-
peratura varia primeiro de modo mais rápido e depois de modo linear e lento,
admitindo-se que chegue a cerca de 2.000°C (Fig 62). A variação da temperatura
e da pressão com a profundidade representa os gradientes geotérmico e geobaro-
métrico, respectivamente. O gradiente geotérmico é expresso pelo grau geotér-
mico (profundidade necessária para aumentar em 1°C a temperatura das rochas).
Os valores determinados diretamente variam de uma região para outra, mas na
média é da ordem de 4 m/°C nos oceanos e 33 m/°C nos continentes. O fluxo de
calor ou fluxo térmico, que é a perda de calor da Terra da superfíce para a atmos-
fera, é em média de 50 cal.cm-2.ano-1. A variação da pressão com a profundidade
é o gradiente geobarométrico. Em média é da ordem de 0,33 kbar/km.

94 geologia estrutural aplicada


PRESSÃO (MPa)

10.000

15.000

20.000

25.000

30.000
5.000
0
0

100

PROFUNDIDADE (km)
200

300

400

500

600

700

500

1.000

1.500

2.000

2.500

3.000
TEMPERATURA (°C)

Figura 62. Variação de pressão e temperatura na crosta e manto superior em função da profundi-
dade. A pressão varia linearmente. A temperatura tem um trecho inicial de aumento linear e depois
aumenta mais lentamente.

A pressão e temperatura controlam o estado físico das rochas: uma rocha


em baixa profundidade, sob baixa pressão, sofre fusão a uma certa temperatura;
com o aumento da profundidade, a pressão aumenta e a temperatura de fusão
aumenta muito.
Na base do manto adjacente ao núcleo, aparece a chamada camada D”, com
espessura de 200-250 km, velocidades sísmicas baixas e comportamento mais
plástico – nessa camada acumulam-se as porções das placas subductantes que
afundam manto abaixo e é lá que se originam as plumas do manto de proveni-
ência profunda. Admite-se que a sua constituição é de uma fase da perovskita,
chamada pós-perovskita. Próximo à base de D” existe uma camada de 5 a 50
km de espessura chamada zona de velocidade ultrabaixa (ultra-low velocity zone
– ULVZ), onde a baixa velocidade sísmica é relacionada ao estado de fusão par-
cial de placas subductadas; ela aparece melhor desenvolvida sob os locais das
plumas e superplumas.
O limite do manto com o núcleo é marcado por uma descontinuidade sís-
mica, a Descontinuidade de Gutenberg (por vezes referida como de Dahn ou de
Wiechert-Gutenberg).
O núcleo é constituído essencialmente de ferro e níquel, daí a designação de
nife. Representa cerca de 15% do volume da Terra e a densidade média admitida
é de 10,8 g/cm3. É a fonte de calor ascendente para o manto e se soma ao calor
liberado pela desintegração de elementos radioativos (U, Th, K, entre outros) e o
gerado por atrito de materiais mais densos que afundam, dando origem às cor-
rentes de convecção de origem profunda.

parte 1 – tectônica de placas 95


O núcleo possui uma porção líquida, o núcleo externo, entre 2.900 e 5.150
km, onde as ondas S não se propagam, e outra, o núcleo interno, em estado pró-
ximo ao de fusão, que se estende de 5.200 km até o centro da Terra, a 6.380 km,
no qual as ondas S se propagam a baixa velocidade. Essas duas porções estão
separadas pela Descontinuidade de Lehmann.

3 Tectônica de Placas
Muitas evidências já haviam sido levantadas em vários campos de conheci-
mento de movimentos horizontais dos continentes quando Alfred L. Wegener as
sistematizou e passou a buscar outras em diversas partes do globo. Ele procurou
comprovar que uma massa continental única há cerca de 200 Ma, o Pangea (em
grego: pan = toda, geos = terra), rodeado por um imenso oceano, o Pantalas-
sa (em grego: thalassos = oceano), desmembrou-se nos diversos continentes, os
quais deslocaram na superfície da Terra como se fossem jangadas até suas posi-
ções atuais, empurrando, deformando, levantando sedimentos do fundo oceâni-
co, e formando cadeias de montanhas. Em 1912 publicou o livro Die Entstehung
der Kontinente und Ozeane (“A origem dos continentes e oceanos”), lançando
essa concepção.
Alexander Du Toit considerou o Pangea separando inicialmente em duas
massas: o Laurásia, reunindo a América da Norte, Groenlândia e Eurásia nas vi-
zinhanças do Equador, e o Gondwana, reunindo os demais continentes em torno
do polo Sul, separados pelo mar de Tetis e envolvidos pelo oceano Pantalassa.
Em seguida, esses dois grandes continentes teriam se fragmentado originando os
continentes e oceanos atuais. Em 1937 publicou o livro Our wandering continents:
a hypothesis of continental drift (“Nossos continentes errantes: uma hipótese de
deriva continental”), dedicado a Wegener e introduzindo a designação Hipótese
de Deriva dos Continentes.
Essa hipótese foi muito combatida e até rejeitada por contrariar o paradig-
ma então vigente da Teoria Geossinclinal. Foi em meados da década de 1950 até
meados da década de 1960 que sobreveio profunda revisão, quando se passou a
colher rapidamente dados sobre os fundos oceânicos, principalmente de relevo,
sismicidade, magnetismo, vulcanologia e datação.
Harry H. Hess e Robert S. Dietz reconheceram a Dorsal Meso-Atlântica
como local onde a ação de correntes de convecção no manto possibilitaria a su-
bida de magmas, sua injeção ao longo de falhas normais e seu extravasamento
na superfície formando a dorsal. Com isso, haveria expansão do fundo oceânico

96 geologia estrutural aplicada


e afastamento de massas crustais na dorsal para os lados. Consideraram que a
Terra não está em expansão, de modo que o crescimento da crosta oceânica no
Atlântico teria de ser compensado no Pacífico com afundamento e reabsorção de
crosta oceânica no manto. Assim, os oceanos atuais não seriam constituídos por
rochas mais velhas que 200 Ma. Essa concepção foi chamada Hipótese de Expan-
são do Soalho Oceânico (sea-floor spreading hypothesis).
Rapidamente, percebeu-se que a casca rígida da Terra, a litosfera, está seg-
mentada em porções, chamadas de placas por J.T. Wilson em 1965, que se mo-
vimentam na superfície da Terra sobre uma camada de comportamento mais
plástico situada abaixo, a astenosfera. Em 1967, D.P. McKenzie e R.L. Parker se
referiram a esses movimentos com a designação Tectônica de Placas. No período
1967-1968, esses dois pesquisadores, W.J. Morgan, X. Le Pichon e alguns outros
reconheceram as principais placas e seus movimentos. Os progressos no conhe-
cimento dos limites das placas, suas velocidades e sentidos de deslocamento fo-
ram rápidos. Avançou-se ainda na reconstituição da evolução dos continentes
no Mesozoico-Cenozoico com a fragmentação do Pangea. Nascia a Teoria das
Placas, também designada Teoria das Placas Litosféricas, Teoria da Tectônica de
Placas ou Nova Tectônica Global.
As investigações se concentraram nas bordas das placas por serem as por-
ções mais importantes. Contudo, na década de 1960 já eram conhecidas mani-
festações tectônicas e magmáticas no interior das placas que não encontravam
explicação nessa teoria. O caso das ilhas do Havaí era uma delas, que acabou
sendo explicado por fluxos de calor e magmas que subiriam por correntes de
convecção para a base da litosfera e dali ascenderiam formando vulcões e ilhas
na superfície – essa explicação é a hipótese da pluma do manto (mantle plume) e
as manifestações na superfície são os chamados pontos quentes (hot spots). Esta
interpretação veio completar o entendimento geral dos processos nas bordas e no
interior das placas.
A teoria reciclou rapidamente os conhecimentos acumulados anteriormen-
te, destacadamente sobre as cadeias montanhosas que se apresentam erodidas em
níveis variados, avançando para o entendimento da evolução geológica através
do tempo envolvendo a atividade de placas e de seus interiores desde o Arquea-
no. Mais recentemente tem sido aplicada também no entendimento de planetas,
como Marte, Vênus e Júpiter.
A Tectônica de Placas é o atual paradigma das Ciências da Terra e, como
tal, unifica o conhecimento das áreas de conhecimento referentes ao meio físico,
explicando de modo elegante e convincente a maior parte dos fatos e processos
da superfície e subsuperfície terrestre, atuais e pretéritos.
Os fundamentos da Tectônica de Placas são apresentados a seguir, num apa-
nhado sintético, sem descer a detalhes e em dúvidas existentes.

parte 1 – tectônica de placas 97


4 As placas e seus movimentos
São reconhecidas 13 placas maiores: as placas do Pacífico, Norte-America-
na, Sul-Americana, Africana, Antártica, Árabe, Euro-Asiática, Indo-Australiana,
de Nazca, do Caribe, de Cocos, de Gorda e das Filipinas (Fig. 63). São dezenas
as placas menores, como as de Carolina, Sandwich e Scotia. Algumas bordas têm
atividade tectônica, mas não estão ainda bem definidas, e poderão separar outras
placas, a exemplo da Placa da Somália que está se separando da Africana, e as da
Índia e Australiana que desmembrariam da Indo-Australiana.

PLACA NORTE-AMERICANA
PLACA EURO-ASIÁTICA
Placa de
Gorda
Placa do
Placa das Caribe
Filipinas Placa
Árabe
Placa de Placa de
Carolina Cocos
PLACA AFRICANA
PLACA SUL- PLACA INDO-
Placa de AMERICANA AUSTRALIANA
PLACA INDO- PLACA DO Nazca
AUSTRALIANA PACÍFICO
Placa de
Scotia

Placa de
Sandwich
PLACA DA ANTÁRTICA

Bordas divergentes Bordas convergentes Zonas ativas


Bordas transformantes Cadeias orogênicas colisionais Limites mal definidos

Figura 63. As placas litosféricas e os três tipos de bordas. A Placa da Somália está se separando da
Placa Africana e a Placa Indo-Australiana tende a se desmembrar nas placas da Índia e Australiana.

Os continentes atuais, que resultaram da fragmentação do Pangea, estão va-


gando de modo contínuo há 230 Ma (Triássico Médio). Os sentidos de desloca-
mento, os vetores de deslocamento e as velocidades dos movimentos relativos de
cada placa em relação às vizinhas têm sido determinados por diversas técnicas,
utilizando-se informações geológicas e geofísicas. A Fig. 64 mostra um modelo
divulgado.

98 geologia estrutural aplicada


Figura 64. Velocidades e sentidos de deslocamento das placas. Os sentidos estão indicados pelas
setas maiores. As setas menores apontam os movimentos nas bordas das placas e os números cor-
respondem às velocidades da placa em relação à adjacente. O modelo depende do tipo de informa-
ção utilizado, tanto geológica quanto geofísica (análise de faixas paleomagnéticas, deslocamentos
das dorsais, análise de sismos, outros), de modo que são encontradas variações em diferentes ma-
pas publicados.

Têm sido explorados sinais de numerosos satélites recebidos em milhares


de estações terrestres para obtenção de medidas de variação da distância de dois
pontos num intervalo de tempo, deduzindo o sentido absoluto de movimentação
e velocidade em relação às coordenadas globais do International Terrestrial Re-
ference Frame. Com isso, pode-se determinar os deslocamentos atuais das placas
litosféricas e seus sentidos pelas variações de coordenadas terrestres por técnicas
de posicionamento GNSS (Global Navigation Satellite Systems, dentre as quais se
destaca o GPS – Global Positioning System). Produtos globais remontam a 1994
e a última versão é a de 2014 (Altamimi et al. 2016), o ETRF2014 (Fig. 65), en-
volvendo análises de dados de GNSS, bem como de VLBI (Very-long-baseline
Interferometry), SLR (Satellite Laser Ranging) e DORIS (Doppler Orbitography
and Radio-positioning Integrated by Satellite).

parte 1 – tectônica de placas 99


Figura 65. Sentidos de movimento e velocidades absolutos das placas em relação às coordenadas
globais do International Terrestrial Reference Frame. Notar os deslocamentos do Brasil. Fonte: Al-
tamimi et al. (2016).

5 As bordas das placas


Os limites das placas litosféricas são as faixas de maior movimentação do
globo, com deformações, atividades sísmicas (terremotos), metamorfismo e
magmatismo, e às quais se relacionam as maiores feições geológicas (oceanos,
continentes, cadeias montanhosas). Os tipos de bordas são (Fig. 66):

Figura 66. Os tipos de bordas de placas. Em A e B estão indicados deslocamentos frontais, isto é,
perpendiculares à borda, mas podem ser oblíquos.

• divergentes, construtivas ou de acrescimento, em que há afastamento de


duas placas adjacentes, ali atuando predominantemente o regime tectô-
nico distensivo;

100 geologia estrutural aplicada


• convergentes, destrutivas ou de consumo, em que há aproximação de
duas placas e mergulho de uma sob a vizinha (subducção), ali atuando
predominantemente o regime tectônico compressivo;
• transformantes ou conservativas, em que duas placas se atritam horizontal-
mente, ali atuando predominantemente o regime tectônico transcorrente.

Todas essas bordas têm variados conjuntos de rochas gerados em diferentes


ambientes tectônicos, que são referidas como associações petrotectônicas. Elas
incluem materiais variados, como sedimentos, rochas vulcânicas e intrusivas,
porções da crosta oceânica e continental.
Antes de descrever as bordas, cabe destacar que elas se desenvolvem na es-
fera terrestre. Cada borda deve ser vista como feição que se observa na superfície
do planeta e, segundo o Teorema de Euler, o seu movimento é uma rotação em
torno de um eixo da esfera que a intersecta num ponto, que é o polo de rotação.
Conhecendo o eixo de rotação e seu polo, podem-se definir paralelos e meridia-
nos em relação a eles: as bordas distensivas se formam ao longo de meridianos
e as transformantes ao longo de paralelos; bordas compressivas formam-se em
ângulo (Fig. 67). Em um período de rotação, cada placa tem polo situado em um
ponto da superfície terrestre e sua localização pode ser determinada.

Eixo e polo eulerianos

Placa A

Placa B

Borda divergente Borda convergente


Borda transformante

Figura 67. As placas se movem girando em torno de um eixo virtual (eixo euleriano) que passa
por um polo (polo euleriano). Estão indicados os paralelos e meridianos em relação ao eixo eule-
riano. As bordas divergentes formam-se paralelamente a meridianos e as bordas transformantes, a
paralelos traçados; as bordas convergentes formam-se com qualquer ângulo.

parte 1 – tectônica de placas 101


5.1 bordas divergentes

As bordas divergentes caracterizam-se pelo regime distensivo, sismos de hi-


pocentros rasos, alto fluxo térmico, afastamento de placas, ascensão de magmas
provindos das profundezas, gerando crosta nova em forma de rochas intrusivas e
vulcânicas, principalmente diabásios e basaltos. Elas situam-se nas dorsais oceâ-
nicas e o processo de afastamento, referido como divergência de placas, gera um
rifte central (Fig. 68).

Rifte
central Dorsal
oceânica Crosta
oceânic
a

to
Manrior
Magma

e
sup
to
Correntes Man r
convecçãde infer
io
o

Figura 68. Esquema do rifte central da dorsal oceânica. Material magmático do manto ascende
nessa zona abatida por falhas normais e é acrescentado à crosta – esta se expande ampliando a
dorsal e a crosta. O regime tectônico é distensivo.

Atualmente as dorsais constituem um sistema global de cadeias de monta-


nhas, alinhadas, largas de várias centenas ou até milhares de quilômetros. São as
mais extensas faixas montanhosas da Terra, com cerca de 80.000 km, largura da
ordem de 1.000 km e elevação de até 1 a 3 quilômetros acima dos fundos oceâ-
nicos adjacentes.
A Fig. 69 esquematiza os processos que ocorrem nas bordas divergentes.

Figura 69. Esquema de formação de bordas divergentes. Ver descrição no texto.

102 geologia estrutural aplicada


1) De início dá-se adelgaçamento da litosfera e falhamento normal. Pode
ocorrer atuação de pluma do manto, que promove subida de calor e
de magma, soerguimento, acompanhado de adelgaçamento litosféri-
co, fraturamento, rifteamento, intrusões e vulcanismo. Este é o estágio
“embrionário” do Ciclo de Wilson (Fig. 69-1).
Esse magmatismo é de tipo anorogênico (tipo A) e gera uma gran-
de variedade de rochas metaluminosas a peralcalinas, incluindo ti-
pos como granitos rapakivi, vulcânicas (dacitos, fonolitos, traquitos,
riolitos, basaltos alcalinos etc.), anortositos maciços, rochas alcalinas
(sienitos, pulasquitos, essexitos, carbonatitos e outras), rochas máficas
e ultramáficas. Os magmas são gerados por material do manto que
se eleva nas zonas distendidas e sofre descompressão e fusão parcial
originando magma basáltico, que se fraciona para gerar materiais alca-
linos. Alternativamente, aventa-se a possibilidade de derivar da fusão
de rochas tonalíticas ou mais félsicas, e outras.
Exemplo desse estágio é encontrado no Leste Africano. A atuação de
pluma e soerguimento incidem naquela faixa, mas em outros casos é
possível haver, alternativamente, estiramento e adelgaçamento litosfé-
rico sem soerguimento, seguido de descompressão do manto inferior,
formação e subida de magmas.
2) Em seguida, forma-se um gráben longitudinal, cuja profundidade al-
cança até alguns quilômetros (estágio “juvenil” do Ciclo de Wilson,
Fig. 69-2). Ele é uma área baixa, acolhendo sedimentos depositados
pela drenagem e lagos que ali se formam. Às falhas relacionam-se sis-
mos de hipocentros rasos porque a crosta é de pequena espessura – os
sismos indicam regime distensivo. Magmas ascendendo do manto, ao
esfriarem, agregam novos materiais à crosta oceânica em forma de di-
ques, intrusões e derrames vulcânicos. Exemplo desta fase de lago é
também encontrado no Leste Africano.
3) Na evolução, ocorre a ruptura continental e aparecimento de margens pas-
sivas. Acumulam-se sedimentos e também se forma a dorsal oceânica, que
origina o soalho oceânico e a abertura de oceano (é a evolução do estágio
“juvenil” do ciclo, Fig. 69-3). Exemplo desta fase se encontra no Mar Verme-
lho e Golfo de Aden. Nos oceanos, os fluidos emanados pelo vulcanismo e
a água do mar aquecida causam alteração e metamorfismo hidrotermal dos
basaltos já formados. O magma tem composição basáltica típica referida
como MORB (middle oceanic rigde basalts), representado predominante-
mente por gabros, diabásios e basaltos. O fluxo térmico ali é elevado.
4) Por fim, o oceano se expande, dá-se o desenvolvimento de zonas trans-
formantes e de fratura (não indicadas na Fig. 69-4), e deposição de
mais sedimentos nas margens passivas. O exemplo é o Oceano Atlân-
tico (“estágio de maturidade” no Ciclo de Wilson).

parte 1 – tectônica de placas 103


Onde o acrescimento é mais lento (menos de 5 cm/ano), como no Atlântico,
o relevo da dorsal é muito expressivo, as falhas são menos frequentes e mergu-
lham rumo ao eixo do gráben. Onde é mais rápido (mais de 9 cm/ano), caso do
Pacífico, aparece faixa larga e relativamente pouco elevada, as falhas são mais
frequentes e de mergulhos variados. Existem casos intermediários entre esses ex-
tremos, como o Oceano Índico. O crescimento não é uniforme nem unidirecio-
nal, de modo que padrões diversos de estruturação podem aparecer nas dorsais.
A velocidade média chegou a 20 cm/ano, mas atualmente varia de 1 a 17 cm/ano.
Para os lados, as dorsais passam para os fundos abissais, cujo relevo é marca-
do pela presença de elevações isoladas e em cadeias. As espessuras de sedimentos
pelágicos, terrígenos, turbidíticos e vulcanoclásticos ali acumulados são pequenas,
da ordem de uma ou poucas centenas de metros. As temperaturas da crosta forma-
da diminuem ao se afastar da dorsal.
À medida que a crosta nova se afasta da dorsal, a sua idade e densidade au-
mentam, e a temperatura cai – com isso, a profundidade do soalho oceânico au-
menta e ela tende a afundar. Profundidade e idade podem ser relacionadas – por
modelagem numérica foi obtida uma curva de variação, mostrando, por exem-
plo, que a profundidade aumenta de 2,5 km na dorsal para 4 km onde a idade é
20 Ma, e para 5 km onde é 50 Ma. Também se pode relacionar a expansão oceâni-
ca global com o nível do mar – se a expansão aumenta, a dorsal se eleva e acarreta
elevação do nível do mar ou, inversamente, se a expansão diminui, o nível do
mar baixa. O nível e profundidade do mar são muito importantes para o clima,
o ambiente e a vida.
A única região do mundo onde a dorsal se expõe na superfície é a da Islân-
dia, que emergiu há cerca de 20 Ma no meio do Oceano Atlântico entre a Groen-
lândia e a Europa. A ilha é constituída de rochas basálticas e riolíticas que vêm se
formando desde cerca de 3 Ma e apresenta movimentação, vulcanismo e sistemas
geotermais ativos. Afora a Islândia, onde a dorsal não é vista na superfície, em
algumas outras áreas a observação foi feita com o uso de submersíveis e veículos
operados remotamente.

5.1.1 Margens continentais passivas

Quando uma massa continental se fragmenta e origina dois continentes


que se afastam, suas bordas são as margens passivas (Fig. 69), exemplificadas
pelas bordas atlânticas da América do Sul e África. Elas são das maiores feições
tectônicas da face da Terra, tendo hoje uma extensão total de 105.000 km, supe-
rior aos 80.000 km de dorsais oceânicas e 53.000 km de zonas de subducção.
Fisiograficamente, a margem passiva inclui (a) a plataforma continental,
com largura de até mais de uma centena de quilômetros e inclinação da ordem

104 geologia estrutural aplicada


de 1:1.000, (b) o talude continental, que desce até cerca de 3.000 m de profundi-
dade com inclinação da ordem de 1:40 e (c) o sopé continental, com inclinação
intermediária entre as anteriores. A largura do conjunto varia muito e a maior
está no Mar do Norte. Ele se desenvolve em crosta continental e passa para a
planície abissal, que já se encontra sobre crosta oceânica. Ao longo da margem
passiva e da planície abissal aparecem feições topográficas diversas, como eleva-
ções, cadeias assísmicas e platôs, depressões alongadas (canais e cânions) e cones
sedimentares. A Fig. 70 mostra a configuração geral da margem passiva do Brasil.

A Cone do
Amazonas Elevação B
do Ceará DMA
Margem continental
Talude continental
Zona deFratura Plataforma
Romanche continental km
0
Fernando
de Noronha Sopé 2
continental
Planície 4
abissal
6
Lineamento 200 km
Cânion do de Maceió
S. Francisco

Lineamento
C
de Salvador Plataforma
continental
Cânion Talude Sopé
submarino continental continental
e planície
abissal
Cadeia
Vitória-Trindade

Canal
Colúmbia
Platô de Lineamento do
São Paulo Rio de Janeiro
Canal de Plataforma continental Elevações, lineamentos
Vema Lineamento de
Florianópolis Talude continental Canais, cânions
Elevação do Rio Grande Sopé continental Cones
Cone do Fundo abissal
Rio Grande
DMA Dorsal Mesoatlântica
500 km
Zonas de fratura

Figura 70. Fisiografia da margem continental brasileira. A: principais feições. Baseado em Tessler
& Mahiques (2009). B: feições principais do relevo em perfil transversal (as escalas apenas indicam
ordens de grandeza). C: feições principais em bloco-diagrama (sem escala).

Montes e platôs submarinos são feições topográficas, salientes em cerca de


10% dos fundos oceânicos, chegando a emergir como ilhas. São formados por ba-
saltos lançados por vulcões e são conhecidos centenas deles. Cadeias assísmicas
são vulcões extintos que se alçam no fundo oceânico, representando elevações
relacionadas com deslocamentos das placas sobre plumas do manto.

parte 1 – tectônica de placas 105


Geologicamente, as margens passivas se caracterizam pelos riftes que se
formam por ocasião da ruptura continental e são assoreados por sedimentos e
vulcânicas – essa é a fase rifte. Após a ruptura, afastamento dos continentes e
abertura do oceano, sobrevém a fase pós-rifte, em que se sobrepõem ampla área
de subsidência gerada por arrefecimento da anomalia termal que atuou durante o
rifteamento e o estiramento litosférico precedente, e também por efeito da carga
dos sedimentos. Nela acumulam-se novos sedimentos.
Com a fragmentação do Pangea, as margens passivas formadas acolheram
mais da metade dos sedimentos acumulados nos últimos 200 Ma, que alcançam
espessuras de muitos milhares de metros, como no Mar do Norte (4-5 mil me-
tros). Os pacotes sedimentares relacionam-se com ambiente continental, que
cede lugar progressivamente a ambiente marinho. Nas diversas bacias costeiras
do Brasil são clássicas as seguintes sequências, da inferior para a superior: (1) se-
quência do continente, (2) sequência dos lagos ou do ciclo rifte, (3) sequência do
golfo ou do ciclo evaporítico e (4) sequência do mar ou do ciclo marinho franco.
Esses pacotes sedimentares podem abrigar importantes acumulações de pe-
tróleo e gás natural, razão pela qual o estudo desse tipo de margem é muito impor-
tante, como é o caso das bacias de Santos, Campos e Espírito Santo com concen-
trações de petróleo e gás no rifte inicial (o pré-sal) e nos sedimentos sobrepostos.
No passado, as margens passivas se formaram em muitas partes da Terra
desde cerca de 2.750 Ma, sendo reconhecidas épocas preferenciais de 1.900-
1.890, 610-520 e 150-0 Ma, com ausência em 1.740-1.600 Ma, deduzidas pelo
exame de 85 casos.

5.2 bordas convergentes

As bordas convergentes, destrutivas ou de consumo envolvem a interação


de duas placas, uma mergulhando sob a outra. A placa subductante, quase sem-
pre com crosta oceânica, é consumida no manto (estágio “senil” do Ciclo de Wil-
son). Porções não consumidas são resíduos de fusão que, por sua alta densidade,
afundam no manto e se acumulam na sua base (camada D”).
Essa interação das duas placas constitui o processo de convergência.
A faixa em que as duas interagem é a zona de subducção, marcada por faixa de
hipocentros designada Zona de Wadati-Benioff. A placa que mergulha é chama-
da placa subductante, inferior, mergulhante ou descendente, e a outra, placa su-
perior ou cavalgante. A designação placa passiva, que é por vezes aplicada à placa
superior, não é correta, porque ela também se movimenta. O regime tectônico
atuante nesse caso é o compressivo, porém localmente podem ocorrer tectônica
transcorrente e, raramente, extensional.
Os casos de convergência estão esquematizados na Fig. 71. A placa subduc-
tante é sempre uma oceânica e a superior pode ser oceânica ou uma que tenha um
continente em sua borda. A placa subductante libera fluidos em profundidade que

106 geologia estrutural aplicada


sobem para a placa superior e ali induzem a formação de câmaras magmáticas.
Quando o magma ascende dá origem a intrusões e vulcões, que formam as eleva-
ções alinhadas de rochas ígneas na placa oceânica, referidas como arcos magmáti-
cos. Os arcos podem se formar na placa superior oceânica – são os arcos insulares;
ou no continente da placa superior – são os arcos continentais. Se a placa subduc-
tante traz um continente para a zona de subducção, este acaba se aglutinando com
o arco insular. O conjunto continente-arco insular, por sua vez, é levado a se justa-
por ao continente da borda da placa superior e a ele anexado, processo que é refe-
rido como colisão de continentes, que origina o orógeno ou cadeia montanhosa.

Figura 71. Esquemas de bordas convergentes. À esquerda, feições em perfil, e à direita, blocos-
-diagramas, simplificados e sem escalas horizontal e vertical. Em A, interação de duas placas
oceânicas, indicando o zoneamento da fossa, prisma de acreção, bacia antearco, arco insular
(o vulcão é a manifestação na superfície) e bacia retroarco. Em B, interação de uma placa oceânica
com outra, esta portando um continente na borda. Em C, colisão de um continente trazido por
uma placa subductante (portando ou não arco insular agregado) com outro situado na borda da
placa superior. Esses modelos podem evoluir de A para B e para C. Estão indicadas as feições prin-
cipais formadas nesses processos. As bacias de antepaís aparecem tardiamente em B (não represen-
tadas) e em C, ainda sob regime compressivo, tanto à frente como atrás do orógeno, evoluindo para
faixas de dobras-e-falhas.

parte 1 – tectônica de placas 107


Oito ambientes tectônicos são reconhecidos nas bordas convergentes: zona
de subducção, fossa submarina, prisma de acreção, bacia antearco, arco magmá-
tico, orógeno, bacia retroarco e bacia de antepaís. Eles são descritos resumida-
mente a seguir.

5.2.1 Zona de subducção

A zona de subducção é o limite das duas placas, uma mergulhando sob a ou-
tra. Ela se desenvolve em locais propícios no oceano, em geral onde há variações
de espessura da litosfera, mais comumente em borda de continente.
A zona de Wadati-Benioff, a faixa de hipocentros inclinada da fossa
para as profundezas da descontinuidade de 660 km, marca a zona de subduc-
ção e sua movimentação. Essa faixa tem larguras de 50-100 km quando separa
oceano-oceano (caso do Pacífico), ou são mais largas e difusas quando no limi-
te oceano-continente (ex.: Andes) ou continente-continente (exs.: Alpes, Hima-
laia), o que indica não se tratar de uma superfície simples de movimentação, mas
de uma zona que acomoda os deslocamentos.
Em geral a zona de subducção pode ter inclinação pequena na parte mais
superficial (10-20°), arqueia e adquire mergulho maior abaixo da placa superior
e afunda com ângulos variados, geralmente de 30 a 70°.
A tomografia sísmica mostra, pela distribuição de hipocentros, que a placa
subductante de mergulho baixo desce até o nível aproximado de 660 km, onde se
inflete e horizontaliza. No entanto, se tem mergulho alto, afunda para a camada
D” na base do manto, com encurvamentos e ondulações, mantendo a continui-
dade (Fig. 72) ou separando-se em segmentos. Como essas placas descendentes
se esfriam gradualmente à medida que se aproximam da zona de subducção e
voltam a se aquecer no afundamento, em profundidade perdem componentes
para formar os magmas que alimentam os arcos magmáticos, sujeitam-se a pres-
sões crescentes em profundidade e têm a densidade aumentada, o que gera ins-
tabilidade e as faz afundar no manto. No trajeto de afundamento, rochas máficas
(basaltos, gabros) transformam-se em eclogitos, que, por serem mais densos que
os materiais do manto, afundam e tendem a se acumular na camada D”, que já
foi até referida como cemitério das placas subductantes. Ali, em função do calor
transferido pelo núcleo, fundem-se e dão origem a plumas mantélicas.

108 geologia estrutural aplicada


Descontinuidade
de 660 km Litosfera
Astenosfera
Camada D´´ Núcleo

Figura 72. Esquemas de zonas de subducção indicadas por tomografia sísmica. Acima, a placa
subductante se acomoda acima da descontinuidade de 660 km (ex.: Aleutas). Abaixo, as placas
afundam no manto e alcançam a camada D” com geometrias variadas (exs.: América Central, Japão
central, Indonésia).

5.2.2 Fossa submarina

A fossa submarina é a depressão estreita e alongada que se forma no limite


das duas placas pela sucção para baixo exercida pela placa subductante sobre
a placa superior. São as maiores depressões da superfície do globo, alcançando
profundidade de até 11.034 metros abaixo do nível do mar na fossa das Marianas.
A fossa do Peru-Chile tem profundidade de 8.050 m abaixo do nível do mar.
Ela pode ter variadas configurações em termos de expressão morfológica
e quantidades de sedimentos. A superfície da placa subductante tem mergulhos
em geral baixos, da ordem de 10°, e uma cobertura sedimentar de fundos oceâni-
cos que não chega a preencher a depressão. Tais sedimentos, bastante saturados
em água, são arrastados pela subducção até grandes profundidades.

5.2.3 Prisma de acreção

O prisma de acreção, cunha de acreção ou complexo de subducção é o con-


junto de materiais que a placa subductante agrega à placa superior na zona de sub-
ducção. Pode alcançar até mais de 200 km de largura. Não se forma em toda ex-
tensão da zona de subducção, sendo mais desenvolvido quando o suprimento de
sedimentos na placa subductante é expressivo e a velocidade de subducção baixa.
A sua constituição é muito heterogênea, incorporando rochas de origem,
composição e idade variadas, consistindo basicamente de lascas de crosta oceâ-
nica e sedimentos arrastados pela placa subductante e depositados nas fossas e
fundos abissais. No caso de aglutinação de continente da placa subductante com
arco insular, também sedimentos da margem passiva do primeiro e bacias an-
tearco dos segundos são envolvidos. Se ocorrer colisão de dois continentes, são
também envolvidos pacotes sedimentares e vulcanossedimentares da margem do

parte 1 – tectônica de placas 109


continente da placa superior, bem como das bacias antearco e retroarco e frag-
mentos de crosta continental.
Alguns constituintes são característicos dos prismas: (1) os ofiólitos, que
são lascas de crosta oceânica, formados por rochas intrusivas e vulcânicas, máfi-
cas e ultramáficas, com predominância de basaltos, gabros, peridotitos, dunitos
e eclogitos, e também sedimentos químicos (formação ferrífera bandada, cherte)
e argilosos; (2) as melanges (mélange = mistura), que são brechas de dimensões
mapeáveis e de composição heterogênea, incluindo blocos até de grandes dimen-
sões, com matriz mais fina de materiais trazidos pela placa subductante e da cros-
ta oceânica; (3) os xistos azuis, caracterizados pela presença de minerais azuis
e verde-azulados como a glaucofana, jadeíta, onfacita e lawsonita, gerados pelo
metamorfismo de rochas máficas em condições de baixas temperaturas e altas
pressões ali vigentes. Os ofiólitos aparecem nos prismas de acreção mas também
em contextos de dorsal oceânica, bacia retroarco e arco insular.
Com a compressão, no prisma de acreção desenvolvem-se dobras de tama-
nhos diversos, com eixos paralelos à fossa. Essas dobras variam de isópacas a
anisópacas, nestas aparecendo clivagem e xistosidade plano-axial, chegando a
romper flancos e separar porções apicais. Falhas de empurrão se desenvolvem
em profusão, de tipos rúptil e dúctil conforme a profundidade. Nas porções mais
profundas, elas configuram uma pilha de fatias imbricadas, tornando o conjunto
extremamente complexo composicional e estruturalmente.

5.2.4 Bacia antearco

A bacia antearco (forearc basin) desenvolve-se na placa superior entre o


prisma de acreção e o arco magmático. Ela tem geometria muito variada e se
enche de sedimentos provenientes do arco continental ou insular, que são depo-
sitados principalmente em ambiente marinho e podem alcançar espessuras de
vários milhares de metros.
Ela está em geral sujeita a distensão, possivelmente induzida pela sucção
para baixo exercida pela placa subductante sobre borda da placa superior. Tem
duração efêmera, acabando por ser atingida pelos processos de deformação do
prisma de acreção e incorporada a ele, ou por processos colisionais.

5.2.5 Arco magmático

O arco magmático é o conjunto de corpos de rochas ígneas intrusivas e vul-


cânicas formados em ambiente subaéreo ou submarino na placa superior sobre a
zona de subducção.

110 geologia estrutural aplicada


A placa subductante tem fluidos nas rochas que a constituem e nos sedi-
mentos por ela carreados, principalmente água, que são liberados a 65-130 km de
profundidade e ascendem no manto superior da placa superior, abaixando a tem-
peratura de fusão das rochas percoladas e induzindo ali a formação de magmas.
Também a placa subductante pode sofrer fusão parcial e fornecer magma que
ascende na placa superior (magmas andesíticos ricos em magnésio, chamados
adakíticos). Platôs, cadeias assísmicas ou montes submarinos que chegam à zona
de subducção dificultam a subducção e sofrem decapitação e segmentação, resul-
tando porções que aderem ao prisma de acreção e outras que são carreadas para
profundidades. Os arcos duram 10-15 Ma, eventualmente chegando a 50 km.
Os magmas sobem através das rochas sobrejacentes e se acumulam na base
da litosfera ou da crosta. Em tais acumulações podem se fracionar, diferenciar e
assimilar rochas do entorno. Os materiais leves sobem rumo à superfície, forman-
do corpos intrusivos na crosta (diques e intrusões até de grandes dimensões, os
batólitos) e vulcões na superfície (derrames e rochas piroclásticas). Os mais densos
do que as rochas acima, tipicamente máficos ou ultramáficos, não podem subir
e são reconhecíveis pelo aumento das velocidades das ondas sísmicas ao neles se
propagarem. Acumulam-se na base da crosta – é o processo chamado underplating,
que se dá na placa superior, acima da zona de subducção. Underplating é termo
em inglês utilizado como o original, ainda sem tradução para o português, e diz
respeito a acreção vertical de materiais mantélicos à base da litosfera ou da crosta.
O arco se localiza a uma distância da fossa que depende do mergulho da
placa subductante. Quanto maior a inclinação da zona de subducção, mais es-
treito é o intervalo arco magmático-fossa, menor a largura do arco e mais rápida
a geração de magmas. Inclinações baixas não permitem a formação de magmas,
como em trechos da Placa de Nazca sob os Andes.
O arco insular aparece na placa oceânica superior (v.g., arcos das Aleutas, do
Japão, das Antilhas), e o arco continental, na borda do continente da placa supe-
rior, como em partes dos Andes. O conjunto da zona de subducção, fossa e arco
aparecem em mapa com forma de arco, o que se entende por se relacionarem
com planos inclinados cortando a esfera terrestre.

5.2.6 Orógeno

As cadeias montanhosas correspondem às porções estreitas, longas e mais eleva-


das da Terra. Elas são chamadas cinturões orogênicos, faixas orogênicas ou orógenos, e
orogênese (do grego: oros = montanha; genesis = gênese) é o processo que os gera.
Os cinturões orogênicos desenvolvem-se:
• nos arcos insulares. A cadeia montanhosa está na maior parte submersa e
em parte aflora em ilhas. O exemplo mais destacado é do norte e oeste do
Oceano Pacífico. Essa cadeia se estende pelas Aleutas até a Nova Guiné,

parte 1 – tectônica de placas 111


com um ramo dirigindo-se para o Sudeste Asiático, passando por Timor,
Java e Sumatra. Relevo também se forma quando um continente é tra-
zido pela placa subductante e levado a colidir com o arco insular, como
os casos da ilha de Taiwan, Papua Nova Guiné e Timor. Também, nesse
cenário, lascas do fundo oceânico e porções do manto superior (basaltos,
gabros, peridotitos, dunitos, eclogitos) da placa subductante podem ser
empurradas sobre esse continente. Esse processo é chamado obducção e
muitos exemplos são reconhecidos no mundo (Troodos em Chipre, Se-
mail em Omã, Nova Caledônia, e outros formados em tempos antigos,
até pré-cambrianos);
• na borda de um continente da placa superior adjacente a uma zona de
subducção na placa oceânica inferior – as chamadas margens ativas. Nela
forma-se um arco continental e cadeia montanhosa, sendo esta referida
como cinturão orogênico, faixa orogênica ou orógeno não-colisional. Foi
também chamado de tipo cordillerano (Dewey & Bird 1970), andino ou
Pacífico. A Cadeia Cordillera estende-se por cerca de 8.000 km no oeste
da América do Norte até a Guatemala-Honduras, tendo sido palco de
deformações principalmente no Mesozoico-Cenozoico, decorrentes da
interação das placas do Pacífico e Norte-Americana.
Cinturão orogênico (orogenic belt) é entendido como uma faixa linear ou
curvilínea formada por processos não-colisionais ou colisionais marca-
da sobretudo por magmatismo, deformação, metamorfismo e orogênese.
Cinturão móvel ou faixa móvel (mobile belt) é qualquer entidade estreita
e longa, de abrangência regional, dotada de mobilidade e pode ser de vá-
rios tipos; esse conceito tem sido aplicado também com sentido restrito
para se referir a cinturão orogênico que envolve rochas do embasamento
retrabalhadas. Também o nome faixa ou cinturão de dobramento pode
ser usado para as entidades em que o dobramento é o tipo de deformação
mais importante ou predominante;
• na borda ativa de um continente da placa superior ao qual outro conti-
nente (com ou sem arco insular acoplado) vem se aglutinar levado por
processos de subducção – é a colisão continente-continente. Resulta no
orógeno himalaiano ou colisional. Esse tipo de cinturão estende-se pela
Eurásia, incluindo os Alpes, Cárpatos, Zagros e Himalaia.
Primeiramente, processam-se atividades conforme o modelo cordillera-
no e quando ocorre o choque dos continentes, o da placa descendente
tende a ser empurrado para baixo do outro: é a subducção do tipo A
(A de Ampferer). Importantes alçamentos, falhamentos e deslocamen-
tos ocorrem na placa superior, bem como algumas intrusões graníticas.
A subducção de massas siálicas evidentemente é limitada pela flutuabili-
dade dos continentes, o que acaba por bloqueá-la e com isto nova zona de
subducção se desenvolve em outro local favorável.

112 geologia estrutural aplicada


O exemplo de margem continental ativa é dado pelo Cinturão Andino (ou
Andes), a cadeia montanhosa que perlonga toda a borda oeste da América do
Sul (Fig. 73). Ele começou a se formar no Triássico e Jurássico, com a instala-
ção de vários riftes ligados à ruptura do Pangea. No Cretáceo tiveram início os
dobramentos, falhamentos e ascensão da cadeira montanhosa, com diferenças
regionais de intensidade. As placas de Nazca e Antártica, separadas pela Dorsal
do Chile, subductam com velocidades de 8 cm/ano e 2 cm/ano, respectivamente,
ao longo da fossa do Peru-Chile sob a Placa Sul-Americana, que tem o continente
sul-americano em sua borda. Nesta última se desenvolve um arco continental,
com intrusões até batolíticas e vulcanismo. Vários pulsos orogênicos acontece-
ram e o último, iniciado há cerca de 25-30 Ma, continua até hoje. A crosta alcança
espessura de 70 km sob a Cordilheira Ocidental.

ANDES
B CARIBENHOS
A Caracas
SETENTRIONAIS

Placa Norte- Segmento


Americana Bucaramanga
ANDES

Placa do Placa
Caribe Bogotá
Africana Zona
Vulcânica
Quito Setentrional

Placa
de
Nazca
Segmento
Placa Peruano
Sul-Americana
Lima
ANDES CENTRAIS

Placa F La Paz
Antártica ss Arco
Placa de
o

a
Placa de Sandwich Vulcânico
Scotia Central
do
Peru-Chile

PLACA DE
NAZCA

Segmento
Cadeia Andina e Pampeano
domínio subandino
Plataforma Patagônica Santiago
Núcleos de rochas
pré-cambrianas Zona
Dorsal oceânica e Vulcânica
Vulcões zonas transformantes Meridional
e de fratura
Limites de placas:
fossa, dorsal Hiato
oceânica e zona Vulcânico
transformante
MERIDIONAIS

Zona
1.000 km Vulcânica
ANDES

Austral

PLACA ANTÁRTICA PLACA DE


SCOTIA

Figura 73. A Cadeia Andina. A: Placa Sul-Americana entre a Dorsal Meso-Atlântica e a Fossa do
Peru-Chile, e as placas adjacentes. A Placa de Nazca mergulha sob a América do Sul na fossa do
Peru-Chile e sua extremidade no manto alcança o território brasileiro sob o Acre a cerca de 650 km
de profundidade, indicada pelos hipocentros de sismos. B: na margem ativa do continente deu-se
o levantamento dos Andes, que tem compartimentação em segmentos alternadamente com mer-
gulhos médios da placa subductante, onde ocorre magmatismo formando corpos até batolíticos e
vulcões, e com mergulhos baixos, em que a sismicidade é mais ativa e não incidem essas manifes-
tações magmáticas e vulcânicas. Baseado em Ramos (1999).

parte 1 – tectônica de placas 113


Fisiograficamente, os Andes são formados pela Cordilheira Ocidental, que
se eleva até a culminância de 6.962 m no Pico Aconcágua, a Cordilheira Oriental,
que se eleva até cerca de 4.500 m, o Altiplano ou Puna, um platô entre as duas, e
a zona subandina ou Pré-Cordilheira, uma faixa baixa marginal no lado voltado
para o interior do continente.
Os dados sísmicos indicam que a cadeia está compartimentada em segmen-
tos com zona de subducção de baixo ângulo (<15°), alternados com outros em
que o mergulho chega a 30°. Onde o mergulho é baixo, os hipocentros são mais
abundantes e distribuem-se de modo mais difuso do que nos segmentos de mer-
gulho maior. Nestes últimos, os hipocentros mostram-se mais concentrados em
faixa e os vulcões fazem-se presentes. A acomodação das mudanças de inclina-
ções parece se dar por distorções da Placa de Nazca. A evolução da cadeia variou
muito ao longo do tempo em cada um dos segmentos desde o Triássico, em ter-
mos de formação de bacias, magmatismo e estruturação da cadeia.
O exemplo clássico de colisão de continentes é o do Himalaia. Formaram-se
feições ligadas ao estágio de margem ativa e, depois, do estágio colisional.
A Fig. 74 ilustra os principais aspectos dessa cadeia montanhosa.
O continente da Índia, na ruptura do Pangea, separou-se da Antártica e
a subducção da Placa Indo-Australiana sob a Euro-Asiática levou-a para norte,
por 6.400 km, indo chocar com a Ásia por volta de 55 Ma e formar a cadeia mais
elevada do mundo (ponto culminante: Everest, 8.850 m). Admite-se que a mo-
vimentação tende a ser bloqueada, já se delineando no meio do Oceano Índico
uma nova zona de subducção tendendo a separar a placa da Índia da Australiana.
Nesse quadro geral, a geologia do Himalaia não foi ainda estudada em deta-
lhe em virtude das dificuldades de acesso, sabendo-se que a história foi comple-
xa, vem se desenrolando desde o Ordoviciano e envolve rochas preexistentes, até
pré-cambrianas. Basicamente, ela resultou de aglutinações seguidas de arcos de
ilhas, microcontinentes, prismas de acreção desde o Paleozoico na margem sul da
Eurásia, constituindo quatro terrenos separados por suturas. Em geral admite-se
que a evolução se deu em quatro etapas: (1) rifteamento da margem norte do Gond-
wana sucessivamente desde o Paleozoico; (2) deslocamento dos fragmentos para o
norte no Tetis; (3) acreção de cada fragmento à borda sul da Eurásia; (4) fechamen-
to do Tetis com a chegada da Índia à zona de colisão no começo do Paleógeno.
Estruturalmente reconhece-se que o Himalaia é formado por lascas mer-
gulhando para norte ao sul e para sul ao norte. Duas grandes e largas zonas de
empurrão tardicenozoicas se destacam: as chamadas Main Boundary Thrust e
Main Central Thrust. Elas delimitam grandes lascas de empurrão e domínios
morfotectônicos que se costuma separar no Himalaia. O Sub-Himalaia situa-se
abaixo da Main Boundary Thrust e corresponde à parte mais baixa da cadeia

114 geologia estrutural aplicada


montanhosa, onde se instalou uma bacia de antepaís (Planice Indo-Gangética,
Grupo Siwaliks, Neogeno). O Baixo Himalaia é a lasca limitada pela Main Boun-
dary Thrust na base e pela Main Central Thrust no topo, e formada por rochas
sedimentares e metassedimentares pré-cambrianas a miocênicas. O Alto Hima-
laia é limitado na base pela Main Central Thrust e se estende para o norte, sendo
constituído por rochas metassedimentares neoproterozoicas e cambrianas, bem
como rochas de margem continental permianas a cretáceas.

Figura 74. A cadeia do Himalaia. A: o deslocamento da Placa da Índia para o norte em 70, 50 e
0 Ma, que culminou com a colisão da Índia com a Ásia formando a cadeia do Himalaia. B: bloco-
-diagrama esquemático do Himalaia, mostrando a sutura (também referida como MMT – Main
Mantle Thrust) que separa o Alto Himalaia do Baixo Himalaia. O prisma de acreção é formado por
sedimentos incluindo ofiólitos e rochas que faziam parte da Índia (xistos, gnaisses e granitos), e si-
tua-se entre a sutura e o empurrão designado MCT (Main Central Thrust). A MBT (Main Boundary
Thrust), limita a base do conjunto das rochas fatiadas e empilhadas sobre a sutura. Existe incerteza
sobre a articulação da litosfera-manto superior das duas placas em profundidade. C: o sistema coli-
sional envolve, de sul para norte, a planície Indo-Gangética, o Himalaia, o Platô do Tibete e bacias,
como a de Tarim. A oeste e leste, as extremidades do Himalaia são marcadas por arcos estruturais
fechados chamados sintaxes, passando para a cadeia de Zagros do Oriente Médio e para as cadeias
montanhosas do Sudeste Asiático. D: endentação da Índia na Ásia, falhas transcorrentes que aju-
dam a acomodar os deslocamentos (escape lateral), e sistemas de riftes transversais ao Himalaia no
alto da cadeia. A nordeste, no sudeste da China, e norte, na região do Lago Baikal (sul da Sibéria),
atua distensão considerada como gerada por reflexos dos movimentos do Himalaia.

parte 1 – tectônica de placas 115


O mecanismo de ascensão do Platô do Tibete é ainda muito discutido. Na
sintaxe que marca o limite leste do Himalaia foi reconhecida uma primeira eta-
pa de evolução, em 55-40 Ma, quando se deu a endentação da Índia para nor-
te, incidiu o metamorfismo, e a subducção alcançou profundidade de 70 km, e
uma segunda etapa depois de 40 Ma, em que (1) ocorreu a ascensão da cadeia
montanhosa, envolvendo encurtamento de pelo menos 1.400 km desde o início
da colisão da Índia com a Ásia, e gerando o Platô do Tibete em 40-50 Ma, e (2)
incidiram falhamentos transcorrentes e as fatias começaram a extrusão rumo ao
Sudeste Asiático (o chamado escape lateral) e houve rápida exumação de rochas
metamórficas até de alto grau a partir de 22 Ma.
Os dados sísmicos mostram que a crosta a sul e norte da cadeia tem espessu-
ras da ordem de 45 km, mas alcança 70-80 km sob o sul do Platô do Tibete, sendo
discutida a origem desse espessamento. O continente indiano é reconhecido como
se estendendo cerca de 600 km a norte da fronte de deformação do Himalaia e
200 km sob a Ásia, admitindo-se que chegue até as profundezas da porção cen-
tral do Platô do Tibete. A inter-relação dos dois continentes sob o Tibete não tem
ainda explicação consensual. Uma hipótese considera que a colisão foi seguida de
deslaminação do manto superior da Placa Euro-Asiática, afundamento da porção
despregada e preenchimento do espaço com subida de manto astenosférico mais
quente por volta de 30 Ma, seguindo-se a partir de 20 Ma a elevação do platô. Ele
continua a se elevar 0,5 a 4 mm/ano, com valores mais altos na borda sul.
Nos orógenos, a litosfera é fortemente espessada e as temperaturas e pressões
em profundidade induzem metamorfismo de basalto/gabro até granulito/eclogito/
granada clinopiroxenito, com aumento da densidade para até mais de 3,8 g/cm3.
Isso leva a instabilização gravitacional daquelas porções mais pesadas e elas tendem
a se desplacar, afundar no manto, sofrer reabsorção e contribuir para a heterogenei-
dade do manto. Os resíduos esparsos pesados dessa reabsorção afundam, tendendo
a se acumular na camada D”. Esse é o processo de deslaminação (delamination) ou
descolamento (detachment; décollement em francês) de porções do manto superior
e da crosta inferior. O espaço da porção deslaminada é ocupado por massas adja-
centes de manto superior e inferior. Estas massas deslocadas geram magmas por
descompressão, os quais podem ascender rumo à superfície.
Reflexos da colisão himalaiana incidiram no interior da Ásia até 3.000 km
a norte do Himalaia, sobretudo pelo desenvolvimento de sistemas de falhas nor-
mais. Sedimentos derivados das porções altas se acumulam no sopé, na Planície
Indo-Gangética, em uma bacia de antepaís, tendo já alcançado vários milhares
de metros de espessura.
Alguns aspectos do Himalaia a se destacar são:
• A colisão foi de tipo frontal, com os continentes se aproximando na dire-
ção perpendicular às suas bordas. O encurtamento das massas em colisão
deu-se com a formação principalmente de dobras e falhas de empurrão:

116 geologia estrutural aplicada


camadas paleozoicas até cenozoicas e porções do embasamento mais an-
tigo da placa subductante foram fatiadas e empilhadas para sul na placa
subductante e retroempurradas para norte na placa superior formando
um sistema de cavalgamento. O sentido de transporte das massas rocho-
sas, a vergência, no caso tem duplo sentido.
A colisão em outros casos é oblíqua. Aqui também se forma sistema de
cavalgamento, mas falhas transcorrentes se desenvolvem com maior ex-
pressão, constituindo sistemas transcorrentes, que podem ser destrais ou
sinistrais dependendo dos sentidos de movimento das placas. Resultam
os denominados orógenos transpressivos.
• A distância total admitida da convergência entre Índia e Ásia desde o iní-
cio da colisão é diferente do encurtamento estimado a partir das dobras
e empurrões do orógeno – há um déficit de encurtamento de 500 a mais
de 1.200 km. A explicação encontra-se na acomodação da deformação
por endentação relacionada com a convergência, escape lateral por falhas
transcorrentes, e colapso gravitacional por falhas normais.
Endentação é o processo pelo qual um bloco rígido deforma outro me-
nos rígido, o conjunto lembrando em planta uma reentrância em forma
de dente. No caso, a endentação da Índia durante a convergência impôs ao
Himalaia o traçado em arco de convexidade voltada para sul e delimitado
lateralmente por fortes inflexões chamadas sintaxes, que o separam da ca-
deia de Zagros a oeste e da cadeia montanhosa do Sudeste Asiático a leste.
A acomodação dos movimentos das massas rochosas deu-se também por
falhas transcorrentes sinistrais presentes no alto do Platô do Tibete, que com-
primem e deslocam fatias do platô rumo ao Sudeste Asiático – este desloca-
mento é chamado escape lateral, bem comprovados por dados de GPS.
Esses processos de endentação e escape lateral foram simulados com su-
cesso em experimentos de laboratório.
• Bacias se formaram durante a evolução orogênica e também relacionadas
aos falhamentos transcorrente e normal, bem como bacias de antepaís na
frente (Índia) e atrás (China) em cinturões de dobras-e-falhas.
• O processo de convergência cede lugar ao colapso gravitacional, exuma-
ção ou extrusão do orógeno, com distensão que sucede à compressão,
desenvolvendo falhas normais no alto do platô. As tensões distensivas
se propagam no interior da Placa Euro-Asiática por grandes distâncias,
atingindo o sudeste da China e até na região do Lago Baikal.

Também, alguns aspectos dos orógenos são destacados.


Os orógenos não-colisionais são de diversos tipos. Um deles é o de acreção
ou cordillerano exemplificado pela Cordillera do oeste da América do Norte. Ela
se formou por acreção sucessiva de porções de fundos oceânicos, com seus sedi-
mentos, arcos insulares, arcos continentais às margens do continente, os chamados

parte 1 – tectônica de placas 117


terrenos, compondo um todo que lembra uma verdadeira colcha de retalhos
longilíneos e subparalelos. A designação orógeno andino para esse tipo não é
adequada porquanto os Andes apresentam grande variação espacial, como foi
mostrado acima. O crescimento se dá também por adição de material magmático
e outros sedimentos. Outros tipos de orógenos são citados, como o tipo Laramide
representado pelas Montanhas Rochosas da América do Norte, formado distante
da fossa e com zona de subducção de baixo mergulho (5-10°), e o de retroarco,
resultante de episódios sucessivos de contração e estiramento da bacia retroarco.
Esses orógenos relacionam-se com bordas de placas. Têm sido reconhecidos
também orógenos formados na intraplaca, que são os orógenos intracratônicos
ou intracontinentais. Eles se desenvolvem a partir de riftes e aulacógenos, com
pequena ou nenhuma abertura oceânica, sem subducção ou formação de sutu-
ra, mas envolvendo inversão por compressão induzida por forças atuantes nas
bordas das placas, com deformação, metamorfismo e formação de cadeias mon-
tanhosas menos expressivas. Vários exemplos são conhecidos, como o da Cadeia
dos Pirineus na fronteira Espanha-França, de idade cenozoica.
Cabe aqui referência adicional aos terrenos. Na década de 1970, no oeste da
América do Norte foi reconhecida faixa com 500 km de largura, que perfaz cerca
de 30% do território, como formada por agregação de massas rochosas distintas,
principalmente durante o Mesozoico. Tais massas foram referidas como terrenos
suspeitos (suspect terranes), em seguida referidos simplesmente como terrenos
(terranes). Terreno é definido como um bloco, fatia ou fragmento de crosta deli-
mitado por falhas com constituição e história geológica diferentes das áreas adja-
centes. Os terrenos são gradativamente colados por subducção a um continente
ou a outros terrenos formados anteriormente, de modo a resultar numa colcha
de retalhos alongados. O local de onde provêm as porções é muito difícil de ser
determinado e pode estar a muitas centenas de quilômetros. Suas características
são feições geológicas próprias (constituição litológica e estratigráfica, estruturas,
tectônica, metamorfismo, evolução), assinaturas paleomagnética, geoquímica e
isotópica, registro fossilífero (se houver), idades (inclusive de zircão detrítico), e
outras que o diferem de seu entorno, bem como limites por falhas, em geral de
empurrão ou transcorrentes.
Esse conceito passou a ser aplicado em outras regiões do mundo e, como
a tectônica de placas operou através dos tempos, foi estendido também para o
passado. Com isso, terrenos de diversas idades vêm sendo identificados por toda
parte. Mais recentemente, o estudo desse tipo de unidade tem sido até referido
sob a designação tectônica de terrenos ou análise de terrenos.
A aplicação desse conceito no Brasil começou no Cinturão Sergipano (Da-
vison & Santos 1989) e hoje boa parte das rochas pré-silurianas está sendo classi-
ficada em dezenas de terrenos. Vários deles talvez possam ser assim classificados,
mas ainda faltam dados para essa qualificação.

118 geologia estrutural aplicada


Um aspecto saliente nos orógenos é que eles não são retilíneos quando vis-
tos em mapas, mas apresentam encurvamentos. Encurvamentos com ângulos
maiores que 90° são referidos como oroclíneos, virgações, arqueamentos, reen-
trâncias e outros nomes. Se o arqueamento é mais apertado, menor do que 90°,
em forma de ferradura ou cotovelo, fala-se em sintaxe, como nas extremidades
leste e oeste do Himalaia, cuja formação ainda não é compreendida. Todas essas
feições podem ser rasas ou alcançar profundidade litosférica.
A sutura se apresenta como uma zona de cisalhamento com características
de zona de falha de empurrão ou reversa de caráter dúctil marcando a separação
do continente ou arco insular da placa subductante com o continente da placa su-
perior. Ela é assinalada por associações petrotectônicas complexas (ofiólitos, me-
langes, xistos azuis, lascas de rochas dos dois continentes etc.). Todavia, a sutura
é de difícil reconhecimento em orógenos erodidos, como nos pré-cambrianos
em que essas associações petrotectônicas não são encontradas, provavelmente
por terem sido removidas pela erosão, e se encontram exumados até níveis pro-
fundos – ela se confunde com outras zonas de cisalhamento dúctil do sistema de
empurrão separando metamorfitos de graus médio a alto muito deformados e
fortemente imbricados. A distinção dos dois lados requer mapeamento geológico
e estudos de detalhe que diferenciem os conjuntos litológicos.
O magmatismo presente nos orógenos é classificado em pré, sin, tardi e
pós-colisionais, -orogênicos ou -tectônicos, conforme o relacionamento com o
processo de colisão, orogênese ou deformação principal.
No contexto de evolução progressiva dos ajustes minerais com soterramen-
to das rochas e aumento gradual de pressão e temperatura, e também de retra-
balhamento de porções de embasamento, o metamorfismo regional pode não ser
simples, mas ter sobreposição de transformações. Retrabalhamento é um termo
utilizado correntemente para se referir ao envolvimento de rochas mais antigas
em processos de deformação, metamorfismo, migmatização, e até refusão parcial
(anatexia) em evento orogênico posterior à sua formação.
Pelas associações minerais desenvolvidas deduzem-se os gradientes que atua-
ram e sua sucessão no tempo representada em um gráfico que mostra a trajetória
de P-T-t (pressão-temperatura-tempo). Em geral o metamorfismo é considerado
primeiramente progressivo, com transformações superpostas compatíveis com as
profundidades crescentes (aumento de pressão e temperatura), seguido de retro-
gressivo durante a exumação do orógeno (diminuição de temperatura e pressão).
Num sistema convergente distinguem-se um ambiente de temperatura e
pressão vigente na zona de subducção e prisma de acreção e outro na placa supe-
rior (arco, retroarco). Em decorrência, o metamorfismo das rochas se marca de
modo distinto em faixas paralelas contrastantes, uma de baixo a médio gradiente
de temperatura/pressão na zona de subducção e outro de alto gradiente na placa
superior: são as faixas metamórficas pareadas. Essas faixas nem sempre são iden-
tificadas e o conceito tem sido muito discutido.

parte 1 – tectônica de placas 119


5.2.7 Bacia retroarco

A bacia retroarco (backarc basin) é relativamente rasa e pode alcan-


çar extensões e larguras de até centenas de quilômetros. Ela se forma na placa
superior, atrás do arco insular ou do arco continental. Nela ocorrem falhas nor-
mais, subsidência e acumulação de sedimentos que alcançam espessuras de até
vários milhares de metros. O regime tectônico é distensivo.
Nos oceanos, como no Pacífico Oriental e também no lado côncavo dos
arcos insulares do Caribe e de Sandwich, há vulcanismo e alto fluxo térmico as-
sociados, chegando a se constituir centros de formação de crosta oceânica, de
modo a lembrar os das dorsais oceânicas. Contudo, a composição dos basaltos
desses dois ambientes é muito diferente e nas bacias retroarco implica existência
de correntes de convecção no manto sob a placa superior e fonte do magma in-
dependente daquela do arco insular adjacente. Também, a expansão da bacia é
fortemente assimétrica.
Bacias retroarco se formam também no continente. É o caso do arquipélago
do Japão, que começou a se desenvolver na borda do continente asiático e veio
se afastando da China e Coréia graças à instalação e expansão da bacia retroarco
com fundo de crosta oceânica, onde se formou o Mar do Japão (Fig. 75).

Figura 75. Bordas das placas e bacias retroarco do oeste do Oceano Pacífico (A). Em B, imagem
correspondente a essa área. C: seção esquemática cruzando o Japão e mostrando as várias feições
(a escala dá apenas uma idéia da ordem de grandeza). Na bacia retroarco atua regime distensivo,
rifteamento e formação de crosta oceânica.

120 geologia estrutural aplicada


5.2.8 Bacia de antepaís

Bacias de antepaís ou flexurais (foreland basins, flexural basins) formam-se


por flexão e afundamento da litosfera nos dois lados da cadeia montanhosa que
está crescendo na vertical para cima e para baixo sob vigência de um regime
compressivo. Como a orogênese está em andamento, as porções da bacia modifi-
cam-se progressivamente quanto à subsidência e ao enchimento (Fig. 76). As ba-
cias de antepaís diferem das bacias antearco e retroarco, porquanto estas últimas
se formam em conexão com o desenvolvimento da subducção e sedimentos de
diferentes procedências.
Cabe lembrar que as duas faixas ao lado da cadeia são chamadas antepaí-
ses, embora já tenham sido referidas como antepaís (foreland) aquela do lado da
placa subductante e pós-país (hinterland) a do lado oposto; separando esses dois
domínios também já se propôs distinguir, respectivamente, a probacia e a retro-
bacia, ou bacia flexural periférica e bacia flexural retroarco.

Figura 76. Bacias de antepaís. A: a compressão atuante e o crescimento do orógeno na vertical


promovem a flexão da litosfera nos lados, formando as bacias de antepaís sobre as placas inferior
e superior. 1: cadeia em ascensão, 2: parte principal da bacia de antepaís, 3: alto, 4: zona distal de
menor subsidência. Esses domínios são designados em inglês por wedge top, foredeep, forebulge e
backburge, respectivamente. B: a deformação compressiva forma dobras e empurrões com vergên-
cias voltadas para lados opostos, constituindo as faixas de dobras-e-empurrões. Em B está esque-
matizado o caso de um cinturão colisional (continentes em rosa), mas bacias de antepaís se formam
também associadas a cinturões não-colisionais.

Essas bacias são assimétricas e acolhem pilhas de sedimentos de até mais


de 10 km de espessura, cuja carga também induz subsidência. No início, a cadeia
montanhosa ainda é baixa, a erosão é pouco ativa e as depressões são rasas, de
modo que o suprimento de sedimentos é pequeno, depositados em ambiente que

parte 1 – tectônica de placas 121


pode ser lacustre a marinho raso, variando de conglomeráticos a pelíticos, com
predomínio de turbiditos. Depois, as condições de ascensão, erosão e sedimen-
tação se acentuam: dá-se o assoreamento do corpo de água e a deposição passa
a ocorrer em ambiente continental com sedimentos tendo constituintes que o
intemperismo não teve tempo de decompor; a sua cor avermelhada fez com que
fossem chamadas camadas vermelhas (red beds) ou molassa (em latim: mola =
pedra de moinho, mó).
As forças compressivas induzem dobramentos e falhamentos de empur-
rão nos sedimentos, com vergências para sentidos opostos, voltados para fora
da cadeia montanhosa. As zonas assim deformadas são referidas como faixas de
dobras-e-empurrões (fold-thrust belts). Falhas diversas próprias de sistemas com-
pressivos estão presentes, como falhas de descolamento, empurrões, retroempur-
rões, dúplexes e outras feições, compondo um sistema epidérmico. O conjunto
forma cadeia montanhosa que pode se elevar até quase uma dezena de quilôme-
tros acima do nível do mar.
Muitos são os exemplos de bacias de antepaís, de idades variadas. A primei-
ra estudada foi a Bacia Norte-Alpina, situada ao norte dos Alpes. Ela se estende
por cerca de 700 km, da França à Áustria, e tem largura de até 150 km, alcançan-
do a norte as montanhas do Jura na França e o maciço da Boêmia na Alemanha.
O pacote sedimentar, depositado durante cerca de 30 Ma, do Oligoceno ao Mio-
ceno, tem espessura de cerca de 4 km junto à cadeia e decresce para norte. Outras
bacias foram descritas: a do vale do Rio Pó a sul dos Alpes no norte da Itália, a do
Ebro e da Aquitânia a sul e norte dos Pirineus, a do Ganges a sul do Himalaia etc.
Algumas dessas bacias são importantes pelos depósitos de petróleo e gás, como
a Bacia da Mesopotâmia no Oriente Médio a sul da cadeia de Zagros, a grande
produtora de petróleo do Golfo Pérsico e Irã, e a de Alberta a leste das Montanhas
Rochosas na América do Norte. No domínio subandino elas estão bem represen-
tadas (Fig. 77) e duas têm as bordas orientais avançando para o território do Acre
(Milani & Thomaz Filho 2000).

122 geologia estrutural aplicada


Figura 77. Bacias de antepaís no domínio subandino (em amarelo). As bacias situadas a leste dos
Andes não estão representadas. Simplificado de Milani & Thomaz Filho (2000).

5.3 bordas transformantes

As bordas construtivas e as destrutivas são segmentadas por falhas trans-


correntes transversais ou subtransversais, que configuram o terceiro tipo de bor-
da: as bordas transformantes, direcionais ou conservativas, assim designadas por
não acarretarem acréscimo ou consumo das placas e envolverem deslocamentos
transcorrentes.
Os segmentos mais comumente são de uma dorsal (ex.: Oceano Atlântico),
mas podem ser de uma zona de subducção (ex.: Falha Alpina), ou um de uma
dorsal e outro de uma zona de subducção (ex.: Falha do Mar Morto). As falhas
transcorrentes são destrais ou sinistrais, coerentes com a movimentação das pla-
cas. Cerca de 2/3 das zonas transformantes têm deslocamentos anti-horários no
Hemisfério Norte e horários no Hemisfério Sul. Elas são marcadas por expressi-
vos vales e montanhas alongados, e por sismos originados a baixa profundidade.
As zonas transformantes têm traços que se prolongam lateralmente por ex-
tensões de até muitas centenas de quilômetros, chegando às bordas de continen-
tes ou bordas opostas de placas. Esses prolongamentos são as zonas de fratura,
cuja inatividade tectônica é marcada pela ausência de deslocamentos e de sismos.

parte 1 – tectônica de placas 123


Apesar do nome, elas não são fraturas nem falhas, mas cicatrizes de zonas trans-
formantes deslocadas lateralmente graças à movimentação longitudinal não-uni-
forme da dorsal ou zona de subducção. Tal como as zonas transformantes, são
ladeadas por relevo montanhoso em faixas com largura de até 100-200 km, des-
níveis de até vários milhares de metros que se tornam mais baixos à medida que
se afasta da dorsal. A disposição das anomalias magnéticas lineares deslocadas
por dezenas a centenas de quilômetros marcam bem as zonas de fratura. Exem-
plos de zonas de fratura são encontrados em todas as dorsais oceânicas, como no
Atlântico entre o Brasil e a África (Fig. 78).

Figura 78. Bordas transformantes. A: fundo do Atlântico entre o Brasil e a África, observando-se
a Dorsal Meso-Atlântica, seus segmentos deslocados por zonas transformantes e as extensões la-
terais destas, as zonas de fratura, que se dirigem rumo às bordas dos continentes e se ocultam sob
sedimentos. Imagem do Google Earth. B: esquema da zona transformante e das zonas de fratura.
Os deslocamentos na dorsal e na zona transformante, esta conectando os trechos das dorsais, são
normais e transcorrentes, respectivamente, atestados por análise dos sismos. Notar as setas de des-
locamento na zona transformante entre as duas dorsais.

Algumas zonas transformantes atravessam porções de continentes, como a


Falha Alpina, que cruza diagonalmente a Nova Zelândia e conecta dois segmen-
tos de zonas de subducção, ou a do Mar Morto, que liga a Dorsal do Mar Ver-
melho e a zona de colisão da Cadeia Taurus no sul da Turquia. Contudo, a mais
conhecida é o da Falha San Andreas no oeste dos Estados Unidos, que possui
cerca de 1.300 km de extensão e até dezenas de quilômetros de largura em alguns
trechos, interligando as dorsais Juan de Fuca e do Golfo do México, e passando
pela Califórnia (Fig. 79).

124 geologia estrutural aplicada


OREGON
B

CALIFÓRNIA

3,6 Sacramento NEVADA


Canadá
Dorsal Juan San Francisco Calaveras
de Fuca Placa de Gorda
PLACA NORTE-
Placa Norte- AMERICANA
Zona de Fratura Americana
Mendocino Fresno
3,4 EUA
Placa do Pacífico Falha San Garlock
8 Falha San Andreas
Andreas
Golfo da Califórnia PLACA DO
México PACÍFICO
8
Dorsal do Pacífico Big Pine
Los Angeles

Elsinore San Jacinto


100 km
ARIZONA
San Diego
MÉXICO

Figura 79. A Falha San Andreas. A: a falha conecta as dorsais Juan de Fuca e do Golfo da Cali-
fórnia e separa as placas Norte-Americana e do Pacífico. Seu deslocamento é destral e já acarretou
muitos terremotos arrasadores. Os números indicam velocidades em mm/ano e as setas azuis, os
sentidos de deslocamento das placas. A pequena Placa de Gorda está subductando sob a América
do Norte. B: a falha tem associado um sistema de centenas de falhas menores, que ajudam na
acomodação dos deslocamentos. Caso prossiga o deslocamento, pode-se prever que a porção con-
tinental onde se situa Los Angeles tende a se separar do continente norte-americano. Simplificado
de USGS (1999).

O deslocamento ao longo da Falha de San Andreas nos últimos 30 Ma soma


várias centenas de quilômetros. A ela se associa uma enorme rede de falhas se-
cundárias, elevações e vales lineares e rede de drenagem fortemente controlada.
A parte leste do território californiano, onde se situam San Francisco, Sacramen-
to e Fresno, pertence à Placa Norte-Americana e se desloca para sudeste; a parte
oeste, onde se situam Los Angeles e San Diego, faz parte da Placa do Pacífico e se
desloca para noroeste. Essa parte oeste tende a se separar do continente norte-
-americano. A Placa de Gorda é pequena e está subductando sob o Canadá.
Essas zonas transformantes no continente, como todas as falhas trans-
correntes, mostram trechos encurvados, em que podem se concentrar tensões
compressivas referidas como transpressões, ou distensivas ditas transtensões,
que originam desnivelamentos de blocos formando altos ou baixos por falhas
de componentes inversas ou normais, respectivamente. Também entre extremi-
dades de falhas transcorrentes decaladas e paralelas e nas interseções de falhas

parte 1 – tectônica de placas 125


podem aparecer tais zonas de transtensão e transpressão. Os baixos abrigam as
bacias de afastamento (pull-apart basins) ou romboides (rhomboidal basins), que
são preenchidas por sedimentos provenientes dos lados, podendo abrigar corpos
d´água, como é o caso no Mar Morto.

5.4 a intraplaca

As bordas das placas foram intensamente investigadas nos últimos 50 anos.


Já o interior delas nos continentes e oceanos, a chamada intraplaca, por ser mais
rígida e de movimentação mais discreta, com incidência de processos lentos e
feições menos expressivas, só começou a ser alvo de investigação por causa das
ilhas do Havaí e de outras manifestações, como terremotos, falhas e mudanças no
relevo e drenagem, que não encontravam plena explicação na Teoria das Placas.
Por isso, a intraplaca só veio a ser foco de investigações intensivas em tempos
mais recentes, inclusive no Brasil. A par dos estudos em intraplacas atuais, tem-se
também buscado reconstituições no passado geológico, com base em dados geo-
lógicos, geofísicos e geoquímicos, e modelagens numéricas.
Não há, ainda, explicações cabais das diversas manifestações intraplaca.
As feições e eventos da intraplaca parecem isolados e casuais, mas se sabe que
possuem relação com processos maiores e é na movimentação das placas e no
fluxo de materiais no manto que se vem buscando as causas.
Os tipos de manifestações e feições intraplaca são resumidos a seguir.

5.4.1 Sismicidade intraplaca

As manifestações intraplaca mais estudadas são os terremotos e incidem em


todas as placas. Considera-se que existem tensões no interior das placas, indu-
zidas pelas bordas e pelo manto. Elas podem se acumular localmente em função
de heterogeneidades do continente e se descarregar instantaneamente gerando
os abalos sísmicos.
Estima-se que apenas cerca de 0,5% de toda energia liberada nos terremotos
se relaciona com elas. Sabe-se ainda que o período de recorrência é muito longo,
isto é, a repetição pode demorar até centenas a milhares de anos. Apesar disso,
é importante delimitar áreas de ocorrência, buscar o entendimento das causas e,
sobretudo, tentar prever futuras incidências e alertar para os riscos a que se sujei-
tam populações e construções civis.
Regiões de ativa e crônica sismicidade intraplaca são a do leste e nordeste
dos Estados Unidos, incluindo a região de Nova York. Existem áreas onde os sis-
mos têm ocorrido com maior frequência e recentemente alcançaram magnitudes
até acima de 6. Os casos mais estudados são o de New Madrid (Missouri), onde

126 geologia estrutural aplicada


ocorreram três abalos devastadores em alguns meses de 1811-1812 com magni-
tude de até 8,3 e foram sentidos a 1.500 quilômetros de distância, e o de Charles-
ton (Carolina do Sul), com magnitude de 7,6. Para comparação, pode-se lembrar
que o maior sismo ocorrido em bordas de placas foi de 9,5 no Chile e os acima de
7 não são raros, acarretando enormes danos. Não se conhece a causa desses aba-
los intraplaca, mas considera-se que ocorrem alívios de tensão reativando zonas
de fraqueza na litosfera, mas em geral é difícil identificar-se uma falha específica
que tenha gerado o sismo.
Essa sismicidade ocorre por todo território brasileiro, mas com concen-
trações maiores no Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste. Os de maior magnitude
alcançaram 7,1, com epicentros no Acre e hipocentros a cerca de 550 km de pro-
fundidade, relacionados com movimentos da extremidade profunda da Placa de
Nazca. Fora dessa região, os maiores sismos de intraplaca têm origem a até 40 km
de profundidade (hipocentros rasos) e chegaram a magnitude de 6,3 (Serra do
Tombador, MT, 31/1/1955). O Tabela 2 apresenta os maiores sismos brasileiros.

Tabela 2. Os maiores terremotos ocorridos no Brasil. Os três mais antigos foram identi-
ficados por notícias publicadas; os demais têm registros por sismógrafos.
Magnitude Local Data
6.3 Serra do Tombador (MT) 31/1/1955
6.1 Vitória (ES)* 28/2/1955
Tubarão (SC) 26/6/1939
5.5
Codajás (AM) 5/8/1983
5.4 Noroeste de Mato Grosso do Sul 13/2/1964
Pacajus (CE) 20/11/1980
Acre (fronteira Peru-Brasil) 24/10/1987
Rio Grande do Sul* 12/2/1990
5.2 Porto dos Gaúchos (MT) 13/3/1998
São Vicente (SP)* 23/4/2008
Mogi Guaçu (SP) 27/1/1922
Manaus (AM) 13/12/1963
Acre (fronteira Peru-Brasil) 9/8/1967
João Câmara (RN) 30/11/1986
5.1
Porto dos Gaúchos (MT) 25/3/2005
Oiapoque (AP) 17/9/1949
Porto dos Gaúchos (MT) 10/3/1989
5.0
Tapiraíba (CE) 23/3/2005
Itacarambi (MG) 19/4/1991
4.9
9/12/2007
* Na plataforma continental, ao largo dos locais indicados

Fonte: Barros et al. (2009).

parte 1 – tectônica de placas 127


5.4.2 Tensões intraplaca

As tensões das bordas de placas e as por elas induzidas na intraplaca têm


sido determinadas por vários métodos: análise de sismos, elitização dos diâme-
tros de furos de sondagem (breakout), fraturamento induzido (por perfuração,
sobrefuração e fraturamento hidráulico) e indicações geológicas (análise de fa-
lhas e outras estruturas). A tensão compressiva máxima horizontal para cada lo-
cal é indicada no Mapa Global de Tensão (Heidebach et al. 2018), do qual a parte
da América do Sul é mostrada na Fig. 80.

Figura 80. Parte do Mapa Global de Tensão Mapa referente à Placa Sul-Americana. A legenda
indica que estão representadas as direções de tensão compressiva máxima horizontal (SHmax) obti-
dos por análise de mecanismo focal de sismos, breakout, sobrefuração, fraturamento induzido por
sondagens, fraturamento hidráulico e falhas, mas no território do Brasil só constam as do primeiro
tipo. Os dados de regimes normal aparecem em vermelho, compressivo em verde, transcorrente em
azul e indeterminado em preto. A qualidade dos dados são indicadas por comprimentos das linhas
de direção. Heidbach et al (2018).

Na interpretação regional desses dados é preciso considerar também, além


da atuação de forças no interior do território induzidas pelos movimentos ao

128 geologia estrutural aplicada


longo do perímetro da placa, aquelas de outras origens (p. ex., carga de sedimen-
tos), bem como as reorientações de tensões por descontinuidades (juntas, falhas)
e anisotropias (foliação, acamamento), sempre presentes nos maciços rochosos e
de orientações diversas.
Durante algum tempo, admitiu-se que a intraplaca, sendo rígida, seria capaz
de transmitir esforços de uma borda a outra da placa, sem se deformar. Contudo,
esses esforços podem atuar em porções da intraplaca a distâncias de até mais de
3.000 km da borda, gerando estruturas diversas. Esse é o caso do Lago Baikal em
relação ao Himalaia (Fig. 74D). Ele se situa perto de Irkutsk no sul da Sibéria,
instalou-se em um rifte há 25 Ma, tem 31.500 km², 636 km de comprimento e 80
km de largura, profundidade de até quase 2.000 m e tem o maior volume lacustre
de água doce, mais antigo e mais profundo da Terra. Outro exemplo é um enxa-
me de falhas transcorrentes na região central da Europa, que se considera como
induzidas pelos movimentos nos Alpes. Elas formaram uma bacia romboide de
direção geral NNE e largura da ordem de 40 km, em que alojou o Rio Reno entre
Basileia (Suíça) e Mainz (Alemanha) e foi preenchida com um pacote sedimentar
quaternário que alcança até mais de 350 m nas vizinhanças de Heidelberg, com
discreto vulcanismo associado (vulcão Kaiserstuhl, a 16 km a noroeste de Fribur-
go). No caso do Brasil, muitos admitem reflexos da movimentação nos Andes
pelo menos até a costa atlântica, mas essa é uma questão ainda pendente porque
existem outros esforços a se considerar, relacionados aos movimentos das outras
placas adjacentes, ao arrasto do soalho oceânico e ao deslocamento do continen-
te, além das diferenças locais do peso da própria placa, que pode induzir tensões
verticais igualmente diferenciadas.

5.4.3 Epeirogênese

A intraplaca apresenta movimentos verticais em vastas áreas, de elevação e


afundamento, lentos, de longa duração, baixas amplitudes (até algumas centenas
de metros) e grandes comprimentos de onda (até centenas quilômetros). Eles
afetam a litosfera, sendo causadas por movimentos de massas mantélicas. Foram
classificados como deformações de grande comprimento de onda e são referidos
como epeirogênese ou epirogênese (do grego: epeiros = continente).
O soerguimento tectônico eleva a superfície e os altos, como todas as re-
giões com altitudes acima do nível do mar, tendem a ser rebaixados pela inci-
dência de intemperismo e erosão das rochas até esse nível (nível de base geral).
Essa denudação implica alívio de carga e a região eleva-se buscando o equilíbrio
isostático. O material removido é transportado por agentes diversos e depositado

parte 1 – tectônica de placas 129


em áreas baixas ou rebaixadas. Os agentes (águas, ventos, geleiras) dependem do
clima e este pode resultar ou ser influenciado por fatores diversos, como a orogê-
nese. A pilha sedimentar acumulada exerce uma carga na crosta, que incrementa
a subsidência.
Estudos tectônicos, geomorfológicos, geoquímicos e geofísicos têm sido
realizados e se reconhecem vários tipos de movimentos epirogenéticos. A Fig. 81
esquematiza os principais:

INTRAPLACA
Sismicidade intraplaca
A E
D Elevação e F
Soerguimento B depressão Peso da placa
Estiramento C Anticlinal
Orógeno oceânica e de
rifteamento Rifte Sinclinal sedimentos Dorsal
magmatismo oceânica
Crosta
oceânica
Crosta continental

Manto superior
Sutura
Pluma Subsidência Reação
Manto inferior termal elástica

Figura 81. Esquema dos principais tipos de movimentos na intraplaca entre um orógeno e uma
dorsal oceânica (v.g., América do Sul). Estão indicados os sentidos dos movimentos verticais e as
situações relacionadas com grandes ondulações, efeitos de erosão e de carga, e interveniência de
plumas do manto. Sem escala e com realce vertical. 1 a 6 são referidos no texto.

