Você está na página 1de 19

Periodizaçã o da Economia de Moçambique.

Ernesto Samo, Agosto 2018

UNIVERSIDADE SÃO TOMÁS DE MOÇAMBIQUE


LICENCIATURA EM ECONOMIA

ECONOMIA DE

Periodização da Economia
(1498-2018)

Maputo, 08 de Agosto de 2018

ernesto da silva samo | INSTITUTO NACIONAL DE ESTATISTICA


PERIODIZAÇÃO DA ECONOMIA DE MOÇAMBIQUE. ERNESTO SAMO, AGOSTO 2018

PARTE 1

Situação Geográfica e Alguns Aspectos Relevantes


Moçambique situa-se na zona austral e na costa oriental de África. Com uma supefície de 799.380
quilómetros quadrados, faz fronteira a norte com a Tanzania, a ocidente com o Malawi, Zambia, Zimbabwe e
África do Sul, e a Sul com a Swazilandia e a África do Sul. A sua faixa costeira, na zona este do território, é
banhada pelo oceano Indico, numa extensão de 2.515 quilómetros.

A economia moçambicana, basicamente agrícola (80%), assenta em grande medida na produção familiar
camponesa. A economia socialista havia orientado os investimentos nesta área para as grandes machambas
estatais (farms) e a produção e organização dos camponeses em aldeias comunais. A liberalização da
economia e o fim da guerra dos 16 anos, melhoraram a situação da produção alimentar mas, não resolveram
os constrangimentos que impedem o crescimento e expansão desta actividade, bem como do comércio rural.
A indústria manufactureira desenvolvida no país durante o sistema colonial tinha uma base frágil. A política
socialista tinha como objectivo fazer um investimento na indústria pesada. Com a guerra e o processo de
privatização, crescem as taxas de desemprego na indústria manufactureira, em crise.

Moçambique tornou-se independente em 1975, depois de uma luta armada de libertação nacional. A
FRELIMO - Frente de Libertação de Moçambique, que havia conduzido a luta durante 10 anos, formou o
primeiro governo, com um programa de trabalho orientado para a construção de uma sociedade socialista.
Em 1976 surgiram os primeiros indícios de desestabilização em Moçambique, cujo desenvolvimento atinge a
forma de uma guerra civil alargada a todo o país, sobretudo na década de 80, opondo o governo e a
RENAMO - Resistência Nacional de Moçambique. A desestabilização provocada por estes conflitos internos
é agravada por agressões militares que a Rodésia faz a Moçambique, mais tarde transferidas para o regime de
apartheid da África do Sul. Apenas em 1992, com a assinatura do ‘Acordo Geral de Paz’ entre a FRELIMO e
a RENAMO, cessam as hostilidades e inicia-se um processo de paz e reconciliação.
A década de 80 marca a transição de uma economia centralmente planificada para uma economia aberta, de
mercado. Nos anos 90, concretiza-se a transição política anteriormente iniciada, onde se destaca a introdução
de uma constituição pluralista e a emergência de um processo de descentralização política e administrativa.
Com estes aspectos considerados relevantes, pretende-se mostrar um resumo informativo sobre a evolução
dos acontecimentos políticos, económicos e sociais em Moçambique, no período pós-independência dando
mais enfoque às estratégias de desenvolvimento do país no campo político e económico.

Periodização da Economia de Moçambique


Existe muita bibliografia tanto em português como em inglês sobre o presente assunto utilizando
periodizações semelhantes, ou mais ou menos diferenciadas, o que reflecte também diferentes orientações e
interpretações dos impactos dos diversos acontecimentos internos ou externos, sobre o desenvolvimento do
país. Muito embora o nosso enfoque se concentre num passado mais recente, começaremos a nossa
apresentação por introduzir o período colonial, uma forma de introduzir os problemas de transição do
colonialismo para a independência.

