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UNIVERSIDADE TÉCNICA DE ANGOLA

FACULDADE DE LETRAS E CIÊNCIAS SOCIAIS

DEPARTAMENTO DE ENSINO E INVESTIGAÇÃO DE RELAÇÕES


INTERNACIONAIS E CIÊNCIAS JURÍDICAS

O PAPEL DE ANGOLA NA RESOLUÇÃO DOS CONFLITOS NO LESTE DA RDC


(2008-2014)

Autora: Maria Jéssica Gomes


Orientador: Wilton Micolo

Luanda – 2017
O PAPEL DE ANGOLA NA RESOLUÇÃO DOS CONFLITOS NO LESTE DA RDC
(2008-2014)

MARIA JÉSSICA GOMES

Trabalho de Fim de Curso apresentado ao Departamento de


Ensino e Investigação de Relações Internacionais e Ciências
Jurídicas da Universidade Técnica de Angola como um dos
requisitos para obtenção do grau de Licenciatura em Relações
Internacionais, sob orientação do Prof. Wilton Micolo.

Luanda, 2017
DECLARAÇÃO DE AUTORIA

Declaro que neste trabalho de fim de curso foi feito através da minha investigação
pessoal, e todas as matérias nela contida são de caráter original, de maneira que todas as fontes
de informação e de consulta estão devidamente referenciadas no texto, nas notas e na
bibliografia.
Declaro também que este trabalho não foi submetido em momento algum, em nenhuma
instituição de ensino superior para qualquer grau académico nem esta a ser apresentado para a
obtenção de outro grau para além da que diz respeito.

O Candidato
___________________________________________________________

Declaro que tanto quanto me foi possível verificar este trabalho de fim de curso é o resultado da
investigação pessoal e independente do candidato

O Professor Orientador

__________________________________________________
FOLHA DE APROVAÇÃO

MARIA JÉSSICA GOMES


TITULO: O PAPEL DE ANGOLA NA RESOLUÇÃO DOS CONFLITOS NO LESTE DA
RDC (2008-2014)

Este trabalho de fim do curso foi julgado adequado e aprovado na sua versão final pela direção
da Universidade Técnica de Angola no dia ............. de .......................................20....

PHD Victorino Reis

Reitor da Universidade Técnica de Angola

Foi apresentado e defendido perante o júri composto pelos Professores

Presidente Professora (o)____________________________________________________

1º Vogal Professor (a)______________________________________________________

2º Vogal Professor (a)______________________________________________________

Secretário (a)_____________________________________________________________
DEDICATÓRIA

“Ao meu Filho Francisco e aos meus Queridos Pais.”

I
AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar a Deus, pai todo-poderoso que me amparou nos momentos mais
difíceis e que me deu força para superar todas as dificuldades.
Há minha família em especial ao meu filho Francisco José Gomes e aos meus pais,
Ana Francisco Paulino e Francisco José da Silva Gomes.
Ao meu Orientador, Professor Wilton Micolo, desejo agradecer, pela atenção
dispensada, paciência, dedicação e profissionalismo.
À Direção da Universidade Técnica de Angola (UTANGA), aos seus Docentes e
meus colegas do curso de Relações Internacionais, que com as suas orientações
contribuíram para este trabalho, pelas horas de convívio e partilha de ideias.
Agradeço também aos Senhores Motoristas e Motoqueiros que fazem serviço de
táxis que tiveram sempre o cuidado de levar-me para a universidade e trazer-me de volta a
casa em segurança.

II
EPÍGRAFE

“Só é digno da liberdade, como da vida, aquele que se empenha em conquistá-la.”

Johann Goethe

III
RESUMO

“O papel de Angola na resolução dos conflitos no leste da RDC 2008-2014 é o trabalho


que se propõe fazer”. A República Democrática do Congo caracteriza-se por muitos
conflitos que envolvem territórios, Etnias, poder político e Económico, e cujas negociações
de paz nunca parecem ser eficazes, impedindo que se instalasse o desenvolvimento
económico e social. O presente trabalho tem como pergunta de partida a seguinte questão
“Qual é o papel de Angola na Resolução do conflito no leste da República Democrática do
Congo?” A hipótese que se toma como a mais adequada a responder ao problema é a
seguinte “No conflito que afecta a RDC, Angola tem colaborado para a busca da paz e
estabilidade no plano económico, social e político através de planos de defesa e
segurança”. Ainda nesta senda o objectivo geral inclina-se em apresentar os principais
motivos que levam ao conflito RDC, assim como as consequências e possíveis resoluções
proposta por Angola. A Mediação tem sido utilizada em longa escala pelas Organizações
Internacionais como instrumento de resolução dos diferentes dissídios entre as partes em
conflito. Vou ao longo deste trabalho procurar compreender o papel de Angola na
Resolução do Conflito na República Democrática do Congo. No tocante a metodologia, o
método utilizado no presente trabalho foi o Indutivo, pois partiu-se de dados particulares
para chegar a uma verdade geral.
Outro método também utilizado foi o método dedutivo, pois partimos do geral para o
particular, reforma ou anúncio do modo explícito a informação já contida nas premissas.

Palavras – Chave: 1. Conflito; 2. Mediação; 3. Angola; 4. RDC

IV
ABSTRACT

"Angola's role in resolving conflicts in eastern DRC 2008-2014 is the work it intends to
do." The Democratic Republic of Congo is characterized by many conflicts involving
territories, ethnic groups, political and economic power, and whose peace negotiations
never seem to be effective, impeding the establishment of economic and social
development. The present question has the following question: "What is the role of Angola
in the resolution of the conflict in the east of the Democratic Republic of Congo?" The
hypothesis that is considered the most adequate to answer the problem is the following "In
the conflict Which affects the DRC, Angola has collaborated in the pursuit of economic,
social and political peace and stability through defense and security plans. " Still on this
path the general objective is to present the main reasons for the DRC conflict, as well as
the consequences and possible resolutions proposed by Angola. Mediation has been used
on a large scale by the International Organizations as an instrument for resolving the
different disputes between the parts to conflicts. Throughout this paper, I will seek to
understand Angola's role in the Conflict Resolution in the Democratic Republic of Congo.
Regarding the methodology, the method used in the present work was the Inductive, since
it was based on particular data to arrive at a general truth. Another method also used was
the deductive method, since we started from the general to the particular, reform or
announcement of the explicit way the information already contained in the premises.

Keywords: 1. Conflict; 2. Mediation; 3. Angola; 4. DRC

V
ÍNDICE
DEDICATÓRIA …………………………………………………………………………....I
AGRADECIMENTOS …………………………………………………………………….II
EPÍGRAFE ………………………………………………………………………………..III
RESUMO …………………………………………………………………………………IV
ABSTRACT ……………………………………………………………………………….
V
INTRODUÇÃO.....................................................................................................................1

CAPÍTULO I – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E CONCEPTUAL................................3

1.1. Teorias de Conflitos................................................................................................3

1.1.1. Teoria do Regionalismo.......................................................................................5

1.2. Os Conflitos. Conceitos Operacionais.....................................................................6

1.2.1. Classificação dos Conflitos..................................................................................7

1.3. Espaço vital Segundo Ratzel...................................................................................8

CAPÍTULO II – A GEOPOLÍTICA DOS GRANDES LAGOS E OS CONFLITOS NA


RDC.....................................................................................................................................10

2.1. Contexto Geopolítico da Região dos Grandes Lagos...............................................10

2.2. Atores ao conflito e consequências regionais...........................................................11

2.3. Atores externos ao conflito.......................................................................................13

2.3.1. Análise dos Conflitos na Região dos Grandes Lagos............................................17

2.4. A participação da MONUC, ONU e UA na crise da região dos Grandes Lagos -


RDC.............................................................................................................................23

CAPÍTULO III – O PAPEL DE ANGOLA NA RESOLUÇÃO DOS CONFLITOS NO


LESTE DA RDC 2008-2014...............................................................................................27

3.1. A Geopolítica e a Geoestratégica da RDC................................................................27

3.2. A posição de Angola em Relação ao Conflito no Leste da RDC..........................29

3.2.1 Teoria Deliberativa Segundo Jurgen Habermas..................................................30

3.2.2. A Visão de Angola em Relação a Influência dos Grandes Lagos na Instabilidade


Política Social Económica na RDC.................................................................................32
3.2.3. Os Conflitos no Leste da RDC...............................................................................33

3.3. A Contribuição de Angola na Resolução dos Conflitos no Leste da RDC...............34

CONCLUSÃO.....................................................................................................................37

SUGESTÕES.......................................................................................................................39

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................................40
INTRODUÇÃO

A República Democrática do Congo é caracterizada por muitos conflitos


envolvendo territórios, Etnias, poder político e económico, e cujas negociações de paz
nunca foram eficazes, impedindo que se instalasse o desenvolvimento económico e social.
De uma forma genérica, a gestão e resolução de conflitos é realmente um campo
multidisciplinar. É o amalgamo da Psicologia, Filosofia, Ciências Políticas, Sociologia,
Antropologia, Direito, etc.
“A identidade das partes de um conflito, os níveis em que o conflito ocorre e é
contestado, bem como as questões envolventes que são quase sempre (recursos escassos,
relações desiguais, competição de valores) podem variar de tempo em tempo, porque o
conflito é sempre dinâmico e nunca permanente linear, conforme escala e de escala de
tensão e é constituído por uma influência complexa de atitudes e comportamentos que
podem assumir uma realidade própria e específica de cada um, que devem ser analisados
na base do entendimento da sua complexidade sistémica, assimétrica, diversidade cultural
e intrabilidade (David Bohm, 1996; Daniel Yenkelovich, 1999; Mark Saundres, 2009) ”
Assim na senda dos conflitos, o presente trabalho prende-se em realizar uma
abordagem sobre o Papel de Angola na Resolução dos Conflitos no Leste da RDC, no
período compreendido entre 2008-2014.
Para a melhor compreensão do que se quer alcançar neste trabalho, formulou-se a
seguinte pergunta de partida: Qual é o papel de Angola na Resolução do conflito no leste
da República da RDC?
E para responder a esta questão, elegeu-se a seguinte hipótese: No conflito que
afecta a RDC, Angola tem colaborado para a busca da paz e estabilidade no plano
económico, social e político através de planos defesa, segurança e desenvolvimento na
região.
O objectivo geral deste trabalho consiste em Analisar o papel de Angola na
resolução dos conflitos na região dos grandes lagos entre os anos de 2003/2014.
E como objectivos específicos: 1- Apresentar os antecedentes históricos da região
em estudo; 2. Compreender a esfera de ação de Angola na mediação do conflito na RDC;
3. Descrever a natureza do conflito na RDC; 4. Identificar as perspectivas para a resolução
do conflito.

1
No tocante a justificativa o presente estudo visa entender numa perspectiva política,
social e humanitária, o que levou este país ao conflito, quais os motivos dos países
envolventes no conflito na RDC, e que ferramentas Angola tem usado para chegar à
mobilização pacífica na mesma. Este tema é bastante importante porque depois de uma
pesquisa bem elaborada, através de jornais, livros, documentários e depoimentos, vai
contribuir para um melhor entendimento da situação problemática que se esta a viver na
RDC. Por fim, representará bastante para a Universidade, uma vez que poderá servir como
material de apoio em salas de aulas, e para outros que queiram defender temas com a
mesma linhagem de pensamento.
No tocante a metodologia, o método utilizado no presente trabalho foi o Indutivo,
pois partiu-se de dados particulares para chegar a uma verdade geral.
Outro método também utilizado foi o método dedutivo, pois partimos do geral para
o particular, reforma ou anúncio do modo explícito a informação já contida nas premissas.
O presente trabalho encontra-se estruturado por três capítulos, o primeiro refere-se
a fundamentação teórica e conceptual sobre conflitos; o segundo reserva sua abordagem
para falar sobre a geopolítica dos grandes lagos e conflitos na RDC; finalmente o terceiro
capitulo falou sobre o papel de Angola na Resolução dos conflitos no leste da RDC nos
anos de 2008 a 2014.

