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ISSN 2179-9148

Revista Brasileira de
Direito Previdenciário
Ano X – Nº 60
Dez-Jan 2021
Classificação Qualis/Capes: B1

Editor
Fábio Paixão

Conselho Editorial
Ana Virgínia Gomes – Antônio César Bochenek – Daniel Machado da Rocha
Daniel Pulino – Fábio de Souza Silva – Fábio Zambitte Ibrahim
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José Antonio Savaris – José Ricardo Caetano Costa – Juliana Teixeira Esteves
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Marcelo Barroso Lima Brito de Campos – Marco Antônio Villatore – Marco Aurélio Serau Junior
Miguel Horvath Júnior – Rodrigo Garcia Schwarz – Suzani Andrade Ferraro
Theresa Rachel Couto Correia – Wagner Balera – Wladimir Novaes Martinez
Alejandro Castello (Uruguai) – Carlos Botassi (Argentina) – Carlos Daniel Luque (Argentina)
Hugo Roberto Mansueti (in memoriam) (Argentina) – Jesús Barceló Fernandez (Espanha)
Jordí García (Espanha) – Jorge Cristaldo Montaner (Paraguai)
José Luis Tortuero Plaza (Espanha) – Marcela I. Basterra (Argentina)
María de las Nieves Cenicacelaya (Argentina)

Colaboradores deste Volume


Alexandre Pimenta Batista Pereira – Daniel Machado da Rocha
Dariel Santana Filho – Denise Tanaka dos Santos – Gilberto Ferreira Marchetti Filho
Hector Cury Soares – Helena Ramos de Castro – Jefferson Guedes
Juliana de Oliveira Xavier Ribeiro – Marcelo Borsio
Priscilla Milena Simonato de Migueli
Revista Brasileira de Direito Previdenciário
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Revista Brasileira de Direito Previdenciário
v. 1 (fev./mar. 2011)-.– Porto Alegre: LexMagister; IBDP – Instituto Brasileiro de Direito Previdenciário, 2011-
Bimestral
v. 60 (dez./jan. 2021)
ISSN 2179-9148
1. Direito Previdenciário – Periódico. 2. Direito Administrativo – Periódico.
CDU 351.84(05)
CDU 351(05)
Ficha catalográfica: Leandro Augusto dos Santos Lima – CRB 10/1273
Capa: Apollo 13
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Pernambuco: João Elizeu Leite Junior; Piauí: Alex Sandro Lial Sertão; Rio de Janeiro: Itamar Ferreira de Carvalho; Rio Grande do Norte:
Rafaela Lopes de Melo Cosme; Rio Grande do Sul: Vanessa Cenzi Farias; Rondônia: Julinda da Silva; Santa Catarina: Fabio Luiz dos Passos; São
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Lopes Tavares, Miguel Carlos Lopes Filho e Felipe Solano de Lima Melo; Paraná: Mateus Ferreira Leite, Milvio Manoel Cruz Braga, Rose
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Yang, Mônica Freitas Rissi, Érika Valim de Melo Berle, Juliana Moreira Lance Coli e Elaine Medeiros Coelho de Oliveira; Sergipe: Paulo
Henrique Bezerra Sarmento; Tocantins: Candida Detternborn Nóbrega, Caroline Alves Pacheco e Álvaro Mattos Cunha Neto.

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Sumário
Doutrina
1. Aposentadoria por Invalidez e Reversibilidade – Overruling da Súmula nº
217 do Supremo Tribunal Federal
Alexandre Pimenta Batista Pereira.............................................................................. 5
2. As Novas Concepções dos Direitos Humanos da Pessoa com
Deficiência e as Mudanças Normativas Brasileiras Trazidas pelas
Reformas: a Aposentadoria da Pessoa com Deficiência
Denise Tanaka dos Santos e Priscilla Milena Simonato de Migueli............................. 21
3. A Judicialização Massiva de Aposentadorias por Idade Rural em Rio
Grande: uma Análise a Partir do Projeto CIDIJUS
Helena Ramos de Castro e Hector Cury Soares.......................................................... 45
4. Conflitos Previdenciários no Brasil: Causas, Custos e Alternativas para
Mitigá-los na Era Pós-Coronavírus
Dariel Santana Filho, Marcelo Borsio e Jefferson Guedes............................................ 66
5. Os Incidentes de Uniformização nos Juizados Especiais Federais
Daniel Machado da Rocha........................................................................................ 93
6. A Proteção Social do Idoso Diante da Reforma da Previdência
Promovida pela Emenda Constitucional nº 103/2019
Gilberto Ferreira Marchetti Filho e Juliana de Oliveira Xavier Ribeiro...................... 123

Jurisprudência
1. Turma Nacional de Uniformização do Conselho da Justiça Federal –
Apuração de Erro na Concessão de Benefício com Reflexos Futuros na
Impossibilidade de Geração de Pensão por Morte. Investigação sobre a
Verdade Real Inerente à Dignidade Humana e à Própria Condição Laboral
do Segurado
Rel. Juiz Fed. Atanair Nasser Ribeiro Lopes............................................................ 143
2. Turma Nacional de Uniformização do Conselho da Justiça Federal –
Necessidade de Constar no Formulário PPP, a Partir de 2004, de
Informação sobre o Responsável Técnico. Correspondência com a
Existência de Laudo. Supressão Mediante Informação, pela Empresa, de
que Não Houve Alteração do Ambiente Laboral, na Forma do § 4º do Art.
261 da IN nº 77/2015. Recurso do INSS Provido
Rel. Juiz Fed. Atanair Nasser Ribeiro Lopes............................................................ 151
3. Turma Nacional de Uniformização do Conselho da Justiça Federal –
Termo Inicial da Pensão por Morte de Dependente Absolutamente
Incapaz em Caso de Habilitação Tardia. Termo Inicial na Data do
Requerimento de Habilitação Tardia (DER). Posição de Ambas as
Turmas do STJ
Rel. Juiz Fed. Atanair Nasser Ribeiro Lopes............................................................ 162

4. Ementário............................................................................................................ 176
Índice Alfabético-Remissivo................................................................................ 198
Doutrina

A Proteção Social do Idoso Diante da


Reforma da Previdência Promovida pela
Emenda Constitucional nº 103/2019

Gilberto Ferreira Marchetti Filho


Bacharel em Direito e Pós-Graduado em Direito Civil e
Processo Civil pelo Centro Universitário da Grande Dourados
– UNIGRAN; Mestre em Processo Civil e Cidadania pela
Universidade Paranaense – UNIPAR; Assessor Jurídico do
TJMS; Professor de Direito Civil no Centro Universitário da
Grande Dourados – UNIGRAN.

Juliana de Oliveira Xavier Ribeiro


Doutoranda em Direito pela Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo – PUC-SP e pela Universidade Autônoma
de Lisboa; Mestre em Direito pela Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo – PUC-SP; Professora e Coordenadora
de Cursos de Pós-Graduação em Direito; Autora de Obras
Jurídicas.

