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GESTÃO DE

PROCESSOS
EDUCACIONAIS NÃO
ESCOLARES

Pablo Rodrigo Bes


Educação especial no
contexto da educação
não formal
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Relacionar a educação não formal às necessidades do público-alvo


da educação especial.
 Caracterizar possíveis ações educativas não formais como comple-
mento à educação formal.
 Identificar ações da educação não formal dos profissionais que atuam
nessa área.

Introdução
O Brasil, seguindo as tendências mundiais, tem procurado discutir e fo-
mentar, a partir das suas políticas públicas, a construção de uma sociedade
inclusiva. Isso significa que todos, sem exceção, deveriam ser capazes de
viver em sociedade, com igualdade de condições e direitos, equidade de
oportunidades e sem sofrer preconceitos ou discriminações. Dentro do
universo daqueles que devem ser incluídos, encontram-se as pessoas que
têm algum tipo de deficiência, que são o público-alvo da educação especial.
Dentro da educação formal, também existe hoje uma educação inclusiva,
que é implementada na rede regular de ensino e busca inserir os sujeitos da
educação especial. Estes, devido às particularidades das suas deficiências,
aprendem de forma diferenciada, com ritmos diversos e a partir de outros
tipos de suportes pedagógicos. Assim, mesmo as ações da escola precisam
ser complementadas com os espaços da educação não formal. É na educação
não formal que a educação especial se efetiva, preparando crianças, jovens
e adultos para a vida social, capacitando-os e potencializando-os com o
que necessitam para viver. Esse é um espaço que oportuniza ao pedagogo
excelentes oportunidades de trabalho e realização profissional.
2 Educação especial no contexto da educação não formal

Neste capítulo, você vai conhecer a educação especial que ocorre nos
espaços de educação não formal, direcionados para esses públicos. Além disso,
verá as características das ações educativas realizadas na educação especial e
conhecerá exemplos e organizações que atuam nessa área tão importante.

Educação não formal: contribuições


para a educação especial
Antes de começar os estudos, é importante esclarecer que o termo “educação
especial” será utilizado neste capítulo para remeter objetivamente a todos aqueles
que vivem em nossa sociedade e que têm algum tipo de deficiência. Analisando
as múltiplas relações da educação formal (escolar) com os aspectos da educação
especial, percebe-se que o Brasil vivencia na atualidade um processo de con-
solidação de uma educação inclusiva, em que todos devem frequentar a escola.
Entretanto, esse fato também suscita ações de parceria e complementação
por parte dos profissionais que atuam na educação não formal, uma vez que a
escola não consegue atender plenamente a toda a ampla gama de adaptações e
necessidades de tais públicos. As práticas educativas não formais contribuem muito
para que as pessoas com deficiência possam aprender de forma mais significativa,
preparando-se para a vida em sociedade, o que inclui a escola (Figura 1).

Figura 1. Práticas educativas para pessoas com deficiência.


Fonte: Olesia Bilkei/Shutterstock.com.
Educação especial no contexto da educação não formal 3

Assim, conforme afirma Trilla (1985, p. 24), “Os meios educacionais não
formais podem cobrir uma ampla gama de funções relacionadas com a edu-
cação permanente e com outras dimensões do processo educacional global,
marginalizadas ou deficientemente assumidas pela instituição escolar [...]”.
Este é justamente o interesse de estudo deste capítulo: perceber como as ações
educativas não formais complementam a educação escolar e ampliam as
possibilidades de aprendizagem de crianças, jovens e adultos com deficiência.
Para isso, primeiramente você precisará entender quais são as necessidades
de aprendizagem associadas ao público-alvo da educação especial:

 integração social;
 apoio especializado;
 recursos didáticos;
 adaptações;
 otimização de potencialidades;
 educação para valores;
 adequação ao meio.

