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Luanda – 2017
O PAPEL DE ANGOLA NA RESOLUÇÃO DOS CONFLITOS NO LESTE DA RDC
(2008-2014)
Luanda, 2017
DECLARAÇÃO DE AUTORIA
Declaro que neste trabalho de fim de curso foi feito através da minha investigação
pessoal, e todas as matérias nela contida são de caráter original, de maneira que todas as fontes
de informação e de consulta estão devidamente referenciadas no texto, nas notas e na
bibliografia.
Declaro também que este trabalho não foi submetido em momento algum, em nenhuma
instituição de ensino superior para qualquer grau académico nem esta a ser apresentado para a
obtenção de outro grau para além da que diz respeito.
O Candidato
___________________________________________________________
Declaro que tanto quanto me foi possível verificar este trabalho de fim de curso é o resultado da
investigação pessoal e independente do candidato
O Professor Orientador
__________________________________________________
FOLHA DE APROVAÇÃO
Este trabalho de fim do curso foi julgado adequado e aprovado na sua versão final pela direção
da Universidade Técnica de Angola no dia ............. de .......................................20....
Secretário (a)_____________________________________________________________
DEDICATÓRIA
I
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar a Deus, pai todo-poderoso que me amparou nos momentos mais
difíceis e que me deu força para superar todas as dificuldades.
Há minha família em especial ao meu filho Francisco José Gomes e aos meus pais,
Ana Francisco Paulino e Francisco José da Silva Gomes.
Ao meu Orientador, Professor Wilton Micolo, desejo agradecer, pela atenção
dispensada, paciência, dedicação e profissionalismo.
À Direção da Universidade Técnica de Angola (UTANGA), aos seus Docentes e
meus colegas do curso de Relações Internacionais, que com as suas orientações
contribuíram para este trabalho, pelas horas de convívio e partilha de ideias.
Agradeço também aos Senhores Motoristas e Motoqueiros que fazem serviço de
táxis que tiveram sempre o cuidado de levar-me para a universidade e trazer-me de volta a
casa em segurança.
II
EPÍGRAFE
Johann Goethe
III
RESUMO
IV
ABSTRACT
"Angola's role in resolving conflicts in eastern DRC 2008-2014 is the work it intends to
do." The Democratic Republic of Congo is characterized by many conflicts involving
territories, ethnic groups, political and economic power, and whose peace negotiations
never seem to be effective, impeding the establishment of economic and social
development. The present question has the following question: "What is the role of Angola
in the resolution of the conflict in the east of the Democratic Republic of Congo?" The
hypothesis that is considered the most adequate to answer the problem is the following "In
the conflict Which affects the DRC, Angola has collaborated in the pursuit of economic,
social and political peace and stability through defense and security plans. " Still on this
path the general objective is to present the main reasons for the DRC conflict, as well as
the consequences and possible resolutions proposed by Angola. Mediation has been used
on a large scale by the International Organizations as an instrument for resolving the
different disputes between the parts to conflicts. Throughout this paper, I will seek to
understand Angola's role in the Conflict Resolution in the Democratic Republic of Congo.
Regarding the methodology, the method used in the present work was the Inductive, since
it was based on particular data to arrive at a general truth. Another method also used was
the deductive method, since we started from the general to the particular, reform or
announcement of the explicit way the information already contained in the premises.
V
ÍNDICE
DEDICATÓRIA …………………………………………………………………………....I
AGRADECIMENTOS …………………………………………………………………….II
EPÍGRAFE ………………………………………………………………………………..III
RESUMO …………………………………………………………………………………IV
ABSTRACT ……………………………………………………………………………….
V
INTRODUÇÃO.....................................................................................................................1
CONCLUSÃO.....................................................................................................................37
SUGESTÕES.......................................................................................................................39
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................................40
INTRODUÇÃO
1
No tocante a justificativa o presente estudo visa entender numa perspectiva política,
social e humanitária, o que levou este país ao conflito, quais os motivos dos países
envolventes no conflito na RDC, e que ferramentas Angola tem usado para chegar à
mobilização pacífica na mesma. Este tema é bastante importante porque depois de uma
pesquisa bem elaborada, através de jornais, livros, documentários e depoimentos, vai
contribuir para um melhor entendimento da situação problemática que se esta a viver na
RDC. Por fim, representará bastante para a Universidade, uma vez que poderá servir como
material de apoio em salas de aulas, e para outros que queiram defender temas com a
mesma linhagem de pensamento.
No tocante a metodologia, o método utilizado no presente trabalho foi o Indutivo,
pois partiu-se de dados particulares para chegar a uma verdade geral.
Outro método também utilizado foi o método dedutivo, pois partimos do geral para
o particular, reforma ou anúncio do modo explícito a informação já contida nas premissas.
O presente trabalho encontra-se estruturado por três capítulos, o primeiro refere-se
a fundamentação teórica e conceptual sobre conflitos; o segundo reserva sua abordagem
para falar sobre a geopolítica dos grandes lagos e conflitos na RDC; finalmente o terceiro
capitulo falou sobre o papel de Angola na Resolução dos conflitos no leste da RDC nos
anos de 2008 a 2014.
2
CAPÍTULO I – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E CONCEPTUAL
Portanto, sendo os Homens, entre si, incapazes de encontrar uma solução para os
conflitos resultantes de suas diferenças e desejos, Thomas Hobbes propõe um contracto
instituidor de um soberano, em tudo garantidor da ordem. E nesse sentido, sentencia
Hobbes (1983):
‘’ A única maneira de instituir um tal poder comum, capaz de defendê-los das invasões
dos estrangeiros e das injúrias uns dos outros, garantindo-lhes assim uma segurança
suficiente para que, mediante seu próprio labor e graças aos frutos da terra, possam
alimentar-se e viver satisfeitos, é conferir toda sua força e poder a um homem, ou a
uma assembleia de homens, que possa reduzir suas diversas vontades, por pluralidade
de votos, a uma só vontade. [...] Isto é mais do que consentimento ou concórdia, é uma
verdadeira unidade de todos eles [...] são como se cada homem dissesse a cada
homem: Cedo e transfiro meu direito de governar-me a mim mesmo a este homem, ou a
esta assembleia de homens, com a condição de transferires a ele o teu direito,
autorizando de maneira semelhante todas as suas ações. Thomas Hobbes (1983)’’.