2
CAPÍTULO I – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E CONCEPTUAL

Neste primeiro capítulo a abordagem prende-se a questões ligadas as situações de


conflitos internacionais de uma maneira global. É nesta ordem de ideias que se tecem
algumas considerações sobre a teoria de conflitos nomeadamente a teoria realista, teoria do
regionalismo, alguns tidos como conceitos operacionais e terminamos realizando uma
classificação em torno dos conflitos internacionais.

1.1. Teorias de Conflitos

Os conflitos na sociedade Humana não podem ser circunscritos à perspectiva macro-


histórica ou macro - sociológica, tendo em vista que cada nação, cada cultura, cada
sociedade engendra modelos de relações sociais que são invariavelmente tecidas com os
fios do conflito. Ou seja, podemos afirmar que a socialização humana estrutura-se na
relação dialéctica da cooperação/conflito, não se podendo olvidar que, mesmo de forma
não explícita, a cooperação pode ter suas bases em tensões e conflitos subtis. Nesse
sentido, considero relevante refletir de que modo a teoria sociológica clássica tem
percebido a categoria conflito social.

Portanto, sendo os Homens, entre si, incapazes de encontrar uma solução para os
conflitos resultantes de suas diferenças e desejos, Thomas Hobbes propõe um contracto
instituidor de um soberano, em tudo garantidor da ordem. E nesse sentido, sentencia
Hobbes (1983):

‘’ A única maneira de instituir um tal poder comum, capaz de defendê-los das invasões
dos estrangeiros e das injúrias uns dos outros, garantindo-lhes assim uma segurança
suficiente para que, mediante seu próprio labor e graças aos frutos da terra, possam
alimentar-se e viver satisfeitos, é conferir toda sua força e poder a um homem, ou a
uma assembleia de homens, que possa reduzir suas diversas vontades, por pluralidade
de votos, a uma só vontade. [...] Isto é mais do que consentimento ou concórdia, é uma
verdadeira unidade de todos eles [...] são como se cada homem dissesse a cada
homem: Cedo e transfiro meu direito de governar-me a mim mesmo a este homem, ou a
esta assembleia de homens, com a condição de transferires a ele o teu direito,
autorizando de maneira semelhante todas as suas ações. Thomas Hobbes (1983)’’.

No ato de conferir toda sua “força” e o “poder” a um “homem” ou “assembleia de


homens” – Hobbes demonstrava sua preferência pelo primeiro – a sociedade política
instituiria um poder externo, com prerrogativas de monopólio, em carácter indivisível,
intransferível e inquestionável, ou como em suas palavras: É nele que consiste a essência

3
do Estado, a qual pode ser assim definida: Uma pessoa de cujos atos uma grande multidão,
mediante pactos recíprocos uns com os outros, foi instituída por cada um como autora, de
modo a ela poder usar a força e os recursos de todos, da maneira que considerar
conveniente, para assegurar a paz e a defesa comum, (THOMAS HOBBES, 1983).

A outra vertente que aponta para a solução dos conflitos sociais a partir de elementos
externos, nasce com Auguste Comte. O sistema filosófico-social de Comte centra-se na
necessidade de reforma intelecto-moral do homem para que se possa obter uma
reorganização da sociedade. Estrutura-se essa reforma sobre três elementos básicos: uma
filosofia da história que demonstre a evolução da sociedade humana até o estado positivo
(“lei dos três estados”: teológico, metafísico e positivo ou científico), uma classificação e
fundamentação das ciências a partir do método positivo e, finalmente, uma sociologia
capaz de orientar a reforma das instituições a partir dos fundamentos positivos.

Sua busca de uma unidade social o leva a afirmar, segundo Raymond Aron (1993),
que só pode haver verdadeira unidade numa sociedade quando o conjunto das ideias
diretrizes, adoptada pelos diferentes membros da coletividade, forma um todo coerente. A
sociedade é caótica quando nela se justapõem modos de pensar contraditórios e ideias
extraídas de filosofias incompatíveis.

O “caos” social reside no confronto de concepções do mundo, de modos


contraditórios de organizar a mesma sociedade, da “expressão dos desacordos”. Ou seja,
muito próximo de Thomas Hobbes, Auguste Comte pensa nas formas de se anular a
competição e as ideias “incompatíveis”. Seria no estado positivo, dominado pelo
cientificismo, no contexto da explosão industrial e seu progressismo, que Auguste Comte
encontraria o ápice da sociedade humana. Desde que esta não se demorasse nos
preconceitos e superstições dos estados teológicos e metafísico, o homem moderno
alcançaria o progresso e com ele a reforma moral que anularia os conflitos sociais. Pois,
para Auguste Comte “Só a filosofia positiva pode ser considerada a única base sólida da
reorganização social, que deve terminar o estado de crise na qual se encontram, há tanto
tempo as nações mais civilizadas”. (AUGUSTE COMTE, 1983).

Portanto, a solução dos conflitos sociais viria com a evolução e o progresso científico
e tecnológico, produzindo uma sociedade esclarecida (pelo culto à razão e à ciência - nova
religião), pacífica e harmoniosa (pela distribuição equitativa dos bens do progresso).

4
1.1.1. Teoria do Regionalismo
Os critérios de identidade regional ou Étnica na prática social eram objetos de uma
dupla representação. Eram representações mentais (língua, sotaque e outros elementos), ou
seja, eram atos de representação e de apreciação, de conhecimento e de reconhecimento,
aos quais os indivíduos aplicavam seus interesses e seus pressupostos. Eram também
representações objectivas, coisas como (emblemas, bandeiras, insígnias, etc.) ou atos, que
seriam estratégias destinadas à manipulação simbólica que tinham por objectivo
determinarem a representação mental que o grupo podia ter destas propriedades
(emblemas, bandeiras, insígnias, etc.) e de seus portadores. Assim, as lutas em defesa da
identidade étnica ou regional seriam um caso particular das lutas de classificações, “luta
pelo monopólio de fazer ver e fazer crer, de dar a conhecer e de fazer reconhecer, de impor
a definição legítima das divisões do mundo social e, por este meio, de fazer e de desfazer
os grupos” (PIERRE BOURDIEU, 1989).

Em Pierre Bourdieu (1989), o discurso regionalista era um discurso performativo,


que buscava impor como legítima uma nova definição das fronteiras, de conhecer e de se
fazer reconhecer a região contra a definição dominante. Nesse movimento teórico, o
regionalismo foi apenas mais um caso das lutas propriamente simbólicas, na qual os atores
podiam estar em estado de dispersão, individualmente, ou em estado colectivo,
organizados. O que estava em jogo era a conservação ou a transformação das relações de
forças simbólicas.

O movimento regionalista visava sustentar sua prática numa identidade regional que
foi simbólica e historicamente construída por diferentes atores sociais interessados em
fazer valer sua existência. Essa existência, como assinalou Pierre Bourdieu, era produto do
discurso regionalista (diríamos nós: era “também” produto desse discurso), ou seja, de um
discurso performativo que buscava impor como legítima uma nova definição das fronteiras
e dava a conhecer e fazia reconhecer a região. Assim, o regionalismo tinha em vista
universalizar valores, constituindo-se a universalização como a estratégia de legitimação.
Em síntese, a análise regionalista era bastante complexa, pois envolvia identificação e
coesão no interior da região, como também articulação com o poder central e competição
externa tendo em vista a defesa, a preservação ou a obtenção de condições mais vantajosas.
Dessa forma, o regionalismo era simultaneamente intrínseco, relativo e relacional. De

5
acordo com Castro, a investigação sobre o regional evidenciou, de modo geral, a
espacialização do sistema político; por isso, a autora buscou compreender suas articulações
e interações tanto no âmbito local quanto com o poder central. Essa decisão implicou
analisar o regionalismo com base na complexa relação entre espaço, ideologia e política,
(JOÃO R. DE CASTRO, 1999).

1.2. Os Conflitos. Conceitos Operacionais


É a rivalidade ou antagonismo entre indivíduos ou grupos de uma sociedade. O
conflito pode ter duas formas: uma ocorre quando há um confronto de interesses entre dois
ou mais indivíduos ou grupos; a outra ocorre quando há mais pessoas ou coletividade
envolvidas em luta direta com outras. (JORGE PAIS DE SOUSA, 2008).

O conflito de interesses nem sempre leva a luta declarada, enquanto os conflitos


diretos podem, por vezes, surgir entre grupos que, erradamente, acreditam que os seus
interesses são opostos a dos outros grupos. Quando a possibilidade de conciliação é
relativamente elevada, os conflitos de interesses tendem a ser resolvidos por via
diplomática. (JORGE PAIS DE SOUSA, 2008).

O conflito nas relações internacionais é analisado com base em diversas posturas.


Uma delas é a teoria do choque de civilizações, que explica os grandes movimentos
políticos e culturais da história através das influências recíprocas que as várias civilizações
exercem entre si. Neste contexto, uma civilização é uma cultura fechada com uma tradição
hermética e impermeável, que entra em conflito na hora de se relacionar com as outras
civilizações diferentes. Diz-se que a revolução e a guerra são conflitos totais, onde se
procura a mudança através da força e recorrendo à violência. Na perspectiva de Noronha
(1992), as pessoas têm comportamentos e ações que provocam reações. Estas podem ser de
indiferença, agrado ou desagrado, dando origem ao conflito, na medida em que se criam
estímulos provocando respostas antagónicas, incompatíveis ou divergentes.

O mesmo autor apresenta o conflito tendo em conta três visões políticas: a unitária, a
pluralista e a radical. Segundo autor, para a visão política unitária, os interesses dos
intervenientes são colocados de parte, dando-se apenas ênfase aos objectivos da
organização. Assim, o conflito é visto como algo raro e transitório, sendo resolvido através
de uma intervenção eficaz. No que diz respeito à visão política radical, esta, dá mais ênfase
à diversidade de interesses dos intervenientes, que se opõem. Neste caso, a organização é

6
vista como o campo de batalha entre os intervenientes. Por último, para a visão política
pluralista o conflito assenta na diversidade de interesses dos indivíduos e dos grupos, sendo
considerado uma característica inerente à organização, que se preocupa em aproveitar os
aspectos positivos do mesmo, (BENJAMIM GRAHAM, 199).

1.2.1. Classificação dos Conflitos


A multiplicação dos conflitos internos é uma característica marcante da última
década do século XX. A desintegração de Estados socialistas – principalmente a União
Soviética (URSS) e a Iugoslávia – faz renascer rivalidades étnicas e religiosas que haviam
sido congeladas por regimes totalitários. Confrontos herdados da Guerra Fria, como a
guerra civil em Angola, também resistem à chegada do ano 2000. Ao mesmo tempo,
avançam as negociações de paz em algumas regiões, com destaque para o Oriente Médio, a
Irlanda do Norte e Timor Leste. Aumenta ainda a capacidade de intervenção militar dos
Estados Unidos (EUA) nas zonas de conflito, por causa da ausência de rivais geopolíticos
de porte. A Federação Russa, que até então disputava a hegemonia mundial com os norte-
americanos, atravessa os anos 90 mergulhada em uma grave crise interna.

Os conflitos são classificados em quatro categorias, de acordo com as forças em


litígio. A primeira envolve dois ou mais Estados. As demais tratam de disputas internas:
guerra civil ou guerrilha para mudança de regime; separatista decorrente de ocupação
estrangeira e separatista no interior de um Estado. Os conflitos podem também ter forte
conotação étnica ou religiosa. A guerra civil no Afeganistão, por exemplo, opõe
fundamentalistas muçulmanos da milícia Taliban (Patane) a grupos Islâmicos de outras
Étnias (Tadjique, Uzbeque e Hazará). A origem religiosa distinta é fonte de tensão no Sri
Lanka, onde Tâmeis (Hinduístas) e Cingaleses (Budistas) estão em luta desde os anos 80.

Guerra entre Estados – Embate a exércitos nacionais regulares. Até o final de 1999, o
mais sério deles é a disputa entre Índia e Paquistão, duas potências nucleares, pela posse da
região da Caxemira. Vários países do centro e do sul da África também estão envolvidos
em confrontos que se desenrolam no território da República Democrática do Congo (RDC)
e tem como epicentro a rivalidade ancestral entre as Étnias Hútu e Tutsi.