A integração social é uma conquista recente no nosso país, uma vez que os
discursos em torno de uma política pública educacional inclusiva se iniciaram
com a Constituição Federal de 1988 e foram impulsionados nos anos 1990, so-
bretudo a partir da Declaração de Salamanca (em 1994). Esse documento propôs
a criação de uma estrutura educacional que contemplasse todas as crianças,
independentemente das suas deficiências. Conforme essa Declaração, produzida
pela Unesco (1994, documento on-line), “[...] o termo ‘necessidades educacio-
nais especiais’ refere-se a todas aquelas crianças ou jovens cujas necessidades
educacionais especiais se originam em função de deficiências ou dificuldades
de aprendizagem [...]”. Dessa forma, ao pensarmos também nas dificuldades
de aprendizagem que os estudantes costumam apresentar na educação formal,
ampliamos ainda mais o espectro das possíveis ações da educação não formal.

A Declaração de Salamanca é um documento que foi elaborado durante a Conferência


Mundial sobre Educação Especial, realizada em Salamanca, na Espanha, em 1994. Essa
Declaração tem o objetivo de fornecer diretrizes básicas para a formulação e reforma
de políticas e sistemas educacionais, de acordo com o movimento de inclusão social
existente internacionalmente.
4 Educação especial no contexto da educação não formal

No que se refere ao apoio especializado, este envolve um grande número de


estudantes que precisam de reforços nos seus estudos fora do ambiente escolar.
Esses alunos podem precisar de atendimentos individualizados nas áreas da
psicologia, fonoaudiologia, psicopedagogia, fisioterapia, entre outras, para
que possam ter condições de circular e frequentar os espaços sociais aos quais
pertencem. Em muitas dessas ações, que têm como objetivo uma integração
social plena, complementando a ação da escola, há processos educativos não
formais ocorrendo e modificando a vida dessas pessoas.
A produção de recursos didáticos que potencializem as aprendizagens dos
sujeitos da educação especial também é de grande importância e exige ações edu-
cativas não formais realizadas por profissionais da educação ou por organizações
que se voltam a essa finalidade. Cerqueira e Ferreira (1996, p. 24) comentam:

Recursos didáticos são todos os recursos físicos, utilizados com maior ou


menor frequência em todas as disciplinas, áreas de estudo ou atividades, sejam
quais forem as técnicas ou métodos empregados, visando auxiliar o educando
a realizar sua aprendizagem mais eficientemente, constituindo-se num meio
para facilitar, incentivar ou possibilitar o processo ensino-aprendizagem.

Cerqueira e Ferreira (1996) ainda dividem os recursos didáticos nos seguintes tipos:

 naturais – elementos que existem na natureza, como água, pedras e


animais;
 pedagógicos – elementos produzidos pelo ser humano para promover
a aprendizagem, como quadro, flanelógrafo, cartaz, gravura, álbum
seriado, slide, maquete;
 tecnológicos – associados às invenções humanas na área das tecnologias
eletrônicas e digitais, como rádio, toca-discos, gravador, televisão,
videocassete, computador, ensino programado, laboratório de línguas,
ensino híbrido, ambientes virtuais de aprendizagem, e-learning, mobile
learning, etc.;
 culturais – representam os espaços públicos típicos da educação não
formal, como bibliotecas públicas, museus, exposições.

Analisando os itens anteriores, você pode perceber que, em todos os tipos


de recursos didáticos apontados, podem existir ações da educação não formal,
que visam a apoiar a formação de todos os sujeitos — o que inclui aqueles
que são público-alvo da educação especial.
As adaptações envolvem todo e qualquer aspecto que precise ser cons-
truído para que a pessoa com deficiência tenha um desenvolvimento mais
Educação especial no contexto da educação não formal 5

pleno do seu potencial. Assim, por exemplo, nas deficiências físicas, elas
contemplam próteses, cadeiras de rodas, dispositivos que se adaptam para a
escrita, dispositivos que ampliam a visão ou a capacidade auditiva, entre tantas
outras possibilidades. Essas adaptações permitem que o indivíduo frequente
ambientes diversos e melhore a sua autonomia perante situações do cotidiano.