RESUMO: Esta pesquisa tem por foco norteador a análise da reforma da


previdência social, no âmbito da aposentadoria, instituida pela Emenda Cons-
titucional nº 103/2019, em face da proteção social do idoso. Sabe-se que, na
atualidade, o idoso goza, sem dúvida nenhuma, de proteção especial, insculpida
na Constituição Federal e reverberada no Estatuto do Idoso (Lei Federal nº
10.741/03). Dentro desse campo, pode-se destacar o princípio da dignidade da
pessoa humana, elevado à categoria de direito fundamental, aqui trabalhado com
o direito à vida digna do idoso. A par disso, há, ainda, a segurança jurídica que,
como direito fundamental, visa assegurar as relações jurídicas contra mudanças
legislativas, em uma de suas vertentes, evitando, assim, a quebra de expectativas
legitimamente criadas pelas pessoas, em razão da legislação vigente. Diante disso
e tendo em conta que a aposentadoria é um dos meios de se prover o sustento do
idoso na sua velhice, após uma vida inteira de trabalho, analisar-se-á a Reforma
da Previdência, instituida por aquela Emenda, notadamente em relação às regras
de transição para a concessão de aposentação àqueles que já eram segurados no
regime geral ao tempo da reforma.

PALAVRAS-CHAVE: Idoso. Princípio da Dignidade da Pessoa Humana.


Princípio da Segurança Jurídica. Reforma da Previdência. Regras de Transição.

SUMÁRIO: Introdução. 1 A Aposentadoria Como um Tipo de Proteção Social


ao Idoso e a Velhice. 2 A Dignidade da Pessoa Idosa Diante do Benefício Pre-
videnciário de Aposentadoria. 3 A Necessidade de se Resguardar a Segurança
Jurídica em Tempos de Reforma da Previdência. 4 A Reforma da Previdência
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Oriunda com a Emenda Constitucional nº 103/2019; 4.1 Salário de Benefício


após a Reforma da Previdência; 4.2 Forma Geral de Cálculo das Aposentadorias
após a Reforma da Previdência; 4.3 Regras de Aposentadoria para os Filiados
do RGPS após a Reforma da Previdência; 4.4 Regras de Transição para quem Já
Era Filiado ao RGPS antes da Reforma Previdenciária; 4.4.1 A Regra de Tran-
sição dos Pontos; 4.4.2 Regra de Transição para a Aposentadoria por Tempo de
Contribuição; 4.4.3 A Regra de Transição do Pedágio de 50%; 4.4.4 A Regra de
Transição da Aposentadoria por Idade; 4.4.5 A Regra de Transição do Pedágio
de 100%. 5 As Aposentadorias Especiais dos Segurados Expostos aos Agentes
Químicos, Físicos e Biológicos; 5.1 A Regra de Aposentadoria de Tempo Especial
aos Novos Segurados do RGPS; 5.2 A Regra de Aposentadoria de Tempo Especial
para quem Era Segurado do RGPS antes da Data de Entrada em vigor da EC nº
103/2019. Considerações Finais. Referências Bibliográficas.

Introdução
O processo de envelhecimento é um percurso biológico natural da
vida humana, que acarreta várias reflexões e discussões na seara existencial,
jurídica, médica, filosófica, cultural, familiar, dentre tantas outras áreas, haja
vista que o processo de envelhecimento é uma dinâmica complexa.
Já o conceito de pessoa idosa, por sua vez, também vai variando con-
forme o entendimento de determinada área da ciência. Por exemplo, segundo
a Organização Mundial da Saúde – OMS, idoso é todo indivíduo com mais
de 60 (sessenta) anos de idade. No Brasil, o Estatuto da Pessoa Idosa destaca,
logo em seu primeiro artigo, que suas normas visam assegurar o direito às
pessoas com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos.
Carvalho (2013, p. 5) destaca que há várias perspectivas que analisam o
envelhecimento, existindo abordagens individuais, familiares, intergeracionais,
dos direitos e da dignidade e humana, do gênero, do desenvolvimento social.
Portanto, o processo de envelhecimento é um fenômeno multidisciplinar.
A pessoa idosa integra o núcleo familiar. Assim, ao se elaborar direitos
à pessoa idosa, não só ele será atingido, mas também toda a família. Por isso
que ao buscar proteger, tutelar e elaborar políticas públicas ao idoso, toda a
família – ainda que indiretamente – está sendo atingida.
Ademais, deve-se enaltecer que o Estatuto do Idoso, no art. 2º, pro-
clama que a pessoa idosa goza de todos os direitos fundamentais inerentes
à pessoa humana, sendo assegurado, por lei ou por outros meios, todas as
oportunidades e facilidades, para preservação da saúde física e mental, bem
como aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, em condições
de liberdade e dignidade.
Chegado a esse ponto, tem-se que a seguridade social, mais especifica-
mente o direito à previdência social, destacando-se, dentre vários benefícios,
Doutrina – Revista Brasileira de Direito Previdenciário Nº 60 – Dez-Jan/2021 125

a aposentadoria, constitui alguns direitos fundamentais que acarretam uma


maior dignidade e proteção da pessoa idosa. Quando o benefício de aposen-
tadoria é concedido em momento oportuno e com um valor digno, assegura
a proteção da pessoa idosa, a fim de resguardar outros direitos fundamentais
como o acesso ao lazer, à saúde ou à autonomia, por exemplo.
Desse modo, o presente trabalho possui o principal objetivo de com-
preender as mudanças no benefício de aposentadoria, advinda com a EC
nº 103/2019, também conhecida como Reforma da Previdência, buscando
verificar se tais mudanças estão em consonância com o princípio da proteção
social, segurança jurídica e dignidade da pessoa humana.
Portanto, observando metódica dedutiva, sistêmica e axiológica, em
revisão bibliográfica, o principal objeto desta pesquisa são as aposentadorias.
Para tanto, o trabalho discorrerá especificamente sobre as aposentadorias do
Regime Geral de Previdência Social – RGPS, focando, ademais, nas regras
gerais e na aposentadoria especial do segurado exposto aos agentes químicos,
físicos e biológicos.
Desse modo, por uma questão metodológica e de tempo hábil de discus-
são, não será explanado sobre todas as modalidades de aposentadoria destinadas
ao idoso, mas, sim, aquelas que fazem parte do cotidiano previdenciário.