• É possível reconhecer casos de ação de plumas mantélicas originando es-


tiramento litosférico, soerguimento, rifteamento (Fig. 81/1), sismos rasos
e magmatismo anorogênico (derrames de basaltos, andesitos e riólitos;
intrusões de composições variadas e rochas alcalinas). Em outros casos,
dá-se estiramento da litosfera sem soerguimento e advento de câmara
magmática (Fig. 81/2). Caso a pluma ou câmara magmática seja desa-
tivada, dá-se o esfriamento e consequente afundamento, a subsidência
termal (Fig. 81/3).
• Compressões horizontais propagadas a partir de bordas de placas podem
promover ondulações da litosfera (Fig. 81/4) e também falhas por ativação
ao longo de anisotropias ou reativação de descontinuidades de tipos diversos.
• O inverso, alívio de carga por erosão de grandes extensões continentais,
leva à ascensão e formação de altos (Fig. 81/5) por relaxamento elástico,
referido como reação elástica ou ricochete (rebound).
• O aumento de peso de uma porção da litosfera (por exemplo, por acumu-
lação de sedimentos na superfície) acarreta subsidência, gerando baixos

130 geologia estrutural aplicada


(Fig. 81/6). Mais importante nesse contexto é o peso da placa oceânica,
que tende a deformá-la no contato com o continente, provocando afun-
damento e tendendo a evoluir para uma zona de subducção.

Em essência, os movimentos resultam de esforços verticais e horizontais de


natureza tectônica e/ou isostática que interagem. A componente tectônica diz
respeito à atuação de tensão intraplaca induzida por deslocamentos nas bordas
das placas (compressão horizontal capaz de gerar falhas e grandes ondulações
anticlinais e sinclinais da litosfera), à ação de plumas do manto (gerando soer-
guimentos, rifteamentos e subsidência termal), e a fluxo de materiais do manto.
Uma das questões da epeirogênese é a determinação da idade e magnitude
dos movimentos. Nas áreas onde há sedimentação a subsidência pode ser qua-
lificada analisando as camadas, suas espessuras, suas idades e evolução. Para os
movimentos de ascensão, contudo, a falta de referenciais impede a caracterização
direta. É preciso lançar mão de outros meios, como rastreamento com GPS e in-
terferometria de radar (imagens SRTM), termocronologia (para obter trajetórias
de esfriamento e velocidades de denudação, que podem ser correlacionados com
eventos tectônicos), datações usando isótopos cosmogênicos (para obter dados
sobre intemperismo, erosão, deposição e redeposição no Quaternário), paleobo-
tânica e outros.
Cabe aqui lembrar os conceitos de isostasia e eustasia.
A isostasia é a tendência das massas litosféricas se equilibrarem sobre a as-
tenosfera, umas mais densas e outras menos densas, por efeito gravitacional. Ela
pode ser entendida comparando as massas litosféricas com icebergs se movimen-
tando, sofrendo degelo e procurando preservar o equilíbrio no mar (astenosfera).
A isostasia envolve movimentos verticais de massas rochosas, de tal modo
que em relação a uma superfície localizada a certa profundidade, dita profundi-
dade de compensação, as acima e as abaixo se equilibram. Com a dinâmica do
globo, o equilíbrio isostático nunca chega a ser alcançado.
A geometria da distribuição das massas em equilíbrio foi descrita por dois
modelos que resultaram de aplicações do Princípio de Arquimedes, envolvendo
flutuação de blocos independentes sobre substrato plástico.
1) O modelo de Airy, proposto em 1855, admite que a camada externa da
Terra possui densidade constante e que os blocos de diferentes pesos si-
tuam-se metade acima e metade abaixo da superfície de compensação, de
modo que os blocos de maior peso têm superfícies mais altas e raízes mais
profundas (caso das cadeias montanhosas), e os de menor peso têm super-
fícies menos altas e raízes menos profundas (caso das bacias oceânicas).

parte 1 – tectônica de placas 131


2) O modelo de Pratt, proposto em 1858, considera que as densidades das
massas rochosas variam de modo que, na situação de equilíbrio, elas
têm as raízes situadas num mesmo nível, isto é, a superfície de compen-
sação seria a base das massas – assim, cadeias montanhosas são mais
leves e bacias oceânicas mais pesadas, mas suas bases se situariam à
mesma profundidade.

Os dois modelos são ainda considerados com os conceitos atuais de que a


camada externa da Terra não é a crosta, mas a litosfera, que a superfície de compen-
sação é a Moho, que os movimentos verticais envolvem fluxo da astenosfera e que
as variações laterais de densidade não tão acentuadas como foram consideradas.
Cabe lembrar que o nível do mar sobe ou desce com o degelo ou expansão
da calota glacial. Eustasia é a variação do nível do mar decorrente das mudanças
do volume de água nos oceanos. Se o nível sobe, ocorre o avanço das águas sobre
as terras, a transgressão; o inverso é a regressão. Esses processos alternaram-se ao
longo da história da Terra em ciclos sucessivos. Existem mudanças contínuas da
superfície do planeta e também do clima e, assim, movimentos epeirogênicos e
eustáticos ocorrem em paralelo e nem sempre é fácil distinguir os efeitos de cada
um. Tem sido admitido que está havendo degelo e elevação do nível do mar da
ordem de 1-2 mm/ano, em função do aquecimento global.

5.4.4 Plumas mantélicas

Uma feição importante da intraplaca é a pluma mantélica ou termal.


O calor do manto é originado na camada D’’, que contorna o núcleo exter-
no e dele recebe energia térmica, além daquele que resulta da desintegração dos
elementos radioativos nele presentes. Quando uma porção dessa camada se torna
mais leve, para isso bastando um aquecimento da ordem de 200°C e diminuição
de densidade de 0,1 g/cm3, ela começa a se deslocar rumo à superfície. À medida
que sobe, a temperatura diminui gradativamente e a subida pode cessar. Se não
cessar, o fluxo de calor e de materiais ganha a forma de um cilindro com até 100-
200 km de diâmetro ao alcançar a base da litosfera. Ali se espalha radialmente
para os lados a partir do eixo da coluna, formando uma abóboda de 2.000-2.500
km de diâmetro – essa geometria é comparada a um cogumelo e lembra a figura
da liberação de energia em uma explosão nuclear. Distalmente, as temperatu-
ras decrescem de modo lento e estabelece-se o descenso da convecção. As tem-
peraturas são de até cerca de 5.000°C em profundidade e da ordem de 1.200°C
no topo, decrescendo para 1/3 nas bordas da abóbada. Esse corpo é a pluma do

132 geologia estrutural aplicada


manto. Estima-se que cerca de 10% do calor trazido hoje para a superfície da
Terra se dê por esse modelo de processo.
A pluma do manto induz aquecimento da litosfera acima dela e, consequen-
temente, uma série de processos tectônicos e magmáticos. Esse aquecimento re-
dunda em perda de rigidez da litosfera e em seu adelgaçamento, estiramento e
rifteamento, com ou sem soerguimento dômico que pode alcançar milhares de
quilômetros quadrados e altura até superior a um milhar de metros. Esse riftea-
mento pode evoluir para uma junção tríplice, separar continentes e abrir oceano.
A área afetada na superfície é chamada ponto quente (hot spot), como foi reco-
nhecido já por Wilson (1963) e Morgan (1971). Como plumas e pontos quentes
são inter-relacionados, por vezes se utiliza impropriamente as duas designações
como sinônimas.
Ao alcançar a base da litosfera, as plumas sofrem descompressão e formam
um centro magmático, com magmas que ascendem e dão origem ao vulcanismo.
As rochas vulcânicas são de composição química toleítica e alcalina.
A atuação das plumas na intraplaca incide em áreas oceânicas, nas dorsais
oceânicas e no interior de continentes. Em áreas oceânicas, as plumas originam
os platôs e os cordões de montes submarinos que em parte se expõem na su-
perfície formando ilhas. O maior platô é o de Ontong-Java no Oceano Pacífico,
formado em dois episódios de vulcanismo, em 120 e 90 Ma. As ilhas do Havaí e
a Cadeia Emperor exemplificam os cordões de montes submarinos e ilhas. Tam-
bém nas dorsais ocorrem plumas, que promovem atividades tectônicas e magma-
tismo, como na Islândia. No interior do continente, elas formam soerguimentos
em que incidem rifteamento e magmatismo, como acontece no leste da África.
As ilhas do Havaí constituem o exemplo mais estudado. O magma, mais
leve que as rochas sobrepostas, nelas penetra e acaba por se derramar sobre o soa-
lho oceânico, formando uma elevação. Esta cresce com derrames sucessivos até
emergir e constituir uma ilha. O arquipélago é um cordão de ilhas com extensão
de aproximadamente 200 km, assim formadas à medida que a placa se deslocava
sobre o centro magmático (Fig. 82). A ilha do Havaí situa-se na extremidade leste
do arquipélago; as suas rochas têm menos de 700.000 anos e ali ainda ocorre vul-
canismo (Kilauea, o vulcão mais ativo do mundo); pouco a leste dela existe uma
elevação de 2.000 m de altura, que já despontou como uma pequena ilha (Loihi),
que deverá se alçar mais no futuro próximo.
Seguindo da ilha do Havaí para oés-noroeste, as outras ilhas são cada vez
mais velhas, até a de Daikakuji, de 42,4 Ma. Outras ilhas aparecem alinhadas para
o rumo próximo de norte, até chegar à zona de subducção das Aleutas; as idades
aumentam nesse sentido, chegando a 70 Ma. Este cordão é a Cadeia Emperor, um
exemplo de cadeia assísmica.

parte 1 – tectônica de placas 133


Fo Vulcão
ss
Ale a da
uta s Ilha 1
s
Litosfera

Manto sublitosférico Magma

Ilha 1 Ilha 2
Suiko
59,6 Ma

Nintoku
56,2 Ma CADEIA Ilha 3
Ilha 1 Ilha 2
40°N

ASSÍSMICA
Ojin EMPEROR
55,2 Ma

Koko
48,1 Ma

Midway
Daikakuji 27,2 Ma
42,4 Ma
Laysan
19,9 Ma Necker
10,3 Ma
Nihoa
Kawai
ARQUIPÉLAGO Oahu
DO HAVAÍ Mauí
20°N

Nihau
Molokai Havaí

180°W 160°W

Figura 82. O arquipélago do Havaí é um conjunto das ilhas alinhadas desde a do Havaí até a de
Daikakuji. Desta última para norte aparece a Cadeia Emperor, um cordão de ilhas mais antigas.
Em laranja: áreas emersas. Os números correspondem às idades e são crescentes do Havaí para as
proximidades da fossa das Aleutas. O esquema ao lado ilustra a formação sucessiva das ilhas 1, 2
e 3 sobre um centro vulcânico com migração da placa acima dele, resultando o cordão de ilhas de
idades decrescentes.

Sendo a pluma fixa e a placa se movimentando sobre ela, uma ilha formada
se afasta e deixa de ser palco de vulcanismo; o processo se repete na nova área que
se sobrepõe à pluma e assim, em sucessivos pulsos, se forma o cordão de eleva-
ções do fundo do mar e o arquipélago. A Cadeia Emperor e o arquipélago do Ha-
vaí representam produtos de uma mesma pluma, sendo a disposição indicativa
de que o rumo de deslocamento da Placa do Pacífico mudou há cerca de 42 Ma.
Conhecendo as idades e as distâncias das ilhas pode-se determinar as velocidades
da placa, admitindo que a pluma é estacionária.

134 geologia estrutural aplicada


Além de todos esses aspectos das plumas existe um acervo enorme de infor-
mações de geoquímica, tomografia sísmica e outros dados indiretos.
O leste da África apresenta o exemplo de atuação de plumas no continente.
Ali, plumas do manto originaram riftes interligados ao longo de mais de 2.000
km de extensão, que tendem a abrir um novo oceano e separar a porção leste que
é conhecida como Placa da Somália, do mesmo modo que o Mar Vermelho sepa-
rou a Península Árabe (Placa Arábica) do “chifre” da África (Fig. 83).

PLACA
Rio EURO-
Nilo ASIÁTICA

PLACA ÁRABE Golfo


Pérsico
Mar
Vermelho

PLACA
AFRICANA
Golfo Aden

Equador

Lago (PLACA DA SOMÁLIA)


Vitória

Figura 83. A pluma no leste africano gerou soerguimento, riftes e magmatismo, marcados por for-
mação de rios, lagos e vulcões. O Mar Vermelho ocupa um rifte jovem e o Golfo Aden, outro algo
mais antigo; o rifte que adentra o continente é o terceiro ramo de uma junção tríplice, que tende a
separar a futura Placa da Somália. Círculos vermelhos: vulcões.

Do Sudeste ao Sul do Brasil, o traçado da costa entre o Espírito Santo e o sul


de São Paulo e deste para Santa Catarina é interpretado como relacionado a uma
pluma que existiu no Cretáceo. No lado brasileiro, dois riftes se desenvolveram e
abrigaram as bacias de Campos e Santos; o terceiro ramo abortou, corresponden-
do ao enxames de diques de diabásio no Arco de Ponta Grossa.
Também foi reconhecido um alinhamento de várias intrusões alcalinas
do Cretáceo-Paleógeno desde Poços de Caldas até Cabo Frio, o chamado Ali-
nhamento Poços de Caldas-Cabo Frio, que foi interpretado como devido a uma
pluma do manto, hoje supostamente situada em Tristão da Cunha (Sadowski &
Dias Neto 1981; Thomaz Filho & Rodrigues 1999). Tem sido argumentado que
os espaçamentos das intrusões no continente não são proporcionais à variação

parte 1 – tectônica de placas 135


de idades, que elas têm composições distintas de Tristão da Cunha e que uma tal
pluma, se existiu, implicaria em bruscas alterações de sentidos de deslocamento
da Placa Sul-Americana.
A descrição de plumas apresentada é o modelo clássico e representa a Hi-
pótese das Plumas, que é veiculada correntemente (p. ex., Sleep 2006). Contudo,
com base em dados de tomografia sísmica, petrologia, geoquímica e geologia iso-
tópica, tem sido discutido, e até negado o modelo, neste caso procurando explicar
as anomalias termais do manto sem vinculação com plumas. Dentre os vários
aspectos discutidos destacam-se:
• O modelo clássico situa a origem da pluma na camada D’’, mas a tomo-
grafia sísmica tem mostrado que existem plumas de muito pequeno diâ-
metro subindo de pontos fixos na camada D”, e outras provenientes da
zona de transição, do manto superior ou de zonas deslaminadas.
• A tomografia sísmica mostra a existência de pluma com forma de co-
gumelo em vários casos e com geometrias diferentes em outros, mas há
exemplos em que não há indicação de existência de pluma. Também o
soerguimento nem sempre é observado.
• O manto superior é mais quente e mais fluido do que foi admitido. Assim,
qualquer descompressão, por exemplo na ruptura de continentes, gera mag-
mas, não havendo necessidade de se admitir plumas vindas de profundezas.
• A pluma, embora possa ser fixa em alguns casos, também se move, assim
como a placa sobre ela.
• Alguns casos, interpretados como efeitos de plumas não mostram o zo-
neamento de idades e as manifestações devem relacionar-se com anoma-
lias térmicas alongadas ou de maior extensão manifestando-se aqui e ali,
como é o caso do Parque Nacional de Yellowstone.

5.4.5 Grandes províncias ígneas (LIPs)

Ao longo da história da Terra ocorreram eventos de formação de massas


magmáticas em volumes de mais de 100.000 km3 e extensões até maiores que
1.000.000 km2 em vários tipos de jazimentos (derrames, intrusões, soleiras, en-
xames de diques), sem relação com dorsais oceânicas, que são as maiores fontes
atuais. Os melhores exemplos datam do Mesozoico e Cenozoico, mas exemplos
existem do Paleozoico e Proterozoico em forma de grandes enxames de diques, so-
leiras e intrusões acamadadas. Essas massas magmáticas constituem as chamadas
grandes províncias ígneas (large igneous provinces, LIP). Elas podem ser definidas
como grandes extensões e volumes de rochas ígneas formadas em eventos disten-
sivos intraplaca de curta duração. Os casos mais frequentes e espetaculares são de

136 geologia estrutural aplicada


magmatismo máfico, com extensos derrames de basaltos (Fig. 84), mas também
magmatismo félsico é conhecido. A origem delas é relacionada com plumas man-
télicas, mas outros modelos têm sido propostos para alguns casos.

Figura 84. As grandes províncias magmáticas do mundo, de composição basáltica.

Um exemplo de LIP é representado pelo conjunto de diques do Paraguai de


136-138 Ma e diques, soleiras, intrusões e derrames do sul do Brasil formados de
129 a 134 Ma. Pode-se destacar que:
• A espessa pilha de derrames de basaltos (Formação Serra Geral) cobre
cerca de 1.200.000 km2. Ela se conectava com a bacia de Etendeka no lado
africano, mostrando que a área afetada foi bem maior.
• Três grandes enxames diques de diabásio aparecem: um ao longo da costa
do Rio de Janeiro ao Paraná, com direção ENE, outro na costa do Paraná
e Santa Catarina, com direção NNE, e um terceiro no Paraná com direção
NW. Tais enxames são relacionados com soerguimentos e fraturamentos
ao longo uma junção tríplice no estágio pré-fragmentação América do
Sul-África; essa junção evoluiu em seguida para rifteamento e abertura
do Atlântico nos dois primeiros ramos citados, enquanto o terceiro ramo
abortou e corresponde ao Arco de Ponta Grossa.
• Soleiras penetraram sedimentos da Bacia do Paraná, principalmente os
paleozoicos.
• Intrusões alcalinas pontuam a borda da Bacia do Paraná, e a elas se associam
carbonatitos e rochas ultramáficas, portadores de importantes bens minerais.

Uma interpretação proposta considera o magmatismo da Bacia do Paraná,


o Alto do Rio Grande, a cadeia de Walvis do Atlântico Sul e a Bacia de Etendeka

parte 1 – tectônica de placas 137


como assinaturas do traço da pluma que hoje se localiza em Tristão da Cunha,
junto à dorsal Meso-Atlântica (Peate 1997). Contudo, discute-se problemas rela-
tivos a essa pluma, como a heterogeneidade composicional mantélica e relação
com a abertura do Atlântico. Interpretação de origem não ligada a pluma tem
sido levantada considerando deslaminação.

5.4.6 Superintumescências e superplumas

Existem hoje duas grandes regiões com uma série de características que as
destacam do resto do globo, como topografia mais elevada do que seus entornos,
velocidade sísmica menor que a normal, presença de vários tipos de feições geo-
lógicas e anomalias termais.
Essas regiões foram chamadas superintumescências (superswell), por terem
sido primeiramente reconhecidas pela elevação topográfica regional. Elas foram
relacionadas a enormes plumas mantélicas, que possuem raízes na camada D” e
foram designadas superplumas (superplumes), como esquematizado na Fig. 85.
Essas superplumas são anomalias termais que fornecem calor para a astenosfera,
lubrificando o movimento das placas, e na superfície, por 60% do calor irradiado
pelo globo. A temperatura no topo da superpluma é suficiente para gerar mag-
mas máficos, que se agregam à base da crosta (underplating). Também irradia
plumas menores do seu topo, que podem formar pontos quentes com intrusões e
vulcões, e até gerar crosta oceânica.

B LUMA AFRI
CA
RP ÁFRICA NA
PE
U
A S
Crosta
Manto superior
Leste Africano
Oceano Zona de colisão
Co

Manto
AlpesZagrosHimalaia Atlântico inferior Índia-Ásia
r
di
lle

Dorsal Núcleo
ra

Meso- externo Tibete


Atlântica Núcleo
Equador interno
Superpluma Superpluma ÁSIA
Africana AMÉRICA
do Pacífico DO SUL
es

Fossa do
And

Peru-Chile China

Fossa de
Marianas
Havaí
Oceano Pacífico

Figura 85. As superplumas do Pacífico e Africana. A: as superplumas, onde ocorrem velocidades


sísmicas mais baixas, plumas do manto e vulcanismo; estão indicadas também as áreas de relevo
mais elevado. Simplificado de Potter & Szatmari (2009). B: seção do globo cruzando a Ásia, África
e América do Sul, indicando as placas e zonas de subducção (verde), a camada D” (azul), as super-
plumas e a Zona Triangular do Pacífico Ocidental.

138 geologia estrutural aplicada


Uma dessas regiões anômalas recebeu várias designações, sendo a mais
usada a de Superintumescência do Pacífico relacionada à superpluma de mesmo
nome, que atua desde o Cretáceo. Nela, o relevo é mais raso, de até 750 m acima
do fundo oceânico circunjacente; tem várias plumas mantélicas, vulcões, ilhas,
cadeias assísmicas e dorsal oceânica, bem como litosfera mais delgada e menos
resistente do que esperado pela idade das rochas, e menor velocidade sísmica no
manto superior. Essa anomalia tem centro na Polinésia Francesa.
A outra é chamada Superintumescência Africana, relacionada à superplu-
ma homônima que teria atuado desde o Cretáceo. Ela foi reconhecida primeira-
mente com a observação do extenso platô do sul da África com altitudes de cerca
de 1.000 m, bordejado pela escarpa que o contorna pelo lado sul, de aproxima-
damente 3.000 km de extensão. Esse platô coincide com crátons arqueanos e tem
altitudes da ordem de 500 m acima da média de outros crátons do mundo. O alto
topográfico se estende para o leste Africano, onde se reconhece estar ocorrendo
a fragmentação do continente separando a Placa da Somália. Também se estende
para o fundo do Oceano Atlântico. O fluxo térmico é alto, existem pontos quentes,
a litosfera está adelgaçada, a velocidade sísmica é menor que a normal e há uma
anomalia termal que desce até a base do manto. Esta anomalia no manto inferior
situa-se sob o sul da África se adelgaça em profundidades abaixo de 1.000 km.
Ela inflete para noroeste, alcançando a região dos riftes do leste africano, onde o
soerguimento, rifteamento e magmatismo são ativos.
Ao longo da história geológica têm sido identificados períodos de cerca de
100 Ma em que se formaram superplumas. São os chamados eventos de super-
plumas, com duração da ordem de 100 Ma. Eles promovem maior velocidade de
expansão do fundo oceânico, aumento da temperatura global, elevam o nível do
mar e, com isso, propiciam a deposição de folhelhos negros e geração de petróleo
(Potter & Szatmari 2009). Também tem sido procurada a relação desse tipo de
feição com os ciclos de aglutinação e fragmentação de continentes.
Um dos ciclos é o do Cretáceo, a que se relacionam as duas superintumes-
cências do Pacífico e Africana, que ainda estão em progresso, tendo gerado a
LIP da Bacia do Paraná e outras feições no Brasil. Vários outras são admitidas,
a exemplo de 1,9-1,8 Ga (que gerou a LIP Uatumã da Amazônia) e o de 2,7 Ga.

6 O motor das placas


Os movimentos das placas tiveram várias explicações para seu motor.
A primeira baseou-se na teoria da contração da Terra que foi corrente no
Século 19. O planeta estaria se esfriando por perda de calor e, consequentemente,

parte 1 – tectônica de placas 139


se contraindo. Chegou-se a calcular que, partindo de um estado líquido, o pla-
neta teria levado 100 Ma para atingir o estado atual, com 200-600 km de contra-
ção. A contração geraria a compressão responsável pela formação das grandes
cadeias montanhosas na camada externa endurecida pelo esfriamento, mediante
falhamento e empilhamento de lascas. Cálculos mais recentes mostraram que a
contração foi muito lenta, de apenas algumas dezenas de quilômetros ao longo do
tempo geológico. A existência de distensão que se reconhece na superfície é outro
problema para essa teoria.
Outra teoria, oposta a essa, foi proposta no começo do século passado, a da
expansão da Terra. Ela considerou que o globo era menor e tinha uma camada
externa rígida e contínua, que, com a expansão, se fragmentou e as porções se
afastaram formando os continentes, enquanto material do manto subiu nos es-
paços abertos para formar a crosta oceânica. Também, a expansão explicaria as
feições estruturais geradas por distensão. Contudo, não explica muitos processos
conhecidos como a subducção e as estruturas compressivas.
A descoberta da radioatividade ainda no Século 19 trouxe a interpretação
de que o planeta possui uma importante fonte interna de calor por desintegra-
ção de U, Th e K no manto, além daquele proveniente do núcleo. Isso possibili-
tou considerar correntes de convecção no manto desde o trabalho de Holmes de
1928, como o mais importante mecanismo de transferência de calor da Terra e
que seriam capazes de promover os movimentos de porções da litosfera. O manto
inferior tem temperaturas da ordem de 5.000°C na base e de 1.200°C no topo, que
induzem correntes de convecção e fluxo plástico de materiais. O calor para ali
trazido seria da ordem de 70 a quase 100% do total; o restante se perde por con-
dução para os lados. Na crosta também a temperatura aumenta com a profundi-
dade, mas aí não se formam correntes de convecção por ser sólida. Os materiais
do manto acendem até a base da litosfera e ali se espalham lateralmente, esfriam
e retornam ao fundo.
As correntes ascendentes induziriam forças responsáveis pela divergência
das placas oceânicas a partir da dorsal oceânica. O descenso das células de con-
vecção nas zonas de subducção promoveria arrasto da placa subductante para as
profundezas do manto.
Essa interpretação foi objeto de mais de meio século de investigação e dis-
cussão. A tomografía sísmica tem confirmado o afundamento de placas subduc-
tadas, envolvendo crosta oceânica e sedimentos associados, bem como porções
deslaminadas de crosta inferior ou do manto superior. Essas porções são em
parte reabsorvidas, incorporando-se ao manto; assim, os resíduos mais pesados
afundam e se acumulam na camada D”, o que tornaria o manto muito hetero-
gêneo em composição. De lá esses materiais são remobilizados para cima por
correntes de convecção e plumas. Na superfície são gerados prismas de acreção
em orógenos, bem como materiais magmáticos em arcos magmáticos, em dorsais

140 geologia estrutural aplicada


oceânicas, em pontos quentes, em zonas de deslaminação da crosta inferior ou
no manto superior, e em zonas de acreção vertical na base da crosta (underpla-
ting). Crosta preexistente é reciclada mediante retrabalhamento. Com a dinâmica
litosférica, novas placas são subductadas e o ciclo se repete num amplo processo
de reciclagem de materiais diversos no manto superior e inferior. Essa reciclagem
foi referida como “indústria da subducção” (subduction factory, Tatsumi 2005) e
teria sido ativa ao longo da história da Terra.
Até onde se daria a ascensão das correntes de convecção é uma questão pen-
dente. Se a camada de transição do manto representa mudança de composição,
ela não seria atravessada pelas correntes. Isto faria com que células de convecção
existissem em dois níveis, acima e abaixo da zona de transição. Em sendo uma
transição de estado sólido de menor pressão para outro de maior pressão, não
seria criada uma barreira e as correntes a atravessariam.
Essa questão leva à outra que é a existência de um ou dois níveis de atua-
ção das correntes de convecção. Existem casos em que as correntes de convecção
atuam acima do nível de 660 km ou têm complexidade maior. Assim, outros me-
canismos são necessários para explicar esses casos e modelos têm sido propostos.
Ainda tem sido considerada a deslaminação do manto superior como um proces-
so importante para geração de anomalias termais.
Também, foi mostrado que as forças distensivas que movem as placas con-
tribuem para o afastamento na dorsal, mas não bastam para movimentar as pla-
cas. As forças necessárias foram buscadas em outro contexto. A placa oceânica
se torna mais fria, pesada e espessa à medida que se afasta da dorsal. Com isso,
ela tende a afundar e, em decorrência da sua inclinação, permite que a gravidade
atue não só para promover o seu afastamento a partir da dorsal (ridge push), mas
principalmente o afundamento na zona de subducção por um empuxo gravitacio-
nal negativo (slab pull), tanto mais efetivo quanto maior a inclinação. Estima-se
que essa força responda por 90% da total. Adicionalmente, a placa subductante
induz, na zona de subducção, arrasto da placa superior para baixo, gerando uma
força de sucção (ou empuxo) próxima à fossa (trench suction). Essas forças são as
principais que devem atuar em combinações diversas (Fig. 86).

Litosfera
continental Dorsal oceânica e
Continente zona transformante
Fossa Oceano
Sucção na fossa
(trench suction)
Litosfera Afastamento
Empuxo oceânica na dorsal
negativo (ridge rush)
(slab pull) Astenosfera
Gravidade

Figura 86. As forças relacionadas com a gravidade e atuantes nas placas exercem afastamento na dorsal
oceânica, sucção na fossa e afundamento da placa subductante. Baseado em Forsyth & Uyeda (2007).

parte 1 – tectônica de placas 141


Assim, as placas e manto inferior, que são partes de um todo, parecem ter
como agente fundamental da dinâmica a gravidade e, limitadamente, o afasta-
mento da dorsal pelo magmatismo que ali ocorre. As correntes de convecção
podem contribuir nas dorsais oceânicas.

7 A Tectônica de Placas através do tempo


Reconhece-se que a crosta de todos os continentes tem porções que come-
çaram a se formar em tempos arqueanos e se ampliaram através do Proterozoico
e Fanerozoico. Essas porções revelam uma história envolvendo fragmentação de
um supercontinente, evolução das massas continentais e formação de um novo
supercontinente – essa história representa um Ciclo de Wilson ou Ciclo de Su-
percontinente (Fig. 87).

Figura 87. Esquema das etapas do Ciclo de Wilson, evoluindo do supercontinente 1 para o super-
continente 2, passando por processos de divergência, de convergência e de transição. Simplificado
de Fichter (2000).

Esse ciclo resume-se em termos de processos e produtos de três fases:


• abertura de oceanos com fragmentação de um supercontinente e disper-
são de continentes. Termos como fissão, ruptura, separação, deriva, dis-
persão e fusão dizem respeito a esta etapa;

142 geologia estrutural aplicada


• fechamento de oceanos com convergência e aglutinação de continentes.
Termos como aglutinação, amalgamação, justaposição e ancoragem refe-
rem-se a esta fase;
• transição para um novo supercontinente. Esta fase é também referida
como estabilização.

7.1 Abertura de oceanos

A fragmentação de uma massa continental pode se dar em duas situações.


A primeira resulta da concentração anômala de calor na base da litosfera indu-
zido por pluma do manto, gerando soerguimento, estiramento e adelgaçamento
da litosfera, e rifteamento – é o chamado rifteamento ativo. O adelgaçamento é
resultante do aquecimento da base da litosfera incorporando-a ao manto subli-
tosférico. A segunda é produzida por forças distensivas regionais que estiram a
litosfera, adelgaçando-a e promovendo o rifteamento – é o rifteamento passivo
(Fig. 88). Estas forças distensivas são admitidas como induzidas por movimentos
das bordas das placas.

A
Crosta
Distensão Litosfera
Manto superior

Astenosfera

B Gráben

Estiramento litosférico
C Gráben

Pluma do manto

Figura 88. Esquema de mecanismos de rifteamento. A: seção litosférica sujeita a distensão.


B: rifteamento passivo com estiramento (setas), adelgaçamento litosférico, formação de anomalia
termal por descompressão no manto inferior e magmatismo intrusivo e vulcânico (não indicado).
C: rifteamento ativo, com atuação de pluma do manto (vermelho), soerguimento, adelgaçamento
litosférico, estiramento (setas), rifteamento e magmatismo intrusivo e vulcânico (em verde).

parte 1 – tectônica de placas 143


Em ambas há descompressão do manto inferior e geração de magmas,
formando-se granitos e riólitos, complexos anortosito-mangerito-charnockito-
-granito (AMCG) e enxames de diques máficos (gabros, diabásios). Um dos con-
textos em que ocorrem os granitos anorogênicos é o de intraplaca, associados
a soerguimentos, riftes continentais ou bacias oceânicas. Os magmas geradores
de todas essas rochas derivam de processos diversos, como o fracionamento de
basaltos, fusão de crosta siálica e misturas de fontes mantélicas e crustais, desta-
cadamente representados no Mesoproterozoico.
É possível que as bacias intracratônicas ou intracontinentais, também cha-
madas sinéclises, possam começar seu desenvolvimento com rifteamento. A tem-
peratura elevada associada ao rifteamento, ao arrefecer, pode gerar subsidência
em extensa região (subsidência térmica), que se acentua com a carga dos sedi-
mentos que se acumulam.
A Fig. 89 esquematiza o caso de mecanismo ativo com soerguimento, ele-
vando a litosfera por até alguns milhares de metros, fraturamento radial e con-
cêntrico e formação de três riftes, com direções em ângulos idealmente de 120° e
articulados na forma de junção tríplice. No caso de mecanismo passivo também se
formam junções tríplices. Os riftes podem ter desenvolvimento simultâneo ou não,
uniforme ou não. A geometria interna deles pode variar muito. Havendo plumas
próximas, os riftes podem se conectar e, com o avanço, o processo leva a ruptura
de massas continentais. Um dos ramos pode cessar seu desenvolvimento no estágio
de soerguimento ou de rifteamento, neste último caso sendo chamado aulacógeno.

A B C
Aulacógeno

Rifte Rifte Rifte

Rifte Rifte

Figura 89. Esquema do estágio de fragmentação. A: esquema de soerguimento (curvas de nível:


elipses em preto), fraturamento radial e concêntrico (tracejado azul), direções potenciais de riftea-
mento (tracejado preto) e intrusões magmáticas (pontos vermelhos). B: três riftes podem se formar
em uma junção tríplice e evoluírem para abertura de oceano; um dos braços da junção tríplice pode
interromper sua evolução gerando um rifte chamado aulacógeno (C).

Separando duas ou três porções continentais, começa o afastamento delas,


a formação da dorsal oceânica e a criação de crosta oceânica. A expansão do

144 geologia estrutural aplicada


oceano pode ser simétrica ou assimétrica, de modo que a dorsal não é necessa-
riamente mediana. A não-uniformidade de expansão do fundo oceânico origina
zonas transformantes e zonas de fratura. Também, os ramos podem evoluir para
zona de subducção ou falha transformante, dependendo dos movimentos das
placas separadas. Assim, é possível haver articulações tríplices que combinam
segmentos de dorsal oceânica (R de rifte), zona transformante (F de fault) e zona
de subducção (T de trench). Dezesseis combinações são possíveis, sendo mais
comuns as RRR, TTT, TTF, FFR, FFT e RTF; outros tipos são possíveis ou são
instáveis (as características dos braços mudam).
Com o afastamento dos continentes, o soalho oceânico se expande e sedimen-
tos acumulam-se nas margens continentais passivas. A expansão dos fundos oceâ-
nicos a partir das dorsais responde pela maior parte de magma gerado na Terra.

7.2 Fechamento de Oceanos

Os processos que ocorrem na convergência de placas foram já abordados,


resultando na formação de arco insular em domínio oceânico na placa superior e
arco continental e orógeno não-colisional em borda de continente. Ocorrendo o
fechamento do oceano, continentes situados nas duas placas que convergem são
levados a colidir, gerando o orógeno colisional; a zona de subducção fica redu-
zida a uma sutura ou zona de sutura. Num esquema geral de evolução é possível
considerar os passos seguintes:
1) Primeiramente, forma-se o arco insular, exemplificado pelos arcos da
porção oeste do Oceano Pacífico.
2) A placa subductante, que traz um continente com sua margem passiva,
leva-o a colidir com o arco insular. Ex.: Ilha de Taiwan. Se acontecer de
lascas de crosta oceânica serem empurradas sobre um continente assim
envolvido, tem-se a obducção. A zona de subducção acaba bloqueada.
3) Uma nova zona de subducção formada em algum local potencialmen-
te instável, aqui representada pela borda de um continente, leva à for-
mação de margem continental ativa, em que se desenvolve um arco
continental, a exemplo da cadeia Andina.
4) A placa subductante que carrega o conjunto continente-arco insular
ou um continente leva-o à colisão com essa margem ativa, resultando
em orógeno colisional. Um exemplo é o Himalaia.

Esses processos têm algumas características gerais que cabem destacar.


1) O regime tectônico é compressivo. A convergência de placas pode ser
frontal ou oblíqua, conforme se dê transversalmente às bordas ou forman-
do ângulo. Em ambos os casos a deformação começa com dobramentos

parte 1 – tectônica de placas 145


que evoluem para conjuntos de falhas de empurrão; estas separam
lascas empurradas umas sobre as outras (sistemas de cavalgamen-
to) e, para ajudar na acomodação do encurtamento, desenvolvem-se
falhas transcorrentes (sistemas transcorrentes).
Nos casos de convergência frontal, falhas transcorrentes promovem o
escape lateral, como é o caso daquelas no alto do Himalaia que deslo-
cam fatias rochosas rumo ao Sudeste Asiático.
Nos casos de convergência oblíqua, as falhas transcorrentes formam
sistemas importantes e os orógenos são referidos como cinturões
transpressivos. Esses sistemas de falhas transcorrentes não são mera-
mente crustais, mas afetam toda a litosfera.
2) O magmatismo que acompanha esses processos é referido como sin-
tectônico ou sincolisional, ocorrendo no auge da deformação, e tar-
ditectônico ou tardicolisional, que incide logo depois, tardiamente.
Também se reconhece o magmatismo pré-tectônico ou pré-colisional,
que antecede a convergência e é relacionado a arcos magmáticos ou a
processos distensivos (da etapa de distensão). As rochas magmáticas
geradas são afetadas pela deformação em maior ou menor grau.
Também ocorrem transformações composicionais e texturais das rochas
por metamorfismo regional, assim chamado por incidir no âmbito das
faixas afetadas e não apenas associado a feições localizadas (falhas, bordas
de intrusões). Ele é controlado pelas temperaturas, pressões e fluidos.
3) As colagens não se dão normalmente segundo as linhas de fragmenta-
ção que originaram os continentes, isto é, levam a novos arranjos entre
eles e a configuração de supercontinente diferente da original.
4) As bordas do supercontinente formado são margens ativas e podem
coincidir em parte com as existentes no supercontinente original.

Existem aulacógenos e riftes intraplaca que não evoluíram para o estágio de


abertura oceânica e sofreram compressão e inversão possivelmente induzida por
movimentos nas bordas de placas, neles incidindo deformação e metamorfismo
pouco acentuados, e orogenia. Os cinturões orogênicos formados são chamados
orógenos intracratônicos.

7.3 Transição para um novo supercontinente

Na convergência a compressão se atenua, os movimentos de encurtamento


acabam terminando e completa-se o espessamento crustal. Sobrevêm então no-
vas condições tectônicas.

146 geologia estrutural aplicada


Os orógenos constituem faixas de relevo alto, com maior espessura crustal
(70-80 km no Himalaia) e raízes mergulhadas no manto. Sua parte acima do nível
do mar se sujeita a erosão bastante ativa. Ao mesmo tempo, como são constituí-
dos de materiais mais leves que os do manto subjacente, tendem a se elevar em
busca do equilíbrio isostático, tal como um iceberg sobe no mar na medida em
que é derretido na superfície. Com a ascensão e erosão, rochas de níveis cada vez
mais profundos são exumadas e expostas na superfície.
A busca do reequilíbrio isostático da cadeia montanhosa implica ascensão e
intensa erosão que tende a arrasá-la e aplainar todo o interior do supercontinen-
te, com exposição de níveis rochosos cada vez mais profundos. Sendo o orógeno
zona de crosta espessada e heterogênea, a ascensão isostática induz distensão da
litosfera. Os mecanismos assim simplificados na realidade são muito debatidos,
principalmente no que diz respeito aos movimentos que ocorrem no manto.
Nos orógenos incidem intrusões, principalmente de granitoides de tipo
A, não deformados e que representam o chamado magmatismo pós-tectônico
ou pós-colisional. Formam-se falhas normais e desenvolvem-se novas bacias
no meio da cadeia montanhosa (intermontanas, intramontanas) e nos seus so-
pés. Falhas transcorrentes e bacias de antepaís terminam suas atividades. Dá-se
também gradativo arrefecimento regional. Esses processos são referidos como
exumação crustal, colapso gravitacional do orógeno ou extrusão pós-orogênica.
A erosão de orógenos depois de formados dura até 200-400 Ma e pode-se rastrear
o soerguimento e arrefecimento pelo fechamento de sistemas radiogênicos em
vários minerais.
O intervalo em que ocorre essa etapa de evolução das cadeias montanhosas
marca a passagem de condições de extrema atividade tectônica dos processos
de convergência para as de estabilidade de um novo supercontinente. As áreas
estabilizadas dos orógenos somam-se às adjacentes em que já prevalecia o regime
intraplaca e o conjunto todo passa a ter manifestações dessa condição.
Por isso esse intervalo foi chamado estágio de transição na Teoria Geossincli-
nal e essa designação é também ainda muito usada atualmente na Tectônica Global.

8 Os supercontinentes
A concepção da existência de supercontinentes anteriores ao Pangea suce-
dendo-se ao longo da história da Terra remonta aos trabalhos de Valentine &
Moores (1970) e Piper (1976), e tornaram-se importantes pelos impactos no co-
nhecimento da evolução da crosta, atmosfera, hidrosfera e biosfera. Existe hoje

parte 1 – tectônica de placas 147


um vivo debate sobre continentes e supercontinentes, suas configurações, idades
e movimentos, tanto mais intenso quanto mais se recua no tempo, o que decorre
da carência de dados adequados geológicos, geocronológicos, de paleomagne-
tismo, correlação de cinturões orogênicos e determinação da proveniência de
sedimentos. Isto é particularmente válido para o nosso território, como destaca-
ram alguns artigos já publicados. Além disso, existem vastas porções continentais
submersas nos oceanos atuais, que não são acessíveis para a observação direta.
Aqui se focaliza resumidamente os supercontinentes, procurando mostrar
os aspectos essenciais, sem aprofundar nos problemas e discussões que somam
já um enorme volume.
Ao abordá-los é preciso ter em mente que, em decorrência do diacronismo,
não acontece a fragmentação simultânea de um supercontinente nem a justapo-
sição de todas as massas continentais num dado momento. Por isso, os marcos
cronológicos de início e fim de supercontinentes correspondem a momentos os
mais aproximados e mais aceitos de máxima completitude (maximum packing)
do mosaico de massas continentais.
A aglutinação de continentes num novo supercontinente ocorre com a evo-
lução de zonas de subducção em domínio de um alto mantélico, uma superplu-
ma, para onde os continentes convergem. A fragmentação de um supercontinen-
te e a dispersão dos fragmentos ocorre por ação de plumas e abertura de oceanos
quando ele se situa sobre um baixo mantélico, fora dos domínios de superplumas.
Os períodos de formação de supercontinentes coincidem com os máximos
de idades obtidas, que são 2,7-2,6, 1,9-1,8 e 1,3-1,0 Ga. Acrescentam-se também
os períodos de 600-500 Ma e 300-230 Ma.

8.1 Hadeano

O Hadeano (4,56-4,0 Ga) é uma unidade de tempo informal ainda não refe-
rendada pela International Commission on Stratigraphy da International Union
of Geological Sciences (ICS/IUGS). Corresponde ao intervalo de tempo desde a
formação da Terra até o início do Arqueano e é ainda muito mal conhecido.
A idade da Terra foi interpretada em tempos antigos como de milhares a
centenas de milhões de anos, principalmente por interpretação de escritos sagra-
dos. Apenas no início do século passado, começou-se a realizar datações de ro-
chas baseadas em radioatividade e foram apresentadas idades crescentes. A idade
atualmente aceita é de 4,56 Ga, baseada na datação de meteoritos (4,556 Ga),
admitida como idade do sistema solar, e de rochas da lua (4,562 Ga), assumida
como indicativas da idade do nosso satélite.

148 geologia estrutural aplicada


As informações sobre rochas mais antigas são ainda pontuais e não per-
mitem avanços interpretativos sobre a distribuição espacial. A mais antiga foi
encontrada no oeste do Canadá: é uma rocha metamáfica datada pelo método
do samário-neodímio em 4.280 Ma. De resto, há apenas indicações. Na região
de Jack Hills (noroeste do cráton de Yilgarn, oeste da Austrália), existe um me-
taconglomerado paleoproterozoico de protolito sedimentar de leque deltaico,
contendo cristais de zircão que foram datados em 4.348±8 Ma pelo método do
urânio-chumbo; as rochas originais, mais antigas, não foram encontradas na re-
gião. Também no noroeste do Canadá foram datados zircões do Gnaisse Acasta,
ortoderivado, cuja rocha original teria idade de 4.031±0,003 Ga.
Com tais dados não se pode imaginar a existência de grandes massas conti-
nentais nesse tempo, até porque o manto deve ter sido muito quente e não propi-
ciaria movimentos de eventuais massas rígidas nos moldes da tectônica de placas.

8.2 Arqueano e o Supercontinente Kenorlândia

O Arqueano (4,0-2,5Ga) representa quase 1/3 da história da Terra e seus re-


gistros são fragmentários e dispersos em meio a rochas mais novas, dificultando
a reconstituição de sua história (Fig. 90). Contudo, nas últimas décadas muitas
informações foram colhidas sobre a origem, composição, estrutura, tectônica,
evolução e os organismos arqueanos.

FANEROZOICO
PROTEROZOICO
ARQUEANO

Figura 90. Distribuição geral de rochas arqueanas, proterozoicas e fanerozoicas nos continentes.
Projeção no Pangea. Baseado em Windley (1995).

parte 1 – tectônica de placas 149


O fluxo térmico no Arqueano foi o triplo do atual e decresceu gradativa-
mente até 2,5 Ga, sendo o calor em parte o original do planeta e em parte produ-
zido pela desintegração de elementos radioativos. Questão ainda muito debatida
é quando teria começado a tectônica de placas num regime termal tão vigoro-
so. De modo geral, admite-se que: (1) os primeiros pequenos núcleos de crosta
continental teriam se formado já no Paleoarqueano (4,0-3,5 Ga), mas as placas
desse tempo seriam muito pequenas, delgadas, quentes e rapidamente recicla-
das no manto pelas correntes de convecção e subducções; (2) no Mesoarqueano
(3.6-2,8 Ga) formaram-se as primeiras porções significativas de crosta siálica e
as ainda diminutas placas foram afetadas por processo de subducção por volta
de 3,2-3,1 Ga; (3) no Neoarqueano (2,8-2,5 Ga), as placas já tinham milhares de
quilômetros de extensão, a litosfera alcançou espessuras de 150-200 km e eram
ativos os sistemas de convecção e processos de subducção-acreção. Com a forma-
ção das primeiras massas continentais, apareceram a primeira litosfera, o primei-
ro oceano e teve início a vida e a tectônica de placas, esta ainda em moldes menos
expressivos do que hoje. Essa concepção é amplamente disseminada.
São conhecidos cerca de 35 núcleos do Mesoarqueano-Neoarqueano (Bleeker
2003). Eles são mostrados na Fig. 90 e os mais importantes são destacados na Fig. 91.

Figura 91. Principais núcleos arqueanos do mundo. Pontilhado: núcleo arqueanos. Crátons: Sl –
Slave, S – Superior, W – Wyoming, K – Karelia, K+M – bacias Kimberley e McArthur, Y+P – Yul-
garn e Pilbara, G – Gawler. Baseado em Pesonen et al. (2012).

Diferentes interpretações de agrupamentos em continentes e megacon-


tinentes foram já propostos. Rogers (1996) reconheceu três megacontinentes
(Fig. 92): Ur (porções do sul da África, Índia, Austrália e Antártica), reunindo

150 geologia estrutural aplicada


núcleos formados em torno de 3,0 Ga; Ártica (porções da América do Norte,
Eurásia e Austrália: núcleos Laurentia, Sibéria, Báltica, norte da Austrália e norte
da China) formado por volta de 2,5 Ga; e Atlântica (porções da América do Sul
e da África: núcleos Amazônia, Oeste-Africano, Congo e talvez Rio de La Plata e
Norte Africano), que existiu por volta de 2,0, já no Paleoproterozoico (Rogers &
Santosh 2004).

~2,0 Ga
~2,5 Ga Eurásia
~3,0 Ga
ÁRTICA

Groenlândia

América do Norte

ATLÂNTICA
África
Arábia

Madagascar
América do Sul
Índia
UR

Antártica

Austrália

Figura 92. Os megacontinentes do Arqueano e Paleoproterozoico. O Ur engloba o Vaalbara, Ma-


dagascar, parte da Índia e da Antártica. O Atlântica inclui extensas porções da América do Sul e da
África. O Ártica reúne porções da América do Norte e Sibéria. Representação no mapa do Pangea.
Baseado em Rogers (1996).

Foi proposto que esses continentes reuniram-se em um supercontinente


em 2,45 Ga. Ele foi designado Kenorlândia por Williams et al. (1991). A Fig. 93
mostra duas reconstituições: a de Lubnina & Slabunov (2011) e a de Pesonen
et al. (2012), baseadas em dados paleomagnéticos e geológicos. Ela são parciais,
faltando dados para outras áreas, como os crátons Amazônico, São Francisco e
Rio de La Plata. Também apresentam diferenças que podem ser desfeitas com
mais dados.

parte 1 – tectônica de placas 151


60° A B
Cráton Cráton
Superior Superior
30°
30° Laurentia
Cinturão Móvel Cráton da
Belomoriano Karélia
Cráton da 0° Báltica
Karélia 0°
Cráton de
Pilbara Cráton de
Cráton do Austrália Yilgarn
Zimbabwe
30° 30°
Faixa Móvel
Limpopo Cráton
Cráton do Dharwar
Kaapvaal 60° Índia
60°
3,07-2,63 Ga (bacias) 3,0-2,7 Ga
<3,0-2,65 Ga 3,2-2,8 Ga

Figura 93. O Supercontinente Kenorlândia em 2,45 Ga. A: modelo de Lubnina & Slabunov (2011)
considerando Laurentia, Báltica e África. As bacias referidas (em amarelo) são as de Witwatersrand,
Pongola e Fortescue. B: modelo de Pesonen et al. (2012), que considera também a Índia.

8.3 Paleoproterozoico (>1,8 Ga) e o


Supercontinente Colúmbia

O Supercontinente Kenorlândia ou as massas continentais de então começaram


a se fragmentar a partir de 2,45 Ga. Formaram-se pacotes sedimentares, diques, in-
trusões e derrames máficos no começo do Paleoproterozoico. As massas continentais
separadas voltaram a se aglutinar, formando o Supercontinente Colúmbia, designa-
ção introduzida por Roger & Santosh (2002). Também foram introduzidos outros
nomes, como Hudsonlândia, Nuna, Capricornia, que não se consagraram.
Discute-se se esses cinturões orogênicos coalesceram as massas continentais
para completar um supercontinente, principalmente no intervalo de 2,1-1,8 Ga
ao final de processos distensivos e compressivos que estão reunidos sob designa-
ções distintas em diferentes regiões, como ciclos Transamazônico na América do
Sul e Eburneano na África. No Brasil, extensas áreas são atribuídas a esse ciclo.
A alternativa é de que a colagem dos continentes só se completou por volta de
1.500-1.400 Ma. Com esta concepção haveria coerência de alguns dados paleo-
magnéticos (Meert & Santosh 2017).
Esse novo supercontinente foi reconstituído a partir de dados geológicos,
geocronológicos e paleomagnéticos, mas em volume ainda insuficiente para di-
rimir muitas dúvidas. Várias são as reconstituiçoes apresentadas, das quais três
são mostradas na Fig. 94 (Zhao et al. 2004, Pesonen et al., 2012, Meert & Santosh
2017). A época de máxima completitude do Colúbia foi admitida como 1,8 Ga,
mas mais recentemente vém sendo diminuída para até 1.500-1.400 Ma.

152 geologia estrutural aplicada


CONTINENTES A
AfS África do Sul SC S
AfO África Ocidental ?
Am Amazônia T
AmN América do Norte AfS G
AmS América do Sul ? B
An Antártica Oriental Au
Au Austrália
B Báltica
C Congo NC AmN
I
SF São Francisco ? An Amazônia
G Groenlândia
I Índia AmS AfO
L Laurentia M Rio de
La Plata
M Madagascar São
Coberturas fanerozoicas e capa glacial Francisco
NC Norte da China Orógenos colisionais de 2,1-1,8 Ga
SF São Francisco Arqueano-Paleoproterozoico
S Sibéria
SC Sul da China
T Tarim B 60°
C
1
ORÓGENOS 2
Au 6 30°
1 Yarapai-Matztzal
Au
2 Penokeano e 3
Trans-Hudsoniano 4
5 NC
3 Woopmay NC
4 Ketilidian 7 ? L L
8 S Equador S
5 Nagssugtuqidiano
6 Capricórnio B 10
7 Trans-China 9
Setentrional B SF
8 Svecofenniano
Am 30°
9 Volhyn-Rússia Central I
10 11 12
Akitkaniano Am C
11 Rio Negro-Juruena
60°
12 Ventuari-Tapajós

Figura 94. O Supercontinente Colúmbia. A: modelo de Zhao et al. (2004) para 1,8 Ga. B: modelo
de Pesonen et al. (2012) para 1,53 Ga. Os cinturões orogênicos formados no Mesoproterozoico es-
tão representados em cinza escuro e verde. As áreas em cinza correspondem a núcleos arqueanos.
C: modelo de Meert & Santosh (2017) para 1,45 Ga. A área destaca no Laurentia corresponde à
Groenlândia.

8.4 Paleoproterozoico-Mesoproterozoico e
o Supercontinente Rodínia

A fragmentação do Colúmbia começou cedo, já a partir de 1,45 Ga, e se


estendeu até cerca de 1,0 Ga, com rifteamentos, intensa atividade magmática, e
formação de alguns cinturões orogênicos. A América do Sul e a África Ocidental
formaram um continente, que se juntava ao Báltica e este, por sua vez, à Groen-
lândia/América do Norte, de 1,8 até pelo menos 0,8 Ga.
A margem ativa bordejando o Laurásia, Báltica e América do Sul teria evo-
luído gerando orógenos em episódios ocorridos em torno de 1,5-1,3 e 1,3-1,0
Ga. Os mais jovens, de 1,3-1,0 Ga, são referidos como cinturões grenvillianos,
lembrando o Cinturão Grenville que se formou em duas fases de convergência de
1.090-1.020 e 1.000-980 Ma na costa norte-americana e se acha melhor estudado.

parte 1 – tectônica de placas 153


Na América do Sul dois cinturões se desenvolveram no sudoeste da região ama-
zônica, paralelos e com direção NW-SE, entre 1,5 Ga e 960 Ma de nordeste para
sudoeste, gerados em margem ativa e pela colisão da Amazônia com o Laurentia.
Na intraplaca, os rifteamentos geraram bacias sedimentares, preenchidas
por pacotes de sedimentos com ou sem vulcânicas associadas e que, em parte,
foram invertidas (submetidas a compressão, sofrendo dobramento, falhamento e
soerguimento), originando cinturões intracratônicos.
Uma larga faixa de intrusões e vulcânicas estende-se do sudoeste da Amé-
rica do Norte para Labrador, pela Groenlândia, Báltica na Escandinávia e Rússia,
e China representada por intrusões diversas (graníticas, associação anortosito-
-mangerito-charnockito-granito – AMCG), máfico-ultramáficas, diques de dia-
básio, rochas alcalinas, e vulcânicas ácidas, intermediárias e máficas. Os granitos
são maciços e indeformados, de tipo anorogênico, de idades de 1,8 a 1,3 Ga e em
parte exibem textura rapakivi. Formaram-se por fusão parcial da crosta inferior
de composição máfica a intermediária. Os anortositos ocorrem principalmente
no Cinturão Grenville e nordeste do Canadá. São acamadados ritmicamente com
leitos de gabros e noritos associados. Formaram-se por cristalização fracionada
de magma toleítico do manto superior, de modo que constituem com os granitos,
um magmatismo bimodal. Esse magmatismo está também bem representado na
região amazônica da América do Sul.
Os vários continentes derivados do Colúmbia se reaglutinaram em torno
do Laurentia por volta de 1,1-1,0 Ga, formando o Supercontinente Rodínia (em
russo, rodinia = terra mãe), por ser considerado como origem dos continentes
atuais, ou Paleopangea. Ele foi envolvido pelo superoceano Mirovoi (em russo,
mirovoi = global). Esse supercontinente é mais bem conhecido do que os anterio-
res, tendo-se acumulado um apreciável volume de dados geológicos e paleomag-
néticos. A Fig. 95 mostra duas reconstituições.

154 geologia estrutural aplicada


A MIROVOI B
T

Au I
AF Au S
S EG CN
AE
I CS
M CN L
K
K L
NN
G
CSF
S Am Sv
B B
H CSF Am
AW
Ki
S

AW África W H Hoggar Orógenos grenvillianos Possível orógeno


Am Amazônia K Kalahari mais antigo
AF Albani-Fraser
AE Antártica E I Índia EG Eastern Ghats
Au Austrália L Laurentia G Grenville Continentes
B Báltica M Maud Ki Kibariano
Sa Saara Áreas submersas
CN China Norte NN Natal-Namaqua
CS China Sul S Sibéria S Sunsás
CSF Congo-São T Tarim Sv Sveconorueguês
Francisco

Figura 95. O Supercontinente Rodínia em 900 Ma. Notar a distribuição dos continentes em volta
do Laurentia. A: adaptado de Li et al. (2008). B: adaptado de Pesonen et al.(2012).

Existem ainda muitas questões em discussão. Uma delas diz respeito à po-
sição dos continentes São Francisco-Congo, Rio de La Plata e Kalahari: eles não
teriam feito parte do Rodínia, mas sim de outro megacontinente que já se propôs
chamar Gondwana Central, separado do Laurentia por um extenso oceano que
foi chamado Brasiliano (Cordani et al. 2003).
Sobre a posição do continente Amazônia: ele tem sido sempre posiciona-
do ao lado da costa leste da América do Norte, com as faixas orogênicas para-
lelas de Rondônia e Bolívia adjacentes ao Cinturão Grenville do fim do Meso-
proterozoico, mas existe dúvida sobre o ajuste preciso dos dois continentes, que
pode ser feito ao longo de uma faixa de alguns milhares de quilômetros na costa
norte-americana e diferentes posições já foram indicadas.
O Cinturão Orogênico Cariris Velhos (1,0-0,9 Ga) do Nordeste pode ser
considerado como cinturão cratônico dentro do Rodínia.

parte 1 – tectônica de placas 155


8.5 Neoproterozoico-Cambriano, o Supercontinente
Pannotia e o Megacontinente Gondwana

O Rodínia manteve-se íntegro até cerca de 850 Ma, quando começou a se


fragmentar e a dispersão máxima aconteceu em 750-700 Ma.
No Brasil, a fragmentação do Rodínia teria começado já no início do Neo-
proterozoico e envolveu distensão com intrusão de enxames de diques de diabá-
sio, formação de riftes e preenchimentos vulcanossedimentares, fragmentação e
separação de vários continentes, e abertura de pequenos oceanos. Embora seja
aceito correntemente que a fragmentação começou em 830 Ma, sabe-se que pro-
cessos de subducção começaram já a partir de 840 Ma ou pouco antes.
No intervalo 680-550 Ma formou-se um supercontinente de curta duração
resultante da colisão dos continentes Báltica, Laurentia e Sibéria com o Gond-
wana, que foi denominado Pannotia (Powell 1995), Grande Gondwana (Stern
1994) ou Pannotia-Gondwana (Condie 2003), envolvido pelo Super-oceano Pa-
nafricano. O nome Pannotia significa “todos ao sul”, em referência ao fato de sua
situação no hemisfério sul. Essa interpretação (hipótese SWEAT – de southwest
America – eastern Australia) não é aceita unanimemente.
Algumas reconstituições desse supercontinente foram apresentadas, com
diferenças significativas como se pode constatar pelas duas mostradas na Fig. 96.
Essas diferenças decorrem da falta de dados, tal como acontece em relação aos
outros supercontinentes abordados acima.

Índia Austrália

Austrália Madagascar

Índia Mawson
Kalahari Antártica
Kalahari
Borborema- Congo
Rio de Trans-Saara
Azânia La Plata Laurentia Rio de
Congo Pampia La Plata
Sibéria

Afif-Aba S. Francisco Paraná


Pampia
S. Francisco Rio
Saara Oeste Apa
Oeste- Africano
Arequipa-
Antofalla

Amazônia Groenlândia
Africano Amazônia Laurentia

Avalônia
Báltica
Báltica

Pisarevski et al. (2008) Cordani et al. (2009)

Figura 96. O Supercontinente Pannotia. A: modelo de Pisarevsky et al. (2008). B: modelo de Cor-
dani et al. (2009).

156 geologia estrutural aplicada


O Neoproterozoico é a era em que os processos efetivamente se tornaram
semelhantes aos que se conhece hoje, por exemplo, com aparecimento dos pri-
meiros animais complexos, maior enriquecimento da atmosfera em oxigênio,
maior incidência de glaciações, preservação de xistos azuis e ofiólitos.
O Pannotia começou a se fragmentar, o Gondwana separando do Laurentia
(América do Norte) e Báltica (norte da Europa) e abrindo o oceano Iapethus.
Esse processo não está bem datado, admitindo-se que tenha começado logo após
a formação do supercontinente, por volta de 550 Ma. A grande massa continental
que foi chamada Gondwana (Fig. 97), frequentemente referido impropriamente
como supercontinente, deve seu nome a E. Suess em 1885 e significa reino dos
Gons, povo que viveu na Índia entre os séculos 12 e 17.

Sistemas orogênicos neoproterozóicos


Continentes/áreas submersas
Oceano
Limite

GONDWANA ORIENTAL

GONDWANA OCIDENTAL

Figura 97. O megacontinente Gondwana em cerca de 500 Ma. Os orógenos no Brasil desenvolve-
ram-se no decorrer do Neoproterozoico, na maior parte no Ciclo Brasiliano. A linha em vermelho
separa o Gondwana Ocidental do Oriental. Outros continentes estavam dispersos e só viriam a se
juntar com o Gondwana para formar o Pangea. Adaptado de de Witt et al. (1999).

Várias massas continentais do Brasil e África se separaram no Neoprotero-


zoico, dentre elas Amazônia-Oeste Africano, Paraná-Rio de La Plata, São Fran-
cisco-Congo, separadas pelos pequenos oceanos Goiano, Borborema e Adamas-
tor. Elas juntaram-se com eventos de convergência de 900-700, 650-600 e mais
novos de 580-500 Ma, fechando o ciclo Brasiliano. Destaque-se que o evento de
900-700 Ma do Brasil é ainda mal conhecido, sabendo-se que incidiu em duas

parte 1 – tectônica de placas 157


áreas (faixa orogênica São Gabriel, no oeste do escudo Sul-Riograndense, e a pri-
meira fase de formação do arco magmático de Goiás, no sudoeste de Goiás) e
possivelmente também em outras áreas de Goiás e São Paulo.
Processos de fragmentação e aglutinação análogos ao ciclo Brasiliano inci-
diram em outras partes do globo (os ciclos Panafricano na África, Adelaideano
na Austrália, Beardmore na Antártica, Cadomiano na Europa e Baikaliano na
Ásia), resultando o Supercontinente Pangea.

8.6 Triássico-Hoje e o Supercontinente Pangea

O Gondwana divagou até a aglutinação com os demais continentes (Lau-


rentia, Báltica, Sibéria e outros menores), formando vários cinturões orogênicos
(Fig. 98) e considera-se que isso se completou em 230 Ma, embora alguns citem
cifras de até 300 Ma (Permiano Inferior), resultando o Supercontinente Pangea
(Fig. 99), circundado pelo superoceano Pantalassa.

Inuitia Urais
Ásia Central
Caledoniano

Herciniano
Apalaches PANTALASSA
Mauritânia
Ouachita

Continentes Cinturões colisionais Cinturões não-colisionais

Figura 98. Cinturões colisionais e não-colisionais paleozoicos. O megacontinente Gondwana,


afora as margens ativas e o extremo noroeste da África, comportou-se como amplo domínio in-
traplaca.

158 geologia estrutural aplicada


Eurásia

América do Norte
Equador
Superoceano
Pantalassa África
América do Sul Índia
Austrália
Antártica

Figura 99. O Supercontinente Pangea em 230 Ma (Triássico Médio). Simplificado de UTIG (2007).

O Pangea passou a fragmentar-se nos continentes atuais já em 230 Ma. Pri-


meiramente separaram-se duas porções: o Gondwana, que reunia a América do
Sul, África, Índia, Madagascar, Arábia, Austrália e Antártica e outras porções me-
nores, e o Laurásia, formado pela América do Norte e Eurásia. Entre elas situava-se
o mar de Tetis com uma extensa dorsal oceânica. Depois, gradativamente, esses
dois megacontinentes se desmembraram nos continentes que conhecemos hoje
e estão se movendo na superfície do planeta. O Pantalassa se reduziu ao Oceano
Pacífico e formaram-se os demais oceanos.
O Brasil, fazendo parte do interior do Gondwana, teve evolução em contex-
to de intraplaca durante o Paleozoico, até início do Mesozoico na metade norte e
até o início do Cretáceo na metade sul.
A justaposição América do Sul-África sempre atraiu a atenção por cau-
sa do ajuste do Nordeste com a reentrância do oeste da África na região da
Nigéria-Camarões. Do que se expôs acima, os dois continentes estiveram uni-
dos através do tempo: no Gondwana em 500 Ma, no Rodínia em 1,0 Ga e no
Colúmbia em torno de 1,8 Ga. Essa justaposição pretérita abre a necessidade
de, na busca do entendimento da evolução geológica, examinar-se a conexão
Brasil-África através do tempo.
A reconstituição dos continentes no Pangea constitui uma questão não
totalmente resolvida. Bullard et al. (1965), usando pela primeira vez recursos
computacionais, mostrou que o melhor ajuste das bordas dos continentes em
torno do Atlântico é obtido considerando a isóbata de 500 fathoms (914,4 m)
(Fig. 100), ajuste esse que teria apoio em dados geológicos e geofísicos.

parte 1 – tectônica de placas 159


Figura 100. Reconstituição da posição dos continentes em torno do Atlântico no Pangea confor-
me Bullard et al. (1965), considerando a isóbata de 500 fathoms. As porções de sobreposição estão
indicadas em vermelho e os vazios, em verde.

Esse modelo é o correntemente utilizado, mas vê-se que existem áreas de so-
breposição e outras de hiatos de continuidade. O entendimento atual é de que essas
imperfeições seriam devidas ao afastamento dos continentes não como unidades
enormes, mas sim em blocos menores. Dados geológicos e geofísicos vêm sendo
considerados para refinar os ajustes, não se dispondo ainda de um modelo geral.
Cabe lembrar que o Atlântico Norte começou a se abrir em torno de
200 Ma, o Atlântico Equatorial em 140 Ma e o Atlântico Sul em 130 Ma. A sepa-
ração da América do Sul e África deu-se a partir do Cretáceo no sul e se comple-
tou há cerca de 90 Ma. Tem sido considerado que blocos menores dos dois con-
tinentes se deslocaram diferencialmente, dando origem à geometria observada.

8.7 As Placas no futuro

Conhecendo os sentidos e as velocidades de deslocamento e considerando


que os mesmos tipos de forças e processos continuarão atuando na movimenta-
ção das placas, a pergunta que se levanta é: que configuração e cenários ganhará
a superfície da Terra no futuro?

160 geologia estrutural aplicada


A projeção futurística considera que os vários continentes voltarão a se
aglutinar dentro de 250 Ma. Existem alguns modelos propostos por diferentes
autores e a versão mais disseminada é aquela apresentada por Scotese (2003) e
UTIG (2007), sintetizada na Fig. 101.

+50 Ma

Equador

+150 Ma

Equador

+250 Ma

Equador Dorsal meso-oceanica


OCEANO
PACÍFICO Zona de subducção
Orógenos
Continentes

Figura 101. Configuração das placas no futuro em 50, 100 e 250 Ma conforme o modelo de Sco-
tese (2003). Baseado em UTIG (2007).

Considerando sentidos de deslocamento e velocidades das placas algo dife-


rentes ou admitindo que mudanças poderão vir a ocorrer, outras projeções para o
futuro foram também apresentadas, introduzindo designações como Neopangea,
Pangea Próxima e Amásia para o novo supercontinente.
Também, alguns supõem que a incerteza da história geológica no futuro ad-
mite a possibilidade da tectônica de placas cessar com o decréscimo de elementos
radioativos e esfriamento do planeta. A erosão e a isostasia reduziriam os con-
tinentes a uma superfície ao nível do mar. Sem vulcanismo, a atmosfera sofreria
mudanças radicais: as águas congelariam, a vida tenderia a se extinguir, a Terra
se assemelharia a Marte e outros planetas.

parte 1 – tectônica de placas 161


neogeno-quaternário DO BRASIL
Yo c ite ru H asu i 1

1 Apresentação
O território brasileiro situa-se praticamente todo na Plataforma Sul-Ameri-
cana, que é a entidade geotectônica mesozoico-cenozoica coexistente com a Ca-
deia Andina. No sul do continente aparece a Plataforma Patagônica desenvolvida
no Paleozoico (Fig. 102).
A Plataforma Sul-Americana é constituída por rochas metamórficas e íg-
neas, que representam o embasamento da plataforma. Este tem extensas porções
expostas na superfície, designadas escudos, e outras cobertas por discretos paco-
tes sedimentares, que representam a cobertura da plataforma. As características
gerais da plataforma são: comportamento estável por longo tempo, marcado por
movimentos verticais, lentos, de baixa amplitude e grandes extensões, reversíveis
no tempo e no espaço; tem relevo baixo e suave, deformações ou transformações
das rochas muito pouco significativas, maior espessura da litosfera, sismicidade
de baixas intensidade e frequência, fluxo térmico e grau geotérmico mais baixos.

1
  Universidade Estadual Paulista – UNESP/Campus de Rio Claro. Ex-Geólogo do Instituto de Pes-
quisas Tecnológicas do Estado de São Paulo.

162
Figura 102. A Plataforma Sul-Americana. Estão indicados seus escudos e coberturas. A linha
vermelha contínua é o limite da Plataforma Sul-Americana segundo Almeida (2004); a linha pon-
tilhada é o seu prolongamento inferido.

2 COMPARTIMENTAÇÃO da Plataforma
Sul-Americana

A plataforma tem sido compartimentada com base em dados geológico-


-estruturais e em unidades geotectônicas brasilianas. A compartimentação com
base em informação geofísica tem sido tentada, mas carece ainda de dados.
A compartimentação geológico-estrutural é sistematizada em termos de
províncias estruturais, que são definidas como domínios contínuos de grandes
extensões, tendo constituição e estruturação próprias e distintas das adjacentes.
Elas foram primeiramente identificadas no Canadá na década de 1.960 e foram
propostas para o Brasil por Almeida et al. (1977, 1981).

parte 1 – neogeno-quaternário do brasil 163


De início foram separadas dez províncias estruturais, sendo três correspon-
dentes às áreas das grandes bacias paleozoicas do Parnaíba, do Paraná e do Ama-
zonas (incluindo as bacias do Solimões e do Acre); três aos sistemas orogênicos
Borborema, Tocantins e Mantiqueira; três aos crátons São Francisco e Amazônico,
este último separado nas províncias Rio Branco e Tapajós a norte e sul da Província
Amazonas, respectivamente; e uma correspondente à margem continental.
Essa proposta de sistematização tem sido discutida, procurando incorpo-
rar as informações mais recentes sobre a geologia do país. Uma reformulação
foi adotada pelo Serviço Geológico do Brasil – CPRM (Schobbenhaus & Neves
2003), separando quinze províncias, e Alkmim & Martins-Neto (2004) separa-
ram onze. Hasui (2012c) considerou treze províncias (Fig. 103).

Figura 103. As treze províncias estruturais do Brasil. Cf. Hasui (2012c).

A compartimentação geotectônica considera as unidades do Neoprotero-


zoico-Ordoviciano, desenvolvidas durante o Ciclo Brasiliano, e coberturas sedi-
mentares, desde os trabalhos de Almeida et al. (1976, 1977). As unidades mais
antigas do Brasil desenvolveram-se do Paleoarqueano ao Proterozoico Médio e
várias entidades geotectônicas se sucederam, mas sua delineação encerra muitas
questões ainda pendentes, de modo que não é ainda possível estabelecer as com-
partimentações anteriores ao Ciclo Brasiliano.

164 geologia estrutural aplicada


No início do Neoproterozoico, a partir de 900 Ma, o Supercontinente Rodí-
nia começou a se fragmentar, formaram-se riftes e intrusões magmáticas, houve
separação de vários continentes e abertura de oceanos entre eles. Os continentes
referidos constituíram os crátons Amazônico, São Francisco e São Luís, os dois
últimos com extensões na África (Fig. 104). Outro cráton é reconhecido, com pe-
quena área exposta no Uruguai e o restante está oculto sob a Bacia do Paraná: ele
é nomeado de Paraná, Paranapanema ou Rio de La Plata. Para alguns haveria um
corredor de rochas do Neoproterozoico estendendo do leste de São Paulo para o
Paraguai sob a Bacia do Paraná, separando dois crátons: o de sul designado Rio
de La Plata e o de norte, Paraná.

Cobertura fanerozoica,
inclusive da região subandina
Cobertura fanerozoica,
5 Cráton e unidades pré-panafricanas
Oeste Andes e Plataforma Patagônica
Africano
6 CICLOS BRASILIANO E PANAFRICANO
Sistemas orogênicos
1 1 Borborema (Oceano Borborema)
4 2 Tocantins (Oceanos Goiás e Climene)
3 6
3 Mantiqueira (Oceano Adamastor)
1 Cráton 4 Gurupi (Oceano «Gurupi»)
1 Saariano 5 Rokelides 10 Damara
2 6 Daomé-Trans-Saara 11 Gariep
7 7 Centro-Africano 12 Saldânia
2
8 Congo Ocidental 13 Liufiliano
9 Kaoko 14 Katanga
8 15 Leste Africano
3
4 Crátons
Cráton 1 Amazônico (porções norte e sul)
9 Congolês 2 São Francisco
3
3 São Luís
4 13 4 Paraná, Paranapanema ou Rio de La
10 Plata
14 15
11
Limites dos crátons
Cráton Kalahari definido e inferido
Borda da Plataforma
Sul-Americana definida
12
e inferida
1.000 km

Figura 104. Compartimentação geotectônica da Plataforma Sul-Americana e relação com a Áfri-


ca. Com a convergência dos crátons (em rosa) e fechamento dos oceanos formaram-se os sistemas
orogênicos brasilianos e panafricanos (em verde). Representação da América do Sul e África no
megacontinente Gondwana. Cf. Hasui (2012c).

Entre os crátons existiram oceanos, que são designados (1) Borborema en-
tre os crátons São Luís (e Oeste-Africano), São Francisco e do Congo, (2) Goiás
na parte leste do domínio entre os crátons São Francisco, Paraná e Amazônico,

parte 1 – neogeno-quaternário do brasil 165


(3) Climene na parte oeste do domínio entre os crátons São Francisco, Paraná e
Amazônico, e (4) Adamastor entre os crátons São Francisco, Paraná, do Congo e
Kalahari. Outro oceano certamente existiu, ainda mal conhecido por falta de ex-
posições das rochas nele formadas, entre os crátons São Luís (e Oeste-Africano)
e Amazônico, ele é referido como Oceano Gurupi. Nesses oceanos formaram-se
arcos insulares e se acumularam depósitos sedimentares, em parte com rochas
vulcânicas associadas. Também envolveram microcontinentes, que foram retra-
balhados no Ciclo Brasiliano. Essas associações evoluíram para formar os siste-
mas orogênicos Borborema, Tocantins, Mantiqueira e Gurupi (Fig. 104).
Os sistemas orogênicos brasilianos são constituídos de faixas ou cinturões
orogênicos, com unidades de rochas sedimentares e magmáticas (de naturezas ul-
tramáfica a félsica, de origem vulcânica e intrusiva), desenvolvidas no Ciclo Bra-
siliano, do Neoproterozoico-Ordoviciano, em contextos de margem continental,
fundos oceânicos, arcos insulares e continentais, colisionais e intraplaca. Nas co-
lisões e orogenias, tais unidades sofreram metamorfismo, deformações, intrusões
ígneas e orogênese, inclusive retrabalhando porções de embasamento ou micro-
continentes envolvidos. Já no Cambriano havia se constituído uma grande massa
continental, o Megacontinente Gondwana. Processos distensivos com rifteamento,
sedimentação de molassas, vulcanismo e intrusões magmáticas prosseguiram até
o Ordoviciano Médio, encerrando a evolução do Ciclo Brasiliano. Esses últimos
processos têm sido referidos como representando um estágio de transição.
Os crátons, por sua vez, são formados por unidades pré-brasilianas de fai-
xas ou cinturões orogênicos mesoproterozoicos e paleoproterozoicos, e porções
arqueanas, algumas retrabalhadas ou rejuvenescidas no Ciclo Brasiliano. Por ou-
tro lado, rochas contemporâneas ao Ciclo Brasiliano neles aparecem formando
coberturas.

3 Etapas evolutivas da Plataforma


Sul-Americana

Na geologia do Brasil reconhecem-se quatro etapas evolutivas (Carneiro


et al. 2012), resumidas no Quadro 2. Elas dizem respeito ao desenvolvimento do
geológico através de uma sucessão de eventos e processos de ciclos de Wilson ou
de Supercontinentes. Os processos distensivos, compressivos e distensivos finais
desses ciclos são mais correntemente referidos como ciclo tectônico de placas ou
ciclo tectônico, cujos pulsos são os eventos tectônicos. O último deles começou
no Triássico e está em desenvolvimento.

166 geologia estrutural aplicada


Quadro 2. Etapas evolutivas e ciclos tectônicos do Brasil. Baseado em Hasui (2012c).

Não se deslindou ainda a evolução no Mesoarqueano e Paleoarqueano.


Os ciclos tectônicos caracterizados começaram no Neoarqueano e são designados
diferentemente nos vários continentes. No Brasil são indicados os ciclos: Jequié
(2,8-2,5 Ga) possivelmente culminando com a formação do Kenorlândia, Tran-
samazônico (2,5-1,9 Ga) que termina com a formação do Colúmbia, diversos
ciclos regionais desenvolvidos em 1,8-1,0 Ga (Orós-Jaguaribe de 1,8-1,6 Ga, Rio
Negro-Juruena de 1,8-1,5 Ga, Rondiniano-San Ignácio de 1,5-1,3 Ga, Sunsas de
1,2-1,0 Ga e Cariris Velhos de 1,1-1,0 Ga) e consolidação do Rodínia, e Brasiliano
(0,9-0,46 Ga) que integra o país ao Megacontinente Gondwana (Hasui 2012c).
Do Ordoviciano ao Triássico, em contexto intraplaca e de estabilidade deu-se
desenvolvimento das coberturas que constituem as grandes bacias sedimentares,
terminando com a formação do Pangea.
Do Triássico ao Paleógeno relaciona-se a fragmentação do Pangea, ativo mag-
matismo intraplaca, abertura do Oceano Atlântico, formação de bacia marginais
e interiores, e afastamento da América do Sul-África (a partir de 90 Ma segundo
uns ou 98 Ma segundo outros). A partir do início da fragmentação do Pangea,
desenvolveu-se a Cadeia Andina na margem ativa do oeste da América do Sul. Essa
etapa marca a fase distensiva de início de um novo ciclo tectônico, em andamento.
Essas três primeiras etapas são abordadas em vasta literatura podendo ser
citadas sínteses como as de Hasui et al. (2012), Pereira et al. (2012), Almeida et al.

parte 1 – neogeno-quaternário do brasil 167


(2012), Souza et al. (2005), Mantesso Neto et al. (2004), Bizzi et al. (2003), Cor-
dani et al. (2000), Trompette (1994), Gabaglia & Milani (1991), Almeida & Hasui
(1984), Schobbenhaus et al. (1984) e Petri & Fúlfaro (1983), bem como textos
descritivos da geologia de vários estados e as folhas geológicas ao milionésimo
divulgados pela CPRM-Serviço Geológico do Brasil.
Do Neogeno ao Quaternário tem-se uma fase desse ciclo que tem formado
depósitos sedimentares e envolve a atuação de regime transcorrente relacionado
com a deriva da América do Sul a partir da Dorsal Meso-Atlântica, que represen-
ta a neotectônica. Ela é destacada neste capítulo.