Uma das grandes contribuições da educação não formal está na otimização de po-
tencialidades das pessoas da educação especial. Quando tratamos de estimulação
precoce na infância, ou mesmo de atendimentos individualizados que visam a mapear
potencialidades e ampliar estratégias de aprendizagem com esses sujeitos, percebemos
que essas ações são feitas fora da escola. Assim, crianças com autismo, por exemplo,
costumam frequentar, paralelamente à escola, clínicas multidisciplinares que vão
trabalhar com outras questões necessárias a esse público, muitas vezes apontando
para a escola os potenciais e as habilidades a serem desenvolvidos.

O público da educação especial também precisa participar de ações pedagógi-


cas que se voltem à educação de valores, que promovam o seu autoconhecimento
e o reconhecimento da sua identidade e autoestima. Nesse sentido, é necessário
desenvolver ações visando ao empoderamento, estimulando o convívio e estabe-
lecendo formas de lidar com preconceitos e discriminações que possam surgir
ao longo das suas vidas. Essas ações frequentemente são oportunizadas por
organizações da sociedade civil que atuam na educação não formal.
Outro importante aspecto das práticas educativas não formais para os
sujeitos da educação especial consiste na sua possibilidade de adequação
ao meio em que vivem. A Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais
(Apae) de Diadema afirma, em seu portal digital:

A educação inclusiva busca trazer pessoas do ambiente de educação especial


para o de educação regular, através da adequação do meio em que os processos
ocorrem, mas não se limita ao espaço escolar, buscando fazer com que indi-
víduos que tenham algum tipo de deficiência possam participar das rotinas
sociais de maneira cada vez mais natural e ativa, levando em consideração
suas limitações (APAE, 2019, documento on-line).

A Apae é um bom exemplo de ação pedagógica não formal que presta um


serviço de apoio e busca pela adequação, autonomia e ampliação das possibi-
6 Educação especial no contexto da educação não formal

lidades de muitas crianças e jovens com deficiências, complementando a ação


da escola. Assim, você pode perceber o quanto são importantes e múltiplas
as possibilidades educativas não formais, e o quanto elas contribuem para as
necessidades dos sujeitos da educação especial, preparando-os não somente
nos aspectos intelectuais e cognitivos, mas também para a vida em sociedade.

No campo discursivo que envolve a educação especial, é preciso atentar para algumas
terminologias utilizadas, que são diferentes na área da saúde e na da educação. Assim,
por exemplo, uma pessoa que tenha deficiência intelectual — termo correto atual-
mente utilizado na educação — ainda é denominada, na psicologia e nas demais áreas
da saúde, de pessoa com retardo mental ou deficiente mental. É importante que
você conheça essas terminologias e as suas aderências aos campos discursivos a que
pertencem, de forma a não cometer imprecisões terminológicas ao atuar nessas áreas.

Características das ações educativas não


formais voltadas para a educação especial
Você viu anteriormente que a educação especial possui uma série de aspectos que
precisam ser desenvolvidos nos indivíduos, os quais a escola, por si só, não dá
conta de contemplar. Assim, as ações educativas não formais, que preparam para
vários outros aspectos da vida, são de fundamental importância para esses grupos.
Cabe retomar aqui alguns detalhes sobre o que significa aprender no con-
texto da educação não formal. Para isso, Gohn (2014, p. 39) define a aprendi-
zagem na perspectiva de “[...] um processo de formação humana, criativo e de
aquisição de saberes e certas habilidades que não se limitam ao adestramento
de procedimentos contidos em normas instrucionais, como em algumas abor-
dagens simplificadoras na atualidade [...]”. Assim, a aprendizagem ocorre,
em nossa vida, nos múltiplos grupos e nas organizações de que participamos.
Portanto, cabe destacar que os sujeitos da educação especial frequentam, de
acordo com as particularidades das suas deficiências, os mais variados espaços
de formação não formais, além do ambiente escolar.
Nesses espaços, existe um processo de intencionalidade pedagógica que
é mais ou menos estruturado, que faz com que os sujeitos que os frequentam
tenham ganhos de todas as ordens em termos das suas capacidades de viver
e conviver socialmente. Conforme reforça Gohn (2014, p. 39):
Educação especial no contexto da educação não formal 7

Certamente que em alguns casos há a incorporação ou a necessidade de desenvolver


alguma habilidade ou grau de "instrumentalidade técnica", não como principal
objetivo e nem o fim último do processo. E mais do que isso: o conteúdo apreendido
nunca é exatamente o mesmo do transmitido por algum ser ou meio/instrumento
tecnológico porque os indivíduos reelaboram o que recebem segundo sua cultura.