3
do Estado, a qual pode ser assim definida: Uma pessoa de cujos atos uma grande multidão,
mediante pactos recíprocos uns com os outros, foi instituída por cada um como autora, de
modo a ela poder usar a força e os recursos de todos, da maneira que considerar
conveniente, para assegurar a paz e a defesa comum, (THOMAS HOBBES, 1983).
A outra vertente que aponta para a solução dos conflitos sociais a partir de elementos
externos, nasce com Auguste Comte. O sistema filosófico-social de Comte centra-se na
necessidade de reforma intelecto-moral do homem para que se possa obter uma
reorganização da sociedade. Estrutura-se essa reforma sobre três elementos básicos: uma
filosofia da história que demonstre a evolução da sociedade humana até o estado positivo
(“lei dos três estados”: teológico, metafísico e positivo ou científico), uma classificação e
fundamentação das ciências a partir do método positivo e, finalmente, uma sociologia
capaz de orientar a reforma das instituições a partir dos fundamentos positivos.
Sua busca de uma unidade social o leva a afirmar, segundo Raymond Aron (1993),
que só pode haver verdadeira unidade numa sociedade quando o conjunto das ideias
diretrizes, adoptada pelos diferentes membros da coletividade, forma um todo coerente. A
sociedade é caótica quando nela se justapõem modos de pensar contraditórios e ideias
extraídas de filosofias incompatíveis.
Portanto, a solução dos conflitos sociais viria com a evolução e o progresso científico
e tecnológico, produzindo uma sociedade esclarecida (pelo culto à razão e à ciência - nova
religião), pacífica e harmoniosa (pela distribuição equitativa dos bens do progresso).
4
1.1.1. Teoria do Regionalismo
Os critérios de identidade regional ou Étnica na prática social eram objetos de uma
dupla representação. Eram representações mentais (língua, sotaque e outros elementos), ou
seja, eram atos de representação e de apreciação, de conhecimento e de reconhecimento,
aos quais os indivíduos aplicavam seus interesses e seus pressupostos. Eram também
representações objectivas, coisas como (emblemas, bandeiras, insígnias, etc.) ou atos, que
seriam estratégias destinadas à manipulação simbólica que tinham por objectivo
determinarem a representação mental que o grupo podia ter destas propriedades
(emblemas, bandeiras, insígnias, etc.) e de seus portadores. Assim, as lutas em defesa da
identidade étnica ou regional seriam um caso particular das lutas de classificações, “luta
pelo monopólio de fazer ver e fazer crer, de dar a conhecer e de fazer reconhecer, de impor
a definição legítima das divisões do mundo social e, por este meio, de fazer e de desfazer
os grupos” (PIERRE BOURDIEU, 1989).
O movimento regionalista visava sustentar sua prática numa identidade regional que
foi simbólica e historicamente construída por diferentes atores sociais interessados em
fazer valer sua existência. Essa existência, como assinalou Pierre Bourdieu, era produto do
discurso regionalista (diríamos nós: era “também” produto desse discurso), ou seja, de um
discurso performativo que buscava impor como legítima uma nova definição das fronteiras
e dava a conhecer e fazia reconhecer a região. Assim, o regionalismo tinha em vista
universalizar valores, constituindo-se a universalização como a estratégia de legitimação.
Em síntese, a análise regionalista era bastante complexa, pois envolvia identificação e
coesão no interior da região, como também articulação com o poder central e competição
externa tendo em vista a defesa, a preservação ou a obtenção de condições mais vantajosas.
Dessa forma, o regionalismo era simultaneamente intrínseco, relativo e relacional. De
5
acordo com Castro, a investigação sobre o regional evidenciou, de modo geral, a
espacialização do sistema político; por isso, a autora buscou compreender suas articulações
e interações tanto no âmbito local quanto com o poder central. Essa decisão implicou
analisar o regionalismo com base na complexa relação entre espaço, ideologia e política,
(JOÃO R. DE CASTRO, 1999).
O mesmo autor apresenta o conflito tendo em conta três visões políticas: a unitária, a
pluralista e a radical. Segundo autor, para a visão política unitária, os interesses dos
intervenientes são colocados de parte, dando-se apenas ênfase aos objectivos da
organização. Assim, o conflito é visto como algo raro e transitório, sendo resolvido através
de uma intervenção eficaz. No que diz respeito à visão política radical, esta, dá mais ênfase
à diversidade de interesses dos intervenientes, que se opõem. Neste caso, a organização é
6
vista como o campo de batalha entre os intervenientes. Por último, para a visão política
pluralista o conflito assenta na diversidade de interesses dos indivíduos e dos grupos, sendo
considerado uma característica inerente à organização, que se preocupa em aproveitar os
aspectos positivos do mesmo, (BENJAMIM GRAHAM, 199).
Guerra entre Estados – Embate a exércitos nacionais regulares. Até o final de 1999, o
mais sério deles é a disputa entre Índia e Paquistão, duas potências nucleares, pela posse da
região da Caxemira. Vários países do centro e do sul da África também estão envolvidos
em confrontos que se desenrolam no território da República Democrática do Congo (RDC)
e tem como epicentro a rivalidade ancestral entre as Étnias Hútu e Tutsi.
7
desmilitarizada de 42 mil quilómetros quadrados na nação. Na Argélia, as guerrilhas
fundamentalistas Frente Islâmica de Salvação (FIS) e Grupo Islâmico Armado (GIA)
reivindicam a criação de um Estado teocrático.
Mas o conceito chave na nossa Investigação tem a ver com o tipo de confrontação
chamado Guerra Civil que foi o tipo de conflito vivenciado pelos Angolanos.
Habitualmente as Guerras têm a participação de exércitos, quer dizer de militares
especializados e treinados para o desempenho militar. Por oposição ao que seria "Guerra
militar" se denomina "Guerra Civil" a aqueles conflitos massivos nos quais uma parte da
sociedade é beligerante com outra. Este tipo de guerra envolve, portanto a sectores inteiros
da População, classes e partidários delas, ou a toda a População dum país em geral.
1
Classificação dos conflitos, disponível em: http://www.padogeo.com/cont-conflitos.html, acessado em 10
de Novembro de 2015.
8
surgimento da geografia política, que no início do século XX foi acrescida do termo
geopolítica (este cunhado por Rudolf Kjellèn). (Armand Mattelart,1996).