4 A quarta etapa: Neogeno-Quaternário


Os movimentos tectônicos e as deformações crustais mais novos da história
geológica foram referidos como neotectônicos desde longa data, mas seu estudo
só passou a ser sistematizado com a definição do campo da Geotectônica que foi
designado Neotectônica por Obruchev (1948).
Para esse autor, a Neotectônica trata dos movimentos tectônicos do Neó-
geno e Quaternário, que tiveram papel fundamental na formação da topografia
atual. Depois, reconheceu-se que esses movimentos podem ser horizontais/verti-
cais, ter velocidades e origens variadas, remontar a diferentes idades e apresentar
distintas manifestações regionais, em domínios continental/oceânico, de borda/
interior de placa, envolvendo aspectos multidisciplinares e de várias aplicações.
Com isso, a Neotectônica passou a ser definida de modos diferentes por muitos
outros autores, conforme enfoques distintos. A diversidade conceitual gerada foi
superada em 1982, quando a International Association of Quaternary Research
(INQUA) estabeleceu, ecleticamente, que Neotectônica é o estudo de “any earth
movement or deformations of the geodetic reference level, their mechanisms, their
geological origin (however old they may be), their implications for various practical
purposes and their future extrapolations” (Mörner 1978).
Esses movimentos/deformações relacionam-se com o último evento geotec-
tônico regional a que se deve o campo de esforços/deformação que tem persistido
até hoje sem mudanças significativas de orientação (Stewart & Hancock l994).
Esse evento não tem uma mesma idade global, mas regionalmente há um limite
de início no tempo, que pode remontar ao Neógeno e até mesmo ao Paleógeno
(Stewart 2005).
Na intraplaca continental brasileira, o regime distensivo que atuou durante
o estágio evolutivo do Triássico ao Paleogeno, levando à fragmentação do Pangea

168 geologia estrutural aplicada


e ativo desenvolvimento de embaciamentos, sedimentação, magmatismo e geo-
morfogênese na Plataforma Sul-Americana, foi admitido durante longo tempo
como atuando até o presente. Todavia, tem-se constatado que passou para trans-
corrente, caracterizando uma nova fase evolutiva, em que as principais mani-
festações tectônicas são epeirogênese, deslocamentos por falhas transcorrentes e
associadas, baixa sismicidade, afeiçoamento do relevo e sedimentação em partes
baixas, induzidas pela dinâmica rotacional da Placa Sul-Americana e evolução
de sua margem continental. Essa fase é a Neotectônica, reconhecida como do
Mioceno-Quaternário (Hasui 1990), remontando em parte ao fim do Oligoceno.
Essa idade da Neotectônica é marcada levando em conta os marcos apre-
sentados a seguir.
1) O último grande evento geotectônico da América do Sul.
Esse evento foi a terceira e derradeira fase orogenética da Cadeia An-
dina, referido como Quechua (Pfiffner & Gonzalez 2013, e outros), que
se deu no fim do Oligoceno Superior a Mioceno Inferior, ganhando
corpo no restante do Mioceno e estando em atenuação gradativa até
hoje (Potter & Szatmari 2009, Somoza & Ghidella 2012). No começo
do Mioceno, a elevação dos Andes foi da ordem de 25% da atual altitu-
de; no restante desse período alcançou cerca de 50% (Theodor 2005) e
depois a orogenia continuou até chegar ao estado atual. Este é o último
evento geotectônico regional a se considerar e a Neotectônica deve ser
remontada ao Oligoceno Superior-Mioceno Inferior.
2) O início da deposição dos sedimentos das formações Pirabas e Barreiras.
Até 1990 essas duas unidades eram tratadas separadamente e conside-
rou-se que o início da Neotectônica no Brasil seria marcado pelo adven-
to da deposição da Formação Barreiras, que ocorre ao longo da costa
do Amapá ao Rio de Janeiro e foi atribuído ao Mioceno Médio. Essa
datação valeria para as regiões Norte a Sudeste, onde essa unidade ser-
via de referência estratigráfica (Hasui 1990). Contudo, verificou-se na
Região Norte que a Formação Barreiras se interdigita na base com o
topo da Formação Pirabas (Arai et al. 1988, Góes et al. 1990). Esta úl-
tima, embora tenha sido atribuída durante longo tempo ao Mioceno
Inferior (Maury 1925), remonta ao Oligoceno Superior, idade indicada
pelo gastrópodo Orthaulax e por foraminíferos (Ferreira 1967, Ferreira et
al. 1984, Ferreira & Francisco 1988, Távora et al. 2010).
Assim, o Oligoceno Superior deve ser considerado como de início
da Neotectônica no Norte do Brasil, enquanto do Nordeste ao Rio de
Janeiro, onde a Formação Barreiras está presente sem o pacote soto-
posto, a idade mais antiga remonta ao Mioceno Médio.

parte 1 – neogeno-quaternário do brasil 169


3) As manifestações finais do regime tectônico distensivo na intraplaca conti-
nental que levou à separação América do Sul-África e à abertura do Atlân-
tico Sul. Essas manifestações estão registradas no continente notadamente
pelo sistema de riftes paleogênicos das regiões Sudeste e Sul. Sua idade
marca processos que antecederam a Neotectônica nessas regiões.
Esse sistema estende-se da divisa Paraná-Santa Catarina ao Rio de Ja-
neiro e foi designado Sistema de Riftes da Serra do Mar (Almeida 1976),
Rift Continental do Sudeste do Brasil (Riccomini 1989) e Sistema de Rif-
tes Cenozoicos do Sudeste do Brasil (Zalán & Oliveira 2005). Inclui as
bacias de Curitiba, Tijucas do Sul (45 km a sul de Curitiba), Piraí do
Sul (entre Castro e Piraí do Sul, PR), Paranaguá, Sete Barras, Cananeia,
Tanque, São Paulo, Taubaté, Bonfim (pequena extensão da Taubaté para
sudeste), Resende, Volta Redonda, Cafundó (a sudoeste de Volta Redon-
da, Aiuruoca (a norte da Serra da Mantiqueira), Guanabara (incluindo
as bacias de Itaboraí, Macacu e Rio Santana) e Barra de São João.
A Bacia de Itaboraí foi reconhecida como paleocênica-eocênica com
base em estudos paleontológicos e datação K-Ar de 52 Ma (Paleoceno)
de um dique que passa para derrame de ankaramito nessa bacia (Ricco-
mini & Rodrigues-Francisco 1992). Um derrame de ankaramito posi-
cionado próximo à base da Bacia de Volta Redonda forneceu idade de 48
Ma (Eoceno) pelo método Ar-Ar (Riccomini et al. 2004). Quase todas
as demais bacias têm idades do Eoceno-Oligoceno indicada por análises
palinológicas (Garcia et al. 2008b). A Bacia de Curitiba tem fósseis do
Eoceno Inferior até o Oligoceno Inferior (Sedor et al. 2014). O Gráben
de Barra de São João não foi datado, mas é admitido como do Oligoceno.
4) Os corpos subvulcânicos e vulcânicos da faixa Macau (RN)-Queimadas (PB).
Eles constituem as derradeiras manifestações magmáticas na área
continental, referidas como Magmatismo Macau e representadas por
ankaratritos, basanitos e olivina basaltos com afinidades basaníticas
ou toleíticas, distribuídos ao longo da faixa submeridiana Macau-
-Queimadas. As datações K-Ar e Ar40/Ar39 apontam idades de 24 a 45
Ma, do Eoceno-Oligoceno (Sial et al. 1991, Araújo et al. 2001, Mizusaki
et al. 2002, Souza et al. 2004, e outros), indicando a idade paleogênica que
lhes foi atribuída e relacionada com o evento de tectônica distensiva do
Mesozoico/Paleogeno de separação América do Sul-África.
Estudos mais recentes mostraram vulcanismo neogênico por data-
ções por Ar40-Ar39 realizadas em duas pequenas bacias de sedimentos
cenozoicos com camadas de bentonita e níveis vulcânicos (Souza et al.
2013). Na de Boa Vista (a cerca de 50 km a oeste de Campina Grande,

170 geologia estrutural aplicada


PB) aparecem derrames basálticos sotopostos de 27 e 25 Ma (Oligo-
ceno Superior), e outros sobrepostos de 22 Ma (início do Mioceno),
bem como um dique de traquito de 12 Ma (Mioceno Médio) cortan-
do o pacote. Na de Cubati (a cerca de 80 km a noroeste de Campi-
na Grande), um derrame de basalto sobreposto aos sedimentos é de
25 Ma (passagem Oligoceno-Mioceno). Outras datações foram feitas
em quatro pequenos corpos vulcânicos da região do Pico do Cabugi
(RN) com idades variando de 7 a 9 Ma, do Mioceno Superior (Knesel
et al. 2011). Essas manifestações magmáticas indicam que a tectônica
distensiva atuou, ainda que discretamente, durante o Mioceno no in-
terior do Nordeste. A hipótese de relação com os pontos quentes de
Fernando de Noronha ou Santa Helena foi descartada, aventando-se a
interpretação de tectônica distensiva intraplaca permitindo a ascensão
canalizada de pequenas porções de magmas de derivação mantélica
ao longo de grandes zonas de cisalhamento do embasamento antigo
reativadas (Knesel et al. 2011, Souza et al. 2013). Assim, a Neotectônica
ali é mais nova que 7 Ma (Mioceno Superior).
5) Superfície de aplainamento e perfil laterítico com crosta laterítica fer-
ruginosa ou ferro-aluminosa.
Na porção oriental da Região Norte, foi distinguido um nível de late-
rita matura mais antigo, que se associa a platôs de até 800 m de alti-
tude, preservados da dissecação de uma superfície de aplainamento
(Costa 1991, Truckenbrodt et al. 1991). Ele capeia pacotes do Cretáceo
a Paleogeno das formações Alter do Chão da Bacia do Amazonas, Se-
quência Pós-Rifte da Bacia do Marajó e Formação Ipixuna da Bacia do
Parnaíba e é atribuído a um período de estabilidade regional do Eoce-
no-Oligoceno, pré-Pirabas. A superfície de aplainamento seria corres-
pondente à Sul-Americana (King 1956). Essas feições foram afetadas
por falhamentos relacionados com regime neotectônico transcorrente
a partir do fim do Oligoceno (Costa et al. 1996).
A Superfície Sul-Americana e a capa laterítica associada são reconhe-
cidos também em vastas extensões do Brasil em níveis altimétricos
de 1.100-1.200 m e decrescendo para valores em torno de 800 m no
Nordeste e Norte. A época precisa do final de escultura não está de-
terminada: ela apara o topo do Grupo Bauru (Cretáceo Superior) e
foi soerguida no Paleogeno na região da divisa São Paulo-Minas Ge-
rais-Rio de Janeiro, elevando para cerca de 2.200 m (Almeida 1976) e
rifteando para formar as bacias do Eoceno-Oligoceno no leste de São
Paulo e oeste de Rio de Janeiro. Sendo afetada pela Neotectônica, essa
superfície serve como um referencial regional de datação.

parte 1 – neogeno-quaternário do brasil 171


Com base nesses marcos, a idade de início da Neotectônica do Brasil pode
ser fixada como do Oligoceno Superior no Pará-Maranhão (Formação Pirabas),
do Mioceno Médio no restante da região costeira até o Rio de Janeiro (Forma-
ção Barreiras) e do Mioceno Superior no interior do Nordeste (magmatismo
da faixa Macau-Queimadas). Essa variação de idade indica que o processo não
incidiu ao mesmo tempo em toda a extensão do território, mas apresenta dia-
cronismo regional.

4.1 Depósitos sedimentares

São numerosas as unidades litológicas e litoestratigráficas atribuídas à eta-


pa moderna e têm distribuição ampla e descontínua ao longo do território (Fig.
105). Os dados dos registros sedimentares são coletados pelos procedimentos
clássicos de mapeamento, sistematização e interpretação genética, sendo dispen-
sada sua apresentação aqui.

Figura 105. Sedimentos e depósitos detrítico-lateríticos da etapa moderna de evolução da plata-


forma. Estão destacadas as principais bacias. Bases: folhas geológicas em escala 1:1.000.000 do Pro-
grama Geologia do Brasil (Schobbenhaus et al. 2003-2014), mapas geológicos estaduais em diversas
escalas, publicados pela CPRM – Serviço Geológico do Brasil, e mapa do Brasil em escala 1:2.500.000
(Bizzi et al., 2001).

172 geologia estrutural aplicada


Para várias delas reconhece-se o controle por falhas de suas área de acumu-
lação, como é o caso das bacias do Guaporé, do Solimões-Acre e do Pantanal, que
parecem representar zonas abatidas do domínio de antepaís da Cadeia Andina.
Em relação às formações Pirabas e Barreiras, a evolução do embaciamento por
falhas sin a pós-sedimentares está esboçado no Pará (Soares Júnior et al. 2011); no
restante a segunda bordeja a zona costeira e a estruturação não está definida. Em
depósitos associados à rede de drenagem, controles por falhas foram já reconhe-
cidos em muitas áreas, como em relação a diversos rios da Amazônia, mas ainda
resta por se elucidar adequadamente a caracterização de bacias. Em outras áreas
com expressiva sedimentação é provável que falhas tenham atuado, mas não se
tem dados a respeito, como é o caso da Bacia do Bananal e do Alto Xingu.
A seguir são apresentados resumidamente os litotipos e unidades litoestrati-
gráficas dos depósitos que se desenvolveram, sem entrar nas discussões de classi-
ficação e origem, e limitando as citações de referências; outros artigos e trabalhos
podem ser encontrados no vasto acervo bibliográfico existente.

4.1.1 Unidades do Oligoceno Superior-Mioceno Inferior

Enquadram-se aqui apenas as formações Pirabas (Ferreira 1967, Ferreira


et al. 1984, Ferreira & Francisco 1988, Távora et al. 2010) e Sabiá (Petri 1972).
A primeira aparece na zona litorânea do Amapá, Pará, Maranhão e Piauí (Fig. 106),
com arenitos, folhelhos, argilitos e calcários de ambientes transicional para pla-
taforma rasa, e a segunda na Bacia do Recôncavo (BA), constituída de folhelhos,
arenitos, siltitos e calcários marinhos do Mioceno (Fig. 107).

Figura 106. Distribuição do conjunto das formações Pirabas e Barreiras na Região Norte. Não
estão discriminados os Sedimentos Pós-Barreiras e a Formação Tucunaré, esta da Bacia do Marajó.
Geologia cf. Vasquez et al. (2008), Sousa et al. (2012) e Ferreira et al. (2006), simplificada.

parte 1 – neogeno-quaternário do brasil 173


Figura 107. Formações Sabiá e Dois Irmãos na Bahia. Geologia cf. Souza et al. (2003), simplificada

4.1.2 Unidades do Neógeno

Desse tempo são distinguidas as seguintes unidades.


• A Formação Boa Vista (Fig. 108), do Neogeno na Bacia do Tacutu, reú-
ne areias arcoseanas e conglomeráticas e pelitos flúvio-lacustrinos (Pinto
et al. 2012).

Figura 108. Bacia neogeno-quaternária da Bacia do Tacuru no nordeste de Roraima. Geologia cf.
Reis et al. (2004) e Faria et al. (2004a), simplificada.

174 geologia estrutural aplicada


• A Formação Solimões (Fig. 109), do Eoceno-Plioceno, é extensamente
representada nas bacias do Solimões e do Acre por argilitos, arenitos, ca-
madas de conchas e linhitos de ambientes fluvial, lacustre, paludial, del-
taico e de planícies de inundação (Maia et al. 1977, Caputo 1984).

Figura 109. Mapa de distribuição das Formações Solimões e Içá. Geologia cf. Bahia (2004a,b), Bahia
& Oliveira (2004), Faria et al. (2004b,c), Reis et al. (2004), Ferreira et al. (2006a), simplificada.

• A Formação Novo Remanso, do Mioceno Médio a Superior na Bacia do


Amazonas, reúne arenitos, conglomerados e argilitos de ambientes flu-
vial, barra de pontal e planície de inundação (Rozo et al. 2005, Soares
2007, Soares et al. 2015).
• A Formação Barreiras aparece ao longo da zona costeira do Norte (Fig.
107), do Nordeste e estendendo pela costa do Sudeste, até o Rio de Ja-
neiro (Fig. 110). É representada por conglomerados, arcóseos, arenitos,
rochas síltico-argilosas e areno-argilosas de ambientes fluvial, de planí-
cie de inundação e lacustre, bem como arenitos, arenitos conglomeráti-
cos, rochas síltico-argilosas, com nódulos de lateritos de leques aluviais;
arenitos, argilitos, matéria orgânica de ambientes de planícies litorâneas,

parte 1 – neogeno-quaternário do brasil 175


mangue, flúvio-lagunares e estuarinos (Góes et al. 1990, Costa et al.
1993a, Rossetti 2006 Rossetti & Góes 2009, Rossetti & Dominguez 2011,
Rossetti 2011, Santos et al. 2006a, Morais et al. 2006, Walter et al. 2011,
Breda & Mello 2013). Tem-se procurado desmembrar várias unidades
em diferentes regiões do Nordeste (Fig. 110): formações Camocim no
noroeste do Ceará (conglomerados lateritizados), Faceira no baixo vale
do Rio Jaguaribe (conglomerados, arenitos, siltitos e argilitos), e Potengi
e Tibau na região costeira da Bacia Potiguar (arenitos, conglomerados,
siltitos e argilitos), Moura no sudeste do Ceará (cascalhos basais, areias
e pelitos) e Dois Irmãos na divisa Piauí-Bahia-Pernambuco e no leste da
Bahia (arenitos e conglomerados lateritizados).
• A Formação Cachoeirinha aparece descontinuamente em porções eleva-
das do sudoeste de Goiás, sul de Mato Grosso e nordeste de Mato Grosso
do Sul, representada por areias, areias argilosas, cascalhos e argilas, par-
cialmente lateritizados, possivelmente de processos gravitacionais (La-
cerda Filho et al. 2004a,b,c).
• A Formação Ronuro (Fig. 111), da Bacia do Alto Xingu, caracteriza-se
por cascalhos, areias, siltes, argilas e lateritas (Schobbenhaus et al. 1981).
• A Formação Floriano, do Mioceno na Bacia de Resende, reúne arenitos
arcoseanos e lutitos fluviais e de planície de inundação (Ramos et al. 2006).
• A Formação Alexandra, do Mioceno Inferior a Médio que ocorre em pe-
quena área do Município de Paranaguá (PR) (Fig. 112), com depósitos de
areias, cascalhos, arcóseos de cones e leques aluviais, colúvios e depósi-
tos de tálus, e depósitos fluviais (planícies de inundação, barras de pontal,
meandros, canais abandonados, diques marginais (Lima & Angulo 1990,
Angulo 1995).

As formações Itaquaquecetuba e Pindamonhangaba (Fig. 113) têm sido


consideradas como do Mioceno-Plioceno (Riccomini et al. 1989, Mancini 1995),
mas datações palinológicas situam-nas no Eoceno-Oligoceno (Santos et al. 2008,
2010). A primeira enfeixa arenitos arcoseanos, conglomerados, brechas polimíti-
cas, lamitos arenosos e arenitos de ambientes fluvial, de leques aluviais, planície
de inundação e lagos da Bacia de São Paulo. A segunda reúne conglomerados,
arenitos, siltitos e argilitos de canais fluviais; argilitos, siltitos e arenitos finos de
planície de inundação, e arenitos grossos com intraclastos de argilitos de diques
marginais rompidos na Bacia de Taubaté.

176 geologia estrutural aplicada


Figura 110. A Formação Barreiras do Nordeste ao Sudeste. É o prolongamento da Região Norte
(Fig. 106), formando uma faixa ao longo da região costeira. Ela avança para o interior no Piauí e
no sul da Bahia até mais de uma centena de quilômetros. Geologia cf. Souza et al. (1997, 2003),
Cunha et al. (2001), Vieira et al. (2003), Souza et al. (2003), Cavalcante et al. (2003), Angelim
et al. (2004, 2006), Angelim & Wanderley (2004), Kosin et al. (2004), Vasconcelos et al. (2004b),
Ferreira et al. (2006b) e Morais et al. (2006), simplificada.

parte 1 – neogeno-quaternário do brasil 177


Figura 111. Formação Ronuro, preenchimento da Bacia do Alto Xingu, sobreposta à parte oriental
da Bacia do Parecis. Geologia cf. Lacerda Filho et al. (2004a), simplificada.

Figura 112. O Cenozoico do leste paranaense. Estão representadas a Bacia de Curitiba e de Ti-
jucas do Sul (Paleogeno), e as unidades da Baía de Paranaguá. Geologia cf. MINEROPAR (2006),
simplificada.

178 geologia estrutural aplicada


Figura 113. As unidades do Neogeno e Paleogeno dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro. Não
foi discriminada a Formação Floriano da Bacia de Resende. Geologia cf. Perrotta et al. (2006),
simplificada.

Também são consideradas do Neogeno algumas coberturas detrítico-laterí-


ticas (areias argilosas, cascalhos, mais ou menos lateritizados, e concreções ferru-
ginosas) que aparecem em vastas áreas do país, de modo descontínuo, como na
Bahia, Minas Gerais, Goiás, Distrito Federal e Tocantins (Fig. 114).

parte 1 – neogeno-quaternário do brasil 179


Figura 114. Distribuição de depósitos detríticos e detrítico-lateríticos na Bahia, Minas Gerais,
Goiás, Distrito Federal e Tocantins. Base geológica: Ferreira et al. (2006), Kosin et al. (2004), La-
cerda Filho et al. (2004c), Pinto et al. (2014), Souza et al. (2003), Valente et al. (2004) e Vasconcelos
et al. (2004), simplidicada.

180 geologia estrutural aplicada


4.1.3 Unidade do Neógeno-Pleistoceno

Aqui é considerada apenas a Formação Araguaia da Bacia do Bananal


(Fig. 115), com seus depósitos aluvionares (silte, areia silto-argilosa), de terraços
(cascalho basal, siltes argilosos e arenosos, parcialmente lateritizados), flúvio-la-
custrinos (argilas, areias argilosas, restos de matéria orogênica) e coberturas de-
trítico-lateríticas (lateritas com concreções ferruginosas, cascalhos e horizontes
mosqueados) (Moreton et al. 2008; Faraco et al. 2004a; Lacerda Filho 2004a,c).

Figura 115. Bacia do Bananal, preenchida pelos depósitos fluviais da Formação Araguaia, gerados
pela evolução da bacia hidrográfica do Rio Araguaia. Geologia cf. Moreton et al. (2008), Faraco
et al. (2004a,b), Lacerda Filho (2004a,c), simplificada.

parte 1 – neogeno-quaternário do brasil 181


4.1.4 Unidades do Plioceno-Pleistoceno

As unidades seguintes têm sido atribuídas a esse intervalo.


• A Formação Cruzeiro do Sul na Bacia do Acre, que separa os arenitos e
argilitos de ambientes de leques aluviais, fluvial e flúvio-lacustre (SEMA/
Acre 2010).
• A Formação Guaporé (Fig. 116), que reúne ao longo do vale do Rio Gua-
poré em Rondônia, as areias argilosas, pelitos e cascalhos pouco lateriti-
zados, de leques aluviais e depósitos fluviais, de planícies de inundação,
lagos, meandros abandonados e pântanos (Figueiredo et al. 1974, Qua-
dros & Rizzotto 2007).

Figura 116. A Formação Guaporé e depósitos mais novos no lado brasileiro do vale do Rio Gua-
poré em Rondônia e Mato Grosso. Geologia cf. Quadros & Rizzotto (2007) e Lacerda Filho et al.
(2004a), simplificada.

• A Formação São Domingos (Fig. 117), que preenche o Gráben do Bai-


xo Rio Araçuaí na região de Turmalina-Araçuaí-Rubelita (MG) com
seus arenitos silto-argilosos, siltitos, conglomerados e saprólitos fluviais,
planície de inundação, possível lago, fluxos de detritos e leques aluviais,
(Saadi & Soares 1990, Saadi 1991).

182 geologia estrutural aplicada


Figura 117. Área do Gráben do Baixo Rio Araçuaí. 1: embasamento pré-cambriano, 2: Forma-
ção São Domingos, 3: coberturas detrítico-lateríticas. Falhas indicadas: Grão-Mogol (empurrão) e
Taiobeiras (noral). Geologia cf. Saadi & Soares (1990) e Pinto et al. (2014), simplificada.

• O Conglomerado Itambi reúne conglomerados e arenitos fluviais da Ba-


cia de Macacu (Fig. 118) no Rio de Janeiro (Ferrari 2001).

Figura 118. Área do Gráben da Guanabara. Está destacada a distribuição da Formação Macacu na
região de Itaboraí, sobre a qual repousa o Conglomerado Itambi (não discriminado). Geologia cf.
Cunha et al. (2001), simplificada.

parte 1 – neogeno-quaternário do brasil 183


• A Formação Pariquera-Açu (Fig. 113), do Gráben de Sete Barras no sul do
Estado de São Paulo, é representada por conglomerados, brechas sedimen-
tares, lamitos, cascalhos, areias e argilas formados em ambientes de leques
aluviais, fluvial, planície de inundação, deltaico e lacustre (Moreton et al.
2008; Faraco et al. 2004a,b; Lacerda Filho 2004a,c; Ponçano 1981).

Ainda, são atribuídos ao Plioceno-Pleistoceno os pacotes de conglomera-


dos, areias e argilas lateritizadas, argilas, diamictitos, arenitos e lamitos de co-
lúvios, leques aluviais, fluviais e planície de inundação, que entulham o Gráben
de Prados, o Hemigráben Baixo Rio Carandaí, o Gráben do Rio das Mortes e o
Domo de São Sebastião da Vitória na região de São João del Rei (Fig. 119) Saadi
& Valadão 1990, Saadi 1990).

Figura 119. Sistema de grábens da região de São João del Rei: de nordeste para sudoeste, grábens
de Prados, do Baixo Carandaí e do Rio das Mortes, e cobertura da zona transpressiva (domo) de
S. Sebastião da Vitória. Estão indicadas as falhas principais e a orientação de s1. Cf. Saadi (1990).

Aqui também são incluídas (1) coberturas detríticas e detrítico-lateríticas


da Bacia do Parecis (Fig. 120) e dispersas em Goiás e Distrito Federal, Bahia e
Minas Gerais associadas à superfície de aplainamento Velhas do topo da Forma-
ção Barreiras, constituídas de areias, areias argilosas, argilas, siltes e cascalhos
com grãos de lateritos ferruginosas, crosta laterítica ferruginosa, bauxita e cau-
lim, bem como (2) coberturas coluviais presentes extensivamente em diversas
regiões do país, em parte atribuídas ao Plioceno e também Pleistoceno, formadas
por areias vermelhas, siltes, argilas, cascalhos e areias com fragmentos de laterito,
que se associam a depósitos de tálus, aluviais e de terraços fluviais.

184 geologia estrutural aplicada


Figura 120. Cobertura detrítico-laterítica (amarelo) do noroeste de Mato Grosso, recobrindo a
Bacia do Parecis. Geologia cf. Lacerda Filho et al. (2004a), simplificada.

4.1.5 Unidades do Pleistoceno

São classificadas como pleistocênicas:


• a Formação Içá (Fig. 109), que cobre vasta área da Bacia do Solimões nos
estados do Amazonas, Acre e Rondônia, correspondendo aos arenitos e
pelitos fluviais, sobrepostos à Formação Solimões (Maia et al. 1977, Be-
zerra 2003, Mota 2008);
• a Formação Rio Madeira do vale do Rio Madeira em Rondônia, reunindo
argilas, areias, siltes, cascalhos com cimentação ferrífera, areia grossa fer-
ruginizada e argilas, de ambiente fluvial e planície de inundação (Rizzotto
et al. 2004, Quadros & Rizzotto 2007);
• a Formação Jaciparaná, também no vale do Rio Madeira em Rondônia,
a sudoeste de Porto Velho, recobrindo a Formação Rio Madeira, com sil-
tes argilosos, argilas com restos de matéria orgânica, areias com níveis
conglomeráticos, e crosta laterítica de leques colúvio-aluviais e depósitos
de ambientes fluvial, de planície de inundação e terraços (Rizzotto et al.
2004, Quadros & Rizzotto 2007);

parte 1 – neogeno-quaternário do brasil 185


• a Formação Tartarugalzinho em terraços da planície costeira de Tartaru-
galzinho (AP), representada por areias, pelitos e cascalhos de canal fluvial e
planície influenciados por maré (Bezerra & Nogueira 2013, Bezerra 2014);
• a Formação Tucunaré, constituída de arenitos, pelitos, turfas e carbonatos
terrígenos de ambientes flúvio-estuarinos e lacustres, repousando sobre a
Formação Barreiras nas ilhas a norte e oeste da metade norte da Bacia do
Marajó (Schaller 1971, Brandão & Feijó 1994)
• a Formação Caatinga (Figs. 110 e 114), do vale do rios Salitre e Jaca-
ré no norte da Bahia, de origem lacustrina, constituída de calcários de
cor bege, em parte fossilíferos, brechas calcíferas com seixos de calcário
cinza-escuro, e calcretes/travertinos brancos, pulverulentos, às vezes com
fragmentos de rochas carbonáticas da Formação Salitre (Branner 1910,
Nunes et al. 1973);
• a Formação Ilha Comprida (Fig. 113), componente do Grupo Mar Pequeno
que repousa sob a Formação Cananeia e sobre a Formação Pariquera-Açu
no litoral paulista, representada por areias siltosas e areias de ambiente
transicional (Ponçano 1981).

Aqui são também incluídos depósitos associados à rede de drenagem, que


aparecem em todo o território, ao longo de canais, terraços, meandros e planícies
de inundação, formados de areias, pelitos, cascalhos, ferruginizados ou não, com
matéria orgânica. Também ao longo da região costeira são distinguidos depósitos
de areias, pelitos e material orgânico de origem flúvio-marinha, flúvio-lagunar,
paludial e de manguezal, associados a outros litorâneos e eólicos.

4.1.6 Unidades do Pleistoceno-Holoceno

Algumas unidades são desta idade.


• A Formação Areias Brancas (Fig. 108) da Bacia do Tacutu em Roraima
é representada por areias eólicas que repousam sobre a Formação Boa
Vista (Reis et al. 2001).
• Os depósitos de megaleques (Fig. 121) do Pantanal Setentrional do vale
do alto Rio Branco são formados por areias e pelitos fluviais e abundantes
areias de duna sobrepostos à Formação Içá (Fig. 109) (Rossetti et al. 2014).
• Os depósitos designados Q1, Q2, Q3 e Q4 (Fig. 122) da região a oeste de
Manaus reunem areias e argilas lacustres e/ou de planície fluvial passando a
fluviais que repousam sobre a Formação Içá (Fig. 109) (Rossetti et al. 2005).

186 geologia estrutural aplicada


Figura 121. Megaleques do Pantanal Setentrional, cf. Rossetti et al. (2014). Geologia cf. Reis
et al. (2004) e Faria et al. (2004a), simplificada.

Figura 122. Depósitos sedimentares Q1 a Q4 do Pleistoceno Superior a Holoceno no oeste do


Amazonas. As interrogações indicam unidades de idade não determinada. Cf. Rossetti et al. (2005),
simplificado.

• A Formação Cananéia (Fig. 113) reúne areias finas, níveis de mine-


rais pesados e argilas de ambiente transicional e marinhas de antepraia
formando terraços alçados a 7-9 m de altitude ao longo do litoral paulista
(Suguio & Tessler 1983, Ponçano 1981).
• A Formação Ilha Comprida forma o terraço de 3,5-4,5 m de altitude ao longo
do litoral sul de São Paulo, com areias a argilas e cascalhos acumulados por

parte 1 – neogeno-quaternário do brasil 187


colúvios, tálus, fluxos de detritos e aluviais (Suguio & Martin 1978, Mar-
tin et al. 1978).
• A Formação Pantanal da Bacia do Pantanal Matogrossense (Fig. 123) é
constituída de argilas e areias parcialmente lateritizados, de depósitos co-
luvionares, aluvionares,de leques aluviais e de terraços fluviais (Assine &
Soares 2004, Lacerda Filho et al. 2004a, Lacerda Filho & Oliveira 2006).

Figura 123. O Pantanal Matogrossense no Brasil, um rifte preenchido essencialmente pela For-
mação Pantanal. Isópacas de 100 metros. Geologia cf. Lacerda Filho et al. (2004a) e Lacerda Filho
& Oliveira (2006), simplificada

188 geologia estrutural aplicada


• A Formação Rio Claro, que aparece na Depressão Periférica do Estado de
São Paulo entre Rio Claro-Jaguariúna-Vargem Grande do Sul, é consti-
tuída de conglomerado basal, arenitos conglomeráticos, arenitos argilo-
sos, arenitos, siltitos e argilitos originados em ambientes fluvial e lagunar
e por fluxos gravitacionais (Zaine 1994, Melo 1995, Melo et al. 1997, Fer-
nandes & Mello 2004).

Ao longo do litoral desde o Pará ao Nordeste e ao longo do vale do Rio Ama-


zonas (Fig. 122), sobre o paleossolo laterítico da Formação Barreiras ou discor-
dantemente sobre ela, aparecem depósitos de areias, pelitos, cascalhos, brechas
de ambientes eólico, de canais fluviais, cordões litorâneos, planície de maré e de
mangues, que são referidos como Sedimentos Pós-Barreiras (Rossetti 2001, 2004;
Rossetti et al. 2011b,c; 2012, 2013a; Gandini et al. 2014). Esses depósitos também
vêm sendo descritos no Nordeste.
Ainda são atribuídos a este tempo depósitos costeiros: de tálus, coluviona-
res, de leques aluviais e aluviais, e produtos residuais (cascalhos, areias, siltitos,
argilitos e folhelhos); flúvio-lagunares de canais meandrantes e barras de pontal,
planícies de inundação e lagunas (areias, siltes argilosos, argilas brancas e diato-
mitos, matéria orgânica); de praias, cordões e terraços marinhos (areias, areias
conchíferas, areias finas a grossas); eólicos de dunas e cordões (areias finas a mé-
dia)s; de ambientes de transição, mangues e pântanos (areias a argilas, matéria
orgânica, turfas); flúvio-marinhos de canais e barras de canal nos baixos cursos
dos principais rios, e terraços nas margens das baías, sofrendo influência dos rios
e das marés (areias e siltes argilosos); areias e algais recifais.
Também diversos são os depósitos continentais: colúvios (cascalhos, blocos,
areias de tálus; areias silto-argilosas, cascalhos e linhas de seixos ou stone lines
basais, com ou sem contribuições de fragmentos de laterito, em parte com crosta
laterítica); leques aluviais e eluviais (areias, areias argilosas, cascalhos, pelitos,
com ou sem contribuição orgânica, e turfas); depósitos lacustres (lamas e turfas);
depósitos eólicos (areias); coberturas detrítico-lateríticas, das encostas atuais e
pré-atuais, em vales e em superfícies de aplainamento neogênico-quaternárias
(areias argilosas e siltosas com detritos ferruginosos, crosta laterítica e colúvios
ricos em detritos lateríticos).
Constituem exemplo de depósitos continentais passando a marinhos aque-
les bastante expressivos do leste do Rio Grande dos Sul (Fig. 124), que foram
acrescidos sucessiva e lateralmente a partir de oste para leste e avançando para a
plataforma continental (Villwock 1972, Villwock et al. 1994, Tomazelli & Vill-
wock 2000). Eles foram classificados em quatro conjuntos – Q4: depósitos re-
lacionados a barreiras holocênicas colúvio-aluviais, deltaicos, eólicos, praiais,
de cristas lagunares, de planícies lagunares, de retrabalhamento eólico e turfei-
ras; Q3: depósitos de barreira pleistocênica 3 eólicos, praiais, cristas lagunares e
planícies lagunares; Q2: depósitos de barreira pleistocênica 2 eólicos, praiais e de
planícies lagunares; Q1: depósito de barreira pleistocênica 1 colúvio-aluviais, de
planícies lagunares e eólicos.

parte 1 – neogeno-quaternário do brasil 189


Figura 124. Província Costeira do Rio Grande do Sul, mostrando os depósitos de barreiras do
Pleistoceno e Holoceno. Geologia cf. Wildner et al. (2006).

4.1.7 Unidades do Holoceno

Poucas são as unidades holocênicas.


• A Formação Piraquara aparece em topos de colinas na Bacia de Curitiba
(Fig. 112), constituída de areias e argilas, de planícies de inundação e
diques marginais rompidos de sistemas fluviais meandrantes (Coimbra
et al. 1996).
• A Formação Boqueirão, separada dos depósitos mais recentes de vár-
zea em amplos vales com canais anastomosados da Bacia de Curitiba
(Fig. 112), é representada por areias e cascalhos (Becker 1982).

190 geologia estrutural aplicada


• A Formação Xaraiés (Fig. 123) da planície de inundação das regiões de
Corumbá e Serra da Bodoquena (MS), com tufas calcárias, travertinos,
conglomerados com cimento calcífero, e depósitos carbonáticos (Boggia-
ni & Coimbra 1995).

São aqui incluídos também variados depósitos continentais e de zonas cos-


teiras, como os citados no item anterior.

4.2 A Neotectônica no Brasil

4.2.1 Ordens das tensões intraplaca

Na intraplaca são reconhecidas tensões de primeira ordem, que têm rela-


ção com os movimento das placas indutoras das forças atuantes a partir de suas
bordas laterais e basais e envolvem complexas questões como fluxo mantélico,
heterogeneidade da litosfera e da crosta, e influência da topografia (p. ex., Li-
thgow-Bertelloni & Guynn 2004). No caso da intraplaca sul-americana têm sido
considerados como principais indutores dos esforços regionais: (1) o deslocamen-
to e esfriamento da Placa Sul-Americana a partir da Dorsal Meso-Atlântica, (2) a
subducção da Placa de Nazca sob a Sul-Americana e elevação da cadeia andina,
e (3) a resistência astenosférica ao arrasto da placa. Na análise das tensões são
consideradas também as forças relacionadas com as bordas norte e sul da Placa
Sul-Americana nos limites com as placas de Scotia, do Caribe e Norte-Americana,
As tensões de segunda ordem são resultantes da interferência de fatores di-
versos sobre as tensões de primeira ordem (Zoback 1992). Esses fatores são va-
riados e podem atuar em diferentes escalas, como: (1) carga sobre ou na litosfera
elástica – destaca-se a carga de sedimentos acumulados nas bacias de margens
passivas, que promovem flexão e distensão nas bordas dos lados continental e
oceânico; (2) transição lateral de crostas continental e oceânica – a variação de
espessura e de densidade crustais em margens passivas induz distensão na crosta
continental perpendicular à margem e compressão na crosta oceânica adjacente;
(3) contraste de resistências mecânicas de grandes massas rochosas em contato
– um exemplo é dado por falha colocando lado a lado massas distintas; (4) con-
traste de densidade de colunas de rochas gerado pela presença de massas densas
– esse é o caso de rochas máficas; (5) contraste lateral de densidade na ou sob a
litosfera – o espessamento crustal ou adelgaçamento da litosfera induz tensões
distensivas, enquanto adelgaçamento crustal ou espessamento litosférico induz
tensões compressivas.
As interferências locais são esquematizadas na Fig. 125.

parte 1 – neogeno-quaternário do brasil 191


Figura 125. Interferência de tensões. Esforços de primeira ordem: SHmax e SHmin nas direções X
e Y. Esforços de segunda ordem atuam nas direções X´ (máximo) e Y´ (mínimo). As resultantes
SHmax” e SHmin” atuam nas direções X” e Y”. Baseado em Zoback (1992).

Também, tensões de terceira ordem podem ser geradas por contrastes locais
de densidade e de resistência, descolamento basal, geometria de bacias, topografia
e falhas ativas (Heidbach et al. 2007).
Embora essas tensões intraplaca possam ser definidas, são difíceis de serem
qualificadas e quantificadas.
Por análise de elementos finitos, considerando parâmetros e magnitudes dis-
tintos, foram elaborados modelos da tensão de primeira ordem na Placa Sul-Ame-
ricana. Dentre eles, os usualmente considerados são os de Coblentz & Richardson
(1996) e Meijer (1995, ou Meijer & Wortel 1992), mostrados na Fig. 126.

Figura 126. Tensões regionais para o Brasil. Esquerda: modelo 3 de Coblentz & Richardson (1996).
Direita: modelo de referência de Meijer (1995). Os dados estão centrados em pontos nodais de uma
rede regular. Azul: tensões horizontais máximas. Vermelho: tensões horizontais mínimas.

Os dois modelos indicam SHmax horizontal e no geral SHmin também horizon-


tal, indicando regime tectônico transcorrente no território brasileiro.

192 geologia estrutural aplicada


A direção geral de SHmax tende a ser paralela ao movimento absoluto da pla-
ca (Zoback et al. 1989). As suas direções variam de EW até NW, as de SHmin são
transversais a essas, passando de NS para NE. As magnitudes das tensões diferem
nos dois modelos, em função dos critérios e parâmetros adotados na modelagem
numérica.

4.2.2 Idade da Neotectônica no Brasil

A fragmentação do Pangea, formação da margem continental atlântica


e separação América do Sul-África sob regime tectônico distensivo a partir do
Triássico induziu na Plataforma Sul-Americana falhamentos, embaciamentos,
sedimentação, magmatismo e geomorfogênese. No Brasil esses processos foram
designados Reativação Wealdeniana (Almeida 1967), Evento Sul-Atlantiano
(Schobbenhaus & Campos 1984) e Ativação Tectono-Magmática Mesozoica (Al-
meida & Carneiro 1998). Eles foram admitidos durante longo tempo como con-
tinuando até o presente.
Hoje, não há mais dúvida de que está em desenvolvimento uma nova etapa
de evolução geológica que tem sido referida como estágio moderno (Carneiro
et al. 2012), em que esse regime distensivo passou para transcorrente e se mani-
festa em deslocamentos por falhas, sismicidade, epeirogênese, afeiçoamento do
relevo, embaciamentos e sedimentação, e o regime transcorrente se liga ao deslo-
camento rotacional da Placa Sul-Americana (Hasui 1990).
Com base nesses marcos de referência cronológica apontados anteriormen-
te, a idade de início da Neotectônica do Brasil pode ser fixada como do Oligoceno
Superior no Pará-Maranhão (Formação Pirabas) e Sudeste (bacias paleogênicas),
do Mioceno Médio no restante da região costeira até o Rio de Janeiro (Formação
Barreiras) e do Mioceno Superior no interior do Nordeste (magmatismo da faixa
Macau-Queimadas), sendo ela regionalmente diácrona, como exposto antes.

4.2.3 Métodos de determinação de regimes de tensão

Os estudos de tensões têm sido realizados por análise de falhas da geomor-


fologia, de falhas, de mecanismo focais de sismos, de elitização da seção de poços
de petróleo, de fraturamento hidráulico, de sobrefuração e de dados geodésicos.
Pelos quatro primeiros métodos obtém-se a orientação dos eixos de tensão, en-
quanto os demais fornecem também dados de módulos.

4.2.3.1 Análise de falhas

O estudo de falhas envolve a coleta de dados no terreno, requerendo a dispo-


nibilidade de afloramentos adequados de rochas do Neógeno-Quaternário. Esses

parte 1 – neogeno-quaternário do brasil 193


dados dizem respeito às suas características e suas atitudes medidas, e são trata-
dos para dedução de regimes tectônicos e de sistemas de paleotensão.
Cabe aqui enfatizar alguns aspectos importantes do que já foi exposto em
capítulo anterior:
1) Os regimes tectônicos são o transcorrente, o compressivo e o disten-
sivo. Esses regimes têm seus sistemas triortogonais de eixos de tensão,
s1>s2>s3, considerando-se como positiva a compressão e negativa a
distensão. Os sistemas têm disposição espacial com um dos eixos na
vertical e os outros dois na horizontal. Os eixos verticais são s1 no re-
gime distensivo, s3 no regime compressivo e s2 no regime transcorren-
te, neste último distinguindo-se os subtipos destral e sinistral – desse
modo, os sistemas transcorrentes podem ser caracterizados pela dire-
ção de s1, e o distensivo pela de s3. Como os módulos não são deter-
minados, busca-se conhecer as suas direções (Hasui 2012a, e outros).
2) A existência de anisotropias (foliação, acamamento e outras) e descon-
tinuidades (de modo destacado, juntas e falhas) preexistentes. Assim, as
falhas têm inclinação e movimento controlados pela orientação prévia
dessas feições, resultando diferentes tipos de falhas (transcorrente, normal
ou inversa/reversa), com variados rejeitos (puros ou oblíquos para esquer-
da ou direita), e os eixos de tensão terão orientações diferentes para cada
falha, o que requer procedimento adequado para a busca da orientação
preferencial desses eixos. O procedimento considera a orientação das fa-
lhas, estrias de atrito e sentido de movimentação de uma população de fa-
lhas de um afloramento ou de um domínio homogêneo de uma área. Essa
orientação dos eixos de tensão é obtida por processamento dos dados pela
técnica dos diedros retos (Angelier & Mechler 1977), o que é facilitado
por programas de computação, como o Win-Tensor (Delvaux 2015), Tec-
tonics FP (Reiter & Acs 2016), Trade (Tratamento de Dados Estatísticos,
Carneiro 1996) e Ester (Carneiro et al. 2018).
3) Cada regime tectônico é marcado por falhas características (falhas
normais para regime distensivo, falhas reversas/inversas para regime
compressivo, falhas transcorrentes para regime transcorrente), mas a
elas podem se associar feições diversas de outros tipos (falhas, dobras,
fraturas), de modo que não cabe separar populações de tipos de falhas
e atribuir cada uma a um regime distinto (distensivo, compressivo e
transcorrente destral e sinistral).
4) A idade das falhas e dos eventos tectônicos é um aspecto crítico.
A datação é ainda em geral problemática. Para datação absoluta exis-
tem alguns métodos (datação de lateritas, de illita e de calcita), C14 e
luminescência oticamente estimulada –LOE e da termoluminescên-
cia) de uso ainda muito incipiente no Brasil. Datações paleontológicas,

194 geologia estrutural aplicada


tais como de palinofósseis, têm sido realizadas em sedimentos de algu-
mas áreas. Datações relativas são referenciadas a feições que indicam
a idade máxima dos eventos, como os pacotes sedimentares de bacias
paleógenas, crostas lateríticas ligadas a superfícies de aplainamento (p.
ex., Sul-Americana, Velhas e Paraguaçu de King 1956), as formações
Pirabas-Barreiras do Neógeno, ou aspectos morfológicos e presumidas
discordâncias.

4.2.3.2 Análise geomorfológica

A falta de afloramentos ou a inacessibilidade não permite a coleta de dados


de falhas, em tais casos, as análises morfoestrutural e morfotectônica têm per-
mitido avançar no entendimento da neotectônica, como na Amazônia. Por mor-
foestrutura entende-se qualquer forma ou compartimento da superfície terrestre
produzida por interação de forças endógenas. A morfotectônica diz respeito à
atividade tectônica a que se devem essas forças endógenas.
A análise morfoestrutural identifica anomalias de relevo e de drenagem, e
na análise morfotectônica, são procuradas indicações de movimentação tectôni-
ca em anomalias morfométricas. Estas anomalias aparecem como modificações
ou desvios locais do padrão geral do relevo (escarpas e cristas retilíneas, face-
tas trapezoidais e triangulares, blocos desnivelados e basculados, superfícies de
aplainamento, diferenças de rugosidades etc.) e da drenagem (padrões e varia-
ções de canais e redes, assimetrias de vales e bacias hidrográficas, terraços assi-
métricos, inflexões de rios e capturas, vales suspensos, paleoterraços, meandros,
lagos, perfis de vales, knickpoints etc.), descritas em já vasta literatura moderna de
Geomorfologia. Para a análise dispõe-se hoje de diversas fontes de dados, como
imagens do Landsat-5/TM (Thematic Mapper), de radar, do Google Earth e do
modelo digital de elevação (MDE) da SRTM (Shuttle Radar Topography Mission),
bem como as folhas planialtimétricas em escala 1:50.000, editadas pelo IBGE
(Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e Diretoria de Serviço
Geográfico do Exército Brasileiro. Tais feições podem ter origem climática ou
controle por litotipos/estruturas antigas, mas em geral refletem importante papel
do neotectonismo.
Os lineamentos são anomalias lineares. Eles correspondem a feições que
têm expressão topográfica ou tonal na superfície do terreno, imagem ou mapa,
de forma retilínea ou suavemente curva, simples ou composta, sendo mapeável
e podendo corresponder a superfície de fraqueza estrutural (O’Leary et al. 1976,
Sabins Junior 1978). Dentre essas superfícies destacam-se as falhas e zonas de
falha verticais ou de altos mergulhos. Eles são os principais objetos da análise
geomorfológica para determinação de tensões.

parte 1 – neogeno-quaternário do brasil 195


4.2.3.3 Análise de mecanismo focal de sismos

A análise de ondas P do primeiro movimento do terremoto recebidas em


diversas estações sismográficas permite deduzir a orientação dos eixos de ten-
são horizontais (SH). Essas ondas podem ser compresssivas (SHmax) ou distensivas
(SHmin). Plotando os trajetos dessas ondas do hipocentro às estações no hemis-
fério superior de um diagrama de igual área, os pontos distribuem-se de modo
a definir quatro quadrantes separados por dois planos ortogonais: são os planos
nodais, um deles correspondendo ao plano de falha que se movimentou e eles se-
param quatro domínios alternados de compressão e distensão, que representam
as chamadas beach-balls (bolas de praia, Fig. 127). A qualificação desse plano de
falha requer informações geológico-estruturais adicionais.

Figura 127. Falhas dos diversos regimes tectônicos e exemplo de bolas-de-praia. P e T são as tensões
compressiva e distensiva, a 90° entre si e situadas nos campos delimitados pelos planos nodais. Em
cada caso, um dos planos é a falha e os blocos-diagramas mostram as alternativas posssíveis.

4.2.3.4 Análise de breakout de poços profundos

Nos poços profundos, a concentração e redistribuição de tensões regionais


atuantes nas paredes formam fraturas de cisalhamento conjugadas em duas zonas
diametralmente opostas ao longo da parede (breakout). Esse processo incide em
intervalos (zonas de breakout) nos quais os eixos comumente apresentam o mes-
mo padrão de direção em várias profundidades. A seção circular torna-se elítica
(“ovalização”) e as seções horizontais permitem determinar os eixos horizontais
de tensão máxima (encurtamento SHmax) e mínima (estiramento SHmin). A tensão
vertical não é determinada, pelo que o sistema de eixos não fica completo.

196 geologia estrutural aplicada


4.2.3.5 Análise de tensões por fraturamento hidráulico

Um trecho não fraturado de um furo de sondagem vertical é selado na pro-


fundidade em que será determinada a tensão in situ. Esse trecho é isolado com
dois obturadores e nele é injetado volume constante de fluido (em geral, água).
Esse fluido primeiramente infla os obturadores e sela o trecho; em seguida, pro-
move-se incrementos graduais, até começar o aparecimento de fratura vertical de
distensão (hidrofratura) nas regiões de maior concentração de tensão da parede
do furo. Nesse momento o bombeamento é interrompido, o que acarreta a queda
da pressão até a condição ambiental. Em seguida, o bombeamento é retomado,
de modo a reabrir a fratura. Durante o ensaio, esse ciclo interrupção-retomada é
repetido e as pressões no interior do trecho isolado são registradas, obtendo-se
uma curva de pressão versus tempo.
Esse registro, o imageamento da fratura por alguma técnica e a determina-
ção das propriedades mecânicas da rocha permitem obter a magnitude e direção
de SHmin e SHmax em uma seção horizontal, assumindo que a rocha é elástica, ho-
mogênea e isótropa (Haimson & Cornet 2003). A fratura é perpendicular a SHmin
e paralela a SHmax, o eixo vertical é a carga de rocha.

4.2.3.6 Análise por sobrefuração

O método da sobrefuração (overcoring) requer uma sondagem até a profun-


didade desejada, nele se instalando equipamento capaz de detectar minúsculas
variações de diâmetro (p.ex., células triaxiais de tipo CSIR ou CSIRO). O teste-
munho extraído é analisado para obtenção de parâmetros mecânicos da rocha.
Em seguida, um novo furo é realizado, com diâmetro maior, concêntrico ao an-
terior (sobrefuração), que isola um cilindro de rocha vazado. A tensão atuante
no maciço será aliviada nesse cilindro, resultando mudança de diâmetro, que é
medida (Ask et al. 2009).

4.2.3.7 Análise de dados geodésicos

Dados geodésicos coletados repetidamente por satélites para estações ter-


restres fixas têm permitido determinar variações de posição, sentidos e velo-
cidades dos movimentos atuais horizontais e verticais. Dados de GPS (Global
Positioning System) têm sido os mais importantes nesse estudo, mas outros são
também considerados (VLBI – Very-long-baseline Interferometry, SLR – Satellite
Laser Ranging e DORIS – Doppler Orbitography and Radio-positioning Integrated
by Satellite). Mapas de movimentação das placas têm sido divulgados, como o da
Fig. 65, sendo o último o de 2014 (Seitz et al. 2016).

parte 1 – neogeno-quaternário do brasil 197


4.2.4 Determinações de tensões no Brasil

4.2.4.1 Determinação por análise geomorfológica

O estudo de lineamentos, cujos padrões morfoestruturais e morfotectônicos


permitem interpretações de regimes tectônicos, foi realizado em âmbito regional
em algumas partes do Brasil: Espírito Santo (Bricalli 2011), região Sul (Salamuni
& Nascimento 2015), Amazônia (Costa et al. 1996) e São Paulo e adjacências
(Hasui et al. 2000). A seguir, são resumidos os dois últimos estudos.

4.2.4.1.1 Região da Amazônia brasileira

A região amazônica foi abordada em escala regional em seus aspectos mor-


foestruturais e morfotectônicos, devido às dificuldades de investigação no terreno
e a vastidão de quase metade da extensão do país. Foram considerados dados exis-
tentes e outros coletados (relatórios do Projeto RADAM e RADAMBRASIL de
1974 a 1983, Costa et al. 1996, Bemerguy 1997, Bemerguy et al. 2000, Silva 2005,
Ibanez & Riccomini 2011, Hayakawa & Rossetti 2012, Rossetti 2014, e outros)
focalizando dez grandes domínios mostrados na Fig. 128. Dados de falhas foram
obtidos apenas nas regiões de Manaus, nordeste e leste do Pará, e nordeste e oeste
do Maranhão, bem como foram considerados alguns dados geofísicos. A aborda-
gem permitiu elaborar um modelo neotectônico (Costa et al. 1996).

Figura 128. Os domínios da região amazônica considerados na definição de regimes de tensão.


Em amarelo: pequenas bacias quaternárias reconhecidas. Cf. Costa et al. (1996).

198 geologia estrutural aplicada


• Roraima
Em Roraima, a Bacia de Tacutu é alongada na direção NE e nela foi reco-
nhecido, por interpretação de linhas sísmicas, um evento transcorrente
atuante desde o Mioceno com falhas transcorrentes destrais NE gerando
dobras, falhas inversas, estruturas em flor positivas e reativação de anti-
gos falhamentos em todo o pacote mesozoico (Eiras & Kinoshita 1988).
Todas essas estruturas foram relacionadas a regime transcorrente destral
EW com s1 NW, que, além do feixe de falhas transcorrentes destrais NE
a ENE a sudeste, também formou um feixe de lineamentos interpretados
como gerado por falhas transcorrentes EW a WNW destrais a norte, e en-
tre ambos uma bacia triangular com falhas normais NW inclinadas para
SW (Fig. 129), inclusive controlando o relevo e a drenagem (Costa et al.
1991, Costa 1999). Reativações no Mioceno e Quaternário permitiram a
formação da planície da região de Boa Vista e adjacências e a sedimentação
da Formação Boa Vista (Wanderley Filho 1991), bem como alçamento da
Serra Pacaraima a até cerca de 2.000 m de altitude.

60°
61°
GUIANA

VENEZUELA
59°


Normandia
RORAIMA

Lethem

Boa Vista


Caracaraí

Figura 129. Estruturação neotectônica do nordeste de Roraima. A bacia que acolheu a Formação
Boa Vista desenvolveu-se na zona de transtensão entre os feixes transcorrentes destrais, sobreposta
à Bacia de Tacutu. Cf. Costa et al. (1996).

Em termos de evolução, considera-se que no Mioceno-Plioceno do-


minou subsidência na porção centro-norte e soerguimento na porção
centro-sul da bacia e que, provavelmente no Quaternário, a transpressão
deu lugar a subsidência no centro-sul, propiciando a formação de novos
depocentros nessa região.

parte 1 – neogeno-quaternário do brasil 199


• Amazonas
No interflúvio Solimões-Negro, Estado do Amazonas, foram distingui-
dos três compartimentos alongados na direção EW, marcados por linea-
mentos EW, NE e NW (Fig. 130 – Costa et al. 1996, Bezerra 2003).

Negro
Barcelos
Japurá
Manaus
es
li mõ Codajás
Benjamim So Ilha de
Tupinambarana
Constant
ri
va
Ja
Manicoré

a
eir
d
Ma

á
Juru

rus Porto Velho


Pu
Rio Branco

Figura 130. Estruturas do Estado do Amazonas, distinguindo dois compartimentos transcorrentes


destrais separados por um transpressivo marcado por falhas inversas. Cf. Costa et al. (1996).

No compartimento sul os trechos dos rios Juruá e Purus e seus afluen-


tes configuram padrão de drenagem paralelo que se estende por mais
de 700 km na direção EW. Ali, são comuns alternâncias de segmentos
meandrantes ou retilíneos, sugerindo a presença de áreas abatidas e soer-
guidas, respectivamente. Os deslocamentos de segmentos de drenagem
indicam movimentação dominante de falhas transcorrentes destrais EW.
Também aparecem lineamentos menores NE e NNE, aos quais se relacio-
nam anomalias em cotovelo na rede de drenagem e devem representar
falhas inversas.
No compartimento central, entre as cidades de Benjamim Constant e o
baixo curso do Rio Purus, a drenagem é controlada por vários feixes de
lineamentos NNE a NE e tem padrão paralelo. O relevo apresenta faixas
de áreas planas alternadas com sistemas de colinas paralelas aos linea-
mentos, com altitudes em torno de 200 m. Esses lineamentos são inter-
pretados como falhas inversas que se ligam às falhas transcorrentes do
compartimento sul, e parte do sistema de colinas alinhadas pode relacio-
nar-se com dobras.
No compartimento norte, da Colômbia até os baixos cursos dos rios Ne-
gro e Solimões, a drenagem tem padrão retangular a angular, controlado

200 geologia estrutural aplicada


principalmente por lineamentos de direções EW e NE. Os lineamentos
EW são os mais importantes e muitos deles interligam-se através dos li-
neamentos NE. Paralelos a estes aparecem também sistemas de colinas
alinhadas e com altitudes de até 200 m e esculpidas na Formação Soli-
mões. À semelhança do compartimento sul, os lineamentos EW são inter-
pretados como falhas transcorrentes destrais e também há lineamentos NE
interpretados como falhas inversas, cujas articulações demarcam extensas
estruturas romboédricas transpressivas.
Esses compartimentos são vistos como indicativos de um quadro neotectô-
nico relacionado a regime transcorrente destral EW com s1 NW, tendo um
segmento transpressivo no domínio central entre duas faixas transcorrentes
destrais a sul e norte.
No extremo nordeste do compartimento norte, a estruturação no baixo
Rio Negro é definida principalmente por falhas normais de direção NW e
WNW interagindo com falhas maiores, transcorrentes EW destrais, for-
mando pequenas bacias romboédricas e controlando o traçado do rio.
Para Bezerra (2000), a área entre os vales dos rios Negro e Solimões, da
região de Manaus até as cercanias do meridiano de 66°W a oeste, repre-
senta um grande romboedro transtensivo, marcado por feixes de falhas
transcorrentes EW destrais no norte e ENE a WNW no sul, e por feixes
de falhas normais NW nos lados leste e oeste.
Na região do vale do Solimões, entre as localidades de Coari e Anamã,
foram indicados lineamentos correspondentes a falhas normais NW e a
falhas normais de rejeito oblíquo NE, demarcando uma depressão qua-
ternária, que foi designada Bacia de Afastamento do Purus (Fig. 131, Ri-
beiro et al. 2009).

Anamã

ões
Solim
Codajás

Coari

Figura 131. Falhas normais e transcorrenteda Bacia do Purus, entre os vales do Solimões e Purus
na região de Codajás. A mancha amarela corresponde a sedimentos quaternários.Cf. Ribeiro et al.
(2009), simplificado.

parte 1 – neogeno-quaternário do brasil 201


No extremo sudoeste do Amazonas e oeste do Acre, na divisa com o Peru,
aparecem falhas inversas submeridianas, que afetaram as formações So-
limões e Içá e alçaram até segmentos cretáceos à superfície há cerca de
5 Ma, como se vê na Fig. 132. Elas são relacionadas com a compressão
EW quaternária imposta pela deformação da Cadeia Andina na bacia de
antepaís do seu lado leste (Latrubesse et al. 2010).

Figura 132. Falhas de empurrão da região do extremo oeste do Brasil. Geologia cf. Bahia (2004a,b),
simplificada.

Em Rondônia, na fronteira com a Bolívia, a neotectônica na área do sis-


tema fluvial Guaporé-Mamoré-Alto Madeira envolveu primeiramente a
atuação de regime compressivo EW ligado ao contexto de antepaís su-
bandino, originando falhas inversas submeridianas, reativando/gerando
do falhas transcorrentes destrais NE e sinistrais NW, e formando rombo-
grábens (Quadros et al. 1996, Souza Filho et al. 1999). Esse regime parece
ser do Neógeno e do Quaternário.
Para Scandolara & Quadros (2000), depois de formada a Superfície Sul-
-Americana no Paleogeno, sobreveio no Mioceno-Plioceno um regime
compressivo com s1 NE, gerando falhas inversas NW, falhas NS de rejeito
oblíquo e fraturas NE, a cuja atuação se relaciona a formação da Bacia
do Guaporé. A partir do Pleistoceno Superior tem atuado um regime

202 geologia estrutural aplicada


transcorrente EW com s1 NW, formando falhas transcorrentes destrais
EW e NE e sinistrais NS.
Os vales do Guaporé e do Mamoré (Fig. 116) parecem ser controlados
por lineamentos, um NW, mais importante, tido como correspondente a
falha transcorrente sinistral, e outros NE e NW, menores.
O Mamoré estende-se para norte e se junta ao Rio Abunã (que vem de
oeste ao longo da divisa com a Bolívia), formando o Rio Madeira – o
traçado NS deste, com variações para NNE e NNW, parece vincular-se a
falhas inversas relacionadas com a tectônica da bacia de antepaís, e trun-
camento por falhas transcorrentes NE a ENE. O Rio Madeira, mais ao
norte, dirige-se para NE (Fig. 143), ao longo de um lineamento em que se
reconhece movimentação destral, que se prolonga até o Rio Amazonas e
foi designado de Itacoatiara (Igreja & Catique 1997), de Tupinambarana
(Bemerguy et al. 1999) e do Madeira (Silva et al. 2011).

• Vale do Amazonas, de Manaus à foz


Na região compreendida entre Manaus e Parintins (Fig. 133), foram re-
conhecidos lineamentos de dois conjuntos de estruturas do Mioceno-
-Plioceno e do Pleistoceno Superior-Holoceno (Costa et al. 1995, 1996).

Figura 133. Região do Rio Amazonas e baixos vales dos afluentes maiores e as estruturas dos dois
eventos neotectônicos reconhecidos. A mancha amarela representa o Gráben de Tupinambarana.
Cf. Costa et al. (1996).

parte 1 – neogeno-quaternário do brasil 203


O mais antigo é representado por falhas vistas ao longo da rodovia AM-
010 na margem esquerda do Rio Amazonas, de Manaus rumo a leste
(para Itacoatiara), principalmente no trecho situado entre os rios Preto
da Eva e Urubu, onde há boas exposições (Costa et al. 1995, 1996; Silva
2005; Ribeiro et al. 2011; Silva et al. 2010; Paes et al. 2011). São falhas in-
versas NE de um sistema imbricado mergulhando em torno de 40° para
SE. Também aparecem dobras abertas a suaves de direção NE, de ampli-
tudes e comprimentos de onda alguns variando até dezenas de metros.
Essas feições afetaram a Formação Alter do Chão e condicionaram o sis-
tema de colinas alinhadas com altitudes de até 200 m.
O mais novo é representado na mesma região por falhas normais sintéti-
cas e antitéticas NW a NNW, e transcorrentes destrais NE e EW. As falhas
normais controlam a orientação dos Rios Preto da Eva e Urubu a leste de
Manaus, e têm perfis planares e lístricos, podendo ser vistas também den-
tro da cidade de Manaus e ao longo da Rodovia BR-174, onde se verifica
que os rejeitos variam de poucos até dezenas de metros. As falhas trans-
correntes NE afetam as falhas normais, sendo a mais importante aquela
exposta na Avenida Grande Circular em Manaus, caracterizada por uma
estrutura em flor negativa, que promove rotação de até 90° em alguns
segmentos do perfil laterítico do Pleistoceno.
O conjunto mais novo está também representado em duas bacias de afas-
tamento associadas a falhas transcorrentes destrais de direções NE e EW.
Uma é o Gráben de Tupinambarana (Fig. 133): falhas transcorrentes NE
compõem feixes paralelos que configuram o Lineamento Tupinambara-
na, Itacoatiara ou Madeira já citado acima, e falhas normais EW associa-
das separam um romboedro transtensivo proeminente, que acolhe ex-
tensos depósitos fluviais e lacustrinos do Pleistoceno-Holoceno, encaixa
o baixo Rio Madeira e controla o traçado do Rio Amazonas. Esse trecho
da Amazônia foi abordado mais detidamente por Bemerguy (1997) e Be-
merguy et al. (1999). Também são frequentes rios-lagos ou rias no Rio
Amazonas na região da divisa Amazonas-Pará, e são relacionados com
esse tectonismo mais novo.
Outra bacia situa-se no baixo vale do Rio Negro e nela se aloja o Arqui-
pélago Anavilhanas: trata-se de um gráben assimétrico delimitado por
falhas normais NW passando a cerca de 20 km a oeste de Manaus, e por
falhas transcorrentes EW destrais a sul e norte (Costa et al. 1995, Franzi-
nelli & Igreja 2002, Almeida Filho & Miranda 2007). Na margem direita
do baixo vale do Rio Negro foi reconhecida uma falha NW ao lado do
Arquipélago de Anavilhanas e outra no trecho WNW a montante da foz

204 geologia estrutural aplicada


do Rio Branco (Latrubesse & Franzinelli 2005, Almeida Filho et al. 2009).
Na região dos baixos vales do Solimões e Negro e do começo do Ama-
zonas, a sul e leste de Manaus, Silva (2005) definiu compartimentos tec-
tônicos em que foram identificadas várias falhas normais NW e falhas
transcorrentes destrais NE, ENE e EW e sinistrais NS, controlando o Rio
Negro, grábens assimétricos (grábens dos rios Negro e Ariaú), e bacias
de afastamento (bacias de Manaus e de Manacapuru). Essas falhas foram
relacionadas a um regime compressivo do Mioceno afetando a Formação
Alter do Chão (Cretáceo), seguido de um período de estabilidade, com
lateritização, e depois, no Quaternário, por regime transcorrente, geran-
do feições transtensivas. Silva et al. (2007) reconheceram ainda o Gráben
Rios Castanho-Mamori (na margem direita do Rio Solimões com direção
NE, envolvendo falhas NW, NE e NS, e basculado para NW), e a Bacia
Romboédrica Manacapuru (delimitada por falhas transcorrentes EW a
norte e sul, e falhas normais NE a leste e oeste).
Ainda nessa região, uma compartimentação de mesmo tipo, mas com-
pondo um mosaico distinto, foi apresentada por Franzinelli (2011) e
Franzinelli & Igreja (2011), com falhas transcorrentes e normais forman-
do vários rombográbens (Paciência, Manaus, Cacau-Pereira e Careiro) e
blocos (Manacapuru, Ariaú, Cacau-Pereira e Manaus).
A sul da região de Santarém (Fig. 133), a existência de morfoestruturas
controlando trechos da rede de drenagem foi apontada por alguns auto-
res desde a década de 1970, e foram relacionadas com tectônica transcor-
rente afetando a Formação Alter do Chão (Cretáceo). Ali, as estruturas
foram interpretadas em termos de dois conjuntos principais atribuídos
ao Neógeno e ao Quaternário (Costa et al. 1995).
O conjunto mais antigo foi caracterizado ao longo de uma faixa EW com
150 km de largura e 600 km de extensão por análise de seções sísmicas de
reflexão e dados de gravimetria e aeromagnetometria (Travassos & Bar-
bosa Filho 1990). Ali foram identificadas dobras e falhas inversas de di-
reção geral NE a ENE, que afetaram a Formação Alter do Chão. As falhas
inversas formam sistemas imbricados mergulhando para NW ou SE, e
marcam estruturas em flor positiva. As dobras têm dimensões quilométri-
cas, são suaves a fechadas e possuem planos axiais verticais a subverticais.
Essas estruturas se expressam no relevo em sistemas de serras alongadas na
direção NE e com altitudes de até 200 m. Essa deformação foi relacionada
com transpressão NNW induzida por movimentos das falhas transcorren-
te destrais EW no Mioceno (Wanderley Filho & Costa 1991).

parte 1 – neogeno-quaternário do brasil 205


O conjunto do Quaternário tem dois segmentos distensivos e um seg-
mento transcorrente que se articulam na região de Santarém-Monte Ale-
gre. Um segmento distensivo NW situa-se na margem esquerda do Rio
Amazonas, de mais de 250 km, formado por falhas normais de alto ângu-
lo que controlam o baixo curso do Rio Trombetas e o trecho do Rio Ama-
zonas entre as cidades de Juruti e Santarém – ali, é comum a presença de
lagos relacionados com meandros abandonados por migração de canais
devidas a jogos de blocos de falha, bem como a ocorrência de extensos
depósitos de sedimentos pelíticos vinculados principalmente às planícies
de inundação. O outro segmento distensivo NNE está na margem direita
do Amazonas, com extensão em torno de 200 km, marcado por falhas
normais que controlam o baixo curso do Rio Tapajós, cujo desenvolvi-
mento deve ter relação com reativação de falhas normais do Mesozoico
– em sua foz, ele foi bloqueado por outras falhas, estreitando-se e desem-
bocando no Amazonas por um estreito canal. O segmento transcorrente
destral de direção ENE estende-se desde Santarém até a foz do Rio Xingu
na região de Porto de Moz.
Indicações de pequenas falhas NNW e NE deslocadas por falhas trans-
correntes próximas de EW foram também registradas no vale do Rio
Amazonas, no trecho Monte Alegre-Comandaí (Rossetti 2014). Também,
na borda centro-sul da Bacia do Amazonas da região Itaituba-Santarém,
foram traçados lineamentos de diversas orientações, destacando-se N50-
-70W (sinistral) e N60-70E (destral), relacionados com regime transcor-
rente EW destral de idade pós-Formação Solimões (Santos et al. 2011).
Na região de Porto de Moz (Fig. 133) aparecem falhas normais NNW for-
mando um segmento distensivo com extensão superior a 50 km, que se
dirige para Altamira e Belo Monte e controla o baixo vale do Rio Xingu,
bem como extensos trechos retos de rios de segunda ordem. Ali tam-
bém há um feixe de falhas transcorrentes destrais NE que avança rumo
à porção norte da Bacia do Marajó, tendo 350 km na região continental.
Este feixe teve atividade do Mesozoico ao Neogeno e sua reativação no
Pleistoceno-Holoceno formou também falhas normais EW a ENE, ge-
rando bacias de afastamento.
As linhas sísmicas da plataforma indicam que as sequências do Pleistoce-
no-Holoceno dos vários compartimentos transtensivos podem alcançar
espessuras da ordem de 1.000 m, e também que as falhas transcorren-
tes condicionaram o corredor entre a drenagem do baixo Amazonas e o
Atlântico desde o Cretáceo, como indicado pela presença dos pacotes da
Bacia de Mexiana com cerca de 9 km de espessura (Villegas 1994, Costa
et al. 2002).

206 geologia estrutural aplicada


• Região do Amapá ao Maranhão
Na região do litoral entre Macapá, o vale do Rio Gurupi e a região de
Marabá-Imperatriz (Bico do Papagaio) são reconhecidos movimentos
tectônicos do Neógeno e do Quaternário distintos em dois grandes com-
partimentos, um transpressivo e outro transtensivo ((Fig. 134, Costa et al.
1993, 1995; Borges et al. 1995 a,b).

Figura 134. Região do Amapá ao noroeste do Maranhão e o Bico do Papagaio. Quadros estruturais do
Mioceno-Plioceno (à esquerda) e do Pleistoceno-Holoceno (à direita). Cf. Costa et al. (1996).

O compartimento transtensivo abrange a área da ilha de Marajó e nor-


deste do Pará, e corresponde à área principal dos sedimentos das for-
mações Pirabas e Barreiras. A primeira movimentação tectônica, do
Mioceno-Plioceno, envolveu falhas normais e propiciou a ingressão do
mar Pirabas por cerca de 150 km continente adentro no Pará, resultando
na deposição da Formação Pirabas; a segunda, no Pleistoceno-Holoceno,
relacionada à progressão da movimentação ao longo de falhas normais,
promoveu a deposição da Formação Barreiras, rotação de blocos e des-
vios dos baixos cursos dos rios Amazonas e Tocantins para os traçados
atuais (Borges et al. 1995a,b; Almeida et al. 2001; Costa et al. 2002;Ros-
setti et al. 2007, 2008). Tais falhas são observadas apenas em parte no
campo e em linhas sísmicas: as principais têm direção preferencial NW
e mergulham para NE com perfis lístricos e planares, elas reativaram fa-
lhas transcorrentes destrais EW e NE e falhas normais NW que atuaram
na formação do gráben do Marajó durante o Mesozoico (Villegas 1994,
Costa et al. 2002).

parte 1 – neogeno-quaternário do brasil 207


O compartimento transpressivo ocupa a área entre Paragominas e Ma-
rabá, e prolonga-se para a região oeste do Maranhão. Seus limites norte
e sul correspondem a feixes de falhas transcorrentes EW destrais, que
afetam principalmente a Formação Ipixuna (Cretáceo Superior, e Paleo-
geno?) e o perfil laterítico bauxítico-fosfático associado. O feixe norte
tem extensão aproximada de 560 km entre os vales dos rios Mearim e To-
cantins, condicionou traçados de drenagens e tem estruturas transpres-
sivas e transtensivas ao longo de sua direção. O feixe sul tem mais de 350
km, passa por Imperatriz e Marabá, condiciona anomalias de drenagem
(como o Bico do Papagaio) e tem suas principais falhas interagindo na
região de Marabá através de um pequeno segmento transpressivo.
Reconhece-se que o pulso tectônico do Neógeno foi marcado pela mo-
vimentação dos feixes de falhas transcorrentes destrais EW e pela trans-
pressão no domínio entre eles, com formação de dobras métricas a quilo-
métricas e falhas inversa de direção NE, que geraram elevações alinhadas
com altitudes de até 500 m e compõem a Serra do Tiracambu. No Qua-
ternário o novo pulso tectônico gerou falhas normais NW e falhas trans-
correntes destrais EW, desenvolvendo transpressão e transtensão nos do-
mínios indicados na Fig. 134. Essa tectônica responde pelos traços gerais
do modelado do relevo e drenagem atuais (Cavalcante 2000, Cavalcante
et al. 2004, Soares Júnior et al. 2011).
Na região de Marabá foram observadas falhas normais NNE a NE, afe-
tando o pacote Barreiras, e outras WNW a EW, cortando também crostas
lateríticas e o perfil de alteração, falhas inversas de direções variando de
N10 a N60, seccionando o perfil de alteração, assim como dobras de eixos
NE e poucas falhas transcorrentes EW e NNE (Felipe 2012). Tais feições
foram relacionadas com um rombográben alongado na direção NW, em
que flui o Rio Tocantins a oeste do Bico do Papagaio. Essas estruturas fo-
ram atribuídas a regime transcorrente destral EW, que se manifestou nos
dois pulsos transtensivo e transpressivo referidos.
A região noroeste do Maranhão, entre os vales dos rios Gurupi e Mea-
rim, possui também elementos estruturais originados por movimentos
do Neogeno e do Quaternário (Ferreira Júnior 1996, Ferreira Júnior et al.
1996). Ali, as estruturas do Neogeno restringem-se ao extremo nordeste
dessa área e correspondem a falhas normais de direção NW, inclinadas
para NE, que limitaram uma bacia assimétrica preenchida por sedimen-
tos da Formação Barreiras. A zona de ombreira situava-se a sudoeste,
com áreas elevadas de direção NW sustentadas principalmente por se-
dimentos cretáceos (Formação Itapecuru). O pacote Barreiras tem, do
interior para o litoral, depósitos de leques aluviais, passando para outros
de sistemas fluviais meandrantes e extensas planícies de inundação e, por
fim, de ambientes transicionais dominados por marés de baixa energia.

208 geologia estrutural aplicada


A estruturação do Quaternário é marcada na região da Bacia de São Luís
por dois feixes de falhas transcorrentes destrais EW a norte e a sul, e fei-
xes de falhas normais NW. As falhas transcorrentes do norte têm direção
EW, extensões superiores a 150 km e afetam as formações Itapecuru e
Barreiras, elas têm dúplexes transtensivos associados, delimitados por
falhas normais NW, e controlaram o relevo colinoso com altitudes de 35
a 70 m e o padrão de drenagem paralelo. As falhas transcorrentes do sul
têm extensão superior a 300 km, prolongam-se para o nordeste do Pará,
controlam drenagem paralela e interflúvios com altitudes em torno de
110 m, de bordas escarpadas e topos chatos, sustentados pela Formação
Itapecuru com sua crosta laterítica, e também têm estruturas romboédri-
cas transtensivas associadas, em que drenagens são bloqueadas e formam
extensos lagos. As falhas normais do lado nordeste têm mergulhos de
50-75° para SW, rejeitos de poucos a dezenas de metros, perfis planares
e lístricos, e estrias inclinadas 40-70° para NW. Essas falhas bloquearam
parte do sistema de drenagem, formando os lagos dos municípios de Pi-
nheiro e Santa Helena, e controlaram relevo colinoso com forte assimetria.
As falhas normais do lado sudoeste têm mergulhos médios a altos para
NE e perfis planares em dominó, e controlaram relevo colinoso forte-
mente assimétrico de menor expressão que o do lado nordeste. Esses con-
juntos de falhas articula-se de modo a configurar uma bacia de afasta-
mento, designada Bacia de Pinheiro (Fig. 135, Ferreira Júnior et al. 1996),
preenchida por fluxos de detritos e depósitos fluviais e lacustrinos.

Figura 135. Bacia de Pinheiro. Essa bacia de afastamento quaternária instalou-se sobre a Bacia de
São Luís por transtensão induzida por dois feixes transcorrentes destrais EW paralelos, os feixes de
falhas normais NW mergulham para sentidos opostos. Cf. Ferreira Júnior et al. (1996).

parte 1 – neogeno-quaternário do brasil 209


Mais a leste no Maranhão e no norte do Piauí, na área da Bacia de Bar-
reirinhas, foram reconhecidos três domínios com padrões de drenagem
distintos, separados por dois lineamentos de direções próximas de ENE,
ambos referidos na literatura como Lineamento de Pirapemas, mostra-
dos na Fig. 136 (Almeida Filho et al. 2009, Gastão & Maia 2010). Tam-
bém a faixa entre eles foi referida com esse nome (Liu et al. 1984). Essa
faixa é marcada por proeminente direção em torno de ENE da drenagem.
Tem-se indicações geomorfológicas e geofísicas de movimentação trans-
corrente destral, reativando feições do embasamento e afetando todo o
pacote da bacia.

Figura 136. Área da Bacia de Barreirinhas, destacando os dois lineamentos maiores. Geologia cf.
Sousa et al. (2012) e Ferreira et al. (2006b), lineamentos cf. Rodrigues et al. (1986), Almeida Filho
et al. (2009) e Gastão Maia (2010)..

• Sudeste do Pará, norte de Tocantins e sul do Maranhão


Nessa região as principais estruturas neotectônicas são três feixes de li-
neamentos correspondentes a falhas transcorrentes EW, um domínio
transpressivo e dois feixes de falhas normais NS (Fig. 137).
Um feixe transcorrente EW passa pelo norte dessa região, tem extensão
superior a 500 km, constitui o limite norte da Serra dos Carajás, controla
os baixos cursos dos rios Itacaiúnas, Parauapebas e alto Bacajá, e gera a
anomalia no traçado dos rios Xingu e Araguaia-Tocantins (Bico do Pa-
pagaio). Outro feixe transcorrente EW situa-se na porção central, tem

210 geologia estrutural aplicada


extensão aproximada de 370 km entre os vales dos rios Xingu e Araguaia,
e responde por várias anomalias da rede de drenagem.

Figura 137. Região do sul do Pará à divisa norte do estado de Tocantins/sul do Maranhão. Cf.
Costa et al. (1996).

Esses dois feixes transcorrentes interligam-se através de lineamentos NE,


interpretados como falhas inversa que controlam a orientação de exten-
sos segmentos dos rios Itacaiunas, Parauapebas e Vermelho. Grande par-
te da expressão topográfica dessa região, representada por um sistema
serrano de até 800 m de altitude, a Serra dos Carajás, é vinculada aos
movimentos verticais associados a transpressão; estima-se que os rejei-
tos ao longo das falhas inversas podem ter alcançado várias centenas de
metros, exumando um paleo-relevo fortemente condicionado pelas es-
truturas pré-cambrianas empinadas (Bemerguy et al. 2000). Os sistemas
de serras com topos planos são capeados pela crosta laterítica matura, a
exemplo do que se verifica na área transpressiva da Serra do Tiracambu
do Maranhão.
O feixe transcorrente do sul tem extensão aproximada de 200 km, con-
trola a orientação geral do Rio Inajá e o alto curso do Rio Arraias do Ara-
guaia, e se conecta ao feixe transcorrente central através de um conjunto
de falhas normais de direção NW, definindo um domínio transtensivo.
Feixes de lineamentos correspondentes a falhas normais NS são reco-
nhecidos nos extremos leste e oeste da região. O de oeste é realçado por
extensos trechos retilíneos dos rios Xingu e Fresco, pela orientação geral

parte 1 – neogeno-quaternário do brasil 211


das drenagens de primeira e segunda ordens, e estende-se para norte e
para sul, além dos limites da área enfocada e ultrapassa 1.000 km de ex-
tensão. O de leste compreende falhas normais fortemente inclinadas para
oeste, as quais são destacadas por extensos trechos retilíneos do Rio Ara-
guaia e de seus principais afluentes. Os movimentos verticais associados
respondem pelo conjunto de elevações alinhadas na direção NS (Serra
do Estrondo), que compõem o divisor das bacias hidrográficas dos rios
Araguaia e Tocantins.
Ao neotectonismo relaciona-se a individualização da Serra do Estron-
do como divisor de águas dos rios Araguaia e Tocantins, a formação da
Serras dos Carajás, além da Serra do Tiracambu, que alcançam de 800 e
500 m de altitude, respectivamente, além do desenvolvimento do Bico do
Papagaio. Três feixes de lineamentos NS afetam toda a região e foram in-
terpretados como resultantes de reativação de estruturas antigas do Cin-
turão Araguaia, parecendo ter controlado a orientação do Rio Tocantins
e a formação de depósitos sedimentares.
Entre Imperatriz (a cerca de 60 km ao norte de Estreito) e Porto Nacional
(cerca de 100 km ao sul de Pedro Afonso), ao longo do vale do Rio To-
cantins foram reconhecidas falhas transcorrentes destrais EW e NE, falhas
normais NW, NNW e NS, e falhas inversas NE e NNW, interpretadas como
relacionadas a regime transcorrente EW destral atuando no Neogeno e no
Pleistoceno Superior-Holoceno (Pires Neto & Bartorelli 1998).
Na margem direita do Rio Tocantins entre Tucuruí e Moju, Souza (2007)
mostrou um quadro de feixes de lineamentos EW, NW, NE e NS. Linea-
mentos NW entre outros EW configuram um romboedro extensional na
parte sul da região, a sul do paralelo 3°30´. Essa estrutura é complicada
por lineamentos NE.
Nas regiões nordeste de Tocantins e sul do Maranhão, os lineamentos
correspondem a feixes de falhas transcorrentes destrais e normais de di-
reções em torno de EW a ENE e NS (Bezerra & Costa 1996), mostrados
na Fig. 138. Afetam rochas pré-cambrianas e pacotes paleozoicos e meso-
zoicos da Bacia do Parnaíba.
As faixas transcorrentes interligam-se através de falhas normais NW, de-
finindo bacias transtensivas de portes diversos. Também aparecem falhas
transcorrentes destrais e sinistrais de direção NE. Todas essas falhas in-
fluíram no padrão de drenagem, traçados de cursos d´água e anomalias
de drenagem, destacando-se o curso do Rio Tocantins, também controla-
ram os traços gerais do relevo da Serra do Estrondo.

212 geologia estrutural aplicada


Figura 138. Vale do Rio Tocantins entre Estreito e Carolina, na região da divisa Tocantins-Mara-
nhão. Cf. Bezerra e Costa (1996).

• Conclusão
A primeira síntese da neotectônica na região amazônica do Brasil, regio-
nalizando resultados de estudos em dez áreas selecionadas dos estados do
Amazonas, Roraima, Amapá, Pará, Maranhão e Tocantins e ao longo do
vale do Rio Amazonas entre Manaus e a Ilha do Marajó, foi elaborada por
Costa et al. (1996, 2001). O modelo reconhece regime transcorrente des-
tral de direção geral EW, com s1 em torno de NW e s3 em torno de NE,
atuando em dois pulsos: no Mioceno-Plioceno e Pleistoceno Superior-
-Holoceno, este último com continuidade até hoje.
O primeiro pulso sucedeu ao período de estabilidade do Oligoceno, que
se marca pelo perfil laterítico maturo associado à Superfície Sul-Ameri-
cana, e os dois são separados por um novo período de estabilidade, mar-
cado pelo perfil laterítico imaturo, relacionado com a Superfície Velhas
no topo da Formação Barreiras (Costa 1991, Rossetti 2004).
Essa tectônica manifestou-se com partições em domínios transcorrentes,
transtensivos e transpressivos, gerando associações estruturais diversas
e controlando bacias sedimentares, sistemas de relevo e rede de drena-
gem. De modo geral, as estruturas resultantes são lineamentos corres-
pondentes a feixes de falhas transcorrentes destrais EW, ENE e NE, falhas
normais NW e NNW, e falhas de empurrão ou inversas NE e ENE, com
eventuais dobras associadas; também feixes de falhas normais NS são re-
conhecidas em algumas áreas.

parte 1 – neogeno-quaternário do brasil 213


Numa interpretação do quadro geométrico dos lineamentos e falhas neo-
tectônicas da Amazônia, Igreja (1998, 2012) considerou a atuação de um
regime transcorrente EW destral, a que se referiu como Sistema Trans-
corrente Amazônico, gerando falhas de direções diversas que seguiriam
o modelo de Riedel: N70E (Direção Rio Solimões), N45W (Direção Rio
Negro), N80E (Direção Rio Amazonas), N50E (Direção Rio Madeira),
N10E (Direção Rio Tarumã) e N65W (Direção Educandos).