1 A Aposentadoria Como um Tipo de Proteção Social ao Idoso e a


Velhice
O direito a proteção à pessoa idosa no campo do ordenamento inter-
nacional está previsto no art. 17 do Protocolo de San Salvador de 1988, sendo
promulgado pelo Brasil, por meio do Decreto nº 3.321/99.
Já no contexto brasileiro, Maio (2016, p. 50) afirma que a decorrência da
adoção interna de alguns tratados internacionais e da influência da concepção
de Estado Social Democrático de Direito, a proteção social da velhice não só
refletiu na Constituição Federal, mas também norteou toda uma legislação
infraconstitucional, culminando na própria aprovação do Estatuto da Pessoa
Idosa.
Embora na Constituição nacional, o princípio da proteção social não
está contido de modo expresso, ele se configura de modo implícito, estando
contido através dos direitos das pessoas idosas, destacando-se, dentre eles, o
direito à seguridade social. Ademais, a proteção à pessoa idosa está contida
expressamente em várias partes do Estatuto da Pessoa Idosa.
Revista Brasileira de Direito Previdenciário Nº 60 – Dez-Jan/2021 – Doutrina
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A Seguridade Social como um tipo de proteção social à velhice, por sua


vez, está fincada no art. 194 da Constituição Federal, sendo compreendida
como um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da
sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência
e à assistência social.
Portanto, a Seguridade Social é essencial para que outros direitos da
pessoa idosa sejam concretizados, como direito ao acesso ao lazer, à dignidade
da pessoa humana e à própria proteção da velhice. Tanto os benefícios da as-
sistência social quanto os benefícios da previdência social, como o pagamento
mensal remunerado de algum tipo de benefício, é essencial para garantir uma
velhice segura e resguardar outros direitos.
No mesmo sentido, explana Camarano (2006, p. 9) que a insuficiên-
cia de renda e falta de autonomia para lidar com as atividades do cotidiano
são indicadores de idosos que necessitam de algum tipo de proteção social.
Assim, assume-se que as políticas mais importantes para esse segmento são a
de geração de renda e a de cuidados de longa duração, como da previdência
e da assistência social.
A Lei Federal nº 8.742/93, também denominada de LOAS – Lei Orgâ-
nica da Assistência social, afirma no art. 2º, inciso I, alínea a que a assistência
social tem como objetivos a proteção da velhice. Uma dessas proteções se
encontra no Benefício de Prestação Continuada – BPC, sendo previsto no
art. 203, inciso V, da Constituição Federal e na Lei do LOAS.
O BPC, portanto, é um benefício de prestação continuada de um salário
mínimo mensal à pessoa idosa com 65 anos de idade ou mais, que comprove
não possuir meios de prover a própria manutenção nem de tê-la provida por
sua família, nos termos do art. 20 da Lei do LOAS.
Nesse sentido, o § 3º do referido artigo da Lei Federal nº 8.742/93,
considera incapaz de prover a pessoa idosa, a família cuja renda mensal per
capita seja inferior a 1/4 (um quarto) do salário mínimo; isto é, para se ter
acesso ao BPC não é necessário ter uma prévia contribuição, basta apenas se
encaixar nos requisitos de “miserabilidade”1 do benefício.
Adentrando no âmbito específico da Previdência Social, deve-se destacar
o direito de aposentadoria. Para ter um benefício de aposentadoria concedido,
diferentemente da assistência social, torna-se necessário ter prévia contribuição

1 Acerca dos requisitos socioeconômicos ou do requisito de “miserabilidade” para ser contemplado pelo benefício de
BPC há diversas discussões se um quarto da renda per capita familiar é uma exigência compatível. Discorrer sobre
tal problema não é objetivo deste trabalho, mas ainda assim faz-se importante mencionar que esse debate existe.
Doutrina – Revista Brasileira de Direito Previdenciário Nº 60 – Dez-Jan/2021 127

ao Regime Geral de Previdência, bem como cumprir outros requisitos, como


tempo de contribuição e/ou idade.
A aposentadoria, portanto, atua como um benefício alimentar, a fim de
garantir alguns outros direitos, como a própria desconexão do trabalho, em
momento em que os vigores físico, mental e intelectual não se encontram
nos mesmos níveis que outrora.
Além disso, a aposentadoria constitui importante auxílio que propor-
ciona a proteção social da pessoa idosa, já que o amparo financeiro constitui
ferramenta que está atrelada à sua autonomia, bem como a outros princípios
e direitos fundamentais como da dignidade da pessoa humana. Faleiros (2013,
p. 38) afirma, no mesmo sentido, que a autonomia está articulada à proteção, e
o fundamento da proteção são os direitos humanos, como norma consensual
e universal da dignidade da pessoa humana.

2 A Dignidade da Pessoa Idosa Diante do Benefício Previdenciário


de Aposentadoria
A dignidade da pessoa humana encontra-se prevista em ordenamentos
internacionais e nacionais. No âmbito do direito internacional, por exemplo,
deve-se destacar a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que, logo
no preâmbulo, afirma o necessário reconhecimento da dignidade inerente a
todos os membros da família humana e dos seus direitos iguais e alienáveis
como fundamento da liberdade, da justiça e na paz no mundo.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos constitui um grande
marco no direito positivo, cunhando, pela primeira vez, o próprio termo Di-
reitos Humanos. Esse código internacional de Direitos Humanos estabelece
a importância da dignidade da pessoa humana não só no preâmbulo, mas
também logo no artigo 1º, ao reconhecer que todos os seres humanos nascem
iguais não só em direito, mas também em dignidade.
Seguindo essa linha, a Constituição Nacional de 1988, no art. 1º, inciso
II, traz como fundamento da República Federativa brasileira a dignidade da
pessoa humana. No âmbito das leis infraconstitucionais, deve-se destacar no
caso da pessoa idosa o seu próprio Estatuto, que em várias partes do documento
ressalta o necessário respeito com a dignidade da pessoa idosa, destacando-
se, dentre eles, o art. 10, ao aludir que é obrigação do Estado e da sociedade
assegurar à pessoa idosa inúmeros direitos, dentre eles, o da dignidade.
Portanto, não faltam dispositivos legais no âmbito nacional e inter-
nacional que reafirmam que o direito da dignidade da pessoa idosa deve
ser cumprido pelo Estado e pela própria sociedade. A pesquisadora Botega
Revista Brasileira de Direito Previdenciário Nº 60 – Dez-Jan/2021 – Doutrina
128

(2017, p. 55) afirma que a dignidade da pessoa humana foi elevada a princípio
fundamental, colocando o ser humano no ápice de todo e qualquer sistema
jurídico, bem como servindo como mola de propulsão da intangibilidade da
vida do homem, decorrendo, assim, de tal princípio, o necessário respeito à
integridade física, psíquica, as condições básicas de igualdades e liberdade,
além da garantia de pressupostos materiais mínimos para que se possa viver.
No caso da pessoa idosa, por exemplo, a efetivação do direito da segu-
ridade social e mais especificamente do direito à aposentadoria constituem
mecanismos imprescindíveis para assegurar sua dignidade. Nesse sentido,
Faleiros (2013, p. 39) afirma que para ser considerado cidadão ou cidadã, a
pessoa necessita ter as condições de vida digna efetivadas pelo Estado e pela
sociedade.
Segundo Ingo Sarlet (2009, p. 47), a dignidade é qualidade integrante e
irrenunciável da própria condição humana, devendo ser reconhecida, respei-
tada, promovida e protegida, não podendo, ser criada, concedida ou retirada,
já que existe em cada ser humano como algo que lhe é inerente.
Nessa ordem de ideias, a dignidade da pessoa humana, e no caso
específico, a dignidade da pessoa idosa, é inerente a todo ser humano e da
própria pessoa idosa, estando reconhecida nos ordenamentos jurídicos pátrio
e internacional. Portanto, a dignidade da pessoa idosa é algo que deve ser efe-
tivado por meio de políticas públicas e na efetivação de direitos já garantidos
constitucionalmente. A aposentadoria com um valor razoável e concedida no
oportuno momento, portanto, constitui um desses elementos cruciais para se
garantir a dignidade da pessoa idosa.

