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GEOLOGIA DE ENGENHARIA

ESTIMATIVA DO PICO DE
ACELERAÇÃO SÍSMICA
(PGA) PARA BARRAGENS DE
REJEITO NO BRASIL
Felipe CRUZ | Engenheiro Geotécnico - BVP Geotecnia & Hidrotecnia
Fernanda MATARAZO | Engenheiro Geotécnico - BVP Geotecnia & Hidrotecnia
Lucas FARIA | Engenheiro Geotécnico - BVP Geotecnia & Hidrotecnia
Thiago BRETAS | Engenheiro Geotécnico - BVP Geotecnia & Hidrotecnia
Marcelo RIUL | Engenheiro Hidrotécnico - BVP Geotecnia & Hidrotecnia

RESUMO ABSTRACT

No Brasil, eventos sísmicos são relativamente raros, entretanto, a Seismic events are very rare in Brazil; however, the seismicity is not
sismicidade não é nula. Visando a segurança das barragens de rejeito null. Aiming at the safety of Brazilian Tailing Dams, the regulation NBR
brasileiras, a NBR 13028:2017 salienta que o potencial de sismicidade na 13028:2017 recommends the evaluation of the potential for seismicity
área do empreendimento seja avaliado. A norma ainda recomenda a of region studied. The standards also recommend the use, in early stages
utilização, em etapas iniciais de estudo sísmico, do critério sugerido pela of seismic study, the criteria suggested by Canadian Dam Association to
Canadian Dam Association para estimar o Peak Ground Acceleration (PGA) estimate the PGA (Peak Ground Acceleration) of the region. Therefore,
da região. Portanto, o trabalho se propõe a explicitar a metodologia para the paper proposes to explain the methodology for determining the
determinação dos picos de aceleração sísmica, PGACalibrado, e a partir desse peaks of seismic acceleration, PGACalibrado, and define the coefficients used
resultado definir os coeficientes utilizados nas análises pseudo-estáticas. in the pseud-static analyses. Seismic studies of 12 regions throughput
Apresentam-se estudos sísmicos de 12 localidades situadas ao longo do the country is presented, evaluating the PGAReal for the return periods
País, avaliando os PGAReal para os períodos de retorno de 2.475, 5.000 e of 2.475, 5.000 and 10.000 years, comparing them to the seismic threat
10.000 anos, comparando-os aos mapas de ameaças sísmicas do Brasil maps of Brazil published by Assumpção et. al (2016) where it presents
publicados por Assumpção et. al (2016), onde apresenta-se os valores de the PGAMap for the studied areas with the probability of occurrence
PGAMap para regiões analisadas, com a probabilidade de ocorrência de 10% of 10% and 2% in return periods of 475 and 2.475 years respectively.
e 2% em períodos de retorno de 475 e 2.475 anos, respectivamente. Após se After obtaining the PGAMap for the return periods, a mathematical
obter os PGAMap para os períodos de retorno supracitados, desenvolveu-se calculation was developed through exponential projections to estimate
um cálculo matemático por meio de projeções exponenciais para estimativa the PGACalibrado for return periods greater than 2.475 years. The current
desse parâmetro para períodos de retorno superiores a 2.475 anos. Esta research proposes, based on methodology developed for estimating the
pesquisa propõe, com base na metodologia desenvolvida para a estimativa PGAMap, a calibration model for this parameter correlating it with the
do PGAMap, um modelo de calibração desse parâmetro, correlacionando-o PGAReal, obtained through seismic studies located in the study areas, thus
com o PGAReal, obtido através de estudos sísmicos localizados nas áreas de directing the values obtained closer to the real values. It is important to
estudo, direcionando, dessa forma, os valores obtidos para mais próximos emphasize that the PGA estimate proposed in this study is chosen for the
aos valores reais. É importante salientar que a estimativa do PGA proposta initial phases of the project, in the case of detailed projects, it is necessary
neste estudo é indicada para as fases iniciais do projeto. No caso de projetos that a pseudo-static analysis is carried out with the obtainment of the
detalhados, sugere-se que a análise pseudo-estática seja realizada com a PGA, through a seismic study of the region of implementation of the
obtenção do PGA através de um estudo sísmico da região da implantação projected structure.
da estrutura projetada.