Dessa forma, acompanhando a ideia da autora, a educação não formal cujo


público-alvo é a educação especial não tem como objetivo final as questões
técnicas a serem desenvolvidas. Isso até pode ocorrer em alguns casos, mas o
mais importante é o processo em si, a apropriação desses saberes pelos sujeitos
e a sua reelaboração no interior das suas culturas e da sua identidade. Assim,
podemos destacar algumas características importantes que o pedagogo deve
conhecer para atuar com as suas práticas educativas não formais na área da
educação especial (DELOU, 2008; GOHN, 2014):

 acolhimento;
 vínculo;
 ritmo;
 especificidades;
 erro;
 cultura e identidade;
 experiência;
 habilidades;
 processo;
 acompanhamento;
 envolvimento familiar.

As ações da educação não formal voltadas para a educação especial podem


ser organizadas de forma individual ou em grupos. Entretanto, independen-
temente dessa classificação, precisam envolver processos de acolhimento e
de criação de vínculos entre os sujeitos envolvidos no processo de ensino-
-aprendizagem existente. Assim, o foco sobre as relações interpessoais — e,
mais ainda, sobre as habilidades sociais a serem desenvolvidas — costuma
ser o centro de muitas dessas atividades educativas.
Em relação aos aspectos que caracterizam as ações educativas não formais no
âmbito da educação especial, é preciso considerar que esses sujeitos normalmente:

[...] se diferenciam por seus ritmos de aprendizagem, sejam mais lentos ou mais
acelerados. Apresentam dificuldades de aprendizagem, que nenhum médico,
psicólogo ou fonoaudiólogo conseguiu identificar qualquer causa orgânica ou
8 Educação especial no contexto da educação não formal

relacionada às características orgânicas, como as síndromes, lesões neurológicas


por falta de oxigenação pré, peri ou pós-natal. [...] necessitam de sinais e códigos
apropriados para se comunicar (linguagem de sinais) ou para ler e escrever
(Braille). Enfim, são pessoas que em situação de aprendizagem escolar neces-
sitam de adaptações nas condições materiais de ensino (DELOU, 2008, p. 16).

Assim, acompanhando a autora, o ritmo da aprendizagem está relacionado


com a especificidade da deficiência de cada sujeito público-alvo da educação
especial, o que deve ser conhecido e respeitado ao longo das práticas educa-
cionais postas em ação. Dessa forma, nas práticas educativas não formais, o
desenvolvimento das atividades voltadas para a educação especial diferencia-
-se muito do conceito de aprendizagem escolar, que visa a uniformizar os
processos e compreende que todos aprendem dentro de determinado tempo.
Quanto aos possíveis erros cometidos pelos aprendentes ao longo das for-
mações educativas não formais, você deve percebê-los sob a seguinte matriz
de análise: “1. Toda resposta é significativa, pois toda produção reflete um
estado de conhecimento; 2. Toda resposta é válida; 3. Toda resposta depende
da pergunta feita, de sua forma e de sua natureza. A pergunta reflete um
sistema pedagógico geral, ou um estilo particular [...]” (SOUZA, 1996, p. 116).
Nesse caso, os erros devem ser considerados como momentos ricos para que
a aprendizagem posterior dos sujeitos se estabeleça.
A cultura, entendida como o conjunto de práticas, ideias e ensinamentos
que são repassados pelos membros dos grupos sociais a que pertencemos,
fornece condições de produção de significados sobre as coisas ao nosso redor
e, da mesma forma, produz a nossa subjetividade, sendo também um ponto
importante a ser considerado. Os sujeitos da educação especial costumam ter
as suas identidades fortemente construídas a partir dos enlaces culturais que
vivenciam. Assim, por exemplo, é muito forte a chamada cultura surda, ou as
aproximações de grupos de sindrômicos de Down, deficientes visuais, para-
-atletas, entre outros. Logo, é importante que o pedagogo se aproprie desses
aspectos culturais, para que possa planejar as suas intervenções pedagógicas
em sintonia com as crenças e os sentimentos dos aprendizes.
Um aspecto fundamental que se faz presente nas atividades pedagógicas não
formais nos grupos da educação especial é o grande valor dado à experiência
para a aprendizagem. Assim, as ações devem envolver o aprender fazendo,
assim como devem estimular o manuseio de materiais concretos, as técnicas
de simulação da realidade, as dramatizações, o jogo simbólico e demais jogos e
brincadeiras que se aliem a esses aspectos. Vale lembrar que, em alguns casos de
deficiências, as atividades de aprendizagem vão reforçar normas e condutas de
convivência em sociedade e, para que produzam sentido, precisam ser práticas.
Educação especial no contexto da educação não formal 9