1. O Periodo Colonial vs Antes da Independência (1498-1974)


Entre a chegada do primeiro navegador português (Vasco da Gama) a Moçambique (1498) e o controle
efectivo do território e a instalação da administração colonial, decorreu um processo difícil de dominação das
diversas organizações políticas africanas que detinham o poder no território. A ocupação efectiva ocorreu em
finais do século passado, com a dominação do Estado de Gaza no sul do país, embora apenas na década de 20,
a administração colonial tenha passado a assumir um real controle do território.
O desenvolvimento do colonialismo Português em Moçambique, pode ser grosseiramente dividido em três
períodos:

i)1885-1926: com uma economia dominada por grandes plantações exploradas por companhias majestásticas
não portuguesas onde se praticava a monocultura de produtos de exportação (sisal, açucar e copra), no centro

2
PERIODIZAÇÃO DA ECONOMIA DE MOÇAMBIQUE. ERNESTO SAMO, AGOSTO 2018

e norte do país, com base em mão de obra barata. As companhias, por sua vez, também controlavam o
mercado da venda de força de trabalho para países como a Rodésia, Malawi (Niassalândia), Tanganhica,
Congo Belga e em alguns casos a África do Sul (WUYTS, 1980:12-13). No sul, predominava a exportação de
mão de obra para alimentar o capital mineiro da África do Sul. Os acordos assinados entre Portugal e a África
do Sul para a exportação da mão-de-obra, traziam rendimentos específicos ao Estado colonial, quer através de
impostos, quer da utilização dos caminhos de ferro que ligavam o porto de Lourenço Marques à África do
Sul, quer ainda através da utilização do próprio porto, para o trânsito de mercadorias;

ii)1926-1960: sob influência da construção do nacionalismo económico, este período é marcado por uma
intensificação do trabalho forçado e integração crescente da economia de Moçambique numa economia
regional dominada pela África do Sul. O princípio do trabalho forçado e da introdução de culturas forçadas
marcam este período, como uma forma de proteger a burguesia portuguesa, incapaz de concorrer com o
capital mineiro e com as plantações, no acesso à mão de obra.

iii)1960-1973: As mudanças políticas mundiais e a crise do regime de Salazar durante este período levaram a
diversas reformas políticas e económicas, que conduziram, entre outras medidas, à abolição do trabalho e das
culturas forçadas e ao traçar de novas estatégias de desenvolvimento para as colónias. Algumas das
consequências das reformas políticas levaram à modernização do capital, com a abertura da ecomonia ao
investimento estrangeiro. É neste período e neste contexto de modernização do capital que se fazem
investimentos na indústria manufactureira.
A economia colonial sobreviveu durante muitos anos na base de uma dependência de dois sistemas, o
trabalho migratório e o trabalho e agricultura coercivos, mesmo depois da abolição formal das culturas e do
trabalho forçado. O colonialismo português introduziu mecanismos impeditivos do crescimento de uma
burguesia negra, agrícola ou comercial. Assim, embora houvesse uma diferenciação de classe e até mesmo
alguns ‘koulaks’ e pequenos comerciantes, o sistema de produção agrícola e industrial manteve-se nas mãos
da burguesia portuguesa (FIRST, R., MANGHEZI, A., et al ,1983; CEA,1998; WUYTS, M. &
O’LAUGHLIN, B.,1981).
Um olhar sobre a rede de estradas e caminhos de ferro de Moçambique, no período colonial, facilmente nos
ajudará a avaliar a orientação destes para uma economia de serviços, que ligava os países do ‘hinterland’
ao exterior, através dos portos moçambicanos. Cerca de metade das divisas de Moçambique eram geradas
pelos serviços de transportes e portos para os países vizinhos.
Nos anos 60, a FRELIMO, Frente de Libertação de Moçambique, fundada no exílio, inicia a luta armada de
libertação nacional (1964), que só veio a culminar 10 anos depois.
No processo de luta, a FRELIMO criou as ‘zonas libertadas’, áreas no interior do território moçambicano fora
do controle da administração portuguesa, funcionando como um ‘Estado dentro de um Estado’, com um
sistema próprio de administração, com formas colectivas de produção e de comercialização e a implantação
de bases democráticas (ADAM, 1997: 4). Tal modelo acabou por ser mais uma utopia do que uma realidade,
tendo porém, pelo menos até certo ponto, servido de inspiração para traçar o modelo socialista de
desenvolvimento implantado em Moçambique depois da independência, onde se pretendia negar quer os
modelos de desenvolvimento coloniais, quer os neo-coloniais.