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ESTIMATIVA DO PICO DE ACELERAÇÃO SÍSMICA (PGA) PARA BARRAGENS DE REJEITO NO BRASIL

1. INTRODUÇÃO Segundo a IAG-USP (2019), a intensidade das vibrações


de um sismo depende da distância do epicentro. Um sismo

A
s análises sísmicas eram tratadas como uma verificação relativamente pequeno, mas raso, pode causar sérios danos bem
pouco necessária na maioria do território brasileiro, próximo ao epicentro (grande intensidade). Da mesma forma,
entretanto, no século XXI, principalmente após as sismos maiores podem não causar dano algum na superfície
empresas detentoras de pilhas e barragens de mineração (baixa intensidade) por ter o foco muito profundo. Assim, a
aderirem aos projetos de design review, esse tipo de análise escala Mercalli não é muito apropriada para medir o “tamanho”
começou a ser estudada com o detalhamento devido. Desde de um sismo, ou seja, a energia total liberada pela ruptura.
então, estudos sísmicos das áreas de implantação das estruturas A aceleração produzida por um sismo, a qual está relacionada
de mineração vem sendo realizados, conforme a orientação com a intensidade de movimento em determinado local, é o
da NBR13028:2017, tópico 5.3.6 - Estudos sísmicos, explicita: parâmetro mais comumente utilizado para a análise sísmica
“Recomenda-se, para as etapas iniciais de estudo, a utilização de taludes. A aceleração máxima horizontal é o valor absoluto
do critério sugerido pela Canadian Dam Association (CDA), que da aceleração horizontal obtido no acelerograma. O efeito das
indica a adoção da aceleração da gravidade resultante do Sismo acelerações verticais sobre a estrutura é reduzido, mas não deve
Máximo Provável (Maximum Credible Earthquake - MCE) para ser desconsiderado. Usualmente, considera-se que a aceleração
análises pseudoestáticas”. de pico vertical é dois terços da aceleração máxima horizontal.
Segundo Mejía (2015), sismos são fenômenos naturais No entanto, em locais próximos ao epicentro, as acelerações
causados por falhas geológicas e por fenômenos vulcânicos que verticais podem adquirir valores mais elevados (Mejía, 2015,
podem provocar deslizamentos de terra. apud Suarez, 2009).
Mejía (2015) apud Suarez (2019) afirmam que os dois Movimentos com altos picos de aceleração não são,
parâmetros mais importantes para estimar a grandeza de um necessariamente, os mais destrutivos, uma vez que o tempo
terremoto são a magnitude e a intensidade. A magnitude é uma de ocorrência do terremoto intervém de forma importante no
medida quantitativa, relacionada com a energia sísmica liberada no comportamento dos solos (Mejía, 2015, apud Suarez, 2009).
foco e com a amplitude das ondas registradas pelos sismógrafos. As ondas sísmicas são movimentos vibratórios das partículas
Richter (1935) definiu a magnitude dos terremotos locais como: das rochas que se transmitem segundo superfícies concêntricas
o logaritmo de base 10 da amplitude máxima da onda sísmica, devido à libertação súbita de energia no foco sísmico. Quando
expressa em milésimos de milímetro (mícron), registrado em ocorre um sismo, diferentes tipos de ondas são produzidos.
um sismógrafo padrão, a uma distância de 100 quilômetros do Segundo Mooney (1984), em um meio homogêneo, dois
epicentro do evento; e a intensidade sísmica é um conceito que é tipos de ondas elásticas podem ser observados: as ondas de
aplicado para identificar o grau de destruição ou efeitos locais de corpo, que são divididas em longitudinais (compressionais
um terremoto. A intensidade, a qual é uma medida relativa da força ou P) e transversais (cisalhantes ou S), e as ondas superficiais.
sísmica em um dado ponto, depende da magnitude do sismo, da As ondas de corpo possuem a capacidade de se propagarem
profundidade da liberação de energia, das características físicas da tanto na superfície como no interior dos materiais. Já as ondas
zona do local e da distância até o epicentro. superficiais, como o próprio nome já diz, se propagam apenas
A magnitude e a intensidade podem ser relacionadas pela na superfície e têm sua amplitude rapidamente atenuada com
Equação 1 Gutenberg e Richter (1954) a profundidade. Segundo Freitas (2020) apud (Sjogren, 1984),
as ondas longitudinais são aquelas em que o movimento das
Magnitude= 1 + 2/3 × Intensidade [1] partículas ocorre na mesma direção de propagação das ondas.
Quando ocorre um sismo, elas são as primeiras ondas a serem
Uma maneira de medir a intensidade de um sismo ou terremoto registradas, por isso são denominadas de ondas primárias ou
é pelo efeito que ele causa. A classificação mais utilizada para os ondas P. Além disso, elas se propagam tanto em meios sólidos
efeitos de um sismo é a chamada “Escala Mercalli”, com graus que quanto em fluidos, pois todos esses meios são compressíveis.
variam de I a XII, conforme os efeitos nas pessoas, construções e na Já nas ondas transversais, o movimento das partículas é
própria natureza. Portanto, é uma escala que não envolve medida perpendicular à direção de propagação da onda. A passagem
direta com instrumentos, mas apenas classifica a intensidade dessas ondas provoca variações de forma no meio através de
das vibrações segundo a percepção do ser humano e os estragos esforços cisalhantes. Sendo a rigidez a principal propriedade
causados, sendo utilizada de maneira superficial e apenas relacionada à velocidade de propagação dessas ondas, as ondas
conceitual devido ao seu grau de subjetividade e observação local. transversais não se propagam em meios fluidos, uma vez que