Guerra civil ou guerrilha – Conflito em que movimentos armados ambicionam


derrubar o governo de um determinado país. Atualmente, um dos mais expressivos são as
Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), que controlam uma área

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desmilitarizada de 42 mil quilómetros quadrados na nação. Na Argélia, as guerrilhas
fundamentalistas Frente Islâmica de Salvação (FIS) e Grupo Islâmico Armado (GIA)
reivindicam a criação de um Estado teocrático.

Separatismo decorrente de ocupação estrangeira – Confronto provocado por uma


invasão militar externa. Nessa categoria, merece destaque a reivindicação dos palestinos
pelo reconhecimento de um Estado independente nos territórios ocupados por Israel em
1967 – Faixa de Gaza e Cisjordânia. Outro exemplo é o conflito separatista em Timor
Leste, ex-Colónia Portuguesa de maioria Católica anexada pela Indonésia, em 1975.

Separatismo no interior de um Estado – Choque entre forças oficiais e movimentos


internos – em geral, ligados a minorias Étnicas ou Religiosas – que têm como objectivo a
formação de Estados independentes. É o caso do Exército Republicano Irlandês (IRA),
partidário da autonomia dos católicos, grupo minoritário na Irlanda do Norte, uma
província do Reino Unido1.

Mas o conceito chave na nossa Investigação tem a ver com o tipo de confrontação
chamado Guerra Civil que foi o tipo de conflito vivenciado pelos Angolanos.
Habitualmente as Guerras têm a participação de exércitos, quer dizer de militares
especializados e treinados para o desempenho militar. Por oposição ao que seria "Guerra
militar" se denomina "Guerra Civil" a aqueles conflitos massivos nos quais uma parte da
sociedade é beligerante com outra. Este tipo de guerra envolve, portanto a sectores inteiros
da População, classes e partidários delas, ou a toda a População dum país em geral.

1.3. Espaço vital Segundo Ratzel


O conceito de espaço vital (em alemão, Lebensraum), em geografia política, foi
concebido por Friedrich Ratzel, nos seguintes termos:

“ Toda a sociedade, em um determinado grau de desenvolvimento, deve conquistar


territórios onde as pessoas são menos desenvolvidas. Um Estado deve ser do tamanho da
sua capacidade de organização”.

Friedrich Ratzel propôs uma Antropogeografia, como um ramo da geografia humana,


que estudaria o espaço de vida dos agrupamentos humanos. Ao sistematizar os
conhecimentos políticos aplicados pela geografia, Ratzel contribuiu decisivamente para o

1
Classificação dos conflitos, disponível em: http://www.padogeo.com/cont-conflitos.html, acessado em 10
de Novembro de 2015.
8
surgimento da geografia política, que no início do século XX foi acrescida do termo
geopolítica (este cunhado por Rudolf Kjellèn). (Armand Mattelart,1996).

Destino manifesto: O geógrafo Alemão Friedrich Ratzel visitou a América do Norte


no início de 1873 e se impressionou com a doutrina do Destino Manifesto nos EUA. Ratzel
simpatizava com os resultados do "Destino Manifesto", mas ele nunca usou o termo. Em
vez disso, ele contou com a Tese da Fronteira de Frederick Jackson Turner. Ratzel
promoveu colónias ultramarinas para a Alemanha, na Ásia e África, mas não uma
expansão em terras eslavas. Depois alguns alemães reinterpretaram Ratzel para defender o
direito da Etnia Alemã de expandir na Europa, essa noção foi mais tarde incorporada na
ideologia Nazista. Harriet Wanklyn argumenta que os políticos distorceram a teoria de
Ratzel para objectivos políticos. (Gerd, 2011).

Espaço vital Alemão: O espaço vital seria o espaço necessário para a expansão
territorial de um povo, no caso, o Povo Alemão. Não apenas a restauração das fronteiras de
1914, mas também a conquista da Europa Oriental, espaço onde as necessidades, relativas
à dominação territorial e recursos minerais desse Povo seriam supridas. Quem também
fazia parte, como se fosse um "trato", era a Itália, que por ficar do outro lado do "espaço
vital" era de grande interesse Alemão. O interesse Alemão e Italiano nesta expansão
justificava-se em certa medida pelo fato dos dois países serem retardatários na expansão
marítima europeia, e ao contrário da França e da Inglaterra, não tinham vastos domínios
coloniais. O possibilismo, de Vidal de La Blache, serviu como uma resposta antagónica ao
espaço vital, ao considerar que havia maneiras de desenvolver economicamente em um
limitado espaço geográfico. O líder Fascista desejava atacar a URSS no verão de 1940,
logo após a queda da França.

Hitler considerava que a "Raça Ariana" (que segundo ele, era superior) deveria
permanecer unida, e para uni-la a Alemanha deveria possuir um território maior. Esse
território era onde o Povo Germânico morava, porém foi dividido. Era chamado de
"Espaço Vital Alemão". Tal argumento foi amplamente discutido em seu livro Mein
Kampf, e utilizado como discurso de justificativa da marcha alemã sobre a Europa a
começar pela anexação da Áustria, que antes pertencia à Confederação Germânica e antes
disso ao Sacro Império Romano Germânico.

Também podemos recordar da sonhada anexação dos Sudetos, que compunham a


região mais industrializada da Checoslováquia. Hitler queria invadi-los como já foi dito,
9
mas havia um problema: as potências França e Inglaterra tinham assinado um acordo com
a Checoslováquia que prometia protegê-la em caso de ataque estrangeiro.

CAPÍTULO II – A GEOPOLÍTICA DOS GRANDES LAGOS E OS CONFLITOS


NA RDC

A lógica percetiva dos conflitos regionais, deve passar primariamente pela


compreensão da ordem geopolítica e estratégica da região em que o mesmo se insere, uma
vez que os atores e suas influências são resultados conjuntura social e política, dai que
discordar esse facto seria nesta perspectiva uma ingenuidade.

2.1. Contexto Geopolítico da Região dos Grandes Lagos


Pensa-se ser todas as formas importante, antes de se tecerem quaisquer considerações
sobre as envolventes conflituosas na região dos Grandes Lagos assim como a participação
de Angola na posição de mediadora, apresentar ainda que de forma superficial a
composição desta região.

Os Grandes Lagos Africanos são um conjunto de lagos de origem tectónica,


localizados na África oriental, que incluem alguns dos lagos mais profundos do mundo. A
maior parte destes lagos foi formada há cerca de 35 milhões de anos no Vale do Rift
Ocidental, um dos ramos desta formação geológica que abrange
a Etiópia, Quénia, Tanzânia, Uganda, Ruanda, Burundi, República Democrática do
Congo, Malawi e Moçambique. São os seguintes os Grandes Lagos Africanos (de sul para
norte):

A designação de Grandes Lagos advém do facto de aquela região ser banhada por um
número considerável de lagos:

1. Lago Tanganica (32 900 km² / 1 433m)


2. Lago Vitória (68 100 km² / 82m)
3. Lago Niassa (30 900 km² / 706m)
4. Lago Turkana (6 405 km² / 109m)
5. Lago Albert (5 270 km² / 51m)
6. Lago Eduardo (2 150 km² / 117m)
7. Lago Kivu (2 700 km² / 485m)
10
8. Lago Kioga (1 720 km² / 5,7 m)
9. Lago Alberto
10.  lago Rukwa

Os lagos Vitória, Alberto e Eduardo vertem suas águas no Rio Nilo Branco. O lago
Tanganica e o lago Kivu desaguam no Rio Congo, enquanto o lago Niassa desagua no Rio
Zambeze. O lago Turkana (Rudolfo) é endorreico2.

2.2. Atores ao conflito e consequências regionais


Nos Grandes Lagos da África Central, o problema iniciou com o genocídio do grupo
Étnico Tutsi em Ruanda, em 1994, e a ascensão do grupo revanchista de Sr. Presidente
Paul Kagame, apoiado por EUA, Uganda e Burundi. O quadro foi agravado com o fluxo de
grupos armados Ruandeses Hútu para o então Zaire, apoiados pelo presidente francófono
Mobutu Sese Seko e a presença de forças rebeldes Ugandesas, Burundianas e Angolanas
no território do país. Foi então que ocorreu a Primeira Guerra do Congo, caracterizada pela
invasão das forças armadas (FAs) vizinhas ao Congo e legitimada pela rebelião articulada
pelo na altura, atual Presidente da RDC, Laurent Desire Joseph Kabila. Entretanto, após a
destituição de Mobutu em 1997, Sr. Presidente Kabila realizou uma inflexão nacionalista e
rompeu com os antigos aliados ao expulsar do país tropas de Ruanda, Uganda e Burundi.
(JANE`S 2009, P.56).
Como os países vizinhos já lucravam com a pilhagem de recursos naturais
Congoleses (e.g. coltan, diamantes, ouro, cassiterita, cobre, cobalto) logo foi articulada
uma nova invasão, legitimada pela criação de grupos proxy que defendiam, entre outras
causas, o direito das populações de origem Ruandesa que habitavam o país (sobretudo o
grupo Étnico Tutsi Banyamulenge). Os agressores não contavam, contudo, com o bloqueio
de defesa articulado por L. Kabila, composto por forças Angolanas, Zimbabweanas e
Namibianas da SADC (Southern African Development Community), além de contingentes
de Chade, Sudão e Líbia. (ibid).
Com a multiplicidade de forças e a divisão do território Congolês em regiões onde
ocorria a ampla pilhagem de recursos naturais, a guerra logo entrou em um impasse,
resolvido por um acordo de paz mediado pela África do Sul e viabilizado pela ascensão de
Joseph Kabila – filho de Laurent Kabila, assassinado em 2001. Todavia, o fim apenas
2
Disponível em: http://berlarminovandunem.blogspot.com/2009/11/situacao-actual-na-regiao-dos-
grandes.html, visitado aos 29 de Novembro de 2015.
11
formal do conflito em 2003 e o estabelecimento de um governo de transição que incluía
grupos rebeldes no governo, na burocracia e no exército não impediram a continuidade da
violência. Houve após 2003 a continuidade de taxas de mortalidade estratosféricas (mais
de 1,6 milhão desde o acordo de paz) e a multiplicação de grupos rebeldes que viam nas
armas uma moeda de troca, um instrumento de barganha para obter inclusão política. Sua
forma de atuação, assim como a do novo exército que na prática é composto por bandos
armados, baseia-se no ataque a populações locais e na utilização do estupro como arma de
guerra. A presença da maior missão de paz exclusiva da ONU (a MONUC, hoje
MONUSCO) e o estabelecimento de operações conjuntas com os vizinhos não tiveram
sucesso em suprimir os principais grupos armados atuantes no país, nomeadamente o
grupo Étnico Hútu Ruandês Forces Democratiques de Liberation du Rwanda (FDLR) e o
grupo Étnico Ugandês de Jospeh Kony, Lord’s Resistance Army (LRA).
(STRAFOR,2006,P.34).

‘’Para além do quadro existente há quase uma década, eventos atuais geram
temores de instabilidades regionais mais amplas. Trata-se do surgimento do
grupo armado M23. Este é derivado do grupo armado CNDP (Congrès National
pour la Défense du Peuple) de Laurent Nkunda – que havia surgido em 2006 no
interior das FAs congolesas para defender a causa dos Banyamulenge e caçar
as FDLR com o apoio de Ruanda. Entretanto, acordos em 2008 entre RDC e
Ruanda estabeleceram uma nova fase no relacionamento dos dois países e
resultaram em operações militares conjuntas, na captura de Nkunda por
autoridades ruandesas e na desmobilização do grupo com os Acordos de 23 de
Março de 2009. (STRAFOR,2006,P.65).’’