4.2.4.1.2 Estado de São Paulo e adjacências

Estudo de natureza e distribuição de sedimentos, morfoestruturas, morfo-


tectônica e de falhas no terreno na região do Estado de São Paulo, sul de Minas
Gerais e norte do Paraná permitiu definir uma divisão em seis compartimen-
tos neotectônicos com características próprias (Borges et al., 1998; Hasui et al.,
1998, 1999, 2000; Morales et al., 2001). Esses compartimentos são mostrados na
Fig. 139 e, resumidamente, seus aspectos gerais são apresentados em seguida.

Figura 139. Compartimentos neotectônicos. Nos compartimentos transpressivos I e V as falhas


características são inversas/reversas (símbolos azuis) e nos transtensivos II, III e VI, falhas normais
(símbolos vermelhos). No compartimento transcorrente IV, além das falhas transcorrentes destrais
EW, aparecem domínios transpressivos (falhas normais em vermelho) e transtensivos (falhas inver-
sas/ reversas em azul). As setas em vermelho indicam regime transcorrente regional EW destral com
s1 NW. Cf. Borges et al. (1998), Hasui et al. (1999, 2000), Morales et al. (2001).

214 geologia estrutural aplicada


• Compartimento I
Estende-se pelo sul de Minas Gerais e Serra da Mantiqueira e tem feixes
de lineamentos EW, NE e NS que se expressam no relevo com desníveis
entre 2.600 e 850 m e na rede de drenagem com padrões em treliça e para-
lelo, aos quais se associam falhas transcorrentes destrais, inversas/reversas
e dobras de eixos NE. Falhas transcorrentes destrais EW, inversas/reversas
NE e ENE e normais NS estão presentes.
• Compartimento II
Apresenta lineamentos NS, NW e EW que estão marcados no relevo da
Depressão Periférica e cuesta da Bacia do Paraná (600-700 m de altitude),
bem como na rede de drenagem com padrões retangular e paralelo. As
estruturas são representadas por falhas transcorrentes EW, normais NS e
NW, além de inversas/reversas NE, que são atribuídas a dois pulsos neo-
tectônicos, o primeiro gerando as falhas transcorrentes, normais NW e
inversas/reversas NE, e o segundo formando as falhas NS (Borges, 1999).
• Compartimento III
Estende-se pela maior parte da Bacia do Paraná em São Paulo e marca-se
por lineamentos NW e NE em área com relevo subnivelado caindo para
oeste a 650-300 m de altitude e drenagem assimétrica, tendo padrão em
treliça e numerosas cachoeiras. As falhas são normais NW, NNW, WNW e
NS, e outras expressivas são de direção NE, consideradas transcorrentes.
Elas exercem forte controle dos cursos d´água.
• Compartimento IV
Situado ao longo do vale do Rio Paranapanema, na divisa entre São Paulo
e Paraná, estende-se rumo ao Rio de Janeiro e possui lineamentos EW,
WNW e ENE em área com drenagem de padrões retangular, sub-para-
lelo e paralelo. Esses lineamentos são interpretados como feixes de falhas
transcorrentes destrais em torno de EW, separando lascas, lentes, sigmoi-
des e cunhas. Essas falhas interagem com outras de tipos inverso/reverso
NE e ENE, e com falhas normais NE, formando estruturas romboédricas
transpressivas ou transtensivas, que se expressam em blocos desnivela-
dos, os abatidos acolhendo preenchimentos sedimentares.
• Compartimento V
O Compartimento V tem lineamentos NE e EW em área de relevos de
600-1.000 m, drenagem NE com padrões subangular e em treliça, e falhas
inversas/reversas relacionadas.
• Compartimento VI
Tem lineamentos NW em área com drenagem NW com padrões paralelo
e em treliça, com falhas normais inclinadas para NE e SW.

parte 1 – neogeno-quaternário do brasil 215


Além das falhas observadas nos vários compartimentos, no Compartimen-
to IV foram analisados, entre Avaré (SP) e Piraí do Sul (PR), feixes paralelos de
falhas transcorrentes referidos como domínios Jurumirim (com falhas normais
associadas), Itararé (com predomínio de falhas transcorrentes e separado do Juru-
mirim por falhas normais), e Tibagi (separado do Jurumirim por feixes de falhas
normais e inversas), como ilustra a Fig. 140 (Hasui et al. 1999a).

Figura 140. Os domínios do Compartimento IV e seus padrões de falhas indicativos de regime


regional transcorrente EW com s1 NW. Cf. Hasui et al. (1999a).

As direções gerais das falhas transcorrentes situam-se em torno de EW, por


vezes com curvaturas e junções em padrão anastomosado. As falhas normais têm
direções em torno de NW, e as reversas/inversas, NE, marcando subdomínios
transtensivos e transpressivos. Tais falhas indicam os regimes de tensão mostrados
para os três domínios: os eixos de tensão têm direções em torno de WNW a NW,
NNE a NE e vertical a subvertical, cambiando a posição de s1, s2 e s3 nos subdomí-
nios. O regime tectônico regional foi transcorrente EW destral com s1 NW.
Esse regime transcorrente destral EW com s1 NW foi reconhecido mediante
estudos de falhas de diversas áreas da região, sendo a compartimentação descrita
promovida pela forte partição da deformação, pela qual (1) áreas sob transtensão
marcam-se por falhas normais NW, basculamentos de blocos, áreas de erosão e
pequenas áreas de sedimentação, (2) áreas sob transpressão têm falhas inversas/

216 geologia estrutural aplicada


reversas NW, áreas mais altas e sujeitas a erosão, e (3) áreas sob regime transcor-
rente têm falhas transcorrentes destrais, destacadamente EW.
Esse quadro constituiu-se em um primeiro modelo de evolução neotectônica
regional. Essa compartimentação e falhas foram mostradas numa versão prelimi-
nar do mapa neotectônico do Estado de São Paulo apresentada por Hasui et al.
(1999b).

4.2.4.2 Determinação por análise de falhas

Falhas e movimentos foram reconhecidos em diversas áreas na primeira


metade do século passado por Branner (1912, 1920), relacionando-os com sismi-
cidade e relevo. Depois, o estudo mais abrangente foi o de Freitas (1951), que
introduziu a expressão “tectônica moderna” para a movimentação epeirogêni-
ca e falhamentos associados que ocorreram a partir do Paleógeno no Sudeste.
Na região central do Estado de São Paulo, Björnberg et al. (1971), analisando a
geomorfologia, depósitos sedimentares e falhas, reconheceram movimentos aos
quais se referiram como “modernos” e que estariam ainda em atividade. No fim
da década de 1.980 e início da década de 1.990, começaram as investigações sis-
temáticas de movimentos e estruturas na região de Belém (Angélica et al. 1986,
Igreja et al. 1990) e no Sudeste acrescidas de análise de tensões (Riccomini 1989,
Saadi 1989). Uma primeira síntese regional da Neotectônica no Brasil foi apresen-
tada no Workshop sobre Neotectônica e Sedimentação Cenozoica Continental
no Sudeste Brasileiro, realizado pelo Núcleo de Minas Gerais da Sociedade Brasi-
leira de Geologia em Belo Horizonte em 1990 (Hasui 1990).
Na abordagem seguinte são indicados os estudos de dedução do regime tec-
tônico e do sistema de tensão a partir de análise de falhas em diversas áreas do país.
Dobras são raras, limitadas a pequenas áreas e são apenas mencionadas quando
pertinentes. Também falhas de tipos diversos foram identificadas isoladamente em
muitas áreas sem terem sido utilizadas para essa dedução – esses estudos não são
aqui relatados.
Cabe frisar que os resultados disponíveis nas referências citadas indicam
eventos e discriminam os eixos de tensão, mas eles não apresentam as classes de
qualidade dos resultados estabelecidas para o Mapa Mundial de Tensão, versão
2008, indicadas no Quadro 3.

parte 1 – neogeno-quaternário do brasil 217


Quadro 3. Classes de qualidade da tensão compressiva horizontal (SH) deduzida por
análise de falhas segundo o Word Stress Map – versão 2008. Disponível no site http://dc-
app3-14.gfz-potsdam.de/pub/quality_ranking/quality_ranking.html do The World Stress
Map Project – A Service for Earth System Management (Helmholtz Centre Potsdam – GFZ
German Research Centre for Geosciences), e também em Heidbach et al. (2010).
Qualidade A B C D E
Precisão da ±15° ±15-20° ±20-25° Discutível Incerto
orientação de SH (±25-40°) (>±40°)
Número de dados ≥25 dados ≥15 dados ≥10 dados ≥6 dados -
Variação angular ≤ £9° para <12° para <15° para <18° para
do conjunto de ≥60% dos ≥45% dos ≥30% dos ≥15% dos
dados dados dados dados dados

• Rio Grande do Sul


Depois da primeira referência a falhas cenozóicas (Leinz 1949), outras in-
dicações foram acrescidas em muitos trabalhos, como os de Delaney (1965)
e Picada (1970), mas estudos neotectônicos sistemáticos resumem-se
aos de Morales et al. (2012, 2015) na área do Lineamento do Rio Jacuí,
também referido como Lineamento Jacuí-Tramandaí (Fonseca et al. 2001)
e Lineamento Jacuí-Porto Alegre (Fonseca 2006). É uma faixa que se es-
tende de Torres para oeste na Região Serrana do estado e é marcada por
traços estruturais EW, com um progressivo abatimento de segmentos des-
de os altos ao norte para o sul, até a Depressão do Jacuí.
Morales et al. (2012) observaram nessa região, em basaltos da Formação
Serra Geral, falhas transcorrentes sinistrais em torno de EW (predomi-
nantes), destrais em torno de NE e WNW, normais em torno de NE, ENE,
NW e WNW e uma reversa N30W. Essas falhas indicam dois eventos de-
formacionais, um deles com predomínio de falhas transcorrentes sinis-
trais próximas de EW, de regime transcorrente com s1 NE, e outro com
falhas transcorrentes destrais WNW, de regime transcorrente com s1 NW.
Este último, destral, embora não datado, foi considerado neotectônico.
Ainda ali, Morales et al. (2015) observaram falhas transcorrentes destrais
EW e normais WNW a NW, em arranjos transtensivos. As transcorrentes
indicam regime neotectônico transcorrente com s1 próximo de NW, e as
normais são de transtensão com s3 próximo de NNE.
A região de Bento Gonçalves na Serra Gaúcha apresenta-se intensamen-
te fraturada, com forte incisão das drenagens, grande persistência e li-
nearidade. Morales et al. (2012, 2015) observaram que as famílias EW e
NW envolveram transcorrência sinistral e a família NE, transcorrência
destral. Tais direções, além de outras secundárias, indicam dois eventos
transcorrentes, o primeiro com s1 NE e um segundo com s1 NW.

218 geologia estrutural aplicada


• Santa Catarina
A borda do planalto que se projeta até o litoral sul do estado apresenta
conjuntos de descontinuidades em que predominam falhas transcorren-
tes sinistrais EW, acompanhadas de falhas normais NE.
No litoral os diques de diabásio mesozoicos com falhas normais NE (Mo-
rales et al. 2015). Essas falhas indicam um evento mais antigo, de ida-
de indeterminada, de tipo transcorrente sinistral com s1 próximo de NE,
tendo domínios transtensivos com s3 próximo de WNW. Esse evento foi
referido em outras áreas, como na faixa do Lineamento Guapiara do sul de
São Paulo (Morales et al. 2011), no Domo de Lages (Machado et al. 2012,
Jacques et al. 2012) e na região serrana do Rio Grande do Sul (Nummer
et al. 2014). O evento mais novo é distensivo com s3 entre NS e NNE.
Ao longo do litoral sul, como na região de Laguna, aparecem lineamen-
tos de direção em torno de EW (N70E a N70W) que se propagam para o
interior. Localmente são observadas falhas inversas NS a NE, parecendo
representar porções transpressivas.
Também, no vale do Rio Itajaí aparecem lineamentos que foram referidos
como Lineamento do Rio Itajaí, ao qual se associam falhas normais NW
e também um compartimento rebaixado topograficamente com forma
romboédrica. Essas falhas são relacionadas com um evento transcorrente
destral EW com s1 NW, mais novo que o citado acima, ao qual se relacio-
nam segmentos transpressivos marcado por falhas inversas e transtensi-
vos com falhas normais (Morales et al. 2015).
No Domo de Lages, Roldan (2007) reconheceu dois eventos distensi-
vos: um do Mioceno com s3 NE, que formou o Lineamento do Rio Ca-
noas de direção NW, e outro do Plioceno com s3 NW gerador de falhas
normais NE.
Numa faixa EW cruzando a região de Anitápolis e Lages no sul de Santa
Catarina, Jacques (2013) e Jacques et al. (2014) observaram falhas trans-
correntes destrais e sinistrais em dois afloramentos do embasamento da
Bacia do Paraná, que foram interpretadas como indicativas de evento
transcorrente neogênico com s1 próximo de EW. Em outro afloramen-
to a cerca de 100 km a oeste, foram observadas em rochas paleozoicas e
mesozoicas falhas transcorrentes, normais e reversas, de direções em torno
de EW e NS. O conjunto foi interpretado como produto de reativação: as
EW teriam se comportado como distensivas e as NS como compressivas,
indicando deformação transpressiva associada à referida movimentação
transcorrente.

parte 1 – neogeno-quaternário do brasil 219


• Paraná
No Paraná, os primeiros estudos sistemáticos dos movimentos neotectô-
nicos no Sul do Brasil tiveram início com o estudo da área da Bacia de
Curitiba e seu embasamento com Salamuni (1998).
Na região de Curitiba, a neotectônica afetou a bacia paleogênica com fa-
lhas transcorrentes destrais NE a NNE e, secundariante, normais e trans-
correntes NW, enquanto no embasamento as falhas foram transcorrentes
NS, N20-35E sinistrais e N20-35W destrais, e também normais e trans-
correntes NE e inversas. Essas feições indicam regime transcorrente com
s1 de orientações diferentes: NNE no embasamento (Complexo Atuba) e
EW nos sedimentos da bacia (Salamuni 1998; Salamuni et al. 1999, 2003;
Chavez-Kus 2003; Chavez-Kus & Salamuni 2008). Essa variação foi atri-
buída a dois pulsos que geraram as direções preferenciais EW, NW e NE
da drenagem, e as feições do relevo da bacia e do embasamento.
Na Serra do Mar paranaense, Salamuni et al. (2000) observaram falhas
reversas/inversas NS, que interpretaram como geradas por regime com-
pressivo com s1 EW a ESE, iniciado no Neógeno. Por sua vez, Nasci-
mento et al. (2013) descreveram ali falhas que atribuíram a três eventos:
(1) transcorrente destral EW com s1 N60W, do Paleógeno-Neógeno, (2)
transcorrente EW com s1 N70E, do Neogeno, (3) transcorrente EW e s1
ENE a WNW, do Holoceno.
Um apanhado e complementação dos eventos neotectônicos do leste do
Paraná foi elaborado por Salamuni & Nascimento (2015), reconhecendo
quatro eventos de deformação desde o Neógeno: (1) transcorrente si-
nistral com s1 NE a NNE, marcado por falhas transcorrentes sinistrais
ENE e EW, admitido como tendo atuado entre o Mioceno e o Plioceno,
(2) transcorrente destral com s1 variando de NS a NNW (localmente
a NNE), movimentando falhas transcorrentes sinistrais NE e destrais
NNW, admitido como do Plioceno-Pleistoceno, (3) regime transcorrente
destral com s1 entre NW e NNW, gerando falhas transcorrentes sinistrais
NE e ENE e destrais EW, considerado como Pleistoceno, (4) regime trans-
corrente destral com s1 variando de WNW a ENE, considerado como Ho-
loceno e reconhecido por falhas transcorrentes destrais NE, ENE e EW e
sinistrais NW e WNW.
Na área do Arco de Ponta Grossa, em seção passando por parte do sul
de São Paulo e por Tibagi e Uvaia e cruzando os lineamentos magnéticos
São Jerônimo-Curiúva e Dom Alonzo, foram observadas falhas afetando
rochas do embasamento, do pacote paleozoico e mesozoico da Bacia do
Paraná, os diques de diabásio mesozoicos e também coberturas cenozoicas.

220 geologia estrutural aplicada


Essas falhas são transcorrentes destrais NS a NNE e NE, sinistrais pró-
ximas a NS, EW, NE e ENE, normais NE a ENE e NW, reversas/inversas
NW, NE, ENE e NS, em parte formando estruturas em flor negativas e
positivas, assim como algumas dobras suaves. As falhas podem ser atri-
buídas a dois eventos neotectônicos: um mais antigo com falhas transcor-
rentes destrais NNE e sinistrais EW, e falhas normais NE ou inversas NW,
formadas em regime transcorrente EW com s1 ENE, e outro, de regime
distensivo com s3 NE, mais jovem e afetando inclusive coberturas ceno-
zoicas (Morales et al. 2011).
Na área do reservatório da Usina de Salto Santiago, no Rio Iguaçu, a aná-
lise de lineamentos em imagem de radar revelou de modo proeminente
a presença das direções, na ordem decrescente de frequência, N20-30E,
N55-65W, N20-40W e N20-40E. A eles associam-se falhas transcorren-
tes destrais e sinistrais, e falhas normais, aquelas em torno da barragem
exibindo deslocamentos verticais de até cerca de 30 m detectados por
sondagens (Mioto & Hasui, 1992). Essas falhas foram atribuídas a um
evento transcorrente destral com s1 WNW e outro distensivo com s3
NNE (Magalhães 1999).

• São Paulo
Na área das bacias de São Paulo Taubaté Resende e Volta Redonda, Ric-
comini (1989) distinguiu falhas que atribuiu a três eventos: (1) transcor-
rência sinistral EW com s1 NE, do Neógeno (Mioceno?), (2) transcor-
rência destral EW e s1 NW, do Pleistoceno, (3) distensão com s3 NW a
WNW, do Holoceno. Depois, no Alto Estrutural de Queluz, que separa
as bacias paleogênicas de Taubaté e Resende, Salvador (1994) reconheceu
falhas e juntas cortando rochas do embasamento proterozoico e depósi-
tos cenozóicos, que foram atribuídas a três eventos de neotectônicos: (1)
transcorrente destral EW com s1 NW, do Pleistoceno, que gerou falhas
transcorrentes destrais NW a WNW e ENE e sinistrais NNW e NNE a
NE, afetando depósitos aluviais, coluviais e linhas de seixos, por vezes
cavalgados por blocos do embasamento carreados por falhas inversas NE
a ENE, (2) evento distensivo com s3 EW a WNW, do Holoceno, que ge-
rou grábens NS com preenchimentos de até mais de 30 m de espessura,
(3) evento compressivo, com s1 EW, do Holoceno que formou juntas de
direções ENE a NE e WNW a NW em depósitos coluviais colúvio-alu-
viais e aluviais. Levando em conta os três eventos de Riccomini(1989) e o
compressivo com s1 EW de Salvador (1994), passou-se a considerar um
modelo evolutivo regional, abordado por vários autores para outras áreas

parte 1 – neogeno-quaternário do brasil 221


(Salvador & Riccomini 1995, Mancini 1995, Mello et al. 1995, Riccomini
& Assumpção 1999, e outros).
Depois, muitos estudos locais foram realizados no Sudeste, citando-se os
seguintes.
Na região da divisa Rio de Janeiro e São Paulo, de Volta Redonda a Ba-
nanal, foram observadas falhas transcorrentes e normais, que foram atri-
buídas a um pulso neotectônico transcorrente destral EW com s1 NW, do
Pleistoceno-Holoceno e outro distensivo com s3 NW (Barros et al. 2011,
Peixoto et al. 2012).
Na região da Serra da Bocaina e nas bacias de Resende e Volta Redonda,
aparecem falhas inversas ENE e NE, decorrentes da reativação de falhas
normais do Mesozóico e do Paleogeno, exercendo forte influência na
orientação da rede de drenagem atual e na dissecação do relevo (Gontijo
et al. 1998a,b, 1999a,b). Na Bacia de Resende foram descritos cavalga-
mentos que colocaram blocos do embasamento pré-cambriano sobre
pacotes de sedimentos da Formação Resende, além de outras falhas in-
versas (Melo et al. 1983). Nessa região existem também numerosos feixes
de falhas normais NW e NS, que proporcionaram capturas na rede de
drenagem, a exemplo do trecho do Rio Paraíba do Sul na região de Barra
Mansa, e controlaram a instalação das coberturas pleistocênico-holocê-
nicas em grábens e hemigrábens (Gontijo 1999). Essas falhas foram atri-
buídas a regime transcorrente EW com s1 NW, que teria se manifestado
em dois pulsos: o primeiro com deslocamentos de falhas transcorrentes
destrais NE e ENE e falhas normais ENE e NS no Plioceno-Pleistoceno,
e o segundo movimentando falhas transcorrentes destrais EW e normais
NS do Holoceno (Gontijo 1999).
No Planalto de Campos do Jordão foram identificadas: (1) falhas trans-
correntes destrais ENE a WNW e sinistrais NNW com componente de
rejeito normal, atribuídas a regime transcorrente destral EW e s1 NW, do
Pleistoceno Superior-Holoceno, afetando linhas de seixos e expressas em
cristas e escarpas truncadas, shutter ridges, divisores pouco nítidos, cap-
turas de drenagem e controle de trechos da rede de drenagem, (2) falhas
normais NE a ENE e NS, relacionadas a regime distensivo com s3 EW a
NW, cortando stone lines e solos, e controlando capturas fluviais, vales
assimétricos com escarpas retilíneas, facetas triangulares e trapezoidais,
e anfiteatros suspensos, (3) juntas subverticais em colúvios e solos, que
foram atribuídas a regime compressivo com s1 EW a NW (Hiruma 1999,
Hiruma et al. 2001, Modenesi-Gauttieri et al. 2002).

222 geologia estrutural aplicada


Na Formação Itaquaquecetuba (porção norte da Bacia de São Paulo) fo-
ram indicadas: (1) falhas normais ENE relacionadas a regime distensivo
com s3 NNW, o mesmo formador da Bacia de São Paulo (Paleogeno), e
(2) falhas normais NNW de evento deformador do pacote sedimentar,
neotectônicas (Morales et al. 2013).
Também, na rodovia de São José dos Campos para Taubaté esses auto-
res assinalaram falhas normais NW com estrias de mergulho, geometrias
planares e lístricas, em parte compondo pequenos horstes e grábens, que
truncam o pacote paleogênico da Bacia de Taubaté, coberturas mais no-
vas, perfis de alteração e crosta limonítica. Tais falhas constituem faixas
NW reconhecidas por Souza (2008), que cruzam a região, incluindo essa
bacia, e são marcadas por serem intensamente falhadas e separadas por
trechos indeformados, e se projetam para a Bacia de Santos, influindo
em sua estruturação. Na Estrada da Agronomia, a sul de Taubaté, falhas
normais NNE a NS formam conjunto de horstes e grábens alternados e
prisma rotacionado em bloco abatido. De tais falhas, as NW podem ser
relacionadas a evento transcorrente destral com s1 NW, enquanto aque-
las em torno de NS podem representar evento distensivo com s3 EW.
Fernandes & Mello (2004) apontaram para a região de Campinas três
eventos neotectônicos, sendo: (1) transcorrente com s1 EW, mais anti-
go, representado por falhas transcorrentes sinistrais N45-65W e destrais
N45-65E, e falhas normais ENE EW e WNW, sin-sedimentares da For-
mação Rio Claro, que atribuíram ao Neógeno, (2) transcorrente destral
EW com s1 NW, mais importante, representado por falhas destrais EW a
N70W e sinistrais NS a N15W e falhas normais NW, (3) distensivo com
s3 NE, mais novo, gerador de falhas normais
No nordeste do estado, na região da Alta Mogiana, aparecem falhas
transcorrentes EW, que controlam a orientação das escarpas da cuesta
da borda da Bacia do Paraná, e NS, responsáveis pelo rearranjo das ba-
cias hidrográficas dos rios Pardo e Sapucaí. Tais falhas são manifestações
de evento neotectônico transcorrente EW destral com s1 NW (Janoni &
Morales 2012).
No médio vale do Rio Mogi-Guaçu aparecem, sob a cobertura de depósi-
tos aluvionares atuais, sedimentos cenozóicos depositados em ambiente
lacustre ou de planície de inundação com aporte de fluxos clásticos e le-
ques aluviais, em que estão presentes falhas normais inversas e transcor-
rentes sinistrais, havendo predomínio de falhas normais NE, NS e NW.
Tais falhas foram relacionadas a evento transcorrente destral EW com

parte 1 – neogeno-quaternário do brasil 223


s1 NW, que controlou a deposição dos sedimentos cenozoicos em bacia
romboédrica formada sobretudo pelas falhas NW, bem como a deposição
dos aluviões (Morales et al. 2008). Ainda nessa região, ao longo da Bacia
do Rio Mogi-Guaçu, foi observado o controle tectônico da drenagem, do
relevo e da sedimentação quaternária exercido por falhas normais (pre-
dominantes), inversas e transcorrentes sinistrais de direções NE, NS e
NW, relacionadas a regime transcorrente EW destral com s1 NW (Silva
1997, Pires Neto et al. 2006).
Em Águas da Prata, falhas normais NW quaternárias foram atribuídas a
tectônica transcorrente EW com s1 NW (Riccomini & Assumpção 1999).
Analisando algumas áreas ao longo da Zona de Cisalhamento de Jun-
diuvira e adjacências, desde a borda da Bacia do Paraná até a divisa São
Paulo-Rio de Janeiro, Silva (2011) discriminou seis eventos de reativações
fanerozoicas afetando o embasamento pré-cambriano, dos quais os três
últimos foram: (1) distensão com s3 NW, do Eoceno-Oligoceno ou Mio-
ceno, (2) transcorrência destral com s1 NW, do Pleistoceno Superior a
Holoceno, e (3) um com formação de juntas em sedimentos mais novos
produzidas por regime compressivo passando para distensivo, com s1
mudando de NE para vertical.
Na região entre Pilar do Sul e Votorantim, o embasamento da borda da
Bacia do Paraná apresenta falhas que foram atribuídas a cinco eventos,
dos quais quatro seriam neotectônicos, a saber: (1) transcorrente sinistral
com s1 NE, atribuído ao Neógeno e representado por falhas transcorren-
tes sinistrais WNW e ENE e destrais NS e NNW a NW, (2) transcorrente
destral com s1 NW, do Pleistoceno a início do Holoceno, marcado por
falhas transcorrentes destrais ENE, NE e EW, conjugadas sinistrais NNE
e destrais WNW, e reversas/inversas NS, (3) distensivo com s3 WNW a
ENE, do Holoceno, que gerou falhas normais NS e NNE, (4) compressivo
com s1 EW a WNW, que formou falhas transcorrentes destrais NNE a
NNW e NE e inversas em torno de NS (Silva 1998). Nessa mesma região,
foram analisadas falhas presentes na mina de calcário de Salto, no Mu-
nicípio de Salto de Pirapora. Falhas transcorrentes destrais e sinistrais, e
falhas inversas/reversas, foram relacionadas a um evento transcorrente
destral com s1 NW. Algumas falhas normais ali presentes indicaram re-
gime distensivo com s3 NNW, não datado e possivelmente mais antigo
(Magalhães 1999).
A área de Araçoiaba da Serra, logo a oeste de Sorocaba, é caracterizada
por três feixes de falhas transcorrentes EW. A interação dos feixes EW

224 geologia estrutural aplicada


promove o aparecimento de numerosos conjuntos de falhas NW que
configuram estruturas transtensivas romboédricas. Esse conjunto de des-
continuidades é seccionado por um feixe de falhas NE desenvolvido tar-
diamente (Borges et al. 2003). Tais falhas foram atribuídas a regime trans-
corrente destral EW com s1 NW que atuou em dois pulsos quaternários.
Na região de Jundiaí, a oeste da capital paulista, foram estudadas falhas
normais NW, falhas inversas NE e NNE e falhas transcorrentes destrais
EW e NW, impondo a conformação do traçado geral da rede de drena-
gem, com os rios principais ocupando a porção axial noroeste de uma ba-
cia de transtensão que recebeu sedimentos cenozoicos, e a formação das
escarpas das serras adjacentes. O regime neotectônico foi transcorrente
destral EW com s1 NW (Neves 1999, Neves et al. 2003).
Nas serras do Itaqueri, São Pedro, São Carlos e Cuscuzeiro, a oeste e su-
doeste de Rio Claro, a Formação Itaqueri, considerada como do Paleó-
geno, é cortada por falhas transcorrentes destrais NW, sinistrais NNW e
sinistrais com componente de rejeito normal NNE, interpretadas como
devidas a deformação neotectônica quaternária em regime transcorrente
destral EW a WNW com s1 NW (Riccomini 1995, 1997a; Riccomini &
Assumpção 1999).
Nessa mesma região e partes da cuesta basáltica e da Depressão Periféri-
ca, entre Rio Claro e Piracicaba, foram observadas falhas transcorrentes
EW e NE e NS, falhas normais NW mais jovens e algumas falhas inversas,
que foram atribuídas também a regime transcorrente destral EW com s1
NW (Facincani 2000, Facincani et al. 2003).
Na borda leste da Bacia do Paraná, entre o sul de Rio Claro e o Rio Tietê,
aparecem falhas NW que afetaram rochas paleozoicas e mesozoicas, da
Formação Rio Claro e coberturas superficiais colúvio-eluviais e aluviais,
tendo promovido soerguimentos (altos estruturais de Pitanga, Artemis,
Pau d’Alho e Jibóia) e abatimentos de blocos, bem como falhamentos di-
recionais NE e EW. Essas estruturas foram atribuídas a (1) falhas normais
NW, que afetaram a Formação Tatuí, (2) falhas NW, pré- a sin-magmatis-
mo cretáceo, preenchidas por diques de diabásio, (3) falhas normais NE,
que controlaram a sedimentação da Formação Rio Claro, (4) falhas trans-
correntes, normais e inversas, que deformaram as coberturas sedimenta-
res superficiais, controlaram anomalias de drenagem e têm relação com
soerguimentos e basculamentos de blocos dos altos estruturais (Sousa
2002). Apenas este último evento seria neotectônico.
As falhas desse último evento foram detalhadas no Alto Estrutural de
Pitanga. Numa primeira abordagem, foi reconhecido que as falhas NE

parte 1 – neogeno-quaternário do brasil 225


normais e reversas/inversas seccionando sedimentos cenozóicos de ter-
raços mais jovens que a Formação Rio Claro, teriam se formado em dois
pulsos de deformação: distensão com s3 N50W no Holoceno, seguida de
compressão com s1 NW, também do Holoceno e ainda atuante (Riccomini
1992a, 1995; Riccomini & Assumpção 1999). Essas deformações poderiam
ter sido induzidas por regime transcorrente regional que teria tido uma pri-
meira movimentação sinistral, seguida de outra, destral. Por sua vez, Sousa
(1997) e Sousa & Morales (1999) reconheceram ali três eventos: um mais
antigo, representado por falhas normais indicando regime distensivo com
s3 em torno de EW, outro com falhas normais NW, algumas NS e NNE
sindeposicionais à Formação Rio Claro, produzidas por regime distensi-
vo, e o ultimo, neotectônico, com falhas reversas/inversas e transcorrentes
que deformaram a Formação Rio Claro, geradas em regime transcorrente
destral. Nessa mesma região, no distrito de Recreio a sul de Rio Claro (SP),
Etchebehere et al. (2015) observaram falhas normais NNW a NS e algumas
NE formando grábens e horstes em rochas paleozoicas e mesozoicas, cros-
ta laterítica, sedimentos jovens e cobertura pedológica. Essas falhas foram
consideradas como de evento distensivo com s3 ENE.
Na região de São Pedro, aparecem falhas normais NS, NW e EW geradas
em regime distensivo com s3 NW, truncadas por falhas de rejeito dire-
cional destrais NW a EW e NS, e sinistrais NNW a ENE, que indicam
regime transcorrente destral EW com s1 NW, considerado neotectônico
(Hasui et al. 1995).
Entre Cerqueira César e Avaré, tem-se falhas transcorrentes destrais
NNW e sinistrais NE cortando sedimentos quaternários, que foram atri-
buídas a regime transcorrente sinistral EW com s1 NNE, e considerado
como extensivo para a região de Marília (Riccomini 1995, 1997b; Ricco-
mini & Assumpção 1999). Por outro lado, na região de Marília, Maga-
lhães (1999) observou falhas transcorrentes destrais e sinistrais, e poucas
normais e inversas/reversas na Formação Marília (Cretáceo Superior).
Elas indicam regime transcorrente destral com s1 NS. As falhas inversas/
reversas podem ser de transpressão desse regime ou, alternativamente,
representar um regime compressivo semelhante ao que atuou na Barra-
gem Canoas 1 (ver adiante).
Entre Echaporã (SP) e Cornélio Procópio (PR), aparecem falhas transcor-
rentes destrais e sinistrais, e poucas normais e inversas/ reversas, afetando
basaltos da Formação Serra Geral e pacotes sotopostos (Formações Botu-
catu/Piramboia e Grupo Passa Dois). Essas falhas indicam, como na região
de Marília, regime transcorrente destral com s1 NS (Magalhães, 1999).

226 geologia estrutural aplicada


No talude da mina de carbonatito da chaminé alcalina de Jacupiranga
(Cretáceo), aparecem falhas transcorrentes destrais e sinistrais, e nor-
mais, de direções variadas (NS, EW, NE e NW) e mergulhos baixos a ver-
ticais. Elas indicam regime transcorrente destral EW com s1 N8W (Hasui
et al. 1992a).
No sul do Estado de São Paulo, ao longo da faixa de anomalias magnéticas
e diques de diabásio do Lineamento Guapiara, foi observado um conjunto
de falhas, principalmente transcorrentes sinistrais ENE a EW e destrais
NS a NNE, que afetam os diques básicos mesozoicos e indicam regime
compressivo com s1 NE, um evento não datado e que pode marcar o início
da Neotectônica. Outro conjunto tem falhas transcorrentes destrais EW e
sinistrais N10W, e falhas normais também NW com arranjos em flor ne-
gativa, deformando coberturas sedimentares superficiais – esse conjunto
mais jovem foi gerado por evento transcorrente neotectônico EW destral
com s1 NW (Morales et al. 2014).
Na região de Cananeia, no Vale do Rio Ribeira de Iguape, Melo (1990) e
Melo et al (1990) verificaram reativações ao longo de falhas normais e re-
versas/inversas NE e NW a WNW devidas inicialmente a compressão
com s1 NE, durante o Pleistoceno, e posteriormente a distensão com s3
WNW, no HoIoceno. Riccomini (1992b) sugeriu a possibilidade de es-
tas deformações serem interpretadas como progressivas a partir de regime
transcorrente sinistral EW. Ainda nessa região do baixo vale do Rio Ri-
beira de Iguape, Riccomini (1992b) reconheceu esses dois eventos com
acréscimo de um terceiro anterior, do Pleistoceno Inferior e pré-Forma-
ção Cananeia, de tipo distensivo com s3 NW.
Na área da Barragem de Porto Primavera, no Rio Paraná (Pontal do Pa-
ranapanema), foram observadas falhas transcorrentes sinistrais, destrais,
normais e reversas de direções variadas em basaltos da Formação Serra
Geral (Cretáceo), em geral resultantes de discretos movimentos ao lon-
go de diaclases. As falhas indicam evento transcorrente destral com s1
WNW (Magalhães et al. 1992, Magalhães 1999). As falhas normais pa-
recem indicar um regime distensivo mais antigo, com s3 ENE. Nessa
mesma área, esses autores observaram que arenitos da Formação Caiuá
(Cretáceo) exibem falhas transcorrentes destrais e sinistrais de direções
em torno de EW, indicativas do mesmo tipo de evento, apenas com s1 na
direção N80E.
Na área da Barragem Canoas 1, no Rio Paranapanema, a sul de Assis,
aparece a espessa Zona de Falha de Canoas, de tipo inverso, de direção
WNW e mergulho de 20° para NNE, em basaltos da Formação Serra Geral.

parte 1 – neogeno-quaternário do brasil 227


Nessa zona de falha aparecem falhas menores, de direções EW, WNW e
NNW, distribuídas em um conjunto concordante com a feição geral e ou-
tro de direção geral semelhante, mas de mergulho em sentido oposto. Elas
indicam regime compressivo com s1 ENE/suborizontal (Magalhães 1999).
Ali, também, pequenas falhas reversas de altos mergulhos aparecem asso-
ciadas, interpretadas como devidas a reativação de diaclases, relacionadas
com a compressão referida. Pequenas e pouco frequentes falhas normais
também são observadas e indicam um evento distensivo possivelmente
mais antigo, com s3 NE e s2 NW.
Como se constata, no Estado de São Paulo e regiões adjacentes três mo-
delos principais de deformação neotectônica foram apresentados:
1) A investigação da natureza e distribuição de sedimentos, morfoes-
truturas, morfotectônica e de falhas no terreno na área do Estado de
São Paulo e adjacências acima apresentada reconheceu um regime
transcorrente destral EW com s1 em torno de NW, que foi apresen-
tado acima. Ele teria se manifestado em dois pulsos: o primeiro com
deslocamentos de falhas transcorrentes destrais NE e ENE e falhas nor-
mais ENE e NS no Plioceno-Pleistoceno, e o segundo movimentando
falhas transcorrentes destrais EW e normais NS no Holoceno (Melo
et al. 1983; Gontijo et al. 1998a,b, 1999a,b; Gontijo 1999). Numerosos
estudos foram realizados em áreas dessa região apontando esse regime
neotectônico.
2) Na área das bacias de São Paulo Taubaté Resende e Volta Redonda, fo-
ram distinguidos quatro eventos: (1) transcorrente sinistral EW com
s1 NE, do Neógeno (Mioceno?), (2) transcorrência destral EW e s1
NW, do Pleistoceno, (3) distensivo com s3 NW a WNW, do Holoce-
no, (4) compressivo com s1 EW, do Holoceno. (Salvador & Riccomini
1995). Estudos de várias áreas endossaram esse modelo.
Ele foi proposto para explicar a origem e compartimentação dos riftes
de São Paulo, Taubaté, Resende e Volta Redonda separados por altos
do embasamento, como produtos de desmembramento no Neogeono
de uma extensa bacia gerada no Paleogeno por rifteamento com dis-
tensão NNW. Cogné et al. (2011) consideraram esse evento como do
Paleogeno e que no Neogeno incidiu o evento de transcorrência destral
com s1 EW. Para o Gráben da Guanabara, Ferrari (2001) considerou
que esse evento originou a Bacia de Itaboraí no Campaniano-Eoceno
Inferior e que, em seguida, sobreveio um evento de distensão NW
formador da Bacia de Macacu no Eoceno Inferior-Oligoceno. Nes-
sa questão a maioria dos autores tem aceito que essas bacias são riftes

228 geologia estrutural aplicada


formados por um evento de distensão, seja relacionado a soerguimen-
to regional (Almeida 1976), subsidência da Bacia de Santos (Asmus &
Ferrari 1978, Zalán & Oliveira 2005) ou ambos (Hasui et al. 1978a).
3) Na região da divisa Rio de Janeiro e São Paulo, de Volta Redonda a Ba-
nanal, e também na Bacia de Taubaté (estrada da Agronomia a sul de
Taubaté) foram observadas falhas transcorrentes e normais, que foram
atribuídas a um evento neotectônico transcorrente destral EW com s1
NW, do Pleistoceno-Holoceno e outro distensivo com s3 NW a EW
mais novo (Barros et al. 2011, Peixoto et al. 2012, Morales et al. 2013)).
Na área do Lineamento de Guapiara, o distensivo tem s3 de direção
variável NW, EW e ENE (Morales et al. 2014).
Diversas outras interpretações de eventos neotectônicos foram apre-
sentadas localmente: (1) distensivo com s3 NW, passando a transcor-
rente destral com s1 NW, seguido de compressivo passando para dis-
tensivo, com s1 mudando de NE para vertical (Silva 2011); (2) trans-
corrente sinistral com s1 NE, passando a transcorrente destral com
s1 NW, seguido de distensivo com s3 WNW a ENE, do Holoceno, e,
finalmente, compressivo com s1 EW a WNW (Silva 1998) – na mesma
área, distensivo com s3 NNW, seguido de transcorrente destral com s1
NW (Magalhães 1999); (3) transcorrente sinistral EW com s1 NNE
(Riccomini 1995, 1997b; Riccomini & Assumpção 1999) – na mesma
área, transcorrente destral com s1 NS (Magalhães 1999); (4) compres-
sivo com s1 NE, seguido de distensivo com s3 WNW (Melo 1990, Melo
et al 1990); (5) compressivo com s1 ENE/suborizontal (Magalhães, 1999).

• Rio de Janeiro
No Rio de Janeiro, a Formação Barreiras acha-se segmentada por falhas
NW e WNW devidas a um evento de transcorrência destral EW com
s1 NW considerado do Pleistoceno-Holoceno e falhas NE impostas por
evento distensivo holocênico com s3 NW (Breda & Mello 2013).
Na região da planície costeira do Rio Paraíba do Sul, na porção continen-
tal adjacente à Bacia de Campos, foi interpretada estruturação em rom-
boedros delimitados por falhas normais NW associadas a evento de trans-
corrência destral EW com s1 NW, do Pleistoceno-Holoceno, e falhas NE
e ENE geradas por evento de distensão com s3 NW, do Holoceno, que
reativou falhas do Eoceno-Oligoceno (Tomaz et al. 2004). Estas últimas
formam um sistema de grábens e horstes nos depósitos cenozoicos e no
embasamento, sendo relacionadas com um lineamento NE que avança da

parte 1 – neogeno-quaternário do brasil 229


região de Maricá até a planície costeira do Rio Paraíba do Sul e a margem
atlântica.
Na região de Macaé-Ponta do Retiro, foram reconhecidos os três eventos
referidos para o vale do Rio Paraíba do Sul: (1) falhas do Pleistoceno Su-
perior-Holoceno afetandopaleo-solos, colúvios e linhas de seixos, atribuí-
das a regime transcorrente destral EW com s1 NW; (2) falhas formando
grábens, de regime distensivo com s3 EW a WNW; (3) falhas normais EW
e inversas NS afetando colúvios e alúvios, geradas de regime compressivo
com s1 EW (Silva & Ferrari 1997).
Na região da Lagoa de Araruama aparecem falhas transcorrentes ENE e
normais NW, interpretadas em termos de quatro eventos, dos quais so-
mente o último seria neotectônico, do Holoceno, de tipo distensivo com s3
ENE e responsável pelas falhas normais (Souza 2011).
Na área do Gráben da Guanabara existem falhas formadoras e deforma-
doras da Bacia de Macacu (Ferrari 2001). São elas: (1) falhas normais
NE e ENE, devidas a evento distensivo com s3 NW, formadoras da bacia
como hemigráben alongado na direção ENE e com borda ativa no lado
sudeste e sindeposicionais da Formação Macacu (Eoceno-Oligoceno); (2)
falhas normais NW e NNW, de evento distensivo com s3 NE, provavel-
mente do Pleistoceno, que deformou sedimentos da bacia; (3) falhas nor-
mais NS a NNE de evento distensivo com s3 EW a WNW, possivelmente
holocênico, afetando sedimentos lateritizados colúvios e linhas de seixos.
Esses dois últimos eventos foram classificados como neotectônicos.
No Parque Nacional da Serra dos Órgãos, entre as cidades de Petrópolis
e Teresópolis, foram descritas falhas e juntas de diversas orientações do
embasamento Neoproterozoico-Cambriano e em diques de diabásio. Elas
teriam sido formadas em diversos eventos tectônicos dos quais seriam
neotectônicos um transcorrente destral EW com s1 NW, do Pleistoceno-
-Holoceno, e outro compressivo com s1 EW, do Holoceno (Hartwig &
Riccomini 2009, 2010), os quais foram assumidos como correlatos aos
descritos regionalmente por Riccomini (1989).
Na Bacia de Volta Redonda, além das falhas formadoras da bacia, foram
reconhecidas: (1) falhas normais e falhas transcorrentes destrais e sinis-
trais com componentes oblíquas de rejeito, atribuídas a regime transcor-
rente destral EW com s1 NW, do Pleistoceno, que cortam os depósitos
paleogênicos e a cobertura neogênica (Formação Fonseca), não afetando
os depósitos quaternários coluviais e alúvio-coluviais; (2) falhas normais
NNE, NE e ENE, que afetam desde os depósitos paleogênicos até os sedi-
mentos quaternários e foram geradas por regime distensivo com s3 NW

230 geologia estrutural aplicada


do Holoceno (Sanson 2006, Negrão et al. 2008). Ainda foi reconhecido
um evento anterior a esses dois e também deformador da bacia, de tipo
transcorrente sinistral EW, que foi atribuído ao Mioceno.
Na Bacia de Resende, foram reconhecidos três conjuntos principais de
falhas distribuídos ao longo da bacia de Resende (Albuquerque 2004): (1)
falhas de direção ENE controlando os limites de ocorrência dos sedimen-
tos paleogênicos, principalmente na borda norte; (2) falhas de direção NE,
que exerceram um forte controle sobre feições topográficas importantes
no interior da bacia; (3) falhas de direção NW, que promoveram o escalo-
namento da borda norte da bacia, produzindo uma importante segmenta-
ção transversal ao eixo maior da bacia. Tais falhas foram atribuídas a três
eventos tectônicos do Cenozóico: (1) transcorrência sinistral EW com s1
NE que afetou os depósitos das formações Quatis e Resende (Eoceno-Oli-
goceno), mas não afetou os depósitos da Formação Floriano (Mioceno a
Plioceno?), sendo sua idade, por este motivo, atribuída ao intervalo entre
o Oligoceno e o Mioceno, (2) transcorrência destral EW com s1 NW, que
afeta os depósitos terciários e pleistocênicos, sendo datada do limite Pleis-
toceno-Holoceno, e (3) distensão com s3 NW, datada como holocênica a
partir de relações estratigráficas e estruturais observadas em campo e por
correlação com o modelo proposto por Riccomini (1989).
Resumindo, no Estado do Rio de Janeiro os eventos de transcorrência
destral EW com s1 NW, do Pleistoceno-Holoceno, e outro distensivo com
s3 NW, do Holoceno, estão representados em todas as áreas estudadas. O
primeiro foi também atribuído ao Pleistoceno (Negrão et al. 2015a,b) e ao
Plioceno-Pleistoceno (Nascimento et al. 2015). Contudo, outras interpre-
tações foram também apresentadas: (1) nas bacias de Volta Redonda e de
Resende foi indicado o evento transcorrente sinistral presumido como do
Neogeno no Espírito Santo (Marin & Bricalli 2015, e outros) e aqui, como
do Oligoceno (Negrão et al. 2015a,b); (2) na região de Macaé-Ponta do
Retiro foi deduzido o evento mais novo, de tipo compressivo com s1 EW;
(3) na Bacia de Macacu foram descritos dois eventos neotectônicos dis-
tensivos: um do Pleistoceno com s3 NE e outro mais novo, do Holoceno,
com s3 EW a WNW.

• Espírito Santo
Lineamentos foram traçados para todo o Estado do Espírito Santo, re-
conhecendo que nos tabuleiros costeiros e na planície costeira os sedi-
mentos cenozoicos (Formação Barreiras e depósitos quaternários) apre-
sentam direções EW, NE e NW, e que no embasamento pré-cambriano

parte 1 – neogeno-quaternário do brasil 231


exposto nas serras e colinas do interior as direções mais expressivas são
NE e NS (Bricalli 2011, Bricalli & Mello 2013). Essas feições foram re-
lacionadas com três eventos de deformação reconhecidos no Espírito
Santo: (1) transcorrência sinistral EW admitida como neogênica, que
formou falhas normais NE, falhas transcorrentes destrais NNE e sinis-
trais EW a ENE no embasamento alterado; (2) transcorrência destral EW
pleistocênica a holocênica, que gerou falhas normais NW, falhas trans-
correntes destrais NW a EW e sinistrais NNE a NNW; (3) distensão NW
holocênica, responsável por falhas normais NE a ENE.
Na área da Faixa Colatina (Novais et al. 2004), a Formação Barreiras e
sua cobertura areno-argilosa mais nova apresentam falhas normais com
componente de rejeito destral NW, WNW e ENE, e falhas normais NE
que indicam evento de deformação em regime transcorrente destral EW
com s1 NW, do Pleistoceno-Holoceno, e falhas normais NE a ENE pos-
teriores, produtos de deformação em regime distensivo com s3 NW, do
Holoceno (Mello et al. 2005a,b; Hatushika et al. 2007). O evento mais
antigo reflete-se na orientação dos lagos e o mais novo no represamento
das águas e alinhamento das desembocaduras.
A norte do rio Doce e a leste da Faixa de Colatina, entre Linhares e Nova
Venécia, a Formação Barreiras e a cobertura sedimentar quaternária es-
tão afetadas por falhas normais NW e NE e falhas transcorrentes destrais
NW e EW e sinistrais NNE a NNW, que foram atribuídas a eventos de
transcorrência destral EW com s1 NW, do Pleistoceno-Holoceno, e fa-
lhas normais NE relacionadas com evento de distensão com s3 NW, do
Holoceno (Miranda et al. 2008). Nos terrenos correspondentes às rochas
do embasamento, os lineamentos NE e NW são predominantes, enquan-
to lineamentos EW ocorrem relativamente com menor freqüência.
Nos tabuleiros costeiros sustentados pela Formação Barreiras entre Cam-
pos dos Goytacazes (RJ) e Vitória (ES), entre os rios Doce (ES) e Paraíba
do Sul (RJ), foram deduzidos dois eventos tectônicos: um de transcor-
rência destral EW, do Pleistoceno-Holoceno, marcado por falhas normais
NW a WNW, falhas transcorrentes destrais NW a WNW, NE a ENE e
EW, e falhas transcorrentes sinistrais NE a NNE, NW a NNW, e outro de
distensão com s3 NW, do Holoceno, reconhecido por falhas normais NE
a ENE EW e WNW (Ribeiro & Mello 2011).
Na porção emersa das bacias de Campos e do Espírito Santo, ao longo da
região costeira do Espírito Santo e norte do Rio de Janeiro, observam-se
deformações neotectônicas nos tabuleiros da Formação Barreiras e cober-
turas mais novas, representadas por falhas normais NW, transcorrentes

232 geologia estrutural aplicada


destrais WNW a ENE e sinistrais NNW, de regime transcorrente destral
EW com s1 NW, do Pleistoceno-Holoceno, e falhas normais NE de regi-
me distensivo com s3 NW, do Holoceno (Mello et al. 2012). No embasa-
mento adjacente encontraram adicionalmente falhas normais NE e falhas
transcorrentes destrais NE a NNE e sinistrais NE a WNW, relacionadas a
evento mais antigo, possivelmente do Neogeno, de transcorrência sinis-
tral EW com s1 NE. Este evento também foi considerado neotectônico.
Os dados apresentados mostram que, no Espírito Santo, em diferentes
áreas manifestaram-se dois eventos neotectônicos: (1) um transcorrente,
do Pleistoceno-Holoceno, destral EW com s1 NW, e (2) um distensivo com
s3 NW do Holoceno. O primeiro evento foi também atribuído ao Plio-
ceno-Pleistoceno (Nascimento et al. 2015). No embasamento decomposto
identificou-se um evento mais antigo, possivelmente do Neógeno, também
considerado neotectônico, de transcorrência sinistral EW com s1 NE.
Em Nova Venécia, Gallardo et al. (1987) observaram falhas transcorren-
tes e inversas e fraturas geradas por sismos afetando coberturas de encos-
tas e calhas fluviais, apontando origem por regime compressivo atual com
s1 ENE.

• Minas Gerais
Em diversas áreas do estado, foram observadas falhas que foram clas-
sificadas como neotectônicas, de tipos transcorrente, inversa/ reversa e
normal, atribuídas ao Mioceno-Plioceno (Saadi 1991). Essas áreas são as
de Datas, Serro, Arcos, Rio das Mortes, Prados, São Sebastião da Vitória,
Maciço de Itatiaia e São Sebastião do Sapucaí. Os sistemas de eixos de-
duzidos para essas áreas mostram eixos s1 de direções entre N30-80W e
mergulhos que variam de cerca de 10-25NE a 10-50SE, e apontam um
evento transcorrente destral EW com s1 em torno de NW (Saadi et al.
1991, 1998), o qual passou a ser considerado como de atuação regional.
Na região dos lagos do médio vale do Rio Doce a sul de Ipatinga, foram
reconhecidas falhas e juntas atribuídas a quatro eventos de deformação
do mais antigo para o mais jovem (Mello 1997, Mello et al. 2003): (1)
transcorrente sinistral EW com s1 NE, possivelmente neogênico, que pa-
rece ter promovido a fragmentação de uma superfície de aplainamento
niveladora dos depósitos fluviais mais antigos da região em blocos esca-
lonados de orientação NE e originando a depressão topográfica do médio
vale do Rio Doce; (2) transcorrente destral EW com s1 NW do Pleistoce-
no-Holoceno, que formou falhas destrais NE, ENE e WNW com compo-
nente de rejeito normal, e falhas normais NW e NE com componente de

parte 1 – neogeno-quaternário do brasil 233


rejeito destral, que respondem pela segmentação de blocos topográficos
orientados segundo NW e EW; (3) distensivo com s3 NW no Holoceno,
representado por falhas normais NE a ENE, que promoveram migrações
fluviais abruptas relacionadas com a origem dos lagos; (4) compressivo
com s1 EW ainda vigente. Os eventos (2) e (3) foram reconhecidos por
Mello et al. (1999, 2003) como os que atuaram na área, enquanto os qua-
tro seriam de âmbito regional.
Na Bacia de Fonseca, sobre a Formação Fonseca (Paleogeno), aparece
a Formação Chapada de Canga, atribuída ao Mioceno. A primeira, na
porção sul da bacia, foi deformada por falhas normais NNE a NE mer-
gulhando para NW, que indicam regime distensivo com s3 NW; outras
falhas normais NE e NW a WNW no norte da bacia afetam a segunda
unidade e são devidas a regime distensivo com s3 NE (Sant´Ana et al.
1997). Não se tem a relação dos dois eventos.
Na região de São João del Rei, Saadi (1990) e Saadi & Valadão (1990)
reconheceram a atuação de regime transcorrente destral EW com s1 NW
nas área das bacias cenozoicas que ali descreveram.
Na depressão topográfica dos rios Pomba e Muriaé, entre as cidades de
Leopoldina e Muriaé (sudeste de Minas Gerais), aparecem sedimentos
atribuídos ao Mioceno-Plioceno (Antonioli et al. 2005). Neles foram des-
critos três eventos neotectônicos: (1) o mais antigo, transcorrente sinistral
EW com s1 NE, formou falhas transcorrentes sinistrais ENE NE e WNW
e destrais NE e NNE; (2) o segundo transcorrente destral EW, com s1 NW,
relacionado a falhas destrais NW a WNW normais NW e sinistrais NNW
a NNE; (3) o mais novo, distensivo com s3 EW a NW, representado por
falhas normais NS a NE (Baiense et al. 2010). O primeiro evento afetou
apenas o embasamento alterado, enquanto os dois últimos são reconheci-
dos no embasamento alterado e na cobertura sedimentar neogênica.
Na região do vale do Rio Paraíba do Sul, entre Juiz de Fora (MG) e Paty
do Alferes (RJ), Silva & Mello (2011) observaram falhas diversas, inter-
pretadas como devidas a três eventos neotectônicos: (1) transcorrente
sinistral EW com s1 NE, atribuído ao Mioceno (Riccomini et al. 2004)
ou Neógeno (Mello 1997, Sarges 2002), reconhecido no embasamento e
representado por falhas normais diversas com ou sem componentes de
rejeito destral ou sinistral, 2) transcorrente destral EW com s1 NW, do
Pleistoceno (Ferrari 2001) ou Pleistoceno tardio a Holoceno inicial (Mel-
lo 1997, Sarges 2002), que afetou a cobertura cenozoica e é representado
por falhas normais diversas com ou sem componentes de rejeito destral
ou sinistral; 3) distensivo com s3 NW, do Holoceno, observado no emba-
samento e nos depósitos holocênicos.

234 geologia estrutural aplicada


No sul de Minas Gerais, Costa et al. (2000) observaram falhas transcor-
rentes de regime transcorrente sinistral EW com s1 NE formador de ba-
cias paleogênicas da região de São João del Rei e outras de regime trans-
corrente neotectônico destral EW com s1 NW.
Falhas também foram analisadas na região de Pouso Alegre e interpreta-
das como desse último regime tectônico (Ferreira 2001).
Na região de Aiuruoca do sul do estado foram observadas falhas trans-
correntes destrais EW e NS, falhas normais NW e inversas NE, e dobras
abertas em folhelhos paleogênicos. Essas estruturas foram atribuídas a
regime transcorrente destral EW com s1 NW afetando o embasamento,
a Bacia de Aiuruoca (Paleogeno) e sedimentos até pleistocênicos, bem
como promovendo soerguimento da área, inversão de relevo e da bacia,
e rearranjos da rede de drenagem. As falhas inversas indicaram compres-
são com s1 NW e as normais distensão com s3 NE, compatíveis com esse
regime transcorrente (Santos 1999, Santos et al. 2006).
Na região de Areado, no sudoeste do estado, foram observados sedimen-
tos cenozóicos (cascalho basal argilas areias e crosta laterítica) na Zona
de Falha de Areado (Neoproterozoico a Eopaleozoico) afetados por fa-
lhas de empurrão NE e normais NW, indicativas de deformação transcor-
rente destral EW com s1 NW, e também falhas normais NE apontando
deformação distensiva com s3 NW (Morales et al. 1998, 2002). Essas de-
formações representam dois eventos neotectônicos.
Estendendo essa área para o município de Cabo Verde, Morales et al.
(1999) reconheceram falhas que foram classificadas como normais, de
empurrão e transcorrentes em conjuntos com distribuição geográfica
distintas. Elas foram tratadas separadamente: (1) falhas inversas em tor-
no de N20E relacionadas com compressão tendo s1 em torno de WNW;
(2) falhas inversas N20-40E, indicando compressão com s1 em torno de
WNW a NW; (3) falhas normais que apontam distensão com s3 NNE;
(4) falhas normais NE impondo basculamentos de blocos tanto para NW
como para SE, relacionadas com distensão tendo s3 NW; (5) falhas trans-
correntes que apontam regime transcorrente destral com s1 WNW. To-
das essas falhas vinculam-se a reativações da zona de falha Areado e são
interpretadas como devidas aos mesmos dois eventos referidos acima:
um transcorrente destral EW com s1 WNW a NW (conjuntos 1, 2, 4 e 5)
e outro distensivo com s3 NW (conjunto 3).
Entre Cássia (MG) e Rifaina (SP), na região da divisa Minas Gerais-São
Paulo, Cortes et al. (2015) observaram falhas normais NE e NW e falha
transcorrente destral EW cortando os sedimentos cenozóicos de leques

parte 1 – neogeno-quaternário do brasil 235


aluviais, fluviais e lacustres associados à Zona de Falha de Cássia (Prote-
rozoico). As falhas normais NW e a transcorrente seriam devidas a even-
to neotectônico transcorrente EW com s1 NW.
No maciço alcalino de Poços de Caldas foram identificadas zonas de fa-
lha e falhas transcorrentes destrais e sinistrais, de direções NW, NNW
e NNE, algumas normais EW e NW, inversas/reversas NS, EW e NW.
As falhas foram atribuídas a regime transcorrente destral EW com s1
N30W (Etchebehere et al. 1992, Magalhães 1999).
Resumindo, no Estado de Minas Gerais foram reconhecidas falhas em
diversas áreas, atribuídas a um evento neotectônico transcorrente destral
em torno de EW com s1 NW. Na região de Areado e também no médio
vale do Rio Doce, foi apontado um evento mais novo, distensivo com
s3 NW. Entre Leopoldina e Muriaé, e também entre Juiz de Fora e Paty do
Alferes, foram descritos esses dois eventos com acréscimo de um mais an-
tigo, transcorrente sinistral EW com s1 NE, admitido como do Mioceno e
que afetou apenas o embasamento alterado. Na Bacia de Fonseca foram
reconhecidos dois eventos distensivos cujas relações e idades não foram es-
tabelecidas: um na porção sul da bacia com s3 NW, e outro na porção norte
com s3 NE.

• Região Nordeste
Na região de Icapuí do extremo nordeste do Ceará, foram reconhecidas
na Formação Barreiras: (1) falhas normais NS de mergulhos altos a bai-
xos, planares com arranjo em dominó, falhas lístricas com desenvolvi-
mento de estruturas do tipo rollover, e falhas de descolamento, relaciona-
das com distensão EW a WNW sin-sedimentar, e (2) dobras suaves com
eixo mergulhando para SSW e falhas transcorrentes NE. Essa região su-
jeitou-se a transtensão e transpressão por se situar entre dois lineamentos
NE conectados a falhas maiores transcorrentes EW destrais da margem
atlântica equatorial (Souza 2003; Souza et al. 2008, 2009).
Ainda nessa região do baixo Rio Jaguaribe (CE), foram observadas falhas
normais de direções em torno de NW e NS, inversas em torno de NS,
transcorrentes sinistrais NNW a NW e uma destral NNE. Elas podem ser
reunidas em dois conjuntos: (1) falhas normais, inversas e transcorrentes
sinistrais sin- a tardideposicionais da Formação Barreiras, geradas por
transtensão com eixo s1 em torno de NNE, e (2) falhas normais, inver-
sas e transcorrente destral pós-deposicionais, formadas por transpressão
com s1 em torno de WNW (Bezerra & Vita-Finzi 2000, Sousa & Bezerra
2005, Gomes Neto 2007, Bezerra 2011, Gomes Neto et al. 2012). Esses

236 geologia estrutural aplicada


dois pulsos foram relacionados com regime transcorrente destral EW
com s1 em torno de NW.
No Rio Grande do Norte, na área da Bacia Potiguar, foram reconhecidas
falhas transcorrentes NE e NW, destrais e sinistrais com componentes
de rejeito oblíquo, falhas normais EW e falhas inversas NS, a que se rela-
cionam soerguimentos, subsidências e basculamento de blocos afetando
inclusive a Formação Barreiras e suas coberturas (Nogueira et al. 2006,
Moura-Lima et al. 2011a). As falhas transcorrentes NE são paralelas às do
Sistema de Falhas Carnaubais e as NW, com o Sistema de Falhas Afonso
Bezerra, sistemas esses pré-cenozóicos, reconhecidos no embasamento
e na bacia mesozóica e que foram reativados (Dantas et al. 1999). Essas
falhas são atribuídas a dois eventos tectônicos: o primeiro do Neógeno,
de tipo transcorrente com s1 NS, e o segundo do Quaternário, também
transcorrente EW com s1 NW na parte oeste da bacia e s1 EW nas partes
central e leste, variação esta que acompanha aproximadamente a direção
da costa (Bezerra 1998, 2000; Sá et al. 1999; Dantas et al. 1999; Coriolano
et al. 1999; Bezerra & Vita Finzi 2000; Souza et al. 2005; Nogueira et al.
2006; Nogueira 2008; Bezerra et al. 2011, Lima 2011; Maia & Bezerra
2012; Reis et al. 2013; Sousa et al. 2014).
Esse último evento, além de reativar falhas NE e NW com movimentação
transcorrente, chegou a induzir inversão com encurtamentos nas dire-
ções NW e NE e formação de amplas antiformas com eixos NE na porção
central da bacia : da Serra do Mel, entre os vales dos rios Mossoró e Açu, e
de Mangue Seco a leste do Rio Açu (Bezerra 2011, Maia & Bezerra 2014).
Tais feições se somariam às falhas normais mais antigas que foram reati-
vadas (Pessoa Neto et al. 2008), indicando inversão da bacia. Esses dados
são considerados como condizentes com os indicados por solução de pla-
no/mecanismo focais, de breakout, morfotectônicos e poços, sondagens
geoelétricas e gravimétricos.
Na região de Natal, falhas transcorrentes, normais e inversas afetam o
Hemigráben do Rio Jundiaí no vale do rio homônimo (Nogueira et al.
2010). Essas falhas, sem e com preenchimento por sedimentos aluviais e
coluviais, indicam regime transcorrente EW com s1 EW, condizente com
o apontado para outras áreas e também pelos dados de breakout e sismo-
lógicos. A evolução das falhas foi analisada por datação de preenchimen-
tos por OSL (Optically Stimulated Luminescence) e SAR (Single-Aliquot
Regenerative-Dose) e teria ocorrido em seis pulsos datados entre 94 e
8 ka, ou mais.

parte 1 – neogeno-quaternário do brasil 237


Na costa leste do Rio Grande do Norte foram analisadas falhas na For-
mação Barreiras, indicando os dois eventos citados acima (Nogueira et al.
2006). Igualmente, Coriolano et al. (1999) observaram na Formação Bar-
reiras, ainda no litoral leste do Rio Grande do Norte, falhas transcorrentes
destrais NE e sinistrais NW, e falhas normais EW, que foram atribuídas a
transcorrência com s1 EW. Falhas com essas orientações e indicativas des-
se regime tectônico foram observadas ao longo da faixa correspondente à
Zona Sismogênica de Samambaia e também em beach rocks. Ainda foram
observadas falhas transcorrentes NW destrais e falhas normais NS, relacio-
nadas com regime transcorrente mais antigo com s1 NS.
Na área da Bacia da Paraíba, situada na região costeira entre Natal e Reci-
fe, a atividade neotectônica manifestou-se no Neogeno e Quaternário,
como indicam falhas normais e inversas NE, EW e NW, falhas trans-
correntes destrais em torno de NE e sinistrais em torno de NW, e parte
em torno de NS. Elas formaram grábens e horstes e afetaram os depósi-
tos sedimentares (Bezerra et al. 2001, 2008; Nogueira et al. 2006, 2010;
Ferreira et al. 2008; Moura-Lima et al. 2011b; Rossetti et al. 2011a,b,
2012a; Balsamo et al. 2013; Gandini et al. 2014), e controlaram linea-
mentos tectônicos (Furrier et al. 2006), atividade sísmica (Ferreira et al.
1998, 2008; Bezerra et al. 2007), distribuição da Formação Barreiras e
de sedimentos Pós-Barreiras (Rossetti et al. 2012a) e morfogênese (Fur-
rier et al. 2006, Bezerra et al. 2008). Também, anticlinais e sinclinais
de amplitudes médias a grandes, com eixos EW suborizontais afetam a
Formação Barreiras nessa bacia, mas não os sedimentos Pós-Barreiras
(Rossetti et al. 2011a,b).
Esses dois eventos tectônicos são análogos aos da porção leste da Bacia
Potiguar. O primeiro produziu grábens e horstes, e a Formação Barreiras
tem de 30 a 120 m de espessura e rejeitos verticais de até 250 m. O segun-
do é transcorrente com s1 EW, reativando estruturas do embasamento
como falhas transcorrentes NE a EW, com componentes de rejeitos nor-
mal e inverso, e desníveis de até 260 m na Formação Barreiras; foi gerada
uma estruturação em horstes e grábens com falhas de transferência NW,
a que se relacionam sedimentação, deslocamentos pós-sedimentares e
morfogênese (Bezerra et al. 2001, 2014; Souza et al. 2005; Bezerra 2011).
Também aparecem sismitos e estruturas de fluidificação na Formação
Barreiras e em sedimentos mais novos ao longo da região costeira do
Nordeste no Rio Grande do Norte, Ceará, sul de Alagoas e Sergipe (Saadi
e Torquato 1992; Bezerra et al. 2005; Lima 2010; Rossetti et al. 2011a,b;
Lima et al. 2014). São ainda poucas as informações sobre eles para se
avaliar os impactos dos eventos que os geraram.

238 geologia estrutural aplicada


Na região de Itabaiana (PB) foi reconhecida uma estruturação de grábens
de direção ENE (Cariatá e Mamanguape), preenchidos por depósitos
pleistocênicos e separados pelo Horste do Boqueirão (Neves et al. 2004,
Bezerra et al. 2008, Tavares 2010). No Gráben do Cariatá foram estuda-
das falhas sin-sedimentares de um evento distensivo mais antigo com s3
NNW e outro mais novo, transcorrente, com s1 NNW em dois locais
e com s1 NE em outro local (Neves et al. 2004). Bezerra et al. (2008)
mencionaram que essa área esteve sujeita a partir do Mioceno a regime
transcorrente com s1 EW.
Em Salvador aparece a Falha de Salvador, com escarpa de 70 m, separan-
do as cidades Alta e Baixa. Ela tem direção NNE e inflete para ENE ao
norte até Arembepe. Tem idade cretácea, mas foi reativada no Holoceno
e afeta a Formação Barreiras. Ali, faltam estudos neotectônicos.
Na região costeira do sul da Bahia, de Porto Seguro a Nova Viçosa, Saadi
(1999) reconheceu compartimentação da Formação Barreiras em blocos
romboédricos ou triangulares em planta, basculados variavelmente para
E, SE e NE, e controlados por falhas transcorrente N35-40W destrais com
componente de rejeito normal, mais expressivas, e N40-60E sinistrais
com componente de rejeito inverso, falhas normais NW e grábens WNW
a EW, e uma falha inversa/reversa N60E. A interpretação atribuída foi de
geração em regime transcorrente destral EW e s1 NW, mas esse quadro
estrutural indica mais de um evento que não foi discriminado.
No interior do Nordeste as investigações são ainda poucas.
Morais Neto & Alkmim (2001) observaram na Formação Serra dos Mar-
tins (Paleógeno) do centro-norte da Paraíba a presença de falhas inversas
em diferentes locais (falhas NNE e NE indicando regime compressivo
com s1 WNW, falhas intraestratais devidas a regime compressivo com s1
ENE, falhas NE a NW relacionadas a regime compressivo com s1 NNE,
falhas transcorrentes destrais NW relacionadas a regime transcorrente
com s1 NW, e falhas transcorrentes destrais NE devidas a regime trans-
corrente com s1 ENE. O regime compressivo não é entendido, mas os
dois pulsos transcorrentes são considerados como tendo correspondên-
cia com os que se vêm caracterizando como neotectônicos na região cos-
teira, o último deles do Holoceno.
Na Bacia do Araripe (divisa Pernambuco-Ceará) foram observadas fa-
lhas NW a WNW (principais) e NE, normais ou com componente de
deslocamento maior normal, poucas falhas transcorrentes destrais de di-
reções em torno de NNE, ENE e WNW a NW, e falhas de empurrão de
pequeno porte e direções entre NNW a NE, com estrias EW (Morales

parte 1 – neogeno-quaternário do brasil 239


et al. 2006), cortando sistematicamente as falhas normais da Formação
Barbalha (Albiano-Aptiano, Assine 1992). Tais falhas têm grande impor-
tância na compartimentação morfotectônica regional, marcam limites de
coberturas sedimentares cenozóicas e podem ser sin e pós-sedimentares,
indicando um evento marcado pelo predomínio local de falhas normais
NW, com associação de falhas direcionais e de empurrão localizadas, de
transtensão com s1 vertical, s2 WNW/ horizontal e s3 NNE/ horizontal.
Esse sistema de tensão foi induzido pelas grandes falhas transcorrentes
regionais e resultou na formação de falhas menores nas unidades mais
jovens e na reativação das estruturas preexistentes, no contexto de movi-
mentação neotectônica. Estas estruturas mais jovens estão impressas em
todas as seqüências estratigráficas regionais e em forte controle na rede
de drenagem atual, formação de escarpas de pequeno porte e padrão de
dissecação da Chapada do Araripe.
Na Mina de Caraíba (Jaguarari, BA), foram observadas falhas mais novas
transcorrentes NS destrais, sinistrais NW e NE, e algumas normais e in-
versas indicaram regime transcorrente com s1 NS/suborizontal (Hasui et
al. 1992a, Magalhães 1999).
Vê-se que no Nordeste a Formação Barreiras e depósitos posteriores fo-
ram afetados por falhamentos reconhecidos desde as décadas de 1960-70
e investigações de detalhe passaram a ser realizadas notadamente a par-
tir da década de 1990. Os estudos estruturais abordaram áreas na região
costeira do Ceará à Bahia e alguns incluíram, além de dados morfoestru-
turais e morfotectônicos, informações gravimétricas, aeromagnetométri-
cas, de poços e de sísmica de reflexão.
Reconhece-se que a incidência de deformação intraplaca durante o
Mioceno e pós-Mioceno reativou zonas de cisalhamento e falhas pree-
xistentes, e criou novas falhas, influiu fortemente no padrão da rede de
drenagem e na morfogênese, promoveu quebras, desnivelamentos e bas-
culamentos dos tabuleiros litorâneos, determinou soerguimentos/subsi-
dências de blocos falhados a que se relaciona a distribuição dos depósitos
sedimentares da Formação Barreiras e mais jovens (Bezerra 1998; Bezer-
ra & Vita-Finzi 2000; Bezerra et al. 2001, 2007, 2008, 2011; Morais Neto e
Alkmin 2001; Neves et al. 2004; Nóbrega et al. 2005; Ferreira et al. 2008;
Nogueira et al. 2010; Rossetti et al. 2011a,b, 2013a,b, e outros).
O entendimento da movimentação tectônica atual e do último evento foi
impulsionado pelas investigações da Falha Samambaia, na região de João

240 geologia estrutural aplicada


Câmara (RN), uma das mais importantes zonas de atividade sísmica do
Brasil (Takeya et al. 1989, Ferreira 1997, Ferreira et al. 1998, outros) e de
eliptização de poços de petróleo (Lima et al. 1997).
No Rio Grande do Norte, Pernambuco e Paraíba foram identificados dois
eventos transcorrentes: um Neógeno, destral EW com s1 NS, e um qua-
ternário, destral EW com s1 NW a EW. Em Itabaiana (PB) uma interpre-
tação reconheceu regime transcorrente neotectônico com s1 EW atuan-
do do Neogeno até o presente. Também no Ceará e na Bahia os regimes
tectônicos são diferentes desses. No interior do Nordeste, as informações
também são bem distintas.

• Centro-Oeste
Em Goiás, apenas a área da Barragem de Serra da Mesa no vale do Rio
Tocantins foi estudada, tendo sido reconhecidas falhas predominan-
temente transcorrentes em torno de WNW destrais e NNW sinistrais,
bem como algumas normais e inversas/reversas (Hasui et al. 1992c, Ma-
galhães, 1999). Tais falhas transcorrentes indicam regime destral com s1
NW. As falhas normais e inversas/reversas podem ser relacionadas com
transtensão e transpressão (Magalhães, 1999). Nessa mesma área foram
obtidos dados de SHmax por fraturamento hidráulico e sobrefuração, que
são apresentados adiante e que guardam coerência entre si, como resume
a Fig. 141 (Fernandes et al., 1994).

Figura 141. Dados de eixos de tensão obtidos por análise de falhas, fraturamento hidráulico e
sobrefuração na área da Barragem de Serra da Mesa (GO). Cf. Fernandes et al. (1994).

Na porção sul da depressão da Ilha do Bananal e Goiás foram referidas fa-


lhas normais e transcorrentes controlando cursos de água e sedimentação

parte 1 – neogeno-quaternário do brasil 241


(Del´Arco et al. 1998), mas ainda faltam estudos da movimentação neotec-
tônica, do mesmo modo que no Distrito Federal e em Mato Grosso.
Em Mato Grosso do Sul, a estruturação da Bacia do Pantanal Matogros-
sense é de um hemigráben NS, adernado para oeste, e seccionado por fa-
lhas de direções ENE e NW. Na sua borda sudeste foram descritas falhas
afetando colúvios holocênicos, transcorrentes destrais NS, NW e NNW
e sinistrais ENE a EW, assim como normais (Gesicki & Riccomini 1998).
Elas foram interpretados como de três eventos neotectônicos: (1) trans-
corrente com binário sinistral EW e s1 NE, do Plioceno, (2) distensivo
com s3 EW a WNW, do Pleistoceno Inferior, e (3) compressivo com s1
EW, do Pleistoceno a Recente.
É interessante notar que essas direções de falhas não têm expressão re-
gional, como mostra o mapa obtido por análise de lineamentos em ima-
gem de satélite (Paranhos et al. 2013). O primeiro evento é atribuído ao
Plioceno, quando o Pantanal ainda não existia. Também, o último evento
(compressivo com s1 EW) não coincide com o deduzido pela solução
de mecanismo focal do sismo ocorrido em 15/6/2009 da Fazenda Santo
Antônio, com epicentro a cerca de 100 km a oeste de Coxim, na região
de Nhecolândia do leque de Taquari, local de coordenadas 18o26´58”
S/ 55o42´15” W (ver adiante).

4.2.4.3 Tensões atuais determinadas por análise de falhas

Das informações apresentadas dos regimes de tensão neotectônicos interes-


sam aqui os holocênicos, que se considera ser ainda atuais. Esses regimes e seus
eixos de tensão deduzidos por análise de falhas e geomorfológica estão resumi-
dos no Quadro 4.

242 geologia estrutural aplicada


Quadro 4. Regimes de tensão e eixos de tensão do último regime tectônico deter-
minadas por análise de falhas e de lineamentos nas diferentes regiões do Brasil. Ten-
sões horizontais: s1= tensão compressiva, s3 = tensão distensiva. Regimes de tensão:
TD = transcorrente destral, TS = transcorrente sinistral, D = distensivo, C = compressivo.

RIO GRANDE DO SUL


Lineamento do Rio Jacuí TD s1 NW Morales et al. 2015
Bento Gonçalves TD s1 NW Morales et al. 2012, 2015

PARANÁ
Sul de S. Paulo-Arco de
D s3 NE Morales et al. 2011
Ponta Grossa
Salamuni 1998, Salamuni et al. 1999, 2003,
Região de Curitiba TD s1 NW a Chavez-Kus 2003, Chavez-Kus & Salamuni
WNW 2008
Serra do Mar C s1 EW a ESE Salamuni et al. 2010
Serra do Mar TD s1 N60W Nascimento et al. 2013
Represa de Salto Santiago D s3 NE Magalhães 1999

Síntese do leste do Paraná TD s1 WNW a Salamuni & Nascimento 2015


ENE

Região de Guarapuava TD s1 WSW a Peyerl et al. 2018


ENE
Bacia Sedimentar de Tijucas
TD s1 N60W Moreira 2018
do Sul

SÃO PAULO
Borges et al. 1998; Hasui et al. 1998, 1999a,
Área do Estado e adjacências TD s1 NW 2000; Morales et al. 2001
Avaré (SP)-Piraí do Sul (PR) TD s1 NW Hasui et al. 1999a
Bacias de S. Paulo a Volta
Redonda D s3 NW a WNW Riccomini 1989
Queluz C s1 EW Salvador 1994, Salvador & Riccomini 1995
Volta Redonda-Bananal D s3 NW Barros et al. 2011, Peixoto et al. 2012
Serra da Bocaina TD s1 NW Gontijo 1999
Hiruma 1999, Hiruma et al. 2001, Modenesi-
Campos do Jordão C s1 EW a NW Gauttieri et al. 2002
Itquaquecetuba, Bacia de São
D s3 ENE Morales et al. 2013
Paulo
São José dos Campos-
D s3 EW Morales et al. 2013
Taubaté na Bacia de Taubaté
Campinas D s3 NE Fernandes & Mello 2004
Alta Mogiana TD s1 NW Janoni & Morales 2012
Mogi-Guaçu TD s1 NW Morales et al. 2008
Bacia do Rio Mogi-Guaçu TD s1 NW Silva 1997, Pires Neto et al. 2006
Águas da Prata TD s1 NW Riccomini & Assumpção 1999


parte 1 – neogeno-quaternário do brasil 243
SÃO PAULO
Zona de Cisalhamento de
D s3 vert Silva 2011
Jundiuvira
Pilar do Sul-Votorantim C s1 EW a WNW Silva 1998
Araçoiaba da Serra TD s1 NW Borges et al. 2003
Jundiaí TD s1 NW Neves 1999, Neves et al. 2003
TD s1 EW a Riccomini 1995, 1997 ; Riccomini &
Formação Itaqueri
WNW Assumpção 1999
Rio Claro-São Carlos-
TD s1 NW Facincani 2000, Facincani et al. 2003
Piracicaba
Riccomini 1992a, 1995; Riccomini &
C s1 NW Assumpção 1999
Alto de Pitanga entre Rio
Claro-Rio Tietê TD s1 NW Sousa 1997, Sousa & Morales 1999
D s3 ENE Etchebehere et al. 2015
São Pedro TD s1 NW Facincani 2000
Echaporã-Cornélio Procópio TD s1 NS Magalhães 1999
Jacupiranga TD s1 N8W Hasui et al. 1992a
Lineamento de Guapiara TD s1 NW Morales et al. 2014
D s3 WNW Melo 1990, Melo et al. 1990
Cananeia
D s3 WNW Riccomini 1992b

RIO DE JANEIRO
Formação Barreiras D s3 NW Breda & Mello 2013
Planície do Rio Paraíba do Sul D s3 NW Tomaz et al. 2004
Macaé-Ponta do Retiro C s1 EW Silva & Ferrari 1997
Lagoa de Araruama D s3 EW Souza 2011
Bacia de Macacu D s3 EW a WNW Ferrari 2001
Petrópolis-Teresópolis C s1 EW Hartwig & Riccomini 2009, 2010
Bacia de Volta Redonda D s3 NW Sanson 2006, Negrão et al. 2008
Bacia de Resende D s3 NW Albuquerque 2004

ESPÍRITO SANTO
Bricalli 2011, Bricalli & Mello 2013, Marin &
Área do estado D s3 NE a NNW
Bricalli 2015, Nascimento et al. 2015
Faixa Colatina Linhares e Novais et al. 2004; Mello et al. 2005 a,b;
D s3 NW
Nova Venécia Hatushika et al. 2007
Linhares a Nova Venécia D s3 NW Miranda et al. 2008
Nova Venécia C s1 ENE Gallardo et al. 1987
Campos dos Goytacazes (RJ)
D s3 NW Ribeiro & Mello 2011
a Vitória (ES)
Bacias de Campos e Espírito
D s3 NW Mello et al. 2012
Santo onshore

244 geologia estrutural aplicada


MINAS GERAIS
Área do estado TD s1 N30-80W Saadi 1991
Médio vale do Rio Doce C s1 EW Mello 1997; Mello et al. 1999, 2003

Bacia Fonseca D s3 NW no sul Sant´Ana et al. 1997


+ D s3 NE no norte
São João del Rei TD s1 NW Saadi 1990, Saadi & Valadão 1990
Rios Pomba e Muriaé D s3 NW a EW Baiense et al. 2010
Juiz de Fora-Paty do Alferes D s3 NW Silva & Mello 2011
Sul do estado TS s1 NE Costa et al. 2000
Pouso Alegre TS s1 NE Ferreira 2001
Aiuruoca TD s1 NW Santos 1999, Santos et al. 2006
Areado-Cabo Verde D s3 NW Morales et al. 1999
Cássia (MG)-Rifaina (SP) TD s1 NW Cortes et al. 2015
Poços de Caldas TD s1 N30W Etchebehere et al. 1992, Magalhães 1999

GOIÁS E MATO GROSSO DO SUL


Barragem de Serra da Mesa TD s1 NW Hasui et al. 1992b, Magalhães 1999
Borda sudeste do Pantanal C s1 EW Gesicki & Riccomini 1998

NORDESTE
Bezerra & Vita-Finzi 2000; Souza 2003;
Sousa & Bezerra 2005; Gomes Neto 2007;
Baixo vale do Rio Jaguaribe TD s1 WNW Souza et al. 2008, 2009; Bezerra 2011;
Gomes Neto et al. 2012
Bezerra 1998, 2000; Sá et al. 1999; Dantas
et al. 1999; Coriolano et al. 1999; Bezerra &
TD s1 NW no Vita-Finzi 2000; Souza et al. 2005; Nogueira
Área da Bacia Potiguar oeste e s1 EW no et al. 2006; Nogueira 2008; Bezerra et al.
centro e leste 2011; Lima 2011; Maia & Bezerra 2012; Reis
et al. 2013; Sousa et al. 2014
Região de Natal TD s1 EW Nogueira et al. 2010
Litoral leste do Rio Grande do
TD s1 EW Coriolano et al. 1999
Norte
Bezerra et al. 2001, 2008, 2014; Souza et al.
2005; Nogueira et al. 2006, 2010; Ferreira
Bacia da Paraíba (RN-PE) TD s1 EW et al. 2008; Bezerra 2011; Moura-Lima et al.
2011b; Rossetti et al. 2011a, 2011b, 2012a;
Balsamo et al. 2013; Gandini et al. 2014
Neves et al. 2004, Bezerra et al. 2008,
Itabaiana (PB) D s3 NNW e NE Tavares 2010
Salvador D s3 WNW a NNW
Porto Seguro-Nova Viçosa,
TD s1 NW Saadi 1999
Litoral sul da Bahia
Centro-norte da Paraíba TD s1 NW e ENE Morais Neto & Alkmim 2001
Bacia do Araripe D s3 NNE Morales et al. 2006
Mina de Caraíba TS s1 NS Hasui et al. 1992a, Magalhães 1999

parte 1 – neogeno-quaternário do brasil 245


AMAZÔNIA
Região Amazônica TD s1 NW Costa et al. 1996
Wanderley Filho 1991; Eiras & Kinoshita 198;
Roraima TD s1 NW Costa et al. 1991, 1996; Costa 1999
Costa et al. 1996; Bezerra 2000, 2003;
Interflúvio Solimões-Negro TD s1 NW Ribeiro et al. 2009
Costa et al. 1996, Quadros et al. 1996,
Igreja & Catique 1997, Souza Filho et al.
Rondônia, oeste do Acre e
TD s1 NW 1999, Bemerguy et al. 1999, Scandolara
sudoeste do Amazonas
& Quadros 2000, Ribeiro et al. 2009,
Latrubesse et al. 2010, Silva et al. 2011
Travassos & Barbosa Filho 1990; Wanderley
Filho 1991; Wanderley Filho & Costa 1991;
Costa et al. 1995, 1996, 2002; Bemerguy &
Costa 1991; Villegas 1994; Bemerguy 1997;
Bemerguy et al.1999; Franzinelli & Igreja
Região de Manaus TD s1 NW 2002; Silva 2005; Latrubesse & Franzinelli
2005; Almeida Filho & Miranda 2007; Silva
et al. 2007, 2010; Almeida Filho et al.
2009; Ribeiro et al. 2011; Paes et al. 2011;
Franzinelli 2011; Franzinelli & Igreja 2011
Travassos & Barbosa Filho 1990; Wanderley
Região de Santarém TD s1 NW Filho 1991; Wanderley Filho & Costa 1991;
Costa et al. 1993, 1995, 1996, 2002
Costa et al. 1993, 1995, 1996, 2002; Villegas
1994; Borges et al. 1995a,b; Cavalcante
Santarém-Marajó no vale do 2000; Almeida et al. 2001; Cavalcante et al.
Amazonas TD s1 NW 2004; Rossetti 2014; Rossetti et al. 2007,
2008; Santos et al. 2011; Soares Júnior
et al. 2011
Rodrigues et al. 1986; Costa et al. 1993,
1995, 1996, 2002; Borges et al. 1995a,b;
Zona costeira do Amapá ao Ferreira Júnior 1996; Ferreira Júnior et
Piauí TD s1 NW al. 1996; Almeida et al. 2001; Rossetti et
al. 2007, 2008; Almeida Filho et al. 2009;
Gastão & Maia 2010
Costa et al. 1996, Bezerra & Costa 1996,
Sul do Pará, norte de
TD s1 NW Pires Neto & Bartorelli 1998, Bemerguy et al.
Tocantins e sul do Maranhão
2000, Souza 2007, Felipe 2012

Os dados apresentados acima acham-se representados na Fig. 142.