3 A Necessidade de se Resguardar a Segurança Jurídica em Tempos


de Reforma da Previdência
A segurança jurídica se encontra presente na Constituição nacional de
modo indireto, como, por exemplo, no art. 5º, inciso XXXVI, que traz em
seu bojo que “a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito
e a coisa julgada”. Tal princípio não está só atrelado nesse dispositivo legal,
mas também em outras normas do texto constitucional e infraconstitucional,
como nas regras de prescrição e decadência, por exemplo.
Silva (2006, p. 133) afirma que a segurança jurídica consiste no conjunto
de condições que torna possível às pessoas conhecerem de modo antecipa-
do e reflexivo as consequências diretas de seus atos e de seus fatos à luz da
liberdade reconhecida.
Doutrina – Revista Brasileira de Direito Previdenciário Nº 60 – Dez-Jan/2021 129

Por sua vez, Marinoni (2010, p. 1) obtempera que, embora as Consti-


tuições e Cartas de direitos humanos fundamentais, como a Declaração dos
Direitos Humanos da ONU e a Convenção Americana de São José da Costa
Rica, não aludam a um direito à segurança jurídica, o constitucionalismo
brasileiro é consciente de que um Estado de Direito é indissociável do prin-
cípio da segurança jurídica, sendo que a doutrina a considera subprincípio
concretizador do princípio fundamental e estruturante do Estado de Direito.
Em seu turno, Sarlet (2010, p. 8) assevera que em tempos de instabilida-
de institucional, social e econômica, que inevitavelmente reflete em reformas
jurídicas, torna-se necessário o reconhecimento, a eficácia e a efetividade do
direito à segurança jurídica, assumindo cada vez mais um papel de destaque
entre os princípios e direitos fundamentais.
Medauar (2008, p. 228) expõe que a segurança jurídica se relaciona
com a estabilidade das situações jurídicas, expressando a condição do indi-
víduo como sujeito ativo e passivo das relações sociais, podendo saber quais
são as normas jurídicas vigentes, fundando expectativas de que as normas se
cumpram. A segurança jurídica, portanto, permite tornar previsível a atuação
estatal.
Assim sendo, a segurança jurídica constitui um princípio constitucional
e um direito fundamental, que visa não só proteção processual, como da coisa
julgada, por exemplo, mas também atua frente às mudanças legislativas do
poder estatal; isto é, as normas e dispositivos legais não podem ter mudanças
radicais e repentinas, pois feririam o direito à segurança jurídica.
Nessa senda, a segurança jurídica deve atuar como princípio nortea-
dor para as mudanças legais e legislativas, a fim de não ferir uma expectativa
ao direito que a pessoa tinha. Em tempos de tantas reformas, dentre elas, a
Reforma da Previdência, as mudanças legais devem ser feitas conforme esse
importante princípio.
No âmbito da previdência social, o princípio da segurança jurídica
também corresponde ao princípio da contrapartida. A regra da contrapartida
se encontra fundamentada no art. 195, § 5º, da Constituição Federal, ao es-
tabelecer que nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser
criado, majorado ou estendido sem a correspondente fonte de custeio total.
Desse modo, pode-se interpretar desse princípio, que o segurado que
tenha contribuído para específica fonte de custeio, possui direito a ter um
benefício correspondente ao salário que contribuiu.
Nesse sentido, o princípio da contrapartida se atrela diretamente ao
princípio da segurança jurídica, pois do mesmo modo que não pode ser ins-
Revista Brasileira de Direito Previdenciário Nº 60 – Dez-Jan/2021 – Doutrina
130

tituído algum benefício previdenciário sem uma fonte de custeio, também


não pode haver mitigação desproporcional do valor de algum benefício, sem
reconhecer o valor já contribuído pelo segurado.

4 A Reforma da Previdência Oriunda com a Emenda Constitucional


nº 103/2019
A Emenda Constitucional (EC) nº 103/2019 foi promulgada no dia 12
de novembro de 2019, e começou a entrar em vigor – na maioria dos casos
e, dentre eles, dos benefícios de aposentadoria – na data de publicação, no
dia 13 de novembro de 2019. Assim, não houve um período considerado de
vacatio legis para que as mudanças referentes às mais diversas modalidades de
aposentadoria entrassem em vigor.
Assim, a simples falta de previsão de um período significativo de vacatio
legis já desrespeita o princípio da segurança jurídica, não só por trazer modifi-
cações instantâneas na aposentadoria, atingindo diretamente o direito do idoso,
como também acarreta dúvidas se os servidores e os sistemas operacionais já
estariam aptos, tão rapidamente, para lidar com tantas modificações jurídicas
no direito previdenciário.
No âmbito do direito da aposentadoria, a Reforma da Previdência extin-
guiu para os novos filiados do Regime Geral de Previdência Social – RGPS, a
possibilidade de aposentadoria apenas por idade ou aposentadoria apenas por
contribuição; isto é, os novos filiados irão ter apenas aposentadoria híbrida, que
é a combinação entre a aposentadoria de idade com o tempo de contribuição.
Quem possui direito adquirido de se aposentar com as regras antigas,
antes da Reforma da Previdência, pode fazê-lo. No entanto, quem não alcança
os requisitos para se aposentar pelas regras anteriores, possui algumas regras
de transição. Assim, este trabalho visa compreender melhor essas mudanças
e as suas consequências para a proteção da velhice. Assim, inicialmente, para
compreender, portanto, as mudanças mais específicas da aposentadoria, faz-se
necessário compreender, inicialmente, o salário de benefício.

4.1 Salário de Benefício após a Reforma da Previdência


Uma das principais mudanças advindas com a Reforma da Previdência
foi o cálculo do salário de benefício, que atinge não só a renda mensal inicial
(RMI) do benefício de aposentadoria, mas como também de todos os outros
benefícios previdenciários.
Doutrina – Revista Brasileira de Direito Previdenciário Nº 60 – Dez-Jan/2021 131

Antes da Reforma da Previdência, o salário de benefício era calculado


como a média dos 80% maiores salários de contribuição desde julho de 1994,
conforme o art. 3º da Lei nº 9.876/99. Desse modo, o segurado do Instituto
Nacional do Seguro Social (INSS) conseguiria, obrigatoriamente, descartar
do cálculo os 20% menores salários de contribuição, que poderiam diminuir
o valor do RMI do benefício requerido.
Com a Reforma da Previdência, o salário de benefício agora é calculado
ao se contabilizar todo período contributivo desde a competência de julho de
1994 ou desde o início da contribuição, se posterior àquela data, de acordo com
o art. 26, caput, da EC nº 103/2019. Com essa mudança, portanto, o segurado
não poderá descartar mais os 20% menores salários de contribuição para o
cálculo do salário de benefício.
No entanto, uma das exceções do caput do art. 26 da EC nº 103/2019 se
encontra no § 6º do referido Artigo, ao afirmar que podem ser excluídas da
média as contribuições que resultem em redução do valor do benefício, desde
que se mantenha o mínimo de contribuição exigido. Com isso, o segurado
possui um permissivo legal que não faça o valor do benefício diminuir tanto,
por conta de eventuais menores contribuições.
Ainda se faz importante ressaltar que o cálculo do salário de benefício
para o pedido de aposentaria deve ser feito de acordo com as novas leis da
Reforma da Previdência, apenas para as situações em que os requisitos neces-
sários para o benefício postulado foram cumpridos após a Reforma.
Exemplificando-se, caso o pedido administrativo ou judicial do be-
nefício de aposentadoria foi feito após a Reforma, mas os requisitos foram
cumpridos antes da mudança da previdência, o cálculo do salário de benefício
deve ser feito com os 80% maiores salários de contribuição. Isso, porque se
deve ressaltar o exercício de um direito adquirido, nos termos do art. 5º, inciso
XXXVI, da Constituição Federal.