Espaço vital Alemão: O espaço vital seria o espaço necessário para a expansão
territorial de um povo, no caso, o Povo Alemão. Não apenas a restauração das fronteiras de
1914, mas também a conquista da Europa Oriental, espaço onde as necessidades, relativas
à dominação territorial e recursos minerais desse Povo seriam supridas. Quem também
fazia parte, como se fosse um "trato", era a Itália, que por ficar do outro lado do "espaço
vital" era de grande interesse Alemão. O interesse Alemão e Italiano nesta expansão
justificava-se em certa medida pelo fato dos dois países serem retardatários na expansão
marítima europeia, e ao contrário da França e da Inglaterra, não tinham vastos domínios
coloniais. O possibilismo, de Vidal de La Blache, serviu como uma resposta antagónica ao
espaço vital, ao considerar que havia maneiras de desenvolver economicamente em um
limitado espaço geográfico. O líder Fascista desejava atacar a URSS no verão de 1940,
logo após a queda da França.
Hitler considerava que a "Raça Ariana" (que segundo ele, era superior) deveria
permanecer unida, e para uni-la a Alemanha deveria possuir um território maior. Esse
território era onde o Povo Germânico morava, porém foi dividido. Era chamado de
"Espaço Vital Alemão". Tal argumento foi amplamente discutido em seu livro Mein
Kampf, e utilizado como discurso de justificativa da marcha alemã sobre a Europa a
começar pela anexação da Áustria, que antes pertencia à Confederação Germânica e antes
disso ao Sacro Império Romano Germânico.
A designação de Grandes Lagos advém do facto de aquela região ser banhada por um
número considerável de lagos:
Os lagos Vitória, Alberto e Eduardo vertem suas águas no Rio Nilo Branco. O lago
Tanganica e o lago Kivu desaguam no Rio Congo, enquanto o lago Niassa desagua no Rio
Zambeze. O lago Turkana (Rudolfo) é endorreico2.
‘’Para além do quadro existente há quase uma década, eventos atuais geram
temores de instabilidades regionais mais amplas. Trata-se do surgimento do
grupo armado M23. Este é derivado do grupo armado CNDP (Congrès National
pour la Défense du Peuple) de Laurent Nkunda – que havia surgido em 2006 no
interior das FAs congolesas para defender a causa dos Banyamulenge e caçar
as FDLR com o apoio de Ruanda. Entretanto, acordos em 2008 entre RDC e
Ruanda estabeleceram uma nova fase no relacionamento dos dois países e
resultaram em operações militares conjuntas, na captura de Nkunda por
autoridades ruandesas e na desmobilização do grupo com os Acordos de 23 de
Março de 2009. (STRAFOR,2006,P.65).’’
13
instado a usar esses “primos” distantes como canal de sua influência no Congo” (DIRK
BRAECKMAN, 1999, P.241).
Na realidade, salienta Dirk Braeckman, o termo “Banyamulenge” se inspira do nome
da colina de Mulenge, bem acima da região de Uvira. Tal expressão aparece pela primeira
vez em 1964, quando aqueles Pastores de ovelhas e cabras são obrigados a se defender das
incursões dos Rebeldes Congoleses que se instalaram na região sob a liderança de Sr.
Presidente Laurent-Désiré Kabila e queriam se diferenciar dos refugiados Tutsis expulsos
de Ruanda após a independência. Alguns desses tutsis lutaram ao lado dos Rebeldes e
outros foram integrados ao Exército de Sr. Mobutu. No final dos anos 80, alguns jovens
vão para Uganda engrossar as fileiras da Frente Patriótica Ruandesa (FPR) e participam da
guerra da libertação.
Por um lado, a presença de actores globais pode, de fato, desestabilizar ainda mais a
região. O neo-intervencionismo Francês parece ter cessado com a queda de Nicolas
Sarkozy e a ascensão de François Hollande. Essa política se baseava na utilização de crises
humanitárias para estabelecer intervenções que garantiam a manutenção e a recuperação da
presença Francesa em regiões estratégicas da África, como no caso da Costa do Marfim e
da Líbia. Todavia, Hollande não está de forma alguma desinteressado do continente. Sua
presença em Kinshasa na 14ª Cúpula da Francofonia em Outubro, a despeito dos rumores
de seu boicote, parece buscar retomar alianças com a RDC e contrabalançar políticas
autonomistas atualmente empreendidas por Sr. Presidente Joseph Kabila.
‘’O Presidente Congolês firmou em 2009 uma parceria com a China para a exploração
de cobre e cobalto no leste do país. O acordo chega à monta de 9 bilhões de dólares,
sendo chamado por alguns analistas de Plano Marshall da China para a África. Trata-
se inclusive de algo muito mais significativo do que os vínculos estabelecidos entre
Laurent Gbagbo e a China, que contribuiu para a destituição do Presidente Costa-
Marfinense por tropas Francesas em 2011. Além disso, J. Kabila parece buscar
estabelecer um contraponto à penetração de companhias petrolíferas Anglo-Francesas
(Tullow e Total) na África Central, alinhando-se a parceiros Italianos (amplamente
prejudicados na guerra da Líbia) e Sul-Africanos na exploração de petróleo da região
dos Grandes Lagos. Encontra-se ali o maior campo de petróleo on-shore descoberto na
África Subsaariana nos últimos 20 anos, (BENNETT, 2010).’’
14
Democratic Forces) que ainda atuam no país vizinho desde meados da década de 1990
(ALL AFRICA, 2012).
Além disso, o grupo armado Burundiano de origem Hútu, FNL (Forces Nationales
de Libération), voltou a atuar na RDC desde meados de 2010, realizando ataques a
populações Burundianas e Banyamulenge e incursões ao território do Burundi, gerando
desconforto nas relações bilaterais entre RDC e Burundi.
Por outro lado, Sr. Presidente Paul Kagame viu-se isolado. Em que o seu principal
aliado extra-regional, eram os EUA, onde viu-se obrigado a sinalizar repúdio às ações do
Ruanda, suspendendo parte de sua ajuda militar ao país. Não obstante a medida ter sido
mais simbólica do que efetiva, foi acompanhada por gestos análogos da parte dos Países
Baixos, da Grã-Bretanha, da Alemanha, da Suécia e da União Europeia. Em âmbito
regional, Uganda parece estar receosa dos custos que uma nova guerra regional poderia lhe
trazer, tendo em mente que já lidera a complexa operação da União Africana na Somália
(AMISOM).