Os acordos previam a integração de tropas do CNDP no exército da RDC - o que,


todavia, ocorreu de forma apenas parcial. O grupo manteve uma estrutura de comando e
controle paralela, comandando operações contra as FLDR, a exploração de recursos
naturais e o controle de grande parte das províncias de Kivu. Suas tropas eram lideradas
por Sr. Bosco Ntaganda, ex-rebelde procurado pelo Tribunal Penal Internacional (TPI),
acusado de crimes de guerra. Esse ponto acabou sendo explorado pelo presidente Joseph
Kabila, candidato à reeleição em 2011, que viu na cruzada às redes paralelas do exército
nos Kivu uma política que lhe renderia bons resultados eleitorais. Anunciou que
redistribuiria os militares ex - CNDP para outras regiões do país e que entregaria Ntaganda
para o TPI. (OCHA, 2012, P.33).
‘’Para além dessas características, típicas na atuação de grupos armados no
Congo, outro acontecimento gerou olhares atentos para a região: a divulgação
de um relatório da ONU que acusa Ruanda de patrocinar a atuação do M23
(S/2012/348, 2012). O relatório reconheceu uma ajuda direta de alto -
comissários Ruandeses ao M23 – apoiando-o com armas, munições, amparo
12
médico, inteligência, lobby político e recrutamento de combatentes. O país
vizinho estaria, portanto, novamente atuando na desestabilização da RDC. A
divulgação do relatório gerou acusações mútuas entre Kabila e Kagame e o
receio da explosão de uma nova Guerra Mundial Africana. (GIACOPELLI,
2010, P.80).’’

2.3. Atores externos ao conflito


A tendência, no que se refere aos conflitos armados nos Países dos Grandes Lagos, é
de tomar como ponto de partida das hostilidades a derrubada do avião presidencial em que
viajavam os Presidentes Ruandês, Juvenal Habyarimana, e Burundês, Melchior Ndadaye,
após assinatura de acordos de paz entre os grupos Étnicos Hútus e Tutsis. Há de se lembrar
que os dois Povos, ou seja, os dois grupos estão presentes nos quatro países de Grandes
Lagos, Burundi (Tutsis são maioria), Uganda, República Democrática do Congo (Leste do
país) e Ruanda onde os Hútus formam a maioria, mas poucos participam do governo tutsi
de Sr. Paul Kagame. (ALBUQUERQUE,200, P.41).
Verifica-se que desde o tempo colonial, ano 1959, um grupo de Etnia Tutsi, fugindo
dos conflitos tradicionais entre os dois povos, encontra abrigo no território de Congo-Belga
(actual República Democrática do Congo – ex-Zaire), formando, desta maneira, a
comunidade tutsi de Banyamulenge e falando Kinyaruanda. Nunca foi concedida a
nacionalidade Congolesa aos Tutsis que se instalaram como refugiados na parte leste da
RDC. Pode-se dizer que do lado congolês, os povos sempre viveram em paz, porém, a
questão da nacionalidade nunca foi tratada com mais eficiência, deixando cada vez mais
insatisfeitos os Banyamulenge.

‘’Como se pode observar, a presença ruandesa em território congolês é de longa data.


Antes da chegada dos europeus, existiam os impérios entre lagos de Ruanda e Burundi,
os quais estavam em plena expansão Braeckaman (1999, p.241). A região de Kivu,
leste da RDC era o lugar propício para os Reis estenderem sua dominação sobre
populações de Ruanda ou Burundi que procuravam novas terras ou que queriam
escapar do jugo de seus soberanos tiranos. No final do século XVIII e início do século
XIX, antes da chegada dos europeus, um grupo de Pastores (agro-pecuaristas) deixou
Ruanda e se instalou em território congolês do Kivu do Sul, em Mwenga, onde os
chefes tradicionais lhes deram porções de terra para suas atividades Agro-Pecuárias.’’

Para muitos Congoleses, segundo Colette Braeckman, os Banyamulenge são uma


Etnia imaginária, ou seja, fictícia, criada por Ruanda no intuito de usar seus “primos”
distantes como intermediários para melhor exercer sua influência na RDC.
“Os Congoleses, por sua vez, asseguram que aqueles que são chamados de
Banyamulenge são uma Etnia imaginária, fabricada circunstancialmente por um Ruanda

13
instado a usar esses “primos” distantes como canal de sua influência no Congo” (DIRK
BRAECKMAN, 1999, P.241).
Na realidade, salienta Dirk Braeckman, o termo “Banyamulenge” se inspira do nome
da colina de Mulenge, bem acima da região de Uvira. Tal expressão aparece pela primeira
vez em 1964, quando aqueles Pastores de ovelhas e cabras são obrigados a se defender das
incursões dos Rebeldes Congoleses que se instalaram na região sob a liderança de Sr.
Presidente Laurent-Désiré Kabila e queriam se diferenciar dos refugiados Tutsis expulsos
de Ruanda após a independência. Alguns desses tutsis lutaram ao lado dos Rebeldes e
outros foram integrados ao Exército de Sr. Mobutu. No final dos anos 80, alguns jovens
vão para Uganda engrossar as fileiras da Frente Patriótica Ruandesa (FPR) e participam da
guerra da libertação.
Por um lado, a presença de actores globais pode, de fato, desestabilizar ainda mais a
região. O neo-intervencionismo Francês parece ter cessado com a queda de Nicolas
Sarkozy e a ascensão de François Hollande. Essa política se baseava na utilização de crises
humanitárias para estabelecer intervenções que garantiam a manutenção e a recuperação da
presença Francesa em regiões estratégicas da África, como no caso da Costa do Marfim e
da Líbia. Todavia, Hollande não está de forma alguma desinteressado do continente. Sua
presença em Kinshasa na 14ª Cúpula da Francofonia em Outubro, a despeito dos rumores
de seu boicote, parece buscar retomar alianças com a RDC e contrabalançar políticas
autonomistas atualmente empreendidas por Sr. Presidente Joseph Kabila.

‘’O Presidente Congolês firmou em 2009 uma parceria com a China para a exploração
de cobre e cobalto no leste do país. O acordo chega à monta de 9 bilhões de dólares,
sendo chamado por alguns analistas de Plano Marshall da China para a África. Trata-
se inclusive de algo muito mais significativo do que os vínculos estabelecidos entre
Laurent Gbagbo e a China, que contribuiu para a destituição do Presidente Costa-
Marfinense por tropas Francesas em 2011. Além disso, J. Kabila parece buscar
estabelecer um contraponto à penetração de companhias petrolíferas Anglo-Francesas
(Tullow e Total) na África Central, alinhando-se a parceiros Italianos (amplamente
prejudicados na guerra da Líbia) e Sul-Africanos na exploração de petróleo da região
dos Grandes Lagos. Encontra-se ali o maior campo de petróleo on-shore descoberto na
África Subsaariana nos últimos 20 anos, (BENNETT, 2010).’’

O quadro fica ainda mais complexo quando se tem em mente a participação do


AFRICOM em operações militares reais no continente com a guerra da Líbia e o recente
envio de 100 assessores militares Americanos para a África Central, com o objectivo
declarado de auxiliar Uganda no combate ao LRA. A própria Uganda é recorrentemente
acusada de penetrar em território Congolês para caçar Rebeldes Ugandeses da ADF (Allied

14
Democratic Forces) que ainda atuam no país vizinho desde meados da década de 1990
(ALL AFRICA, 2012).
Além disso, o grupo armado Burundiano de origem Hútu, FNL (Forces Nationales
de Libération), voltou a atuar na RDC desde meados de 2010, realizando ataques a
populações Burundianas e Banyamulenge e incursões ao território do Burundi, gerando
desconforto nas relações bilaterais entre RDC e Burundi.
Por outro lado, Sr. Presidente Paul Kagame viu-se isolado. Em que o seu principal
aliado extra-regional, eram os EUA, onde viu-se obrigado a sinalizar repúdio às ações do
Ruanda, suspendendo parte de sua ajuda militar ao país. Não obstante a medida ter sido
mais simbólica do que efetiva, foi acompanhada por gestos análogos da parte dos Países
Baixos, da Grã-Bretanha, da Alemanha, da Suécia e da União Europeia. Em âmbito
regional, Uganda parece estar receosa dos custos que uma nova guerra regional poderia lhe
trazer, tendo em mente que já lidera a complexa operação da União Africana na Somália
(AMISOM).
Além disso, Sr. Presidente J. Kabila conta com o importante apoio de Angola, que já
havia-se disponibilizado em 2007 para mobilizar os 30 mil homens estabelecidos em
Cabinda para a defesa do Congo em uma eventual invasão Ruandesa (STRATFOR, 2006).
A própria SADC foi taxativa contra as ações de Ruanda no Congo - enviando uma
missão diplomática para Kigali pedindo o fim do apoio ao M23. O secretário executivo da
organização, Tomaz Salomão, afirmou na cúpula da organização realizada em Maputo em
meados de Agosto que a instabilidade atual no leste do Congo está sendo perpetrada com a
assistência de Ruanda e que a SADC pede que o país “cesse imediatamente sua
interferência que constitui uma grande ameaça à paz e estabilidade não apenas na RDC
mas também em toda a região da SADC” (MAIL & GUARDIAN, 2012).
Para além do quadro existente há quase uma década, eventos atuais geram temores
de instabilidades regionais mais amplas. Trata-se do surgimento do grupo armado M23.
Este é derivado do grupo armado CNDP (Congrès National pour la Défense du Peuple) de
Laurent Nkunda – que havia surgido em 2006 no interior das FAs Congolesas para
defender a causa dos Banyamulenge e caçar as FDLR com o apoio de Ruanda. Entretanto,
acordos em 2008 entre RDC e Ruanda estabeleceram uma nova fase no relacionamento
dos dois países e resultaram em operações militares conjuntas, na captura de Sr. Nkunda
por autoridades Ruandesas e na desmobilização do grupo com os Acordos de 23 de Março
de 2009.

15
Os acordos previam a integração de tropas do CNDP no exército da RDC - o que,
todavia, ocorreu de forma apenas parcial. O grupo manteve uma estrutura de comando e
controle paralela, comandando operações contra as FLDR, a exploração de recursos
naturais e o controle de grande parte das províncias de Kivu. Suas tropas eram lideradas
por Sr. Bosco Ntaganda, ex-Rebelde procurado pelo Tribunal Penal Internacional (TPI),
acusado de crimes de guerra. Esse ponto acabou sendo explorado pelo Sr. Presidente
Joseph Kabila, candidato à reeleição em 2011, que viu na cruzada às redes paralelas do
exército nos Kivu uma política que lhe renderia bons resultados eleitorais. Anunciou que
redistribuiria os militares ex - CNDP para outras regiões do país e que entregaria Ntaganda
para o TPI.
A situação levou à ascensão, em Abril de 2012, de um novo grupo armado formado
por forças desmobilizadas nos acordos de 23 de Março (M23). Atualmente, o M23 se reúne
em Rutshuru, nas proximidades de Goma (capital de Nord Kivu), seu principal alvo
estratégico, e é liderado pelo Sr. General Bosco Ntaganda e pelo Sr. Coronel Sultani
Makenga, ambos líderes no antigo CNDP. O grupo possui cerca de mil membros e é
acusado de recrutar soldados crianças e atacar, pilhar e estuprar populações civis locais –
gerando um acúmulo de quase meio milhão de deslocados internos na região (OCHA,
2012; IRIN, 2011).
Para além dessas características, típicas na atuação de grupos armados no Congo,
outro acontecimento gerou olhares atentos para a região: a divulgação de um relatório da
ONU que acusa Ruanda de patrocinar a atuação do M23 (S/2012/348, 2012). O relatório
reconheceu uma ajuda direta de alto-comissário Ruandês ao M23 – apoiando-o com armas,
munições, amparo médico, inteligência, lobby político e recrutamento de combatentes.
O país vizinho estaria, portanto, novamente atuando na desestabilização da RDC.
A ICGLR trabalha desde os encontros de 7 e 8 Agosto para a criação de uma força
neutra de paz, mediante o trabalho de um comité de ministros de defesa de sete países da
Conferência (RDC, Ruanda, Angola, Burundi, Congo, Uganda e Tanzânia), encarregados
de propor os passos para a supressão da violência no leste do Congo (planeamento de
inteligência e contingente). Todavia, os progressos dos trabalhos do comité parecem muito
tímidos. De fato, é muito difícil que a proposta saia do papel, haja vista que a ideia de
estabelecimento uma brigada regional já existe há alguns anos. Em Outubro de 2010 houve
um acordo para a criação de uma força regional permanente composta por tropas de RDC,
Uganda, Sudão, e República Centro Africana para atuar, sobretudo, contra o LRA

16
(GIACOPELLI, 2010). Todavia, a proposta ainda não saiu do papel. Além disso, os países
da ICGLR envolvidos com a crise atual já não se mobilizaram para as reuniões seguintes
da ICGLR.
Caso se concretize, o estabelecimento de uma brigada regional traz a perspectiva de
que a integração regional tenha papel relevante para a solução de um conflito que, em sua
origem, possui características regionais. O fortalecimento de mecanismos de diálogo, a
promoção do desenvolvimento socioeconómico e cultural conjunto e a substituição de
tarefas de paz comandadas por forças globais por outras organizadas pelos próprios países
que vivenciam o conflito parecem trazer uma solução de paz mais viável e sustentável no
longo prazo.