4.2 Forma Geral de Cálculo das Aposentadorias após a Reforma da


Previdência
Além da compreensão da nova e velha forma de cálculo do salário de
benefício, também se faz importante compreender um outro conceito geral,
aplicável aos vários tipos de aposentadoria. Trata-se da regra geral de cálculo
do valor da renda mensal inicial.
O art. 26, § 2º, inciso I, da EC nº 103/2019 afirma que o cálculo será
feito com a média corresponde a 60% do salário de benefício, sendo acrescido
Revista Brasileira de Direito Previdenciário Nº 60 – Dez-Jan/2021 – Doutrina
132

mais dois pontos percentuais para cada ano de contribuição que exceder o
tempo de 20 anos.
Por exemplo, se um homem possui 38 anos de contribuição, e cum-
pre os requisitos de idade de alguma modalidade que assim exige, o cálculo
do seu valor de benefício será 60% do salário de benefício, acrescido de 2%
multiplicado pela diferença de 38 anos de contribuição com os 20 anos de
exigência, perfazendo 2% de 18 anos. O valor do RMI é 60% do salário de
benefício, somando com mais 36% também do salário de benefício. Ao fim,
portanto, o valor inicial da aposentadoria desse homem será de 86% do seu
salário de benefício.
No entanto, nos termos do § 5º do art. 26 da EC nº 103/2019, em
algumas modalidades de aposentadoria especial, os dois percentuais serão
aplicados para cada ano em que a contribuição exceder além dos 15. Além
disso, as mulheres filiadas ao Regime Geral de Previdência Social também
são incluídas nesse formato de cálculo, independente se são filiadas ao INSS
antes ou depois da Reforma da Previdência.

4.3 Regras de Aposentadoria para os Filiados do RGPS após a


Reforma da Previdência
A regra para o novo filiado da previdência social está contida no art. 19
da EC nº 103/2019, dispondo que poderá se aposentar aos 62 anos de idade, se
mulher, e aos 65 anos de idade, se homem. Além disso, as mulheres deverão
ter, no mínimo, 15 anos de tempo de contribuição, já os homens deverão ter
20 anos de tempo de contribuição.
As regras de cálculo para essa aposentadoria serão calculadas com base
no salário de benefício nos termos da Reforma da Previdência, bem como
de acordo com as regras gerais de cálculo dos §§ 2º e 5º do art. 26 da EC nº
103/2019.

4.4 Regras de Transição para quem Já Era Filiado ao RGPS antes


da Reforma Previdenciária
Um dos mais importantes institutos para quem já é filiado ao RGPS
é o das regras de transição. Isso, porque, no caso em tela, quando tais regras
são elaboras nos termos da segurança jurídica, atuam como um mecanismo
de proteção daqueles que já contribuíam ao regime de previdência com regras
anteriores mais favoráveis.
Portanto, as regras de transição, no caso de reformas previdenciárias,
podem atuar como um mecanismo de proteção jurídica, a fim de se resguardar
Doutrina – Revista Brasileira de Direito Previdenciário Nº 60 – Dez-Jan/2021 133

o direito dos segurados que tinham uma certa expectativa de aposentadoria,


e que contribuíram para o sistema quando as regras em voga eram outras.
Desse modo, a fim de executar os objetivos deste trabalho, torna-se
imperioso conhecer e compreender quais são as regras de transição de apo-
sentadoria para quem já era filiado ao RGPS, a fim de compreender se tais
regras estão, de fato, compatíveis com os princípios da segurança jurídica, da
dignidade e proteção da pessoa idosa.

4.4.1 A Regra de Transição dos Pontos


A regra dos pontos foi instituída no ordenamento brasileiro a partir
da Lei Federal nº 13.183/2015, que previa uma nova regra para quem fosse
se aposentar por tempo de contribuição. Assim, o art. 2º da referida Lei
acrescentou o art. 29-C na Lei Federal nº 8.213/91, dispondo que o segurado
que totalizasse os necessários pontos na somatória da idade com o tempo de
contribuição, nos termos previsto na lei, poderia optar pela não incidência do
fator previdenciário no cálculo do benefício da aposentadoria.
Assim, quando a norma foi instituída, nos termos do art. 29-C, inciso
I, da Lei nº 8.213/91, o homem que tivesse o resultado da somatória de idade
e tempo de contribuição igual ou superior a 95 pontos, respeitando o tempo
mínimo de 35 anos de contribuição, poderia se aposentar sem o fator pre-
videnciário; a mulher, por sua vez, que totalizasse um total de 85 pontos na
somatória de idade e tempo de contribuição, e respeitando os obrigatórios 30
anos de contribuição, também poderia se aposentar sem a aplicação do fator
previdenciário.
Acrescenta-se, ainda, que no § 2º do art. 29-C da Lei nº 8.213/91 as
somas da idade com o tempo de contribuição iam majorando conforme os
anos, nos termos que previa o referido dispositivo legal.
A regra dos pontos favorecia os segurados que possuíam direito de
se aposentar pelo tempo de contribuição, mas que tivessem uma pequena
idade. Isso, porque a fórmula do fator previdenciário, instituída pela Lei nº
9.876/99, diminuía a alíquota daquele que tivesse menor idade, acarretando,
consequentemente, uma menor renda mensal inicial.
Assim, com a nova Reforma da Previdência, a regra dos pontos não foi
extinta, mas passou por algumas modificações, bem como manteve algumas
exigências legais. Uma das exigências mantidas, nos termos do art. 15, inciso
I, da EC nº 103/2019 foi o mínimo de tempo necessário de contribuição para
mulher de 30 anos, e para os homens de 35 anos.
Revista Brasileira de Direito Previdenciário Nº 60 – Dez-Jan/2021 – Doutrina
134