Muitas das ações não formais da educação especial objetivam o desenvol-


vimento de alguma habilidade com o aprendiz, abrangendo tanto habilidades
cognitivas quanto sociais. Segundo Gatti (1997, p. 3):

O desenvolvimento de habilidades cognitivas e sociais tem como base os pro-


cessos de aprendizagem, os quais se evidenciam por mudanças relativamente
permanentes nos conhecimentos ou comportamentos e ações das pessoas,
mudanças estas devidas à experiência, ou seja, às relações sociais e objetais
que os indivíduos experimentam em sua história de vida.

Assim, podemos dizer que as habilidades cognitivas nos dão estrutura e


base para interagir com o meio no qual nos inserimos, tanto com as pessoas
quanto com os objetos que ali se encontram. Gatti (1997), ao produzir o marco
conceitual do Laboratorio Latinoamericano de Evaluación de La Calidad de
La Educación, da Unesco, adota uma tipologia que classifica em cinco grandes
áreas as habilidades cognitivas (GATTI, 1997):

 cognição – significa descoberta, redescoberta ou reconhecimento;


 memória – significa retenção do que é conhecido; no caso do fator
memória, é necessário apontar que há dois tipos de operações de pensa-
mento produtivo, que geram novas informações a partir de informações
conhecidas e recordadas;
 pensamento divergente – são as operações de pensamento em diferentes
direções, às vezes buscando, pesquisando, procurando, outras vezes
buscando a variedade;
 pensamento convergente – é o reconhecimento da informação que
leva a uma só resposta correta ou a uma resposta convencionalmente
tida como a melhor;
 avaliação – é o alcance da tomada de decisão em relação não ao certo
ou errado, mas ao melhor, ao mais razoável, desejável ou adequado ao
que se sabe e lembra.

Além das habilidades cognitivas propostas, ao trabalhar com a educação


especial no contexto das ações da educação não formal, há habilidades sociais
que precisam ser reforçadas. Conforme destacam Del Prette e Del Prette (2017,
p. 24), as habilidades sociais são “[...] um construto descritivo dos comporta-
mentos sociais valorizados em determinada cultura com alta probabilidade de
resultados favoráveis para o indivíduo, seu grupo e comunidade, que podem
contribuir para um desempenho socialmente competente em tarefas interpes-
soais [...]”. Os autores apontam ainda seis importantes habilidades sociais que
10 Educação especial no contexto da educação não formal

o pedagogo pode objetivar ao desenvolver as ações educativas não formais na


educação especial: empatia, autocontrole, civilidade, assertividade, abordagem
social-sexual e desenvoltura social.
As práticas educativas não formais da educação especial também devem ser
processuais, ou seja, devem considerar como de maior importância avaliativa
o processo de ensino-aprendizagem em si, e não os resultados que foram
projetados. Da mesma forma, deve haver um acompanhamento ao longo
desse processo, quando se faz necessária a participação dos familiares para
a continuidade e o reforço das aprendizagens e dos feedbacks a respeito das
conquistas e dos avanços dos aprendizes, de acordo com o PHS definido para
tais intervenções e formações pedagógicas.

Quando nos referimos a atividades estruturadas, ao plano ou programa a ser posto em


prática, que têm cunho pedagógico e terapêutico com crianças, jovens e adultos na
educação especial, voltados para o desenvolvimento de habilidades sociais, utilizamos
o termo PHS, que é a sigla de psicologia das habilidades sociais.