Além disso, Sr. Presidente J. Kabila conta com o importante apoio de Angola, que já
havia-se disponibilizado em 2007 para mobilizar os 30 mil homens estabelecidos em
Cabinda para a defesa do Congo em uma eventual invasão Ruandesa (STRATFOR, 2006).
A própria SADC foi taxativa contra as ações de Ruanda no Congo - enviando uma
missão diplomática para Kigali pedindo o fim do apoio ao M23. O secretário executivo da
organização, Tomaz Salomão, afirmou na cúpula da organização realizada em Maputo em
meados de Agosto que a instabilidade atual no leste do Congo está sendo perpetrada com a
assistência de Ruanda e que a SADC pede que o país “cesse imediatamente sua
interferência que constitui uma grande ameaça à paz e estabilidade não apenas na RDC
mas também em toda a região da SADC” (MAIL & GUARDIAN, 2012).
Para além do quadro existente há quase uma década, eventos atuais geram temores
de instabilidades regionais mais amplas. Trata-se do surgimento do grupo armado M23.
Este é derivado do grupo armado CNDP (Congrès National pour la Défense du Peuple) de
Laurent Nkunda – que havia surgido em 2006 no interior das FAs Congolesas para
defender a causa dos Banyamulenge e caçar as FDLR com o apoio de Ruanda. Entretanto,
acordos em 2008 entre RDC e Ruanda estabeleceram uma nova fase no relacionamento
dos dois países e resultaram em operações militares conjuntas, na captura de Sr. Nkunda
por autoridades Ruandesas e na desmobilização do grupo com os Acordos de 23 de Março
de 2009.
15
Os acordos previam a integração de tropas do CNDP no exército da RDC - o que,
todavia, ocorreu de forma apenas parcial. O grupo manteve uma estrutura de comando e
controle paralela, comandando operações contra as FLDR, a exploração de recursos
naturais e o controle de grande parte das províncias de Kivu. Suas tropas eram lideradas
por Sr. Bosco Ntaganda, ex-Rebelde procurado pelo Tribunal Penal Internacional (TPI),
acusado de crimes de guerra. Esse ponto acabou sendo explorado pelo Sr. Presidente
Joseph Kabila, candidato à reeleição em 2011, que viu na cruzada às redes paralelas do
exército nos Kivu uma política que lhe renderia bons resultados eleitorais. Anunciou que
redistribuiria os militares ex - CNDP para outras regiões do país e que entregaria Ntaganda
para o TPI.
A situação levou à ascensão, em Abril de 2012, de um novo grupo armado formado
por forças desmobilizadas nos acordos de 23 de Março (M23). Atualmente, o M23 se reúne
em Rutshuru, nas proximidades de Goma (capital de Nord Kivu), seu principal alvo
estratégico, e é liderado pelo Sr. General Bosco Ntaganda e pelo Sr. Coronel Sultani
Makenga, ambos líderes no antigo CNDP. O grupo possui cerca de mil membros e é
acusado de recrutar soldados crianças e atacar, pilhar e estuprar populações civis locais –
gerando um acúmulo de quase meio milhão de deslocados internos na região (OCHA,
2012; IRIN, 2011).
Para além dessas características, típicas na atuação de grupos armados no Congo,
outro acontecimento gerou olhares atentos para a região: a divulgação de um relatório da
ONU que acusa Ruanda de patrocinar a atuação do M23 (S/2012/348, 2012). O relatório
reconheceu uma ajuda direta de alto-comissário Ruandês ao M23 – apoiando-o com armas,
munições, amparo médico, inteligência, lobby político e recrutamento de combatentes.
O país vizinho estaria, portanto, novamente atuando na desestabilização da RDC.
A ICGLR trabalha desde os encontros de 7 e 8 Agosto para a criação de uma força
neutra de paz, mediante o trabalho de um comité de ministros de defesa de sete países da
Conferência (RDC, Ruanda, Angola, Burundi, Congo, Uganda e Tanzânia), encarregados
de propor os passos para a supressão da violência no leste do Congo (planeamento de
inteligência e contingente). Todavia, os progressos dos trabalhos do comité parecem muito
tímidos. De fato, é muito difícil que a proposta saia do papel, haja vista que a ideia de
estabelecimento uma brigada regional já existe há alguns anos. Em Outubro de 2010 houve
um acordo para a criação de uma força regional permanente composta por tropas de RDC,
Uganda, Sudão, e República Centro Africana para atuar, sobretudo, contra o LRA
16
(GIACOPELLI, 2010). Todavia, a proposta ainda não saiu do papel. Além disso, os países
da ICGLR envolvidos com a crise atual já não se mobilizaram para as reuniões seguintes
da ICGLR.
Caso se concretize, o estabelecimento de uma brigada regional traz a perspectiva de
que a integração regional tenha papel relevante para a solução de um conflito que, em sua
origem, possui características regionais. O fortalecimento de mecanismos de diálogo, a
promoção do desenvolvimento socioeconómico e cultural conjunto e a substituição de
tarefas de paz comandadas por forças globais por outras organizadas pelos próprios países
que vivenciam o conflito parecem trazer uma solução de paz mais viável e sustentável no
longo prazo.
Moçambique
A Guerra Civil Moçambicana foi um conflito civil que começou em 1977, dois anos
após o fim da Guerra de Independência de Moçambique, e que foi semelhante à Guerra
Civil Angolana, visto que ambas eram guerras secundárias dentro do contexto maior
da Guerra Fria. O partido no poder, a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), e
as forças armadas moçambicanas eram violentamente contrários a Resistência Nacional
Moçambicana (RENAMO), que recebia financiamento da Rodésia e, mais tarde, da África
do Sul. Durante o conflito, cerca de um milhão de pessoas morreram em combates e por
conta de crises de fome, cinco milhões de civis foram deslocados[3] [4] e muitos
sofreram amputados por minas terrestres, um legado da guerra que continua a assolar o
país. O conflito terminou em 1992 com o Acordo Geral de Paz e as primeiras eleições
multipartidárias do país foram realizadas em 19943.
Em vista dos problemas económicos que Moçambique atravessava, o governo
assinou um acordo com o Banco Mundial e FMI em 1987, que o obrigaram a abandonar
completamente a política "socialista".[6] A guerra, porém, só terminou em 1992 com
3
"MOZAMBIQUE: population growth of the whole country". Populstat.info. visitado aos 20 de Janeiro de
2016.