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a rigidez é zero. Além disso, essas ondas são mais lentas que 2. SISMICIDADE NO BRASIL
as ondas longitudinais, logo, são registradas depois, sendo
denominadas de ondas S (ondas cisalhantes). No Brasil, eventos sísmicos são relativamente raros. Entretanto, a
As ondas superficiais são ondas que se formam na superfície sismicidade não é nula e precisa ser levada em conta para as análises
livre e podem ser diferenciadas em ondas Rayleigh e Love, de estabilidade pseudo-estáticas. Com isso, a norma que rege as
que se distinguem pelo tipo de movimento que as partículas barragens de rejeito brasileiras, a NBR 13028:2017, salienta que
exercem durante sua trajetória. Nas ondas Rayleigh, as partículas o potencial de sismicidade na área do empreendimento deve ser
se deslocam no plano vertical em um movimento elíptico e avaliado. O Brasil se encontra numa região “estável”, referida como
retrógrado, perturbando, além da superfície livre do meio, as intraplaca, onde os sismos têm pequenas profundidades. Raramente
partículas abaixo deste, tendo sua amplitude diminuída com chegam a 40 km e correspondem a pequenas rupturas na crosta
o aumento da profundidade. Já nas ondas Love, as partículas superior. Nenhuma região intraplaca está totalmente isenta de
vibram horizontalmente e perpendicularmente ao sentido de pequenos tremores. Em alguns casos raros, sismos intraplaca podem
propagação da vibração, correspondendo a superposições de atingir magnitudes altas, acima de 7, e serem catastróficos.
ondas S com vibrações horizontais concentradas nas camadas A NBR 15421:2006, mesmo não abrangendo estruturas de
mais externas da Terra (Dourado, 2012). mineração, é a norma brasileira que aborda sismicidade em
Na Figura 1 apresenta-se como as partículas do meio se estruturas, baseando-se em um trabalho desenvolvido no ano
movimentam com a passagem de cada tipo de onda. de 1995. A norma estabelece a divisão do território brasileiro