Exemplos de ações da educação não formal


na educação especial
Para que você possa consolidar a aprendizagem sobre as ações do pedagogo
na educação não formal que se voltam para o público da educação especial,
acompanhe alguns procedimentos adotados por organizações da sociedade
civil. Estas atuam no terceiro setor da economia brasileira e se dedicam a
proporcionar maior qualidade de vida, bem-estar e autonomia a pessoas com
deficiências ou dificuldades de aprendizagem de várias ordens.
Assim, elegemos para este capítulo, pelo destaque do seu trabalho e pela
relevância das suas contribuições educativas para a educação especial, as
seguintes organizações:

 a Associação de Amigos do Autista (AMA);


 a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae);
 e a Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD).
Educação especial no contexto da educação não formal 11

O transtorno do espectro autista, mais conhecido como autismo, segundo a


Organização Pan-Americana da Saúde (agência da Organização Mundial da Saúde
– OMS), “[...] se refere a uma série de condições caracterizadas por algum grau de
comprometimento no comportamento social, na comunicação e na linguagem, e
por uma gama estreita de interesses e atividades que são únicas para o indivíduo
e realizadas de forma repetitiva [...]” (OMS, 2017, documento on-line).
Assim, a OMS (2017) recomenda que sejam realizadas intervenções baseadas
nas evidências de vida apresentadas pelos sujeitos autistas, recomendando trata-
mentos comportamentais multidisciplinares e treinamentos de habilidades para
esses indivíduos e os seus pais ou responsáveis, o que melhora a comunicação
e agrega qualidade em sua vida social. Esse órgão também recomenda que “[...]
as intervenções para as pessoas com transtorno do espectro autista precisam ser
acompanhadas por ações mais amplas, tornando ambientes físicos, sociais e atitu-
dinais mais acessíveis, inclusivos e de apoio [...]” (OMS, 2017, documento on-line).
Nesse sentido, uma organização que atua na educação não formal voltada
para as pessoas com autismo é a AMA, existente desde 1983 no estado de São
Paulo, que traz a seguinte afirmação sobre o tipo de ações que costuma ofertar:

O tratamento do autismo envolve as intervenções de médicos, psicólogos,


fonoaudiólogos, pedagogos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais e edu-
cadores físicos, além da imprescindível orientação aos pais ou cuidadores. É
altamente recomendado que uma equipe multidisciplinar avalie e desenvolva
um programa de intervenção personalizado, pois nenhuma pessoa com autismo
é igual a outra (AMORIM, 2019, documento on-line, grifo nosso).

A Apae é uma das organizações sociais mais antigas do Brasil. Fundada


em 1953, ela atua hoje em rede, percorrendo o país inteiro. O foco de atuação
principal das Apaes são os sujeitos com deficiências intelectuais e múltiplas,
o que possibilita o enquadramento de muitas síndromes e distúrbios relacio-
nados à aprendizagem. Segundo o portal digital da instituição, o seu trabalho
se desenvolve em seis grandes áreas (APAE, 2019):

 saúde – acompanhamento à pessoa com deficiência, em todo o seu ciclo


de vida, nas mais diversas especialidades, da prevenção à reabilitação,
com atenção especializada;
 proteção – defesa e garantia de direitos das pessoas com deficiência nas
mais diferentes instâncias, visando às suas necessidades de desenvol-
vimento, saúde e bem-estar, e combatendo a violência e a exploração;
12 Educação especial no contexto da educação não formal

 educação – apoio intensivo e atendimento educacional especializado


ao estudante com deficiência intelectual e múltipla incluído na escola
comum, nas séries iniciais de ensino fundamental;
 capacitação – habilitações profissionais em diversos ofícios, voltadas às
aptidões dos aprendizes, a fim de desenvolver as suas atividades sociais;
 assistência social – alianças estratégicas com vários setores e segmentos
sociais para a melhoria da qualidade de vida e inclusão da pessoa com
deficiência;
 autogestão – desenvolvimento da autogestão, autodefensoria e convi-
vência em família da pessoa com deficiência intelectual.