2. Consolidação da Independência Nacional e Transição (1974-1977)

Com o cessar-fogo e a assinatura dos ‘Acordos de Lusaka’ em Setembro de 1974, sucede-se a criação de um
governo de transição, composto por representantes da FRELIMO e do governo português, cuja duração se
estende até à independência nacional de Moçambique, a 25 de Junho de 1975.
As mudanças operadas em Moçambique pelo sistema de administração portuguesa em finais do período
colonial, não foram suficientemente abrangentes de modo a criarem uma elite negra educada. Na altura da
independência, Moçambique tinha uma população com um percentagem de 90% de analfabetos, um número
reduzido de técnicos e pessoas com formação superior. No geral, havia poucas pessoas preparadas para
preencherem os lugares abruptamente deixados pelos portugueses. É importante registar que o êxodo de
portugueses e de alguns indianos neste período entre a transição e o pós-independência, foi acompanhado por
uma ‘sabotagem’ da economia de Moçambique, que pode ser caracterizada pelo esvaziamento das contas
bancárias, fraudes na importação de mercadorias e exportações ilegais de bens (carros, tractores,

3
PERIODIZAÇÃO DA ECONOMIA DE MOÇAMBIQUE. ERNESTO SAMO, AGOSTO 2018

maquinaria,etc). Na mesma altura, empresas e bancos portugueses procederam ao repatriamento do activo e


dos saldos existentes, criando assim um rombo na economia de Moçambique.
Logo após os primeiros anos de independência, a África do Sul iniciou um processo de repatriamento de
trabalhadores moçambicanos com contratos nas minas, e o fluxo de recrutamento de trabalhadores sofreu uma
redução nos anos seguintes (de 120 000 para 40 000 num só ano) (HERMELE, 1998). Este processo foi
acompanhado por um redireccionamento da utilização dos serviços dos portos e caminhos de ferro de
Lourenço Marques, pela África do Sul (recorde-se que por altura da independência nacional, mais de 90% dos
serviços prestados pelos portos e caminhos de ferro de Moçambique eram direccionados para os países
vizinhos). Em 1976,Moçambique adere às sanções das Nações Unidas contra a Rodésia (Zimbabwe) e encerra
as suas fronteiras com este país. Recorde-se que a Rodésia era uma importante fonte de captação de divisas
para Moçambique, não só através da utilização do porto e dos caminhos de ferro da Beira, para o transporte
de mercadorias de trânsito, mas também através do consumo de derivados do petróleo provenientes da
refinaria em Maputo, para suprir os problemas de uma economia embargada. O encerramento das fronteiras
com a Rodésia, para além das consequências económicas mencionadas, trouxe também um processo de
desestabilização a Moçambique (HANLON, 1997), como será referido mais à frente. Com uma economia
largamente dependente dos serviços prestados aos países vizinhos, e na sequência do novo tipo de relações
agora existentes com a Rodésia e a África do Sul, Moçambique viu assim drasticamente diminuída a entrada
de divisas para o país.

As calamidades naturais que afectaram o país entre 1977 e 1978, os efeitos da depressão sobre a economia
moçambicana, de base agrícola, agravados pelos aspectos acima mencionados, levaram o país a um declínio
económico em espiral .
O novo governo independente, deveria não só organizar o funcionamento da administração mas também
garantir a produção e os mecanismos necessários para manter uma economia operacional. Utilizando a sua
experiência das zonas libertadas e guiada por um programa de transformação socialista, a FRELIMO traçou
as suas estratégias para mudar a estrutura económica e social do país. As mudanças radicais preconizadas pelo
novo governo passavam necessariamente pelo exercício de um controle estatal nas zonas rurais e por uma
política de intervenção nos sectores económicos e sociais.
No seu processo de intervenção, com vista à massificação dos serviços sociais, o Estado procede à
nacionalização da saúde, da educação, da habitação e dos serviços de advocacia privada (1975), e mais
tarde a outras intervenções no campo económico.
A estratégia económica preconizada pela FRELIMO assentava na transformação social baseada na
modernização do campo através da criação de aldeias comunais com facilidade de acesso a infra-estruturas
sociais como a saúde e educação, aumento da produtividade através de um programa de introdução de uma
agricultura mecanizada nas machambas estatais, uma tentativa para inverter o processo de exploração colonial
dos camponeses, e onde o Estado passava a fazer a acumulação.