2.3.1. Análise dos Conflitos na Região dos Grandes Lagos


Neste subcapítulo, tinha-se por intenção fazer uma abordagem sobre os conflitos em
todos os países da região dos grandes lagos, mas atendendo a insuficiência bibliográfica
para construção deste marco, apresentamos em síntese os conflitos em alguns países da
região que nos foi possível ter acesso a informação.

 Moçambique
A Guerra Civil Moçambicana foi um conflito civil que começou em 1977, dois anos
após o fim da Guerra de Independência de Moçambique, e que foi semelhante à Guerra
Civil Angolana, visto que ambas eram guerras secundárias dentro do contexto maior
da Guerra Fria. O partido no poder, a Frente de Libertação de Moçambique  (FRELIMO), e
as forças armadas moçambicanas eram violentamente contrários a Resistência Nacional
Moçambicana  (RENAMO), que recebia financiamento da Rodésia e, mais tarde, da África
do Sul. Durante o conflito, cerca de um milhão de pessoas morreram em combates e por
conta de crises de fome, cinco milhões de civis foram deslocados[3] [4] e muitos
sofreram amputados por minas terrestres, um legado da guerra que continua a assolar o
país. O conflito terminou em 1992 com o Acordo Geral de Paz e as primeiras eleições
multipartidárias do país foram realizadas em 19943.
Em vista dos problemas económicos que Moçambique atravessava, o governo
assinou um acordo com o Banco Mundial e FMI em 1987, que o obrigaram a abandonar
completamente a política "socialista".[6] A guerra, porém, só terminou em 1992 com
3
 "MOZAMBIQUE: population growth of the whole country". Populstat.info. visitado aos 20 de Janeiro de
2016.
17
o Acordo Geral de Paz, assinado em Roma a 4 de Outubro, pelo Presidente da República,
Sr. Joaquim Chissano e pelo presidente da RENAMO, Sr.Afonso Dhlakama, depois de
cerca de dois anos de conversações mediadas pela Comunidade de Santo Egídio, uma
organização da igreja católica, com apoio do governo italiano.
Nos termos do Acordo, o governo de Moçambique solicitou o apoio da ONU para o
desarmamento das tropas beligerantes. A ONUMOZ foi a força internacional que apoiou
neste trabalho, que durou cerca de dois anos e que culminou com a formação dum exército
unificado e com a organização das primeiras eleições gerais multipartidárias, em 1994.
Em 2012, depois do 21.° Aniversário da paz em Moçambique, o clima entre a
RENAMO e o Governo da FRELIMO deteriorou-se. O líder da RENAMO, Sr. Afonso
Dhlakama, regressou no dia 17 de Outubro à antiga base do partido, a Casa Banana, em
Satunjira na zona da Gorongosa (província de Sofala no centro do país).
Houve divergências em relação à composição da Comissão Nacional de Eleições
(CNE). A RENAMO quis uma representação igual para os dois partidos (excluindo
terceiros como o novo partido MDM). Em Abril de 2013 houve vários ataques da
RENAMO na zona centro do país que causaram pelo menos seis mortos entre polícias e
civis. No dia 21 de Outubro de 2013, forças governamentais tomaram a base da RENAMO
na Gorongosa. A seguir, a RENAMO, anunciou o fim do Acordo de Paz de 1992. Depois
de 21 anos de paz, Moçambique voltou à guerra civil.

 Malawi / Tanzânia

Em 2012 a Tanzânia afirmou que estaria preparada para uma eventual  guerra com o
Malawi  em torno das disputas fronteiriças sobre a linha divisória do Lago Niassa. A
ameaça foi feita  pelo Presidente  da Comissão Parlamentar da Defesa, Segurança e
Relações Exteriores  da Tanzânia, Sr. Edward Lowassa. A Tanzânia exigiu ao Malawi para
parar imediatamente com  as pesquisas  de gás natural e petróleo no Lago Niassa,
considerado o terceiro maior da África, mas o governo de Lilongwe rejeita a exigência
Tanzaniana, alegando que a prospeção  está a acontecer dentro das fronteiras legais4.
Sr. Lowassa  declarou na altura que se o cenário de guerra fosse necessário, a
Tanzânia estaria pronta para “consentir sacrifícios e derramar o sangue dos seus melhores
filhos” e as forças armadas tanzanianas estão psicologicamente preparadas e equipadas
para fazer face à situação. O parlamentar Tanzaniano foi mais longe, ao dizer que o
4
http://comunidademocambicana.blogspot.com/2012/08/tanzania-avisa-prontos-para-guerra.html, visitado
aos 20 de Janeiro de 2016.
18
exército do seu país estava entre os mais modernos do mundo, para além de viverem um
ambiente estável em termos político-militares. Em conexão com esta crise, circulavam
informações, ainda não confirmadas por fontes independentes, segundo as quais, a
Tanzânia estaria já a movimentar tropas para a fronteira com o Malawi5.
Cerca de trinta por cento das exportações e importações Malawianas  dependem  do
Porto Tanzaniano de Dar-es-Salam e outra parte, a mais significativa, se desenvolve
através dos Portos Moçambicanos da Beira e Nacala. Em caso de eclosão de uma guerra, o
Malawi perde a rota de Dar-Es-Salam e fica parcialmente ou totalmente bloqueado em
termos logísticos. Mais grave ainda, o Malawi nunca teve experiência de guerra, enquanto
a Tanzânia já enfrentou no passado o regime de Idi-Amin dada do Uganda e efetivos
Tanzanianos apoiaram o exército governamental em Moçambique durante a guerra de
desestabilização6.
Os dois países  voltaram a reunir-se no dia 20 de Agosto de 2012, em Mzuzu, no
extremo norte do Malawi, com vista a procurarem uma solução diplomática em torno da
linha divisória sobre o Lago Niassa. Observadores  acreditam que, tal como aconteceu no
passado, a  próxima ronda negocial poderá redundar num fracasso, tendo em conta as
profundas diferenças entre as duas partes, e também todo um ambiente envolvente
e sobretudo a animosidade.7
O presidente da Comissão Parlamentar da Defesa, Segurança e Relações
Exteriores da Tanzânia, é citado a dizer ainda que o seu país também estava interessado em
ver este conflito resolvido através de canais diplomáticos, usando se necessário uma
mediação internacional. Lowassa destacou que o Malawi é um país vizinho, e dai que “não
gostaria que os dois países se envolvessem numa guerra.  Mas caso seja necessário, a
Tanzânia não descarta essa hipótese”8.
De acordo com Kanyama Chiume, a fronteira Malawi/ Tanzânia foi definida através
do Tratado Anglo-Germânico assinado a um de Julho de 1890, que estabelece a linha
divisória na margem oriental do lago Niassa. Além disso,  os chefes de Estado e de
governo da extinta Organização da Unidade Africana  assinaram uma resolução em 1963,
segundo a qual os Estados africanos deverão reconhecer e aceitar as fronteiras que
herdaram aquando das suas independências. Recorde-se que o falecido Presidente Kamuzu
Banda viria a reivindicar  também um pouco depois de 1965, no Congresso do seu partido,
5
Idem
6
idem
7
Idem
8
Idem
19
o MCP, que todo o norte do Rio Zambeze em Moçambique até ao Oceano Indico  e alguns 
distritos da Zâmbia também eram parte do seu país, naquilo que ele chamava o “Grande
Malawi”

 República Democrática do Congo


Partindo do princípio de que é da lacuna entre a ação estatal e as práticas sociais que
se coloca um campo propício para a atuação de forças paralelas ao Estado, neste trabalho
analisaremos um cenário em que esta situação é palpavelmente percetível, o conflito que se
desenvolve na República Democrática do Congo (RCD), no qual é latente a ineficiência
estatal na regulação das relações sociais9.
Segundo a história positiva, o conflito em questão estende-se no tempo de 1996 até
2003, período que compreende o início da Primeira Guerra do Congo e o término da
Segunda Guerra do Congo. Contudo, os factores que levam ao desenvolvimento do mesmo
são profundos e remontam ao período de sua descolonização e ao incidente ocorrido em
1994 no país vizinho, o Genocídio de Ruanda. Da mesma forma, após o encerramento
formal da guerra, com a assinatura do Global and All Inclusive Agreement (AGI), em Sun
City, África do Sul, a atmosfera belicosa permaneceu posta e milícias armadas, até hoje, se
encontram mobilizadas na região. Já no ano de 2012, um novo movimento armado e de
considerável estrutura e relevância foi formado, o M23, o que confirma a protelação do
ambiente de conflito armado. Dados apontam que a RDC é um dos países menos
desenvolvidos e com menor qualidade de vida no mundo10.
O país ocupa a 186ª posição entre 187 países na tabulação do IDH medido pelo
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e 80% de sua população
vive com menos de U$ 1,00 por dia (INTERNATIONAL CRISIS GROUP, 2009).
Sem dúvida, o conflito de que trataremos e que, atualmente, se concentra na porção
leste do país, nas regiões do Kivu do Norte e Kivu do Sul, é factor que coopera nestas
estatísticas, uma vez que, em razão dele, mais de 1,4 milhões de congoleses foram
obrigados a fugir para as matas do Congo e 322 mil para os países vizinhos.
Podemos afirmar que este conflito, dado na forma em que se apresenta, revela-se
complexo e de difícil classificação. É impossível afirmar que o mesmo é de natureza
interestatal ou intra-estatal. O que ocorre é que, embora este ocorra em território Congolês,
9
HUMAN RIGHTS WATCH. “You Will Be Punished”: Attacks on Civilians in Eastern Congo. Nova
York: Ed HRW, 2009.
10
HUMAN RIGHTS WATCH. “You Will Be Punished”: Attacks on Civilians in Eastern Congo. Nova
Iorque: Ed HRW, 2009.
20
por muito tempo ele vem sendo travado entre Milícias e o Exército nacional e entre as
próprias Milícias em si, no entanto, com apoio estrangeiro para ambas as partes, inclusive
com algumas das Milícias correspondendo a braços dos exércitos nacionais vizinhos dentro
do Congo11.