Para desenvolver os seus processos educativos nas seis áreas apontadas,


a Apae conta com muitos profissionais de várias áreas e voluntários que
desenvolvem essas ações. Perceba que, para atuar como pedagogo, você pode
se encaixar perfeitamente em várias dessas áreas, com ênfase especial na
educação, apoiando e reforçando as aprendizagens escolares e as atividades
que visam à capacitação e à autogestão desses indivíduos.

Para compreender o real sentido que costuma estar presente nas organizações que
atuam com a educação especial, que é a busca pela inclusão de todos na sociedade,
assista ao vídeo institucional da Federação Nacional das Apaes, disponível no link a seguir.

https://qrgo.page.link/ioooU

Outra instituição de destaque em suas ações na área da educação especial,


voltada principalmente para as pessoas com deficiências físicas, é a AACD.
Segundo o site da instituição, ela é:

[...] focada em garantir assistência médica de excelência em Ortopedia e Re-


abilitação. A Instituição atende pessoas de todas as idades com qualquer tipo
de necessidade ortopédica, das mais simples às mais complexas, recebendo
pacientes via Sistema Único de Saúde (SUS), planos de saúde e particular
[...] (AACD, 2019).
Educação especial no contexto da educação não formal 13

Essa organização sem fins lucrativos organiza os seus trabalhos a partir da


oferta dos seguintes serviços: hospital ortopédico (onde se realizam cirurgias
ortopédicas e neurocirurgias); centro de reabilitação (que atende a diversas es-
pecialidades de deficiências); oficina ortopédica (que produz artigos ortopédicos
para a melhoria da qualidade de vida dos pacientes); centro de diagnóstico por
imagem; centro médico; centro de terapia; ensino e pesquisa; AACD esporte;
centro escolar; e cooperação técnica.
A atuação do pedagogo é de grande valia para as práticas educativas não
formais da AACD, sobretudo nas atividades do centro de reabilitação, de terapias,
de apoio à inclusão escolar, de ensino e pesquisa, e de cooperação técnica, dando
suporte aos centros de trabalho que a organização possui. Veja, na descrição
das atividades da área escolar, como as atividades propostas para o reforço da
educação formal realizadas pela AACD vêm ao encontro daquilo que você está
estudando como sendo importante para as atividades ligadas à educação especial:

Além da grade curricular tradicional, são realizadas atividades socioculturais


que trabalham competências e habilidades fundamentais para o exercício da
cidadania, a construção da autonomia e a qualificação para o mercado de
trabalho. Com o objetivo de favorecer o pleno desenvolvimento das poten-
cialidades de cada estudante, as ações propostas consideram seu ritmo, estilo
de aprendizagem e necessidades específicas. O programa também busca
fortalecer a parceria entre escola, família e voluntários, estabelecendo uma
comunidade educativa (AACD, 2019, documento on-line)

Conheça mais sobre o trabalho desenvolvido pela AMA, pela Apae e pela AACD
acessando os sites das entidades nos links a seguir.

www.ama.org.br

www.apae.com.br

www.aacd.org.br

Assim, percebemos que o trabalho do pedagogo na educação não formal que


ocorre na educação especial deve considerar as particularidades e especificidades
de cada deficiência. Esse entendimento oportuniza o estabelecimento de ações
pedagógicas assertivas e que de fato contribuam para as aprendizagens que se busca
14 Educação especial no contexto da educação não formal

consolidar com esses sujeitos. É importante destacar ainda que, para atuar na área
da educação especial, o pedagogo deve procurar especializar-se em cursos que se
voltem para a educação especial, como os de psicopedagogia, neuropsicopedagogia,
ou especializações mais específicas sobre alguma síndrome ou transtorno sobre
o qual se deseja adquirir maior formação e competência profissional.

AACD. Escolar. 2019. Disponível em: https://aacd.org.br/escolar. Acesso em: 11 dez. 2019.
AMORIM, L. C. D. Tratamento. 2019. Disponível em: https://www.ama.org.br/site/autismo/
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Educação especial no contexto da educação não formal 15

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