17
o Acordo Geral de Paz, assinado em Roma a 4 de Outubro, pelo Presidente da República,
Sr. Joaquim Chissano e pelo presidente da RENAMO, Sr.Afonso Dhlakama, depois de
cerca de dois anos de conversações mediadas pela Comunidade de Santo Egídio, uma
organização da igreja católica, com apoio do governo italiano.
Nos termos do Acordo, o governo de Moçambique solicitou o apoio da ONU para o
desarmamento das tropas beligerantes. A ONUMOZ foi a força internacional que apoiou
neste trabalho, que durou cerca de dois anos e que culminou com a formação dum exército
unificado e com a organização das primeiras eleições gerais multipartidárias, em 1994.
Em 2012, depois do 21.° Aniversário da paz em Moçambique, o clima entre a
RENAMO e o Governo da FRELIMO deteriorou-se. O líder da RENAMO, Sr. Afonso
Dhlakama, regressou no dia 17 de Outubro à antiga base do partido, a Casa Banana, em
Satunjira na zona da Gorongosa (província de Sofala no centro do país).
Houve divergências em relação à composição da Comissão Nacional de Eleições
(CNE). A RENAMO quis uma representação igual para os dois partidos (excluindo
terceiros como o novo partido MDM). Em Abril de 2013 houve vários ataques da
RENAMO na zona centro do país que causaram pelo menos seis mortos entre polícias e
civis. No dia 21 de Outubro de 2013, forças governamentais tomaram a base da RENAMO
na Gorongosa. A seguir, a RENAMO, anunciou o fim do Acordo de Paz de 1992. Depois
de 21 anos de paz, Moçambique voltou à guerra civil.
Malawi / Tanzânia
Em 2012 a Tanzânia afirmou que estaria preparada para uma eventual guerra com o
Malawi em torno das disputas fronteiriças sobre a linha divisória do Lago Niassa. A
ameaça foi feita pelo Presidente da Comissão Parlamentar da Defesa, Segurança e
Relações Exteriores da Tanzânia, Sr. Edward Lowassa. A Tanzânia exigiu ao Malawi para
parar imediatamente com as pesquisas de gás natural e petróleo no Lago Niassa,
considerado o terceiro maior da África, mas o governo de Lilongwe rejeita a exigência
Tanzaniana, alegando que a prospeção está a acontecer dentro das fronteiras legais4.
Sr. Lowassa declarou na altura que se o cenário de guerra fosse necessário, a
Tanzânia estaria pronta para “consentir sacrifícios e derramar o sangue dos seus melhores
filhos” e as forças armadas tanzanianas estão psicologicamente preparadas e equipadas
para fazer face à situação. O parlamentar Tanzaniano foi mais longe, ao dizer que o
4
http://comunidademocambicana.blogspot.com/2012/08/tanzania-avisa-prontos-para-guerra.html, visitado
aos 20 de Janeiro de 2016.
18
exército do seu país estava entre os mais modernos do mundo, para além de viverem um
ambiente estável em termos político-militares. Em conexão com esta crise, circulavam
informações, ainda não confirmadas por fontes independentes, segundo as quais, a
Tanzânia estaria já a movimentar tropas para a fronteira com o Malawi5.
Cerca de trinta por cento das exportações e importações Malawianas dependem do
Porto Tanzaniano de Dar-es-Salam e outra parte, a mais significativa, se desenvolve
através dos Portos Moçambicanos da Beira e Nacala. Em caso de eclosão de uma guerra, o
Malawi perde a rota de Dar-Es-Salam e fica parcialmente ou totalmente bloqueado em
termos logísticos. Mais grave ainda, o Malawi nunca teve experiência de guerra, enquanto
a Tanzânia já enfrentou no passado o regime de Idi-Amin dada do Uganda e efetivos
Tanzanianos apoiaram o exército governamental em Moçambique durante a guerra de
desestabilização6.
Os dois países voltaram a reunir-se no dia 20 de Agosto de 2012, em Mzuzu, no
extremo norte do Malawi, com vista a procurarem uma solução diplomática em torno da
linha divisória sobre o Lago Niassa. Observadores acreditam que, tal como aconteceu no
passado, a próxima ronda negocial poderá redundar num fracasso, tendo em conta as
profundas diferenças entre as duas partes, e também todo um ambiente envolvente
e sobretudo a animosidade.7
O presidente da Comissão Parlamentar da Defesa, Segurança e Relações
Exteriores da Tanzânia, é citado a dizer ainda que o seu país também estava interessado em
ver este conflito resolvido através de canais diplomáticos, usando se necessário uma
mediação internacional. Lowassa destacou que o Malawi é um país vizinho, e dai que “não
gostaria que os dois países se envolvessem numa guerra. Mas caso seja necessário, a
Tanzânia não descarta essa hipótese”8.
De acordo com Kanyama Chiume, a fronteira Malawi/ Tanzânia foi definida através
do Tratado Anglo-Germânico assinado a um de Julho de 1890, que estabelece a linha
divisória na margem oriental do lago Niassa. Além disso, os chefes de Estado e de
governo da extinta Organização da Unidade Africana assinaram uma resolução em 1963,
segundo a qual os Estados africanos deverão reconhecer e aceitar as fronteiras que
herdaram aquando das suas independências. Recorde-se que o falecido Presidente Kamuzu
Banda viria a reivindicar também um pouco depois de 1965, no Congresso do seu partido,
5
Idem
6
idem
7
Idem
8
Idem
19
o MCP, que todo o norte do Rio Zambeze em Moçambique até ao Oceano Indico e alguns
distritos da Zâmbia também eram parte do seu país, naquilo que ele chamava o “Grande
Malawi”
Burundi
As informações aqui contidas, a sua fonte é apontada em nota de rodapé conforme a
referência no primeiro parágrafo.
A Guerra Civil do Burundi foi um conflito armado com duração de 1993 a 2005.
A guerra civil foi o resultado divisões étnicas de longa data entre os Hútus e as tribos
Tutsis no Burundi. O conflito começou após as primeiras eleições multipartidárias no país
desde a independência da Bélgica em 1962 e é formalmente dado como finalizado com a
tomada de posse de Sr. Presidente Pierre Nkurunziza, em Agosto de 2005. O número de
mortos estimado é de 300.000 mortos12.