Já o resultado entre a somatória da idade com o tempo de contribui-


ção passou por modificações, nos termos do inciso II do art. 15 da EC nº
103/2019. Assim, na época em vigor da Reforma, a mulher precisava atingir
o resultado da somatória de 86 pontos, enquanto os homens necessitavam
atingir 96 pontos. Mas a Lei instituiu, de acordo com o § 1º do inciso II do
art. 15 da supracitada Emenda Constitucional, que, a partir de 1º de janeiro do
ano de 2020, a pontuação do resultado da somatória da idade com o tempo de
contribuição será acrescida em um ponto, até atingir o limite de 100 pontos
para mulher, e o limite de 105 pontos para os homens.
Isto é, com a reforma previdenciária, a exigência dos pontos necessários
para a aposentadoria ficou mais rigorosa. Além disso, antes da Reforma, quem
atingisse os necessários pontos, poderia se aposentar com 100% do salário
de benefício. No entanto, atualmente, o cálculo da aposentadoria é feito de
acordo com o cálculo geral da Reforma da Previdência, já explanado neste
trabalho; isto é, o cálculo é elaborado nos termos dos §§ 2º e 5º do art. 26 da
EC nº 103/2019.
Portanto, uma das principais mudanças das regras dos pontos, além da
exigência mais célere de aumento de ponto a cada ano que passa, foi a mudança
de cálculo. Já que com a fórmula de cálculo dos §§ 2º e 5º do art. 26 da EC nº
103/2019 a pessoa teria que ter mais tempo de contribuição do que a exigência
de 30 anos de contribuição para a mulher e de 35 anos de contribuição para o
homem, a fim de conseguir se aposentar com o 100% do salário de benefício.
Isto é, nessa perspectiva, o segurado homem necessita de 40 anos de
contribuição para conseguir atingir o 100% do salário de benefício. Já a mulher
segurada, por exemplo, precisa de 35 anos de contribuição para conseguir o
100% do salário de benefício. Assim, para os segurados conseguirem alcançar
o 100% terão que trabalhar mais.
Nessa perspectiva, as regras de transição consistem nos requisitos ao
benefício pleiteado, e não na forma de cálculo, que ficou igual para quem se
filiar ao RGPS após a Reforma da Previdência.

4.4.2 Regra de Transição para a Aposentadoria por Tempo de


Contribuição
A antiga aposentadoria por tempo de contribuição, prevista antes da
Reforma da Previdência, possui, além da regra de transição dos pontos, a regra
disposta no art. 16 da EC nº 103/2019.
O referido Artigo da Emenda Constitucional prevê, além do necessário
requisito de tempo de contribuição de 30 anos para a segurada mulher, e de
Doutrina – Revista Brasileira de Direito Previdenciário Nº 60 – Dez-Jan/2021 135

35 anos de contribuição para o segurado homem, o requisito de idade de 56


anos para asseguradas mulheres, e de 61 anos aos homens.
Ademais, o § 1º do art. 16 da EC nº 103/2019 prevê um acréscimo
de seis meses de idade a cada ano, a partir de 1º de janeiro de 2020, até que
se atinja a idade de 62 anos para a segurada mulher, e a idade de 65 anos ao
segurado homem.
Isto é, partir do ano de 2032 as seguradas mulheres para conseguirem
se aposentar por essa regra deverão ter além do tempo mínimo de 30 anos de
contribuição, os 62 anos de idade. Já os segurados homens, a partir do ano de
2028, deverão cumprir além dos necessários 35 anos de contribuição, deverão
possuir a idade de 65 anos.
Como na regra de transição dos pontos, o cálculo para essa aposentadoria
é feito, do modo já explanado, nos termos dos §§ 2º e 5º do art. 26 da EC nº
103/2019. Assim, do mesmo modo que a regra de transição da aposentadoria
por pontos, as regras transicionais, nesse caso, também focaram nos requisitos
do benefício, e não na forma de cálculo, que se mantém a mesma para quem
se filiou ao INSS após a Reforma da Previdência.

4.4.3 A Regra de Transição do Pedágio de 50%


O art. 17 da EC nº 103/2019 também é conhecido como a Regra do
Pedágio, haja vista que prevê uma regra de transição de aposentaria para quem
faltava até dois anos de contribuição até a data da Reforma da Previdência para
conseguir se aposentar.
Nessa regra, o segurado possui direito à aposentadoria, quando pre-
encher 30 anos de contribuição, se for mulher, e 35 anos de contribuição, se
for homem. Além disso, faz-se necessário o “pagamento de um pedágio”. É
dizer, nos termos do inciso II do art. 17 da EC nº 103/2019, o cumprimento
de um período adicional correspondente a 50% do tempo que, na data de
entrada em vigor desta Emenda Constitucional, faltaria para atingir os 30 anos
de contribuição, se mulher, e 35 anos de contribuição, se homem.
Nesse caso, então, não se prevê uma idade mínima para poder se apo-
sentar. Assim, por exemplo, um segurado homem, que precisa cumprir o
requisito de 35 anos de contribuição, e na época da Reforma da Previdência
faltava um ano para cumprir o requisito de tempo de contribuição de 35 anos,
esse segurado precisa pagar um pedágio de 50%, ou seja, o segurado precisa
contribuir um ano que faltava, além da metade desse ano, totalizando, ao todo,
35 anos e meio de contribuição.
Revista Brasileira de Direito Previdenciário Nº 60 – Dez-Jan/2021 – Doutrina
136

O cálculo da RMI dessa modalidade de aposentadoria é instituído no


parágrafo único do art. 17 da EC nº 103/2019, sendo construído pela multi-
plicação do salário de benefício, i.e., a média aritmética simples dos salários
de contribuição e das remunerações, multiplicada pelo fator previdenciário
Esse é o único caso de regra de transição que se utiliza do fator previ-
denciário. Como já falado anteriormente, um dos principais problemas da
multiplicação do salário de benefício pelo fator previdenciário é que quando o
segurado possui pouca idade, o cálculo resultante no fator previdenciário será
menor que 1,0, e que, ao ser multiplicado pelo salário de benefício, resultará
no valor da renda mensal inicial menor que o salário de benefício.

4.4.4 A Regra de Transição da Aposentadoria por Idade


A regra do art. 18 da EC nº 103/2019 é norma de transição para o segu-
rado que antes da Reforma da Previdência estava se planejando aposentar-se
pela modalidade de aposentadoria por idade.
Antes da Reforma da Previdência, a aposentadoria por idade estava fun-
damentada do art. 48 até o art. 51 da Lei nº 8.213/91, bem como no Decreto nº
3.048/99, do art. 51 até o art. 55. Assim, em tais dispositivos legais, previa-se
a aposentadoria por idade ao homem que complementasse 65 anos de idade,
e a mulher que complementasse 60 anos de idade, bem como os necessários
15 anos de carência, isso é, 15 anos de contribuição ao RGPS.
No entanto, a partir da Reforma da Previdência, de acordo com o § 1º
do art. 18 da EC nº 103/2019, o requisito de idade a partir do dia 1º de janeiro
de 2020 aumentou para a segurada mulher, sendo acrescido seis meses a cada
ano, até atingir 62 anos de idade. Desse modo, a partir do ano de 2024, para a
segurada mulher conseguir se aposentar nessa modalidade, terá que ter a idade
mínima de 62 anos de idade, além da carência de 15 anos de contribuição.
Ademais, não só critério de idade teve uma mudança legal, como o
próprio cômputo da aposentadoria por idade, devendo ser feita conforme o
cálculo geral advindo da EC nº 103/2019, disposto nos §§ 2º e 5º do art. 26
da EC nº 103/2019. Nesse caso, se o segurado homem e mulher, na época
do pedido de aposentadoria, tiverem apenas o tempo obrigatório de 15 anos
de contribuição, terão um valor de RMI constituído em apenas 60% do valor
do salário de benefício.