 Burundi
As informações aqui contidas, a sua fonte é apontada em nota de rodapé conforme a
referência no primeiro parágrafo.
A Guerra Civil do Burundi foi um conflito armado com duração de 1993 a 2005.
A guerra civil foi o resultado divisões étnicas de longa data entre os Hútus e as tribos
Tutsis no Burundi. O conflito começou após as primeiras eleições multipartidárias no país
desde a independência da Bélgica em 1962 e é formalmente dado como finalizado com a
tomada de posse de Sr. Presidente Pierre Nkurunziza, em Agosto de 2005. O número de
mortos estimado é de 300.000 mortos12.
Em 1962, o país se tornou independente, com uma monarquia que tentava manter um
equilíbrio de poder entre Hútus e Tutsis, mas após o ocorrido em Ruanda, os Tutsis
passaram a monopolizar o poder político e militar, derrubando o rei em 1966 e sucedendo
golpes de estado e ditaduras militares entre 1972 e 1973, o governo Tutsi comete genocídio
contra os Hútus, matando de 80 a 210 mil pessoas, expulsando mais 85 mil   (outros 10.000
Tutsis foram mortos na época pelos confrontos). Em 1988, rebeldes Hútus do
PALIPEHUTU massacraram 5000 Tutsis no norte e entre 1993 e 1994 outos 25.000
sofreram o mesmo destino,[13] o grupo Rebelde começou os seus ataques em 1985.
As primeiras eleições nacionais multipartidárias no Burundi foram realizadas em 27
de Junho de 1993. Sr. Presidente Melchior Ndadaye, da Frente  (FRODEBU) venceu a
eleição presidencial e se tornou o primeiro Hútu a ser presidente desse país. Os Hútus são o
grupo Étnico majoritário, com 85% da população, mas o governo tinha estado
tradicionalmente nas mãos dos Tutsis e seu partido político, a União Nacional para o
Progresso  (UPRONA). Sr. Presidente Ndadaye foi morto em um golpe de Estado que os
soldados Tutsis deram o 21 de Outubro de 1993.
A violência entre grupos Étnicos seguiu ao golpe quase imediatamente, enquanto os
Hútus atacaram os Tutsis responsabilizando-os pelo golpe e a morte de Sr. Presidente

11
INTERNATIONAL PEACE INFORMATION SERVICE.MONUC/MONUSCO and Civilian Protection in
the Kivus, 2010.
12
https://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_Civil_do_Burundi, acessado aos 20 de Janeiro de 2016.
21
Ndadaye, os militares Tutsis mataram milhares de Hútus, numa tentativa de manter o
poder. Durante grande parte do conflito, o Conselho Nacional para a Defesa da
Democracia-Forças para a Defesa da Democracia (CNDD-FDD) foi o principal grupo
rebelde Hútu que operou no país, os rebeldes ganharam o controlo de grandes áreas do
noroeste do Burundi, conseguindo atacar em Julho de 2003 a capital, Bujumbura, sem
sucesso. A guerra se espalhou para países vizinhos, especialmente na República
Democrática do Congo, que sofria sua própria guerra civil.
Em 2005, os principais grupos rebeldes começaram a desmobilizar e converterem-se
em partidos políticos, apesar de alguns sectores só aceitarem os acordos de paz em 2008.

 Ruanda
A Guerra Civil de Ruanda foi um conflito entre o governo do Sr. Presidente Juvénal
Habyarimana e os Rebeldes da Frente Patriótica de Ruanda  (FPR). O conflito começou no
dia 2 de Outubro de 1990, quando a FPR invadiu e aparentemente foi encerrada em 4 de
Agosto de 1993 com a assinatura dos Acordos de Arusha para criar uma partilha de poder
do governo.
Apenas um ano após a conclusão do conflito, no entanto, os assassinatos de Sr.
Presidente Habyarimana e Ntaryamira em Abril de 1994 provou ser o maior estimulo para
o início do genocídio em Ruanda, o número de mortos frequentemente citados para o
mesmo é de 800.000. O FPR reiniciou a sua ofensiva, e acabou assumindo o controlo do
país. O governo Hútu no exílio, em seguida, passou a utilizar os campos de refugiados nos
países vizinhos para desestabilizar o governo da FPR. Outros conflitos na região, que estão
intimamente relacionados com a guerra civil em Ruanda e os conflitos entre Hútus e Tutsis
estão a Primeira Guerra do Congo (1996-1997), o que levou, por sua vez a Segunda Guerra
do Congo (1998-2003), que envolveu uma forças Hútus com o objectivo de recuperar o
controle de Ruanda. Devido à forte correlação entre estes eventos e os posteriores (alguns
dos quais estão ainda em andamento), algumas fontes dão datações diferentes para a guerra
civil de Ruanda, ou mesmo a consideram como ainda não concluída13.
Assim, enquanto a guerra civil oficialmente durou até 1993, a literatura de guerra
afirma que terminou com a captura de Sr. Kigali pelo FPR em 1994 ou com o
desmantelamento dos campos de refugiados em 1996, enquanto alguns consideram a

13
Gourevitch, Philip (2000). We Wish To Inform You That Tomorrow We Will Be Killed With Our Families 3
ed. (London; New York: Picador).
22
presença de pequenos grupos de rebeldes na fronteira de Ruanda no sentido de que a
guerra civil está em curso14.

2.4. A participação da MONUC, ONU e UA na crise da região dos Grandes Lagos -


RDC

O papel da MONUC, ONU e da OUA, atual UA, incluindo o da comunidade


internacional é sempre indispensável, não só para monitorar a situação político-militar e o
processo eleitoral nos países em conflito, mas também para ajudar na manutenção da paz,
políticas de desenvolvimento económico, boa governação e assistência social, com vista a
reduzir a propensão da população e de algumas elites políticas para o conflito.
À luz da crise nos Grandes Lagos, e consequentemente na RDC, a MONUC, ONU e
a OUA adotaram uma participação diplomática com vista a intensificar as negociações e
conversações diplomáticas. Para além dos esforços das nações unidas, o processo político
tinha uma via regional, liderada pela organização da unidade Africana, e uma via sub-
regional, coordenada pela Shothern Africa Development Community (SADC). Os países
da região mantinham grande expectativa de que as Nações Unidas pudessem desempenhar
um papel importante no processo de paz.
No conselho de Segurança, contudo, a complexidade do conflito Congolês, que
envolve grande número de atores estatais e não estatais, e a falta de controle do governo
central da RDC em algumas partes de seu território demandavam uma abordagem
cautelosa. O conselho de Segurança adotou a Declaração Presidencial de 11 de Dezembro
de 1998, afirmando estar preparado a considerar o envolvimento ativo da ONU na RDC,
em coordenação com a OUA, para ajudar a implementar um cessar fogo em processo
negociado para uma solução política.
Em Março de 1999, durante a Presidência Chinesa, o Conselho de Segurança
realizou um debate aberto sobre a situação na RDC (S/PV. 3987). Os participantes na
ocasião recordaram a obrigação de cada Estado de respeitar a integridade territorial e a
soberania nacional da República Democrática do Congo e insistiram à retirada de forças
estrangeiras não convidadas na RDC, tendo também enfatizado que o Governo da RDC e
os partidos de oposição deveriam engajar-se em diálogo político como passo necessário em
direção à reconciliação.

Mamdani, Mahmood (2002). When Victims Become Killers: Colonialism, Nativism, and the Genocide in
14

Rwanda (Princeton, N.J: Princeton University 


23
Pouco tempo depois, em resposta à solicitação do Conselho de Segurança por um
maior engajamento das Nações Unidades na situação da RDC, Secretário-Geral indicou Sr.
Moutapha Niasse (Senegalês) como seu enviado especial ao processo de paz na RDC. Sr.
Moutapha Niasse contava com a assistência do representante do Secretário-Geral para a
Região dos Grandes Lagos, Sr. Berhanu Dinka (Etiópe). Em 13 de Dezembro de 1999, o
Secretário-Geral indicou Sr. Kamel Morjone (Tunísino) como seu representante especial
para a RDC. O debate aberto levou à adoção da resolução 1234, de 9 de Abril de 2000, que
conclamava ao fim das hostilidades e saudava a indicação do Sr. Moutapha Niasse.
Persistiram no Conselho de Segurança discussões relacionadas ao futuro envio de
uma missão das Nações Unidas na RDC e a necessidade de uma força para proteger os
observadores. A abordagem cautelosa e gradual adoptada pelo Conselho de Segurança
refletiu a falta de consenso subjacente entre os membros quanto aos pré-requesitos para um
envolvimento de larga escala da ONU numa operação de paz na RDC. Finalmente, o
Conselho de Segurança conseguiu acordar na sua resolução 1279, de 30 de Novembro de
2001 a criação de uma Missão das Nações Unidades na RDC (MONUC) 85 . O Conselho
de Segurança autorizava o Secretário-Geral ´´a adoptar as medidas necessárias para
equipar 500 observadores da ONU´´.
Mais tarde, a resolução 1291 autorizou uma força de até 5.500 homens para proteger
os 500 observadores da ONU. A MONUC, contudo, ainda não havia sido plenamente
enviada ao terreno em meados do ano 2000. Muitos problemas tinham ainda de ser
resolvidos na RDC, alguns dos quais, vale lembrar, relacionavam-se diretamente à
situação do Ruanda e de Burundi. O processo político de Lusaka também evoluia de forma
bastante lenta.
O sucesso do processo de paz na África Central, particularmente na região do
Grandes Lagos começou com as eleições realizadas na RDC em 2006, com a ajuda da
comunidade internacional, permitindo a estabilidade política naquele país e teve
implicações políticas consideráveis naquela região, pelo facto da posição estratégica que
ocupa a RDC.
A partir deste pressuposto, pode-se inferir que as eleições na RDC significaram um
salto qualitativo para o fim dos conflitos e do clima de instabilidade e insegurança na
região dos Grandes, pelas seguintes razões:
 A RDC possui muita riqueza do subsolo que, uma vez o país em paz,
melhor as controlaria e contribuiriam grandemente para o PNB da região

24
dos Grandes Lagos. A ser assim, e com base no pressuposto de mais
desenvolvimento e paz, daria um grande contributo para a pacificação do
continente.
 A RDC tem um solo fértil para Rebeldes Ugandeses, Ruandeses e
Burundeses. A sua paz significaria destruir o nicho ecológico daqueles
movimentos rebeldes impelindo-os para o diálogo com os seus governos e,
consequentemente semear paz no continente.
 O conflito na RDC é um dos mais complexos do continente. Assim, sucesso
das eleições naquele país era sinal de demonstração da democratização
como método de resolução de diferendos do género em África. Mas, Para
que a paz efetivamente viesse ficar, parecia ser profundamente importante
desmobilizar e desarmar completamente os ex-beligerantes (movimentos
Rebeldes) e sua adequa inserção na sociedade civil ou no exército e no
sector de segurança nacional. Esta medida contrariava o então cenário de
fraca.

O papel da comunidade internacional era indispensável, não só para monitorar a


situação político-militar e o processo eleitoral que acabava de findar, mas também para
ajudar nas políticas de desenvolvimento económico, boa governação e assistência social,
com vista a reduzir a propensão da população e de algumas elites políticas para o conflito.
Por último, a estabilidade política na RDC e consequentemente a paz duradoura,
dependiam, acima de tudo, do compromisso político dos diferentes atores políticos do país,
com particular incidência para os ex-beligerantes.

25
CAPÍTULO III – O PAPEL DE ANGOLA NA RESOLUÇÃO DOS CONFLITOS
NO LESTE DA RDC 2008-2014

Os conflitos colocam-se como uma realidade sistémica que resulta das relações entre
atores, dai que seja uma constante inevitável. As dinâmicas sociopolíticas em África e o
perfil da necessidade de desenvolvimento económico. Assim, torna-se relevante uma
gestão forte e participativa no sentido de encontrar as melhores vias para solucionar os
conflitos.

3.1. A Geopolítica e a Geoestratégica da RDC


Importante ressaltar que para este capítulo, a Geopolítica e a Geoestratégica são
factores que Angola teve em conta antes de intervir no conflito na RDC e por conseguinte
na pacificação do conflito na região dos Grandes Lagos Africanos. Angola encontra-se na
parte sudoeste do continente Africano e subtropical do hemisfério sul, abaixo do Equador.
Faz fronteira com vários países tanto os da África Central como os da Austral. Logo ela
tem uma posição geoestratégica privilegiada porque pertence as duas-regiões.

A importância da atuação da República de Angola respondia as exigências


geoestratégias e geopolítica da sua política interna, tendo em conta a sua longa fronteira
(2500Km) com um dos países vizinhos da região, a República Democrática do Congo, a
República de Angola não podia ficar impávida diante da instabilidade que se tornava
crónica na RDC ameaçando a sua segurança com a implicação do grupo Rebelde Angolano
UNITA no centro das operações, sem desperdiçar o fogo de tensão já existente na região
dos Grandes Lagos que constituía igualmente uma ameaça a Segurança Regional e
Internacional.