Em 1962, o país se tornou independente, com uma monarquia que tentava manter um
equilíbrio de poder entre Hútus e Tutsis, mas após o ocorrido em Ruanda, os Tutsis
passaram a monopolizar o poder político e militar, derrubando o rei em 1966 e sucedendo
golpes de estado e ditaduras militares entre 1972 e 1973, o governo Tutsi comete genocídio
contra os Hútus, matando de 80 a 210 mil pessoas, expulsando mais 85 mil (outros 10.000
Tutsis foram mortos na época pelos confrontos). Em 1988, rebeldes Hútus do
PALIPEHUTU massacraram 5000 Tutsis no norte e entre 1993 e 1994 outos 25.000
sofreram o mesmo destino,[13] o grupo Rebelde começou os seus ataques em 1985.
As primeiras eleições nacionais multipartidárias no Burundi foram realizadas em 27
de Junho de 1993. Sr. Presidente Melchior Ndadaye, da Frente (FRODEBU) venceu a
eleição presidencial e se tornou o primeiro Hútu a ser presidente desse país. Os Hútus são o
grupo Étnico majoritário, com 85% da população, mas o governo tinha estado
tradicionalmente nas mãos dos Tutsis e seu partido político, a União Nacional para o
Progresso (UPRONA). Sr. Presidente Ndadaye foi morto em um golpe de Estado que os
soldados Tutsis deram o 21 de Outubro de 1993.
A violência entre grupos Étnicos seguiu ao golpe quase imediatamente, enquanto os
Hútus atacaram os Tutsis responsabilizando-os pelo golpe e a morte de Sr. Presidente
11
INTERNATIONAL PEACE INFORMATION SERVICE.MONUC/MONUSCO and Civilian Protection in
the Kivus, 2010.
12
https://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_Civil_do_Burundi, acessado aos 20 de Janeiro de 2016.
21
Ndadaye, os militares Tutsis mataram milhares de Hútus, numa tentativa de manter o
poder. Durante grande parte do conflito, o Conselho Nacional para a Defesa da
Democracia-Forças para a Defesa da Democracia (CNDD-FDD) foi o principal grupo
rebelde Hútu que operou no país, os rebeldes ganharam o controlo de grandes áreas do
noroeste do Burundi, conseguindo atacar em Julho de 2003 a capital, Bujumbura, sem
sucesso. A guerra se espalhou para países vizinhos, especialmente na República
Democrática do Congo, que sofria sua própria guerra civil.
Em 2005, os principais grupos rebeldes começaram a desmobilizar e converterem-se
em partidos políticos, apesar de alguns sectores só aceitarem os acordos de paz em 2008.
Ruanda
A Guerra Civil de Ruanda foi um conflito entre o governo do Sr. Presidente Juvénal
Habyarimana e os Rebeldes da Frente Patriótica de Ruanda (FPR). O conflito começou no
dia 2 de Outubro de 1990, quando a FPR invadiu e aparentemente foi encerrada em 4 de
Agosto de 1993 com a assinatura dos Acordos de Arusha para criar uma partilha de poder
do governo.
Apenas um ano após a conclusão do conflito, no entanto, os assassinatos de Sr.
Presidente Habyarimana e Ntaryamira em Abril de 1994 provou ser o maior estimulo para
o início do genocídio em Ruanda, o número de mortos frequentemente citados para o
mesmo é de 800.000. O FPR reiniciou a sua ofensiva, e acabou assumindo o controlo do
país. O governo Hútu no exílio, em seguida, passou a utilizar os campos de refugiados nos
países vizinhos para desestabilizar o governo da FPR. Outros conflitos na região, que estão
intimamente relacionados com a guerra civil em Ruanda e os conflitos entre Hútus e Tutsis
estão a Primeira Guerra do Congo (1996-1997), o que levou, por sua vez a Segunda Guerra
do Congo (1998-2003), que envolveu uma forças Hútus com o objectivo de recuperar o
controle de Ruanda. Devido à forte correlação entre estes eventos e os posteriores (alguns
dos quais estão ainda em andamento), algumas fontes dão datações diferentes para a guerra
civil de Ruanda, ou mesmo a consideram como ainda não concluída13.
Assim, enquanto a guerra civil oficialmente durou até 1993, a literatura de guerra
afirma que terminou com a captura de Sr. Kigali pelo FPR em 1994 ou com o
desmantelamento dos campos de refugiados em 1996, enquanto alguns consideram a
13
Gourevitch, Philip (2000). We Wish To Inform You That Tomorrow We Will Be Killed With Our Families 3
ed. (London; New York: Picador).
22
presença de pequenos grupos de rebeldes na fronteira de Ruanda no sentido de que a
guerra civil está em curso14.
Mamdani, Mahmood (2002). When Victims Become Killers: Colonialism, Nativism, and the Genocide in
14
24
dos Grandes Lagos. A ser assim, e com base no pressuposto de mais
desenvolvimento e paz, daria um grande contributo para a pacificação do
continente.
A RDC tem um solo fértil para Rebeldes Ugandeses, Ruandeses e
Burundeses. A sua paz significaria destruir o nicho ecológico daqueles
movimentos rebeldes impelindo-os para o diálogo com os seus governos e,
consequentemente semear paz no continente.
O conflito na RDC é um dos mais complexos do continente. Assim, sucesso
das eleições naquele país era sinal de demonstração da democratização
como método de resolução de diferendos do género em África. Mas, Para
que a paz efetivamente viesse ficar, parecia ser profundamente importante
desmobilizar e desarmar completamente os ex-beligerantes (movimentos
Rebeldes) e sua adequa inserção na sociedade civil ou no exército e no
sector de segurança nacional. Esta medida contrariava o então cenário de
fraca.
25
CAPÍTULO III – O PAPEL DE ANGOLA NA RESOLUÇÃO DOS CONFLITOS
NO LESTE DA RDC 2008-2014
Os conflitos colocam-se como uma realidade sistémica que resulta das relações entre
atores, dai que seja uma constante inevitável. As dinâmicas sociopolíticas em África e o
perfil da necessidade de desenvolvimento económico. Assim, torna-se relevante uma
gestão forte e participativa no sentido de encontrar as melhores vias para solucionar os
conflitos.
26
Angola foram consubstanciadas em ações militares. Neste contexto a intervenção militar
de Angola foi uma auto proteção que serviu a afastar e estancar a ameaça militar longe das
suas fronteiras, a República de Angola faz a guerra na RDC para acabar com a guerra.
Segundo Woodrow Wilson: “A guerra para acabar com todas as guerras ”.