4.4.5 A Regra de Transição do Pedágio de 100%


Por fim, a última regra de transição está disposta no art. 20 da EC nº
103/2019, prevendo que o segurado filiado ao RGPS antes da Reforma da
Previdência, poderá se aposentar voluntariamente quando preencher, cumu-
Doutrina – Revista Brasileira de Direito Previdenciário Nº 60 – Dez-Jan/2021 137

lativamente, os seguintes requisitos de 57 anos de idade, se mulher, e 60 anos


de idade, se homem; além dos 30 anos de contribuição, se mulher, e de 35
anos de contribuição, se homem.
Além disso, o inciso IV do referido Artigo da Emenda Constitucional
prevê um período adicional de 100% do tempo de contribuição que estava
faltante para atingir o tempo mínimo de contribuição, na época da data de
entrada em vigor da EC nº 103/2019.
A forma de cálculo da aposentadoria é igual para todas as outras formas
de aposentadorias já explanas neste artigo, com a exceção da modalidade de
aposentadoria do art. 17 da EC nº 103/2019, isto é, a forma de cálculo é con-
forme disposta nos §§ 2º e 5º do art. 26 daquela Emenda.

5 As Aposentadorias Especiais dos Segurados Expostos aos Agentes


Químicos, Físicos e Biológicos
Dentre tantas mudanças das regras de aposentadoria advindas com
a Reforma da Previdência, deve-se destacar da aposentadoria especial, dos
segurados que durante o tempo de trabalho estão expostos aos agentes quí-
micos, físicos e biológicos. Os profissionais expostos a tais agentes possuem
modalidades diferenciadas de aposentadoria, justamente por estarem expostos
de modo habitual e não intermitente a agentes prejudiciais não só à saúde,
mas também a própria vida.
Nessa senda, nota-se que as disposições sobre esse tema na Emenda
Constitucional encontram-se nos arts. 19 e 21. O art. 19 dispõe sobre os novos
segurados do RGPS após a Emenda Constitucional; o art. 21, por sua vez,
se refere aos segurados que já eram filiados ao regime geral de previdência.
Além disso, a EC nº 103/2019, em seu art. 25, § 2º, só reconheceu
a conversão de tempo especial em comum, que foi cumprido até a data de
entrada em vigor da Emenda Constitucional, vedando a conversão do tempo
especial em tempo comum, após essa data. Em outro falar, a vedação da con-
versão do tempo especial em tempo comum, após a entrada em vigor da EC
nº 103/2019, foi aplicada tanto para os novos filiados quanto para aqueles que
já eram filiados do RGPS antes da Reforma da Previdência.
Tal mudança legislativa é um dos pontos mais polêmicos da Reforma da
Previdência, haja vista que, com a conversão do tempo especial em comum,
muitos segurados conseguiam se aposentar com uma idade menor, algo que
não será mais possível.
Revista Brasileira de Direito Previdenciário Nº 60 – Dez-Jan/2021 – Doutrina
138

Por fim, faz-se importante explicar, que a discussão sobre a aposenta-


doria especial neste trabalho não visa discorrer sobre a forma de comprova-
ção da atividade especial, documentos necessários para a instrução judicial
do pedido na via administrativa ou judicial, ou as modalidades de agentes
químicos, físicos e biológicos que proporcionem o direito da aposentadoria
especial. O principal objetivo neste tópico, portanto, é compreender quais
foram as principais mudanças nessa modalidade de aposentadoria advinda
com a Reforma da Previdência.

5.1 A Regra de Aposentadoria de Tempo Especial aos Novos


Segurados do RGPS
Os novos segurados da previdência social, filiados ao RGPS após a EC
nº 103/2019, que comprovem efetiva exposição a agentes químicos, físicos
e biológicos prejudiciais à saúde, ou associação desses agentes, poderão se
aposentar quando cumprirem 55 anos de idade, quando se tratar de atividade
especial de 15 anos de contribuição; 58 anos de idade, quando se tratar de
atividade especial de 20 anos de contribuição; 60 anos de idade, quando se
tratar de atividade especial de 25 anos de contribuição.
Dessa forma, para conseguir se aposentar pelo tempo especial, não
bastará apenas o cumprimento do tempo mínimo de exposição – a depender
do tipo de agente químico, físico ou biológico, também serão necessários o
cumprimento de uma idade mínima.
Assim como as aposentadorias comuns explanadas neste trabalho, o
cálculo da renda mensal inicial dessa modalidade de aposentadoria é feito
de acordo com os §§ 2º e 5º do art. 26 da EC nº 103/2019, ou seja, 60% do
salário de benefício, somado com os 2% para cada ano de contribuição além
dos 20 anos de contribuição.
Acrescenta-se que, nesse caso, a exceção se encontra prevista não só
para a segurada mulher, como também para a segurado que tiver exposto à
atividade que exige 15 anos de exposição, isto é, nesses casos, a contagem é
feita como 60% do salário de benefício, somado com os 2% para cada ano de
contribuição além dos quinze anos de contribuição, e não além dos vinte anos.

5.2 A Regra de Aposentadoria de Tempo Especial para quem Era


Segurado do RGPS antes da Data de Entrada em vigor da
EC nº 103/2019
O segurado que tenha se filiado ao Regime Geral de Previdência Social
antes da data de entrada em vigor da Emenda Constitucional nº 103/2019 e
Doutrina – Revista Brasileira de Direito Previdenciário Nº 60 – Dez-Jan/2021 139

que exerceu atividades com efetiva exposição a agentes químicos, físicos e bio-
lógicos prejudiciais à saúde, poderá se aposentar pelo tempo especial, quando
o total da soma resultante da idade e do tempo de contribuição e o tempo de
efetiva exposição forem, 66 pontos no caso dos agentes que exigem 15 anos
de efetiva exposição; de 76 pontos, nos casos de 20 anos de efetiva exposição;
e 86 pontos, nas situações em que forem 25 anos de efetiva exposição.
É dizer, os trabalhadores que já exerciam atividade especial antes da
entrada em vigor da EC nº 103/2019 só poderão se aposentar se cumprirem
o critério de idade também. Logo, para se aposentar com a atividade especial
de 15 anos de exposição, o segurado precisa ter a idade mínima de 51 anos
de idade. Já para atividade especial de 20 anos de exposição, o segurado só
conseguirá o benefício se tiver 56 anos de idade. Por fim, para se aposentar
pelo tempo de exposição de 25 anos, torna-se necessário ter 61 anos de idade.
O cálculo do valor da aposentadoria será feito de acordo com § 2º do
art. 26 da EC nº 103/2019. Acrescenta-se que, nesse caso, conforme § 5º do
referido Artigo, a exceção se encontra prevista não só para a segurada mu-
lher, como também para a segurado que tiver exposto à atividade que exige
15 anos de exposição. Em tais casos, a contagem é feita como 60% do salário
de benefício, somado com os 2% para cada ano de contribuição além dos 15
anos de contribuição, e não além dos 20 anos.