Esses dados mostram que as informações são divergentes quanto ao regime
tectônico atual, sendo notável a carência de dados para a maior parte do territó-
rio brasileiro, requerendo mais investigações sistemáticas.

246 geologia estrutural aplicada


Figura 142. Eixos de tensão obtidos por análise de falhas e de geomorfologia atuantes no Holoceno.
As tensões do Quadro 4 são representadas pelos três regimes tectônicos: s1 de transpressão no trans-
corrente em azul , s1 no compressivo em verde e s3 no distensivo em vermelho, separadamente (A, B,
C). D mostra o conjunto de dados. Em amarelo: coberturas sedimentares fanerozoicas.

Em relação à orientação dos eixos horizontais principais, como apresentados,


são diferentes (Quadro 5 e Figs 142A e B), mas é preciso ressaltar que esses dados
não têm indicações de qualidade, que deve ser avaliada segundo os critérios ado-
tados no World Stress Map mostrados no Quadro 4 (Heidbach et al. 2010). Consi-
derando que os dados do Quadro 5 foram obtidos em geral por análise de poucas
falhas, as orientações indicadas admitem variações da ordem de 15° a 40° para um
ou outro lado daquela indicada. Com isto pode-se considerar que os dados das
Figs. 142A e B são consistentes com os modelos regionais (Fig. 126).
Para os dados da Fig. 142C não se tem explicação, a não ser que, por provi-
rem de locais próximo à costa, representem influência das distensões ligadas às
bacias marginais e à borda continental atuantes nessas áreas.

parte 1 – neogeno-quaternário do brasil 247


4.2.4.4 Tensões determinadas por análise de mecanismo focal de sismos

Os sismos no Brasil eram admitidos como atectônicos (deslizamentos de


terra, abatimento de tetos de cavernas, acomodação de argilas etc.). A atividade
sísmica de origem tectônica foi reconhecida a partir de alguns trabalhos apresen-
tados no 2° Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia, realizado em São
Paulo pela Associação Brasileira de Geologia de Engenharia em 1978 (Haber-
lehner 1978, Hasui et al. 1978 b,c) e na década de 1980 foi realizado o primeiro
levantamento de epicentros do território (Berrocal et al. 1984).
Com o levantamento dos epicentros emergiu o entendimento de que os sis-
mos não se distribuem uniformemente pelo território, mas apresentam concen-
trações em algumas áreas, dispersão em partes e ausência em outras (Fig. 143).
As áreas de concentração são referidas como zonas sismotectônicas, sismogênicas
ou sísmicas e várias propostas de zoneamento do território foram apresentadas,
procurando estabelecer relações com domínios geotectônicos pré-cambrianos,
destacadamente com cinturões orogênicos brasilianos desde Berrocal et al. (1984).

Figura 143. Distribuição de epicentros e domínios geotectônicos ou províncias estruturais.


O epicentros são representados por círculos iguais, sem distinção de magnitudes. Ver províncias
estruturais e domínios geotectônicos nas Figs. 103 e 104. Estão separados os sismos de hipocentros
rasos e profundos, estes apenas no Acre e países vizinhos relacionados com a subducção da Placa de
Nazca sob a América do Sul. Os sismos são cadastrados no Catálogo Sísmico Brasileiro do Centro
de Sismologia do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas e Instituto de Energia
e Ambiente da Universidade de São Paulo.

248 geologia estrutural aplicada


O zoneamento proposto mais recentemente é o de Assumpção et al. (2014a,b),
reconhecendo sete zonas de concentração de epicentros. Elas são apresentadas a se-
guir com indicação dos eixos de tensão obtidos dos dados sismológicos.
1) Zona do Ceará e Rio Grande do Norte
A maior atividade deu-se entre agosto/86 a setembro/96, quando ocor-
reram 53.426 sismos, o maior tendo alcançado magnitude mb de 5,1
em 30/11/86 na borda oriental da Bacia Potiguar, a alguns quilômetros
a leste de João Câmara e a cerca de 100 km a oeste de Natal. Os sismos
ali concentraram-se ao longo de faixa de 32 km de comprimento e lar-
gura máxima em torno de 4 km, com atividade a cerca de 1-9 km de
profundidade (Ferreira et al. 1987, Takeya et al. 1989, Amaral 2000,
Bezerra et al. 2007, Nogueira et al. 2008). Estudos detalhados mos-
traram que ela é composta de três superfícies de direção em torno de
N37E e mergulhos de 76-80° para NW, escalonadas e não aflorantes
no terreno, instalada em área de embasamento neoproterozoico com
foliação, zonas de cisalhamento dúctil e veios de quartzo. Essas super-
fícies foram referidas como Falha Samambaia (Fig. 144), com movi-
mentação transcorrente destral tendo pequena componente normal e
SHmax de direção em torno de N85E (Bezerra et al. 2011).

Figura 144. Epicentros da região de João Câmara demarcando a Falha Samambaia. Os círcu-
los amarelos, vermelhos e azuis indicam as profundidades dos hipocentros. Baseado em Bezerra
et al. (2007).

Em muitas outras áreas do Nordeste ocorre atividade sísmica (Fig. 145).

parte 1 – neogeno-quaternário do brasil 249


Figura 145. SHmax determinados por análise de mecanismo focal. Alguns dados de breakout de
poços profundos da Bacia Potiguar também estão indicados. Baseado em Oliveira et al. (2015) e
Bezerra et al. (2011).

Na Bacia Potiguar, o regime tectônico é transcorrente destral e atua


desde o Plioceno e o eixo de tensão SHmax tem direção ENE na porção
leste e sul e NW na oeste (Assumpção 1992; Ferreira et al. 1998, 2008;
Bezerra et al. 2007, 2008, 2011; Ferreira et al. 1998;, Bezerra 1999).
A sul dessa bacia e na Bacia da Paraíba s1 tem direção ENE e s3, NNW
(Bezerra et al. 2008, Nogueira et al. 2010).
Outras áreas são a da Barragem de Açu com SHmax em torno de EW
(Ferreira et al. 1995, Nascimento et al. 2004), a de Palhano com SHmax
NW (Ferreira et al. 1998, Assumpção et al. 1989), a de Cascavel com
SHmax em torno de N65E (Ferreira et al. 1998, Assumpção et al. 1985,
Bezerra et al. 2011), a de Augusto Severo com SHmax em torno de N80W
(Ferreira et al. 1998) e a de Tabuleiro Grande com SHmax em torno de EW
(Ferreira et al. 1998). Também no noroeste do Ceará ocorrem sismos na
região de Granja e Sobral, a oeste do Lineamento Sobral-Pedro II, bem
como nas regiões de Senador Sá, Irauçuba, Groaíras e Hidrolândia, a
leste desse lineamento (Ferreira et al. 1998, França et al. 2004). Na área
de Acaraú, situada a nordeste de Sobral, a atividade resulta de compres-
são NW e distensão NE (Oliveira et al. 2015), a oeste de Sobral, no terço
sul do Granito Meruoca, a movimentação é transcorrente com s1 NW
(Moura et al. 2014, Bezerra et al. 2011).
Em diversas áreas do Lineamento de Pernambuco tem ocorrido enxa-
me de sismos rasos com focos a profundidades de de poucos a 8 km,
como nas vizinhanças de Belo Jardim, São Caetano e Caruaru (Ferreira

250 geologia estrutural aplicada


et al. 1998, 2008; Lopes et al. 2010; Lima Neto 2009; Lima Neto et al.
2013, 2014). As direções de SHmax são aproximadamente N75E e N75W
para Caruaru, N85E para Belo Jardim e N75W para São Caetano, isto
é, em torno de EW, relacionadas a regime transcorrente, com s1 EW
e s3 NS.
Outras áreas do Nordeste têm sido palcos de abalos registrados pelo
Laboratório Sismológico (LabSis) do Departamento de Geofísica da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (www.labsis.ufrn.br/).
2) Zona do sul de Tocantins e oeste de Goiás
Está situada ao longo de uma faixa de direção N30E que se estende do
sul de Tocantins ao oeste de Goiás (Fig. 143). Ela foi referida com as
designações Goiás-Tocantins (Assumpção & Sacek 2013) e Porangatu
(Hasui & Mioto 1988) e coincide com a área do Lineamento Trans-
brasiliano, um largo e extenso cinturão transcorrente do Sistema Oro-
gênico Tocantins, que afeta destacadamente o Maciço Goiano (Hasui
2012d). Uma determinação de SHmax indicou direção NW.
Os sismos de Mara Rosa (GO) tiveram magnitude máxima de 5,0
mb em 8/dezembro/2010. Esse abalo foi relacionado a falha inversa
N6W/16SW, com SHmax N65E/15SE e SHmin N42E/74 W (Barros et al.
2014, Carvalho 2015).
3) Zona do sul de Minas Gerais e regiões adjacentes
Localiza-se no sul de Minas Gerais (Fig. 143) e é a zona mais ativa do
país, mas menos investigada que a do Nordeste.
Assumpção et al. (1997) analisaram os enxames de sismos que ocorre-
ram em Betim, Carmo do Cajuru, Formiga, Areado e Nova Ponte, no
sul de Minas Gerais. Em Betim os movimentos ocorreram em falha
transcorrente com componente de rejeito reverso, tendo SHmax direção
N80E, em Carmo do Cajuru a falha é inversa com componente de re-
jeito direcional e SHmax NW, em Formiga a falha é normal, SHmax N80E
e SHmin N10W, em Nova Ponte a falha é inversa e SHmax NE (destoante
das demais áreas), em Areado a falha é inversa, próxima de NS/ 30W
e SHmax N60E. Os sismos de Carmo do Cajuru, Nova Ponte e Areado
foram induzidos por barragens ali existentes.
4) Zona do leste e sudeste do Pará
Corresponde a uma faixa de direção NS no leste e sudeste do Pará (Fig.
143). É representada por poucos eventos, como os de Redenção e Rio
Maria, e está ainda muito pouco estudada (Assumpção et al. 1985).
5) Zona do nordeste do Amazonas

parte 1 – neogeno-quaternário do brasil 251


Situa-se no nordeste do Amazonas (Fig. 143). Em Codajás ocorreu
evento com magnitude mb de 5,5, os sismos mostraram SHmax NS e
relação com falha inversa N60W/60NE. Na borda norte da Bacia do
Amazonas, em Manaus, a falha também é inversa e SHmax tem dire-
ção em torno de NNW (Assumpção & Suarez 1988, Assumpção 1992).
De modo geral, as falhas são inversas e SHmax orienta-se entre NNE
e NW (Assumpção 1992). Destaque-se que na região foram observa-
das falhas inversas/reversas NE e dobras associadas, seguidas de falhas
transcorrentes EW e NE e normais NW, sendo o conjunto interpreta-
do como relacionado com dois pulsos de regime transcorrente destral
(Costa et al. 1996, Silva 2005).
6) Zona de Porto dos Gaúchos
Essa zona localizada no noroeste de Mato Grosso e centro-norte da
Bacia do Parecis (Fig. 143), teve sismos que chegaram a ter magnitude
mb 5,2 na região de Porto dos Gaúchos, mas foi na Serra do Tombador,
a cerca de 100 km a sudoeste, que ocorreu o maior sismo do Brasil em
31/1/1.955, com magnitude mb 6,2. Os movimentos foram relaciona-
dos com falhas transcorrentes destrais ENE, tendo o eixo P horizontal
de direção N70W e T, N20E (Barros et al. 2009). SHmax direciona-se
em torno de WNW. Anteriormente, Mendiguren & Richter (1978) de-
terminaram para o grande sismo da Serra do Tombador movimen-
to em falha inversa de direção aproximadamente NE induzido por
SHmax horizontal em torno de NW. Embora tenham se formado riftes
em diversas épocas na região, os sismos não têm relação com eles.
7) Zona da região costeira do Sudeste
Essa zona coincide principalmente com a área da Bacia de Santos, mas
tem extensão para as bacias de Pelotas e Campos (Fig. 143). Foi desig-
nada de Zona Sismogênica de Santos (Mioto & Hasui 1993). Poucos
eventos foram estudados, todos relacionados com falhas produzidas
por compressão: o próximo à Cadeia Vitória-Trindade, o da Bacia de
Campos, o da Bacia de Pelotas e o de São Vicente na Bacia de San-
tos. As falhas e as tensões dos três primeiros não estão determinadas
(Assumpção 1998). O de São Vicente ocorreu a cerca de 250 km a
su-sueste de São Vicente (SP), em 22/4/2.008, alcançando magnitu-
de mb 5,2 e foi relacionado com uma falha NNW/subvertical em que
o bloco leste subiu em relação ao de oeste por movimentação rever-
sa produzida por compressão atuando na direção N10E (Dourado &
Assumpção 2011, Schweig 2013).
Nesse conjunto podem ser incluídos os sismos de Angra dos Reis (Dis-
trito de Monsuaba), próximo às usinas nucleares, na área continental.
Eles incidiram entre dezembro de 1.988 e fevereiro de 1.989 e foram

252 geologia estrutural aplicada


relacionados com provável falha inversa N25E/35SE ativada por regi-
me compressivo com eixo P de direção NW (Berrocal et al. 1993).

Outras áreas de atividade sísmica dispersam-se pelo território.


No centro-norte de Minas Gerais, epicentros distribuem-se ao longo de
uma faixa NS (Fig. 143). Em Montes Claros (MG) tem incidido atividade sísmica
e a de 2.012-2.013 e foi interpretada como relacionada com regime transcorrente
com s1 EW/horizontal, s2 NS/horizontal e s3 vertical, atuando em falha inversa
N13W/50NE (Arguto-Delzer et al. 2015). Este regime seria semelhante ao iden-
tificado mais ao norte em Manga (falha inversa N10W/65NE) e Itacarambi (falha
inversa N30E/40SE) em Minas Gerais, e também em Correntina na Bahia (falha
inversa N20W/70NE), com direções de SHmax em torno de EW (Chimpliganond
2013, Lopes 2008). O conjunto (Fig. 147) tem sido descrito como o atuante na
região da parte central do Cráton do São Francisco.
A faixa de epicentros do sul de Tocantins/oeste de Goiás na sua porção su-
doeste prolonga-se primeiramente para oeste no sul de Mato Grosso, coincidindo
com a área da Faixa Orogênica Paraguai e a Província Alcalina de Goiás, e depois
para sul dentro da área do Pantanal Matogrossense (Fig. 143).
A solução de mecanismo focal do sismo de 15/6/2.009 ocorrido na Fazenda
Santo Antônio (18o 26´58” S / 55o 42´15” W), na região de Nhecolândia do leque
de Taquari, a cerca de 100 km a oeste de Coxim, indicou dois planos nodais,
N5E/58NW e N65W/61NE (Fig. 146), um dos quais representa a falha que se
movimentou, e o eixo de compressão P tem atitude N60E/suborizontal (Facinca-
ni et al. 2011). Assumpção & Sacek (2013) indicaram outro evento ainda no meio
do Pantanal com SHmax horizontal de direção próxima de N75E. Destaque-se que
o esses epicentros não têm relação com o prolongamento do Lineamento Trans-
brasilíano do sudoeste de Goiás para sudoeste.

Figura 146. Solução de mecanismo focal do sismos da Fazenda Santo Antônio, indicando os eixos
P e T. Cf. Facincani et al. (2011).

parte 1 – neogeno-quaternário do brasil 253


Na região da fronteira do Acre com o Peru, além dos sismos de magnitudes mb
acima de 6 já mencionados, aparecem outros originados em profundidades baixas.
A Fig. 142, além da distribuição dos epicentros, mostra os domínios geotec-
tônicos ou as províncias estruturais do país (Hasui 2012c). Vê-se que, de modo
geral, as grandes bacias sedimentares e os crátons brasilianos têm baixa atividade
sísmica, enquanto maior atividade ocorre nas áreas dos cinturões orogênicos bra-
silianos. Contudo, essa relação não é tão estreita como foi apontado no passado.
Também não se observa relação da sismicidade com domínios morfotectônicos,
a exemplo do gráben da Bacia de Taubaté, que é muito menos ativo do que os
domínios adjacentes da Serra do Mar e do sul de Minas Gerais/São Paulo/Rio de
Janeiro (Assumpção et al. 1997).
No contexto da atividade sísmica apresentada, as direções de SHmax determi-
nadas são resumidas na Fig. 147 (Assumpção et al. 2015).

Figura 147. Mapa das tensões horizontais máximas (SHmax) obtidas por solução de mecanismo
focal. Os dados representados têm qualidade B (cerca de 15% com precisão de orientação de ± 20°),
C (cerca de 30% com precisão de orientação de ± 30°) e D (cerca de 50% com precisão de orien-
tação de ± 40°), conforme critérios de avaliação do World Stress Map (Heidebach et al. 2018). Em
amarelo: coberturas sedimentares fanerozoicas.

4.2.4.5 Tensões determinadas por análise de breakout de poços


profundos

Nos poços profundos, a concentração e redistribuição de tensões regionais


atuantes nas paredes forma fraturas de cisalhamento conjugadas em duas zonas

254 geologia estrutural aplicada


diametralmente opostas ao longo da parede (breakout). Esse processo incide em
intervalos (zonas de breakout) nos quais os eixos comumente apresentam o mes-
mo padrão de direção em várias profundidades. A seção circular torna-se elítica
(“ovalização”) e as seções horizontais permitem determinar os eixos horizontais
de tensões máxima (encurtamento SHmax) e mínima (SHmin). A tensão vertical
não é determinada, pelo que o sistema de eixos não fica completo.
Lima et al. (1997) apresentaram as direções médias de SHmax obtidas em
60 poços nas bacias continentais e 481 nas bacias marginais, analisados entre 62
e 5.540 m de profundidade. 135 médias foram classificadas como A (16 poços),
B (42) e C (78) e D (205), conforme critérios do World Stress Map (Heidebach
et al. 2018). Essas direções de SHmax são mostradas na Fig. 148.

Figura 148. Direções de SHmax obtidas por análise de breakout de poços profundos e orientações
médias. Em amarelo: coberturas sedimentares fanerozoicas. Fonte: Lima et al. (1997).

As orientações regionais de SHmax calculadas foram N35W na Bacia do Ama-


zonas, N80E na Ilha do Marajó, N50W na costa do Maranhão, N80W na costa
oeste do Ceará, N60W na costa leste do Ceará, N60W na Bacia Potiguar, N80W na
costa de Alagoas, N40E na costa de Sergipe, N30E na Bacia do Recôncavo e NS na
costa Sul da Bahia. Ao longo do da costa equatorial e leste, de modo geral, a direção
é considerada como paralela ao seu traçado: NW no Nordeste e NNE nas bacias de
Sergipe e do Recôncavo. Na Bacia do Solimões, recoberta pelas coberturas cenozoi-
cas da Bacia Subandina, bem como nas bacia do Paraná, do Espírito Santo, de Cam-
pos e de Santos, as direções de SHmax são variadas, não se definindo as regionais.

parte 1 – neogeno-quaternário do brasil 255


Para Lima (1999, 2000, 2003) a estruturação regional seria de grandes an-
tiformas e sinformas, respectivamente, devidas à compressão regional que atua
na intraplaca. As bacias sedimentares continentais estariam sofrendo inversão
nascente, com as bordas sendo soerguidas e erodidas e suas zonas axiais sendo
deprimidas, acolhendo grandes rios e recebendo sedimentos. As exceções seriam
as áreas inundáveis do Pantanal Matogrossense, da Bacia do Bananal e as porções
centrais da bacia do Solimões e do Amazonas, que se relacionariam com antifor-
mas tendo sua zona apical abatida.
Na Bacia Potiguar foram determinadas tensões de breakout em 10 poços
da área continental, detectando que o regime de tensão é distensivo entre 0,5 e
2 km de profundidade e passa para transcorrente entre 2,5 e 4 km (Reis 2012, Reis
et al. 2013). Essas duas faixas de profundidades coincidem com as sequências
pós-rifte e rifte, respectivamente, e essa variação foi interpretada como indicativa
de incipiente inversão da bacia. O regime mais novo é consistente com a indi-
cação da solução de mecanismo focal de sismos e também foi constatado que
SHmax tem direção NW na porção oeste da bacia e EW nas porções central e leste,
acompanhando a direção da linha de costa.
Nascimento (1999, 2000) analisou breakout em 546 poços das bacias sedi-
mentares, obtendo SHmax de qualidades A a E. As direções aproximadas deduzidas
estão assim distribuídas (Fig. 149): (1) N50E na Bacia do Solimões, a oeste do
Arco de Purus, (2) N55W na Bacia do Amazonas, entre os arco de Purus e Gu-
rupá, (3) N50E na Bacia do Marajó, (4) N60W na região costeira do Maranhão,
N55W na do Ceará, e N50W no do Rio Grande do Norte, (5) N85W na Bacia de
Sergipe-Alagoas, em Alagoas, e N60E em Sergipe (com uma variação secundaria
para N20W), passando para N20E na Bahia, (6) EW predominante na Bacia do
Espírito Santo, mas aparece também uma secundária NS, EW predominante na
de Campos no Rio de Janeiro, e N10W a secundária ali presente. Onde há halo-
cinese, acima do sal não há direção preferencial, mas abaixo a direção EW reflete
empurrão de E para W, (7) na Bacia de Santos os dados foram poucos e não
conclusivos, (8) na Bacia do Paraná os dados são poucos e mostram tendência
para N30E.

256 geologia estrutural aplicada


Figura 149. Orientações médias de SHmax obridas por análise de breakout. Em amarelo: cobertu-
ras sedimentares fanerozoicas. Fonte: Nascimento (1999, 2000).

4.2.4.6 Tensões determinadas por fraturamento hidráulico

Dispõe-se de dados de SHmax de ensaios de fraturamento hidráulico determi-


nados em três locais.
1. Na Barragem de Serra da Mesa, vale do Rio Tocantins em Goiás, as de-
terminações foram executadas em três furos (horizontal, inclinado de
45° e vertical), obtendo direções de SHmax que variam com a profundi-
dade do ensaio, parecendo refletir efeitos da topografia. Foram consi-
deradas três áreas, tendo sido obtidas as direções N40W±10 para s1,
N15W±10 para s2, sendo s3 vertical abaixo de 300 m (Magalhães, 1999).
2. Na área do projeto de armazenamento subterrâneo de gás liquefeito do
Terminal Almirante Barroso (TEBAR) em São Sebastião (SP), os ensaios
indicaram direções médias de SHmax N48E±22 e N52E±15 em dois furos.
A análise de falhas transcorrentes destrais e sinistrais, e inversas/reversas
dessa área indicou regime transcorrente destral com s1 NW (Magalhães,
1999). A orientação desse eixo diz respeito ao tectonismo gerador, en-
quanto o fraturamento hidráulico reflete a influência da situação da área
no sopé da Serra do Mar e adjacente à Bacia de Santos.
3. Na UHE Simplício/Anta no vale do Rio Paraíba do Sul entre Três Rios
e Além Paraíba, na divisa Rio de Janeiro/Minas Gerais também foram
realizados ensaios, mas não se dispõe de informações dos testes.

parte 1 – neogeno-quaternário do brasil 257


Esses dados estão indicados na Fig. 150.

Figura 150. SHmax obtidos por fraturamento hidráulico e sobrefuração. Os dados obtidos por
sobrefuração são comentados no texto. Em amarelo: coberturas sedimentares fanerozoicas.

4.2.4.7 Tensões determinadas pelo método de sobrefuração

Tem sido registrado, inclusive no Mapa Mundial de Tensões, um dado de


SHmax obtido por esse método na Mina de Caraíba no norte da Bahia, com di-
reção média assumida em torno de N60E (Fig. 150) obtido por Cipriani (1990).
Foram realizados 11 ensaios em três furos na mina subterrânea. Contudo, o
maciço é extremamente fraturado e falhado, e os dados são muito variados em
direções das tensões e suas magnitudes. O mesmo problema se manifesta na
análise de falhas, tendo sido obtidos dados que endossaram essa orientação
(Magalhães 1999).
Na mina subterrânea do Morro da Usina em Vazante, foram realizadas de-
terminações nas rochas calcárias em três furos. Um deles forneceu eixos de ten-
são com s3 vertical e interpretado como refletindo a proximidade da superfície,
enquanto nos outros dois o regime deduzido é transcorrente, com s1 próximo de
EW/suborizontal (Fig. 149) e s3 próximo de NS/horizontal, como relatado por
Magalhães (1999).

258 geologia estrutural aplicada


4.2.4.8 Tensões determinadas por dados geodésicos

Do mapa de movimentação das placas no globo (Fig. 65, Altamimi et al.


2016), a porção refente ao Brasil acha-se destacada na Fig. 151A. Também, aná-
lises começaram a ser feitas das variações de coordenadas terrestres estimadas
por técnicas de posicionamento GNSS (Global Navigation Satellite Systems) em
uma rede geodésica de monitoramento contínuo denominada SIRGAS-CON
– Sistema de Referência Geodésico para as Américas – Continuously Operating
Network. Foram obtidas velocidades horizontais e verticais de solução multianual
e os mapas SIR17P01, referentes ao Brasil, são os mais recentes deles (Figs. 151B,
C – Sánchez 2017a,b; Sánchez et al. 2018).

Figura 151. Velocidades de movimentação atual obtidas de estações de observação geodésica.


A: modelo DTRF2014 (Altamimi et al., 2016). Original disponível em: http://www.dgfi.tum.de/
fileadmin/w00btu/www/Flyer_TUM_DTRF2014_final.pdf. Acessado em: 25/setembro/2018. B e
C: velocidades horizontais e verticais do SIR17P01, disponíveis em http://www.sirgas.org/pt/sirgas-
-con-network/coordinates/multi-year-solutions/.

parte 1 – neogeno-quaternário do brasil 259


As medidas da rede SIRGAS refletem deslocamentos/deformações e suas ve-
locidades na superfície e começaram a ser correlacionadas com esforços tectônicos
(Marotta et al. 2012, Marotta 2013). Nessa linha, Rezende et al. (2015) apresen-
taram um mapa de SHmax da América do Sul, com dados obtidos por análise de
mecanismo focal, breakout de poços profundos e geológica, complementados por
dados geodésicos. Marotta et al. (2015) consideraram esses dados e indicaram as
direções gerais de SHmax para a América do Sul, sendo a porção brasileira mostra-
da na Fig. 152.

Figura 152. Mapa de SHmax do Brasil. Em azul, SHmax obtido por análise de mecanismo focal, brea-
kout de poços profundos e geológica de diversas fontes, acrescidos de alguns dados geodésicos, con-
forme Rezende et al. (2015). Em vermelho, vetores da direção do campo de esforços e deformações
após integração dos dados de SHmax (a malha foi reduzida), conforme Marotta et al. (2015).

Além de dados de direção e valores de velocidades de movimentação das


placas, outras informações podem ser obtidas por análises geodésicas. Norabue-
na et al. (1998) e Cretaux et al. (1998) relataram, com base no processamento de
três anos de dados geodésicos de 1.994-1.996, que no interior da placa Sul Ame-
ricana ocorre encurtamento crustal de cerca de 10 a 15 mm por ano. Também,
determinou-se que a maior velocidade do interior da Placa Sul-Americana é de
3,64 mm/ano e incide em Teixeira de Freitas, no sul da Bahia (Marotta 2013).

260 geologia estrutural aplicada


4.2.4.9 Outros dados

Alguns dados de SHmax têm sido obtidos pelo método de Recuperação da De-
formação Anelástica (ASR – anaelastic strain recovery). As rochas estão submetidas
a tensão e quando um testemunho orientado é removido de um furo de sondagem,
essa tensão sofre relaxamento e ele se deforma. Essa deformação elástica é depen-
dente de tempo (anelástica), acarreta abertura e propagação de microfraturas, que
se dá desigualmente conforme o campo de tensão, com maior e menor expansão
nas direções dos eixos menor e maior da tensão. Estes eixos podem ser determi-
nados com instrumentação adequada e correspondem à tensão atuante no maciço.
Dados de ASR foram obtidos para a Bacia Potiguar, indicando SHmax de direção
N77W (Siqueira et al. 1996), N75W (Soares et al. 1997) e E-W a NW (Araújo et al.
2009), coerente com os dados obtidos por análise de sismos e de breakout.
Acrescem ainda outros tipos de informação que importam para se conhecer
os deslocamentos horizontais e também verticais, pertinentes à epirogênese e in-
formação sobre a evolução da superfície:
1) A Superfície Sul-Americana encontra-se elevada em platôs a 1.100-
1.200 m de altitude na regiões central, sudeste e sul do país. Sua origem
tem aspectos controversos, mas seu alçamento é consensual. Dados de
análises U/Th-He e de traços de fissão do Vale do Paraíba e das serras
da Mantiqueira e do Mar sugerem que as bordas da Bacia de Taubaté
estiveram soterradas e que vêm sofrendo soerguimento nos últimos 15
Ma e esfriamento da ordem de 2,5°C/Ma até hoje (Cogné et al. 2011).
2) Muitos traços principais da rede de drenagem foram moldados no Cre-
táceo-Paleógeno (Potter 1997), mas seu desenvolvimento, juntamente
com o do relevo, deu-se no Neógeno-Quaternário com influência da
neotectônica. Além disso, superfícies de aplainamento foram esculpi-
das, como a Velhas, atribuída ao Pleistoceno, e outras, indicando que o
soerguimento não foi contínuo, mas teve fases de equilíbrio isostático.
3) A taxa de erosão tem recebido apenas muito discreta atenção. Dados
foram obtidos por meio do método do Be10 e revelaram para o Quadri-
látero Ferrífero um valor médio da ordem de 7 m/Ma, esse resultado,
comparado com o de outras partes, revela dissonância com os resulta-
dos de Cuiabá (baixo) e similaridade com os do Estado da Bahia e do
Distrito Federal (Varajão et al. 2009).

4.2.4.10 Comparação dos dados

A Fig. 153 mostra os dados de tensão acima apresentados. Como se constata, as


direções deduzidas pelos diversos métodos apresentam diferenças notáveis entre si.

parte 1 – neogeno-quaternário do brasil 261


Figura 153. Eixos de tensão mais recentes e atuantes. A: Direção de eixos de tensões deduzidas por
análise de falhas: s1 de regime transcorrente em verde e de compressivo em azul, em vermelho s3
de regime distensivo. B: SHmax de sismos. C: SHmax de breakout de poços. D: SHmax de fraturamento
hidráulico e sobrefuração. E: orientação de tensões obtidas por dados geodésicos (SIRCON).

Considerando os erros admitidos para as determinações, há predomínio


das direções entre EW e NW, mostrando coerência com as direções modeladas
das tensões regionais (Fig. 126).
Os desvios em relação a essas direções podem ser relacionados com a in-
terferência de tensões locais. Mendiguren & Richter (1978), estudando alguns

262 geologia estrutural aplicada


sismos, sugeriram que a reorientação levaria a alinhamento de SHmax na direção
NW, essa direção não foi confirmada por dados posteriores, que apontam reo-
rientações variadas e a interferência de fatores diversos.
Esses fatores são os seguintes:
• Na região costeira, incide flexão litosférica por efeito da carga de sedi-
mentos acumulados nas bacias da margem continental e na transição la-
teral de crostas oceânica para continental. Na área do norte do Rio Gran-
de do Norte e Ceará esses dois fatores foram reconhecidos, resultando
SHmax compressivo paralelo à linha de costa e SHmin distensivo perpendicu-
lar a ela (Assumpção 1992, Lima et al. 1997, Ferreira et al. 1998, Bezerra
et al. 2011). O entendimento desse estado de tensão é estendido para toda
a região costeira do Brasil.
• A presença de massas de rochas mais densas gera contraste de densidade
e gravidade, que induz desvio da direção SHmax regional. As direções va-
riando de NNE a NW no nordeste do Amazonas são relacionadas com
a carga exercida por corpos máficos associados ao pacote sedimentar da
Bacia do Amazonas, tidos como responsáveis pela anomalia gravimétrica
positiva EW, paralela ao eixo da mesma, que seria capaz de promover
flexura, sismos e desvio de direção em relação à regional (Zoback & Ri-
chardson 1996, Zoback 1992, Assumpção & Sacek 2013).
• O contraste de densidade relacionado com adelgaçamento da litosfera
e aumento de gravidade induz tensões, como é reconhecido no leste e
sudeste do Pará, no Centro-Oeste e Sudeste. No Pará, foi reconhecido
regime distensivo com eixo distensivo em torno de NS. Essa direção foi
relacionada com anomalia gravimétrica promovendo tensões flexurais,
a cujo alívio se deve a sismicidade da zona sismogênica ali distinguida
(Assumpção & Sacek 2013). No sul de Tocantins e sudoeste de Goiás,
a direção de SHmax é NW e coincide com o alto gravimétrico da faixa de
crosta mais delgada na área do Maciço Goiano – ali, a anomalia isostática
indica excesso de massa não compensada causando deformação flexural
da litosfera e esforços compressivo na crosta superior (Assumpção & Sa-
cek 2013). Em parte dessa região e no Sudeste, considerando anomalias
de velocidade de ondas P mapeadas por tomografia do manto superior
e notando que a atividade sísmica mais acentuada incide em áreas com
menor velocidade de ondas P a 150-250 km, Assumpção et al. (2014b)
consideraram que elas coincidem com as províncias alcalinas mais jo-
vens, têm astenosfera mais rasa e resistência diminuída do manto supe-
rior litosférico, fatores que induzem concentração de forças intraplaca na
crosta rúptil superior.

parte 1 – neogeno-quaternário do brasil 263


4.2.5 O quadro regional da Neotectônica no Brasil

O entendimento da neotectônica em escala regional do território brasileiro


tem sido buscado desde a década de 1.980. Não se tem ainda uma visão consoli-
dada, existindo interpretações diversas, das quais as mais disseminadas são aqui
resumidas.
Primeiramente, considerou-se a distribuição dos sismos naturais em relação
a entidades geotectônicas neoproterozoicas no Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste
(Berrocal et al. 1984), que seriam as áreas dos cinturões orogênicos brasilianos
(sistemas orogênicos Borborema, Tocantins e Mantiqueira da Fig. 104) as zonas
de fraqueza crustal mais suscetíveis a alívios de tensão. Embora concentrações
maiores de eventos nelas ocorram, elas se limitam a porções delas, de modo que
a relação não é tão estreita, como se observa na Fig. 143.
Cabe destacar que o entendimento de fraqueza crustal não se restringe a
falhas e fraturas individuais, mas abrange uma variedade de feições estruturais e
tectônicas de escalas local (zonas de cisalhamento dúctil, sistemas de falhas, in-
terseções de falhas, famílias de juntas, anisotropias, bordas de intrusões máficas,
e outras) e regional (grandes sistemas de falha na crosta continental, zonas trans-
formantes na crosta oceânica, falhas de riftes e suturas, zonas de carga e descarga,
anomalias termais, e outras), como apontado por Sykes (1978).
Essas zonas de fraqueza sofreram reativações posteriores e, destaque-se, ao
longo de algumas feições no Brasil e em muitas regiões do mundo, observam-se
epicentros em agrupamentos junto a ou ao longo de falhas, zonas de cisalhamen-
to ou lineamentos, mas a coincidência não pode ser considerada liminarmente
como indicativa de relação de causa e efeito. Tal correlação não tem sido confir-
mada na maior parte dos casos, devendo ser investigada, como reconhecido no
Lineamento de Pernambuco e apenas em trecho de sua porção oriental.
Posteriormente, a atividade neotectônica passou a ser relacionada com des-
locamentos intraplaca induzidos rotação da Placa Sul-Americana, com afasta-
mento a partir da Dorsal Meso-Atlântica a leste e interação da Placa de Nazca
com a América do Sul a oeste, alguns tendo incluído ainda influência da Placa
do Caribe. Essa atividade gerou movimentos horizontais e verticais e influiu na
morfogênese e sedimentação. A movimentação teria se dado por fases, mas não
há consenso sobre o número delas.
Numa interpretação apresentada, a rotação da placa seria capaz de indu-
zir esforços de regime transcorrente com s1 atuando com direção em torno
de NW. A atuação desse regime tectônico admite redistribuição de tensões, de
modo a haver domínios regionais transpressivos, transtensivos e transcorrentes,
com eixos de tensão reorientados. Em outros termos, o regime tem partições em

264 geologia estrutural aplicada


domínios regionais da deformação (Hasui 1990; Costa et al. 1996; Gontijo 1999;
Santos 1999; Hasui et al. 1999b, 2000; Morales et al. 2001, e outros). A partição é
esperável quando a movimentação de falhas se deu sobretudo aproveitando des-
continuidades ou anisotropias preexistentes e desenvolvendo-se com tipologias
diversas dependentes das orientações variadas dessas linhas de fraqueza (tectô-
nica ressurgente, Hasui 1990).
No Nordeste foram reconhecidos dois eventos tectônicos transcorrentes
destrais: o primeiro do Neógeno, com s1 ou SHmax em torno de NE, e o segundo
que atua desde o Plioceno, com s1 ou SHmax variando de NW na parte oeste da
Bacia Potiguar e s1 EW nas partes central e leste, variação esta que acompanha
aproximadamente a direção da costa (Assumpção 1992; Coriolano et al. 1999;
Dantas et al. 1999; Sá et al. 1999; Bezerra 1998, 1999, 2000;Bezerra & Vita Finzi
2000; Costa et al. 2002; Sousa et al. 2005, 2014; Nogueira et al. 2006, 2010; Bezer-
ra et al. 2001, 2007, 2008, 2011; Ferreira et al. 1998, 2008; Nogueira 2008; Lima
2011; Maia & Bezerra 2012; Reis et al. 2013; Rossetti & Santos 2004; Rossetti
2006; Nogueira et al. 2010).
Lima (2000, 2003) considerou que, em resposta à compressão atuante na
intraplaca, a litosfera como um todo, ou só a crosta quando o gradiente termal
for suficientemente elevado, tende a se dobrar e fraturar. Esses processos estariam
ocorrendo desde o Cretáceo Superior. Grandes sinformas formaram depocentros
e acolheram sedimentos, a exemplo da Bacia do Paraná, e antiformas teriam ápi-
ces abatidos formando depressões, como as bacias do Pantanal Matogrossense e
do Bananal. A este último caso se relacionariam também a serrania costeira do
Sudeste, a bacia do Solimões e outra depressão na região de Oriximiná-Parintins
(PA). A compressão neógena também teria afetado as bacias marginais do Sudes-
te, com dobramento e empurrão.
Em outra interpretação, considerou-se que quatro eventos se sucederam no
Neógeno-Quaternário no Sudeste: um transcorrente sinistral com s1 NE, outro
transcorrente destral com s1 NW, um distensivo com s3 NW a WNW e um com-
pressivo com s1 EW, cada um representado por um tipo de falhas (Riccomini
1989, 2008; Salvador 1994; Mello 1997; Hiruma 1999; Ferrari 2001; Fernandes
& Mello 2004, e outros). Esses regimes de tensão teriam se sucedido no Sudeste.
Essa variação das tensões seriam devidas ao balanço das forças ligadas aos pro-
cessos de afastamento da Placa Sul-Americana a partir da Dorsal Meso-Atlântica
(ridge-push) e à subducção da Placa de Nazca sob a América do Sul (slab-pull) –
com o predomínio dos primeiros incidiria transcorrência sinistral e compressão
(transpressão), com o predomínio dos segundos ocorreria transcorrência destral
e distensão (transtensão) (Riccomini et al. 2004). Essa oscilação é de difícil expli-
cação, como destacaram Assumpção et al. (1997).

parte 1 – neogeno-quaternário do brasil 265


Mais recentemente, tem-se mostrado um quadro de vários eventos no sul
do Estado de São Paulo e no leste do Paraná, mas com sucessão de regimes e
orientações distintos desses citados e ainda não explicados (Morales et al. 2014).
O entendimento externado por Saadi (1993) e Saadi et al. (2005) é de que
o território está compartimentado em grandes blocos crustais neotectônicos, se-
parados por nove descontinuidades crustais de direções NE, NW e EW, as quais
corresponderiam a geossuturas do embasamento pré-cambriano reativadas e es-
tariam marcadas por dados geofísicos e sismicidade (Fig. 154). O regime tectôni-
co seria transcorrente EW destral.

Figura 154. Compartimentação neotectônica do Brasil em blocos. Descontinuidades limítrofes


de blocos – 1: Margem Direita Amazonense, 2: Tocantins-Araguaia, 3: Dois Brasis, 4: Lineamento
de Pernambuco, 5: Minas-Alagoas, 6: Alto São Francisco, 7: Alto Rio Grande, 8: Paraíba do Sul 9:
Médio-Alto Paraná.

Esses blocos seriam em parte ascensionais e em parte subsidentes. No Ce-


nozóico, a região costeira do Sudeste e Sul teria sido soerguida com bascula-
mento de blocos para oeste e noroeste e abatimento de outros na plataforma, e
o Nordeste elevou-se em domo relacionado com transpressão ligada a cisalha-
mentos destrais.
Riftes e bacias sedimentares estariam relacionados com as várias descon-
tinuidades, em parte submetidos à inversão por compressão mais nova. Elas
também controlariam os traços maiores do relevo e da drenagem, bem como a

266 geologia estrutural aplicada


divisão e orientação das bacias hidrográficas, interpretação morfotectônica essa
que poderia ser confirmada por dados gravimétricos.
No oeste da Amazônia ter-se-iam desenvolvido falhas inversas cegas, indu-
zidas pela orogenia andina. Dados geológicos e sismológicos indicariam tensão
compressiva horizontal em torno de NW no Norte, Nordeste e Sudeste.
Esse quadro foi apresentado em caráter preliminar. As geossuturas traça-
das não estão identificadas no terreno e nem caracterizadas por dados geofísi-
cos, exceto a Paraguai-Araguaia (2). Também, essas descontinuidades limítrofes
de blocos não são marcadas pelas falhas quaternárias, que foram apontadas por
Saadi et al. (2002).
A propósito destas falhas, cabe mencionar o mapa de falhas e lineamentos
quaternários do Brasil em 1:6.000.000 (Fig. 155), elaborado pelo projeto Major
Active Faults of the World (Task Group II-2, International Lithosphere Program),
em que foram representadas 48 “zonas de falhas e descontinuidades crustais”
(Saadi et al. 2002).

Figura 155. Mapa de zonas de falhas e descontinuidades crustais quaternários. Foram indicadas
48 feições. Cf. Saadi et al. (2002), simplificado.

A dificuldade de distinguir falhas quaternárias regionais foram enormes, e


continuam sendo, e essas feições, a rigor, correspondem a lineamentos e feixes

parte 1 – neogeno-quaternário do brasil 267


de lineamentos que ainda requerem dados para as qualificações como extensas
falhas. Uma parte das estruturas indicadas passa por falhas com atuação quater-
nária (como Rio Negro, Barcelos, Rio Araçuaí, Baixo Tapajós, Afonso Bezerra,
Potengi e Pernambuco), mas a maioria tem problemas, como: traçado diferindo
daquele mapeado (p.ex., Batã-Cruzeiro), falhas indicadas por sismos e sem ex-
pressão em superfície (caso da Samambaia) ou com plano focal distinto daquele
representado (ex.: Manga), descontinuidades crustais carecendo de fundamen-
tação (Alto Rio Grande, Alto Rio São Francisco, Rio Paraíba do Sul), falhas com
falta de caracterização como quaternárias (Macapá, Baixo Xingu, Sobral-Pedro
II, Jaguaribe, Patos, Propriá, Maragogipe, Serra Jácobina, Porangatu, Serra do Es-
trondo, Cubatão, Pelotas, Guapiara e outras).
A quantificação da extensão e rejeito em geral não se encontram defini-
dos, assim como a idade de movimentação e de reativações. Assim, não se pode
avançar na qualificação como ativa (quando se moveu uma ou mais vezes nos
últimos 10.000 anos, ou apresenta evidências de atividade sísmica nesse tempo e
potencial para se mover novamente no futuro) ou como capaz (que se movimen-
tou ao menos uma vez nos últimos 35.000 anos ou teve movimentos recorrentes
nos últimos 500.000 anos). O mesmo vale para a qualificação como quaternária
(reconhecida em superfície e com evidências de ter se movimentado no Quater-
nário, 1,6-0 Ma).
A definição de um quadro regional da Neotectônica requer mais dados nas
várias frentes de investigação que têm sido contempladas, e outros tipos de infor-
mação deverão ser acrescidos.

AGRADECIMENTOS

O item “4. A Quarta Etapa: Neógeno-Quaternário” resultou de investigação


realizada pelo Projeto “Mapa Neotectônico do Brasil: caracterização da defor-
mação neotectônica do território brasileiro” dentro do Termo de Cooperação
0050.0070800.11.9 entre a Petróleo Brasileiro S.A. e a Universidade Estadual
Paulista executado em 2011-2014. O autor agradece aos colegas Mônica Alves
Pequeno e Marco Antonio Toaldo Romeiro, Gerentes de Geologia Estrutural e
Geotectônica do Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo A. Miguez
de Mello, e Norberto Morales, Coordenador do projeto, pela autorização para
divulgar esses resultados.

268 geologia estrutural aplicada


parte
2
EXEMPLOS DE CASOS
O REGIME DE TENSÃO DO
MACIÇO ROCHOSO DA UHE
SERRA DA MESA, RIO TOCANTINS (GO)
Yo c iteru H asu i 1
Fáb io S oares M agalhães 2
Jo sé Augu sto Mioto 3
João Lu iz Armelin 4

1 INTRODUÇÃO
A UHE Serra da Mesa localiza-se no rio Tocantins, na borda sul do corpo
granito-gnáissico do domo de Serra da Mesa (Fig. 1).
No maciço rochoso ali exposto foi realizada em 1988 a análise das suas di-
versas feições estruturais, indicativas da evolução tectônica da área, procurando
definir o regime de tensão atual por análise de falhas.
Pelo menos duas avaliações sismotectônicas foram realizadas na região nes-
ta segunda metade dos anos 80 e seus dados foram explorados no sentido de ob-
ter a indicação do regime de tensão. Também, medidas de tensão in situ, através
do método do fraturamento hidráulico, foram realizadas em 1988 pelo Prof. Dr.
B.C. Haimson, da Universidade de Wisconsin-Madison (EUA).
Este trabalho consubstancia a abordagem geológica e compara os resulta-
dos com aqueles indicados pela Sismologia e determinações de tensões in situ.
Como resultado destes estudos foram reconhecidos os regimes anteriores e atual

1
  Universidade Estadual Paulista – UNESP/Campus de Rio Claro. Ex-Geólogo do Instituto de Pes-
quisas Tecnológicas do Estado de São Paulo.
2
  WALM Engenharia e Tecnologia Ambiental Ltda. Ex-Geólogo do Instituto de Pesquisas Tecno-
lógicas do Estado de São Paulo.
3
  Itapura Engenharia Geologia e Meio Ambiente Ltda. Ex-Geólogo do Instituto de Pesquisas Tec-
nológicas do Estado de São Paulo.
4
  Eletrobras Furnas.

271
de esforços na área, e, pela quantificação das tensões, foram adequadamente pro-
jetadas as escavações do circuito hidráulico de geração em rocha.

49°W
Porangatu

Rio Toc
Mina de
Cana Brava

antins
Minaçu
Formoso

Santa Tereza
de Goiás
Campinaçu

UHE
Serra da Mesa

14°S
Mara Rosa

Reservatório
Campinorte

Niquelândia
Uruaçu

N
lia
-Br 3
así
lém 15
Be BR-

s
ma
l
aA

30 km
d
Rio

Barro Alto 15°S

Figura 1. Localização da Usina Hidrelétrica Serra da Mesa e área aproximada do seu reservatório.

2 GEOLOGIA DA ÁREA
2.1 Estruturas mais antigas

A Fig. 2 mostra o quadro geológico regional da área da barragem e do reser-


vatório previsto. A barragem situa-se no contexto do corpo granitoide da Serra
da Mesa do Paleoproterozoico, na Faixa Orogênica Brasília, do Neoproterozoico.
Fig 1
sexta-feira, 2 de agosto de 2019 14:23:56

272 geologia estrutural aplicada


Figura 2. Mapa geológico da região da usina e dos reservatório.

As rochas aflorantes e detectadas em sondagens são gnaisses graníticos, de


cor rósea a avermelhada e granulação média a grossa. A gnaissosidade é a feição
estrutural mais antiga que se observa. Ela é onipresente, apresentando-se desde
pouco saliente até chegando a configurar uma laminação. Onde mais pronuncia-
da, observa-se que seu desenvolvimento envolveu:
• achatamento, a que se deve a foliação S1;
• estiramento, com desenvolvimento de uma Iineação de estiramento L1;
• rotação, marcada por feldspatos sigmoidais;
• cominuição, chegando a granulação a ser muito fina; e
• recristalização metamórfica síncrona, de fácies anfibolito.

A montante do eixo da barragem, os referidos gnaisses cedem lugar para


gnaisses ocelares, fortemente laminados, quartzitos placosos e xistos miloníticos,
que se entremeiam em decorrência de imbricação tectônica. Os contatos entre
os diversos litotipos são concordantes entre si e paralelos à foliação, esta definida
por gnaissosidade, xistosidade e bandamento composicional paralelizados.
A foliação configura a estrutura dômica da Serra da Mesa, que tem exposto
em seu núcleo desventrado os referidos gnaisses, e é envolvido por rochas da

parte 2 – exemplos de casos 273


sequência metavulcanossedimentar. Tais rochas têm sido sistematizadas em ter-
mos de uma porção inferior, a Formação Ticunzal, e outra superior, o Grupo Ser-
ra da Mesa, e uma “intrusão granítica” posterior, sem definição clara dos limites.
No local enfocado, S1 mostra atitudes variando em torno de N-135/53, isto
é, paralela à borda do domo e mergulhando para fora com ângulo médio. A li-
neação de estiramento L1, muito desenvolvida nos gnaisses ocelares e quartzitos,
tem rumo N-160 a 180 e inclinação de 50 a 60°, mergulha para fora do domo e é
oblíqua à direção da foliação. Esta relação de obliqüidade entre L1 e S1 não permi-
te relacionar estas feições com a ascensão vertical do domo, que geraria lineação
de estiramento segundo o mergulho da foliação. Duas alternativas se colocam: ou
a ascensão do domo foi oblíqua ou aquelas estruturas são anteriores à elevação do
domo. A incidência regional da foliação e da lineação permite eleger esta última
interpretação, isto é, elas são produtos de uma etapa de deformação mais antiga,
em regime não-coaxial dúctil.
Para que a foliação tenha-se deformado de modo a configurar o domo, seria
necessário que ela tivesse originalmente uma postura de baixo mergulho. Se S1
for rebatida para a horizontal, L1 dispõem-se em torno de N-150/horizontal, o
que corresponde aproximadamente à direção de movimentação das massas ro-
chosas nesta etapa mais antiga. O sentido de deslocamento foi para o lado sul, a
julgar pelos sigmoides de feldspatos.
Esta primeira etapa que se reconhece foi de abrangência regional e se re-
laciona com o processo de colisão dos blocos Porangatu e Brasília, com caval-
gamento do primeiro sobre o segundo, chegando a expor segmentos rochosos
infracrustais representados pelos maciços de Cana Brava, Niquelândia e Barro
Alto (Hasui & Haraliy 1985, Costa et al. 1987, Hasui & Mioto 1988). O proces-
so colisional foi responsável por deformação não-coaxial dúctil que afetou larga
faixa com desmembramentos e imbricações de rochas, desenvolvimento da folia-
ção, milonitização e recristalização metamórfica.

2.2 Estrutura dômica de Serra da Mesa

O domo de Serra da Mesa é uma dentre as várias feições dômicas conheci-


das na região norte de Goiás. Tais feições têm formas alongadas com variadas re-
lações eixo maior/eixo menor, e eixos retilíneos ou curvilíneos, com orientações
diversas; o de Serra da Mesa apresenta forma amendoada, tendo eixo encurvado
com a convexidade voltada para NW. A erosão expôs gnaisses granitoides dos
núcleos destas estruturas, que levaram a considerá-las como domos gnáissicos,
interpretação que é mais consistente do que aquela admitida por muitos, de sim-
ples abóbadas de intrusões graníticas.

274 geologia estrutural aplicada


Estes domos gnáissicos representam uma segunda etapa de deformação,
afetando a foliação S1 preexistente.
A gênese deste tipo de feição é controversa, mas envolve sempre a ascensão
de massas plásticas ou magmáticas (no caso, não aflorantes), cuja formação pode
ser relacionada com a primeira etapa de deformação referida.

2.3 Zonas de cisalhamento dúctil de alto


mergulho

Em toda área investigada aparecem zonas de cisalhamento (ZCs) dúctil de


alto mergulho, marcadas pela cominuição das rochas, desenvolvimento de fo-
liação milonítica (S2) e de nova lineação de estiramento (L2), além de dobras de
arrasto decorrente de deslocamentos dos blocos laterais. Tais zonas envolveram
temperaturas de condições ainda de fácies anfibolito, a que se relaciona a recris-
talização síncrona e a mobilização de materiais que originaram veios de quartzo,
quartzo com feldspatos e pegmatito granítico dentro das ZCs. Os restitos rema-
nescentes da extração destes mobilizados são biotititos, que chegam a formar
faixas de espessuras até decimétricas.
As medidas de orientações destas ZCs (Fig. 3) mostram sensíveis variações
de direção e mergulho, mas três famílias são claramente reconhecíveis, todas de
alto mergulho, com atitudes em torno de N-315/80 (família 1), N-290/85 (família
2) e N-250/70 (família 3).

Figura 3. Zonas de cisalhamento de alto mergulho.

Na área da usina geradora subterrânea, a família 1, de atitude N-315/80, é a


principal. As ZCs chegam a alcançar 20-30 m de extensão e 3-4 m de espessura;
distribuem-se com espaçamentos da ordem de 5 m, separando porções tabulares
(“fatias”) de gnaisses. A família 2, de atitude N-290/85, é a de maior freqüência,

parte 2 – exemplos de casos 275


aparecendo com espaçamentos de 1-2 m, extensões de 1-10 m e espessuras de até
1-2 m. A família 3, de orientação N-250/70, é pouco expressiva, suas ZCs tendo
extensões de alguns metros de espessuras centimétricas.
A Fig. 4 é o mapa de um afloramento que mostra o padrão geométrico.

Figura 4. Descontinuidades geológicas em parte da área da usina geradora.

No restante da área de estudo, as mesmas famílias estão presentes, em pa-


drão semelhante, ou diferindo apenas no que tange à expressão relativa das famí-
lias. Observa-se que estas ZCs são de tipo normal, atestado pelos arrastos e pela
lineação L2. A lineação tem mergulhos de 40 a 80° e disposição oblíqua nas ZCs, o
que significa que estas têm componentes direcionais de rejeito. Tais componentes
são sinistrais na família 1, destrais na família 2 e sinistrais na família 3.
Associam-se à rede de ZCs em pauta famílias de juntas de altos mergulhos,
com direções em torno de WNW, NNW, NNE e ENE. Estas famílias não são
todas onipresentes, em cada local aparecendo uma a três delas. Os espaçamentos
são variáveis, sempre maiores que alguns metros, e a persistência chega a alcançar
duas dezenas de metros, caracterizando-se um maciço pouco fraturado.
O padrão geométrico que se delineia envolve as ZCs maiores, da fami-
lia 1, que separam porções tabulares do maciço, representando a manifestação

276 geologia estrutural aplicada


principal aos esforços que sobre ele atuaram. As outras ZCs e juntas que separam
segmentos menores destas porções tabulares, indicam respostas aos esforços indu-
zidos no interior de cada “fatia” pelos deslocamentos ao longo das ZCs da família 1.
É fácil ver que, sendo sinistral a movimentação das ZCs da família 1, as
“fatias” ficam sujeitas à ação de um binário destral, tendendo a rotacionar no
sentido horário. Uma esfera de referência é transformada em um elipsoide, o qual
se torna cada vez mais estirado e achatado à medida que aumenta a deformação, e
é rotacionado, tendendo a paralelizá-lo com as ZCs, isto é, os seus eixos X, Y e Z,
que correspondem aos eixos de tensão a3, a2 e a1, respectivamente, e que sofrem
rotação com a deformação progressiva.
As reconstituições consideram sempre a deformação finita, ou seja, o está-
gio final deste processo.
A Fig. 5 esquematiza a orientação de R (plano de cisalhamento de Riedel),
R’ (conjugado de Riedel), T e T’ (planos de partição, o primeiro desenvolvido
pelo regime de tensão e o segundo por relaxamento das tensões) que podem se
desenvolver no interior da “fatia” delimitada por ZCs de direção NE e sinistrais.
Os planos R e R’ correspondem às ZCs das famílias 2 e 3. As juntas referidas são
compatíveis com este esquema: as NNE e WNW correspondem a planos de par-
tição e as NNW e ENE aos planos de Riedel conjugados (R e R’). É preciso ressal-
var que as ZCs da família 1 são do tipo normal, com componente direcional de
rejeito, de modo que o esquema da Fig. 5 deve ser colocado no plano que contém
L2 e perpendicular à ZC, para que se possa visualizar a situação na área.

Figura 5. Esquema das descontinuidades e orientações dos eixos s1s2s3.

parte 2 – exemplos de casos 277


As ZCs da família 1 configuram um quadro de deslocamentos em planos
paralelos, sem desenvolvimento de outros conjugados. Elas são entendidas como
produtos da ação de binário, que pode ser aquele induzido na zona de borda do
domo quando de sua ascensão ou arrefecimento, isto é, representam manifesta-
ções de um estádio de processo de formação do domo.

2.4 Falhas

Ao longo do maciço aparecem falhas, consistindo de superfícies simples de


atrito, com rejeitos centimétricos. Os movimentos relativos foram variados, mas
predominam aqueles sinistrais ou com componente de rejeito direcional sinistral.
A Fig. 6A é o estereograma de 61 medidas de falhas, mostrando as famílias com
atitudes médias N-284/87 e N-347/68. Estas famílias são semelhantes em atitudes
àquelas das ZCs 1 e 2 referidas. Mostra também as estrias de atrito correspondentes
(Fig. 6B), evidenciando a predominância de baixo mergulho. Assim, embora os pla-
nos possam ser paralelos às ZCs ou mesmo coincidir com elas, o tipo de movimento
é diferente, mostrando que as falhas decorreram de outro regime de tensão.

Figura 6. Planos de falhas (a) e estrias das falhas (b).

2.5 Regime de tensão do último evento


geológico reconhecido

O último evento geológico reconhecido na área acha-se registrado pelas fa-


lhas citadas. A análise cinemática da deformação a que elas se relacionam foi rea-
lizada pela técnica de Arthaud. A Fig. 7 corresponde aos planos de movimentos
das falhas. Nela se vê uma guirlanda com um máximo de polos, que correspon-
dem a um plano principal e um eixo cinemático; com estes elementos, pode-se
deduzir os dois outros planos principais e eixos cinemáticos. Os eixos têm atitu-
des N-123/10, N-6/68 e N-216/20.

278 geologia estrutural aplicada


Figura 7. Planos de movimento e eixos XYZ.

A qualificação dos eixos pode ser feita considerando o caráter transcorren-


te sinistral das falhas, que implica: X = N-216/20 = eixo de maior estiramento
(aproximadamente NE-SW); Y = N-6/68 = eixo intermediário (de alto mergu-
lho); e Z = N-123/10 = eixo de maior encurtamento (aproximadamente NW-SE).
Tais eixos são mostrados na Fig. 7 e correspondem, respectivamente, a σ3, σ2 e σ1.
A assimetria do padrão geométrico das falhas, patente na Fig. 6, pode ser
entendida em termos de deformação não-coaxial e relacionada a um binário de
esforços.
Este regime de tensões foi o último a deixar registros geológicos na área in-
vestigada. Sua idade não é conhecida, podendo tanto remontar ao Proterozoico,
como se ligar a eventos fanerozóicos.

3 INFORMAÇÃO SISMOTECTÔNICA
A tectônica moderna está ainda mal caracterizada na região, mas considera-se
que ela tem relação com o movimento da Placa Sul-Americana que se desloca
para W. As tensões intraplaca induzidas pelas bordas leste (de acreção em zona de
dorsal mesoceânica) e oeste (de consumo em zona de fossa) envolvem compres-
são principal horizontal geral segundo NW. Sendo o deslocamento rotacional, o
outro eixo horizontal é o da tensão principal menor, e o vertical é o intermediá-
rio, indicando regime transcorrente. É provável que as manifestações ou alívios
destas tensões sejam díspares em função das anisotropias presentes.
As ocorrências de sismos da região central da Goiás e sul de Tocantins fo-
ram sintetizadas e interpretadas por Hasul & Mioto (1988). A listagem inclui
mais de 30 eventos, com seus epicentros dispostos ao longo de uma faixa orien-
tada segundo NE-SW, estendendo-se por quase 700 km, entre Juçara (GO) e Na-
tividade (TO), conforme indicado na Fig. 8.

parte 2 – exemplos de casos 279


Figura 8. A zona sismogênica de Porangatu.

Esta zona de instabilidade foi designada Zona Sismogênica de Porangatu.


Os limites SE e NW dela correspondem, grosso modo, aos cinturões de alto grau
de Goiás (representado pelos maciços Cana Brava, Niquelândia e Barro Alto) e
Médio Tocantins (representado pelo Complexo Porangatu); estes cinturões fo-
ram palcos de deslocamentos transcorrentes, sendo os feixes das zonas de cisa-
lhamento designados lineamentos Transbrasilíano e Serra Grande.
Assim, a zona sismogênica coincide com o bloco crustal Porangatu, estrutu-
rado segundo um pop-up e também com a área entre os dois lineamentos (Costa
et al. 1987, Hasui & Mioto 1988).
A profundidade destes sismos não foi estabelecida, mas devem ser muito ra-
sos (menos de 15-20 km). Eles caracterizam-se por ser de baixo nível, possuírem
intensidades inferiores a VI MM e magnitudes mb inferiores a 3,7. A incidência
de sismos dá-se, genericamente desde 1.970, por um evento a cada 2 anos, com

280 geologia estrutural aplicada


magnitudes de 3,5 – 3,7 ao longo da faixa entre os dois cinturões de cisalhamento
paralelos (Transbrasilíano a NW e Serra Grande a SE).
Também não se têm soluções de planos nodais e mecanismos focais destes
sismos, não se sabendo dos regimes de tensão aliviados. Considerando a com-
pressão NW-SE, imposta pelo deslocamento da Placa Sul-Americana para W,
pode-se considerar a1 horizontal com esta direção; quanto aos outros dois eixos
de tensão, nada se pode avançar.

4 REGIME DE TENSÃO OBTIDO POR


FRATURAMENTO HIDRÁULICO

O método do fraturamento hidráulico de determinação de tensões in situ


em profundidade, através de furos de sondagem, baseia-se na concentração de
tensões no maciço, ao redor de um trecho de paredes do furo, isolado por ob-
turadores, até a ruptura da rocha. A pressão é imposta através de fluido (água)
injetado neste trecho e, quando a sua pressão é aumentada o suficiente para
ultrapassar a tensão mínima da parede do furo e a sua resistência à tração, dá-se
a ruptura em posição normal ao eixo de tensão mínima do maciço. A direção
de um eixo de tensão principal é considerada como perpendicular ao plano de
ruptura e os outros dois são perpendiculares a ele; estes são determinados por
formulações matemáticas.
A preocupação com o conhecimento das tensões atuantes no maciço rocho-
so prendia-se às dimensões incomuns das escavações da usina, a proximidade
das mesmas e, principalmente, pela necessidade de se verificar a adequação da
disposição das escavações perante o estado de tensão presente.
O método foi aplicado nos furos de sondagens SR-63 e SR-65, ambos pró-
ximos ao local de escavação da casa de força e a chaminé de equilíbrio. Os
gnaisses graníticos de Serra da Mesa, pouco fraturados, foram admitidos como
linearmente elásticos; além disso, não ocorria lençol freático nos furos utiliza-
dos para os testes.
No primeiro ciclo do ensaio, a pressão é elevada até um valor corresponden-
te ao início da fratura, designada pressão crítica ou pressão de pico Pc. Atingido
este valor, ela é diminuída e estabilizada a um nível inferior, a partir do qual nova-
mente se processa a elevação da pressão, até que se atinja a pressão de reabertura
da fratura Pr, de valor inferior a Pc. Pr corresponde à pressão na qual a fratura
experimenta uma propagação. Com o desligamento do sistema de pressurização,
atinge-se um nível de pressão correspondente ao fechamento da fratura induzida.

parte 2 – exemplos de casos 281


Esta pressão é denominada pressão de fechamento Ps e corresponde ao valor da
menor tensão horizontal.
As fraturas assim induzidas dispõem-se verticalmente, podendo ser detec-
tadas por obturadores de impressão, câmaras de televisão etc., sendo associadas
a planos verticais orientados.
As direções destes planos definem as direções das tensões horizontais máxi-
mas. A tensão horizontal mínima sh é dada por: sh = Ps. Para a obtenção da ten-
são horizontal máxima σH deve-se utilizar a solução de Kirsch para o problema
da distribuição de tensões em torno de furos circulares (Haimson 1978):

sH =T + 3sh – Pc – Po,

onde T é a resistência à tração da rocha intacta e


Po é a poropressão na profundidade de ensaio.

A pressão de reabertura da fratura pode ser expressa sob a forma:


Pr = Pc – T, o que fornece

sH = 3sh – Pr.

A tensão vertical sv é dada por:

sv = D x H,

onde D é a densidade da rocha (densidade seca no caso de Serra da Mesa, expressa em kg/cm3/m)
e H é a profundidade do trecho de ensaio, em metros.

As 20 determinações efetuadas conduziram aos seguintes valores médios en-


tre as elevações 310-410 m (observar a Fig. 9 para localização do nível de ensaio):
sv = (0,0265 x H) MPa (2,38 MPa a 90 m de profundidade);
sh = 9,5 (± 1,0) MPa; e
sH = 15,5 (± 3,0) MPa.

A direção média da tensão horizontal máxima apresenta alguma variação


quando se comparam as médias obtidas nos dois furos de sondagem ensaiados:
SR-63: N-320 (±10),
SR-65: N-345 (±10).

282 geologia estrutural aplicada


Figura 9. Circuito hidráulico de geração escavado em rocha, mostrando as seções de poços de
ventilação e barramentos na direção do esforço compressivo suborizontal de direção NW.

O estado de tensão existente no maciço rochoso é, portanto, do tipo com-


pressivo, definido com:
s1 horizontal, orientado em torno de NW;
s2 horizontal, atuando na direção de NE; e
s3 vertical, cerca de 5 a 8 vezes menor do que s1.

Apesar da pequena profundidade dos ensaios (cerca de 150 m), tornando-os


mais suscetíveis às distorções decorrentes da modelagem do terreno, os resulta-
dos obtidos apresentaram grande consistência numérica e foram levados para as
seguintes considerações, ainda em nível de projeto:
1) a direção de s1 coincide praticamente com a direção das dimensões
maiores tanto da casa de força quanto da chaminé de equilíbrio. Tal
fato, associado à magnitude e orientação de s2, à baixa relação s1/s2 e
à forma retangular alongada das cavidades, favorece uma distribuição
aproximadamente igual das tensões tangenciais ao redor das escava-
ções, excluindo-se, é óbvio, os cantos das mesmas;

parte 2 – exemplos de casos 283


2) o conhecimento da relação s1/s2 e da orientação das tensões horizon-
tais permitiu a modificação da seção transversal do poço de circula-
ção, que de circular passou a eclíptica, com os semi-eixos orientados
segundo s1 e s2 e mantendo a mesma relação, o que possibilitou a ob-
tenção de uma melhor distribuição das tensões tangenciais ao redor do
poço (Fig. 9); e
3) a determinação das tensões propiciou a utilização de valores realistas
como dados de entrada nos modelos matemáticos disponíveis, pos-
sibilitando a visualização de situações especificas que foram seguidas
pelas soluções mais adequadas a cada caso.

5 COMPARAÇÃO DAS INFORMAÇÕES


A abordagem geológica permitiu esboçar o quadro de evolução geológica e
tectônica da área, que se pode assim resumir:
1) numa primeira etapa de deformação durante a colisão dos blocos Po-
rangatu e Brasília, desenvolveram-se a foliação S1, a lineação de estira-
mento L1 e outras feições estruturais em condições de fácies anfibolito,
acompanhadas de recristalização;
2) numa segunda etapa, que se presume tardia neste evento colisional,
deu-se a formação da estrutura dômica de Serra da Mesa e outras se-
melhantes da região, afetando as estruturas acima referidas;
3) numa terceira etapa, desenvolveram-se zonas de cisalhamento nor-
mais, com movimentos oblíquos, ainda em regime dúctil e sob condi-
ções de fácies anfibolito. Aparentemente, esta etapa se relaciona com a
ascensão ou com o arrefecimento dômico.

Estas três etapas podem, então, ser associadas a um só evento tectônico, de


idade desconhecida. Posteriormente, em época definida (mas que pode ser inclu-
sive a da época do deslocamento da Placa Sul-Americana), desenvolveram-se, em
regime rúptil, falhas ao longo do maciço, aproveitando anisotropias preexistentes.
Deste quadro evolutivo, importa aqui o último evento. O sistema de eixos
de tensão deduzido tem s1 NW/suborizontal, s2 de alto mergulho e s3 segundo
NE/suborizontal, próprio de regime transcorrente.
O regime de tensão que se deduz por análise de falhas diz respeito ao último
evento tectônico com registros; este é aquele que poderia estar ainda presente no
maciço. O problema que se apresenta é o da idade deste evento: outros eventos
mais jovens podem ter acontecido, sem deixar registros geológicos, de modo que

284 geologia estrutural aplicada


ele não é necessariamente o último a atuar na área. A indefinição da idade torna
incerto afiançar a presença atual desse regime no maciço.
Outro caminho para se abordar as tensões é dado pela Sismologia, através
das soluções de planos nodais e mecanismos focais, que não foram ainda realiza-
das para a região.
A Zona Sismogênica de Porangatu corresponde a uma vasta área onde ocor-
rem alívios de tensões geradas pelo movimento da Placa Sul-Americana. Con-
quanto não se tenha definido o regime de tensão envolvido na área e não se co-
nheçam efeitos dos abalos na superfície do terreno, admite-se que s1 deva estar
orientado segundo NW, por ser esta a direção do movimento da placa e por haver
dados coerentes de outras regiões.
As medidas in situ indicaram s1 NW/horizontal, s2 NE/horizontal e s3
vertical, próprios de regime compressivo. Forneceram também os módulos das
tensões.
Vê-se que as três abordagens levam a orientações de s1 concordantes. Quanto
aos outros dois eixos, a dedução geológica e a determinação direta de tensões con-
cordam quanto às orientações, mas são discrepantes quanto à qualificação destes,
o primeiro configurando regime transcorrente e o segundo, regime compressivo.
Os estudos de Serra da Mesa constituem o exemplo brasileiro mais comple-
to de análise do quadro de tensões a partir de elementos geológicos, sismológicos
e de medidas in situ. Eles permitiram abordar os regimes anteriores e atual de
esforços existentes na área, sendo que as medidas serviram para projetar mais
seguramente as escavações do circuito hidráulico de geração em rocha.

AGRADECIMENTOS

Os Autores expressam seus agradecimentos a FURNAS – Centrais Elétricas


S.A. que possibilitou a utilização e divulgação das informações referentes às de-
terminações de tensões in situ promovidas por ela, bem como à Internacional de
Engenharia S.A. e ao Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo
S.A. (IPT), que apoiaram a realização do presente estudo.

parte 2 – exemplos de casos 285


AS DESCONTINUIDADES E
INSTABILIZAÇÕES DO MACIÇO ROCHOSO
DA UHE XINGÓ, RIO SÃO FRANCISCO (SE-AL)
Yo c ite ru H asu i 1
Fáb io S oares M agalhães 2
Luiz Alberto Minicu c ci 3

1 INTRODUÇÃO
A UHE Xingo localiza-se no rio São Francisco, na divisa entre Sergipe e Ala-
goas (Fig. 1), junto à localidade de Canindé do São Francisco.

Figura 1. Localização da barragem de Xingo.

1
  Universidade Estadual Paulista – UNESP/Campus de Rio Claro. Ex-Geólogo do Instituto de Pes-
quisas Tecnológicas do Estado de São Paulo.
2
  WALM Engenharia e Tecnologia Ambiental Ltda. Ex-Geólogo do Instituto de Pesquisas Tecno-
lógicas do Estado de São Paulo.
3
  LA Minicucci Geotecnia e Métodos Executivos Ltda.

286
Em face das instabilizações incidindo nos taludes escavados na área de de-
semboque dos túneis de desvio no início de 1988, foi realizada em março/abril
uma investigação dos padrões de descontinuidades presentes, visando contribuir
para subsidiar os trabalhos de escavação e fixação de blocos. Este trabalho apre-
senta os resultados alcançados.

2 METODOLOGIA
Para a realização do estudo, foram executados:
• uma inspeção das exposições para delineação dos procedimentos de le-
vantamento de campo;
• o levantamento de campo por setores, abordando os tipos de estruturas
de interesse;
• o tratamento dos dados coletados por setor;
• a análise dos modelos geométrico e cinemático; e
• previsão das instabilizações do maciço.

Durante a inspeção inicial, verificou-se que as rochas apresentam feições


estruturais variadas que registram uma evolução tectônica intrincada, impondo
investigação da foliação, lineação e falhas para ser definida e entendida.
Face à possibilidade de existência de variações no zoneamento de estru-
turas, o levantamento de campo foi feito em porções do maciço, indicadas na
Fig. 2, a saber:
• quatro trechos de taludes de 20 a 40 m cada na área do emboque dos tú-
neis. Eles são referidos como setores 1 a 4;
• cinco setores de taludes de 30 a 60 m cada na área de desemboque dos
túneis. Eles são referidos como setores 5 a 9;
• a área em escavação da casa de força. Ela é referida como setor 10;
• o trecho do talude da estrada de acesso ao escritório da CHESF na mar-
gem esquerda do rio. Ele é referido como setor 11;
• o trecho de 60 m do corte da estrada entre as área de emboque e a barra-
gem de enrocamento. Ele é referido como setor 12.
O tratamento dos dados foi feito com o programa TRADE (Tratamento de
Dados Estruturais), desenvolvido e implantado no IPT (Carneiro 1996).
A elaboração dos modelos geométrico e cinemático envolveu os modernos
conceitos e critérios da Geologia Estrutural, de modo a consubstanciar e explicar
os dados coletados.

parte 2 – exemplos de casos 287


Figura 2. Arranjo geral do Aproveitamento Hidráulico de Xingó, com indicação dos 12 setores de
análise estrutural. Geologia: Folha Aracaju, Carta Geológica do Brasil ao Milionésimo, CPRM (2004).

As previsões de instabilizações dizem respeito ao comportamento dos blo-


cos isolados por descontinuidades, de interesse aos túneis de desvio, e podem ser
feitas para qualquer escavação a partir do modelo geométrico.

3 CONSTITUIÇÃO LITOLÓGICA
O maciço rochoso da UHE Xingo é constituído de metabasitos e gnaisses
dioríticos, que se mostram mais ou menos migmatizados. Eles derivaram de ga-
bros e dioritos, estes intrusivos naqueles, como atestam os agmatitos, schöllen,
xenólitos e schlieren. A deformação e o metamorfismo síncrono deram-se em
condições de fácies anfibolito. A migmatização é assinalada essencialmente por
faixas quartzo-feldspáticas, pegmatíticas e graníticas, e afetadas por parte da de-
formação das referida rochas.
No entorno do maciço, afora pequena porção da Bacia do Tucano, com-
parecem outros corpos granitoides, gnáissicos, máficos e ultramáficos, além de

288 geologia estrutural aplicada


porções do Grupo Simão Dias/Miaba (Fig. 3), o conjunto integrando a Faixa
Orogênica Sergipana desenvolvida no Ciclo Brasiliano (Proterozoico Superior/
Eopaleozoico).

Figura 3. O projeto da Barragem de Xingó e setores de análise aqui considerados.

4 TIPOLOGIA ESTRUTURAL
Os tipos de estruturas essenciais do maciço são a foliação, as lineações e as
falhas.
A foliação é representada por gnaissosidade, xistosidade e foliação miloníti-
ca, todas em geral paralelizadas. Mostra ondulações relacionadas com as lentes e
budins que compõem o maciço.
O maciço apresenta feições de amendoamento, lentes e budins mais ou me-
nos alongados, mais ou menos deformados e arranjados paralelamente. Estas
lentes e amêndoas preservam as porções menos deformadas das rochas e aí a
foliação chega a ser até difícil de vislumbrar. Elas são separadas ou envolvidas por
faixas de espessuras até métricas, onde a deformação foi maior; nelas, a foliação
é proeminente.

parte 2 – exemplos de casos 289


As lineações importantes são as de estiramento e a mineral. São observa-
das nos planos de foliação, bem visíveis onde esta se mostra mais proeminente.
Os dois tio de lineação apresentam-se com disposições paralelas.
As falhas são as descontinuidades presentes por toda parte no maciço, seg-
mentando-o em blocos de dimensões variadas e permitindo instabilizações nos
taludes e aberturas subterrâneas. Associam-se-lhes películas ultracataclásticas e
estrias de atrito. Os rejeitos são centimétricos a métricos. Os deslocamentos indi-
cam tipos variados de falhas (normais, inversas/reversas e direcionais) e as estrias
dispõem-se com atitude diversa nas superfícies de movimentação.
As falhas formam famílias entrecruzadas. Falhas de uma família salientam-
-se como principais em um local; as famílias assim representadas variam de local
para local. As falhas principais têm espaçamento de alguns metros e entre elas
aparecem as demais. A continuidade das falhas principais é da ordem de algumas
dezenas de metros, seccionando até níveis inteiros dos taludes. Não foram cons-
tatadas grandes falhas ou zonas de falha seccionado a área.
Nas porções escavadas pode-se observar que foram removidas porções al-
teradas, semialteradas e sãs do maciço; estas últimas situam-se em níveis mais
profundos do maciço. Nas zonas semialteradas o grau de segmentação se mostra
mais acentuado, não porque as rochas tenham mais descontinuidades, mas sim-
plesmente pelo fato de a alteração e o fogo terem realçado planos que existem em
todo o maciço.

5 MODELO GEOMÉTRICO
A foliação e lineação de estiramento não foram enfatizadas na investigação
por não representarem feições importantes para a instabilização do maciço. Ape-
nas algumas medidas foram coletadas e se acham representadas no estereograma
da Fig. 4.
A foliação tem atitudes variando significativamente, de preferência em tor-
no de N-30-55/20-25 (direção N35-60W e baixo mergulho para NE). A dispersão
dos polos de foliação tende a delinear uma guirlanda, refletindo as ondulações
introduzidas pelo padrão amendoado. O eixo desta guirlanda praticamente coin-
cide com uma medida da lineação de estiramento, mostrando que as ondulações
refletem principalmente o maior alongamento das lentes.
Nos estereogramas das Figs. 5a-d estão representadas as falhas dos setores 1
a 4. Estes estereogramas são muito parecidos entre si no tocante às famílias pre-
dominantes e, por isto, os dados foram tratados em conjunto na Fig. 5e, de modo
a representar as falhas dos taludes da área de emboque dos túneis.

290 geologia estrutural aplicada


Figura 4. Foliação da área (A). A lineação está representada por *.
Figura 5. Falhas da área de emboque (B): setores 1 a 4 e integração desses dados.