Ao assumir o desafio na condução deste Grupo de Países, Angola baseou-se na


Declaração de Dar-Es-Salam sobre a Paz, a Democracia e o Desenvolvimento na Região
dos Grandes Lagos, de 2004, que pretende transformar a zona em “Espaço de Paz e
Segurança duradoura para os Estados e os Povos, de estabilidade Política e Social, de
Crescimento e Desenvolvimentos partilhados”

Portanto, qualquer Estado da condição de Angola partilhando uma fronteira comum


com um País instável e praticamente sem Estado como foi a RDC antes da presidência de
Sr. Presidente Joseph Kabila, leva só por esse facto a elaborar uma estratégia no sentido de
fazer face a qualquer ameaça sob o seu território. Essas estratégias no caso concreto de

26
Angola foram consubstanciadas em ações militares. Neste contexto a intervenção militar
de Angola foi uma auto proteção que serviu a afastar e estancar a ameaça militar longe das
suas fronteiras, a República de Angola faz a guerra na RDC para acabar com a guerra.
Segundo Woodrow Wilson: “A guerra para acabar com todas as guerras ”.

Esta, por sua vez, aproveitou do seu poderio militar para impor a paz, primeiro na
RDC sem ferir nem violar a sua Susceptibilidade soberana e procurando depois a
estabelecer de ponto de vista geopolítica uma política de boa vizinhança e em
conformidade com as normas que regem as relações entre Estado, definir uma parceria
nova com RDC de forma a estancar lutar contra os crimes organizados e grandes endemias.

Do ponto de vista geopolítico e geoestratégico, Angola procura manter uma política


do ponto de boa vizinhança com a RDC e tentar estender a sua influência em toda região
dos Grandes Lagos de forma a extinguir o conflito devido ao facto deste colocar desafios
constantes as organizações internacionais, haver na mesma, grandes tensões e problemas
que fazem com que algumas potências locais importantes como e o caso da Tanzânia e
Angola mostrarem interesses em manter, a Ordem na região dos Grandes Lagos.

A política demonstrada por Angola assenta-se na proteção dos interesses comuns, no


respeito mútuo, sobretudo trabalho no sentido de ter na região em especial na República
Democrática do Congo, as autoridades que desejam trabalhar, para fortalecer as relações
mútuas no interesse de dois países.

Uma vez que nessa região existe não só o conflito de identidades, entre os Hútus e
Tutsis mas existem também conflito devido ao controlo e exploração de riquezas naturais
inclusivo o conflito de terras tudo isso num ambiente de tensão caracterizado e agravado
por países com matrizes de colonização muito diferentes baseada no modo de pensar tanto
Belga, Alemão, ou Inglês.

Neste Xadrez, Angola teve de impor a sua presença militar, para apaziguar, foi esta
de marcha que Angola fez nos vários sentidos, tanto da geopolítica como o das
geoestratégias que resultou na pacificação e o término do conflito na RDC e não só como
em toda a região dos Grades Lagos.

A República de Angola ainda na sua condição de membro das Nações Unidas e


membro da SADC, nas quais a RDC faz paz parte. Procurou intervir política e
militarmente respeitando as normas do Direito Internacional para ajudar o país vizinho a

27
ultrapassar o impasse em que se encontrava e consequentemente fazer com que a ordem e a
estabilidade seja a tónica dominante.

3.2. A posição de Angola em Relação ao Conflito no Leste da RDC

É importante para compreensão deste ponto fazer-se uma analise a cerca da relação
existente entre, a República de Angola desde 1975 e a República Democrática do Congo
em 1997.

A República de Angola alcançou a sua Independência Nacional a 11 de Novembro


de 1975, através dos três movimentos de libertação nacional o MPLA, FNLA, e UNITA,
foi o desencadear de um conflito entre os três movimentos de libertação nacional, pois o
contexto da guerra-fria ditava o comportamento político dos três movimentos onde cada
um deles recebeu apoio do seu aliado ideológico sendo que o MPLA foi apoiado por Cuba
e URSS a FNLA e a UNITA pelo Congo ex-Zaire e os Estados Unidos de América,
França, África do Sul, e alguns países satélites de África francófona particularmente a Cote
d´Ivoire, e o Togo tendo desta forma o conflito ganhar contorno internacional.

O Zaire que após a derrota da FNLA desfez-se da aliança com a mesma unindo-se
então mais tarde a UNITA houve uma série de países implicados na guerra Angolana desde
1975 até praticamente 2002 altura em que se alcançou a paz definitivamente em Angola.
Luanda, na presença do Sr. Presidente da república, Sr. José Eduardo dos Santos, um dos
momentos singulares da história de Angola e do seu povo, consubstanciado no abraço
solidário e fraterno entre que garantiram o estabelecimento da paz em Angola.

Em pouco tempo da paz, a economia Angolana conseguiu proporcionar-se entre as


economias de mais rápido crescimento em todo o mundo, esta posição tornou o país de ser
um dos membros ativos da comunidade econômica global. Entre 1995 e 2004, o PIB de
Angola registrou um crescimento médio de 9% Em 2005, o crescimento das receitas do
petróleo fez subir o PIB cerca de 20% excluindo o petróleo e os diamantes, estima-se que a
taxa anual de crescimento de 2005 foi de 14% 79.

Desde a conquista da Paz, novos desafios se colocaram ao povo Angolano, pois


torna-se necessário continuar a enviar esforços para a sua consolidação, através do
desenvolvimento de um conjunto de ações, tendentes a combater a fome e a pobreza.

28
3.2.1 Teoria Deliberativa Segundo Jurgen Habermas

De acordo com a História das Ideias Políticas, Segundo o Filósofo e Sociólogo


Jurgen Habermas, todo o conhecimento é induzido ou dirigido por interesse, por isso que é
nuclear no seu pensamento. Não reduz os conflitos de interesse à luta de classes. Estes
surgem dos problemas que a Humanidade enfrenta, e aos quais tem de se dar uma
resposta. Segundo este, existe três tipos de interesse de acordo com uma hierarquia muito
própria: técnicos, comunicativos e emancipatórios. Para Jurgen Herbmas é importante
cultivar a troca de ideias, opiniões e informações entre os sujeitos históricos,
estabelecendo-se assim o diálogo. Propõe duas abordagens teóricas possíveis da sociedade:
o “Sistema” e o “Mundo da Vida”. O primeiro refere-se à chamada “Reprodução
Material”, regida pela lógica instrumental, ou seja, a adequação dos meios aos fins; o
Segundo, à “Reprodução Simbólica”, quer dizer, à rede de significados que compõem uma
determinada visão do Mundo, pertençam eles aos fatos objetivos, às normas sociais ou aos
conteúdos subjetivos.

Interações são comunicativas e pressupõem acordo e cooperação.

Jurguen Habermas expõe ainda nas suas obras uma concepção relativa a dois
problemas importantes dos finais do Séc XX: (1) a racionalidade da aplicação dos Direitos
do Homem no seio do Estado-Nação (CHEVALLIER E GUCHET, 2004). O seu ponto de
partida insere-se no desmoronamento da visão “Católica” do Mundo no aparecimento do
pluralismo. O princípio democrático, para o Autor, assume a forma de “Ética da
Discussão”, cuja execução corresponde à construção do sistema de direitos. Trata-se de um
processo que exige que os cidadãos comecem por reconhecer mutuamente uma plataforma
mínima de direitos, em que haja (1) liberdades subjetivas de ação iguais para todos, (2)
direitos vinculados à sua situação de membro da associação política e (3) direitos que
correspondem à proteção juridicial individual. Estes direitos sociais e fundamentais em
igualdade de oportunidades, executados através do processo comunicacional que engendra
uma ordem jurídica legítima. Assim, os direitos fundamentais, os mesmos para todos, por
hipótese, devem ser produtos da juridicidade da liberdade comunicacional de todos os
societários jurídicos, quer dizer, apenas são aceitáveis práticas políticas juridicamente
estabelecidas garantindo essa liberdade. A formação da vontade e da opinião perde toda a
validade se ela se efetuasse sob formas tais em que os direitos dos Cidadãos não fossem
observados. Assim, entre os Direitos do Homem e soberania popular existe o que Jurgen

29
Habermas chama de “coesão solidária”. Na sua perspectiva, apenas procedimentos
comunicacionais estritamente vinculados a um painel alargado de Direitos do Homem
permitem considerar como legítima a formação da opinião e da vontade popular.

O Filósofo e Sociólogo propõem um modelo normativo de Política Deliberativa, em


que este opera em dois níveis que se encontram interligados em concordância. Estes são, o
das Esferas Públicas Informal e Formal. A primeira baseia-se nas várias associações
voluntárias e movimentos sociais que compõem a sociedade civil, enquanto que a segunda
opera no seio de instituições políticas convencionais, obedecendo a condições de
Legitimidade Deliberativa-Democrática.

Cada uma destas esferas públicas políticas desempenha uma função específica,
naquilo que, no seu conjunto, pode ser encarado como um processo idealizado de
resolução de conjunto de problemas com que a sociedade se debate no seu todo. Como não
é possível eliminar a separação entre Estado e sociedade, visa-se superá-la apenas via
processo democrático. No entanto, a conotação normativa de equilíbrio de poder e
interesses é frágil e precisa ser complementada estatal e juridicamente. Mas ela se orienta
pelo lado output da avaliação dos resultados da atividade estatal. O êxito em tal processo é
medido pela concordância dos cidadãos em relação a pessoas e programas. Digamos que é
um sistema de “eclusa”.

A concepção deliberativa da Democracia considera a participação dos cidadãos nas


deliberações e nas tomadas de decisão o elemento central da compreensão do processo
democrático. Nesse sentido, focaliza os elementos formais e normativos, como a exigência
do aumento da participação dos cidadãos nos processos de deliberação e decisão e o
fomento de uma cultura política democrática. O procedimento da deliberação não é apenas
uma etapa de discussão que antecede a tomada de decisão. Mais do que isso, ela tem o
objetivo de justificar as decisões a partir de razões que todos poderiam aceitar. Esse é o
procedimento deliberativo da razão pública: fornecer um espectro de razões que poderiam
ser aceitas por todos os possíveis atingidos, ainda que nem todos compartilhem com o tema
ou assunto em questão, ou com a mesma filosofia de vida.

3.2.2. A Visão de Angola em Relação a Influência dos Grandes Lagos na Instabilidade


Política Social Económica na RDC.

30
Os vários conflitos existentes na Região dos Grandes Lagos africanos desde sempre
influenciaram na instabilidade da República Democrática do Congo. O genocídio do
Ruanda foi a base fulcral para que a instabilidade política social e económica aumenta-se
em grande número no território congolês.

Os EUA enviaram desde o início do conflito cerca de 60 instrutores na fronteira entre


o Congo e Ruanda, adotando uma atitude de neutralidade fase ao conflito, pretendendo
com os seus homens estancar o conflito ao mesmo tempo condenavam a violação dos
direitos humanos cometidas pela etnias Hútus e Tutsis. Sentindo-se incomodados com a
guerra, EUA, pediram a Sr. Presidente L. Kabila a instauração de um diálogo, com as
forças políticas do seu país para resolver os problemas étnicos que o conflito tinha gerado,
respeitar o direito e a segurança de todos os cidadãos e o por todos os países da integridade
territorial do Congo, de forma a resolver o conflito por meios pacíficos.

A França foi um dos países que lançou o conflito nesta região, exigiu o fim das
hostilidades na RDC, e pediu que se respeitasse a integridade territorial Congolesa e a
população civil. Para frança tinha chegado a hora de se criar na região do Grandes Lagos
verdadeiros Estados, com governos legítimos atentos aos problemas da população.

Já as potências colonizadoras decidiram não tomar parte nem contra nem a favor de
um ou outro beligerante, exigindo somente o respeito da integridade territorial do Congo e
o respeito das partes implicadas, no conflito pedindo que se pusesse fim as perseguições
dos Tutsis no Congo.

Quase todos os países adoptaram posições idênticas, baseadas em manter a


integridade territorial do Congo que potencialmente é um dos países mais rico em recursos
naturais em África.

Desde o princípio do conflito dos Grandes Lagos, os países Africanos,


individualmente ou por intermédio dos seus organismos regionais procuram formas
pacíficas para acabar com a crise.