Considerações Finais
Com a EC nº 103/2019 é possível constatar que houve algumas mu-
danças significativas não só no cálculo do valor do benefício de aposentadoria,
como também na própria exigência de requisitos para conseguir pleitear o
benefício. Assim, embora reformas jurídicas sejam inevitáveis diante das
mudanças não só do direito, como da própria sociedade, faz-se importante
constatar que tais mudanças devem respeitar três princípios básicos: o da
segurança jurídica, da dignidade da pessoa humana e da proteção social.
Como pode ser visto, a Reforma da Previdência retirou para os novos
filiados do Regime Geral de Previdência Social a possibilidade de se aposen-
tarem somente pela modalidade de aposentadoria por idade ou somente por
tempo de contribuição. Uma das principais mudanças da reforma, portanto,
consiste em instituir uma modalidade mista de aposentadoria, que é a cumu-
latividade dos critérios de idade e de tempo de contribuição.
Ao se analisar as regras de transição de aposentadoria dispostas na EC
nº 103/2019, percebe-se que o principal foco das regras de transição foram os
requisitos de aposentadoria, e não a forma de cálculo. Com exceção do art. 17
Revista Brasileira de Direito Previdenciário Nº 60 – Dez-Jan/2021 – Doutrina
140

da EC nº 103/2019, a fórmula de cálculo de quem já era segurado do INSS


antes da Reforma é a mesma para quem se tornou filiado do regime após a
Reforma da Previdência.
Isto é, a EC nº 103/2019 não previu uma regra de cálculo de transição
para as pessoas que já eram filiadas ao RGPS, impondo as mesmas regras de
quem se tornou novo filiado. Tal situação, portanto, não respeita os princí-
pios da dignidade da pessoa humana, da segurança jurídica e da proteção da
pessoa idosa.
Isso, porque deve se ressaltar que, por exemplo, que quem visava se
aposentar pela regra dos pontos, tinha uma expectativa jurídica de alcançar o
100% salário de benefício, nos termos dos moldes anteriores do próprio cálculo
do salário de benefício. No entanto, atualmente, essa expectativa foi frustrada.
Significa dizer que aqueles que cumpriam os requisitos de aposentado-
ria antes da reforma previdenciária gozavam da possibilidade de conseguir se
aposentar com 100% do salário de benefício, ou a depender do cálculo do fato
previdenciário, conseguia um valor de RMI maior que o salário de benefício.
Contudo, após a Reforma da Previdência, a possibilidade de conseguir
uma aposentadoria que seja 100% do salário de benefício se tornou mais
difícil, haja vista que a forma de cálculo disposta nos §§ 2º e 5º do art. 26 da
EC nº 103/2019 prevê que a porcentagem seja de 60% do salário de benefício,
somados com 2% a cada ano contributivo além dos 20 anos de contribuição
para os segurados homens, ou além dos 15 anos de contribuição para a segu-
rada mulher. Na nova regra da previdência, para conseguir atingir 100% de
salário de benefício, os homens necessitam cumprir 40 anos de contribuição,
e as mulheres 35 anos.
Deve-se, ainda, ressaltar que 40 anos de contribuição ou 35 anos de
contribuição para o Regime Geral de Previdência Social não corresponde,
necessariamente, a 40 ou 35 anos de trabalho. Visto que há uma contingência
de brasileiros em trabalhos informais, subempregos ou com um vínculo de
emprego não reconhecido. Desse modo, a realidade de muitos brasileiros
é trabalhar, mas sem, necessariamente, conseguir contribuir para o INSS2.

2 Nesse sentido, deve-se destacar o Estudo apresentado ao Conselho Nacional de Previdência (CNP), em Brasília,
no ano de 2018, sobre o perfil da população brasileira ocupada, sem proteção previdenciária e com capacidade
contributiva, revelando que ao todo 24,2 milhões de brasileiros com idade entre 16 e 59 anos, que exercem alguma
atividade laboral, estão socialmente desprotegidos por não contribuírem para a Previdência, e nem receberem algum
benefício, seja previdenciário ou assistencial; ademais, o estudo revelou também que esse número representa 29,1%
da população brasileira ocupada, e do total de desprotegidos, 11,5 milhões são potenciais contribuintes. (BRASIL.
Ministério da Economia. Secretaria Especial da Previdência e Trabalho, 2018).
Doutrina – Revista Brasileira de Direito Previdenciário Nº 60 – Dez-Jan/2021 141

Impor essas regras para quem já era filiado e estava próximo de se apo-
sentar desrespeita os preceitos e direitos fundamentais da dignidade da pessoa
humana, da proteção social ao idoso e da segurança jurídica.
Ademais, tais preceitos também são descumpridos no caso do segurado
especial exposto aos diversos tipos de agentes químicos, físicos e biológicos.
Isso, porque com a EC nº 103/2019 o novo segurado do INSS e o já filiado
da previdência social terão que ter uma idade mínima, atingindo diretamente
o direito da pessoa idosa.
Em outro falar, uma pessoa já filiada ao RGPS, que queira se aposentar
pelo tempo especial do agente nocivo de 25 anos, por exemplo, só conseguirá
se aposentar nessa modalidade de aposentadoria aos 61 anos de idade. Nova-
mente, as regras de transição não foram elaboradas para a atividade especial.
Impor reformas jurídicas, sem regras de transição, descumpre totalmente o di-
reito fundamental da vida digna na velhice e o princípio da segurança jurídica.
Nessa ordem de ideias, tem-se que tal como posta pela EC nº 103/2019,
a Reforma além de gerar o desrespeito à segurança jurídica como direito
fundamental, traz também o descumprimento dos princípios da dignidade
da pessoa humana e da proteção social da pessoa idosa, seja pela mudança da
forma de cálculo para aqueles que já eram segurados ao tempo da Reforma,
sem estabelecer uma regra de transição específica sobre isso, seja por impor
uma idade mínima para conseguir se aposentar por certos agentes químicos,
físicos e biológicos, colocando a saúde e a vida desses segurados em risco.

TITLE: Social protection of the elderly in front of pension reform promoted by Constitutional Amen-
dment no. 103/2019.

ABSTRACT: This research focuses on the analysis of social security reform, within the scope of retirement,
instituted by Constitutional Amendment no. 103/2019, on social protection of the elderly. It is known
that, today and without a doubt, the elderly enjoy special protection, inscribed in the Federal Constitution
and reflected in the Elder Abuse Statute (Federal Law no. 10,741/2003). In this respect, the principle of
human dignity can be highlighted, elevated to the category of fundamental right, here worked with the
elderly’s right to a dignified life. In addition to this, there is also legal certainty that, as a fundamental right,
aims to ensure legal relations against legislative changes, in one of its aspects, thus avoiding the breach of
expectations legitimately created by people, due to the current legislation. In view of this and taking into
account that retirement is one of the means of providing support for the elderly in their old age, after a
lifetime of work, the pension reform instituted by that Amendment will be analyzed, notably in relation
to transition rules for granting retirement to those who were already insured under the general scheme
at the time of retirement.

KEYWORDS: Old Man. Principle of the Dignity of the Human Person. Principle of Legal Security. Social
Security Reform. Transition Rules.
Revista Brasileira de Direito Previdenciário Nº 60 – Dez-Jan/2021 – Doutrina
142

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Recebido em: 24.11.2020


Aprovado em: 18.01.2021

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