Os estereogramas da Fig. 6a-e representam as falhas dos setores 5 a 9. Aqui


também as famílias predominantes são semelhantes e, por isto, foi elaborado o
diagrama da Fig. 6f com os dados de todos esses setores, de modo a representar
os taludes da área de desemboque dos túneis.
O estereograma da Fig. 7 representa as falhas do setor 12, isto é, do trecho
entre as áreas do emboque e do desemboque dos túneis.
A comparação das Figs. 5e, 6f e 7 indicam a presença de famílias de falhas
em comum, denunciando o mesmo padrão geométrico nas áreas do emboque,
do desemboque e entre elas, as quais, então, compõem um só domínio estrutural.
A Fig. 8 mostra o conjunto das falhas desse domínio.
Observa-se na Fig. 8 que existe forte dispersão de polos, refletido a grande va-
riação de atitudes dos planos de falha, mas as famílias predominantes definem-se
bem. São elas:
• Família 1: N-245/18 (N25W/18SW);
• Família 2: N-280/12 (N10E/12NW);
• Família 3: N-65/27 (N25W/27NE);
• Família 4: N-345/vert (N75W/vert);
• Família 5: N-296/vert (N26E/vert);
• Família 6: N-317/72 (N47E/72NW);
• Família 7: N-227/54 (N47W/54SW);
• Família 8: N-10/37 (N80W/37NE).

parte 2 – exemplos de casos 291


Figura 6. Falhas da área de desemboque: setores 5 a 9 e integração desses dados.
Figura 7. Falhas do setor 12.
Figura 8. Estereograma integrado das falhas do setores 1 a 12 do emboque e desemboque.

As duas últimas são pouco expressivas.


A Fig. 9 mostra os estereogramas de estrias e tipos de falhas das áreas de
emboque (a), desemboque (b) e entre elas (c). A Fig. 9d mostra o conjunto destas
estrias. Constata-se que:
1) as falhas são de tipos variados: inversas/reversas com deslocamentos
segundo o mergulho e oblíquo, normais com deslocamentos segundo
o mergulho e oblíquos, e transcorrentes destrais e sinistrais.
2) as estrias de falhas transcorrentes dispensam-se bastante, mas próximo
às bordas do diagrama nos quadrantes NE e SW;
4) as estrias de falhas normais e inversas/reversas também se dispersam
bastante, principalmente no quadrante NW.

Para o setor 10 (casa de força) foram elaborados os estereogramas da Fig. 10


para falhas (a) e estrias (b). Comparando as Figs. 10a e 8 nota-se que as mesmas

292 geologia estrutural aplicada


famílias estão presentes em ambos, exceto aquela orientação média N-225/69 que
comparece apenas na casa de força. Sendo poucas as estrias medidas, nada pode
ser avançado em relação a elas.
Para o setor 11 foram elaborados os estereogramas da Fig. 11 pra falhas (a)
e estrias (b). As Figs. 11a e 11b são compatíveis com as Figs. 8 e 9d, denotando a
presença do mesmo padrão de falhas e estrias na margem esquerda do rio.

Figura 9. Falhas da área de desemboque: setores 5 a 9 e integração desses dados (A).


Figura 10. Falhas (a) e estrias (b) do setor 10 (B).
Figura 11. Falhas (a) e estrias (b) do setor 11 (C).

O entrecruzamento das famílias de falhas de diferentes atitudes impõe a


segmentação do maciço em poliedros de geometria e dimensões variadas. Geo-
metricamente, aparecem blocos cuneiformes, prismáticos, piramidais e outra
formas mais complexas. As dimensões são de 2-3 dm a 5-6 m, variando de local
para local e denunciando a segmentação não-uniforme.

parte 2 – exemplos de casos 293


6 MODELO CINEMÁTICO
A etapa de movimentação tectônica mais antiga acha-se registrada na folia-
ção e na lineação de estiramento. A Fig. 4, ainda que com poucos dados, indica:
• a foliação tem atitude geral N-40/25 (N50W/25NE);
• a lineação de estiramento orienta-se praticamente segundo o mergulho;
• a guirlanda mostra ondulações que refletem o alongamento maior das
lentes e budins, cujos eixos são praticamente paralelos à lineação de es-
tiramento.

Assim, pode-se considerar que os círculos máximos traçados na Fig. 4 re-


presentam os planos principais deformação e suas interseções marcam os eixos
principais, cujas atitudes estão indicadas e são X segundo N-252/66, Y segundo
N-130/10 e Z segundo N-44/22.
Obviamente, uma tal geometria e regime de deformação implica atuação de
um binário contido em plano vertical de direção N-252, impondo escoamento
de massa de S72W para N72E, em regime de cavalgamento dúctil. As condições
de temperatura foram aquelas do metamorfismo síncrono, isto é, de fácies anfi-
bolito. Associam-se a esta etapa os mobilizados quartzo-feldspáticos, formando
corpos tabulares concordantes (menos abundantes e deformados) e discordantes
(mais abundantes, em geral indeformados). Esta dedução, para ser regionalizada,
requer dados adicionais de fora da área investigada.
As demais estruturas presentes são as falhas, que representam deformação pos-
terior. Examinando os estereogramas das falhas e das estrias é possível tecer conside-
rações cinemáticas, fazendo-se necessária a aplicação da técnica de Arthaud.
A Fig. 12 mostra os estereogramas de planos de movimento para as áreas
de emboque dos túneis, de desemboque, do setor entre o emboque e o desem-
boque (Setor 10), da casa de força (Setor 11) e da margem esquerda (Setor 12).
O estereograma do eixos de deformação diz respeito a todas as falhas, permitindo
deduzir as orientações de e1, e2 e e3.
Para o Setor 10 tem-se poucos dados e, por isto, não traz as curvas de iso-
frequência, mas os pontos nela representados são compatíveis com as guirlandas
traçadas. Os eixos cinemáticos deduzidos são e1 N-43/16, e2 N-136/10 e e3 N253/70.
Estes eixos têm praticamente as mesmas orientações de X, Y e Z da Fig. 4,
deduzidas para a primeira etapa de movimentação tectônica, o que só pode ser
interpretado como indicação de que as feições dúcteis e as rúpteis são produtos
do mesmo evento tectônico, apenas tendo desenvolvido em fases distintas, me-
diante passagem do regime dúctil para o rúptil e câmbio da posição dos eixos
cinemáticos.

294 geologia estrutural aplicada


Figura 12. Planos de movimento das áreas do emboque, desemboque, setor 1, setor 11 e setor 12.
O estereograma de eixos de deformação indica os planos de movimento de toda área e os eixos
deduzidos e1, e2 e e3.

A qualificação destes eixos é normalmente feita pelo exame dos tipos de fa-
lha. No caso presente, pela presença dominante de falhas transcorrentes pode-se
inferir que o regime tectônico foi transcorrente, de modo que o eixo intermediá-
rios (Y//s2) é aquele próximo da vertical. Não havendo um padrão de predomi-
nância dos tipos destrais e sinistrais, a correspondência dos outros dois eixos fica
indeterminada. Esse binário representa a passagem da tectônica de cavalgamento
algo oblíquo para transcorrência.
As famílias de falhas da Fig. 8 têm interseções que se situam nas vizinhanças
dos eixos e1//s1, e2//s2 e e3//s3 (Fig. 13).
Estas relações:
1) revelam que o processo de falhamento efetivamente se deu por pulsos,
de tal modo que permitiram aos eixos cinemáticos cambiarem de po-
sição, sem mudanças de atitudes, em momentos diversos da evolução;
2) permitem entender que, como fruto de tectônica tão intrincada, te-
nham se desenvolvido falhas dos mais variados tipos;
3) levam a reconhecer os eixos e1, e2 e e3 como os três eixos de anisotropia
principais do maciço. Esses eixos correspondem a direções das arestas
de cunhas e prismas principais isolados pelas falhas (Fig. 13). Estas
cunhas e prismas tendem a ser decompostas em blocos menores, de
formas geométricas mais complicadas, em função do entrecruzamento
das famílias.

parte 2 – exemplos de casos 295


7 APLICAÇÃO DO MODELO GEOMÉTRICO
Considerando o modelo geométrico das falhas antes deduzido, pode-se en-
tender as desarticulação de blocos e instabilizações observadas nos taludes das
áreas de emboque e desemboque dos túneis de desvio. Pode-se também lançar
previsões sobre o comportamento do maciço nas paredes e tetos dos túneis que
serão escavados, mediante projeções do modelo para dentro do maciço.
A Fig. 14a mostra as atitudes médias das famílias de falha deduzidas no este-
reograma da Fig. 8. As interseções indicadas representam as arestas dos prismas
separados por entrecruzamento das famílias de falhas, duas a duas. Observa-se
que um feixe de interseções mergulha para o quadrante NE e que outras interse-
ções mergulham dispersamente para outros rumos, e percebe-se que o entrecru-
zamento pode assumir configurações múltiplas; a projeção de qualquer superfí-
cie escavada ou a escavar permite inferior as instabilizações possíveis.

Figura 13. Plano de falhas correspondentes às concentrações máximas de polos da Fig. 8; planos
em azul claro 1 a 8; eixos de tensão em verde e arestas de interseção desses planos em vermelho. Os
diagramas de fundo são diagramas polares, com círculos concêntricos de mergulhos de 30, 60 e 90°
e linhas radiais de direções de 0=360, 135 e 225°.
Figura 14. Previsão de instabilizações: em (a) arestas de prismas em relação à parede P N05W/76NE
e frente F N80E/55NW do emboque; em (b) arestas de prismas em relação à parede P N30E/76NE
e frente F N70W/80SW do desemboque; em (c) arestas de prismas nos cortes dos acessos abertos
acima da área de desemboque na frente F N12W/55NW e parede P N84E/76NE. (d): arestas dos
prismas em relação às orientações dos túneis 1 NS, 2 N45W (traços em azul).

296 geologia estrutural aplicada


Na Fig. 14b estão representadas as interseções deduzidas na Fig. 14a das
paredes e frentes da escavação dos túneis do emboque. Vê-se que:
• para a frente predominam as arestas mergulhando do lado sul para o
lado norte, com mergulhos predominante médios e altos; as do lado nor-
te para o lado sul são poucas, com mergulhos variados, predominando
aquelas paralelas ou subparalelas à escavação.
• para as paredes predominam as arestas que se inclinam de leste para oes-
te, com mergulhos variados, predominantemente altos; as inclinadas de
oeste para leste são menos frequentes , poucas inclinadas com mergulhos
médios. São comuns arestas paralelas ou subparalelas.

A Fig. 14c mostra a situação da frente e paredes na área de desemboque dos


túneis de desvio, onde ocorreram as principais instabilizações. Nota-se que:
• para a frente, boa parte das arestas são paralelas ou subparalelas, mas há
parte delas que mergulham de noroeste para sudeste e pouquíssimas, de
sudeste para noroeste.
• para as paredes, algumas arestas são paralelas ou subparalelas , mas a
maioria tem mergulhos de sudoeste para nordeste e de nordeste para su-
doeste com mergulhos principalmente médios e altos.

A Fig. 14d mostra as arestas dos cortes localizados acima da área de de-
semboque dos túneis, mostrando arestas subparalelas ou oblíqua à frente, mas
mergulhando com ângulos baixos a altos de sudoeste para nordeste nas paredes.
A Fig. 14e considera as paredes verticais NS e NW e teto horizontal dos
túneis a serem escavados. Vê-se que:
• em parte as arestas são paralelas ou subparalelas aos traçados das pare-
des, mas em parte inclinam-se para dentro de ambos túneis de um lado
e outro das paredes. Estas últimas mergulhos variam de baixos a altos,
mas são destacadamente de médios de sudoeste para nordeste e princi-
palmente alto de nordeste para sudoeste.
• os tetos têm blocos de formas diversas com arestas inclinadas de baixo a
alto mergulhos, com possibilidade de instabilizações na medida em que
tem falhas entre cruzadas de diversos mergulhos.

8 CONCLUSÕES
1) O maciço foi afetado por um evento tectônico que o deformou pri-
meiramente em condições de ductilidade e depois em regime rúptil.

parte 2 – exemplos de casos 297


Sob condições dúcteis, a deformação envolveu a ação de um binário
impondo cavalgamento de WSW para ENE e gerando amendoamento,
imbricações e desenvolvimento da foliação. Em condições rúpteis, a
deformação envolveu principalmente um binário impondo transcor-
rência mediante intercâmbio dos eixos de tensão; formou-se a densa
rede de falhas observadas.
2) As falhas constituem oito famílias mostradas na Fig. 8, que se entrecru-
zam segundo retas paralelas aos eixos cinemáticos/dinâmicos, que prati-
camente correspondem às principais direções de anisotropia do maciço.
3) o modelo geométrico permite explicar as instabilizações ocorridas e
prever as possibilidades de desarticulação de blocos nos túneis a serem
escavados, como se visualiza na Fig. 14.

AGRADECIMENTOS

Os Autores expressam agradecimentos ao Consórcio CBPO/CONSTRAN/


MENDES JÚNIOR, à Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (CHESF) e ao
Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT), que possibili-
taram esta pesquisa e sua divulgação.

298 geologia estrutural aplicada


ANÁLISE ESTRUTURAL DO MACIÇO ROCHOSO
DE FUNDAÇÃO DA BARRAGEM DE PORTO
PRIMAVERA, RIO PARANÁ (SP/MS)
Fáb io S oares M agalhães 1
Jo sé D onizete M arqu es Jú nior 2
E d gard Serra Jú nior 3

1 INTRODUÇÃO
As barragem e eclusa de Porto Primavera, da Companhia Energética de São
Paulo (CESP), estão localizadas na divisa São Paulo-Mato Grosso do Sul, no rio
Paraná, a cerca de 30 km a montante da foz do rio Paranapanema (Fig. 1). A bar-
ragem é mista, de terra (aterro compactado com extensão de 10,4 km) e concreto
(tipo gravidade, com extensão de 1,1 km).
Sob as fundações de concreto foram identificados (Fig. 2):
• quatro espessos derrames de basalto (a, b, g, e d), da Formação Serra Geral;
• dezenas de microderrames de basaltos amigdaloidais/vesiculares e com-
pactos, com espessuras e continuidade lateral limitadas;
• os chamados basaltos leves, consistindo de basaltos fortemente alterados
para argilo-minerais; e
• arenitos da Formação Caiuá (Grupo Bauru).

1
  WALM Engenharia e Tecnologia Ambiental Ltda. Ex-Geólogo do Instituto de Pesquisas Tecno-
lógicas do Estado de São Paulo.
  Ex-Geólogo do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo.
2

3
  Els – Consultoria em Geologia e Engenharia Ltda. Ex-Geólogo do Instituto de Pesquisas Tecno-
lógicas do Estado de São Paulo.

299
Figura 1. Localização da barragem de Porto Primavera.

Figura 2. Seção geológica simplificada sob as estruturas de concreto, destacando os bolsões de


basalto leve.

Nas escavações não se expõem os derrames b, g e d. Nos demais litotipos


aflorantes foi realizada em 1987 (Marques et al. 1987) análise de juntas e falhas,
com o objetivo de definir os domínios estruturais e contribuir para o esclareci-
mento da origem dos basaltos leves, sobre os quais se assentarão estruturas de
concreto. Este trabalho resume os resultados obtidos.

300 geologia estrutural aplicada


2 ANÁLISE ESTRUTURAL
Na área da fundação aparecem os quatro domínios litológicos antes refe-
ridos. Para cada um deles, foram analisadas sistematicamente as juntas e falhas,
para determinação dos padrões geométrico e cinemático (Serra et al. 1986).

2.1 Derrame a

Este derrame é constituído por uma porção superior de brechas basálticas


arenosas, de natureza sedimentar, geralmente muito alteradas com espessura mé-
dia de 1,0 m. Abaixo destas brechas aparecem, por vezes, basaltos amigdaloidais,
pouco alterados, com espessuras que alcançam até 2 m. Estes passam gradualmente
para basaltos compactos, também pouco alterados, com espessura de até 30 m.
Apresenta-se relativamente pouco fraturado. As descontinuidades presentes
são diaclases, geradas por contração durante o esfriamento do derrame. Configu-
ram um padrão típico de núcleo de derrame, consistindo de superfícies subver-
ticais, descontínuas, curviplanares, conchoidais, formando estrutura colunar em
alguns locais. Quase sempre têm paredes lisas, marcando contatos rocha-rocha,
mas podem aparecer preenchidas por minerais argilosos e carbonatos.
Muitas destas diaclases acham-se estriadas, denunciando atrito de blocos
por movimentos posteriores à consolidação do basalto. Os deslocamentos em
cada descontinuidade foram discretos, de modo a configurar pequenas falhas.
Estas falhas envolveram movimentos diversos, sendo classificáveis como de re-
jeito direcional destral e sinistral, normais e inversas/reversas (estes dois últimos
tipos com deslocamentos segundo o mergulho e oblíquos).
A Fig. 3a é o estereograma das diaclases que, como os demais, foram obti-
dos com o programa TRADE (Tratamento de Dados Estruturais), desenvolvido
e implantado no IPT (Carneiro 1996). O estereograma mostra distribuição pre-
dominante de polos ao longo da borda; algumas concentrações sutis são esboça-
das, refletindo o padrão colunar. A dispersão de polos mais para o centro indica
que existem descontinuidades de mergulhos variados. Fraturas suborizontais de
grande extensão lateral (que têm sido referidas como juntas-falha) aparecem em
três horizontes. Elas estão quase sempre alteradas e preenchidas de material argi-
loso, ao longo de faixas com espessura média de 80 cm.
A Fig. 3b é o estereograma das falhas. Este mostra que as falhas se distri-
buem de modo a configurar uma concentração de polos correspondente à família
com atitude N-216/87.
A Fig. 3c é o estereograma das estrias de atrito. Elas mostram forte disper-
são, refletindo a variada tipologia das falhas, mas têm uma concentração evidente

parte 2 – exemplos de casos 301


em torno de N-282/03. Constata-se que a maioria das estrias correspondentes a
falhas de rejeito direcional sinistrais coincide com a família de falhas indicada
pela Fig. 3b. As estrias de falhas de rejeito direcional destrais concentram-se de
modo a delinear uma família conjugada de falhas, não marcada na Fig. 3b.
A configuração geral das falhas direcionais envolve uma assimetria (falhas
sinistrais N-216/87 bem marcadas, falhas destrais conjugadas não bem marca-
das), que aponta a atuação de um binário sinistral com direção em torno de E-W.
A Fig. 3d é o estereograma de planos de movimento. No estereograma a
concentração preferencial de polos se dá ao longo de duas guirlandas perpendi-
culares entre si, que se cruzam na área de maior concentração. Tais guirlandas
indicam um eixo cinemático na interseção e permitem deduzir os outros dois
eixos que configuram o sistema triaxial, mostrado na Fig. 3e.

Figura 3. Estruturas do derrame a: fraturas, falhas, estrias de falhas e eixos XYZ.

Os maciços fraturados que se deformam por ação de esforços em um even-


to, fazem-no mediante deslocamentos dos pequenos blocos unitários. Tais des-
locamentos são variados, já que dependem da atitude das descontinuidades em
relação aos eixos de tensão, mas coerentes, de vez que as acomodações consubs-
tanciam uma deformação global imposta pelo regime de tensão. Esta coerência é
refletida pela distribuição regular dos planos de movimento segundo guirlandas.
No caso presente, as duas guirlandas delineadas (Fig. 3d) refletem a movimenta-
ção dos blocos previamente segmentados, durante um evento de ação de esforços.
Considerando a predominância de falhas de rejeito direcional sinistrais,
pode-se qualificar os três eixos cinemáticos indicados na Fig. 3d como: eixo de

302 geologia estrutural aplicada


maior estiramento X, N-18/05; eixo intermediário Y, N-204/85; e eixo de maior
encurtamento Z, N-282/03. Tais eixos correspondem aos do elipsoide de defor-
mação na deformação finita e, neste estágio, confundem-se com os eixos de ten-
são: σ1 // Z, σ2 // Y, σ3 // X.

2.2 Microderrames

Os microderrames são constituídos por basaltos amigdaloidais/vesiculares,


aparecendo basaltos compactos onde eles alcançam espessuras maiores. Apresen-
tam-se pouco alterados, contrastando com seus contatos que estão sempre muito
alterados, tendo, assim, altas condutividades hidráulicas.
Eles são pouco fraturados e as descontinuidades correspondem a diaclases
formadas durante o esfriamento. As fraturas geralmente restringem-se a derra-
mes, e as principais têm pequena extensão. As superfícies das descontinuidades
são curviplanares e conchoidais.
A Fig. 4a é o estereograma das diaclases e reflete semelhança do padrão de
fraturamento com os dos basaltos do derrame a: há predomínio de descontinui-
dades subverticais, mas estão presentes aquelas inclinadas, além de aparecerem
concentrações sutis refletindo diaclasamento colunar.
A Fig. 4b corresponde às descontinuidades estriadas (falhas). Assemelha-se
à Fig. 3b quanto à atitude predominante das falhas, que aqui é N-226/80. As fa-
lhas suborizontais, que correspondem a contatos e juntas-falha movimentadas,
têm geometria diferente daquela dos basaltos do derrame a. Neste domínio tam-
bém não se define claramente uma família de falhas conjugadas.
A Fig. 4c é o estereograma das estrias de atrito. Apesar da dispersão de polos,
deIineia-se uma atitude média N-296/05. A maioria das estrias corresponde a fa-
lhas de rejeito direcional sinistrais. As estrias destrais indicam a existência de falhas
conjugadas (não marcadas na Fig. 4b), de modo semelhante ao domínio anterior.
A Fig. 4d representa os polos de planos de movimento, que delineiam uma
guirlanda com dois máximos. Estes máximos correspondem a dois eixos cinemá-
ticos, e o terceiro pode ser deduzido por construção; estes eixos são mostrados na
Fig. 4d. Na mesma linha de dedução adotada para o domínio anterior, definem-se:
eixo de maior estiramento X, N-22/00; eixo intermediário Y, N-316/87; e eixo
de maior encurtamento Z, N-292/03. Tais eixos correspondem, na deformação
finita, a σ3, σ2 e σ1, respectivamente.
A notável coincidência dos padrões de descontinuidades no derrame a e
nos microderrames mostra que estes litotipos fazem parte de um único domínio
estrutural.

parte 2 – exemplos de casos 303


Figura 4. Estruturas dos derrames: fraturas, falhas, estrias de falhas e eixos XYZ.

2.3 Basaltos Leves

Os basaltos leves constituem um litotipo particular na área e são constituídos


essencialmente de argilo-minerais expansivos (montmorillonita, paligorskita) e
carbonatos (Tressoldi et al. 1986). Ocorrem com a forma de bolsões irregulares
com espessuras de até 20 m e extensões de até 300 m, distribuídos por toda a área
de estudo; localizam-se em geral no topo da seqüência basáltica e sob os arenitos
da Formação Caiuá. O contato com os basaltos do derrame a e microderrames
normalmente é transicional; eventualmente é abrupto e, neste caso, coincide com
descontinuidades ou contatos entre microderrames.
Em corte vertical são vistas microfraturas erráticas, em grande número,
preenchidas por argila de cor branca. As fraturas têm extensões decamétricas e
apresentam baixo a médio mergulhos e entrecruzamentos. Em planta, elas mos-
tram traçados sinuosos e apreciáveis extensões. Exibem sempre estrias de atrito,
indicativas de movimentação inversa/reversa; estas estrias dispõem-se segundo o
mergulho das descontinuidades, mesmo em trechos sinuosos.
A Fig. 5a representa os polos de microfraturas (microfalhas) e a Fig. 5b, as
estrias de atrito nelas existentes; em ambas não se definem concentrações, como
reflexo da grande variação de atitudes. A Fig. 5c representa os polos dos planos
de movimento. Dispersam-se nas bordas do estereograma, indicando uma guir-
landa praticamente horizontal, com uma concentração máxima.

304 geologia estrutural aplicada


Figura 5. Estruturas dos basaltos leves: microfalhas, estrias de falhas e planos de movimento. Eixos
em vermelho para os basaltos leves indicam regime de empurrão; eixos dos derrames a e microder-
rames em azul indicam regime transcorrente.

Esta guirlanda comporta dois eixos cinemáticos quase horizontais (Fig. 5c):
um é seguramente Z (encurtamento máximo), uma vez que as falhas do tipo inver-
so/reverso denunciam encurtamento horizontal. Esse eixo tem orientação N-300/
vertical e o outro é Y com atitude N-30/horizontal. O terceiro eixo, X, é vertical. Na
Fig. 5c estão indicados em azul os eixos dos derrames a e microderrames, mos-
trando que a orientação dos eixos não são muito diferentes, mas o regime é trans-
corrente nesses derrames, enquanto para os basaltos leves é compressivo.
Um aspecto importante é o hábito acicular de carbonatos presentes em fra-
turas suborizontais, com elongação disposta subverticalmente, o que é consisten-
te com a atitude subvertical do eixo X (direção de estiramento máximo).
O regime compressivo dos basaltos leves pode ser explicado pela expansão
vertical e encurtamento horizontal das massas de basaltos leves, ou seja, pelo
escoamento para cima, em condições atectônicas.
As falhas presentes nos basaltos e microderrames não seccionam os basaltos
leves, mostrando que estes se formaram e se movimentaram depois do evento de
falhamento daqueles. Diante das alternativas de interpretação dos basaltos leves
como de origem hidrotermal ou intempérica, estas observações condizem com
a última.

2.4 Arenitos da Formação Caiuá

Os arenitos desta formação, nos locais estudados, apresentam espessuras


variáveis, alcançando o máximo de 40 m. Eles têm granulação fina a média, grãos
arredondados e subarredondados, e exibem bancos com estratificação cruzada
de grande porte e tangenciais na base. São, em geral, medianamente coerentes,
existindo porções totalmente incoerentes em bolsões de distribuição aleatória
(Maranesi 1984).

parte 2 – exemplos de casos 305


São pouco fraturados. As descontinuidades principais são subverticais; as
suborizontais são menos comuns e estão restritas a contatos entre bancos estrati-
ficados e próximos à superficie.
As descontinuidades subverticais são planares e têm grande continuidade,
atravessando todo o pacote de arenitos, indicando serem de origem tectônica.
Normalmente marcam contatos rocha-rocha, com paredes lisas, ocorrendo por
vezes preenchimento argiloso e/ou síltico-arenoso. Em parte, apresentam-se es-
triadas, indicando a incidência de deslocamentos discretos de blocos (falhas).
A Fig. 6a mostra a distribuição dos polos das descontinuidades e denuncia
a família de atitude média N-354/86. A Fig. 6b é o estereograma das falhas; estas
são essencialmente de rejeito direcional, sinistrais, e se associam àquela família
de descontinuidades. A Fig. 6c mostra a distribuição das atitudes de estrias, que
têm orientação média de N-89/36.
Apesar do pequeno número de dados de estrias de atrito (feição de difícil
detecção nos arenitos), elaborou-se o estereograma dos planos de movimento
(Fig. 6d). O estereograma apresenta apenas um máximo e a dispersão de polos
esboça uma guirlanda, que permite inferir os três eixos de deformação mostrados
na Fig. 6d. Pelo mesmo procedimento anteriormente usado, deduzem-se as ati-
tudes dos eixos cinemáticos: eixo de maior estiramento X, N-0/4N; eixo interme-
diário Y, N-260/53; e eixo de maior encurtamento Z, N-284/33. Na deformação
finita, estes eixos correspondem, respectivamente, a s3, s2 e s1.

Figura 6. Estruturas dos arenitos da Formação Caiuá: fraturas (a), falhas (b), estrias de falhas (c)
e planos de movimento (d).

O estereograma da Fig. 7 apresenta as atitudes dos sistemas de eixos cinemá-


ticos/de tensão deduzidos para os basaltos, microderrames e arenitos. Como se

306 geologia estrutural aplicada


verifica, existe notável semelhança entre eles, o que indica que as falhas presentes
em toda a área refletem movimentação decorrente de um único evento tectônico.
Os desvios de atitudes são explicáveis, por diferenças mecânicas dos Iitotipos,
do grau de fraturamento primário (diaclases nos basaltos, juntas nos arenitos) e
variação na intensidade de deformação. Esta constatação indica que tal evento foi
posterior à deposição e diagênese da Formação Caiuá e, obviamente, anterior à
formação e movimentação dos basaltos leves.

Figura 7. Eixos cinemáticos/de tensão deduzidos para os basaltos da Formação Serra Geral e are-
nitos da Formação Caiuá.

Os eixos XYZ, que correspondem s3s2s1, dos derrames, microderrames


e Formação Caiuá são semelhantes, indicando um mesmo regime tectônico do
tipo transcorrente. Nos derrames leves a direção dos eixos é similar, mas há uma
alteração de regime, que passa a compressivo, com escoamento de massas para
cima (X vertical).

3 CONCLUSÕES
1) O derrame a, os microderrames e os arenitos presentes na área estu-
dada apresentam descontinuidades primárias (diaclases nos derrames,
juntas nos arenitos), que em parte foram transformadas em falhas por
um evento tectônico.
2) As falhas são de tipos variados (de rejeito direcional, sinistrais e des-
trais; normais e inversas, com deslocamentos segundo o mergulho
e oblíquos), como esperado em maciços fraturados submetidos a
tectonismo.

parte 2 – exemplos de casos 307


3) O regime de deformação/tensão deste evento tectônico teve X ou s3
próximo de NS/horizontal, Y ou s2 próximo da vertical e Z ou s1 pró-
ximo de EW/horizontal (Fig. 7).
4) Este evento ocorreu após a sedimentação e diagênese da Formação
Caíuá, isto é, após o Cretáceo Superior. A tipologia e assimetria das
falhas principais indicam que ele decorreu de um binário destral com
direção em torno de EW, que é compatível com a rotação da Placa Sul-
-Americana na etapa de deriva, durante a abertura do Atlântico Sul.
5) Os basaltos leves formaram-se depois deste evento tectônico e são epi-
genéticos, ou seja, no Cenozóico, mas sob tensão compressiva máxima
(Z) do regime anterior ainda atuante.
6) As feições estruturais dos basaltos leves são indicativas de encurta-
mento horizontal e estiramento vertical, compatíveis com escoamento
atectônico da massa, essencialmente argilosa e expansiva, para cima.
7) Esta característica deve e foi observada no projeto de fundação das
estruturas de concreto.

AGRADECIMENTOS

Os Autores externam agradecimentos à Companhia Energética de São Pau-


lo (CESP) e ao instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo S.A.
(IPT), pelo apoio recebido, tornando possível a realização deste trabalho. Agra-
decem também ao Prof. Dr. Yociteru Hasui, pelas discussões durante o desenvol-
vimento do trabalho e pela revisão do manuscrito.

308 geologia estrutural aplicada


ANÁLISE DA DEFORMAÇÃO RÚPTIL
NA REGIÃO DA UHE MAUÁ (PR)
R amon Sade Z apata R ivas 1
E duard o Sal amu ni 2
Isab e ll a Franç oso R ebu tini Fi g u ei r a 3

1 INTRODUÇÃO
A área estudada está na zona de influência da Usina Hidrelétrica de Mauá,
no trecho médio do rio Tibagi, entre os municípios de Telêmaco Borba e Orti-
gueira no centro-norte do estado do Paraná (Fig. 1).
Ali há uma soleira de diabásio do Grupo Serra Geral intrudido em rochas
sedimentares paleozoicas da Bacia do Paraná e estudos anteriores já haviam sido
realizados nas vizinhanças da área por Rostirolla et al. (2000), Figueira (2004) e
Strugale et al. (2003, 2007) (Fig. 1).
A presente investigação geológico-estrutural objetivou o entendimento das
estruturas ali presentes. Ela envolveu a interpretação de lineamentos em imagens
de satélite e fotografias aéreas em escala regional, análise estrutural em maciços,
e o processamento de dados para determinar as paleotensões e seus mecanismos
de deformação rúptil. Foi realizada em 2011.

  Geólogo.
1

  Universidade Federal do Paraná.


2

  Instituto Lactec.
3

309
Figura 1. Arcabouço estrutural do Paraná com os principais lineamentos que afetam a bacia e
localização da área de estudo no mapa geológico regional e local no entorno da UHE Mauá. Fonte:
Zalán et al. (1990), Mineropar (2006) e modificado de VLB Engenharia (2007).

No levantamento de campo, foram visitados afloramentos distribuídos no


perímetro da UHE Mauá. As melhores exposições de evidências estruturais ocor-
rem em soleiras de diabásio da Formação Serra Geral, de tal forma que os planos
de falhas mostram continuidade lateral e estão bem preservados, o que possibili-
tou a boa descrição da geometria, orientação, espaçamento, abertura, rugosidade
e indicadores cinemáticos. Este último foi caracterizado por planos de falhas,
estrias (slickensides e slickenlines), degraus (steps) e crescimento de minerais em
planos de falha. Foram obtidas 512 atitudes de fraturas (falhas e juntas) no maci-
ço do entorno da usina.
Para a análise estrutural foi utilizado software GeotecStereo e para a de-
terminação dos campos de paleotensão foi utilizado os softwares Sigma (Freitas

310 geologia estrutural aplicada


2006), que foi baseado no método de Arthaud para o cálculo dos eixos de pa-
leotensões. A análise estrutural de dados de estruturas rúpteis (falhas e juntas),
principalmente os indicadores cinemáticos, tiveram por base os trabalhos de Pe-
tit (1987) e Doblas (1998).

2 ARCABOUÇO GEOLÓGICO E TECTÔNICO


A Bacia do Paraná é intracratônica com registro estratigráfico de cinco se-
quências deposicionais, cujos aportes de sedimentos iniciaram no Ordoviciano
Superior e culminaram no Cretáceo Superior. As unidades sedimentares paleo-
zoicas aflorantes representam o máximo afogamento da bacia; já as unidades
magmáticas presentes são reflexos da fragmentação do Gondwana, que resultou
no soerguimento da bacia no Mesozoico e fraturamentos da crosta que serviram
como condutos de fluxo ao magma basáltico (Milani et al. 2007).
Ferreira (1982) e Zalán et al. (1990) reconheceram importantes lineamentos
de caráter regional e principalmente os paralelos às feições do Arco de Ponta Gros-
sa denominados São Jerônimo-Curiúva, Rio Alonzo que, respectivamente, delimi-
tam a charneira do arco a nordeste e a sudoeste, Rio Piquiri, que delimita a porção
sul do arco, e o lineamento Guapiara, que constitui o limite norte do arco (Fig. 1).
Os diques de diabásio se destacam por se apresentarem em um enxame reti-
líneo e com rumo aproximadamente N45W, que marca extensivamente as feições
geomorfológicas coincidentes com a charneira do arco.
O principal lineamento que se destaca na área focalizada é o São Jerônimo-
-Curiúva, com indícios de atividade ao longo do Cretáceo. A tectônica que nucleou
esse alinhamento foi responsável pela formação de falhas direcionais oblíquas, pos-
teriormente reativadas como normais permitindo o preenchimento por diabásio
toleítico, resultando no enxame de diques e soleiras, quase todo circunscrito às zo-
nas de falha São Jerônimo-Curiúva e Rio Alonzo. Há também falhas regionais de
direção NE-SW presentes no embasamento da Bacia do Paraná, originadas entre o
Neoproterozoico e o Eopaleozoico (Soares 1991, Soares et al. 1996).

3 ESTRUTURAS
Os lineamentos podem apresentar prolongamentos superiores a 15 km de
extensão e frequentemente compartimentam as morfoestruturas locais. As estru-

parte 2 – exemplos de casos 311


turas com direção NW são recorrentes praticamente em toda área de estudo, exi-
bem traçados contínuos persistentes e bem espaçadas e correspondem, em geral,
a falhas abertas ou intrudidas por diabásio. Já os lineamentos de direção NE con-
sistem em traços de baixa persistência, retilíneos e com maior segmentação em
escala regional, portanto, aparecem melhor no diagrama de rosetas geral (Fig. 2).
As descontinuidades mais expressivas mapeadas na região de estudo corres-
pondem a sistemas de juntas, com superfícies geralmente planas e preenchidas
por calcita e quartzo quando abertas. Os tipos de falhas identificadas em campo
correspondem tanto àquelas de rejeito direcional quanto normais oblíquas.
Foram confeccionados diagramas de rosetas e estereogramas estruturais de
contorno de polos de fraturas (juntas e falhas) para as unidades estratigráficas se-
dimentares locais da Bacia do Paraná (BP) em conjunto e também para as ígneas
locais da Formação Serra Geral (Fig. 3). A partir da geometria obtida determi-
naram-se os principais trends que afetam as unidades e sua correlação temporal.
Os estereogramas de contorno das fraturas exibem direções estruturais seme-
lhantes para as unidades mapeadas, com estruturas do quadrante NE e moda de
N50-60E, seguido de estruturas N60-70E e N40-50E. O predomínio está relacio-
nado às fraturas verticais com mergulho para NW ou SE. Nas unidades sedimen-
tares as fraturas exibem direções entre N50-60E, N60-70E e N10-20E além de
uma marcante direção N50-60W.
A distribuição de fraturas nas soleiras do Grupo Serra Geral apresenta um
padrão difuso, com falhas relativamente dispersas. A integração entre os diagra-
mas possibilitou deduzir que pulsos tectônicos do sistema geram estruturas NE
e NW em todo o empilhamento estratigráfico da região e são, no máximo, do
Cretáceo Superior ou Paleógeno, pois afetam rochas com essa idade.

Figura 2. Diagramas de frequência de fraturas, com as principais tendências locais dos sistemas
(juntas e falhas).

As famílias de fraturas mais significativas encontrada na área são descritas a


seguir, destacando suas características e singularidades.

312 geologia estrutural aplicada


Figura 3. Diagramas de roseta e estereogramas estruturais de contorno das fraturas das unidades
estratigráficas individualizadas.

Na Família NE, os planos de falhas ocorrem em campo com menor fre-


quência do que as juntas, porém configuram planos com maior expressão regio-
nal e são representadas por estruturas transcorrentes de cinemática destral, com
pares conjugados sinistrais e fraturas escalonadas. As fraturas, quando abertas,
são preenchidas por minerais carbonáticos e óxido de manganês, e em menor
proporção quartzo e zeólitas.
Em pedreira de diabásio foram observadas feições de direção NE, com des-
taque para zonas de cisalhamento e planos de falhas (Foto 1, Quadro 1), even-
tualmente preenchidos por pirita e carbonato (Foto 2, Quadro 1). Em rochas se-
dimentares de menor competência foram identificadas juntas escalonadas e pares
conjugados com fraturas planares de movimento destral. A jusante da barragem
foram descritas juntas de cisalhamento e banda de cisalhamento destral, com
pouca abertura e percolação discreta de água (Fotos 3 e 4, Quadro 1).

parte 2 – exemplos de casos 313


Quadro 1

Foto 1. Zonas de falha NE si- Foto 2. Zonas de falha empi- Foto 3. Fraturas conjugadas R
nistrais, densas e empinadas a nadas destrais. caracterizando zona de falha de-
verticais, de escala variada, com cimétrica destral, com geração
geração de brechas e rupturas de brechas de espessura aproxi-
planas a curviplanares apresen- mada de 0,5 m.
tando cinemática destral.

Foto 4. Brechas de falha com Foto 5 e 6. Falhas transtensionais NW mostrando planos em


maior grau de fraturamento, estruturas em flor do tipo tulipa.
com maior percolação de água
e oxidação.

Na Família NW as fraturas têm geometria planar a curvilíneas, mais espa-


çadas e são menos pervasivas do que as fraturas do sistema NE. As juntas são
persistentes e planas, enquanto as falhas possuem espaçamento métrico a deca-
métrico, abertas ou fechadas em geral apresentam planos polidos e com slickensi-
des, tanto nas paredes quanto nos filmes de óxidos ou carbonatos mineralizados.
As falhas, nesse caso, são predominantemente sinistrais, com fraturas
conjugadas NE. Os melhores exemplos de indicadores cinemáticos direcionais

314 geologia estrutural aplicada


oblíquos, foram localizados na pedreira de diabásio e no túnel de desvio do rio,
onde há veios de calcita rompidos em zona de falha na forma de flor (Foto 5,
Quadro 1) . Há frequentes zonas de cisalhamento caracterizadas por conspícua
formação de brechas e presença de material cominuído nas paredes. As falhas
normais são pouco sistemáticas e frequentes e ligadas às falhas direcionais oblí-
quas (Foto 6, Quadro 1). Fraturas suborizontais NW atectônicas, fechadas, foram
identificadas na soleira, correlacionadas ao alívio de tensões devido à retirada da
coluna litostática de sedimentos.
A Família NS ocorre com menor frequência em relação às demais famílias
de fraturas. Apresentam-se bem espaçadas, com distâncias métricas entre os pla-
nos e são caracterizadas como juntas planares, levemente curvilíneas não persis-
tentes. As superfícies de fraquezas são planas a irregulares, porém lisas e polidas.
Há estruturas conjugadas do sistema de falha NE com cataclase e estruturas em
flor negativa (Fotos 1 e 2, Quadro 2), configurando cinemática sinistral.
A Família EW é marcada por juntas fechadas e longas falhas planares a
anastomosadas, transcorrentes e com cinemática sinistral (Foto 3, Quadro 2),
resultando em variação de atitude entre as direções de N80W e N80E. São de
caráter sistêmico, com penetratividade regular e subpersistentes. Normalmente
apresentam-se planares, lisa a irregulares.
Baseando-se na geometria e em indicadores cinemáticos (zonas de falhas,
slickensides e degraus (Fotos 4 e 5, Quadro 2), foram determinadas as direções de
paleotensão responsáveis pela deformação rúptil do local estudado.

parte 2 – exemplos de casos 315


Quadro 2

Foto 1. Fraturas na soleira de diabásio de di- Foto 2. Cataclase com formação de brecha de
reção NS mostrando planos contínuos fechados falha em siltitos da Formação Serra Alta, mos-
ou cataclasados, planares a curviplanares contí- trando planos com as mesmas características
nuos. daquelas da Foto 1.

Foto 3. Indicadores cinemáticos utilizados para a análise cinemática: (a) arenitos finos da Forma-
ção Palermo com o critério R mostrando cinemática destral.

Foto 4 e 5. Estrias e degraus incongruentes em diabásio indicando cinemática sinistral.

316 geologia estrutural aplicada


4 CONCLUSÕES
O arcabouço geológico-estrutural, definido por meio do levantamento em
campo e análise de lineamentos no relevo, evidenciam que o maciço rochoso é
compartimentado pelas famílias de fraturas NE, NW, EW e NS, respectivamente
da maior para a menor pervasividade. Os lineamentos de direção NW carac-
terizam morfoestruturas com realce em imagens de satélite e fotografias aéreas
em função destes representarem feições tectônicas associadas ao Arco de Ponta
Grossa, e quando preenchidos por diques de diabásio sobressaem no relevo de
rochas sedimentares sob a forma de cristas alongadas.
O levantamento de dados em campo identificou possíveis locais/zonas de
maior fragilidade geológica, em virtude da deformação rúptil do maciço. Isso
ocorre em função da coalescência das zonas de falhas de direção NW com os
diques, que são seccionados por zonas de falhas de direção NE.
A análise dos dados gerou diagramas de paleotensão característicos de regi-
mes transcorrentes (Figs. 4 e 5) possibilitando interpretar pelo menos dois pulsos
de deformação denominados, respectivamente, de D1 que representa um campo
de tensão entre NNE e NNW, e D2, que representa um campo de tensão entre
ENE e WNW. A individualização destes esforços foi deduzida por meio da di-
ferença das características geométricas e cinemáticas entre as falhas e também
devido à relação espacial das concentrações de campos máximos de esforços.
As estruturas rúpteis pós-cretácicas do pulso D1 estão associadas à zona de
cisalhamento transtensional predominantemente NW, com planos retilíneos lon-
gos a curviplanares e espaçados entre si que cortam a soleira do Grupo Serra Ge-
ral e o arenito da Formação Palermo. Nesse caso as falhas N40-50E e N10-20W
são sinistrais e as falhas N40-50W destrais (Fig. 4).
Em arenitos da Formação Palermo, o pulso D1 também provoca fraturas
escalonadas sintéticas com direção NE e planos de falhas N50E, ambos com ci-
nemática sinistral.

parte 2 – exemplos de casos 317


Figura 4. Diagramas de contorno com os campos de paleotensão que formaram falhas relaciona-
das ao evento D1; (a) diagramas de contorno para os eixos σ1, σ2 e σ3; (b) diagrama sinóptico carac-
terizando o campo de paleotensão σ1 e as falhas transcorrentes nucleadas de acordo com a variação
do eixo máximo no evento D1.

O pulso D2 gerou ou reativa a maior quantidade de estruturas geológicas de


regime rúptil que seccionam o substrato rochoso local. Neste evento observa-se
esforço máximo que ocorre próximo ao eixo EW. O campo de tensão σ1 varia
cerca de 20° entre ENE e WNW, ocorrendo fraturas conjugadas sinistrais N40W,
com cinemática sinistral, associadas à zona de falha transcorrente principal, va-
riável entre N40-60E (Fig. 5b).
Os eventos são possivelmente correlatos à deformação pós-pliocênica obser-
vada em outras áreas das regiões Sul e Sudeste do Brasil. A deformação local é ex-
pressa pelas seguintes características: (a) falhas transcorrentes com componentes
extensionais, ocasionando zonas de cisalhamento, com cataclase e material comi-
nuído; (b) falhas de direção NE destrais com planos retilíneos a anastomosados
pouco espaçados e (c) falhas de direção NW sinistrais, paralelas aos eixos de
paleotensão máximo (σ1) e que podem estar preenchidas por calcita com inter-
crescimento de pirita e óxidos.

318 geologia estrutural aplicada


Figura 5. Diagramas de contorno com os campos de paleotensão que formaram falhas relaciona-
das ao evento D1; (a) diagramas de contorno para os eixos σ1, σ2 e σ3; (b) diagrama sinóptico carac-
terizando o campo de paleotensão σ1 e as falhas transcorrentes nucleadas de acordo com a variação
do eixo máximo no evento D1.

AGRADECIMENTOS

Os autores externam agradecimentos à UFPR, à COPEL-Cia. Paranaense de


Energia, ao LACTEC pelo apoio recebido durante o trabalho, bem como ao Prof.
Yociteru Hasui pela revisão do manuscrito.

parte 2 – exemplos de casos 319


MINA DE CARBONATITO DE CAJATI (SP):
MODELO GEOESTRUTURAL E
PERMEABiLiDADE DO MACIÇO
Yo c ite ru H asu i 1
Fáb io S oares M agalhães 2
A lb e rto C oppedê Jú nior 3
R ic hard Lu ís M argu t ti 4

1 INTRODUÇÃO
A mina a céu aberto de carbonatito de Jacupiranga (Fig. 1) alcança a profun-
didade de -10 m e, tendo em vista o projeto de aprofundamento da cava da mina
para -260 m e sua ampliação lateral, foi realizado este estudo das descontinuida-
des ali presentes em meados de 1989, visando avaliar a possibilidade de adução
de água da barragem de rejeito e pequenos lagos próximos para a cava (Fig. 2) e
subsidiar o projeto no dimensionamento da estação de bombeamento de porte 5.
O estudo geoestrutural envolveu:
• a definição da sistemática de coleta de dados;
• o levantamento de dados; e
• o tratamento e elaboração do modelo geoestrutural.

  Universidade Estadual Paulista – UNESP/Campus de Rio Claro.


1

2
  Ex-Geólogo do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo. 2 WALM Engenharia
e Tecnologia Ambiental Ltda. Ex-Geólogo do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de
São Paulo.
3
  G & Ma – Geologia e Meio Ambiente – Assessoria e Consultoria Ltda. Ex-Geólogo do Instituto
de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo.
  Geofocus Geologia Projetos e Representação Ltda
4

  Em março de 2019 a profundidade da cava havia alcançado -190 m.


5

320
Figura 1. Localização da Mina de Cajati, onde se lavra o carbonatito de Cajati.

Figura 2. Planta da área da mina a céu aberto, mostrando a cava, a barragem de rejeito, os lagos, o
relevo e as instalações industriais.

parte 2 – exemplos de casos 321


Após a inspeção geral do maciço, definiu-se a seguinte sistemática de coleta
de dados:
1) mapeamento das descontinuidades mais extensas, que seccionam ban-
cadas, visando conhecer a configuração da rede de descontinuidades
maiores;
2) levantamento sistemático das descontinuidades ao longo de setores
das paredes das várias bancadas, escolhidos com base na uniformidade
de orientações e na maior proeminência dos planos, visando definir a
geometria da rede de descontinuidades; e
3) levantamento de estrias de atrito e indicações de movimentos relativos
de falhas, visando a interpretação cinemática.

O levantamento foi realizado em 14 setores selecionados da Mina indicados


na Fig. 3 O problema da magnetita na medição de atitudes com bússola foi con-
tornado considerando o campo de influência deduzido pelo comportamento da
agulha em função da distância bússola/rocha.

Figura 3. Setores das bancadas da cava que foram analisados.

322 geologia estrutural aplicada


O tratamento de dados consistiu na elaboração do mapa de falhas e zonas
de falha maiores, e processamento das medidas de atitudes através do programa
TRADE (Tratamento de Dados Estruturais) desenvolvido e implantado no IPT
Carneiro et al. 1996).

2 MODELO GEOMÉTRICO DAS DESCONTINUIDADES


2.1 Tipologia

As descontinuidades que segmentam o maciço carbonatítico são fraturas,


falhas e zonas de falha.
As fraturas são superfícies de ruptura sem deslocamentos dos blocos se-
parados. Podem corresponder a diaclases formadas durante o esfriamento das
rochas e a juntas devidas a movimentos posteriores. Em geral, têm alguns a al-
gumas dezenas de metros de extensão visível (não raramente, chegam a alcançar
várias dezenas de metros). Elas configuram famílias entrecruzadas, em número
de duas ou mais, conforme o local. O espaçamento das fraturas em cada família
pode ser, localmente, de poucos decímetros, mas, em geral, é de vários decíme-
tros a alguns metros.
As falhas são superfícies singelas e estriadas. Elas têm extensões que variam
de metros a algumas dezenas de metros e envolvem, em geral, deslocamentos de
centímetros a decímetros.
As zonas de falha são configuradas por numerosas falhas próximas e subpa-
ralelas. Seus rejeitos são decimétricos a decamétricos. A maior delas é aquela de
direção WNW que tem extensão de algumas centenas de metros, estendendo-se
de um a outro lado da porção mediana da cava.
Associadas às falhas e, principalmente, às zonas de falha, aparecem, espo-
rádica e localizadamente, pequenas zonas transtensionais, representadas por fra-
turas de distensão, zonas brechadas e aberturas. Materiais remobilizados podem
aparecer ou não associados a estas feições. Não houve desenvolvimento de zonas
de brechação ou cataclase importantes, nem impuseram sensível desorganização
no maciço.

2.2 Rede de descontinuidades maiores

Na Fig.4 estão representadas as falhas e zonas de falha maiores. Estão indi-


cados a direção, mergulho e extensão aproximada, onde observadas. Para aquelas

parte 2 – exemplos de casos 323


em que foi possível caracterizar a movimentação relativa, esta é mostrada pela
dupla seta (componente de rejeito direcional) e pelas letras A ou B (componente
de rejeito de mergulho: A = bloco alto; B = bloco baixo). Não foi considerada a
morfologia das bancadas, para facilitar a visualização geométrica.

Figura 4. Falhas maiores observadas em parte da cava. Além dos traços, mergulhos e movimentos
relativos, S e D indicam os blocos que subiram e desceram em função dos deslocamentos das falhas
transcorrentes, normais e inversas.

Nota-se na ilustração, que a rede dessas descontinuidades maiores corres-


ponde a um conjunto de falhas e zonas de falhas, de tipos e atitudes variados.
Existem aquelas com direções nos quadrantes NW e em torno de NS.
A maioria tem mergulhos altos, mas estão presentes também as de inclinações
menores. Predominam as transcorrentes, algumas sendo normais ou inversas
(estas com rejeitos oblíquos).
As extensões das falhas e zonas de falha maiores não são expressivas e os rejei-
tos são pequenos. Estas características, aliadas ao arranjo espacial mostrado na Fig.
4, tornam improvável a existência de descontinuidades de porte interligando a cava
aos lagos de barragens situados a leste e nordeste, bem como a oeste dela (Fig. 2).

324 geologia estrutural aplicada


2.3 Rede de descontinuidades menores

As descontinuidades menores são juntas e pequenas falhas, que segmentam


os blocos limitados pelas falhas e zonas de falha. Elas foram levantadas nos 14
setores mostrados na Fig. 3 e a cada um deles correspondem os estereogramas
das Fig. 5. As atitudes médias das famílias predominantes mostradas por esses
estereogramas estão representadas na Tabela 1.

Figura 5. Estereogramas das descontinuidades dos setores 1 a 14 indicados na Fig. 3. O estereo-


grama total representa o conjunto das descontinuidades. No último estereograma observa-se a
maior concentração de descontinuidades verticais/subverticais e outras concentração são de me-
nor frequência substituindo-se ao longo de três guirlandas (1: N25E/65NW, 2: N40W/78SW e 3:
N74W/50SW), que se intersectam em i (S18E/50SE).

parte 2 – exemplos de casos 325


Tabela 1. Atitudes médias das famílias de descontinuidades indicadas pelos estereogra-
mas da Fig. 5.
MERGULHOS
SETOR
Baixo (0-30°) Médio (30-60°) Alto (60-90°)
N78E/77SE N34E/80NW
1 N78W/55SW
N22W/77NE N50E/90
N10W/82NE
2 NS/18W N48E/47SE N08E/78SE
N28W/87NE
3 N60W/30SW N35W/84SW N60W/30SW
N28W/48SW
4 N06E/77NW N38E/75SE
N18E/38NW
N27W/90
5 N35E30NW N34W38NE N08W/78SW
N58E/75SE
6 N72E28NW N53W57SW N45E/83SE
7 N60E25NW N60W/70SW N68W/90
N27W/77SW
N55W/70SW
8 N08W/75SW
N70E/65SE
N22W/60NE
9 N75E/50SE N75E/80NW N36E/87SW
10 N60E/07NW N57W/60SW NS/65E N28E/78SE
N20W/90
11 N19E/35SE
N60E/87NW N14E/78SE
12 N78E/26SE N15E/42NE N28W/70NE N32E/82NW
N12W/34SW N80E/83NW
13 N14W/78NE
N67E/40NW N64E/90
14 N05E/32NW N35W/85NE

O modelo geométrico das descontinuidades resume-se em:


• uma rede de falhas e zonas de falha maiores, de atitudes e tipos variados,
conforme delineado na Fig. 5; e
• uma rede de juntas e pequenas falhas, segmentando os blocos delimita-
dos pelas descontinuidades maiores. As famílias variam em número de
famílias e atitudes de setor para setor, indicando estado de fraturamento
variável ao longo da cava e forte anisotropia do maciço. O último estereo-
grama da Fig. 5 integra todos os dados, observando-se que predominam
as famílias subverticais (máximos nas bordas do estereograma), cujas
direções variam nos intervalos 10-45°E e 30-70°W. Existem também fa-
mílias de baixo a médio/baixos mergulhos em volta do centro do estereo-
grama, que parecem distribuir ao longo de três guirlandas – elas não têm
uma interpretação genética, mas por se cruzarem em torno de um eixo (i)
dizem respeito a famílias entrecruzadas com arestas de atitudes similares;
• tais descontinuidades separam blocos de dimensões (centimétricas a mé-
tricas) e formas variadas (placas, paralelepípedos e lentes).

326 geologia estrutural aplicada


3 MODELO CINEMÁTICO DAS DESCONTINUIDADES
As observações ao longo da cava indicam que o maciço sofreu:
1) um fraturamento quando do resfriamento da chaminé carbonatítica,
desenvolvendo famílias de diaclases;
2) falhamento e fraturamento superimposto por pulso tectônico posterior; e
3) fraturamento por alívio de carga, desenvolvendo juntas subparalelas à
atual superfície.

3.1 Fraturas Primárias

Nos diversos setores de levantamento pode-se reconhecer a presença de


famílias de descontinuidades com mergulhos altos/subverticais, dispostas pa-
ralela ou perpendicularmente aos contatos carbonatito/jacupiranguito situados
nas proximidades de cada um deles. Tais famílias paralelas e perpendiculares às
paredes da chaminé são vistas como diaclases dos tipos anelar e radial, formadas
durante o esfriamento.

3.2 Descontinuidades tectônicas

Na Fig. 4 observa-se que predominam falhas e zonas de falha de alto mergu-


lho e com deslocamentos direcionais, definindo uma rede assimétrica. Este padrão
decorreu de cisalhamento não-coaxial. Algumas famílias são próximas das bissetri-
zes das famílias radial e anelar e podem ser interpretadas como correspondentes a
fraturas de cisalhamento, também desenvolvidas durante o esfriamento.
Não é simples classificar tais descontinuidades segundo o modelo de Riedel
(R, R’, X, Y, P), por se tratar de caso com desenvolvimento de complexa rede de
pequenas falhas/zonas de falha em maciço previamente segmentado. Aparente-
mente, a zona de falha maior é do tipo P e as mais freqüentes são do tipo R. Em
todo caso, pode-se deduzir que o binário responsável pela movimentação foi des-
tral e teve orientação em torno de E-W.
Na Tabela 1, as várias famílias de descontinuidades (juntas e pequenas fa-
lhas) podem ser relacionadas com a movimentação das falhas. As variações de
atitudes podem ser explicadas pelo fato de elas se restringirem a blocos desloca-
dos diferencialmente.
A Fig. 6 representa estrias de atrito das falhas e os contornos de isofrequên-
cia de polos. Elas variam bastante, mas existe uma concentração em torno de
EW/suborizontal, que é compatível com o regime transcorrente.

parte 2 – exemplos de casos 327


Figura 6. Estrias das falhas em projeção polar: falhas transcorrentes destrais (A, predominantes) e
sinistrais (B), normais (C) e inversas/reversas (D). Em (E), estereograma de todas as estrias.

Não sendo possível avançar no entendimento destas descontinuidades pelo


exame da geometria dos planos e das estrias de atrito, aplicou-se a técnica de
Arthaud, tratando planos de movimento e procurando os eixos principais de de-
formação (XYZ).
Foram tratados os dados dos 14 setores de levantamento, obtendo-se resul-
tados coerentes entre si; esta coerência é indicativa de que as falhas resultaram de
um único evento tectônico, e justifica o tratamento integrado dos dados.
A Fig. 7 mostra os planos de movimento de toda a cava e os contornos de
isofrequência de seus polos. Aparecem polos tendendo a se concentrar próximo
ao centro do estereograma, correspondendo a um eixo cinemático; outro eixo
pode ser deduzido a 90° sobre a guirlanda esboçada e o terceiro, por construção.

Figura 7. Polos de planos de movimento e eixo de deformação Y. Eixos de tensão s1 N08W e s3


N82E.

328 geologia estrutural aplicada


Se os dois eixos do diagrama são iguais ou próximos entre si, as guirlan-
das são bem definidas e o sistema é biaxial; aqui, esta definição não é tão clara,
denunciando sistema triaxial com dois eixos algo diferentes entre si e o terceiro
muito distinto.
A concentração de polos indica que os planos de movimento são predo-
minantemente de baixo mergulho, isto é, que as falhas são predominantemente
de alto mergulho e as estrias são de baixa inclinação. Tais dados são compatíveis
com movimentação transcorrente, o que leva a reconhecer os eixos X e Z nas
posições indicadas na Fig. 7.
Na deformação finita, tais eixos correspondem aos eixos de deformação que
por sua vez, têm correspondência com os eixos de tensão. Para melhorar a de-
finição dos eixos e para qualificá-los, aplicou-se a técnica dos diedros retos, por
tratamento manual, obtendo-se os dois eixos dinâmicos s1 e s3 (tensões princi-
pais máxima e mínima), os quais praticamente coincidem com os deduzi dos pela
técnica de Arthaud (Fig. 7b).
Os eixos, como se verifica, são:
1) N82E/horizontal, eixo de encurtamento máximo Z ou de tensão má-
xima s1;
2) N08W/suborizontal, eixo de estiramento máximo X, próximo ao eixo
de tensão mínima s3; e
3) subvertical, eixo intermediário Y ou eixo de tensão intermediário s2.

Assim, pode-se definir a tectônica que afetou o maciço como aquela en-
volvendo a ação de um binário destral, de orientação em torno de EW, gerando
falhas transcorrentes destacadamente destrais e localmente de outros tipos (nor-
mais e inversas com componentes direcionais de rejeito). Parte das falhas cor-
responde a diaclases que foram ativadas, e parte corresponde a juntas induzidas
pelos falhamentos que foram ativadas.
A intrusão da chaminé de Cajati (Cretáceo Inferior) e a tectônica aqui refe-
rida inserem-se no contexto de um amplo processo tectônica que afetou a região
costeira do Brasil impondo-lhe intensa movimentação, morfogênese e embacia-
mento, e levando à abertura do Atlântico e à separação dos continentes América
do Sul/África até a configuração atual. A movimentação transcorrente deduzida
é compatível com a etapa final deste processo, isto é, com a deriva da América do
Sul para NW, geradora de binário destral com orientação geral em torno de E-W.
Pode-se, pois, considerar que o regime de tensão deduzido responde pela
tensão residual no maciço e que as descontinuidades mais sujeitas à distensão e à
compressão são, respectivamente, aquelas com direções N08W e N82E.

parte 2 – exemplos de casos 329


3.3 Descontinuidades de alívio de carga

O afeiçoamento do relevo através de erosão, possibilitou alívio de carga li-


tostática, capaz de gerar descontinuidades paralelas à superfície do terreno da
época em que se formaram e que hoje exibem baixos mergulhos. As famílias
dessas juntas tornam-se mais espaçadas em profundidade. Além destas famílias,
também há que se considerar como efeito de alívio de carga a abertura, nas por-
ções próximas à superfície, de descontinuidades subverticais preexistentes.

4 CONCLUSÕES
1) O carbonatito e o jacupiranguito encaixante estão segmentados por
uma rede de falhas e zonas de falha de extensões até decamétricas.
Apenas aquela de direção WNW na porção mediana de cava têm ex-
tensão maior, cruzando o carbonatito e terminando no jacupiranguito
em ambos os lados. A geometria delineada é tal que torna improvável
a existência de grandes descontinuidades ligando a cava aos vales e
barramentos situados a leste e oeste, capazes de atuar como condutoras
de água para dentro da escavação.
2) As porções do maciço delimitadas pelas falhas e zonas de falha maiores
mostram-se rompidas por uma rede de fraturas e falhas menores, que se
distribuem em famílias entrecruzadas, variáveis em número e atitudes.
3) As descontinuidades foram geradas durante o esfriamento da chami-
né carbonatítica, assim como em um evento tectônico posterior, e por
alívio de carga litostática mais recentemente. Esta multiplicidade de
origem, a par da não-uniformidade de formação, explica a existência
de um padrão complexo para a cava e a variação de setor para setor.
4) O tectonismo referido foi de tipo transcorrente destral, com binário
orientado segundo EW. No final do evento, a tensão máxima estava
orientada segundo N82E/horizontal; a tensão mínima segundo S08E/
suborizontal; e o eixo intermediário, segundo a subvertical. Este regime
de tensão responde por tensões residuais no maciço e permite indicar as
descontinuidades de direção próxima de NS como as menos favoráveis
para formação de condutos de água e as de direção em torno de EW
como as mais favoráveis. Em que pese a rede de falhas, zonas de falha e
juntas, as descontinuidades de direção em torno de EW são desenvolvi-
das na mina de modo a propiciar a formação de condutos de água.

330 geologia estrutural aplicada


5) As cavidades existentes no maciço, que por vezes contêm preenchi-
mentos de mobilizados e água, são explicadas como ligadas a zonas
de transtensão localizadas, sendo de pequena extensão e não tendo
intercomunicações entre si e com a superfície. A observação de teste-
munhos de sondagem corrobora esta interpretação e, assim, elas não
formam condutos.
6) Próximo à superfície, o alívio de carga promoveu formação de juntas
de alívio e abertura de descontinuidades de alto mergulho, induzindo
certa permeabilidade local. Estas mesmas fraturas estão salientadas
pelo fogo do desmonte, o que amplia as intercomunicações. Apenas
nesta zona pode-se visualizar a formação de condutos de água.

Deste modo, constata-se que o maciço não mostra descontinuidades capa-


zes de proporcionar permeabilidade ao maciço, a não ser na porção superficial.

AGRADECIMENTOS

Os Autores consignam os agradecimentos à Serrana S.A. de Mineração, à


Figueiredo Ferraz Consultoria e Engenharia de Projeto Ltda. e ao Instituto de
Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo S.A. (IPT), pelo apoio que tornou
possível a realização deste estudo.

parte 2 – exemplos de casos 331


MODELO GEOESTRUTURAL DA MINA
DE CANA BRAVA (GO) COM VISTA À
ANALISE DA ESTABILIDADE DE TALUDES
Yo c iteru H asu i 1
Fáb io S oares M agalhães 2
Ar m an d o M angolin Filh o 3

1 INTRODUÇÃO
A Mina de Cana Brava, da S.A. Mineração de Amianto (SAMA) localiza-se
no Município de Minaçu (GO), no extremo norte do Estado de Goiás (Fig. 1).
Ela respondeu pelo amianto produzido no país, e a mineralização relaciona-se
com serpentinitos associados a rochas metabásicas e metaultrabásicas do Maciço
Cana Brava.
O maciço rochoso de Cana Brava e suas encaixantes foram afetadas por
complexa deformação que impôs intrincada geometria das estruturas. Estas es-
truturas incluem aquelas capazes de desestabilizar os taludes das cavas, e a inves-
tigação da estabilidade deste requer o conhecimento do modelo geoestrutural
pertinente.
Este trabalho apresenta o modelo que foi elaborado através de detalhada
análise e interpretação das estruturas presentes e suas implicações para os taludes
(Hasui & Magalhães 1985).

1
  Universidade Estadual Paulista – UNESP/Campus de Rio Claro. Ex-Geólogo do Instituto de Pes-
quisas Tecnológicas do Estado de São Paulo.
2
  WALM Engenharia e Tecnologia Ambiental Ltda. Ex-Geólogo do Instituto de Pesquisas Tecno-
lógicas do Estado de São Paulo.
3
  AMF Projetos e Consultoria em Geotecnia. Ex-Geólogo do Instituto de Pesquisas Tecnológicas
do Estado de São Paulo.

332
Figura 1. Localização da Mina de Cana Brava.

2 GEOLOGIA REGIONAL E LOCAL


O maciço de Cana Brava (Fig. 2) integra o bloco Porangatu que separa as
faixas Brasília e Araguaia do sistema orogênico neoproterozoico Tocantins (Ha-
sui & Haralyi 1985, Costa et al. 1987). Além da foliação desenvolvida durante o
metamorfismo, o maciço foi afetado por deformação decorrente do processo de
cavalgamento, que lhe impôs cisalhamento não-coaxial dúctil ao longo de rampa
de empurrões para o lado leste. Tais feições acham-se complicadas por zonas de
transcorrência dúctil tardia.
O maciço de Cana Brava tem em sua parte oriental uma faixa descontinua,
com largura de até 1,5 km, sobre e sotoposta a metabasitos mais ou menos xistifi-
cados, ao longo da qual aparecem os termos metaultrabásicos, representados por
serpentinitos, metaperidotitos e alguns xistos magnesianos (Fig. 3). Os demais
litotipos do maciço são metagabros, metanoritos, metagabronoritos, metaleuco-
gabros, anfibolitos e anfibólio xistos. Os contatos litológicos e a foliação apare-
cem paralelizados e, entre outras ondulações, configuram uma ampla estrutura
sinformal na porção sudeste, cujo eixo NW passa a sul da Mina. Também estão
presentes zonas de transcorrência dúctil, principalmente de direções NW e NE
(Pamplona & Nagao 1981).

parte 2 – exemplos de casos 333


Figura 2. Quadro geológico regional e as principais falhas.

Figura 3. Mapa geológico do Maciço Cana Brava, de constituição máfico-ultramáfica.

Os corpos de minério são porções economicamente lavráveis de massas mi-


neralizadas mais amplas, localizadas próximo à base do corpo de serpentinito
(Fig. 4). A Mina de Cana Brava consiste de duas cavas a céu aberto, A e B, nas
quais se lavram dois dos corpos de minério conhecidos (Fig. 5) e descritos por
Milewski et al. (1970) e Pamplona e Nagao (1981).

334 geologia estrutural aplicada


Figura 4. Mapa dos corpos de minério do maciço Cana Brava.

Figura 5. Mapa da Mina de Cana Brava, com as cavas A e B, as bancadas de lavra e s instalações.

3 TIPOLOGIA ESTRUTURAL
As estruturas principais observadas na mina e de importância para a estabi-
lidade de taludes são a foliação, as zonas de cisalhamento dúctil e as falhas.

3.1 Foliação

A foliação aparece nos serpentinitos do tipo 1 e nos metabasitos, e é definida


por três tipos de estruturas planares paralelizadas:

parte 2 – exemplos de casos 335


• bandamento composicional, dado pelo alternância de faixas de cores cin-
za e marrom, com espessuras mili- a centimétricas e extensões variáveis;
• foliação milonítica, que aparece de modo saliente em faixas anastomo-
sadas, separando faixas ou budins menos deformados de serpentinitos e
metabasitos; e
• xistosidade.

A foliação é a feição mais antiga que se observa no maciço, sendo aqui re-
ferida por S1.
A foliação milonítica apresenta direções e mergulhos variáveis, configurando
ondulações suaves, em planta e em perfil. Tais ondulações relacionam-se com a dis-
posição em torno de lentes menos deformadas. Além de tais ondulações, aparecem
localmente dobras e outras ondulações de dimensões até decamétricas decorrentes
de perturbações do fluxo plástico, e arrastos ligados a zonas de cisalhamento.
O bandamento composicional e a xistosidade aparecem nas faixas marcadas
pela foliação milonítica e também nas lentes menos deformadas. As lentes têm di-
mensões variadas, em média com espessuras métricas e extensões até decamétri-
cas, pelo que a disposição das referidas feições planares são praticamente paralelas.
A orientação geral de S1 no maciço é submeridiana na borda leste do maciço
de Cana Brava mostrado na Fig. 4, acompanhando a disposição dos litotipos. Nas
cavas A e B as atitudes da foliação e os traços correspondentes apresentam varia-
ções de suas direções, como mostra a Fig. 6, com tendência geral de direção no qua-
drante NE e mergulho para o quadrante NW. Na escala de afloramento as inflexões
de S1 em forma de S são evidentes, mais acentuados na cava A do que na cava B.

Figura 6. Mapa da foliação e suas variações na mina.

336 geologia estrutural aplicada


A Fig. 7 é o estereograma em diferentes porções das cavas, evidenciando
que as direções no quadrante NE predominam, mas as no quadrante NW tam-
bém são expressivas, havendo ainda outras direções menos destacadas (Tabela 1).

Figura 7. A foliação nas várias porções das cavas A e B.

Tabela 1. Orientações predominantes nos estereogramas da Fig. 7.


SETOR
Cava A – Norte N21E / 75SE N48E / 35NW N20W / 85NE
Cava A – Sul N29E / 45SE N08E / 36W N62W / 60SW
Cava B – Norte N26E / v N70E / 68NW N56W / 48SW
Cava B – Sul N15E / 50SE
Cava B – Leste N36E / 45SE N60E / 72NW N36W / 70SW
Cava B – Oeste N10E / 50SE N60E / 30NW N36W / 45SW NS / 36W

3.2 Zonas de cisalhamento dúctil e falhas

No extremo sul da cava B, entre as cavas A e B e na parte norte da cava A


observam-se inflexões da foliação ao longo de faixas que correspondem a zonas
de cisalhamento de alto ângulo, de transcorrência destral. O deslocamento não
foi de grande monta, uma vez que não acarretou paralelização ao longo das zonas
de cisalhamento.
Zonas de cisalhamento dúctil menores e falhas aparecem em profusão nas
cavas, formando intrincada rede. Têm extensões variáveis, as maiores alcançando

parte 2 – exemplos de casos 337


até várias dezenas de metros. Podem ser normais, inversas/reversas e transcor-
rentes destrais e sinistrais. Muitas apresentam evidências de terem-se movimen-
tado mais de uma vez. Os rejeitos são variáveis, não ultrapassando decímetros.
Elas podem ser classificadas genericamente em três grupos, cujas relações
são complexas, existindo multiplicidade de entrecruzamento, indicativa de de-
senvolvimento diácrono.
O primeiro grupo reúne as zonas de cisalhamento formadas em regime
francamente dúctil e marcadas pela foliação milonítica correspondente a S1. Tais
zonas são curviplanares, ramificando e anastomosado, de modo a contornar cor-
pos lentiformes ou amendoados de serpentinitos menos deformados, configu-
rando o padrão amendoado. A extensão e espessura destes corpos são variáveis,
predominando extensões decamétricas e espessuras métricas.
O segundo grupo reúne zonas de cisalhamento dúctil-rúptil, de tipos in-
verso/reverso frontal e oblíquo, normal frontal e oblíquo, e direcional destral e
sinistral. São discordantes de S1 e relacionam-se com a época de formação de
serpentinitos do tipo 2 e das mineralizações mais importantes.
O terceiro grupo reúne as falhas normais frontais e oblíquas, inversas/re-
versas frontais e oblíquas, e transcorrentes destrais e sinistrais, desenvolvidas por
deslocamentos ao longo de falhas e juntas formadas em momentos anteriores.
No geral, constata-se a existência dos três grupos e o desenvolvimento em
sucessão do primeiro para o terceiro; mas, a classificação das falhas ou zonas de
cisalhamento individuais no terreno nem sempre é fácil.
Para a definição geométrica das zonas de cisalhamento e falhas, foram le-
vantados, de modo sistemático, mais de 50 trechos de taludes das cavas A e B,
cada um com comprimento em torno de 30 m. Um levantamento complementar
foi realizado, de modo a cobrir três porções da cava A e quatro da cava B (Fig. 8).

Figura 8. Trechos 1A a 3A da cava A e 1B a 4B da cava B. Os pontos 40 a 48 e 52 da cava A e 9 a 12


da cava B são afloramentos citados no texto.

338 geologia estrutural aplicada


Os estereogramas destes trechos levantados, mesmo quando próximos entre
si, mostram concentrações de polos com diferentes distribuições, como se obser-
va com a comparação dos estereogramas mostrados das Fig. 9 e 10 referentes aos
pontos indicados na Fig. 8. Com tais dados, não é possível delinear domínios estru-
turais homogêneos, isto é, não se pode estabelecer uma setorização ideal da mina.

Figura 9. Descontinuidades dos pontos 40 a 48 e 52 da cava A.


Figura 10. Descontinuidades dos pontos 9 a 12 da cava B.

Um levantamento complementar foi realizado, de modo a cobrir três por-


ções da cava A e quatro da cava B (Fig. 11). Os estereogramas correspondentes
mostram distribuições diversas de concentrações de polos, mas permite definir
geometrias mais simples para essas porções, facilmente abordáveis na análise de
estabilidade de taludes, podendo elas serem, na prática, assimiladas como setores
da mina. A Tabela 2 mostra as orientações principais desses gráficos.

parte 2 – exemplos de casos 339


Figura 11. Em A descontinuidades dos pontos 40 a 48 e 52 da cava A.

Tabela 2. Orientações predominantes das descontinuidades dos estereogramas da Fig. 11.


SETOR
N22W / 44NW
1A N20E47 / NW
N25W / vert
1B N14E / 45SE N64W / 47SW
N50E / 60SE N74W / 50SW
1C N26E / 40NW N60W / 40NE
N46E / 72NW N65W / 78NE
1B N10E / 40NW N05W / vert
N68E / 52SE
2B N52W / vert
N12E / 72SE
N35E / 40SE N34W / 65SW
3B
N52E / 80NW N28W / 46SW
N10E / 85SE N22WV / 50NE
4B
N30E / vert N02W / 50NE

340 geologia estrutural aplicada


4 EVOLUÇÃO TECTÔNICA DA ÁREA
Os dados existentes e os coletados, referentes à petrografia, metamorfismo
e deformação, permitem reconhecer duas etapas de evolução tectônica da área
(Hasui & Magalhães 1990).
A primeira etapa consistiu na formação do maciço de Cana Brava e o seu
metamorfismo deu-se em condições de alto grau, na crosta inferior. O entendi-
mento detalhado desta etapa carece ainda de investigações.
A segunda etapa corresponde ao processo termotectônico de grande enver-
gadura e abrangência macro-regional ligado à colisão entre o bloco Porangatu e o
Cráton São Franscisco, gerando a Faixa Orogênica Brasília. O cisalhamento não-
-coaxial associado a esta etapa acarretou o desenvolvimento da foliação, sob condi-
ções de ductilidade, em temperaturas decrescentes de fácies anfibolito para xisto-
-verde. Formaram-se o padrão amendoado e a foliação. Complicações, como for-
mação de dobras, budins e ondulações ligam-se a perturbações no fluxo plástico.
Tardiamente, em regime dúctil-rúptil, sob temperaturas decrescentes, pas-
sando daquelas de fácies xisto-verde para aquelas propiciando comportamento
rígido, desenvolveram-se, num primeiro momento, as grandes ondulações do
maciço, refletindo acomodação inicial com encurtamento segundo EW e, depois,
as zonas transcorrentes, que na área têm direção NE e caráter destral.
Durante a movimentação transcorrente ocorreram, progressivamente:
1) os arrastos de S1, ganhando configuração curviplanar em forma de S;
2) em seguida, a acomodação, mediante desenvolvimento de zonas de
cisalhamento subconcordantes com S1;
3) a partir de certo momento, desenvolvimento de zonas de cisalhamento
e falhas discordantes a S1, de tipos inverso/reverso (puro e oblíquo),
normal (puro e oblíquo) e transcorrente (destral e sinistral);
4) posteriormente, abertura de descontinuidades preexistentes, por efeito
de estiramento, criando espaços para percolação de fluidos, a que se
deve a formação dos veios preenchidos por fibras do tipo “cross” e dos
serpentinitos do tipo 2;
5) em continuidade, a formação de juntas, certamente com influência de
anisotropias preexistentes, que se traduzem pela não-uniformidade
das famílias entrecruzadas; e
6) por fim, acomodação aos deslocamentos derradeiros, ao longo de jun-
tas e falhas de tipos diversos.

As fibras de tipo “slip” aparecem ao longo de planos de foliação milonítica e


de falhas, tendo-se formado durante os deslocamentos de diferentes momentos
da história deformacional.

parte 2 – exemplos de casos 341


Todas estas estruturas, geradas e modificadas no contexto de deformação
progressiva, não são dissociáveis em fases estanques, pois as relações de campo
mostram que elas são inter-relacionadas. Esta progressão explica a geometria va-
riável das famílias de zonas de cisalhamento e falhas ao longo das cavas.

5 MODELO ESTRUTURAL E ESTABILIDADE DE


TALUDES

A estabilidade de taludes é condicionada principalmente pelas zonas de ci-


salhamento dúctil, que se distribuem no maciço separando lentes de espessu-
ras métricas a decamétricas de rochas menos deformadas. Estas lentes podem
se desarticular em blocos decimétricos a métricos por famílias de zonas de cisa-
lhamento e falhas menores, que favorecem a instabilização. Em outros termos,
pode-se dizer que as instabilizações dos taludes são condicionadas pelo padrão
amendoado do maciço e pelas descontinuidades que segmentam as amêndoas.
O padrão amendoado revela-se como fundamental, porquanto todas as
rupturas ocorridas nas cavas, em nível de bancadas, foram condicionadas por
ele. As dimensões das lentes que se isolam são tais que podem desestabilizar vá-
rias bancadas, ao contrário das falhas. Além disto, a foliação milonítica propiciou
transformações, consistindo de alteração para serpentinito de cor verde-maçã e
decomposição em material argiloso pulverulento, o que reduz a resistência ao
cisalhamento e favorece a instabilização.
Os setores das cavas e as zonas de cisalhamento a serem considerados na
investigação de estabilidade de taludes são:
• talude leste das cavas A e B, zonas de cisalhamento dúcteis paralelas a S1
e ao contato serpentinito/metabasito;
• taludes norte e sul da cava B, zonas de cisalhamento dúctil-rúptil parale-
las ou discordantes a S1 e às zonas de transcorrência destral; e
• talude oeste das cavas A e B, zonas de cisalhamento discordantes a S1,
com mergulhos para leste.

AGRADECIMENTOS

Os Autores agradecem à S.A. Mineração de Amianto (SAMA) e ao Instituto


de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo S.A. (IPT), cujos apoios possi-
bilitaram a realização deste trabalho, no âmbito do Convênio SAMA/IPT.

342 geologia estrutural aplicada


O FRATURAMENTO NO MACIÇO ROCHOSO
DA MINA DE METACALCÁRIO DA SANTA
SUSANA MINERAÇÃO, TIRADENTES (MG)
Norb erto Morales 1
Yo c iteru H asu i 2
Alb e rto C oppedê Jú nior 3

APRESENTAÇÃO

A mina a céu aberto de metacalcário da Santa Susana Mineração localiza-se


em Tiradentes (Fig. 1), ao lado da Gruta Casa da Pedra e de uma área de lago e
pântano que se liga ao vale do Rio Elvas. Para fornecer subsídios para projeto de
expansão e desenvolvimento da mina, foi realizada em 2001 uma coleta de dados
dos litotipos e de feições estruturais na cava, contemplando os pisos principais e
taludes, bem como nos afloramentos da área da gruta.

Figura 1. Localização da mina de metacalcário da Santa Susana Mineração.

1
  Universidade Estadual Paulista UNESP/Campus de Rio Claro.
2
  Universidade Estadual Paulista – Unesp/Campus de Rio Claro. Ex-Geólogo do Instituto de Pes-
quisas Tecnológicas do Estado de São Paulo.
3
  G & Ma – Geologia e Meio Ambiente - Assessoria e Consultoria Ltda. Ex-Geólogo do Instituto de
Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo.
343
Este relatório consubstancia dados colhidos, enfatizando o padrão de fratura-
mento (juntas e falhas), com identificação das principais descontinuidades, o qua-
dro de tensões que as gerou, e as feições de interesse ao desenvolvimento do projeto.

1 GEOLOGIA REGIONAL
A região é constituída por rochas do embasamento pré-cambriano mais antigo,
do Grupo São João Del Rei proterozoico e sedimentos cenozoicos pré-atuais e atuais.
O embasamento é formado dominantemente por migmatitos e gnaisses.
Os migmatitos são predominantemente de estrutura estromática, com me-
lanossoma xistoso, anfibolítico ou rico em biotita, e leucossoma de composição
granodiorítica e granulação fina a média. Aparecem também feições nebulíticas
e corpos de granitoides leucocráticos, aplitos ou pegmatitos concordantes ou dis-
cordantes. Os gnaisses são variados, predominantemente granodioríticos (tron-
dhjemitos, segundo Ebert 1956), homogêneos, leucocráticos a mesocráticos, de
granulação média, com aspecto maciço e foliação incipiente, incorporando xenó-
litos máficos. Aparecem ainda corpos anfibolíticos concordantes com o banda-
mento e metabasitos de estrutura xistosa (anfibólio xistos, clorita xistos e biotita
xistos), interdigitados com faixas de rochas gnáissicas e granitoides, bem como
ocorrências isoladas de rochas metaultramáficas (xistos com anfibólio, clorita e
talco, serpentinitos, esteatitos e clorititos).
A feição estrutural mais marcante das rochas do embasamento é uma folia-
ção, principalmente representada nos gnaisses por um bandamento composicio-
nal e/ou orientação preferencial de micas, e nos xistos por uma xistosidade ou
clivagem de crenulação. A foliação tem direções entre N45E e N80E e mergulhos
baixos a altos para o quadrante SE, predominando em torno de 30º. Ela tem asso-
ciada uma lineação mineral EW. Raras dobras fechadas intrafoliais são vistas. Nos
migmatitos são reconhecidas também dobras do bandamento com transposição
local, que foram associadas a deformações superpostas (Noce 1987).
O Grupo São João Del Rei, unidade do centro-sul de Minas Gerais que foi
interpretado juntamente com o Grupo Andrelândia como representando o pa-
cote metavulcanossedimentar do que foi designado Faixa Orogênica Alto Rio
Grande, desenvolvida no Ciclo Brasiliano na borda sul do Cráton São Francisco.
O Grupo São João Del Rei foi primeiramente desmembrado em cinco uni-
dades litológicas por Ebert (1955) e depois reunidas em quatro unidades litoes-
tratigráficas (Ebert 1968). Essa divisão, contudo, não tem unanimidade até hoje,
havendo propostas diversas. Existe também discordância em relação à idade,
sendo considerada como do Neoproterozoico ou remontando ao Mesoprotero-
zoico, e até mesmo ao Paleoproterozoico; ou também como reunindo uma parte
mais antiga e uma mais nova. O mapa da Fig. 2 mostra a geologia da região.