Figura 1 - Movimento das partículas associado a passagem de diferentes ondas (Freitas, 2020)

Uma vez que são as primeiras ondas a serem registradas em zonas, conforme apresentado na Figura 2, considerando um
pelos geofones, econsequentemente, serem de mais fácil período de recorrência de 475 anos, ou seja, a probabilidade
identificação nos sismogramas, as ondas longitudinais são de ocorrência de 10% em 50 anos. O zoneamento apresentado
as principais a serem analisadas a partir dos métodos de vai da Zona 0, com aceleração característica em solo Classe B
prospecção sísmica (reflexão e refração). Entretanto, a partir do (rocha) de 0,025 vezes a aceleração da gravidade (0,025g) até a
desenvolvimento das metodologias de ensaios em anos mais Zona 4, que tem aceleração característica de 0,15g. Ressalta-se
recentes, a caracterização do meio a partir da propagação das que, apesar de estar em vigor, cabe uma revisão de norma, com
ondas S e das ondas superficiais também tem sido possível. a inserção de novos dados sobre a sismologia no Brasil.

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de maior sismicidade do Brasil. Também, parte da área do MT e


Goiás (GO) tiveram certa relevância. Por último, no modelo C foram
definidas oito áreas sismicamente ativas no território brasileiro, no
qual parte do MT mostrou-se como o local com maiores valores de
aceleração, seguido dos estados do RN e CE.
Segundo Nobrega et al (2019) apud Assumpção et al. (2016), os
modelos usaram a Ground Motion Prediction Equation (GMPE):
métodos de atenuação da intensidade sísmica dos pesquisadores
Silva, Gregor e Darragh. Os mapas foram, então, integrados entre
si, aplicando-se diferentes pesos a cada um deles. No modelo final,
não houve a consideração da influência da atividade sísmica andina,
sendo possível que este fator provoque, ainda, alterações no mapa
no sentido de aumentar a aceleração, principalmente nos estados
mais a oeste do País. A Figura 4 ilustra o mapa de ameaça sísmica
para períodos de retorno T = 475 anos e 2.475 anos.

Figura 2 - Zonas de acelerações sísmicas conforme ABNT


NBR: 15421:2006 – Terrenos Classe B (Rocha)

Como a NBR 15421:2006 não abrange estruturas especiais


(entre elas estão as estruturas de mineração), precisou-se
avaliar outro tipo de literatura para a definição dos PGA a serem
utilizados no Brasil. Assumpção et al. (2016), inicialmente,
ponderam que a delimitação das “zonas sísmicas” não é uma
tarefa trivial e fácil, sendo a melhor alternativa a consideração
de vários modelos alternativos, cada um com um peso num
esquema de árvore lógica. Figura 4 - Mapa de ameaça sísmica para T = 475 e 2.475 anos
Nobrega et al. (2019) apresentam três modelos independentes (Assumpção et al., 2016)
de zona sísmica, considerando ainda nessas propostas os
métodos de suavização descritos em Pichiner (2014). Os mapas
resultantes de cada modelo são indicados na Figura 3.
No modelo A foram definidas 11 áreas-fontes distintas para todo 3. PROPOSTA PARA ESTIMATIVA DO
o território brasileiro no qual os estados do Ceará (CE) e Rio Grande PICO DE ACELERAÇÃO SÍSMICA
do Norte (RN) apresentaram-se como os locais com maiores
perigos sísmicos (ambos formam uma mesma fonte sísmica) e, Avaliou-se 13 estudos sísmicos em diferentes regiões do
também, o Mato Grosso (MT). O modelo B foi processado com Brasil, comparando os resultados obtidos, denominados nesta
15 fontes e, novamente, CE e RN apresentaram-se como os locais pesquisa de PGAReal, com os resultados obtidos através do mapa
de ameaça sísmica de Assumpção
et al. (2016), denominados como
PGAMap. A Tabela 1 apresenta o
quadro resumo utilizado para o
desenvolvimento da pesquisa.