Esta, por sua vez, aproveitou do seu poderio militar para impor a paz, primeiro na
RDC sem ferir nem violar a sua Susceptibilidade soberana e procurando depois a
estabelecer de ponto de vista geopolítica uma política de boa vizinhança e em
conformidade com as normas que regem as relações entre Estado, definir uma parceria
nova com RDC de forma a estancar lutar contra os crimes organizados e grandes endemias.
Uma vez que nessa região existe não só o conflito de identidades, entre os Hútus e
Tutsis mas existem também conflito devido ao controlo e exploração de riquezas naturais
inclusivo o conflito de terras tudo isso num ambiente de tensão caracterizado e agravado
por países com matrizes de colonização muito diferentes baseada no modo de pensar tanto
Belga, Alemão, ou Inglês.
Neste Xadrez, Angola teve de impor a sua presença militar, para apaziguar, foi esta
de marcha que Angola fez nos vários sentidos, tanto da geopolítica como o das
geoestratégias que resultou na pacificação e o término do conflito na RDC e não só como
em toda a região dos Grades Lagos.
27
ultrapassar o impasse em que se encontrava e consequentemente fazer com que a ordem e a
estabilidade seja a tónica dominante.
É importante para compreensão deste ponto fazer-se uma analise a cerca da relação
existente entre, a República de Angola desde 1975 e a República Democrática do Congo
em 1997.
O Zaire que após a derrota da FNLA desfez-se da aliança com a mesma unindo-se
então mais tarde a UNITA houve uma série de países implicados na guerra Angolana desde
1975 até praticamente 2002 altura em que se alcançou a paz definitivamente em Angola.
Luanda, na presença do Sr. Presidente da república, Sr. José Eduardo dos Santos, um dos
momentos singulares da história de Angola e do seu povo, consubstanciado no abraço
solidário e fraterno entre que garantiram o estabelecimento da paz em Angola.
28
3.2.1 Teoria Deliberativa Segundo Jurgen Habermas
Jurguen Habermas expõe ainda nas suas obras uma concepção relativa a dois
problemas importantes dos finais do Séc XX: (1) a racionalidade da aplicação dos Direitos
do Homem no seio do Estado-Nação (CHEVALLIER E GUCHET, 2004). O seu ponto de
partida insere-se no desmoronamento da visão “Católica” do Mundo no aparecimento do
pluralismo. O princípio democrático, para o Autor, assume a forma de “Ética da
Discussão”, cuja execução corresponde à construção do sistema de direitos. Trata-se de um
processo que exige que os cidadãos comecem por reconhecer mutuamente uma plataforma
mínima de direitos, em que haja (1) liberdades subjetivas de ação iguais para todos, (2)
direitos vinculados à sua situação de membro da associação política e (3) direitos que
correspondem à proteção juridicial individual. Estes direitos sociais e fundamentais em
igualdade de oportunidades, executados através do processo comunicacional que engendra
uma ordem jurídica legítima. Assim, os direitos fundamentais, os mesmos para todos, por
hipótese, devem ser produtos da juridicidade da liberdade comunicacional de todos os
societários jurídicos, quer dizer, apenas são aceitáveis práticas políticas juridicamente
estabelecidas garantindo essa liberdade. A formação da vontade e da opinião perde toda a
validade se ela se efetuasse sob formas tais em que os direitos dos Cidadãos não fossem
observados. Assim, entre os Direitos do Homem e soberania popular existe o que Jurgen
29
Habermas chama de “coesão solidária”. Na sua perspectiva, apenas procedimentos
comunicacionais estritamente vinculados a um painel alargado de Direitos do Homem
permitem considerar como legítima a formação da opinião e da vontade popular.
Cada uma destas esferas públicas políticas desempenha uma função específica,
naquilo que, no seu conjunto, pode ser encarado como um processo idealizado de
resolução de conjunto de problemas com que a sociedade se debate no seu todo. Como não
é possível eliminar a separação entre Estado e sociedade, visa-se superá-la apenas via
processo democrático. No entanto, a conotação normativa de equilíbrio de poder e
interesses é frágil e precisa ser complementada estatal e juridicamente. Mas ela se orienta
pelo lado output da avaliação dos resultados da atividade estatal. O êxito em tal processo é
medido pela concordância dos cidadãos em relação a pessoas e programas. Digamos que é
um sistema de “eclusa”.
30
Os vários conflitos existentes na Região dos Grandes Lagos africanos desde sempre
influenciaram na instabilidade da República Democrática do Congo. O genocídio do
Ruanda foi a base fulcral para que a instabilidade política social e económica aumenta-se
em grande número no território congolês.
A França foi um dos países que lançou o conflito nesta região, exigiu o fim das
hostilidades na RDC, e pediu que se respeitasse a integridade territorial Congolesa e a
população civil. Para frança tinha chegado a hora de se criar na região do Grandes Lagos
verdadeiros Estados, com governos legítimos atentos aos problemas da população.
Já as potências colonizadoras decidiram não tomar parte nem contra nem a favor de
um ou outro beligerante, exigindo somente o respeito da integridade territorial do Congo e
o respeito das partes implicadas, no conflito pedindo que se pusesse fim as perseguições
dos Tutsis no Congo.
Com o início do conflito que ficou sempre patente a preocupação de vários países
integrantes da comunidade internacional que de forma veemente condenaram as
atrocidades e exigiram a pacificação e respeito pelos direitos humanos e integridades dos
territórios ocupados
31
3.2.3. Os Conflitos no Leste da RDC
A situação no Leste da RDC, nomeadamente nas províncias do Kivu do Norte e Kivu
do Sul, continua preocupante, protagonizada pelas forças negativas denominadas M23,
Mai-Mai, as Forças Democráticas Aliadas do Uganda (ADF), que se encontram instaladas
no leste do país, onde são acusados de praticar ataques brutais contra civis, incluindo
violações e assassinatos, além de contrabando de ouro e carvão, promovendo desta feita, a
instabilidade económica, social, política, cultural e organizacional.
Tem havido apelos ao desarmamento feitos pelas Nações Unidas, União Africana,
SADC e Conferência Internacional sobre a Região dos Grandes Lagos.
“É uma questão muito preocupante. As Forças Armadas da RDC estão a levar a cabo
operações contra as forças negativas que operam no Leste do território. Estamos a ter
algum sucesso com as FLDR, mas temos dificuldades quanto às forças negativas
ugandesas da ADF, afirmou o ministro congolês, ao justificar a sua deslocação, numa
altura em que Angola ocupa, igualmente, a vice-presidência do órgão de Defesa e
Segurança da SADC.