344 geologia estrutural aplicada


Figura 2. Mapa geológico da região. Nessa área não se faz presente o Grupo Andrelândia. Cf. Folha
Rio de Janeiro, Carta Geológica do Brasil ao Milionésimo (Leite et al. 2004), com simplificações.

Os melhores afloramentos dos metacalcários encontram-se invariavelmente


com espessos mantos de alteração amarelo-avermelhados. Apresentam formas
lenticulares, intercalados em meio às rochas filíticas, com variação na posição
estratigráfica, ora na base da sequência, ora no topo (como nas ocorrências ao
longo do Rio Elvas). São rochas fundamentalmente calcíticas, bastante homogê-
neas, com variações litológicas em função do teor e do tipo de impurezas.
As estruturas impressas nas rochas do Grupo São João Del Rei e também do
Grupo Andrelândia (este não aparece na Fig. 2) são de diversos tipos, destacan-
do-se: (1) foliações: acamadamento, bandamento composicional, foliação milo-
nítica, xistosidade e em parte acamamento-relíquia; (2) lineações de estiramento
e mineral; (3) dobras dobras simétricas e assimétricas com um ou ambos os flan-
cos rompidos (intrafoliais), com ou sem foliação plano-axial, e crenulação; (4)
feições de estiramento: estricção e budinagem; (5) indicadores de rotação: dobras
de arrasto, estruturas S-C, cristais rotacionados ou com caudas de cominuição

parte 2 – exemplos de casos 345


etc.; (6) estruturas amendoadas simétricas e assimétricas; (7) bandas e zonas de
cisalhamento dúctil; (8) descontinuidades: juntas e falhas.
Em que pese a variedade, tais estruturas associam-se segundo padrão e se-
quência reconhecíveis e coerentes, denunciando uma evolução estrutural por
pulsos relacionados com o desenvolvimento de um cinturão orogênico (Hasui
et al. 1990):
1) um primeiro, de abrangência regional e incidência pervasiva, de tipo
não-coaxial essencialmente dúctil, de cavalgamento, desenvolvendo
bandas e zonas de cisalhamento de um sistema compressivo. Os diver-
sos litotipos foram desmembrados e deslocados, de modo a resultar
num arranjo de lascas justapostas de diferentes dimensões, com re-
lação geral de concordância. O metamorfismo regional acompanhou
esse pulso tectônico, gerando a foliação principal moldada à geometria
das lascas, e da lineação de estiramento associada. As condições de
temperatura foram de fácies anfibolito ou xisto-verde nas diversas uni-
dades litoestratigráficas;
2) um segundo, também de abrangência regional, mas de incidência
não tão pervasiva, de tipo não-coaxial essencialmente dúctil, trans-
corrente, desenvolvendo bandas e zonas de cisalhamento dúctil a
dúctil-rúptil de um sistema direcional, acentuando e neoformando
dobras. O metamorfismo associado a essas bandas e zonas de cisa-
lhamento reflete as condições termais do processo, que são algo mais
brandas do que as do primeiro pulso;
3) um terceiro, de dobras e crenulações, que se pode relacionar com vigência
de condições de fácies xisto-verde baixa. Tais feições aparecem formando
um conjunto de ondulações ou dois conjuntos cruzados. As condições de
temperatura, ductilidade e metamorfismo são mais brandas;
4) um quarto, em condições de rigidez e deformação rúptil, gerando três
ou quatro famílias de juntas de altos mergulhos e entrecruzadas, e fa-
lhas que evoluíram a partir de tais descontinuidades. Essas feições não
foram ainda devidamente investigadas em âmbito regional.

Cabe lembrar que os grupos São João Del Rei e Andrelândia têm sido des-
critos como afetados por três fases de dobramento indicadas por geometrias e
relações de dobras, lineação e foliações (p.ex., Trouw et al. 1983, Noce 1987): D1,
com dobramento recumbente e falhas de empurrão, causando imbricamentos e
repetições de unidades, e gerando clivagem penetrativa S1 em fácies xisto-verde;
D2, com dobras de variadas escalas, de eixos EW, quase sempre paralelos à li-
neação mineral, fechadas a isoclinais e recumbentes, deformação de S1 e o do

346 geologia estrutural aplicada


acamamento-relíquia, com crenulações associadas e desenvolvimento de xistosi-
dade S2, que seria a foliação principal, desenvolvidas no auge do metamorfismo
regional de fácies xisto-verde alto a anfibolito; D3, com dobras suaves a abertas,
normais, dobrando e crenulando S2.
A foliação é representada por uma xistosidade que pode se apresentar em
posição plano-axial nas zonas de charneira de dobras, mas em geral é paralela/
subparalela ao bandamento composicional, esteja este dobrado ou não. O banda-
mento pode ser herança de acamamento-relíquia e também pode ser originado
por deformação (transposição). A lineação mineral é representada por linhas de
biotita, linhas de clorita etc. Na região de São João Del Rei-Tiradentes, a orien-
tação preferencial da foliação e do bandamento é N49E/14SE (Fig. 3a); a da li-
neação é N64W/14SE (Fig. 3b) é próxima do tipo de mergulho, algo oblíqua ao
mergulho da foliação.

Figura 3. Em A estereograma da foliação principal (a) e da lineação (b) da região de São João Del
Rei-Tiradentes (Domínio I de Noce 1987). Orientações preferenciais: N49E/14SE da foliação e
N64W/14SE da lineação.

As dobras são de tipos intrafolial ou não, de ápices espessados, dimen-


sões milimétricas a hectométricas, com ou sem foliação plano-axial, abertas a
isoclinais, redobradas ou não segundo padrões diversos (principalmente em
laço). Elas decorrem de fluxo plástico não-homogêneo de massa rochosa hetero-
gênea, formando-se em momentos distintos do processo de cavalgamento (pre-
coces a tardias), e apresentando-se mais apertadas e mais rotacionadas quanto
maior a deformação. Com o progresso da deformação tendem a ter seus eixos
paralelos à lineação de estiramento, e os planos axiais paralelizados ao plano de
cisalhamento principal.
Outro conjunto de dobras consiste de ondulações desenhadas pela foliação
principal, abertas a fechadas, com planos axiais tendo mergulhos subverticais a
até 60o para NW ou SE, e eixos orientados em torno de NE/suborizontais. Ele as-
socia-se a extensas zonas de cisalhamento NE/subverticais, e as dobras tornam-se
mais suaves à medida que se afasta destas zonas. A superposição desse conjunto

parte 2 – exemplos de casos 347


sobre dobras anteriores gera redobramentos em escalas de afloramento ou de
mapa com padrões diversos, como do tipo laço e cogumelo.

Figura 4. Em B rifte cenozóico da região de São João Del Rei (Saadi 1990).

Na região de São João Del Rei foi identificado um sistema de riftes cenozoi-
cos na região de São João Del Rei (Saadi 1990, Saadi & Valadão 1990). Ele inclui
as bacias de Rio das Mortes, Prados e Baixo Carandaí e o Domo de São Sebastião
da Vitória (Fig. 4), com preenchimentos de conglomerados ou brechas, arenitos e
silto-argilitos. São observadas numerosas falhas de dimensões variadas, normais,
de empurrão e transcorrentes, afetando inclusive os sedimentos terciários.
A organização do sistema de falhas na formação das bacias e o seu controle de-
formacional posterior ao longo de falhas transcorrentes, acompanhado do desenvol-
vimento de feições transpressivas e transtensivas, deve-se a regime distensivo com s1
(direção de compressão) segundo NW/suborizontal, s3/suborizontal (direção de dis-
tensão) segundo NE/suborizontal, e s2 subvertical. O evento deformativo é associado
ao quadro neotectônico, sob regime transcorrente destral, formando novas falhas e
reativando antigos sistemas de falhas (Hasui 1990, Saadi 1990, Saadi et al. 1991).

2 GEOLOGIA DA MINA
Na mina de metacalcário da Santa Susana Mineração, foram realizados tra-
balhos de campo com levantamento de dados em estações escolhidas nas áreas
da cava (Fig. 5) e da Gruta da Casa de Pedra (Fig. 6). Os dados estruturais foram

348 geologia estrutural aplicada


processados utilizando métodos e procedimentos convencionais de análise estru-
tural, com auxílio dos programas Stereonet (Allmendinger 2018) e Win-Tensor
(Delvaux & Sperner 2003, Delvaux 2015).

Figura 5. Mapa de pontos de levantamento estrutural da mina.


Figura 6. Mapa de pontos de levantamento estrutural na área da Gruta Casa de Pedra, ao lado da mina.

2.1 Litologia

O litotipo dominante na área da mina é o metacalcário calcítico. Predo-


mina o metacalcário cinzento maciço, muito homogêneo, com tênue variação
de coloração. Localmente ocorrem delgadas camadas ricas em micas (clorita?) e
delgadas camadas escuras, permitindo o reconhecimento de uma estrutura aca-
madada. O corpo deve ter forma lenticular, semelhante aos outros corpos de me-
tacalcário descritos na região com extensão maior alongada aproximadamente
EW (p.e., Noce 1987). O corpo fecha a norte, em contato transicional com clorita
xistos carbonáticos bandados.
Na parte sul da mina, próximo ao acesso e ao sistema de bombeamento de
água, ocorrem rochas mais grossas, do tipo sacaroide, com grãos de até 1 mm,
bastante homogêneas e aparentemente mais friáveis que as rochas de granulação
fina da porção norte.
No alto do talude norte é observado o contato do metacalcário com xistos
esverdeados, estes mostrando estrutura bandada marcante de alternância de ca-
madas milimétricas de até 2 cm ricas em micas (clorita e biotita), com camada

parte 2 – exemplos de casos 349


maciças cinzentas carbonáticas. O contato mergulha com alto ângulo para norte,
apesar de todas as rochas mergulharem para sul. O bandamento aparece dobrado
no contato, com planos axiais formando alto ângulo com a superfície envoltória
das dobras, sugerindo que a lente de metacalcário pode configurar uma dobra
isoclinal, imitando as dobras intrafoliais menores encontradas dentro da mina.
Ao norte da cava, na região onde estão os compressores, e a sul, no acesso as-
faltado, ocorrem sedimentos semelhantes às coberturas cenozoicas reconhecidas
regionalmente. São observados principalmente sedimentos silto-arenosos ama-
relados, ricos em fragmentos angulosos de quartzo, de estrutura maciça. Apesar
do predomínio dos tons amarelados, as cores podem variar bastante, ocorren-
do porções vermelho-escuras, e regiões com cores manchadas de avermelhado,
amarelo e branco. Este arranjo de cores, apesar de parecer estranho, é comum
em perfis de alteração laterítica, onde as cores representam, do topo para a base,
tons vermelho-escuro, correspondendo ao horizonte ferruginoso, tons mancha-
dos, da sequência intermediária do horizonte mosqueado ou plíntico (plintitas),
e tons claros do horizonte pálido, empobrecido em ferro. As feições de alteração
observadas no entorno da cava são muito nítidas, inclusive servindo para o reco-
nhecimento de falhas que afetam estas coberturas jovens, como descrito adiante.

2.2 Estruturas dúcteis

O bandamento composicional constitui a principal foliação reconhecida.


Apesar de a rocha apresentar de modo geral uma estrutura maciça e muito ho-
mogênea, localmente aparecem camadas ou lentes de cor mais escura, de tons
cinza-escuros ou pretos, que definem uma estrutura de baixo ângulo mergulhan-
do para sul. A observação cuidadosa permite o reconhecimento desta mesma
estrutura em praticamente todo o talude norte da cava, e com maior dificuldade
na parte sul, onde o metacalcário tem textura sacaroide.
Acompanhando o bandamento composicional na parte norte da cava, é
possível reconhecer uma orientação das micas, definindo uma xistosidade, que
se acentua e fica mais notável nos xistos, paralela ao bandamento, mesmo nas
dobras da região de contato com os xistos.
Essas feições têm direção geral em torno de EW; o mergulho é predomi-
nantemente médio para SW, mas tem variações de baixo e alto para o lado norte.
O tratamento estrutural foi realizado para o bandamento em conjunto com a xis-
tosidade. A orientação preferencial é N85W/40SW, com indicação de mergulhos
para NNW na região norte, único lugar de inversão dos mergulhos, no contato
com os xistos (Afloramentos 15 e 16).

350 geologia estrutural aplicada


Poucas lineações foram observadas, representadas por alinhamentos de mi-
cas sobre o bandamento. Sua orientação está em torno de EW/suborizontal. Tam-
bém aparecem veios de fluorita e de pirita subtransversais à lineação, sugerindo
que esta é de estiramento.
As dobras observadas na jazida constituem feições de escala de afloramento,
com indicação de possível dobra megascópica.
As dobras menores são desenhadas pelo bandamento composicional, acom-
panhado da xistosidade. Nos xistos apresentam o desenvolvimento de uma cli-
vagem de crenulação espaçada, paralela ao plano axial, com mergulho de baixo
ângulo para sul. Os eixos têm atitudes em torno de EW/suborizontal. As dobras
são fechadas a isoclinais, de charneira arredondada e com grande espessamento
apical, e intrafoliais, cujo adelgaçamento e rompimento dos flancos levam ao de-
senvolvimento de feições lenticulares, as quais podem simular a forma lenticular
do corpo maior. Assim, o corpo maior seria alongado na direção dos eixos das
dobras e da lineação mineral, e achatado no plano da foliação/bandamento.
A forma lenticular do corpo de metacalcário é apontada nas descrições da
literatura, mas não há informações disponíveis sobre a mina. A indicação de fe-
chamento de dobra macroscópica no contato com os xistos, formando zona de
charneira, não foi reconhecida ao longo da cava; apenas no talude norte a forma
das dobras menores (sempre em “S”, olhando para E) permite o reconhecimento
de um mesmo flanco. Sondagens com informações sobre a espessura do metacal-
cário permitiriam definir melhor a geometria.

2.3 Estruturas rúpteis

Na mina, o maciço apresenta-se bem fraturado, com padrão retangular bem


definido. O quadro geral apresenta três famílias principais de descontinuidades,
indicadas na Fig 7 pelos máximos N02W/85NE, N81E/50SE e N81E/82SE.

Figura 7. Estereograma das juntas. Orientações principais: N02W/85 E (1), N81E/50SE (2) e
N81E/82SE (3)

parte 2 – exemplos de casos 351


A família principal tem planos próximos de NS/subvertical regularmente
espaçados (3 a 5m em média – Foto 1), com formação local de zonas de fraturas,
onde o espaçamento médio cai para 1 a 0,5 m (área do bombeamento). É muito
comum a presença de superfícies estriadas ao longo destes planos de fraturas,
com mais de uma geração de estrias.
A segunda família é marcada por fraturas importantes com orientação em
torno de EW e mergulho de médio ângulo para sul (Foto 2), aparecendo regular-
mente espaçadas (4 a 6 m) e promovendo o abatimento de grandes blocos para
dentro da jazida. Alguns planos mostram movimentação de falhas normais.

Quadro 1

Foto 1. Vista geral do Talude Norte da mina.


Juntas NS subverticais de grande persistência,
com bandamento e fraturamento inclinado
para dentro da cava e separando blocos métri-
cos. Afloramento 20, olhando para N.

Foto 2. Fraturas no Talude N da mina, subpara- Foto 3. Fratura aberta N86W/70SW, inclinada
lelas ao bandamento composicional N85E/56SE, para dentro da cava, de grande persistência, com
inclinadas para dentro da cava e abatimentos de abertura entre 1 e 20 cm e sinais de percolação de
grandes blocos. Persistência > 20 m, espaçamento água (paredes sujas e dissolução de rocha). Aflo-
médio de 2 m. Afloramento 7. ramento 12, visada para W.

A terceira família tem direção em torno de EW e alto mergulho, aparecen-


do nas partes norte e central da mina, ou como zonas de fraturas na parte sul.

352 geologia estrutural aplicada


A esta família associam-se sinais de percolação de água e de dissolução das ro-
chas calcárias.
• Zonas de fraturas NS
As mais importantes estão indicadas pelos números 7, 8, 10 e 11 na Fig. 8.

Figura 8. Mapa das principais fraturas abertas e zonas de fraturas.

A Zona 7 tem fraturas com persistência em nível de bancada, mas com


possível prolongamento para níveis superiores, contribuindo na organização das
grutas da Casa de Pedra. A Zona 8 é semelhante a essa, com fraturas persistentes
por todo o talude e projetando-se para cima, nas partes altas do maciço da Casa de
Pedra, formando arranjo de imensos blocos no alto do morro. Formam traços ali-
nhados com as fraturas do talude norte, apontando para a possibilidade de grande
persistência. A Zona 10 apresenta fraturas persistentes e pouco espaçadas (0,5 a 1
m), limitando zona de fraturamento intenso associada a outras direções, formando
uma “caixa de blocos decimétricos”, próximo ao bombeamento. A Zona 11 é uma
fratura aberta com presença de crosta carbonática e drusas de calcita, facilmente re-
conhecida pela parede oxidada, de tonalidade mais clara. Apesar de mostrar sinais
de percolação, não apresenta grande continuidade nem grande persistência, com a
zona aberta da fratura não alcançando o topo da bancada.

• Fraturas EW
Apesar de não constituírem a família principal, as fraturas EW/subver-
ticais (orientação preferencial N81E/82SE), apresentam os sinais mais
marcantes de percolação, formados por fraturas abertas com drusas de
carbonatos, paredes oxidadas com formação de crosta carbonática, zonas
de aberturas centimétricas com dissolução dos blocos de rocha, e aspecto

parte 2 – exemplos de casos 353


“sujo” das paredes das cavidades. A localização das principais fraturas é
feita na Fig. 8, indicadas pelos números 1, 2, 3, 4, 5 e 9.
As de números 1, 3, 4 e 5 são marcadas por fraturas abertas, com paredes
oxidadas e preenchimento local de drusas de calcita, as paredes aparecendo
umedecidas na área 5. É importante destacar que estes locais de fraturas
abertas parecem constituir um grande alinhamento, ao longo de uma fratu-
ra ou de uma zona de fraturas com orientação próxima a N80E/subvertical.
A de número 2 corresponde ao Afloramento 12, onde foi reconhecida uma
zona de fratura, com até 20 cm de abertura, de orientação N86W/70SW.
Exibe vários sinais de percolação, como dissolução da rocha calcária
(Foto 3), deixando fatias de rochas remanescentes, sujas pela percolação
de água e pela formação de crostas carbonáticas.
A área de 9 na Fig. 8 (correspondente ao Afloramento 19) é marcada
por uma zona de fraturas aproximadamente EW, com formação de gruta
por dissolução e preenchimento por material sedimentar argilo-arenoso,
cheio de fragmentos milimétricos a centimétricos de quartzo. Forma
uma caixa de preenchimento controlada pelo padrão de fraturamento.
Seu prolongamento para oeste é indicado pela zona de fraturas 11 (Fig.
8), e o reconhecimento de pequena dolina no piso da estrada (6 na Fig. 8)
pode indicar uma continuidade subterrânea destes segmentos de dissolu-
ção, com ou sem preenchimento. A zona de fraturas 11 (Afloramento 21)
também exibe os sinais de percolação, marcados pela formação de crostas
carbonáticas com drusas de calcita associadas.
Durante o levantamento dos dados, em época de estiagem, na parte baixa
da jazida, no pé do talude norte, foram encontrados sinais de percolação
de água no Afloramento 27, com paredes umidecidas e gotejamento, as-
sociados a fratura N78E/60SE.
Também é importante salientar que, durante a realização do levantamen-
to estrutural, foram efetuados furos rasos na região do bombeamento, em
linhas EW e NS. A linha EW mostrou a presença de água (aproximada-
mente 2 m abaixo do piso da jazida) no maciço rochoso (época de lon-
ga estiagem) até aproximadamente o ponto 11 (Fig. 8), apresentando-se
secos a partir daí para oeste. Para norte, os furos com água alcançaram
um alinhamento com a rampa, e a partir daí mostraram-se secos. Esta
constatação pode ser um forte indicador de as zonas de fraturas 9, 11 e
talvez 6 (Fig. 8) terem servido de condutoras de água dentro do maciço
rochoso. Salienta-se que esta região é marcada por um cruzamento de
zonas de fraturas (cruzando a 10) NS.
A Fig. 9 mostra estereogramas das fraturas abertas reconhecidas. Por fra-
tura aberta aqui se deve entender aquelas que têm sinais de percolação
de água, como formação de crostas carbonáticas, feições de dissolução e

354 geologia estrutural aplicada


preenchimento ou até mesmo percolação visível de água. É notável a im-
portância da direção EW (N80E/80NW e N87W/70SW) neste controle,
com apenas duas fraturas de orientação próxima a NS.

Figura 9. Fraturas abertas em (a) projeção ciclográfica e diagrama de frequência; em (b) orienta-
ções preferenciais (N80E/80NW e N87W/70SW).

• Falhas
Parte das fraturas levantadas é marcada por superfícies de falhas, com
o desenvolvimento de planos estriados e, em alguns casos, com a inter-
rupção dos corpos rochosos. O deslocamento de corpos rochosos só foi
reconhecido nas rochas sedimentares da cobertura cenozoica, pois nas
rochas carbonáticas a homogeneidade litológica não permitiu este tipo
de reconhecimento, ficando restrito ao atrito entre os blocos indicado
pelos espelhos de falhas e estrias de atrito sobre os planos de fratura. Re-
gionalmente são reconhecidos grandes traços de falhas, porém nenhum
deles atinge os domínios da mina. A existência de desnivelamentos regio-
nais das coberturas cenozoicas ao longo das margens do Rio Elvas (dire-
ção WNW), a assimetria sistemática do padrão de relevo/drenagem e o
“barramento” do Rio Elvas ao longo de alinhamentos NNE, pode indicar
a presença de falhas maiores, mais próximas da área da mina, que preci-
sariam ser mais investigadas.
A Fig. 10 mostra os estereogramas das falhas menores (planos estriados)
observadas na área. Como no quadro do fraturamento, apresentam o
predomínio da direção NS/subvertical (N09E/85NW), seguida de falhas
NW (N60W/81SW) e NE (N51E/75SE). Falhas com direção próxima a
EW também aparecem com menor importância, tanto de médio mer-
gulho (N75E/52SW) quanto subverticais (N80E/83NW). Os principais
tipos e características são apresentados adiante.
O tratamento das falhas apresentado a seguir considera as falhas nor-
mais, inversas/reversas e transcorrentes, conforme seu reconhecimento
no campo por meio do plano de falha (espelho de falha) e estrias (in-

parte 2 – exemplos de casos 355


dicando a direção e o sentido de movimento pela presença de degraus
ou steps associados). Feições de superposição de movimento são am-
plamente reconhecidas por dois conjuntos de estrias sobre um mesmo
plano, com um deles (o mais novo) melhor impresso que o outro, ou
com modificações bruscas do sentido de movimento, a maioria em falhas
transcorrentes destrais invertendo o movimento para sinistrais. Parte das
falhas encontradas deforma conjuntos de rochas sedimentares terciárias,
indicando serem jovens, de movimentação pós-miocênica (idade admi-
tida para a formação das crostas lateríticas de extenso perfil de alteração
regionais), ou mesmo pós-pleistocênicas (idade admitida para as cober-
turas sedimentares da região), conforme Saadi (1991).

Figura 10. Falhas: estereogramas de polos (a) e de frequência (b). Orientações preferenciais em
(b): N09E/85NW, N60W/81SW, N51E/75SE, N75E/52SE e N80E/83NW.

• Falhas normais
As falhas normais mostram uma dispersão dos dados, com mergulhos
médios a altos para todos os quadrantes (Fig. 11). Apresentam uma
orientação mais importante em torno do máximo N70W/40NE, porém
a concentração é muito baixa e outros máximos se espalham pelo este-
reograma. As estrias de falhas concentram-se nas direções NNE e NW.
As direções são concorrentes entre si, e o reconhecimento de conjuntos
afetando os sedimentos cenozoicos permite uma interpretação em mais
de um pulso deformativo, conforme discutido adiante.

356 geologia estrutural aplicada


Figura 11. Projeções ciclográficas e diagramas de frequência das falhas. Estrias em verme-
lho. Orientações preferenciais: N72W/34NE e N40E/44NW para falhas normais, N61W/81SW,
N10E/87NW e N14W/86NE para falhas transcorrentes sinistrais, N08E/87NW para falhas trans-
correntes destrais e N25E/61NW para falhas reversas.

• Falhas transcorrentes
Foram observadas 36 falhas transcorrentes, com predomínio das sinis-
trais (Fig. 11). Estas têm orientação variada, com máximos reconhecidos
em N61W/81SW, N09E/87NW (semelhante ao fraturamento principal) e
N14W/86NE. As falhas destrais apresentam uma dispersão menor de da-
dos, com máximos em torno de N08E/87NW (também semelhante ao fra-
turamento principal), com concentrações menos importantes em torno de
N40E/84SE e N81E/88SE.
A coincidência entre máximos de mesma orientação (em torno de NS/
subvertical) para falhas transcorrentes destrais e sinistrais pode ter sido

parte 2 – exemplos de casos 357


ocasionada por uma superposição de eventos, reconhecida pela presen-
ça de estrias em planos com indicação de movimentação antagônica,
e que, pela presença de falhas afetando conjuntos sedimentares mais
jovens, permite definir conjuntos de falhas mais jovens e mais antigas,
discutidas adiante.

• Falhas reversas
As falhas reversas apresentam direção NNE e mergulhos altos para NW
e SE (N25E/61NW – Fig. 11). Foram reconhecidas apenas cinco afetando
rochas sedimentares terciárias e, por isso, são elementos chave na investi-
gação do quadro tectônico vigente, apresentado adiante.

• Falhas jovens
O conjunto assim denominado reúne as falhas que afetam os sedimentos
cenozoicos, incluindo falhas reversas, normais e transcorrentes (Fig. 12).
As falhas reversas têm direção de NS a NNE e alto a médio ângulo de
mergulho. As falhas normais têm orientações variadas, porém as estrias
de movimento concentram-se entre NS e NE. As falhas transcorrentes
são oblíquas, com sinistrais predominando e direções entre NW a NNW,
enquanto a falha destral tem orientação ENE.

Figura 12. Falhas cenoizoicas pré-atuais.

3 PALEOTENSÕES
O estudo da cinemática das falhas foi aplicado para os conjuntos reconhe-
cidos, separando falhas jovens e determinando o regime de tensão vigente, e das

358 geologia estrutural aplicada


falhas antigas, determinando pulso deformativo anterior. Para tanto são utiliza-
das a técnica dos diedros retos para a dedução dos eixos de tensões principais.
O conjunto que reúne as falhas que afetam os sedimentos cenozóicos foi
reconhecido associado ao pulso tectônico mais jovem. As falhas normais têm
orientações variadas, porém as estrias de movimento concentram-se entre NS e
N45W, apontando para estas direções de distensão principal. As falhas inversas/
reversas têm direção NNE e alto a médio ângulo de mergulho. As falhas transcor-
rentes são oblíquas, com sinistrais predominando e direções entre NW e NNW,
enquanto as falhas destrais têm orientação ENE. A análise cinemática deste con-
junto de falhas é consistente, como apresentado a seguir, e permite a determina-
ção do regime tectônico mais jovem que atuou e atua na região. As falhas cujo
arranjo cinemático determinado pela associação plano de falha / estria / sentido
de movimento não se enquadraram neste conjunto, foram classificadas como fa-
lhas antigas, buscando-se conhecer um pouco da história mais antiga.

3.1 Paleotensões das falhas jovens

O arranjo em conjunto das falhas jovens foi analisado considerando as fei-


ções compressivas (inversas/reversas e transcorrentes – Fig. 13) separadas das
feições de distensão (falhas normais).

Figura 13. Eixos de paleotensão das falhas jovens: à esquerda, falhas inversas/reversas e à direita,
falhas normais. As atitudes dos eixos são apresentadas por mergulho/rumo do mesmo. As setas
indica eixos de paleotensão horizontais por suas direções: σ1 (azul), σ2 (verde) e σ3 (vermelho). As
falhas estão indicadas por projeções ciclográficas com as estrias e o sentido de movimento.

Para o conjunto de feições compressivas, a posição do eixo compressivo


principal s1 está posicionada em ESE/suborizontal, com eixo intermediário s2

parte 2 – exemplos de casos 359


orientado a WSW/baixo ângulo de mergulho (Fig 13). Para as falhas normais,
a reconstrução destaca o eixo esforço principal distensivo NNE/suborizontal
(Fig. 13).
A dedução dos eixos de paleotensões a partir da análise da população de
falhas deformando as coberturas cezonoicas, apesar do número de dados ser pe-
queno, traz resultados consistentes com aqueles apresentados para a evolução
do Rifte Cenozóico da região de São João del Rei. Assim, o estudo das falhas jo-
vens indica para o sistema de esforços s1 WNW/horizontal, s3 NNE/horizontal
e s2 vertical, o que corresponde a um regime neotectônico transcorrente, como
apresentado por Saadi (1990) e Saadi et al. (1991) para a região. A implantação
de uma bacia no vale do Rio Elvas gerou grandes alinhamentos WNW nas suas
margens, que se ajustam a feições transtensivas com abatimento da calha central.
Na área da jazida, as fraturas abertas, inclusive com sinais de percolação de água,
apresentam a orientação preferencial próximas a EW, provavelmente pela posi-
ção de alto ângulo, quase ortogonais, em relação a s3.

3.2 As falhas antigas

As falhas que não se ajustam no arranjo cinemático acima são entendidas


como resultantes de outro pulso de deformação, sendo consideradas mais anti-
gas e foram tratadas separadamente. Foram consideradas falhas transcorrentes
destrais e sinistrais, reconhecidas principalmente nos mármores que constituem
o conjunto principal da jazida. No estudo de paleotensões (Fig. 14), o diagra-
ma de diedros retos apresenta a posição de s1 bem definida, ENE/suborizontal.
A posição de s3 aponta para orientação WNW/suborizontal, definindo um sis-
tema transcorrente bem caracterizado. Para as falhas normais, representando o
quadro distensivo, a definição do eixo s3 é NW/suborizontal, com s1 subvertical e
s2 NE/suborizontal. Deduz-se, portanto, esforços compressivos s1 segundo ENE,
com projeção de s3 NW. Este arranjo pode ser correlacionado à formação das
bacias sedimentares cenozoicas da região, que foram atribuídas a tempos plio-
cênicos (Saadi 1990), mas podem remontar a tempos anteriores ao Mioceno, em
coerência com o regime de formação das bacias sedimentares cenozoicas da re-
gião Sudeste.

360 geologia estrutural aplicada


Figura 14. Estereogramas das falhas antigas: à esquerda, falhas transcorrentes e à direita, falhas
normais. As atitudes dos eixos são apresentadas pelo ângulo de caimento seguido do rumo. As setas
indicam σ1 (azul), σ2 (verde) e σ3 (vermelho). Os diagramas incluem as projeções ciclográficas, as
estrias e o sentido de movimento de cada plano de falha.

3.3 A tectônica rúptil

Na região de São João del Rei, o registro responsável pela tectônica rúptil
ocorrida após o Pré-Cambriano remonta aos tempos cenozóicos. O Rifte Ceno-
zóico da Região de São João del Rei (Saadi 1990) é apresentado como resultante
de reativação de planos de foliação e descontinuidades do Cinturão de Cisalha-
mento Ouro Fino (do Sistema Paraíba do Sul), de direção NE, mediante esforços
distensivos NW. As falhas normais têm variações das direção, porém as estrias
indicam distensão próxima a NNW (Fig. 15). Os sedimentos que preencheram a
bacia são conglomerados, arenitos e lamitos, representando fluxos de detritos e
de lama. Este evento é responsável também pela formação dos pacotes sedimen-
tares que ocorrem nas proximidades da mina, e a reativação de fraturas e falhas
nesta época pode ter controlado o desenvolvimento das feições de carste ocor-
rentes na área, uma vez que se encontram parcialmente cobertas por este tipo de
sedimentos na região dos pontaletes e muros de mármores.
Ao evento deformacional são associadas as falhas transcorrentes destrais
com orientação próxima a NNE a NE(Fig 16), que reconstituem os eixos de
paleotensões em compressão NE e distensão NW. As falhas transcorrentes si-
nistrais (Fig. 17), orientadas NE a EW, apontam eixo compressivo em NE e
distensivo NW.

parte 2 – exemplos de casos 361


Figura 15. Estereogramas de falhas normais antigas: à esquerda, projeção ciclográfica, estrias e
sentido de movimentos; à direita, indicação dos eixos de paleotensão.
Figura 16. Estereogramas de falhas transcorrentes destrais antigas: à esquerda, projeção ciclográ-
fica, estrias e sentido de movimentos; à direita, indicação dos eixos de paleotensão.
Figura 17. Estereogramas das falhas transcorrentes sinistrais antigas: à esquerda, projeção ciclo-
gráfica, estrias e sentido de movimentos; à direita, reconstrução dos eixos de paleotensão.

A deformação destes pacotes sedimentares representa o pulso deforma-


tivo posterior, e último reconhecido. Levou à inversão das bacias cenozóicas,
promovendo a elevação dos sedimentos, o desenvolvimento principal de falhas
transcorrentes e de empurrão. São comuns os sedimentos deformados ao longo
da rodovia, sempre ocupando posições elevadas, além daqueles que aparecem
na Bacia de Rio das Mortes. O Domo de São Sebastião também representa por-
ções invertidas.

362 geologia estrutural aplicada


Os esforços que atuaram nesta deformação mais nova são representados
por compressão WNW, como acima mostrado. As falhas normais deste conjunto
tem orientações diversas, mas apresentam um quadro de distensão próximo a NS
(Fig. 18), com várias falhas marcando distensão próxima a NW.
As outras falhas que deformam os sedimentos cenozoicos apresentam um
quadro melhor definido, caracterizado pelas falhas reversas e transcorrentes. As
falhas reversas reconhecidas têm direção NNEe, apesar de apresentarem alto ângu-
lo de mergulho, indicam esforços compressivos NW bem caracterizado (Fig. 19).
As falhas transcorrentes sinistrais com direção geral NW (Fig. 20) indicam eixo
compressivo NW, da mesma forma que as falhas transcorrentes destrais (Fig. 21).
A conjugação de todos estes tipos diferentes de falhas aponta para um mes-
mo sistema compressivo NW e distensivo NE. São esforços correlacionados ao
modelo de deformação regional por binário dextral EW decorrente da rotação
horária da Placa Sul-Americana em sua movimentação para oeste, conforme Ha-
sui (1990). Este regime é o que impõe às fraturas com orientação próximas a uma
posição favorável à abertura, portanto favorável à percolação de águas subterrâ-
neas no maciço rochoso.

Figura 18. Estereogramas de falhas normais dos sedimentos cenozoicos mais jovens: à esquerda,
projeção ciclográfica, estrias e sentido de movimentos; à direita, eixos de paleotensão.
Figura 19. Estereogramas das falhas reversas dos sedimentos cenozoicos mais jovens: à esquerda,
projeção ciclográfica, estrias e sentido de movimentos; à direita, eixos de paleotensão.

parte 2 – exemplos de casos 363


Figura 20. Estereogramas das falhas transcorrentes sinistrais nos sedimentos cenozoicos mais jo-
vens: à esquerda, projeção ciclográfica, estrias e sentido de movimentos; à direita, eixos de paleo-
tensão.
Figura 21. Estereogramas das falhas transcorrentes destrais nos sedimentos cenozoicos mais jo-
vens: à esquerda, projeção ciclográfica, estrias e sentido de movimentos; à direita, eixos de paleo-
tensão.

4 FEIÇÕES DE DESTAQUE
A Fig. 22 mostra zonas destacadas em cores que merecem ser investigadas
com maior detalhe, em função das características a elas associadas, reconhecidas
na superfície do terreno.
1) A primeira delas localiza-se na parte leste da mina. Ali aflora o meta-
calcário em meio a relevo cárstico ao longo de uma faixa NS (muros e
pontaletes e Gruta da Casa de Pedra), provavelmente associado ao re-
levo da gruta, pois se encontra alinhado com ela. Além disso, apresenta
planos de dissolução que podem ser associados às direções NS e EW,
semelhantes àquelas reconhecidas na gruta. Existe a possibilidade de
ocorrência de cavernas abaixo desta zona.

364 geologia estrutural aplicada


Figura 22. Mapa das principais fraturas abertas e zonas de fraturas, com indicação das faixas em
amarelo em que são necessárias investigações de detalhe por sondagens.

2) Na parte sul da mina, na região do bombeamento, ocorrem zonas de


fraturas EW, associadas a feição de dissolução preenchida (9, Fig. 8),
com as seguintes feições de destaque:
»» presença de água em fraturas na região do bombeamento que, segundo
os técnicos da mina, realimentam o poço de bombeamento. Furos rea-
lizados no entorno mostraram a presença de água nas proximidades, a
uma profundidade de 2 m do piso, aproximadamente na mesma cota
do lago próximo à mina, ou seja, do lençol freático;
»» região de interseção de fraturas NS e EW, que se mostraram importan-
tes na implantação de solapamentos e de salões na gruta da Casa de
Pedra (Fig. 8);
»» presença de solapamento (6, Fig. 8) na região de prolongamento para
leste desta zona de fraturas.
3) Na região central da jazida, piso inferior, com direção N80E, obser-
vam-se fraturas abertas nos taludes leste e oeste da mina (1, 2, 3 e 4
– Fig. 8). Elas parecem constituir um único sistema, pelo seu alinha-
mento verificado em campo.
4. Relevo cárstico e cavernas. A Gruta da Casa de Pedra apresenta inú-
meras feições de relevo cárstico e cavernas, localizados bem ao lado da
jazida. O padrão de feições de dissolução e de percolação (estalactites e
paredes) associa-se invariavelmente a fraturas, com forte controle das
direções EW e NS. Além destas feições, dentro da mina aparecem:
»» na parte leste da jazida, pontaletes e muros de metacalcário sendo
desenterradas em meio à cobertura sedimentar mais jovem (material

parte 2 – exemplos de casos 365


areno-argiloso avermelhado, rico em fragmentos de quartzo). As di-
reções de dissolução são próximas a EW e NS. A faixa destas feições
tem a direção NS, cujo prolongamento para sul alcança os domínios da
gruta Casa de Pedra;
»» afundamento do piso na lateral da estrada (6, na Fig. 8), ao lado do
maciço da Casa de Pedra, com a formação de um pequeno ”ralo” de 1
m de diâmetro, onde é possível reconhecer espessa crosta carbonática,
na forma de estalactites. Não é possível avaliar dimensões do buraco;
»» formação de caixa de preenchimento de zona de dissolução (9, Fig. 8),
com largura aflorante de 1 m, controlada por fraturas EW, próxima a zo-
nas de fraturas EW e no alinhamento de zona de fraturas EW. O preen-
chimento é de material areno-argiloso cheio de fragmentos de quartzo.

Salienta-se que as fraturas EW:


1) controlam fortemente a implantação dos canais de dissolução da gruta;
2) podem alcançar, pelo seu prolongamento, a região de várzea e os do-
mínios da lagoa a leste da mina;
3) as fraturas EW posicionam-se com orientação favorável à abertura, se-
gundo o sistema de tensão mais jovem determinado e, portanto, favo-
ráveis à percolação de água no maciço rochoso.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à Santa Susana Mineração/ Jundu Mineração Ltda.


que possibilitou a realização deste trabalho.

366 geologia estrutural aplicada


ANÁLISE CINEMÁTICA DE TALUDES DA
PEDREIRA SÃO JORGE, BALSA NOVA, PR
M arina L ima 1
An drés Migu el G onz alez Aceved o 2
Juc iara de C arvalh o L eit e 1
E duard o Sal amu ni 3

1 INTRODUÇÃO
O objetivo deste estudo foi aplicar o método de análise cinemática por meio
do tratamento de dados estruturais para identificar os modelos potenciais de es-
corregamentos a que os taludes de pedreira estão sujeitos. As descontinuidades
da pedreira foram caracterizadas e os taludes mais e menos adequados para o
avanço da lavra foram identificados a partir de análise quantitativa. Na sequên-
cia, foi realizada análise de sensibilidade visando superar incertezas da etapa an-
terior e, assim, definir atitudes e ângulos de inclinação estáveis.
O trabalho foi desenvolvido em 2008 na cava principal da pedreira São Jor-
ge, localizada em Balsa Nova, região metropolitana de Curitiba, estado do Paraná
(Fig. 1A). A geometria da pedreira é conformada por três bancadas com taludes
de aproximadamente 80-90º de inclinação, 6 a 15 m de altura e bermas de aproxi-
madamente 6 a 8 m de comprimento (Fig. 1B e Foto 1, Quadro 1).
As rochas encontradas na pedreira São Jorge pertencem ao Complexo
Atuba (MINEROPAR 2006). São constituídas basicamente por gnaisses mi-
loníticos com foliação anstomosada que forma bandamento composicional
de direção NE bastante empinada de espessura variável, definido por bandas

1
 Geóloga.
2
  Engenheiro Geólogo.
3
  Universidade Federal do Paraná.

367
melanocráticas cinzas e bandas quartzo-feldspáticas róseas. Superimposta a esta
deformação dúctil, há uma deformação rúptil que gera falhas transcorrentes e
transpressionais paralelas a subparalelas à antiga foliação (Foto 2, Quadro1).

Figura 1. (A) Localização da pedreira São Jorge e (B) vista aérea da Pedreira São Jorge com indi-
cação das posições das linhas de varredura (taludes) onde foram coletados os dados estruturais.

Quadro 1

Foto 1. Vista dos taludes identificados como 1 e 2. Foto 2. Vista do talude 3 da Pedreira São Jorge.

2 MÉTODOS
As técnicas de análise de deslizamentos podem ser divididas em três níveis
segundo sua complexidade (Stead et al. 2006): (1) Análise cinemática e de equi-
líbrio limite; (2) métodos numéricos aplicados a meios contínuos e descontínuos
e (3) modelos híbridos. Entre as principais vantagens da utilização da análise

368 geologia estrutural aplicada


cinemática são elencadas a facilidade da utilização e apresentação do potencial de
ruptura e a viabilidade da análise de blocos com estabilidade crítica. Destaca-se,
igualmente, também a possibilidade da análise cinemática ser combinada com
técnicas estatísticas, objetivando a indicação a probabilidade de ruptura (Stead
et al. 2006, Nagali 2010).
A análise cinemática no âmbito da geotecnica refere-se ao estudo do mo-
vimento de corpos sem compromisso com a identificação da causa desse mo-
vimento (Fiori & Carmignani 2015). Este é um método bastante utilizado para
avaliar deslizamentos estruturalmente controlados em maciços rochosos (Cerri
et al. 2018). Para tanto, é realizada uma comparação entre a atitude dos planos
de descontinuidades presentes e a atitude do plano da vertente em relação a um
ângulo de atrito interno, que é intrínseco à rocha do talude.
A representação gráfica é feita a partir de estereograma (rede de Schmidt-
-Lambert), onde estruturas planares e lineares são plotadas e o consequente re-
sultado geométrico ou a configuração final destas feições pode ser interpretado.
A representação de um plano é feita a partir dos grandes círculos contidos
no diagrama, enquanto seu polo é plotado a 90° no sentido oposto do plano cor-
respondente, passando pelo centro da projeção da esfera. Para que a identificação
dos modelos potenciais de deslizamento seja feita é necessário conhecer também
o ângulo de atrito (Φ) ou de fricção do litotipo constituinte do maciço. Este ân-
gulo pode ser determinado em campo (a partir do tilt test) ou, ainda, por meio de
ensaios de cisalhamento. Deve ser representado no estereograma como um cír-
culo com origem no centro do diagrama e cujo diâmetro varia conforme o valor
do ângulo de atrito (Φ). De acordo com a determinação do ângulo de atrito, um
bloco permanecerá em repouso em uma superfície planar se a força resultante de
todas as forças atuantes no bloco estiver afastada da normal à superfície com um
ângulo menor do que Φ (Fiori & Carmignani 2015).
Os quatro mecanismos básicos de movimentação em taludes de rocha são:
ruptura circular, planar, em cunha e tombamento de blocos (Varnes 1978, Hoek
& Bray 1981) (Fig. 2).
O deslizamento ou ruptura planar, ou seja, o deslocamento ao longo de uma
ou mais de uma superfície ocorre quando há descontinuidades inclinadas no ma-
ciço e que afloram na face do talude com um ângulo maior do que o ângulo de
atrito interno e menor do que o ângulo da inclinação do talude (Hoek & Bray
1981). Admite-se que estes deslizamentos ocorrerão na direção do mergulho da
descontinuidade que atende às condições anteriormente citadas, podendo haver
uma variação de 20° em torno desta direção. Para que o deslizamento em cunha
ocorra, ao longo de dois ou mais planos intersectados, é necessário que a linha de
intersecção entre os planos aflore na superfície do talude com ângulo de mergulho
maior do que o ângulo de atrito interno (Fiori & Carmignani 2015). O fenômeno

parte 2 – exemplos de casos 369


de tombamento de blocos consiste na rotação sobre eixos fixos ocorrendo o “des-
colamento” do bloco de um maciço em direção à face livre do talude (Fiori &
Carmignani 2015). Este tipo de movimentação ocorre quando duas famílias de
juntas intersectam-se, tendo uma das famílias alto ângulo de mergulho contra
a face do talude, enquanto a outra deve possuir baixos ângulos de inclinação a
favor da face livre do talude.

Figura 2. Principais tipos de deslizamentos em vertentes e os estereogramas de estruturas que


evidenciam estes tipos de movimentos. Modificado de Hoek & Bray (1981).

No presente estudo de caso as medidas obtidas em campo foram separadas


em famílias de fraturas com base em atitudes e características geotécnicas seme-
lhantes. Em seguida, estes dados foram inseridos no software DIPS v. 7.0 (Rocs-
cience) de análise estrutural com notação do tipo dip/dip direction para que os
gráficos de densidade pudessem ser gerados. A análise foi feita relacionando-se

370 geologia estrutural aplicada


as famílias de descontinuidades identificadas e as seis diferentes direções de ta-
ludes existentes (Tabela 1), com o propósito de reconhecimento das direções que
apresentam maior risco a determinados tipos de movimento.

Tabela 1. Atitudes dos taludes da atual cada principal da Pedreira São Jorge.
Talude Atitude
1 N-136/85
2 N-172/85
3 N-223/85
4 N-290/85
5 N-336/85
6 N-58/85

O software utilizado relaciona a atitude do talude e as atitudes das desconti-


nuidades com o ângulo de atrito com a finalidade de gerar uma área no diagrama
denominada zona crítica. O principal produto gerado pelo programa é a quan-
tidade de descontinuidades que estará dentro da zona crítica, indicando possível
potencial de ruptura (planar, em cunha e/ou por tombamento de blocos). Para a
abordagem quantitativa, foram utilizados os índices IRP (índice de ruptura planar),
IRC (índice de ruptura em cunha) e IT (índice de tombamento de blocos), como
proposto por Admassu (2010). Estes índices são obtidos da seguinte maneira:

Pc = Total de descontinuidades críticas ou que causam ruptura planar,


Pt = Total de descontinuidades.

Cc = Total de intersecções críticas ou que causam ruptura em cunha,


Ct = Total de intersecções formadas pelas descontinuidades.

Tc = Total de intersecções ou intersecções críticas ou que causam tombamento de blocos,


Tt = Total de intersecções.

parte 2 – exemplos de casos 371


Os índices variam de 0 a 1 e os maiores valores foram associados a um maior
potencial de ocorrência de ruptura planar, enquanto que os valores inferiores a
0,1 foram considerados insuficientes para gerar este tipo de movimento.
O ângulo de atrito utilizado nas análises do presente estudo foi de 25º, valor
considerado baixo para gnaisses ou rochas graníticas (Agbalajobi 2015). A reali-
zação de uma análise conservadora foi escolhida por diversos fatores, mas princi-
palmente porque a realização de um teste de tilt adequado não foi possível. Já na
análise de sensibilidade foi considerada uma variação de 25º a 60º em taludes que
se destacaram na primeira etapa, com base em resultados obtidos por Lanaro &
Fredriksson (2005) e Agbalajobi (2015) para rochas semelhantes.

3 CARACTERIZAÇÃO GEOTÉCNICA E ESTRUTURAL


A coleta dos dados estruturais foi realizada nas bancadas do primeiro e se-
gundo nível da atual cava principal, em toda a extensão com acesso possível. Para
a obtenção da atitude das descontinuidades foi utilizado o método de amostra-
gem por linhas de varredura sugerido por Robertson (1970), no qual todas as
descontinuidades são registradas sem intervalos.
O método por linhas de varredura é melhor em comparação a outros mé-
todos porque proporciona mais detalhes tanto em relação à quantidade de es-
truturas quanto à variabilidade de suas atitudes. Deve-se considerar que, se a
amostragem é feita ao longo de apenas uma linha de varredura, podem ocor-
rer erros porque a frequência de descontinuidades paralelas à linha será baixa.
O ideal é que sejam feitas linhas de varredura em 3 direções perpendiculares
entre si, sempre que possível, para que estes erros sejam evitados e a amostragem
seja representativa (Fiori & Carmignani 2015).
Foram observadas igualmente, a extensão e a presença de água em cada
uma das estruturas identificadas. Além disso, as descontinuidades foram ava-
liadas segundo seu grau de alteração (Geological Society 1977), espaçamento
(ISRM 1978), persistência (ISRM 1978), rugosidade (Barton & Choubey 1977)
e abertura (ISRM 1978) para serem separadas em famílias com características
semelhantes (Tabela 2). Os estereogramas de cada uma das famílias identificadas
podem ser observados na Fig. 3.

372 geologia estrutural aplicada


Tabela 2. Características geotécnicas das famílias identificadas.
Grau de Presença
Família Média Abertura Espaçamento Persistência JRC
Alteração de água
1 N-309/87 IB Cerrada Moderado Média 8 a 10 Não
2 N-220/76 IB Cerrada Moderado Média 6a8 Localizada
3 N-202/38 IB Cerrada Moderado Pequena 8 a 10 Não
4 N-349/53 IB Cerrada Moderado Pequena 8 a 10 Não
5 N-163/58 IB Cerrada Moderado Pequena 8 a 10 Não
6 N-74/84 IB Cerrada Pequeno Pequena 8 a 10 Não

Figura 3. Estereogramas de contorno das famílias de falhas identificadas na pedreira São Jorge.

As rochas presentes na área de estudo possuem uma história evolutiva


bastante complexa, que conta com deformações superimpostas de caráter tanto
dúctil quanto rúptil, que ocorreram desde o Paleoproterozoico até o Neógeno
devido a novos pulsos tectônicos que provocam a reativação de falhas segundo
um sistema dominante transcorrente (Chavez-Kuz & Salamuni 2008). A partir
da interpretação de fotografias aéreas na escala 1:25.000 (SEMA & ITCF, 1980),

parte 2 – exemplos de casos 373


foi possível identificar os principais lineamentos rúpteis presentes na região. Três
direções principais podem ser observadas (Fig. 4): um grupo com direção N30-
-50E, outro com direção N75-85E e por fim, estruturas com direção N30-55W.

Figura 4. Alinhamentos estruturais regionais identificados a partir da fotointerpretação. O polígo-


no amarelo representa a área de estudo.

Os lineamentos com direção N30-50E (identificados em verde) podem ser


associados às estruturas que foram agrupadas na Família 1. Os lineamentos com
direção N75-85E (em azul) poderiam ser associados a algumas estruturas que fo-
ram agrupadas na Família 1, 4 ou 5, a depender do ângulo e direção do mergulho
desses alinhamentos. Por fim, o grupo com direção N30-50W (em laranja) pode
ser associado à Família 2.
Os dois grupos com orientação para NE podem ser associados à foliação
milonítica de transposição e o bandamento composicional Sn. No detalhe, em
campo, verificou-se que a foliação está orientada segundo NE, com variações lo-
cais para ENE, NNE e EW. As estruturas rúpteis (tanto juntas, quanto falhas)
paralelas a subparalelas à foliação Sn são predominantes na Pedreira São Jorge e
foram agrupadas na Família 1. O subparalelismo entre este sistema de fratura e
a foliação está associada ao sistema transcorrente Lancinha-Cubatão, de evento
neproterozoico, enquanto a tectônica cenozoica é responsável pela reativação de
estruturas NE e NW e pela geração de novas estruturas, como as de direção NS

374 geologia estrutural aplicada


(Chavez-Kuz & Salamuni 2008), essas últimas agrupadas na família 6. O regime
transcorrente pôde ser identificado em campo por meio de estrias e degraus as-
sociados às falhas.

4 ANÁLISE CINEMÁTICA
Rupturas Planares – Para a análise de rupturas planares, cada uma das fa-
mílias foi analisada em função das seis direções de taludes existentes na pedreira
em estereogramas individuais. Ao final de todas as análises individuais, gerou-se
um IRP (índice de ruptura planar) para cada uma das direções de taludes a partir
de uma média simples, isto é, somaram-se as descontinuidades que foram consi-
deradas críticas e dividiu-se pelo total de descontinuidades identificadas em cada
um dos casos. O resultado é mostrado na Tabela 3, enquanto a Fig. 56 mostra o
estereograma, além de um exemplo do cálculo para determinação do IRP.

Tabela 3. Valores de índice de ruptura planar (IRP) para os taludes da pedreira São Jorge.
Total de Total de medidas Ocorrência de
Talude IRP
medidas críticas deslizamentos planares
1 36 0,088 Não
2 34 0,083 Não
3 88 0,216 Sim
408
4 36 0,088 Não
5 32 0,078 Não
6 23 0,056 Não

Figura 5. Resultado produzido pelo DIPS v. 7.0 (Rocscience) para a análise de ruptura planar para
o talude 3 e seu respectivo cálculo do IRP.

parte 2 – exemplos de casos 375


Rupturas em cunha – As rupturas em cunha foram analisadas em duas
etapas. A primeira consistiu em verificar a quantidade de cunhas formadas entre
todas as medidas obtidas em campo em relação a cada uma das direções dos
taludes. Em seguida, combinaram-se todas as famílias, par a par, para que fos-
sem reconhecidas as interações que mais oferecem riscos, em relação a cada uma
das orientações dos taludes. A avaliação das cunhas formadas entre famílias foi
detalhada devido à sua maior importância em relação às cunhas formadas por
descontinuidades de uma mesma família. Foram obtidos IRCs (índice de ruptu-
ras em cunha) para cada par em cada talude e, em seguida, um IRC geral para
cada uma das direções dos taludes a partir de uma média simples entre a soma
das interseções consideradas críticas e o total de combinações feitas em cada um
dos taludes. Este resultado se encontra na Tabela 4, enquanto a Fig. 6 mostra o
estereograma e um exemplo do cálculo para determinação do IRC que representa
a combinação entre duas famílias.

Tabela 4. Valores de índice de ruptura em cunha (IRC) obtidos na análise família versus
família para os taludes da pedreira São Jorge.
Total de
Interseções totais Ocorrência de
Talude interseções IRC
geradas deslizamento em cunha
críticas
1 16569 0,297 Sim
2 25490 0,457 Sim
3 30932 0,555 Sim
55751
4 24189 0,434 Sim
5 17634 0,316 Sim
6 13408 0,240 Sim

Figura 6. Resultado produzido pelo DIPS v. 7.0 (Rocscience) para a análise de ruptura em cunha
entre as famílias 5 e 6 para o talude 3 e respectivo cálculo do IRC para essa interação.

376 geologia estrutural aplicada


Tombamento de blocos – O IT (índice de tombamento de blocos) foi anali-
sado com base nas condições de Hudson & Harrison (1997). O software gera três
diferentes zonas críticas em que as intersecções que representam risco de geração de
tombamento de blocos são plotadas. Foram considerados apenas os possíveis tomba-
mentos representados dentro da zona crítica primária, devido à sua maior relevância.
O resultado dessa análise se encontra na Tabela 5, enquanto a Fig. 7 mostra o este-
reograma gerado pelo software e um exemplo do cálculo para determinação do IT.

Tabela 5. Valores de índice de tombamento (IT) de blocos para os taludes da pedreira.

Total de interseções Interseções Ocorrência de


Talude IT
(Zona 1) Críticas tombamento de blocos
1 83007 8715 0,105 Sim
2 83007 4675 0,056 Não
3 83007 10167 0,122 Sim
4 83007 5634 0,068 Não
5 83007 7192 0,087 Não
6 83007 17703 0,213 Sim

Figura 7. Resultado produzido pelo DIPS v7.0 (Rocscience) para a análise de tombamento de blo-
cos para o talude 3 e respectivo cálculo do IT.

5 ANÁLISE DE SENSIBILIDADE
O resultado da análise cinemática em taludes rochosos pode apresentar al-
gumas incertezas. Isso pode ocorrer devido a alguns fatores, como, por exem-
plo, a utilização de uma orientação média do talude que representará toda a sua

parte 2 – exemplos de casos 377


extensão, mas que na prática muitas vezes pode variar localmente e apresentar
direções ligeiramente distintas. Além disso, o ângulo de inclinação do talude
também pode variar localmente.
De acordo com os resultados obtidos, o talude 3 possui os maiores IRP e IRC
e um alto IT e, portanto, é o mais problemático da cava atual da pedreira São Jorge.
A partir da análise quantitativa, observou-se que o maior potencial de ruptura pla-
nar está associado às famílias 2 e 3. Já em relação às rupturas em cunha, elas são
causadas principalmente pela interação entre as famílias 5 e 6, em que 100% das
cunhas formadas são críticas, entre as famílias 1 e 5 (84,5%) e 1 e 3 (80,5%).
A análise de sensibilidade visa superar estas incertezas a partir da variação
dos valores considerados. Esta análise tem como objetivo definir atitudes e ângu-
los de inclinação estáveis em que os índices de ruptura sejam iguais ou inferiores
a 0,1. Também foram testados ângulos de atrito superiores ao utilizado anterior-
mente (25º), possíveis para maciços gnáissicos pouco intemperizados, como, por
exemplo, os valores testados por Agbalajobi (2015) que variam entre 27º e 57º.
No talude 3, em relação à ocorrência de deslizamentos planares e, consi-
derando-se apenas o aumento da inclinação em 5º, a quantidade de medidas
críticas aumentaria para 93 (Fig. 8), o que representa 22,79%. Por outro lado, a
diminuição para 60º de inclinação faria com que apenas 3,4% dos planos fossem
localizados na zona crítica e com 45º, apenas 2,4%. Se o ângulo de inclinação
fosse mantido em 85º e o ângulo de atrito fosse 40º, por exemplo, haveria uma
diminuição da quantidade de planos críticos para 88, o que representa 20,09%.
Com um ângulo de atrito igual a 60º, o IRP diminuiria para 0,18, mas não alcan-
çaria valores menores que 0,1, ou seja, o potencial de deslizamentos planares di-
minuiria, mas sua ocorrência não poderia ser descartada completamente (Fig. 9).
A análise de sensibilidade relativa aos deslizamentos em cunha foi feita
considerando-se o total de cunhas formadas por todas as medidas obtidas com
o objetivo de possibilitar uma visão geral do que ocorre em relação à variação da
inclinação e do ângulo de atrito.
Se apenas a variação da inclinação do talude for considerada, um aumen-
to de 5º deste ângulo faria a quantidade de intersecções críticas aumentar para
47.302, o que representa 56,98% do total de intersecções analisadas. Por outro
lado, a diminuição para 60º de inclinação faria com que apenas 16,83% das
cunhas fossem localizadas na zona crítica e, com 45º de inclinação, apenas 0,01%
estariam na zona crítica. Se o ângulo de inclinação fosse mantido em 85º e o ân-
gulo de atrito fosse 40º, por exemplo, haveria uma diminuição da quantidade de
intersecções críticas para 36.566, que representa 44,05%. Com o maior ângulo de
atrito testado, ou seja, 60º, o IRC diminuiria para 0,33 e não seria possível evitar
a possibilidade de ocorrência de deslizamentos em cunha, já que, o índice de
ruptura em cunha não alcançaria valores menores do que 0,1.
Em relação à análise de tombamento de blocos, é possível observar que, se
apenas a variação da inclinação do talude fosse considerada, com um aumento de

378 geologia estrutural aplicada


5º, por exemplo, faria a quantidade de intersecções críticas aumentar para 10.744,
o que representa 12,94% do total de intersecções analisadas. Por outro lado, a di-
minuição para 60º de inclinação faria com que apenas 8,76% das cunhas fossem
localizadas na zona crítica e com 45º, apenas 6,01%. Se o ângulo de inclinação
fosse mantido em 85º e o ângulo de atrito sofrer uma variação de 25º a 60º como
nas análises anteriores, não haveria mudanças na quantidade de intersecções lo-
calizadas nas zonas críticas 1 e 2, que são as mais significativas.

Figura 8. Variação do IRP, IRC e IT para diferentes ângulos de inclinação do talude 3.

Figura 9. Variação do IRP e IRC para diferentes ângulos de atrito no talude 3.

6 CONCLUSÕES
A partir dos resultados obtidos pela análise cinemática foi possível determi-
nar que o talude 3, com direção N-223/85, possui o maior IRP (0,216), o maior

parte 2 – exemplos de casos 379


IRC (0,554) e alto IT (0,122), o que o caracteriza como o mais problemático da
cava principal da Pedreira São Jorge.
Contudo, com a adoção de ângulo de inclinação do talude de 45º, obtém-se
valores de IRP = 0,025, de IRC = 0 e de IT = 0,06. Dessa maneira, os valores
alcançariam índices <0,1 e o talude apresentaria maior segurança. Por mais alto
que o ângulo de atrito seja, não há possibilidade de nenhum dos índices serem
inferiores a 0,1, pois os menores valores obtidos foram: IRP = 0,18 e IRC = 0,33
para um ângulo de 60º. Nesse caso, conclui-se que a melhor opção para alcançar
baixos índices de ruptura com a finalidade de aumentar a segurança do talude
seria a diminuição do ângulo de inclinação do talude para 45º.
A análise cinemática é um método inicial no estudo de avaliação de estabili-
dade de taludes em pedreiras, rodovias e encostas. Para que seja realizada, é neces-
sário considerar a importância do nível de detalhe dos levantamentos estruturais e
geotécnicos, além da periodicidade necessária para a atualização de dados. No caso
de taludes de escavação, o maciço está constantemente sujeito ao intemperismo e
também ao processo contínuo da evolução da lavra que influencia, por exemplo,
o desconfinamento de novos blocos, que podem gerar problemas. O método em-
pregado nesse trabalho pode facilitar a identificação de situações problemáticas de
maneira significativamente rápida e confiável e possui um baixo custo para ser ela-
borado. Além disso, a facilidade com que se pode alterar parâmetros e valores dos
dados utilizando-se um software apropriado, nesse caso o DIPS v. 7.0 (Rocscience),
auxilia na resolução de problemas de maneira mais simples.
A partir de testes com diversas possibilidades, sejam em relação ao ângulo
de atrito, inclinação e orientação dos taludes e/ou atitudes das principais estru-
turas, é possível compreender minimamente o comportamento geotécnico do
maciço em situações distintas daquelas observadas atualmente em campo.
Levantamentos periódicos podem diminuir o nível de incerteza, identificar
situações distintas das que já haviam sido descritas anteriormente com a exposi-
ção do maciço e prever novos tipos de potenciais movimentações de blocos re-
lacionadas às novas condições do maciço e de suas descontinuidades. À medida
que o avanço de lavra ocorre, as tensões do maciço também são redistribuídas e,
portanto, há a necessidade de se reavaliar o seu comportamento geomecânico.

AGRADECIMENTOS

Os autores externam agradecimentos à UFPR, à Pedreira São Jorge pela


possibilidade de estudo da cava principal, bem como ao Prof. Yociteru Hasui pela
revisão do manuscrito.

380 geologia estrutural aplicada


ESTRUTURAÇAO GEOLÓGICA E TRECHOS
CRÍTICOS NA ABERTURA DO TUNEL T-O7-17
(TUNELÃO) DA FERROVIA DO AÇO, SERRA
DA MANTIQUEIRA (MG)
Yo c ite ru H asu i 1
Luis M assayosi O jima 2

1 INTRODUÇÃO
O Túnel T-07-17 da Ferrovia do Aço, conhecido por Tunelão, localiza-se no
Município de Bom Jardim (MG) e constitui a mais extensa abertura escavada ao
longo do seu traçado (8,6 km), para travessia da Serra da Mantiqueira (Fig. 1).
Em maio de 1.981, quando já se tinha escavado cerca de 60%, com aberturas
de sul para norte (emboque SP) e de norte para sul (emboque BH), diversas feições
estruturais haviam sido atravessadas, condicionando infiltrações de água, altera-
ções de rocha e instabilizações de teto e paredes, prejudicando muito os avanços e
acarretando apreciáveis atrasos no cronograma. Para subsidiar os trabalhos, foi rea-
lizada, naquela ocasião, uma investigação estrutural visando prever os trechos crí-
ticos nos restantes 40% que seriam escavados. Posteriormente, em maio de 1.982,
quando faltava apenas pequena porção para ser escavada, foi feita investigação
complementar visando previsão para o trecho restante, o mais crítico, e verificação
das previsões anteriores. Aqui são apresentados os resultados de tais investigações.
O estaqueamento referencial do eixo da ferrovia foi feito com espaçamento
regular de 20 m. O emboque sul (SP) situa-se na estaca 56.529+ 10,00 m e o norte
(BH), na estaca 56.961 +15,00 m. Em maio de 1.981, a frente SP encontrava-se
na estaca 56.682 e a BH, na 56.852, e já tinham sido escavadas 34% na frente SP e

1
  Universidade Estadual Paulista, UNESP/Campus de Rio Claro. Ex-Geólogo do Instituto de Pes-
quisas Tecnológicas do Estado de São Paulo.
2
  Walm Engenharia e Tecnologia Ambiental. Ex-Geólogo do Instituto de Pesquisas Tecnológicas
do Estado de São Paulo.

381
26% na frente BH. Em maio de 1.982, a frente SP encontrava-se na estaca 56.732
e a BH, na 56.784, perfazendo 47% na frente SP e 41% na frente BH, faltando
apenas 12% para vazamento do túnel.

Figura 1. Localização do Túnel T 07-17 (Tunelão) da Ferrovia do Aço.

2 METODOLOGiA
O estudo, na primeira etapa, foi desenvolvido através de investigações e pro-
cedimentos correntes, a saber:

382 geologia estrutural aplicada


• fotointerpretação preliminar da área do túnel e seu entorno, utilizando
fotos aéreas em escala média de 1:60.000 (USAF/FAB), de modo a reco-
nhecer os padrões fotogeológicos e os traços estruturais presentes;
• trabalhos de campo nos trechos escavados do túnel e na superfície, visan-
do determinar principalmente os tipos de estruturas e a geometria, bem
como os trechos de maior fraturamento e infiltração de água;
• trabalhos de escritório, envolvendo fotointerpretação final, tratamento
de dados e integração de resultados, obtendo o modelo estrutural para
a área; e
• previsão dos trechos críticos.

3 LITOLOGIA
A área é constituída essencialmente de micaxistos, quartzo-micaxistos e
quartzitos micáceos atribuídos ao Grupo Andrelândia, e gnaisses e migmatitos
de tipos variados atribuídos ao Complexo Barbacena. Tais conjuntos litológicos
se vinculam a um embasamento mais antigo e uma sequência metassedimentar
menos antiga.
Os xistos estão mais ou menos afetados por migmatização, marcada por
desenvolvimento de feldspatos e de veios quartzo-feldspáticos, de espessuras cen-
timétricas, concordantes e discordantes, configurando tipos variados de estrutu-
ras. Os xistos predominam na parte oeste, enquanto a leste tornam-se expressivos
os quartzitos. Os gnaisses e migmatitos estão presentes na porção sul.

4 TIPOLOGIA ESTRUTURAL
Em cortes das estradas e nos trechos escavados do túnel foram observados
diversos tipos de estruturas, dos quais apenas alguns receberam atenção, pela
importância na investigação.
Em todas as rochas, aparece bandamento composicional, xistosidade para-
lela e foliação milonítica paralelizados; tais estruturas, em conjunto, são aqui re-
feridas simplesmente por foliação. É notável o amendoamento geral e, por vezes,
lentes e budins mostram formas sigmoidais. Em porções restritas, observam-se
dobras intrafoliais, em parte com xistosidade plano-axial, e eixos variavelmente
orientados, bem como estruturas S-C.

parte 2 – exemplos de casos 383


Lineações de estiramento e mineral estão presentes, paralelas entre si e as-
sociadas à foliação. Têm disposição praticamente paralela à direção da foliação,
refletindo movimentos direcionais.
O traçado da foliação é sinuoso na vertical e na horizontal, em parte relacio-
nado com o padrão amendoado, mas principalmente devido a dobramentos, que
configuram dobras e ondulações de dois grupos distintos.
Famílias de juntas e ocasionais falhas de pequeno porte truncam o maciço.

5 MODELO GEOMÉTRICO
A estrutura onipresente na área é a foliação. Ela tem orientação regional em
torno de ENE, mas na área mostra-se afetada por dobramentos que impuseram
desvios sensíveis (Fig. 2).

Figura 2. Mapa geológico-estrutural da área do túnel. Base: IPT (1981).

A estrutura geral da área de interesse é dada pela dobra da Serra da Onça.


Ela é bem discernível na porção nordeste da área, onde seu ápice é desenhado por

384 geologia estrutural aplicada


quartzitos, que sustentam elevada serrania; no restante, a escassez de afloramen-
tos permite apenas esboçá-la.
Ela é de tipo sinclinorial, com eixo de orientação N-250, e plano axial empina-
do. As dobras menores que complicam os flancos deste sinclinório têm dimensões
centimétricas e quilométricas, as maiores estando representadas na Fig. 2, nas vizi-
nhanças da projeção do traçado do túnel. O eixo desta grande estrutura passa apro-
ximadamente na metade do túnel; o flanco sul tem mergulhos altos, maiores que os
do flanco norte. Esta dobra mostra-se afetada por ondulações cruzadas, cujos eixos
têm direções entre NW e NNW e planos axiais empinados.
Na Fig. 2 acham-se também representados lineamentos correspondentes a
descontinuidades (falhas, fraturas), discordantes com a foliação, que delineiam
famílias com direções NNW a WNW, NE, EW e NS, de mergulhos verticais a
subverticais, mostradas na rosácea.Observa-se que, em relação à orientação da
foliação, a família EW e a NS são oblíquas, e a em torno de NW é subtransversal.
Existe também uma em torno de NE que não está representada e é subparalela.
Observa-se também que os formadores do alto ribeirão Cachoeirinha, que
cruzam a projeção do traçado do eixo têm orientações segundo estas direções e
segundo a direção da foliação, revelando forte controle estrutural.
Considerando os trechos do túnel escavados até 5 de maio de 1981, isto é,
do emboque BH até a estaca 56.852 e do emboque SP até a estaca 56.682 (Fig.
3), bem como as exposições superficiais mais próximas a cada um deles, foram
separados dois setores estruturais, um ao norte e outro ao sul.

Figura 3. Traçado do túnel, indicando estruturas dos trechos escavados até maio de 1981 a partir
dos emboques Belo Horizonte e São Paulo, e também da superfície no vale do Ribeirão Cachoei-
rinha.

Em cada um deles foram tomadas medidas de juntas, que estão represen-


tadas nos estereogramas da Fig. 4. Os dois estereogramas mostram famílias

parte 2 – exemplos de casos 385


semelhantes nos dois gráficos (1, em torno de NS/horizontal; 2, em torno de
WNW/subvertical; 3, em torno de NNW/baixo mergulho; 7, em torno da ver-
tical). As famílias 4 e 5 na Fig. 4a e a 4 na Fig 4b têm atitudes em torno de EW/
baixo mergulho. Apenas a família 6 da Fig. 4a não encontra correspondente.

Figura 4. Juntas dos setores Norte e Sul.

Tais dados mostram que as orientações de lineamentos da Fig. 2 efetiva-


mente expressam direções de fraturas subverticais das rochas. Mostram também
que as famílias são desigualmente desenvolvidas e não são todas ubíquas.
Os espaçamentos entre as juntas de cada família são variáveis, mas no geral
são de alguns metros, permitindo caracterizar o maciço como pouco fraturado.
Não são raras as faixas de larguras de até vários decímetros, em que aparecem
numerosas juntas subparalelas com espaçamentos decimétricos.
As eventuais falhas existentes são de pequeno porte, com rejeitos de cen-
tímetros a decímetros e películas ultracataclásticas submilimétricas e estriadas.
Na maioria são paralelas a famílias de juntas e aparecem, com maior frequência,
tendo espaçamentos métricos e entrecruzadas no vale do ribeirão Cachoeirinha,
cujos formadores cruzam a projeção do traçado do túnel em sua porção mediana.
Não se observou nenhuma zona de falha expressiva, nem em superfície, nem nos
trechos escavados do túnel.

6 MODELO CINEMÁTICO
O modelo cinemático permite entender as estruturas sob a ótica do seu de-
senvolvimento.

386 geologia estrutural aplicada


A primeira etapa de deformação gerou a foliação, com algumas feições as-
sociadas (dobras intrafoliais, estruturas S-C, Iineação de estiramento etc.). A di-
reção regional da foliação segundo ENE e a disposição quase horizontal da linea-
ção de estiramento indicam movimentos direcionais na área. Estes movimentos,
conquanto ainda não bem estudados na região, foram posteriores a outros de
cavalgamentos para norte.
A segunda etapa consistiu em dobramentos cruzados, os mais expressivos
com eixos ENE, afetando a foliação. Estas dobras têm orientações de eixos para-
lelas e transversais à lineação, sugerindo que se relacionam com etapa tardia da
movimentação direcional referida.
A terceira etapa corresponde à formação de famílias de juntas, já em regime
rúptil. A disposições destas em relação à orientação geral da foliação (ou dos
eixos das dobras mais expressivas), mostram que elas se relacionam com o pro-
cesso de movimentação diferencial.
As pequenas falhas existentes não foram objetos de detalhamento, poden-
do ser também vinculadas a este processo de deformação ou à movimentação
mesozóico-terciária da região.

7 PREVISÕES INICIAIS DE TRECHOS CRÍTICOS A


SEREM ESCAVADOS

As rochas apresentam feições variadas, importando:


1) a foliação, cuja direção geral cruza o eixo do túnel;
2) a grande dobra sinclinorial, desenhada pela foliação, cujo eixo mergu-
lha para o lado oeste, e foi inferido como cruzando aproximadamente
o meio do túnel, na altura da estaca 56.770. Em função dessa dobra, a
foliação deveria apresentar mergulhos fortes para NW na porção sul e
mergulhos algo menores na porção norte;
3) as famílias de juntas subverticais, inclinadas e suborizontais;
4) os feixes de juntas que aparecem esparsamente;
5) as falhas, que se formaram por movimentação ao longo de juntas, e
aparecem com maior frequência no alto vale do ribeirão Cachoeirinha,
inexistindo zonas de falhas expressivas; e
6) o traçado da drenagem controlado pelas direções das descontinuida-
des e da foliação.

A observação nos trechos escavados do túnel mostrou que as juntas de alto


mergulho, mais frequentes do que as verticais, são as responsáveis pela infiltração

parte 2 – exemplos de casos 387


de água e que a elas se relacionam a alteração, via de regra, pouco expressiva. As
atitudes destas juntas, medidas no túnel e extrapoladas para cima, alcançam os
vales na superfície. Também se observou que nas duas frentes de abertura do
túnel as juntas mais importantes num e outro lado são as que mergulham para os
lados dos emboques.
Considerando as famílias de descontinuidades mais favoráveis à infiltração
de água a partir dos vales (com direções paralelas a estes e mergulhos altos), e a
foliação que também contribui neste sentido, convergindo em profundidade para
fechar o ápice do grande sinclinório, foi possível, por extrapolação a partir da su-
perfície para o eixo do túnel, determinar, as zonas críticas em função do padrão
de fraturamento e as zonas mais ou menos sujeitas a percolação e alteração, que
exigem métodos construtivos mais e menos elaborados.
Evidentemente, a extrapolação de atitudes da foliação, que está dobrada em
diferentes escalas, através de distâncias de 110-130 m, bem como a extrapolação
de famílias de descontinuidades, que apresentam dispersão de atitudes e afetam
maciços inomogêneos, só puderam ser feitas em nível de aproximação e em ca-
ráter previsional.
As extrapolações são mostradas na Fig. 5, em seção paralela ao eixo do tú-
nel, com indicação das estacas de referência. A largura de cada faixa considera
as famílias próximas e os desvios de atitudes das famílias de descontinuidades.
As zonas críticas foram localizadas entre as estacas: 56.706 e 56.709; 56.712 e
56.718; 56.724 e 56.726; 56.743 e 56.748; 56.772 e 56.775; 56.777 e 56.783; 56.788
e 56.790; e 56.806 e 56.811. As zonas são, alternadamente, mais e menos críticas.
Alguns aspectos importantes puderam ainda ser salientados:
• a zona 56.772-56.775 deve ser a mais importante, por conjugar desconti-
nuidades com a zona de ápice do sinclinório;
• o caráter pouco fraturado do maciço sugere que não são esperados des-
moronamentos de monta nos trechos críticos;
• as quedas de fragmentos são sempre possíveis em pequena escala, dada
a disposição da xistosidade com baixo/médio mergulho e dos planos de
descontinuidades com mergulhos suborizontais, inclinados e subver-
ticais/verticais, isolando blocos livres. Nos trechos examinados foram
notados problemas de sobrescavação e mesmo de desplacamentos por
influência destas anisotropias.

388 geologia estrutural aplicada


Figura 5. Seção vertical mostrando a projeção de juntas, falhas, dobras e xistosidade do vale do Ri-
beirão Cachoeirinha para o túnel. Estão indicados os trechos de infiltração de água observados nos
trechos construídos do túnel e os trechos previstos de maior e menor probabilidade de infiltração
no trecho a ser construído. Trecho escavado até maio/1981.

8 PREVISÕES E VERIFICAÇÕES POSTERIORES


As previsões acima apresentadas foram confirmadas durante os avanços en-
tre maio de 1.981 e maio de 1.982.
Nas estacas 56.732 (frente SP) e 56.784 (frente BH), em maio de 1.982, fo-
ram alcançados os trechos mais críticos do túnel. Dada a relação das infiltrações
não só com as descontinuidades, mas também com a foliação, esta foi mapeada
nos trechos escavados, para se delinear a dobra sinclinorial e prever seu compor-
tamento no trecho que restava a ser atravessado. Verificou-se que (Fig. 6):

parte 2 – exemplos de casos 389


• as sinuosidades da foliação efetivamente configuram o sinclinório em
subsuperfície, com ápice bastante ondulado e flanco sul mais empinado
que o de norte;
• o ápice do sinclinório, previsto para ser encontrado na altura da estaca
56.770, foi localizado efetivamente no trecho 56.587-56.588. Na superfície,
este eixo passa em área sem afloramentos. No trecho do túnel corresponden-
te ao ápice real não houve problemas na escavação, pelo fato de não haver
descontinuidades interligando a zona apical com os vales na superfície; e
• no trecho enfocado identifica-se uma dobra parasítica, situada no flanco
norte da grande dobra e tendo ao lado uma antiforma secundária a sul.

Figura 6. Situação em maio/1982.

Tanto o trecho norte como o sul apresentaram, com o avanço, passagens de


quartzo-micaxistos migmatizados para micaxistos, corroborando assim a estru-
tura sinclinorial deduzida.
Os trechos críticos então apontados foram os mesmos indicados anterior-
mente, entre as estacas 56.743 e 56.748, 56.772 e 56.775, e 56.777 e 56.783, que
se localizam no núcleo da antiforma secundária e no flanco norte da sinforma
secundária.
Adicionalmente, seria de se esperar que, com o favor da foliação, a percola-
ção acompanhasse os flancos da antiforma e da sinforma, nos trechos assinalados
por pontilhado vermelho na Fig. 6.

390 geologia estrutural aplicada


9 CONCLUSÕES
1) O maciço apresenta famílias de juntas entrecruzadas com espaçamen-
tos grandes, que o configura como pouco fraturado. Quedas de blocos
são favorecidas de modo natural pela disposição da foliação e das des-
continuidades.
2) As descontinuidades (juntas e falhas) e a foliação controlam a rede
de drenagem; as descontinuidades de alto mergulho são os condutos
naturais principais, mas secundariamente a foliação e outras desconti-
nuidades favorecem a percolação.
3) As zonas críticas indicadas na Fig. 5 foram previstas em maio de 1.981;
aquelas que foram atravessadas até maio de 1.982 foram confirmadas.
A Fig. 6 mostra as previsões em maio de 1.982, cuja validade os Auto-
res não tiveram oportunidade de aferir; mas, informações de técnicos
envolvidos dão conta do acerto das previsões apontadas.

AGRADECIMENTOS

Os Autores consignam agradecimentos à Empresa de Engenharia Ferroviá-


ria S.A. (ENGEFER), à Figueiredo Ferraz Consultoria e Engenharia de Projeto
Ltda. e ao Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo S.A. (IPT),
pelo apoio na realização deste estudo.

parte 2 – exemplos de casos 391


FRATURAMENTO DO MACIÇO ROCHOSO
PARA SUBSIDIAR A AVALIAÇÃO DO
IMPACTO DO RESERVATÓRIO DE
PINDOBAÇU NA ÁREA DE GARIMPOS
DE ESMERALDA DE CARNAÍBA (BA)
Norb erto Morales 1
Yo c iteru H asu i 2

APRESENTAÇÃO

O objetivo deste estudo, realizado em 2001, foi analisar o fraturamento do


maciço rochoso da região compreendida entre Pindobaçu e Carnaíba (BA) para
definir o padrão de descontinuidades e indicar aquelas com potencial para perco-
lação d’água, procurando subsidiar a modelagem hidrogeológica na avaliação da
possibilidade de impacto a montante do Reservatório de Pindobaçu, projetado
ao longo do Rio Itapecuru-Açu, na área de garimpos de esmeraldas.

1 PROCEDIMENTOS
A realização do estudo envolveu os seguintes procedimentos:
1) análise de fotografias aéreas (escala aproximada 1:25.000) para extra-
ção dos lineamentos de drenagem e relevo, feições essas de desenvolvi-
mento controlado por descontinuidades, permitindo a caracterização
do padrão macroscópico da região;
2) observação no terreno de descontinuidades (juntas, zonas de fratura e
falhas), suas famílias e relações, e coleta de dados de orientação espa-
cial nos afloramentos;

  Universidade Estadual Paulista – UNESP/Campus de Rio Claro.


1

2
  Universidade Estadual Paulista – UNESP/Campus de Rio Claro. Ex-Geólogo do Instituto de Pes-
quisas Tecnológicas do Estado de São Paulo.

392
3) processamento dos dados de descontinuidades para definição de orien-
tações preferenciais das famílias de descontinuidades, a partir do reco-
nhecimento do plano da falhas, das estrias e do sentido de movimento
para determinação de orientações dos eixos principais de tensão (pela
Técnica dos Diedros Retos) do regime tectônico gerador das falhas, com
utilização do software Win-Tensor (Delvaux 2015);
4) integração das informações, interpretação e indicação das feições im-
portantes.