Figura 3 - Mapas de ameaça


sísmica (Nobrega et al. (2019)
apud Assumpção et al, 2014)

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Local PGAReal PGAMap Período de retorno Fonte

Pará 1 0,090 0,167 10000 Arquivo pessoal

Pará 2 0,027 0,077 5000 Arquivo pessoal

QF 1 0,200 0,240 10000 Arquivo pessoal

QF 2 0,168 0,240 10000 Arquivo pessoal

QF 3 0,203 0,240 10000 Arquivo pessoal

QF 3 0,110 0,203 5000 Arquivo pessoal

QF 3 0,063 0,170 2475 Arquivo pessoal

QF4 0,070 0,160 2475 Arquivo pessoal

QF5 0,070 0,160 2475 Arquivo pessoal

QF4 0,150 0,230 10000 Arquivo pessoal

QF5 0,150 0,230 10000 Arquivo pessoal

Pará 2 0,049 0,093 10000 Arquivo pessoal

Pará 2 0,018 0,060 2475 Arquivo pessoal

SE 1 0,030 0,120 2475 Arai (2013) e Santos e Lima (2013)

NE 1 0,069 0,170 2475 Arai (2013) e Santos e Lima (2013)

RJ 1 0,067 0,120 2475 Arai (2013) e Santos e Lima (2013)

OS 1 0,130 0,200 2475 Arai (2013) e Santos e Lima (2013)

QF 1 0,100 0,170 2475 Arquivo pessoal

QF 2 0,065 0,170 2475 Arquivo pessoal

QF 6 0,201 0,240 10000 Arquivo pessoal

QF 6 0,076 0,170 2475 Arquivo pessoal

NE 2 0,200 0,251 10000 Arquivo pessoal

Legendas: QF (Quadrilátero Ferrífero), SE (Sudeste), NE (Nordeste), RJ (Rio de Janeiro) e OS (Offshore Sudeste)

Tabela 1: Quadro resumo dos PGA’s obtidos

Os mapas de ameaça sísmica do Brasil propostos por Assumpção anos, por meio de cálculo matemático através de projeções
et al. (2016) consideram períodos de retorno de 475 anos com exponenciais com base na tendência dos valores obtidos para
probabilidade de ocorrência de 10% em 50 anos e de 2.475 anos os PGAMap com período de retorno de 475 e 2.475 anos. Vale
com probabilidade de ocorrência de 2% em 50 anos, como foram ressaltar que por se tratar de uma extrapolação, há possibilidade
apresentados na Figura 4. Este estudo estipulou uma extrapolação de ajustes devido a uma possível dispersão. A Figura 5 apresenta a
para obtenção de uma PGAMap com período de retorno de 10.000 extrapolação proposta para obtenção.

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Nota-se que a linha de convergência está praticamente


sobreposta à linha de tendência do gráfico apresentado na
Figura 7, com uma regressão também muito próxima a unidade.
Porém, os autores deste trabalho perceberam que ao aplicar a
correlação proposta pela Equação 2, apesar da convergência
quase que total com o PGAReal, alguns PGAEstimado ficaram abaixo
dos valores do PGAReal. Como entende-se que, para estimar
um PGA, essa estimativa deva ser igual ou maior que o PGAReal,
propôs-se a utilização do limite superior da correlação entre
Figura 5 - Extrapolação para projeção do PGAMap proposta nesta pesquisa PGAReal x PGAEstimado. A Equação 3 apresenta a correção proposta
para obtenção do PGACorrigido.

Fez-se uma correlação entre o PGAMap e o PGAReal apresentados PGAEstimado= 0,011 × e11,698PGAmap + 0,02 [3]
na Tabela 1 e obteve-se uma correlação entre as duas medidas. A
Figura 6 apresenta a correlação entre o PGAReal x PGAMap. A Figura 8 apresenta a correlação entre PGAReal x PGACorrigido.