Com o início do conflito que ficou sempre patente a preocupação de vários países
integrantes da comunidade internacional que de forma veemente condenaram as
atrocidades e exigiram a pacificação e respeito pelos direitos humanos e integridades dos
territórios ocupados

31
3.2.3. Os Conflitos no Leste da RDC
A situação no Leste da RDC, nomeadamente nas províncias do Kivu do Norte e Kivu
do Sul, continua preocupante, protagonizada pelas forças negativas denominadas M23,
Mai-Mai, as Forças Democráticas Aliadas do Uganda (ADF), que se encontram instaladas
no leste do país, onde são acusados de praticar ataques brutais contra civis, incluindo
violações e assassinatos, além de contrabando de ouro e carvão, promovendo desta feita, a
instabilidade económica, social, política, cultural e organizacional.
Tem havido apelos ao desarmamento feitos pelas Nações Unidas, União Africana,
SADC e Conferência Internacional sobre a Região dos Grandes Lagos.
“É uma questão muito preocupante. As Forças Armadas da RDC estão a levar a cabo
operações contra as forças negativas que operam no Leste do território. Estamos a ter
algum sucesso com as FLDR, mas temos dificuldades quanto às forças negativas
ugandesas da ADF, afirmou o ministro congolês, ao justificar a sua deslocação, numa
altura em que Angola ocupa, igualmente, a vice-presidência do órgão de Defesa e
Segurança da SADC.
A comunidade tinha exigido até 2 de Janeiro de 2016 a rendição incondicional  dos grupos
Rebeldes que operam no Leste da RDC, para, no caso de incumprimento, partir-se para a
operação militar contra os remanescentes das forças Rebeldes. 
Em Fevereiro, o enviado especial do secretário-geral da ONU para a Região dos
Grandes Lagos, Sr. Saydi Djinith, esteve em Luanda e elogiou a decisão de se criar e
realizar operações para neutralizar todas as forças negativas.
“A ONU espera ansiosamente pela completa implementação desta decisão”,
ressaltou o Diplomata, afirmando que é importante tomar posições para o combate da
rebelião na República Democrática do Congo, Burundi e noutros países da Região dos
Grandes Lagos, que vivem situações de instabilidade político-militar, e defendeu ainda a
contínua coordenação entre representantes da SADC, União Africana e outras entidades
deste órgão, de modo a inverter-se o quadro nestes países.
A grande preocupação da SADC e da Conferência Internacional sobre a Região dos
Grandes Lagos foi sempre no sentido de se obterem resultados nas operações militares com
o menor dano colateral possível, já que ao lado dos Rebeldes e guerrilheiros são sempre
populações civis e famílias.

32
3.3. A Contribuição de Angola na Resolução dos Conflitos no Leste da RDC
A política exterior de Angola é uma política clara e consequentemente de princípios.
Esses princípios estão consagrados na Lei Constitucional, levando a prática por forma
constante e coerente. São os princípios universais da coexistência pacífica, do respeito pela
soberania e integridade territorial e da não ingerência nos assuntos internos dos Estados, da
solução pacífica dos diferendos internacionais.

Com a proclamação da independência de Angola a 11 de Novembro de 1975, o país


debatia-se com a invasão do seu território a norte por forças do 3, 4, 5, 6 e 7 batalhões do
exército regular do Zaire (actual RDC) e a sul, pelo exército sul-africano que integravam
forças do chamado Exército de Liberação de Portugal (ELP).

A grande aproximação de Angola com a RDC, tentada pelo presidente Agostinho


Neto, depois da cessação da invasão do território Angolano pelo exército Zairense em
1975, tem vindo a ter altos e baixos. Estes últimos, naquela altura, provocavam em grande
parte pela convivência ou pelo menos a passividade das autoridades Zairenses a infiltração
de homens e material da UNITA, a partir do seu território.

A página de cooperação bilateral entre ambos países (Angola RDC) fortaleceu-se


com a primeira visita de Sr. Presidente Kabila (Pai), em 1998 e depois, a de Sr. Presidente
Joseph Kabila (Filho) a Angola, a convite do seu homologo Engᵒ. José Eduardo dos
Santos, Presidente da Republica de Angola, em Setembro de 2006.

Sempre em relação com a RDC, Angola partilha uma longa fronteira comum de
2.600 km². Este facto faz com que a estabilidade política na RDC seja sempre uma questão
preocupante para Angola, por simples razão que, como dizia Sr. Joaquim Alberto
Chissano, o ex-Presidente da República de Moçambique (1986-2005) que, a estabilidade
política na RDC daria um grande contributo no processo de pacificação e no
desenvolvimento sócio-económico nas regiões Central e Austral de África.

Segundo Sr. George Ola-Davies, a República de Angola teve uma participação ativa
no processo de pacificação da região, pelo que o contato permanente é incisivo, no quadro
da preparação da conferência.

As grandes contribuições de Angola na procura de vias para o reforço do bem-estar


dos Povos Africanos são visíveis, muito em particular na solução de conflitos e disputas
nas regiões central e austral, promovendo a adopção de uma pacto de segurança,
33
desenvolvimento, estabilidade e consolidação da paz, Democracia e boa governação nos
países dos Grandes Lagos. Estas contribuições juntaram-se com os esforços sub-regionais
conduzidos pelo Sr. Presidente Frederick Chiluba, da Zâmbia, que tinha mandato da
SADC, de se encontrar uma solução para o conflito para promover um acordo de cessar-
fogo.

As negociações do Sr. Presidente Chiluba deram bons resultados em 10 de julho de


1999, quando seis país (RDC, Angola, Namíbia, Ruanda, Uganda e Zambábue) assinaram,
em Lusaka, o Acordo de Cessar-Fogo para o fim das hostilidades entre todas as forças
beligerantes na RDC. Os atores não-estatais também foram convidados a firmar o cessar-
fogo. O movimento para a libertação do Congo um dos movimentos Rebeldes Congoleses,
firmou o acordo em 1ᵒ de Agosto, enquanto o segundo grupo Rebelde, o RCD, agora
dividido em dois grupos apoiados respectivamente por Ruanda e Uganda, assinou o cessar-
fogo um mês mais tarde.

Angola apoiou sempre o acordo que previa uma força adequada constituída e
organizada pelas Nações Unidas em colaboração com a OUA.

Em 21 de Setembro de 1999, Presidente José Eduardo dos Santos, numa ocasião de


visita oficial de Sr. George Ola-Davies, funcionário das Nações Unidades e porta-voz do
gabinete do representante especial do Secretário-Geral da ONU para a região dos Grandes
Lagos, em Luanda, recordou que os esforços realizados pela SADC em cooperação com a
OUA e a ONU enfatizaram que esperava então que a ONU empreendesse as medidas
necessárias para estabelecer uma força de paz, como previsto no acordo. Na ocasião,
Angola manifestou seu apreço pelo papel do Sr. Presidente Chiluba como pacificador e
conclamou ao apoio na implementação dos acordos de cessar-fogo de Lusaka (S/PV. 4047)
.

O papel de Angola revelou-se fundamentalmente para a manutençâo da estabilidade


na RDC. O envolvimento de Angola centrou-se no apoio para a formação das forças de
segurança e manutenção da lei e de ordem que permitiram a realização de eleições
legislativas e presidncias em 2006. Angola também prestou apoio material e técnico a
comissão eleitoral independente que liderou todo processo.

No dia 24/02/2013 foi assinado em Addis-Abeba, Etiópia, o Acordo-Quadro de Paz,


Segurança e Cooperação para a RDC e a Região doa Grandes Lagos, com finalidade de

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garantir a estabilidade da Região, salvaguarda da paz, segurança, soberania e integridade
territorial da RDC, mais propriamente no leste.
No âmbito deste acordo Quadro-Acordo, foram desenvolvidos esforços
internacionais ao nível das Nações Unidas, da União Africana, da Conferência
Internacional sobre a Região dos Grandes Lagos e da SADC, que possibilitaram os acordos
de paz alcançados entre o Governo da RDC e os rebeldes do M23 e eleições no ano de
2018.
Em consequência deste, a 23/08/2017 foi assinado em Luanda, o Mecanismo
Tripartido de Diálogo e Cooperação entre Angola, África do Sul e RDC, em que tem como
objectivo fortalecer e aprofundar a parceria estratégica e duradoura dos três países e apoiar
a consolidação da paz e a estabilidade da RDC, de modo a permitir uma melhor
concertação e articulação das ações dos três países no domínio político, Diplomático,
económico, social e cultural, com benefícios recíprocos para os seus povos.
Sem esquecer de focar no desenvolvimento do Corredor do Norte.
Conforme o mesmo, a 26/10/2016, a nossa capital, Luanda acolheu a reunião da
Conferência Internacional sobre a Região dos Grandes Lagos (CIRGL) sobre a crise na
República Democrática do Congo. Num ambiente de cordialidade e de consenso, após a
maioria Presidencial que suporta o Presidente Congolês, os partidos da oposição e as forças
da sociedade civil integradas no Diálogo da Paz mediado pela União Africana chegarem a
um acordo sobre as grandes questões que dividiam o País. Onde a posteriori, o ministro das
Relações Exteriores de Angola esteve em Kinshassa para presenciar assinatura de um
acordo que adia as eleições gerais da RDC para 29 de Abril de 2018 e permite ao
Presidente Joseph Kabila governar até à realização das eleições em Abril de 2018 e
também com especial atenção aos conflitos na região do leste da RDC, motivo pelo qual
levou a fuga de refugiados para Angola.

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CONCLUSÃO

O conflito nas relações internacionais é analisado com base em diversas posturas.


Uma delas é a teoria do choque de civilizações, que explica os grandes movimentos
políticos e culturais da história através das influências recíprocas que as várias civilizações
exercem entre si. Neste contexto, uma civilização é uma cultura fechada com uma tradição
hermética e impermeável, que entra em conflito na hora de se relacionar com as outras
civilizações diferentes.

Verificou-se que à sua complexidade, não se pode restringir aos conflitos da RDC,
mas deve-se trazer à baila toda a filosofia política da luta pelo poder e pelos interesses das
grandes potências no palco africano, considerando, com um mínimo de realismo, o cenário
mundial da guerra fria, transladada nos Estados africanos conforme a tendência ideológica
de seus dirigentes. 

A resolução dos conflitos na RDC se insere na lógica da segurança colectiva


umbilicalmente ligada aos princípios e propostas da Carta da ONU em sua dimensão
jurídica de “manter a paz e a segurança internacionais”, sob a responsabilidade e com a
autorização do Conselho de Segurança, evitando-se, dessa forma, ameaça à paz,
reprimindo atos de agressão ou outra qualquer ruptura da paz, de conformidade com as
disposições do capítulo VII da Carta da ONU. 

A importância da atuação da República de Angola respondia as exigências


geoestratégias e geopolítica da sua política interna, tendo em conta a sua longa fronteira
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(2500Km) com um dos países vizinhos da região, a República Democrática do Congo, a
República de Angola não podia ficar impávida diante da instabilidade que se tornava
crónica na RDC ameaçando a sua segurança.

Do ponto de vista geopolítico e geoestratégico, Angola procura manter uma política


do ponto de boa vizinhança com a RDC e tentar estender a sua de formas a extinguir o
conflito devido ao facto deste colocar desafios constantes as organizações internacionais.

O papel de Angola revelou-se fundamentalmente para a manutençao da estabilidade


na RDC. O envolvimento de Angola centrou-se no apoio para a formação das forças de
segurança e manutenção da lei e de ordem que primitiram a realização de eleições
legislativas e presidencias em 2006. Angola também prestou apoio material e técnico a
comissão eleitoral independente que liderou todo processo.

Em relação a pergunta de partida qual é o papel de Angola na Resolução do conflito


no leste da Republica da RDC? Considerou-se que a única hipotese apresentada responde
ao problema levantado: segundo o qual no conflito que afecta a RDC, Angola tem
colaborado para a busca da paz e estabilidade no plano económico, social e político através
de planos de defesa e segurança na Região.

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SUGESTÕES

Sugere-se as entidades mediadoras de direito, que pautem por uma postura realista em
toda a sua esfera de acção;

Sugere-se ainda que não se deve deixar essa situação continuar a caminhar conforme
tem ido, pois que não se deve transforma este conflito em referências bibliográficas,
mas em referências de exemplos para dizer-se e escrever: diga não a guerra a Guerra na
RDC.
Por fim, que o nosso estimado país seja sempre mediador, ponta de lança para a criação
e salvaguarda da paz no continente e em particular na RDC.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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