A comunidade tinha exigido até 2 de Janeiro de 2016 a rendição incondicional dos grupos
Rebeldes que operam no Leste da RDC, para, no caso de incumprimento, partir-se para a
operação militar contra os remanescentes das forças Rebeldes.
Em Fevereiro, o enviado especial do secretário-geral da ONU para a Região dos
Grandes Lagos, Sr. Saydi Djinith, esteve em Luanda e elogiou a decisão de se criar e
realizar operações para neutralizar todas as forças negativas.
“A ONU espera ansiosamente pela completa implementação desta decisão”,
ressaltou o Diplomata, afirmando que é importante tomar posições para o combate da
rebelião na República Democrática do Congo, Burundi e noutros países da Região dos
Grandes Lagos, que vivem situações de instabilidade político-militar, e defendeu ainda a
contínua coordenação entre representantes da SADC, União Africana e outras entidades
deste órgão, de modo a inverter-se o quadro nestes países.
A grande preocupação da SADC e da Conferência Internacional sobre a Região dos
Grandes Lagos foi sempre no sentido de se obterem resultados nas operações militares com
o menor dano colateral possível, já que ao lado dos Rebeldes e guerrilheiros são sempre
populações civis e famílias.
32
3.3. A Contribuição de Angola na Resolução dos Conflitos no Leste da RDC
A política exterior de Angola é uma política clara e consequentemente de princípios.
Esses princípios estão consagrados na Lei Constitucional, levando a prática por forma
constante e coerente. São os princípios universais da coexistência pacífica, do respeito pela
soberania e integridade territorial e da não ingerência nos assuntos internos dos Estados, da
solução pacífica dos diferendos internacionais.
Sempre em relação com a RDC, Angola partilha uma longa fronteira comum de
2.600 km². Este facto faz com que a estabilidade política na RDC seja sempre uma questão
preocupante para Angola, por simples razão que, como dizia Sr. Joaquim Alberto
Chissano, o ex-Presidente da República de Moçambique (1986-2005) que, a estabilidade
política na RDC daria um grande contributo no processo de pacificação e no
desenvolvimento sócio-económico nas regiões Central e Austral de África.
Segundo Sr. George Ola-Davies, a República de Angola teve uma participação ativa
no processo de pacificação da região, pelo que o contato permanente é incisivo, no quadro
da preparação da conferência.
Angola apoiou sempre o acordo que previa uma força adequada constituída e
organizada pelas Nações Unidas em colaboração com a OUA.
34
garantir a estabilidade da Região, salvaguarda da paz, segurança, soberania e integridade
territorial da RDC, mais propriamente no leste.
No âmbito deste acordo Quadro-Acordo, foram desenvolvidos esforços
internacionais ao nível das Nações Unidas, da União Africana, da Conferência
Internacional sobre a Região dos Grandes Lagos e da SADC, que possibilitaram os acordos
de paz alcançados entre o Governo da RDC e os rebeldes do M23 e eleições no ano de
2018.
Em consequência deste, a 23/08/2017 foi assinado em Luanda, o Mecanismo
Tripartido de Diálogo e Cooperação entre Angola, África do Sul e RDC, em que tem como
objectivo fortalecer e aprofundar a parceria estratégica e duradoura dos três países e apoiar
a consolidação da paz e a estabilidade da RDC, de modo a permitir uma melhor
concertação e articulação das ações dos três países no domínio político, Diplomático,
económico, social e cultural, com benefícios recíprocos para os seus povos.
Sem esquecer de focar no desenvolvimento do Corredor do Norte.
Conforme o mesmo, a 26/10/2016, a nossa capital, Luanda acolheu a reunião da
Conferência Internacional sobre a Região dos Grandes Lagos (CIRGL) sobre a crise na
República Democrática do Congo. Num ambiente de cordialidade e de consenso, após a
maioria Presidencial que suporta o Presidente Congolês, os partidos da oposição e as forças
da sociedade civil integradas no Diálogo da Paz mediado pela União Africana chegarem a
um acordo sobre as grandes questões que dividiam o País. Onde a posteriori, o ministro das
Relações Exteriores de Angola esteve em Kinshassa para presenciar assinatura de um
acordo que adia as eleições gerais da RDC para 29 de Abril de 2018 e permite ao
Presidente Joseph Kabila governar até à realização das eleições em Abril de 2018 e
também com especial atenção aos conflitos na região do leste da RDC, motivo pelo qual
levou a fuga de refugiados para Angola.
35
CONCLUSÃO
Verificou-se que à sua complexidade, não se pode restringir aos conflitos da RDC,
mas deve-se trazer à baila toda a filosofia política da luta pelo poder e pelos interesses das
grandes potências no palco africano, considerando, com um mínimo de realismo, o cenário
mundial da guerra fria, transladada nos Estados africanos conforme a tendência ideológica
de seus dirigentes.
37
SUGESTÕES
Sugere-se as entidades mediadoras de direito, que pautem por uma postura realista em
toda a sua esfera de acção;
Sugere-se ainda que não se deve deixar essa situação continuar a caminhar conforme
tem ido, pois que não se deve transforma este conflito em referências bibliográficas,
mas em referências de exemplos para dizer-se e escrever: diga não a guerra a Guerra na
RDC.
Por fim, que o nosso estimado país seja sempre mediador, ponta de lança para a criação
e salvaguarda da paz no continente e em particular na RDC.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
GARCÍA, Nahuel Arenas. “La UNMIS em Sudán Del Sur: retos y dilemas”. In: El CPA
y El Nuevo Sudán Del Sur. Documentos: iecah, 2010, n.5. Disponível em:
<http://www.iec-
ah.org/web/images/stories/publicaciones/documentos/descargas/documento5_es.pdf>.
39
IGLESIAS, Mário A. Laborei. "O Sudão Do Sul: Entre violência e esperança"
IEEE.ES: Information Memorandum.2012.
OCHA. Democratic Republic of Congo: North Kivu. UN Office for the Coordination of
Humanitarian Affairs, Situation Report No. 2012.
STRAFOR (2006). Angola: Ready to Intervene in the DRC for Kabila 18 de Agosto.
STRATFOR. Disponível em:
<http://www.stratfor.com/memberships/41075/angola_ready_intervene_drc_kabila>.
Acesso em: 30/11/2015.
BARRACHO, Paulino. História das Ideias Políticas. Lobito: Escolar Editora, 2012
40