Figura 6 - Correlação entre PGAReal x PGAMap Figura 8 - Correlação entre o PGAReal x PGACorrigido

Com a correlação entre o PGAReal x PGAMap obtida com sucesso


e com uma regressão muito próxima a unidade, estabeleceu-se a 4. CONCLUSÕES
Equação 2:
O presente trabalho conclui que a avaliação da sismicidade
PGAEstimado= 0,011 × e11,698PGAmap [2] no território brasileiro é um tipo de estudo necessário e
que sua aplicação vem crescendo, principalmente quando
De posse dessa nova formulação obteve-se o PGAEstimado para direcionamos para os projetos e obras de mineração. Com
cada PGAMap analisado e comparou-se os PGAEstimado com os PGAReal, a necessidade de se realizar análises pseudo-estáticas
obtendo a correlação apresentada na Figura 7. assertivas e a contento com a NBR13028:2017, torna-se
necessário estimar o valor do pico de aceleração sísmica para
projetos em regiões sem um estudo de sismicidade realizado
ou em andamento. Nota-se que o mapa de ameaça sísmica
do Brasil elaborado por Assumpção et. al. (2016) possui um
PGA mais elevado que os PGA’s obtidos em estudos sísmicos.
Em um estudo sísmico desenvolvido pelo próprio autor, ele
reconhece que é provável que o mapa de ameaça sísmica do
Brasil (Assumpção et. al, 2016) esteja influenciado pelos sismos
mais próximos em relação aos pesos considerados nos estudos
sísmicos locais, além de ser conservador, incluindo contribuições
Figura 7 - Correlação entre PGAReal x PGAEstimado de sismos de magnitude muito pequena (até 3,00 mb).

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Ressalta-se que a utilização do mapa de ameaças sísmicas do propagation in laterally heterogeneous structures, Australian Bureau and Mineral
Brasil (Assumpção et. al, 2016) não é recomendada para obtenção Resources. Geology and Geophysics Report 258, pp. 159-165.

de estimativas de PGA pelos elevados valores apresentados. Os Nobrega, P. G. B.; Souza, B. R. S.; Felipe M. L. C.; Nobrega, S. H. S. (2019). Sobre os
mapas de perigo sísmico para o projeto de estruturas. In: 61° Congresso Brasileiro
autores sugerem que seja realizada uma calibração dos PGAs, caso
do Concreto – CBC, Fortaleza.
resolva-se adotar os valores sugeridos por Assumpção et. al (2016).
Pirchiner, M. (2014). Técnicas de suavização aplicadas à caracterização de fontes
Os autores propõem a utilização da Equação 3 para a realização
sísmicas e à análise probabilística de ameaça sísmica. 106 f. Dissertações (Mestrado)
da estimativa do PGA, com base nos mapas de ameaça sísmica
- Curso de Mestrado em Modelagem Matemática da Informação, Escola de
propostos por Assumpção et al. (2016). Vale ressaltar que os Matemática Aplicada, Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro, 2014.
autores propõem a estimativa do PGA para as fases iniciais do Richter, C.F. (1935). An Instrumental Magnitude Scale, Bull. Seismol. Soc. Amer., 25,
projeto. No caso de projetos detalhados, sugere-se que a análise 1-32.
pseudo-estática seja realizada com a obtenção do PGA através de
um estudo sísmico da região da implantação da estrutura projetada.