2 QUADRO GERAL DA GEOLOGIA


A área focalizada é constituída por um conjunto de rochas pré-cambrianas
metamorfoseadas e deformadas, dispostas em faixas de direção aproximada NNE
e reunidas no Complexo Saúde e no Grupo Jacobina. Este último configura uma
estrutura antiformal, em cujo núcleo aparece o corpo do Granito Carnaíba. Co-
berturas mais jovens associam-se a zonas topograficamente mais abatidas. A dis-
tribuição dessas unidades litoestratigráficas é mostrada na base geológica da Fig. 1
e na seção litoestrutural esquemática ao longo do Rio Itapicuru-Açu da Fig. 2.

Figura 1. Mapa geológico da região compreendida entre Pindobaçu e Carnaíba, com indicação
da localização dos garimpos de esmeralda e dos afloramentos visitados para a análise estrutural.

parte 2 – exemplos de casos 393


Figura 2. Perfil esquemático mostrando a compartimentação geomorfológica definida por falhas
normais NNE. Sem escalas horizontal e vertical.

O Complexo Saúde aparece no oeste da área estudada representado por


uma faixa de gnaisses migmatíticos com intercalações de quartzo-micaxistos ca-
taclásticos e a leste tem ampla representação por biotita gnaisses.
O conjunto de serras da região é sustendo por rochas quartzíticas esver-
deadas a esbranquiçadas, de granulação fina a média, maciças ou estratificadas
(variações de cor e/ou composição e/ou granulometria), por vezes com marcas
de onda, estratificação cruzada e intercalações de níveis conglomeráticos. São
atribuídos à Formação Rio do Ouro (Leo et al. 1964) do Grupo Jacobina (Griffon
1967), e constituem quatro níveis litoestratigráficos superpostos e de representa-
ção regional (Moreira & Santana 1982). Filitos e xistos, alguns ricos em andaluzi-
ta, aparecem intercalados. A direção geral é NNE, com mergulhos altos a baixos
para o lado leste, coerente com o flanco oriental da antiforma regional (Couto &
Almeida 1982).
Rochas metaultrabásicas ocorrem formando faixas aparentemente concor-
dantes com os quartzitos, acompanhando o desenho do flanco da antiforma.
Duas dessas faixas e o encrave a sul de Carnaíba de Baixo alojam os garimpos de
esmeralda. Tais rochas são representadas por xistos e tremolititos com propor-
ções variadas de flogopita, clorita, biotita e serpentina, referidos genericamente
como serpentinitos. De modo geral apresentam uma xistosidade marcada por
micas ou por planos de partição das rochas.
O Granito Carnaíba, de idade paleoproterozoicas (Ciclo Transamazônico), é
intrusivo na sequência metavulcanossedimentar. Compõe-se de leucotonalitos a
moscovita leucogranitos e subordinadamente granitos com muscovita e granada,
normalmente homogêneos, de granulação média a grossa, isotrópicos e equigranu-
lares. Engloba, na região de Carnaíba de Baixo, faixas de serpentinitos e de gnaisses
migmatíticos/quartzo-micaxistos miloníticos, bem como um enclave de metaul-
trabasitos, além de xenólitos (Couto & Almeida 1982, Moreira & Santana 1982).

394 geologia estrutural aplicada


Ações metassomáticas de corpos pegmatíticos sobre os metaultrabasitos en-
caixantes teriam levado à formação das esmeraldas garimpadas na região. Os ga-
rimpos são representados por escavações subterrâneas, seguindo níveis de mine-
ralização em galerias estreitas e irregulares, horizontais ou inclinadas, acessadas
por poços (shafts). Os poços mais profundos atingiam 60 m em 1982 segundo os
mesmos autores acima citados, e hoje ultrapassam 100 m segundo informações
de garimpeiros.
Na parte leste da área da área estudada, na região de Pindobaçu, a topografia
plana lateral à Serra de Jacobina, associa-se a um conjunto de rochas sedimen-
tares representadas por conglomerados basais e depósitos de fluxo de detritos
enfeixados na Formação Capim Grosso (Neógeno-Quaternário). Também, nas
partes mais elevadas aparecem depósitos arenosos e crostas lateríticas possivel-
mente relacionadas com a Superfície Sul-Americana (Moreira & Santana 1982)
e, portanto, do Paleógeno.
Nas encostas são observados depósitos quaternários, de natureza coluvial
(areias com blocos de quartzito em depósitos de tálus), que passam para depósi-
tos aluvionares, estes em parte em terraços.
O relevo da área estudada, como esquematizado na Fig. 2, é marcado pela
Serra de Jacobina tendo em sua frente oriental um baixo onde se acumulou a
Formação Capim Grosso. A serrania tem um bloco alto ladeado por outros dois
rebaixados, estes tendo acolhido depósitos mais jovens.
Sob o ponto de vista estrutural, os estudos anteriores assinalaram a existên-
cia de falhas regionais de direções N60E, N60W e EW expressas em mapas, e for-
te fraturamento com famílias NE/50NW, N70E/55NW, EW-35NW e N60E/60SE
observadas nos garimpos (Couto & Almeida 1982, Moreira & Santana 1982).

3 ANÁLISE DE LINEAMENTOS FOTOGEOLÓGICOS


Os lineamentos são traços retilíneos de drenagem e de relevo, que refle-
tem estruturas controladoras dos seus traçados. O mapa geológico regional di-
vulgado por Moreira & Santana (1982) apresenta lineamentos mais expressivos
NE a ENE, correspondentes a fraturas ou falhas, cruzando as serras quartzíticas
na região de Carnaíba-Pindobaçu. Alguns traços em torno de NNW, NNE e NS
também se acham marcados nesse mesmo mapa.
A análise de fotografias aéreas na escala aproximada 1:25.000 da área es-
tudada mostra lineamentos mais expressivos que se marcam como traços isola-
dos ou feixes de segmentos paralelos/subparalelos. As direções gerais são NNW,
NNE, ENE e NS, já identificadas regionalmente, como referido acima (Fig. 3).

parte 2 – exemplos de casos 395


O lineamento mais destacado na área estudada tem direção geral próxima
de NW, marcado por pequenos segmentos retilíneos próximos uns dos outros
que se interligam ou entrecortam. É justamente sobre este lineamento que está
instalado o Rio Itapecuru-Açu na área examinada, e seus tributários ao longo dos
garimpos do Lagarto e Gavião.
Essa feição NW permitiu o encaixe do vale do rio na travessia das serras
(bloco alto da Fig. 2), formando um estreito canyon que cruza as serras locais e,
onde este tem a garganta mais apertada está localizado o eixo da barragem.

Figura 3. Mapa de drenagem e lineamentos estruturais obtido a partir da análise das fotografias
aéreas. Na porção inferior, rosetas indicando as direções principais por frequência e por compri-
mento dos lineamentos.

Em trabalhos sobre o regime de esforços atuais realizados em muitas regiões


do País, as direções em torno de NW têm sido caracterizadas como preferen-
cialmente predispostas à abertura, correspondendo a fraturas de distensão ou de
tração perpendiculares a s3 (Hasui 1990).
Lineamentos NE importantes mostram forte controle na compartimenta-
ção geomorfológica e na distribuição das coberturas sedimentares cenozóicas.
São eles, de montante para jusante:

396 geologia estrutural aplicada


1) o primeiro, reconhecido no flanco oeste da Serra das Laranjeiras, sepa-
rando a região serrana a sudeste (alçada) do bloco a noroeste (abatido
e recoberto por fluxos de detritos ou leques coluviais). Esta anomalia
de relevo associa-se a zona de confluência de drenagens local;
2) o segundo, associado ao baixo vale do Riacho da Capivara e sua exten-
são para sudoeste ao longo do afluente da margem direita do Itapicuru-
-Açu entre as serras do Sobrado e Guardanapos, limitando bloco alto a
noroeste e bloco abatido a sudeste, este com coberturas coluvionares e
fluxo de detritos lateritizados;
3) o terceiro, a jusante do eixo da barragem, onde o Rio Itapicuru-Açu
deixa seu canyon, na zona do fronte da Serra de Jacobina, coincidindo
com o aparecimento de extensos cones alúvio-coluviais, pacotes sedi-
mentares lateritizados, coberturas de cunhas clásticas conglomeráticas
e argilo-arenosas de fluxos de detrito da Formação Capim Grosso.

Os lineamentos NE têm menor frequência na área estudada do que no mapa


geológico regional, aparecendo isoladamente ou por pequenas extensões na por-
ção mais ao norte, em direção à charneira da antiforma, e na porção sudeste.
O arranjo geral deles pode ser entendido como um sistema de falhas nor-
mais associado à formação das bacias sedimentares costeiras da Bahia (Recôn-
cavo-Tucano, Almada etc.), representando a propagação continente adentro da
tectônica distensiva (eixo distensivo em torno de EW) do evento tectônico deno-
minado Reativação Sul-Atlantiana ou Wealdeniana (Cretáceo-Paleógeno). Esses
lineamentos correspondem a falhas NE resultantes de reativação de descontinui-
dades antigas preexistentes (originalmente falhas inversas/reversas segundo os
mapas geológicos regionais) e/ou neoformadas. Elas levaram à constituição do
relevo com forte controle estrutural e possibilitaram a acumulação de coberturas
sedimentares (Formação Capim Grosso na parte leste da área estudada, e cober-
turas detríticas lateritizadas na região da foz do Riacho da Capivara e a montante
do primeiro estreito do Rio Itapicuru-Açu).

4 Feições estruturais OBSERVADAS NO


TERRENO

As feições reconhecidas na escala de afloramento durante o trabalho de


campo são apresentadas a seguir, por sua tipologia e orientações preferenciais.

parte 2 – exemplos de casos 397


4.1 Acamamento-relíquia

Em alguns afloramentos nas proximidades dos contatos litológicos mapea-


dos é notável a presença de camadas de espessuras variadas, centimétricas a deci-
métricas, de xistos, filitos e quartzitos (Foto 1, Quadro 1). Também são reconhe-
cidas várias estruturas sedimentares primárias, com destaque para estratificação
cruzada e marcas onduladas. Tais feições são referidas como relíquias por terem
sofrido modificações pela deformação/metamorfismo.

Quadro 1

Foto 1. Quartzito verde do Grupo Jacobina com destaque para o acamamento-relíquia e as estra-
tificações cruzadas.
Foto 2. Zona de fraturas com espaçamento centimétrico a métrico, reconhecidas no Trecho 2.
Notar grande persistência e abertura das fraturas principais.
Foto 3. Zona de fraturas com espaçamento centimétrico a métrico, reconhecidas no Trecho 2.
Notar fratura aberta.
Foto 4. Surgência de água em fratura reconhecida no Trecho 4 (afloramento 28).

398 geologia estrutural aplicada


O acamamento-relíquia tem no geral direção bastante regular em torno de
NNE e os mergulhos variam de altos a baixos e voltados para o lado leste, como
mostra a Fig. 5. Em afloramentos raramente são vistas inversões de mergulhos,
coerentemente com a situação no flanco leste da antiforma. Este flanco reflete-se
na configuração geral das serras, infletindo para noroeste e diminuindo seu mer-
gulho na região da Carnaíba, onde se localiza a maior atividade garimpeira. É
comum a presença de fraturas paralelas ao acamamento, as quais em alguns aflo-
ramentos constituem a família de fraturamento principal.
A Fig. 4 apresenta a projeção estereográfica do acamamento-relíquia, de-
duzindo-se a orientação preferencial N25E/35SE para essa feição e N17W/05SW
para o eixo da antiforma.

Figura 4. Acamamento-relíquia. Representação ciclográfica à esquerda e estereograma de fre-


quência dos polos à direita. A orientação preferencial é N25E/35SE e de distribuição em guirlanda
indica dobra com eixo N17E/5SW.

4.2 Xistosidade e gnaissificação

Foram observadas apenas em alguns afloramentos de xistos e filitos, de ser-


pentinitos e de gnaisses graníticos. Nos metassedimentos, a xistosidade apresen-
ta-se paralela ao acamamento-relíquia; nos outros casos não foi possível definir a
relação com estruturas anteriores.

4.3 Juntas

As juntas são onipresentes, formam diversas famílias entrecruzadas e apre-


sentam espaçamento em geral decimétrico a métrico, caracterizando o maciço
no geral como muito fraturado. Cada família inclui esparsas e destacadas zonas
de fraturas constituídas por feixes de descontinuidades paralelas/subparalelas
com espaçamento pequeno, centimétrico.

parte 2 – exemplos de casos 399


O controle das juntas e zonas de fratura no traçado do Rio Itapicuru-Açu é
evidente e é descrito a seguir, de jusante para montante e por trechos (Fig. 1) que
são identificados pelos números dos afloramentos que os limitam.

• Trecho 1, correspondendo aos afloramentos 11 a 13: segmento WNW do


rio, com duas a três famílias de juntas, a principal NW presente nos três
afloramentos deste segmento, e fraturas NNE, paralelas ao alinhamento
da serra (Fig. 5).

Figura 5. Juntas do Trecho 1 em projeções ciclográficas.

• Trecho 2, correspondendo aos afloramentos 1, 2, 14, 15 e 16: segmento


NNW do rio, onde está instalada a barragem. A família principal de jun-
tas NW a WNW está presente em todos os afloramentos (Fig. 6) com per-
sistência variada métrica a decamétrica, com grandes traços associados
a zonas de fraturas (Foto 2, Quadro 1), acompanhada de fraturas abertas
(Foto 3, Quadro 1). As zonas de fratura são marcadas por espaçamen-
to centimétrico, formando faixas com larguras de até 1 m. Localmente
é possível associar curta inflexão do rio para EW em ajuste à zona de
fraturas ali reconhecida (afloramento 15). A segunda família em impor-
tância é marcada por juntas que formam alto ângulo com o rio, na forma
de fraturas de grande persistência e espaçamento métrico a decimétrico
entre si.

400 geologia estrutural aplicada


Figura 6. Juntas do Trecho 2 em projeções ciclográficas. As zonas de fratura estão representadas
em vermelho e descontinuidades abertas, em azul claro.

• Trecho 3, representado pelos afloramentos 17 e 24. Quatro famílias bem


marcadas, NNW (Afloramento 17), NW, EW, WNW e ENE (Afloramento
24), formando zonas de fratura localizadas, em alto ângulo com o segmen-
to do rio (Fig. 7). Salienta-se que este trecho corresponde ao segmento de
maior influência das fraturas com esta última orientação, formando vários
lineamentos de drenagem orientados segundo ENE (Fig. 3).

Figura 7. Juntas dos Trecho 3 em projeções ciclográficas. As zonas de fraturas são representadas
em vermelho.

parte 2 – exemplos de casos 401


No rumo norte, drenagem acima, adentra-se em filitos que se apresentam
alterados e recobertos por cobertura coluvionar de fluxo de detritos (leque
aluvial, Afloramento 3), e em planície aluvionar mais extensa, formando ex-
tensa faixa sem afloramentos. A região é interpretada como a região de acu-
mulação de sedimentos do bloco abatido (Fig. 2). O Riacho da Capivara está
instalado na região do limite do bloco alto a oeste com bloco abatido a leste.

• Trecho 4, representado pelos afloramentos 4, 5, 25, 26, 27, 28 e 29. Jun-


tas NW estão presentes em todos os afloramentos do segmento, forman-
do zonas de fratura nos Afloramentos 4 e 25 (Fig. 8). Constituem zonas
de fratura também ao longo do Riacho da Capivara (Afloramento 25).
A direção NNE também aparece com importância no segmento, presente
como zona de fratura, de espaçamento decimétrico e forte desplacamen-
to paralelo ao acamamento-relíquia. Os afloramentos 26 e 29 mostram
forte influência dos traços EW (feixe de lineamentos na altura do paralelo
809), na forma de fraturas de pequena persistência e espaçamento métri-
co a centimétrico ou formando zonas de fraturas. Neste segmento, fratu-
ras NNE de médio a alto ângulo de mergulho para NW aparecem com
grande persistência, secionando paredes do canyon do rio em grande ex-
tensão, algumas com surgência de água em pontos elevados em relação
ao nível do rio (Afloramento 28, Foto 4, Quadro 1).

Figura 8. Juntas dos Trecho 4 em projeções ciclográficas. As zonas de fraturas são representadas
em vermelho.

402 geologia estrutural aplicada


• Trecho 5, associado aos afloramentos 30, 42, 43 e 45, no desvio do rio de
um segmento NW para outro ENE. O segmento NE encaixa-se em fra-
turas que formam zonas de espaçamento centimétrico. A feição principal
deste segmento, entretanto, é um fraturamento muito intenso WNW de
mergulho médio para SW, com espaçamento milimétrico até 1cm, que
chega a mascarar o acamamento sedimentar (Fig. 9 e Foto 5, Quadro 2).
Entre os trechos 5 e 6, num pequeno segmento do rio orientado NNE,
na confluência com o Riacho dos Pregos, apresenta-se fortemente con-
trolado por fraturas NE (Fig. 9). São reconhecidas fraturas de grande
persistência controlando o alinhamento da drenagem (Afloramentos 6 e
44) e de espaçamento decimétrico, ou zonas de fratura de espaçamento
centimétrico. O segundo conjunto importante neste trecho é o WNW,
marcado também por zonas de fratura, às quais se associam surgência de
água. Nas margens do rio as fraturas paralelas ao acamamento também
aparecem como aberturas importantes (Foto 6, Quadro 2).

Figura 9. Juntas do Trecho 5 em projeção ciclográfica e a porção entre os trechos 5 e 6. As zonas


de fraturas estão representadas em vermelho, as fraturas com surgência de água em azul claro e as
fraturas abertas em azul escuro.

parte 2 – exemplos de casos 403


Quadro 2

Foto 5. Zona de fraturamento intenso paralelo ao leito do rio, com espaçamento centimétrico.
Afloramento 43, Trecho 5.
Foto 6. Fraturas abertas paralelas ao acamamento-relíquia. Afloramento 44.
Foto 7. Fraturas abertas paralelas ao acamamento relíquia.
Foto 8. Zona de fraturas em rochas graníticas, com espaçamento centimétrico a decimétrico.
Foto 9. Superfície de falha em rocha granítica, com destaque para as estrias e os ressaltos, indicando
movimento transcorrente sinistral entre os blocos.

• Trecho 6, englobando os afloramentos 7, 31, 32, 33, 34, 35,36 e 37, em um


segmento NNW do rio, com forte linearidade e presença de muitos seg-
mentos paralelos muito próximos (formando uma macrozona de fraturas

404 geologia estrutural aplicada


onde o rio se encaixou), controlando o canyon principal, mais estreito e
mais próximo das zonas de garimpo. A direção NW é a mais importante,
com juntas presentes em todos os afloramentos, constituindo zonas de
fraturamento intenso em vários afloramentos (Fig.10). Ainda a família de
juntas NNE contribui bastante para o padrão de fraturamento deste seg-
mento, também presente em praticamente todos os afloramentos, e cons-
tituindo zonas de fratura de alto ângulo com o traçado do rio. As fraturas
abertas mais importantes associam-se ao acamamento (Foto 7, Quadro
2). Fraturas isoladas inclinadas em sentido oposto ao do acamamento
(NNE inclinadas para WNW), de grande persistência, são reconhecidas
nas paredes do canyon, com surgência de água em algumas delas.

Figura 10. Juntas do Trecho 6 em projeção ciclográfica. As zonas de fraturas são representadas em
vermelho, as fraturas com surgência de água em azul, fraturas abertas em rosa.

parte 2 – exemplos de casos 405


• Trecho 7: corresponde aos afloramentos 18, 19, 20, 21, 22, 39, 40 e 41,
ao longo de segmento NNW de parte do Riacho do Canto e seu afluen-
te, mostrando boa linearidade com o segmento anterior. Este segmento
abandona as rochas quartzíticas e adentra nos domínios de rochas ser-
pentiníticas, gnaissses e granitos. As fraturas NW estão presentes em
todos os afloramentos, com destaque para as fraturas no Afloramento
18, com família NW bem representada, mas zona de fraturas acentuada
na direção NNE (Fig. 11), formando o fraturamento principal de rochas
graníticas (Foto 8, Quadro 2) e serpentinitos. Juntas de orientação NS
aparecem em alguns afloramentos nesta região.

Figura 11. Juntas do segmento compreendido no Trecho 7 e a porção noroeste da área, próxima
aos garimpos e ao vilarejo de Caraíba de Cima, representadas em projeção ciclográfica. As zonas de
fraturas são representadas em vermelho e as fraturas com surgência de água, em azul.

406 geologia estrutural aplicada


• Na parte noroeste da área, a oeste de Carnaíba de Baixo (Afloramentos 8,
9 e 10), os fraturamento principal é dado por família de juntas NE (Fig.
11), às quais se associam os traços de falhas lançados no mapa geológico.
As famílias próximas a EW e NS também comparecem mas com menor
expressão. As surgências de água, em nascentes nas cotas acima de 900 m,
mais uma vez, estão associadas às fraturas de alto ângulo com o acama-
mento (NNE caindo para WNW) e a fraturas EW.

Como se vê, as principais famílias são subverticais e têm orientações em tor-


no de WNW, NW, NNE e NE. Os estereogramas das figuras anteriores mostram
que as orientações das famílias de juntas são persistentes nos vários afloramentos
e pode-se considerar que a área analisada faz parte de um único domínio estrutu-
ral. Esta avaliação é fundamental e permite que todos os dados sejam tratados em
conjunto, o que é mostrado na Fig. 12, deduzindo-se as orientações preferenciais
N75W/87NE, N42W/83SW, N18E/87SE e N61E/vertical, respectivamente, para
essas famílias.

Figura 12. Estereogramas de juntas da área estudada.

Apesar de não aparecerem como orientações preferenciais, algumas fraturas


isoladas constituem importantes traços, aos quais se associam surgências de água
ou espaços abertos com sinais de percolação.
A persistência varia muito para cada família e para cada afloramento, sendo
comuns juntas isoladas ou dentro de zonas de fraturas com grande continuidade.

parte 2 – exemplos de casos 407


4.4 Falhas

Falhas reconhecidas por suas superfícies estriadas (Foto 9, Quadro 2) são


raramente vistas na área nos quartzitos, que são as rochas principais nos aflo-
ramentos e apenas 23 foram observadas (Fig. 13). Têm em geral persistências
métricas a centimétricas, sem muita continuidade pelo maciço rochoso. Asso-
ciam-se principalmente às zonas de fratura, aparecendo apenas localmente como
superfície de falha interna em uma zona de fratura, ou ainda como parte de uma
superfície de fratura.

Figura 13. Falhas reconhecidas em projeções ciclográficas: Conjunto 1 em azul; Conjunto 2 em


preto. Estrias em vermelho.

As falhas normais são as mais freqüentes, constituindo cerca de 30% dos


dados. Apresentam variação de direção e mergulho, podendo ser reconhecidos
dois conjuntos, um com predomínio de direção NW e mergulho para NE ou SW,
e outro com direção NNE e mergulhos para ESE ou WNW. As falhas inversas
apresentam direção em torno de NE, com mergulhos tanto para NW quanto SE.
As falhas transcorrentes destrais apresentam uma orientação bem marcada, em
torno de EW a WNW. As falhas transcorrentes sinistrais formam o segundo tipo

408 geologia estrutural aplicada


predominante, com uma direção bem marcada WNW a EW, além de outra NW
a NNW.
As orientações similares de falhas inversas/reversas, normais e transcor-
rentes, destrais e sinistrais, são indicadoras de terem sido geradas por mais de
um pulso de movimentação tectônica. Assim, estas falhas, conforme sua tipolo-
gia e as direções e sentidos de movimento, foram agrupadas em dois conjuntos
principais, referidos como conjunto 1 e conjunto 2, com orientações e arranjos
cinemáticos compatíveis entre si. Na Fig. 13, as falhas normais, inversas/reversas
e transcorrentes sinistrais relacionadas ao conjunto 1 são apresentadas em azul,
enquanto que as falhas do Conjunto 2 são representadas em preto.

5 REGIMES DE TENSÃO
O quadro de paleotensões foi examinado a partir dos conjuntos de falhas
como acima separados, e para cada tipo de falha observado. Apesar do pequeno
número de falhas reconhecidas no campo, obtém-se indicações consistentes.
Em relação ao conjunto 1 foram reconhecidos (Fig. 14):
• Para falhas normais: a reconstrução dos eixos de paleotensão indica s1
subvertical (N-170/77), s2 em NNE/suborizontal (N-9/13) e s3 WNW/
suborizontal (N-278/04).
• Para falhas inversas: a reconstrução dos eixos de paleotensão indica as
posições de s1 NNE/suborizontal (N-204/05), s2 WNW/baixo mergulho
(N-113/09) e s3 WNW/subvertical (N-320/80).
• Para falhas transcorrentes sinistrais: a reconstrução dos eixos de paleo-
tensão indica as orientações de s1 NE/baixo mergulho (N-48/14), s2 SW/
subvertical (N-216/76) e s3 situam-se nos quadrantes NE e NW, respec-
tivamente, posições de s2 WNW/baixo mergulho (N-113/09) e s3 NW/
suborizontal (N-318/80).

As falhas normais são as mais importantes do conjunto 1 e representam a


expressão direta do regime tectônico distensivo gerador desse sistema de falhas,
com distensão em torno de NW. As outras falhas representam movimentos de ca-
valgamento e transcorrência sob esse regime tectônico, em função da orientação
dos planos em relação aos eixos de tensão.
Este regime distensivo foi responsável pela formação dos lineamentos NNE,
principalmente os que condicionam o relevo local com soerguimentos e abati-
mentos de blocos, devendo ter controlado também a sedimentação da Formação
Campo Formoso a leste da área, onde está o povoado de Pindobaçu.

parte 2 – exemplos de casos 409


Figura 14. Diagramas de eixos de tensão deduzidos pelo programa Win-Tensor para as falhas do
Conjunto 1: falhas normais (A), inversas/reversas (B) e transcorrentes sinistrais (C). Em (D) eixos
para todas as falhas do Conjunto 1, que definem regime tectônico distensivo com distensão em
torno de NW-SE.

Em relação ao Conjunto 2 foram reconhecidos (Fig. 15):


• Para falhas normais ou falhas com forte componente de mergulho e mo-
vimento normal, a reconstrução dos eixos de paleotensão aponta para a
orientação de s1 com alto mergulho (N-123/81), s2 em NW/suborizontal
(N-326/08) e s3 NE/suborizontal (N-235/03).
• Para falhas inversas/reversas (apenas duas, o tratamento das falhas é im-
preciso, mas aponta para resultado consistente, indicando s1 SE/baixo
mergulho (N-131/17), s2 NW/suborizontal (N-222/04) e s3 NNW/alto
mergulho (N-326/73).
• Para falhas transcorrentes sinistrais: a reconstrução dos eixos de paleo-
tensão indica as posições de s1 WNW/suborizontal (N-287/11), s2 pró-
ximo da vertical (N-99/79) e s3 NNE/suborizontal (N-197/02).
• Para falhas transcorrentes destrais: a reconstrução dos eixos de paleo-
tensão indica as posições de s1 NE/suborizontal (N-140/08), s2 situa-se
próximo da vertical (N-333/81) e s3 NW/suborizontal (N-230/02).

410 geologia estrutural aplicada


Figura 15. Diagramas de eixos de tensão deduzidos pelo programa Win-Tensor para as falhas do
conjunto 2: (A) normais, (B) reversas, (C) transcorrentes sinistrais e (D) transcorrentes destrais.
Em (E) eixos de paleotensão para as todas as falhas do Conjunto 2.

A Fig. 15E apresenta os eixos indicados para o conjunto 2, considerando to-


dos os tipos de falhas assim agrupadas. Como se vê, há concentração de eixos nas
posições vertical, NW/suborizontal e NE/suborizontal. As falhas transcorrentes
são as mais expressivas do conjunto e refletem o regime tectônico transcorren-
te, marcado pela “forma” dos diedros compressivos e distensivos (modelo dos
diedros retos). Assim, as concentrações de eixos correspondem a s1 ESE/médio
mergulho (N-100/37), s2 NW/ médio mergulho (N-332/39) e s3 orientado SE/

parte 2 – exemplos de casos 411


médio mergulho (N-215/29). Tal reconstrução resulta em um regime tectônico
transcorrente com forte componente distensiva NE.
Por essa análise das falhas reconhece-se então um regime tectônico disten-
sivo que se pode vincular com a Reativação Sul-Atlantiana (Cretáceo-Paleógeno)
e outro transcorrente, que se relaciona à neotectônica, ainda vigente (Neógeno
Superior-Quaternário).
O evento distensivo é importante por ter imposto os traços gerais do relevo
ainda hoje existente e criado falhas normais ENE de grande expressão regional
que ainda guardam seu potencial de comportamento como zonas abertas.
A neotectônica é fundamental por implicar o comportamento de abertura
de descontinuidades transversais/subtransversais ao eixo s3, isto é, de direções
em torno de NW.

6 CONCLUSÕES
Tendo em vista a construção da Barragem de Pindobaçu e o padrão de fra-
turamento da área, os estudos foram concentrados ao longo do Rio Itapecuru-
-Açu e as principais conclusões são:
1) A análise de fotos aéreas forneceu os traços dos principais lineamentos,
que correspondem às descontinuidades de maior expressão na área de
interesse. A Fig. 3 mostra essas descontinuidades, consubstanciando
um modelo geométrico marcado por um grande lineamentos NW ao
longo do Rio Itapicuru-Açu e três feixes ENE, com lineamentos NNE
e NS de menor expressão associados.
2) O maciço rochoso apresenta um alto grau de fraturamento, segmen-
tado por descontinuidades com persistência de metros a decâmetros,
em grande parte cortando os afloramentos em sua extensão. Essas
descontinuidades são representadas por juntas (superfícies de ruptura
paralelas/subparalelas, com espaçamento decimétrico a métrico, mais
freqüentemente em torno de 0,5 m, formando famílias entrecruzadas),
zonas de fratura (faixas com feixes de descontinuidades paralelas/sub-
paralelas muito próximas, com espaçamento centimétrico decimétri-
co) e falhas (planos com estrias)
3) Nos afloramentos são observadas famílias de descontinuidades entre-
cruzadas. Quatro principais famílias de descontinuidades foram reco-
nhecidas, com orientações preferenciais N75W/87NE, N42W/83SW,
N18E/87SE e N61E/vertical (próximas de WNW, NW, NNE e ENE,

412 geologia estrutural aplicada


todas subverticais), indicando que os lineamentos regionais têm em
boa parte representação em escala de afloramento.
Apesar de não comparecerem como orientações preferenciais, as fratu-
ras paralelas ao acamamento (NNE/50-70SE) e aquelas em alto ângulo
com o acamamento (WNW/50-60SW) também são importantes, por
constituírem fraturas abertas e/ou de grande persistência.
4) A zona de fratura mais importante é aquela NW ao longo da qual se
encaixou o Rio Itapicuru-Açu. O controle estrutural do vale é marcan-
te, principalmente no segmento de maior interesse, entre a foz do Ria-
cho dos Pregos (limite da represa) e a região da Marota, onde se situam
os garimpos topograficamente mais baixos. Ao longo dele verifica-se
forte controle dos trechos do rio e das paredes do canyon, inclusive no
domínio das rochas graníticas, estando bem marcado em afloramentos
na estrada na região dos garimpos Lagarto e Gavião.
5) As falhas reconhecidas podem ser agrupadas em dois conjuntos.
As falhas do conjunto 1 (mais antigo) foram geradas por um sistemas
de tensão com s1 subvertical (compressão), s2 SW/baixo mergulho e
s3 SE/baixo mergulho (distensão), indicativo de regime tectônico dis-
tensivo, que se liga à Reativação Sul-Atlantiana (Cretáceo-Neógeno).
Esse regime tectônico distensivo é importante por ter formado falhas
normais NNE, reconhecidas principalmente nas ombreiras dos blocos
altos, com isso impondo a compartimentação geomorfológica regio-
nal, mediante formação de altos e baixos topográficos, bem como a
sedimentação da Formação Capim Grosso e de sedimentos de fluxos
de detritos nos blocos abatidos. Pelo menos parte destas descontinui-
dades encontra-se aberta até hoje, apresentando grande persistência
e constituindo um dos controles da drenagem do maciço a partir das
partes altas das serras.
As falhas do conjunto 2 (mais jovem) foram originadas por um sistema
de eixos de tensão com s1 NW/suborizontal (compressão), s2 subver-
tical e s3 NE/suborizontal (distensão). Trata-se de regime tectônico
transcorrente, compatível com reconhecimentos regionais para o qua-
dro neotectônico, associado à deriva da Placa Sul Americana.
Esse segundo regime tectônico é importante por ter induzido a forma-
ção de feixes de descontinuidades ENE, bem como outras mais espar-
sas, como o lineamento que controlou o Rio Itapicuru-Açu.
6) No modelo geométrico das descontinuidades da área de interesse, os
principais canais com potencial para percolação de águas são: (1) o
lineamento NNW do vale do Itapicuru-Açu, (2), as grandes falhas NE

parte 2 – exemplos de casos 413


originalmente de tipo normal, (3) os contatos litológicos e desconti-
nuidades NNE e (4) subordinadamente as descontinuidades NS. As
demais descontinuidades NNE tendem a ser menos participativas. As
descontinuidades NE tendem a permanecer seladas.
Tais feições entrecruzam e interconectam de modo a compor a rede
controladora da permeabilidade do maciço rochoso a ser considerada
na modelagem hidrogeológica.
7) Dos litotipos presentes na área, os quartzitos tendem a ser os mais per-
meáveis e mais fraturados, enquanto os serpentinitos, xistos e filitos os
mais impermeáveis e menos fraturados. O quadro litológico e estrutu-
ral deve ser considerado na modelagem hidrogeológica.

AGRADECIMENTOS

Os autores externam seus agradecimentos à Golder Associates Brasil Ltda.


e à Superintendência de Recursos Hídricos da Bahia, que possibilitaram a reali-
zação deste estudo.

414 geologia estrutural aplicada


TECTÔNICA RÚPTIL COMO
CONTROLE HIDROGEOLÓGICO NO
COMPLEXO ATUBA (CURITIBA, PR)
E duard o Sal amu ni 1
L ilian C havez-Ku s 2
A man da L ang P ereira 2

1 INTRODUÇÃO
O entendimento de aspectos hidrogeológicos de rochas cristalinas passa pela
caracterização da trama estrutural rúptil do local de interesse. O Complexo Atuba,
embasamento da Bacia Sedimentar de Curitiba, é um bom exemplo, pois possui
uma pervasiva rede de fraturas com conectividade entre si, reativadas ou geradas
por pulsos deformacionais relativamente recentes, superimposta à tectônica dúctil
mais antiga. A análise estrutural associada às variáveis hidrogeológicas básicas de
vazão e transmissividade qualifica, em parte, o controle estrutural da água subter-
rânea local. Esse exemplo, estudado em 2018-2019, é aqui apresentado.

2 ARCABOUÇO GEOLÓGICO
A geologia do sítio urbano de Curitiba é resultante dos processos de forma-
ção e deformação de rochas cristalinas do Complexo Atuba, constituído por ro-
chas metamórficas de médio a alto grau, de idade paleoproterozoica retrabalha-
da no Neoproterozoico. Há cerca de 20 Ma no Cenozoico (Oligoceno-Mioceno)
um evento deformacional abriu espaço para a deposição de sedimentos pouco

  Universidade Federal do Paraná.


1

 Geóloga.
2

415
consolidados e inconsolidados que configura a Bacia de Curitiba. O mapa geoló-
gico de Curitiba e arredores é mostrado na Fig. 1.

Figura 1. Mapa Geológico da região de Curitiba, ressaltando a região estudada. Salamuni et al.
(2004), modificado.

2.1 A Bacia de Curitiba e seu embasamento

A Formação Guabirotuba (Bigarella & Salamuni 1962; Becker 1982; Sala-


muni at al. (1999, 2004; Lima et al. 2013) é a componente principal da bacia.
Está assentada de forma irregular sobre o Complexo Atuba e é composta por
depósitos argilosos que gradam para sedimentos mais grossos. Há intercalações
de areias arcoseanas e de cascalheiras, assim como lentes siltosas esparsas e cali-
che. Becker (1982) propôs, ainda, a existência da Formação Tinguis na forma de
depósitos inconsolidados e esparsos, depositados sobre a Formação Guabirotu-
ba em contato erosivo. Depósitos aluvionares recentes areno-síltico-argilosos ao
longo das planícies de inundação dos rios Iguaçu, Iraí, Palmital, Atuba, Mirin-
guava, Passaúna e Itaqui, com espessuras máximas em torno de 4 m, completam
o quadro estratigráfico.
O Complexo Atuba constitui o embasamento da Bacia de Curitiba e é for-
mado por (a) gnaisses bandados com melanossoma de biotita-anfibólio gnaisse
e leucossoma de composição tonalito-granodiorítica, e (b) gnaisses-graníticos

416 geologia estrutural aplicada


bandados com presença restrita de biotita. Os gnaisses são derivados de granodio-
rito, granito e anfibolito, havendo outros litotipos intercalados como quartzitos,
quartzo-xistos e micaxistos. A estruturação mais pervasiva é dada pela foliação
paralela ao bandamento gnáissico. Há também migmatitos que se subdividem
em metatexitos e diatexitos, com predominância alternada, e rochas metamáfi-
cas e metaultramáficas encaixadas com algumas dezenas de metros de espessura.
Nesse conjunto encontram-se frequentemente diques de diabásio com direção
NW de espessuras variáveis entre 20 a 50 m e de lamprófiros de no máximo 1 m
de espessura.

2.2 Traços estruturais

No Complexo Atuba há dois conjuntos de estruturas tectônicas importan-


tes. O primeiro é representado por foliação derivada do regime dúctil em alta a
média temperatura. Ela apresenta direção geral NE com médios a altos ângulos
de mergulhos, ora para NW ora para SE. Pontualmente a foliação pode se apre-
sentar com direção NW.
O segundo conjunto de estruturas é composto por fraturas (juntas e/ou fa-
lhas), que criam descontinuidades importantes no maciço. Lineamentos estrutu-
rais de escalas variadas (Fig. 1) possuem direções NE, NW e NS. Com exceção
dos sistemas NS e EW formados no Cenozoico, os outros sistemas constituem
grandes falhas proterozoicas que foram reativadas nessa era.
Os lineamentos representam sistemas de falhas direcionais que variam em
escala desde pequenas estruturas até zonas de cisalhamento quilométricas com
deslocamentos direcionais e, frequentemente, com componente de rejeito oblí-
quo transtensionais e eventualmente transpressionais.
As famílias de fraturas associadas a esses sistemas são: (a) falhas N45-65E
subverticais, com planos que podem estar estriados e preenchidas por epidoto ou
carbonatos, prováveis fraturas proterozoicas reativadas recentemente; (b) falhas
N60W, com planos mais fechados e preenchidos do que as estruturas NE; (c) pla-
nos de grande porte (fechados) de direção EW, de mergulhos subverticais a oblí-
quos de 50o; (d) fraturas extensionais com grandes planos estruturais subverticais
frequentemente com padrão amendoado no intervalo N10W a N10E, em geral
abertos, sem preenchimento ou com brechação intensa. Associado às estruturas
NS ocorre um sistema conjugado transcorrente proeminente formado por fratu-
ras subverticais de grande porte em geral com padrão escalonado nas direções
N20-35E (predominam falhas sinistrais) e N20-35W (em geral destrais), respon-
sáveis pelo deslocamento de diques de diabásio e em corpos intrusivos alcalinos
(lamprófiros). Em geral nos planos das falhas NW ou NE, essas famílias formam

parte 2 – exemplos de casos 417


um padrão amendoado ou rede entrelaçada e mais complexa, responsável pelos
efeitos de sobreposição e crescimento lateral das fraturas.
Além de falhas de alto ângulo, também ocorrem dois conjuntos distintos
de estruturas de baixo ângulo de mergulho, frequentemente abertas: (a) juntas
tectônicas com superfícies planares e pouco penetrativas; (b) falhas inversas e
normais formando pares conjugados em forma de X nas direções próximas a
N20W/35NE e N20E/20NW com desenvolvimento de brecha nos gnaisses e des-
locamentos em diques de diabásio. Estas estruturas estão seccionadas pelas falhas
transcorrentes de direções NE e NW.

3 ANÁLISE ESTRUTURAL
O reconhecimento espacial das paleotensões responsáveis pela formação das
falhas no Complexo Atuba é determinante para o entendimento da tectônica rúptil.
Na região há grandes falhas que controlam o arcabouço estrutural rúptil
mostrado na Fig. 1. Salamuni et al. (2004) apresentaram mapas de paleotensões
locais, cujas soluções do campo de tensão foram baseadas em dados de cam-
po como slickensides, slickenlines e indicadores cinemáticos diversos. As falhas
encontradas permitiram análises geométricas para a determinação da trama de
fraturas (juntas e falhas), que, quando abertas, são favoráveis à circulação de água
subterrânea (Fotos 1 e 2, Quadro 1).
Aqui, a título de estudo de caso, é apresentado o detalhamento de uma par-
te do maciço, que se considera um bom análogo do que é o aquífero fraturado
de toda a área, mesmo havendo diferenças locais em outros pontos do aquífero.
Os dados estruturais foram obtidos em quatro pedreiras (Central, Inecol, Marin-
gá e Greca-Santa Felicidade), próximas entre si e localizadas nas regiões oeste e
noroeste do Complexo Atuba na Bacia de Curitiba. Foram confeccionados o dia-
grama de roseta, estereograma de densidade e os estereogramas de paleotensão
(Figs. 2A e 2B) com o objetivo de determinar as tendências estruturais da tec-
tônica rúptil sofrida pelo complexo. Desta forma é possível observar que as três
tendências principais de falhas direcionais são respectivamente, da maior para a
menor, as direções N20-40E, NS e N30W.

418 geologia estrutural aplicada


Quadro 1

Foto 1. Falha em flor com intensa cataclase criando condutos propícios à rápida percolação de
água subterrânea.
Foto 2. Falhas conjugadas de uma estrutura em flor de escala menor.
Foto 3. Banda de cisalhamento rúptil com cominuição do gnaisse na forma de gouge de falha.
Na porção esquerda da foto há plano de falha subvertical por onde há parte da recarga da zona
cominuída.
Foto 4. Zona de falha normal aberta e rochas cataclásticas com planos de médio a alto ângulo de
mergulho, por onde há considerável transmissividade de água subterrânea.
Foto 5. Dique de diabásio fraturado por meio de cisalhamento rúptil. Há duas famílias de fraturas
aproximadamente perpendiculares entre si, uma com alto ângulo de mergulho e a outra com mé-
dio ângulo de mergulho, mostrando circulação efetiva de água.
Foto 6. Falha em flor aberta com percolação de água na zona de maior dano local.

parte 2 – exemplos de casos 419


Figura 2. (A) Diagrama de roseta com 163 atitudes de falhas direcionais das regiões oeste e noroeste
do Complexo Atuba na Bacia de Curitiba. (B) estereograma de densidade para a mesma área.

As Figs. 3A e 3B, por sua vez, definem o campo de paleotensão por meio
do método dos diedros retos (Angelier & Mechler 1977), tendo sido utilizado
o software Geotec para a confecção da roseta e do diagrama de densididade e o
software WinTensor (Delvaux 2015) para a análise da paleotensão.

Figura 3. Estereogramas baseados no método dos diedros retos com os ajustes das tensões princi-
pais dos pulsos tectônicos no Cenozoico: (a) D2, bseado em 49 dados de falhas direcionais. e (b) D3
obtido de 58 dados de falhas direcionais.

420 geologia estrutural aplicada


Segundo Salamuni et al. (2003) falhas extensionais de direção NNE ou NE,
geradas no Eoceno até o início do Oligoceno marcaram o episódio de abertura da
Bacia de Curitiba com tensão principal σ1 vertical (pulso D1), gerando extensão
generalizada com eixo de abertura NW (σ3 horizontal). No Mioceno houve mu-
dança do campo de paleotensão a partir de um pulso D2 as falhas transcorrentes,
principalmente, passaram a ser responsáveis pelo alívio de tensões. Em outras
áreas foi observado um campo de paleotensão direcionado para NE, que aparen-
temente rotaciona para NS ou NNW. Na área analisada só foi possível constatar
o campo de tensão estabelecido aproximadamente entre NNE e NS, ou seja, em
direção oblíqua às estruturas transcorrentes destrais preexistentes, possibilitando
assim que houvesse reativação dessas estruturas no sentido sinistral, bem como
a formação de neoestruturas, ou sejam, falhas de direção NNW e NW (Fig. 3A).
Na sequência da evolução tectônica, foi constada a existência de um campo de
paleotensão σ1 horizontal de caráter compressivo, que caracteriza o pulso tectô-
nico mais recente (D3), com direção que varia de WNW a EW e com paleotensão
mínima (s3) igualmente na horizontal com extensão entre as direções NS e NNE
(Fig. 3B).
Assim, no estudo do Complexo Atuba a determinação da cinemática das es-
truturas tem papel fundamental e permite interpretar as direções mais favoráveis
à circulação de água subterrânea local. Quando as descontinuidades estruturais
estão associadas às características hidrogeológicas, o complexo é denominado de
Aquífero Atuba. As descontinuidades originadas como falhas normais de alto a
médio ângulo de direção NE, durante o pulso tectônico de extensão generalizada
(D1 com σ3 direcionado a NW), foram reativadas em pulsos tectônicos posterio-
res (D2 e D3). Também foram observados planos de falhas NW com caracterís-
ticas estruturais favoráveis, no entanto menos frequentes do que as de direção
ENE. Nessas falhas, como pode ser observado tanto nas Fotos 1 quanto nas Fotos
3 e 4 (Quadro 1), o maciço gnáissico e os diques ali encaixados, por conta das
sucessivas reativações, encontram-se brechados ao longo das bandas ou zonas
de falhas, podendo inclusive apresentar-se bastante cominuídos ao ponto de se
caracterizarem como gouges e até cataclasitos nas porções maciças.
A zona de brechação de baixo ângulo da Fig. 5a mostra indícios de satu-
ração e onde há circulação efetiva de água, inclusive com formação de crostas
de oxidação (Fe2O3) dos minerais de composição ferrosa do gnaisse. Observa-se
que a circulação de água saturada em ferro, após aberta a frente de lavra, passa
a precipitar-se verticalmente até a superfície da bancada de onde foi tomada a
fotografia. Esse é um ótimo exemplo de como se dá a percolação de água nas
descontinuidades de baixo ângulo.

parte 2 – exemplos de casos 421


A Fig. 5b, por seu turno, é uma falha normal, igualmente formada no pulso
D1. A formação da zona brechada se dá em função do fato de ser uma zona de alí-
vio. Esse é um exemplo das grandes falhas normais de ângulo médio que ocorrem
nas pedreiras analisadas, havendo, porém, estruturas menores locais.
As deformações rúpteis nas Fotos 5 e 6 (Quadro 1) mostram respectivamen-
te uma zona de falha intensamente brechada em dique de diabásio mesozoico e
uma falha direcional em flor negativa, igualmente com brechação. As desconti-
nuidades de ambas servem de bons condutos de água subterrânea. A primeira
mostra a rocha pouco alterada, o que evidencia a circulação relativamente recen-
te, enquanto que a segunda possui desenvolvimento de Fe2O3 mais proeminente
nas zonas úmidas, o que caracteriza uma circulação mais antiga.
Ambas as imagens mostram falhas produzidas nos pulsos D2 e D3, podendo
haver reativação no caso do exemplo da imagem da Foto 6.

4 MODELO DO AQUÍFERO FRATURADO


Sob o ponto de vista regional, a ampla heterogeneidade do Aquífero Atuba o
caracteriza como um aquífero fraturado bastante anisotrópico. Isto é, que possui
grande variação de produtividade de poços tubulares profundos, considerando
sondagens até 250 m. As vazões e capacidades específicas variam desde poços
improdutivos até valores que podem alcançar, em raros casos, vazões de cerca
de 50 m3/h (Q) e capacidade específica de 20 m3/h.m (Q/s). Foi constatado que
esses poços de grande produtividade ocorrem onde, em superfície, foi observada
conectividade de falhas que se intersectam ou interceptam. O mapa da Fig. 4.
confeccionado a partir da quantificação da intersecção de fraturas maiores que
1 km de extensão em superfície em uma determinada área de 500x500 m, mos-
trou que poços deslocados desse arcabouço estrutural apresentam produtividade
baixa ou nula. Poços que possuem vazões abaixo de 1 m3/h estão locados onde há
baixa ou nenhuma estrutura relevante que pudesse ser observada em fotografias
aéreas, imagens orbitais ou até em modelos digitais como o SRTM, por exemplo.
Chavez-Kuz & Salamuni (2008) concluíram que o pulso D2 (paleotensão σ1
na direção NS) reativou as falhas NW e NE, gerando brechas onde foi verificada,
nas pedreiras visitadas, a circulação de água subterrânea. Fernandes et al. (2016)
em trabalho realizado no embasamento da Bacia de São Paulo, homóloga à Bacia
de Curitiba, menciona que o evento de paleotensão (σ1) mais recente, cuja dire-
ção é NS, igualmente reativou estruturas NW e NE por meio de cisalhamento

422 geologia estrutural aplicada


rúptil, aumentando a transmissividade nestas descontinuidades e reduzindo a
das fraturas EW subverticais.

Figura 4. Mapa de densidade de intersecção de fraturas e lineamentos principais, com a localiza-


ção dos poços com variação de capacidade específcica.

Estruturas subverticais reativadas pelos pulsos tectônicos D2 e D3, na Bacia


de Curitiba, são hidrogeologicamente favoráveis à circulação de água, tanto a
partir da superfície quanto a partir das camadas inferiores dos sedimentos da
bacia, pois servem como ótimos condutos para a percolação de água. Já as subo-
rizontais servem, do ponto de vista da transmissividade, como condutoras secun-
dárias e boas armazenadoras de água.
A Fig. 8 mostra um bloco diagrama adimensional da projeção dos sistemas
de falhas que podem estar abertos apesar de possuírem transmissividades dife-
renciadas. Esse modelo é um análogo representativo do aqüífero fraturado cons-
tituído pelo Complexo Atuba. Há muita intersecção de estruturas como pode ser
visualizada na cartografia da Fig. 5, inclusive aquelas de baixo ou médio ângulo.

parte 2 – exemplos de casos 423


Figura 5. Modelo sem escala de análogo do Aquífero Atuba, com bandas de cisalhamento rúptil
e zonas de falhas brechadas e cominuídas pela sequência de pulsos tectônicos ocorridos no Ceno-
zoico.

A demarcação de poços tubulares profundos no município de Curitiba e ime-


diações, onde se posiciona o Complexo Atuba, deve ser baseada em uma cuidadosa
fotointerpretação com o objetivo de buscar a intersecção de zonas de falhas.

AGRADECIMENTOS

Os autores externam agradecimentos ao Departamento de Geologia da Uni-


versidade Federal do Paraná pela disponibilização da infraestrutura e uma bolsa
de Iniciação Científica, bem como às empresas de sondagem de poços tubulares
profundos de Curitiba, apoiando o desenvolvimento deste estudo.

424 geologia estrutural aplicada


MODELO ESTRUTURAL NA ÁREA DO
PROJETO COBRE SAO MATEUS, MUNICIPIOS
DE CACONDE E MUZAMBINHO (SP/MG)
Yo c iteru H asu i 1
Fran c isc o G onz alez Filh o 2
D uílio R ondinelli 2

1 INTRODUÇÃO
Dentro das atividades do Pró-Minério (Programa de Desenvolvimento
de Recursos Minerais do Estado de São Paulo/Secretaria da Ciência, Tecnolo-
gia e Desenvolvimento Econômico), foi realizado o levantamento geológico em
1:50.000 da Folha Guaxupé, acompanhado de amostragem de sedimentos de cor-
rente (Qualitest 1982). A análise química das amostras de sedimentos de corrente
e o tratamento estatístico dos resultados permitiu delinear numerosas anomalias
geoquímicas (IPT 1983), cuja interpretação conduziu à definição de alvos para
investigações de maior detalhe (IPT 1984).
A avaliação dos principais alvos levou à descoberta da ocorrência de oxi-
dados de cobre da região de São Mateus (IPT 1.986), que deu origem ao Projeto
Cobre São Mateus, cuja execução foi iniciada pelo IPT para o Pró-Minério (IPT
1987), quando se constatou também a presença de sulfetos de cobre. Esse Proje-
to envolveu uma etapa de investigações de detalhe, incluindo os levantamentos
geológico, geoquímico de solos e geofísico, bem como abertura de poços e trin-
cheiras, com o objetivo de avaliar em detalhe a anomalia/ocorrência (IPT 1987).
Este trabalho apresenta o modelo estrutural da área do Projeto Cobre São
Mateus delineado nesta etapa de investigação e levanta alguns aspectos funda-
mentais para a continuidade da prospecção. Foi realizado em 1992.

1
  Universidade Estadual Paulista – UNESP/Campus de Rio Claro. Ex-Geólogo do Instituto de Pes-
quisas Tecnológicas do Estado de São Paulo.
2
  Ex-Geólogo do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo.

425
2 CONSTITUIÇÃO LITOLÓGICA
A área do Projeto Cobre São Mateus está localizada a cerca de 18 km a nor-
deste de Caconde, na divisa entre São Paulo e Minas Gerais (Fig. 1).

Figura 1. Localização da área de ocorrência de cobre de São Mateus.

Geologicamente, a área se insere no domínio do Complexo Varginha e do


Grupo Caconde (Hasui et al. 1988). O Complexo Varginha enfeixa as rochas or-
toderivadas de alto grau metamórfico do Cinturão Granulítico de Alfenas, que
são gnaisses de tipos diversos (tonalíticos, granodioríticos, graníticos, trondhje-
míticos etc.), mais ou menos migmatizados; o Grupo Caconde reúne os metas-
sedimentos associados, representados por gnaisses kinsigíticos, quartzitos, mi-
caxistos, formações ferríferas bandadas (BIF), mármores dolomíticos, rochas
cálcio-silicáticas e anfibolitos, também em parte migmatizados. As estruturas
migmatíticas presentes são variadas, predominando a estromática. As rochas me-
tamáficas e metaultramáficas podem ser consideradas como antigas intrusivas ou
vulcânicas, associando-se a uma ou outra das duas unidades referidas. As rela-
ções entre estes litotipos são em geral de concordância entre si e com a foliação.
Todas estas rochas são entendidas como representantes de um embasamen-
to granitóide e um pacote supracrustal, com intrusivas ou vulcânicas máficas e

426 geologia estrutural aplicada


ultramáficas associadas. Este conjunto sofreu metamorfismo de alto grau e, de-
pois, recristalizações em condições de fácies anfibolito alta a xisto-verde (Hasui
et al. 1988).
A área de interesse é pobre em afloramentos e o mapeamento geológico foi
realizado em 125.000, cobrindo 1,3 quilômetros quadrados, através de caminha-
mentos em picadas, trilhas, drenagens, estradas, 2 trincheiras e 29 poços. A Fig.
2 mostra este mapa em forma reduzida. Nele foram separadas várias unidades
litológicas, a saber:

N
21°26´30´´S

A
300 m
46°32´30´´W
Fonte: IPT (1987)
s
teu
Ma

CENOZOICO
ão

Depósito aluvionar
.S
Rib

PRÉ-CAMBRIANO
Complexo Varginha
21°27´00´´S
Veio de quartzo

Trincheira
Poço de pesquisa

Falha provável Diopsídio gnaisse granítico cinzento


Contato litológico Gnaisse granítico rosa e rosa cinzento,
salita gnaisse
46°32´00´´W Salita-granada granofels, granada-salita
granofels, granada-ferrossalita granofels
m A A´ Diopsídio anfibolito, escapolita-salita granofels
1.225 Formação ferrífera maciça e bandada,
1.125 Ribeirão magnetita-hiperstênio-granada granulito
São Mateus Moscovita-xisto
1.025
Rochas cálcio-silicática e mármore dolomítico
925

Figura 2. Geologia da área.

• Unidade Gg, enfeixando gnaisses graníticos de cores rósea e cinza escuro,


salita gnaisses e cummingtonita-hornblenda gnaisses com diopsídio;
• Unidade Gs, reunindo salita-granada granofels, granada-salita granofels,
granada-ferrosalita granofels e alguns granada-epidositos;
• Unidade Ga, formada de diopsídio anfibolitos e escapolita-salita granofels;
• Unidade Bi, que corresponde à formação ferrífera bandada (BIF), com
magnetita, hiperstênio e granada;
Fig 2 Geologia • Unidade Ms, representada por muscovita xistos;
sexta-feira, 2 de agosto de 2019 15:01:52

parte 2 – exemplos de casos 427


• Unidade Cs, constituída de rochas cálcio-silicáticas e mármores dolomí-
ticos; e
• Unidade Tg, representada por diopsídio gnaisse granítico, que apresenta
relação de intrusão na Unidade Gg.

As unidades Gs e Ga correspondem os metamafitos da área, sendo a primei-


ra a portadora das mineralizações.

3 ESTRUTURAS
A feição estrutural marcante nas rochas da área é a foliação. Ela é definida
pelo bandamento composicional, acamadamento, xistosidade e foliação miloní-
tica, em geral paralelizados.
O bandamento composicional é dado por variações mineralógicas, denun-
ciadas principalmente pela maior ou menor abundância de minerais máficos
(hornblenda, biotita) ao longo de faixas de espessuras centimétricas. O acama-
damento é definido pela distribuição dos litotipos em faixas, lentes e budins em
arranjos paralelos. A xistosidade é marcada pela orientação planar de minerais
ou agregados minerais de formas placoides ou achatadas.
A foliação milonítica é o arranjo planar de constituintes minerais decorren-
te do fluxo plástico ao longo de zonas de cisalhamento não-coaxial dúctil.
Na superfície da foliação observa-se a presença de lineação de estiramento,
não raramente tão acentuada a ponto de configurar tectonitos L. Ela é dada pelo
alongamento de agregados de subgrãos de feldspatos, quartzo e outros minerais,
resultantes de estiramento durante cisalhamento dúctil. Também se observa linea-
ção mineral, normalmente disposta em paralelismo com a lineação de estiramento.
Dobras de diversos tipos estão presentes: intrafoliais com um ou ambos os
flancos rompidos, desenhadas pela foliação, e dobras assimétricas íntegras (to-
das desenhadas pela foliação) apresentando ou não xistosidade plano-axial. Elas
são até decimétricas, de incidência esporádica. Em rochas xistosas observa-se a
presença de crenulações. Também aparecem ondulações suaves que a foliação
delineia ao se amoldar em torno de budins.
As feições rúpteis presentes são falhas e juntas, que não foram objetos de
investigação na oportunidade.
Todas estas feições estruturais estão presentes em âmbito regional e refle-
tem um evento tectônico de grande envergadura relacionado com a colisão e
acavalamento do bloco São Paulo sobre o Brasília, ao longo da sutura Alterosa,

428 geologia estrutural aplicada


que delimita o Complexo Varginha a norte (Hasui et al. 1988). A esta tectônica
se deve o desmembramento dos litotipos, seu acamadamento, desenvolvimento
da foliação milonítica, dobramentos locais por perturbações do fluxo plástico,
ondulações adaptadas a budins, recristalização metamórfica, migmatização e fei-
ções rúpteis. Ela afetou rochas preexistentes, de alto grau, em temperaturas de-
crescentes desde a de fácies anfibolito alta ou granulito até aquelas propiciadoras
de comportamento rígido.
A Fig. 3 é o mapa de forma estrutural da região, delineando-se claramente o
padrão amendoado. A foliação tem direção geral em torno de NW-SE e mergu-
lhos baixos para o quadrante SW.

MG
A SP
28 50 10 41 46°30´W
36 80 40 15
20 45
45 26 15 35
27 29 32
20 40 15 40 30
35 20 22 22
24 23 37
35 20 1032 26
40 35 40 25 18
32 31
32 25 20 32 20
40 12 28
24 75
24
35 28 18 30 46
22 20 33 35
16 8 18 42 25
25 28 30 17 35
11 24 40 40 35
46 28 30
35 32 33 15 18 17
30
20
21 26 35
27°30´S32 23 25
20
30 25 20 32 42 25
37 30 27 20 28 33 27 12
30 25 28 25 22 20
36 35
25 27 35 20 25 25
20 42 48 26 30
21
40 25 31 35 36 BARRÂNIA 40
CACONDE
17 27 35 40
25 35 34 37 32 26 14
35 40 10 10
27 27 35
30
43 30 10 20
20

SP MG
B 46°30´W

27°30´S

BARRÂNIA
CACONDE

Foliação N
Trend da foliação
2 km
Divisa de estados

Figura 3. Mapa estrutural da região. Atitudes da foliação (A) e mapa de linha de forma correspon-
dentes (B). Fonte: Hasui et al. (1988).

parte 2 – exemplos de casos 429


Fig 3 Estruturas
sexta-feira, 2 de agosto de 2019 15:02:04
A lineação de estiramento apresenta atitudes que variam desde segundo o
mergulho da foliação até paralela à direção desta; esta variação foi explicada re-
gionalmente em termos de origem quase paralela ao mergulho da foliação (caval-
gamento dos blocos) e posterior rotação por influência de transcorrências (Cin-
turão Transcorrente Campo do Meio), tendendo a paralelizá-las com a direção
da foliação (Hasui et al. 1988).
O padrão amendoado também pode ser observado nas Figs. 2 e 3. A folia-
ção tem direção geral em torno de EW e mergulho baixo para sul. A falta de aflo-
ramentos não permitiu abordar adequadamente a lineação de estiramento, mas
pode-se levar em conta o padrão acima referido que se observa regionalmente
como mostraram Hasui et al. (1988).

4 A MINERALIZAÇÃO DE COBRE
A mineralização de cobre é representada por bornita, calcopirita, calcosina,
covelita, malaquita e azurita que aparecem em três ocorrências. A hospedeira da
mineralização é a Unidade Gs, a qual representa o controle litológico. As anoma-
lias geoquímicas são bastante expressivas (Fig. 4).

Figura 4. Mapa de anomalias geoquímicas de cobre.

430 geologia estrutural aplicada


5 CONCLUSÕES
Do exposto, delineiam-se as seguintes conclusões mais importantes:
1) a mineralização de cobre na área do Projeto Cobre São Mateus, que
ocorre associada à Unidade Gs, tem distribuição segundo lentes, con-
trolada pela forma dos litotipos que a abriga;
2) o padrão amendoado da Unidade Gs, como se vê na Fig. 2, expressa-se
em planta como lentes de comprimentos decamétricos a hectométricos
e larguras decamétricas, de distribuição esparsa. A forma original do(s)
corpo(s) de rochas hospedeiras não é reconstituível, razão pela qual não
se pode avançar em termos de níveis primários mineralizados;
3) na terceira dimensão, o maior alongamento das lentes deve-se dar se-
gundo a orientação da lineação de estiramento. Considerando o mo-
delo regional da lineação, pode-se prever que este alongamento se dará
preferencialmente segundo a direção da foliação ou próximo dela. Isto
significa que na planta da Fig. 2 se acha expressa a maior dimensão das
lentes; e
4) não se pode excluir a possibilidade de encontrar lentes cegas, isto é,
não-aflorantes.

AGRADECIMENTOS

Os Autores agradecem ao Programa de Desenvolvimento de Recursos Mi-


nerais (Pró-Minério) e ao Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São
Paulo S.A. (IPT), a cujos apoios se deve a realização deste trabalho.

parte 2 – exemplos de casos 431


MODELO ESTRUTURAL DO COMPLEXO
METAVULCANOSSEDIMENTAR
ARROIO MARMELEIRO, RS
Yo c iteru H asu i 1
Norb erto Morales 2

APRESENTAÇÃO

Este estudo foi realizado em 2002 na área situada a sudoeste de Lavras do


Sul (RS, Fig. 1), com o objetivo de conhecer o modelo estrutural dos corpos lito-
lógicos do Complexo Arroio Marmeleiro, focalizando os mármores (metacalcá-
rios calcíticos) e buscando a configuração tridimensional dessas rochas, a poten-
cialidade de sua extensão e de novos corpos, de modo a subsidiar a investigação
geológica, a prospecção geofísica e locação de sondagens.

Figura 1. Localização da área estudada.

1
  Universidade Estadual Paulista – UNESP/Campus de Rio Claro. Ex-Geólogo do Instituto de Pes-
quisas Tecnológicas do Estado de São Paulo.
2
  Universidade Estadual Paulista – UNESP/Campus de Rio Claro.

432
Para isso foram realizados:
1) interpretação e análise de fotografias aéreas e mapas planialtimétricos;
2) visita aos principais afloramentos de rochas ao longo da faixa de rochas
calcárias e adjacências, para observação e coleta de dados litológicos e
estruturais;
3) tratamento dos dados para obtenção de dados de orientação através de
estereogramas, elaboração de mapas e de perfis; e
4) integração das informações em um modelo estrutural.

Os dados estruturais coletados em 71 afloramentos (Fig 2).

Figura 2. Mapa de localização dos afloramentos visitados (pontos e números em vermelho) e dos
furos de sondagem considerados (triângulos e números em roxo), ao longo do vale do Arroio Mar-
meleiro. Os perfis 1 a 4 correspondem às seções estruturais apresentadas adiante. Coordenadas cf.
base planialtimétrica 1:50.000 da Diretoria do Serviço Geográfico do Exército Brasileiro.

1 GEOLOGIA
A Fig. 3 mostra o mapa geológico regional, destacando o Complexo meta-
vulcanossedimentar Arroio Marmeleiro. Comparecem ainda na área pequenas
manchas de rochas paleozóicas não indicadas. Os quatro perfis indicados na
Fig. 2 são apresentados na Fig. 4.

parte 2 – exemplos de casos 433


Figura 3. Mapa geológico simplificado da região, destacando o Complexo Arroio Marmeleiro em
verde escuro. Falhas representadas em traços vermelhos. Baseado em Cruz et al. (2018) e Wildner
et al. (2006).

A área estudada situa-se em trecho do Complexo Arroio Marmeleiro que


faz limite ao norte com o Complexo Cambai e ao sul com o Granitoide Santo
Antônio. O conjunto apresenta-se com empilhamento gerado por tectonismo,
sucedendo da base para o topo os granitoides, o Complexo Arroio Marmeleiro e
o Complexo Cambai.

434 geologia estrutural aplicada


Figura 4. Seções geológicas dos perfis 1 a 4, de cima para baixo, indicados na Fig. 2.

O Complexo Cambai é constituído de gnaisses graníticos rosados, com


foliação bem marcada, passando lateralmente para granitos miloníticos, às ve-
zes com forte trama linear. Tem intercalações de (1) moscovita-xistos em lentes
ou faixas de espessuras variáveis, também com forte trama linear e localmente
porfiroclastos de feldspato; (2) rochas metaultramáficas (talco clorita-tremolita-
-actinolita xistos, serpentina xistos, serpentinitos), localmente preservando tex-
tura cumulada relíquia; (3) anfibolitos, gnaisses anfibolíticos e anfibólio xistos,
formando intercalações métricas ou maiores.
O Granitoide Santo Antônio tem composição de monzogranito a granodio-
rito variando até quartzo-monzonito e monzodiorito porfirítico, médio, local-
mente com evidências de tectônica rúptil.
No Complexo Arroio Marmeleiro distinguem-se três porções, aqui referi-
das como sequências superior, intermediária e inferior.
A Sequência Superior é constituída de (1) moscovita-sericita xistos, que
ocorrem sempre próximos aos mármores (calcários) de interesse, e (2) metacal-
cários, que aparecem como lentes alongadas principalmente na direção WNW,
exibindo bandamento composicional com leitos de cores claras e escuras alter-
nadas, de espessuras milimétricas a centimétricas. Nos afloramentos os metacal-
cários apresentam algumas intercalações de micaxistos e, localmente, de rochas
graníticas, pegmatoides.
A Sequência Intermediária é constituída de quartzitos e micaxistos, com
algumas rochas metavulcânicas associadas. Esse conjunto apresenta caracteris-
ticamente baixa deformação. Os quartzitos são bandados, localmente com pos-
sível estratificação cruzada relíquia preservada. Apresentam grande quantidade
de porfiroblastos de estaurolita, em geral prismáticos e alguns com geminação
típica de Cruz de Santo André. Os prismas definem uma lineação mineral.

parte 2 – exemplos de casos 435


Os micaxistos são representados por moscovita e/ou biotita-xistos, freqüente-
mente com porfiroblastos semelhantes àqueles dos quartzitos. As rochas meta-
vulcânicas são representadas por clorita-biotita-sericita xistos / filitos, com textu-
ra magmática preservada de deformação, representada por megacristais euédri-
cos de feldspato (alterado para sericita) e texturas porfirítica e granofírica.
A Sequência Inferior é representada por rochas variadas que se sucedem
com pequenas espessuras. São reconhecidos xistos máficos (clorita xistos, anfi-
bólio xistos e xistos alterados), silexitos (com textura maciça, textura brechada
com preenchimento de fratura tipo boxwork, alguns casos associados à dissolu-
ção intensa da rocha fraturada), metamargas e metacalcários (de baixa dureza e
textura granoblástica, amarelas e esverdeadas, alternadas com rochas micáceas,
com clorita e sericita), quartzitos e filitos avermelhados e grafitosos.
O empilhamento tectonoestratigráfico referido, embora possa ser apri-
morado com novos dados (de sondagens, de campo e regionais), tem aplicação
orientativa na busca de extensões do corpo de calcário conhecido e de outros
corpos, inclusive subsuperficiais.
Rochas paleozóicas do Supergrupo Itararé aparecem limitadamente na por-
ção oeste, ao longo dos afloramentos 21 e 22, representadas por diamictitos de
matriz argilosa, com seixos e matacões. Seus contatos com rochas antigas são
marcados por falhas transcorrentes.

2 ESTRUTURAS
2.1 Tipos principais presentes

Vários tipos de estruturas estão presentes nas rochas referidas e os princi-


pais são alinhavados a seguir.
• Zonas de cisalhamento dúctil – são as feições mais importantes na estru-
turação do conjunto geológico, representando as faixas de espessuras mi-
limétricas a decamétricas de deformação dúctil concentrada, decorrentes
de movimentação de massas essencialmente em regime transcorrente
sinistral e destral. Elas não são planares, mas curviplanares e se anasto-
mosam e ramificam de modo a separar porções lenticulares, simétricas
ou assimétricas (sigmoides), imbricadas em escalas centimétrica a deca-
métrica. Na escala centimétrica os corpos são circundados / limitados
por filmes micáceos.
Lentes métricas são vistas em afloramentos, por exemplo em mármores
impuros. Dentro delas e nas faixas envoltórias aparecem o bandamento
composicional, a xistosidade, dobras intrafoliais e a lineação de estiramento.

436 geologia estrutural aplicada


As foliações interna e externa dessas lentes apresentam-se com relações de
concordância e de discordância, neste caso definindo estruturas S-C.

Figura 5. Mapa de representação dos dados de foliação obtidos nos trabalhos de campo ao longo
do vale do Arroio Marmeleiro (A) e as formas estruturais (B).

Em escala de mapa, podem ser reconhecidas lentes até hectométricas.


A Fig. 5A é o mapa de atitudes da foliação. Os mergulhos mais altos da

parte 2 – exemplos de casos 437


foliação nas rochas calcárias e encaixantes ocorrem próximo ao contato
norte, e para sul é observada uma atenuação geral dos mergulhos. Os
perfis de sondagens e os perfis estruturais caracterizam bem esta geome-
tria (Fig. 4). A Fig. 5B é o mapa de formas estruturais, que indicam as va-
riações de orientações da foliação em planta e delineiam lentes de corpos
litológicos, principalmente na sequência superior do Complexo Arroio
Marmeleiro, onde as lentes de calcário e de micaxistos se associam – os
corpos de calcário têm então espessuras variáveis em planta e em seção
vertical, podendo aparecer em justaposição lateral e sucessão longitudi-
nal, ou com estrangulamentos e descontinuidades.
O padrão lenticular dos corpos é evidenciado pelas medidas estruturais
e pela fotointerpretação (Fig. 5B), salientando-se que mesmo a investi-
gação através de sondagens permite reconhecer o estrangulamento ou
mesmo a descontinuidade dos corpos de calcário.
Além da forte lenticularização reconhecida, as ocorrências aflorantes de
calcário desaparecem no rumo NW, em direção aos gnaisses do Comple-
xo Cambaí. Para sudeste, também não foram detectadas rochas calcárias
em superfície, mas apenas moscovita xistos (Afloramentos 65 e 66). Essa
situação pode indicar que não há continuidade lateral dos corpos de cal-
cários, mas a falta de afloramento não exclui a possibilidade de ela existir
em profundidade.
• Bandamento composicional – definido pela alternância de rochas de co-
res, texturas ou composições distintas, que pode ser resultado de trans-
posição de estruturas mais antigas ou representar acamamento-relíquia.
Nos quartzitos bandados da sequência intermediária do Complexo Ar-
roio Marmeleiro esse bandamento parece corresponder a acamamento-
-relíquia por serem rochas menos deformadas, exibindo estratificação
cruzada de pequeno porte e intercalações de rochas metavulcânicas por-
tando textura magmática relíquia bem preservada.
• Xistosidade – definida pela presença pervasiva de minerais micáceos
orientados paralelamente. Exceto em pontos esparsos, em geral guarda
paralelismo com o bandamento composicional e ambas feições são refe-
ridas como foliação, por controlarem o desplacamento das rochas.
• Estruturas S-C – são típicas de rochas de zonas de cisalhamento e per-
mitem deduzir o sentido de movimentação. Ocorre de modo evidente na
sequência superior, próximo ao Complexo Cambaí, e na porção inferior.
Indicam deslocamentos ora destral, ora sinistral, às vezes em um mesmo
afloramento.

438 geologia estrutural aplicada


• Lineação de estiramento – é a trama linear bem desenvolvida nas rochas
por deformação, representada por minerais /agregados minerais estira-
dos paralelamente sobre os planos de foliação. Ela indica a direção de
movimentação ao longo de zonas de cisalhamento. Só não é proeminente
nos conjuntos menos deformados (conjunto intermediário) onde aparece
a lineação mineral, gerada pelo metamorfismo dinâmico e marcada pela
orientação paralela de minerais prismáticos.
• Dobras intrafoliais – são raras, contidas dentro de lentes de mármores
impuros ou associadas a porções com bandamento mais pronunciado.
Apresentam, de modo geral, flancos adelgaçados e rompidos, com as zo-
nas de charneiras espessadas e com eixos predominantemente paralelos à
lineação de estiramento.
• Dobras tardias – são comuns e afetam as estruturas formadas anterior-
mente. Aparecem com frequência na porção inferior do Complexo Arroio
Marmeleiro, principalmente associadas a níveis de metamargas, filitos e
quartzitos grafitosos. São representadas por crenulações afetando a fo-
liação (bandamento + xistosidade) e contidas em dúplexes compressivos
(com plano axial próximo de N50E/subvertical) ou dúplexes distensivos,
com zonas de descolamento destrais ou de cavalgamento). Apresentam
configurações locais de dobras desarmônicas, em alguns afloramentos
associadas a feições de redobramento.
• Falhas – são zonas de cisalhamento rúptil. Os conjuntos de falhas reco-
nhecidos associam-se a movimentação predominantemente lateral (fa-
lhas transcorrentes) e muito subordinadamente a movimentação por fa-
lhas normais.
• Juntas – aparecem em várias famílias entrecruzadas, que podem ser reco-
nhecidas nos afloramentos.

2.2 Orientações gerais das estruturas mais


importantes

A foliação (xistosidade e bandamento composicional paralelizados) apre-


senta uma orientação preferencial N73W/48NE a N85W/60NE (Fig. 6A). O tra-
tamento dos dados de foliação da sequência superior (nível de interesse que con-
tém as lentes de calcário) mostra orientação preferencial próxima da geral, em
torno de N67W/48NE (Fig. 6B), concordando com o traçado geral dos corpos
de calcário reconhecidos. Nota-se em ambos os casos, que existem variações de
direção e de mergulho, devidas principalmente ao padrão lenticular.

parte 2 – exemplos de casos 439


Figura 6. Estreogramas da foliação ao longo da área estudada (A) da sequência superior, que con-
tém as ocorrências de rochas calcárias (B).

Com a atenuação do mergulho da foliação do Complexo Arroio Marme-


leiro no rumo sul, a sequência superior passa para a sequência intermediária.
Nesta última as rochas apresentam deformação menos acentuada, atestada pela
preservação de estruturas sedimentares locais e de texturas magmáticas nas ro-
chas metavulcânicas. A foliação ali presente desenha dobra macroscópica, com
inversão de flanco, o que é corroborado pelo reconhecimento de arranjos de
foliação plano-axial e de foliação crenuladas ou pelas relações angulares entre
bandamento dobrado e xistosidade plano-axial. Esta feição é marcante no per-
fil do Cerro do Tuna e aparece apenas com indicações de existência nos outros
perfis levantados. As dobras apresentam eixo de orientação próxima a WNW
(Fig. 7), concordantes com o quadro geral de foliações reconhecido e com os
eixos das guirlandas delineadas nas Figs. 6A e 6B.
A sequência inferior, com rochas de bandamento composicional bem mar-
cado, aparece sempre intensamente deformada (crenulações, dúplexes compres-
sivos com dobras internas, dúplexes distensivos), destacando-se dobras em esca-
las variadas, com eixos que se inclinam preferencialmente para os quadrantes NE
e NW, porém sem apresentar uma orientação preferencial. Os dúplexes compres-
sivos ou distensivos associam-se a zonas de cisalhamento destrais ou sinistrais.
Para alguns afloramentos mais próximos da base da sequência, junto ao contato
com anfibolitos e gnaisses (Afloramentos 25 e 26), foram reconhecidas superfí-
cies de empurrão, com movimentos de cavalgamento para S ou SSE.

440 geologia estrutural aplicada


Figura 7. Projeção estereográfica polar dos eixos e ciclográfica dos planos axiais de dobras.

Pelo arranjo da foliação principal, pelo traço principal dos litotipos, pela
presença e geometria das dobras do conjunto intermediário, todos de traço prin-
cipal de direção WNW, é de se admitir que a trama sinistral imposta ao longo de
cinturão transcorrente foi responsável pela estruturação geral das rochas presen-
tes na área, que começou em fácies anfibolito e prosseguiu com o arrefecimento
das condições metamórficas até a fácies xisto-verde.
O reconhecimento de zonas transcorrentes destrais, principalmente zonas
de falha, na parte oeste da área, colocando em contato rochas do Complexoa Ar-
roio Marmeleiro ou mesmo granitos com os sedimentos do Supergrupo Itararé,
aponta para reativação destas falhas, com direções próximas àquelas anterior-
mente desenvolvidas, porém com inversão de sentido de movimento. Este fator é
complicador para o estabelecimento da geometria dos corpos e para a definição
de padrões ou previsão de linhas de afloramento.
A lineação de estiramento mostra orientação preferencial N68W/15NW
(Fig. 8), condizente com movimentação em regime transcorrente.

Figura 8. Estereogramas da lineação de estiramento.

As zonas de cisalhamento dúctil têm direções e mergulhos variáveis, mas pre-


dominando direções em torno de NNE e WNW e mergulhos altos (Fig. 9A e B).

parte 2 – exemplos de casos 441


Figura 9. Estereogramas das zonas de cisalhamento transcorrente sinistrais (A) e destrais (B). As
orientações predominantes estão indicadas.

As falhas apresentam direções predominantes em torno de WNW e de


NNE, respectivamente, sempre com altos mergulhos (Fig. 10).

Figura 10. Estereogramas das falhas e respectivas estrias de atrito.

O estereograma de frequência de juntas indica quatro famílias entrecruza-


das (Fig.11). N08E/90 (3) e N85W/88SW (4).

442 geologia estrutural aplicada


Figura 11. Estereogramas das juntas. A família principal tem orientação N50E/83SE (1), seguida
das orientações N28W/76SW (2).

3 OS CORPOS DE CALCÁRIO
Em termos litológicos, a feição de interesse no quadro macroscópico é o
conjunto de rochas da sequência superior do Complexo Arroio Marmeleiro, com
corpos de mármores calcíticos (calcários) intercalados dentro de moscovita-xis-
tos. Essa sequência aparece apenas na interface entre os metassedimentos e os
gnaisses Cambaí e sua distribuição é mostrada na Fig. 12. As lentes apresentam
orientação geral WNW, concordantes com o estiramento principal indicado pela
lineação de estiramento (N68W/15NW).

Figura 12. Áreas potencialmente favoráveis à ocorrência de calcários e recomendadas para pes-
quisa, com prioridades decrescentes de 1 para 4. Uma área adicional (5) ocorre entre as coordena-
das 6.567.000 N e 216.000-217.000 E, não estando indicada no mapa.

parte 2 – exemplos de casos 443


Na passagem do Complexo Arroio Marmeleiro para o Complexo Cambai, na
altura das coordenadas 784.200 e 784.600 E e 6.571.800 N, tem-se um afloramento
de calcário. Ele tem porções aflorantes descontínuas em superfície e a continuidade
em subsuperfície é apontada pelo modelo estrutural (corpo 1 na Fig. 12).
Na altura das coordenadas 780.500E e 574.000N uma pequena ocorrência
de calcário foi reconhecida (corpo 2 na Fig. 12).
Em fotografias aéreas observam-se características do pacote metassedimen-
tar na altura das coordenadas 215.000 E a 218.000 E e 6.570.000 N (corpo 3 na
Fig. 12). Afloramentos ali visitados apresentam rochas das sequências inferior e
intermediária, um único afloramento de micaxistos (Afloramento 66) e, logo a
norte afloramentos de anfibolitos e metaultrabásicas (Afloramento 67). Não se
conhece calcário aflorante no segmento.
Na altura das coordenadas 778.400 E e 6.575.000 N, é possível reconhecer-se
em fotografia aérea uma feição circular vegetada, situada na continuidade dos
traços das ocorrências de calcário localizadas a sudeste. Essa anomalia pode cor-
responder a uma dolina, indicativa de ocorrência de calcários (corpo 4 na Fig.
12), mesmo que não aflorantes. Embora o conjunto de metassedimentos tenha
continuidade para essa área, bem marcado em foto aérea, ali não são conhecidos
afloramentos de calcário.

4 CONCLUSÕES
Levando-se em conta feições reconhecidas em fotografias aéreas, o empi-
lhamento tectonoestratigráfico ou indicações do modelo estrutural, foram levan-
tadas possibilidades de extensões ou ocorrências de calcários calcíticos a serem
investigadas (Fig. 12). Os corpos associam-se à sequência superior do Complexo
Arroio Marmeleiro, que tem mergulhos mais altos próximo ao limite norte e de-
crescente para sul. Essa associação pode ser tomada como orientativa para busca
de extensões laterais dos corpos de calcário para noroeste e para sudeste.
O modelo estrutural da faixa de calcários calcíticos é de lentes isoladas com
estruturação interna sigmoidal. Essa estruturação decorre essencialmente de pro-
cessos de cisalhamento transcorrente sinistral em condições dúcteis, complicada
por dobramentos e deslocamentos posteriores por falhas. Com isso, as espessuras
dos corpos variam muito, tanto em planta como em seção vertical. Dependendo
do grau de deformação, podem aparecer soluções de continuidade, com corpos
desconectados. Também podem existir corpos subsuperficiais, não-aflorantes.

444 geologia estrutural aplicada


AGRADECIMENTOS

Agradecimentos são aqui registrados aos colegas Richard Margutti, da Geo-


focus Geologia Projetos e Representação Ltda., Cajati (SP), pelo apoio na realiza-
ção deste estudo, e a Ricardo Flores Pinto, pela colaboração durante os trabalhos
de campo.

parte 2 – exemplos de casos 445


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