Felipe CRUZ
É Engenheiro Civil, Especialista em Geotecnia pela PUC Rio,
5. PALAVRAS-CHAVE Mestre em Geotecnia (COPPE/UFRJ) e Doutorando em
Geotecnia pela UERJ. Com mais de 20 anos de experiência
em Geotecnia, atuou em Fundações, Estabilidade de Taludes,
Coeficiente de Aceleração Sísmica, PGA (Peak Ground
Pilhas de Rejeito e Barragens. Atualmente, trabalha como
Acceleration), Análise Pseudo-Estática. Engenheiro Geotécnico Sênior na BVP e é professor dos cursos
de pós-graduação em Geotecnia da PUC Minas e FATEC-PR.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Lucas Gonçalves de FARIA


É Engenheiro Civil formado pelo Centro Universitário de Belo
Horizonte e Técnico em Estradas formado pelo Centro Federal de
Associação Brasileira de Normas Técnicas (2017). NBR 13028. Mineração- Elaboração
Educação Tecnológica de Minas Gerais. Atua como Engenheiro
e apresentação de projeto de barragens para disposição de rejeitos, contenção de
Geotécnico na BVP em projetos de Barragens e Pilhas.
sedimentos e reservação de água – Requisitos
Assumpção, M.; (2016). Intraplate stress field in South America from earthquake
Fernanda Yamaguchi MATARAZO
focal mechanisms. Journal of South American Earth Sciences. É Engenheira Civil e Pós-graduada em Engenharia Geotécnica
Assumpção, M.; Dias, F. L.; Zevallos, I.; Naliboff, J. B. (2016), Intraplate stress field in e Engenharia de Segurança do Trabalho. Atualmente, trabalha
South America from earthquake focal mechanisms. Journal of South American Earth como Engenheira Geotécnica na BVP em projetos de Barragens
Sciences doi: 10.1016 e Pilhas e é professora do curso de Pós-graduação em
Canadian Dam Association – CDA (2019). Technical Bulletin: Application of Dam Geotecnia da PUC Minas.
Safety Guidelines to Mining Dams. English edition. Canadá.
Dourado, J.C (2012). Ondas Sísmicas. 2012. UNESP – Métodos Sísmicos e Radar de Thiago BRETAS
penetração no solo aplicados aos levantamentos geológicos. Instituto de Geociências É Engenheiro Civil, Pós-graduado em Estruturas de Concreto
e Ciências Exatas do Campus de Rio Claro, da Universidade Estadual Paulista “Júlio Armado e Fundações e Mestre em Geotecnia (UFOP).
de Mesquita Filho”. Possui mais de 20 anos de experiência, com forte atuação
em modelagens numéricas 2D e 3D, por equilíbrio-limite e
Freitas, M. D. N (2020). Análise da Integridade Física de Barragens de Terra a partir
elementos finitos, de Barragens, Pilhas, Cavas e Sistemas de
de Métodos Sísmicos. Tese de mestrado apresentada ao Instituto de Geociências e
Estabilização. Atualmente, trabalha como Líder de Geotecnia na
Ciências Exatas do Campus de Rio Claro, da Universidade Estadual Paulista “Júlio de
BVP e é professor dos cursos de Pós-graduação em Geotecnia
Mesquita Filho”.
da PUC Minas e do Instituto Minere.
Gutenberg. B.; Richter. C. F. (1956). Earthquake Magnitude, Intensity, Energy and
Acceleration (second paper), Bull. Seismol Soc. Amer., 46, 2, 105-145.
Marcelo RIUL
Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São
É Engenheiro Civil (Universidade Estadual Paulista/1995),
Paulo (IAG-USP). (2019). Introdução à Sismologia. XXI Escola de Verão, São Paulo.
Especialista em Obras Hidráulicas Fluviais e Marítimas
Mejía J. L. L (2015). Estabilidade de Talude com Efeito Sísmico a Partir dos Métodos (Universidade de São Paulo/2008), em Engenharia Urbana
de Equilíbrio Limite e de Elementos Finitos. Tese de mestrado Programa de Pós (Universidade Federal de São Carlos/2000) e em Saneamento e
Graduação em Engenharia Civil, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Meio Ambiente (Universidade Estadual de Minas Gerais/1998).
Mooney, W. D (1984). An interpretation of synthetic seismograms for a two- Possui 25 anos de atuação com participação em mais de 100
dimensional structure, workshop proceedings: Interpretation of seismic wave grandes projetos (Mineração, Meio Ambiente e Infraestrutura).

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