Caberia também às machambas estatais o fornecimento de alimentos às zonas urbanas, antes abastecidas
pelos farmeiros portugueses. Esta estratégia foi aprovada pelo 3º Congresso da FRELIMO, realizado em
Maputo, em Fevereiro de 1977, e era conhecida como a ‘estratégia de socialização do campo’. Neste
Congresso, a FRELIMO também declarou a sua passagem de Frente para um ‘Partido de Vanguarda
Marxista-Leninista’, com a missão de liderar, organizar, orientar e educar as massas, visando destruir as bases
do capitalismo e construir uma sociedade socialista.
As estratégias introduzidas pela FRELIMO depois da independência para manter a produção e a economia em
andamento, não conseguiram superar de imediato a crise económica que afectava o país:
‘Entre 1974 e 1976, a produção de colheitas para exportação diminuíu em 40%, o milho cultivado pelos
camponeses em 20%, a mandioca em 61% e a produção agrícola dos colonos (produtos hortícolas e
alimentares para abastecimento das cidades) em 50%. No mesmo período, a produção industrial baixou em
36%’ (NEWITT, 1997: 473; WUYTS, 1985: 186).
Os mesmos factores contribuíram ainda para a criação de dívidas de importação. Assim, os trabalhadores
desempregados do sector agrícola e das minas sul-africanas iniciaram um processo de migração para as
cidades. Numa tentativa de controle da crise, o governo criou a Comissão Nacional de Abastecimentos. Nesse
processo, foi introduzido um sistema de controle de preços e um cartão de racionamento, o ‘cartão de
abastecimento’, por cada agregado familiar.

4
PERIODIZAÇÃO DA ECONOMIA DE MOÇAMBIQUE. ERNESTO SAMO, AGOSTO 2018

‘A estratégia de desenvolvimento permitiu um total monopólio pelo poder do estado, e a sua hegemonia
sobre todas as forças económicas e políticas’ (ADAM, 1997: 5-6).

3. O Periodo Pós-Independência

3.1. A Construção do Socialismo (1977-1983/4)

Em Moçambique, o novo governo tentava introduzir uma política de desenvolvimento socialista.


A reestruturação radical da economia, através do modelo de economia centralmente planificada pelo Estado,
estava longe de solucionar os problemas advenientes da tentativa de suprir a crise económica resultante da
destruição da economia colonial e mostrou ser a menos adequada para a solução dos problemas económicos e
sociais existentes no país.

As medidas económicas preconizadas pelo Estado, tinham marginalizado os camponeses familiares a favor do
desenvolvimento de uma agricultura mecanizada, destruindo assim o sistema que havia garantido a maior
parte da produção para consumo interno e uma parte da produção para exportação deste país. Era pois
necessário repensar a estratégia e avaliar o papel a desempenhar pelo Estado na gestão da economia (ADAM,
1997: 6-7).

A guerra, a seca e as calamidades naturais alargaram o âmbito das pressões internas para alteração das
políticas da FRELIMO. A situação económica e social sofriam uma degradação crescentes. Em algumas
províncias era já visível o espectro da fome e era necessário mobilizar recursos para o pagamento da dívida
externa. As medidas de emergência para tentar suster a economia não poderiam ser permanentes. Era difícil
manter os níveis de emprego na indústria com baixos níveis de rendimento ou subsidiar a improdutividade das
machambas estatais e manter também os subsídios para a alimentação das populações urbanas ou para as
áreas sociais como a saúde, a habitação e a educação, que acabaram por conduzir a uma deterioração destes
serviços. Entrara-se já numa fase de ruptura do mercado, com uma hegemonia do mercado negro e uma
consequente baixa cambial.
Em contrapartida, as conversações para adesão ao Banco Mundial (BM) e ao Fundo Monetário Internacional
(FMI) avançavam progressivamente no cenário sócio-económico local , o que veio a resultar no lançamento
das reformas económicas. Em meados da década de 80, são visíveis os esforços da FRELIMO no campo
político e económico, para alterar as consequências negativas resultantes da estratégia de desenvolvimento
utilizada anteriormente.

3.2. A Abertura da Economia para uma Transição Política (1984-1992)

As pressões políticas no campo interno e externo e a necessidade de receber ajuda alimentar para superar a
crise económica e as consequências da guerra e das calamidades naturais levaram a FRELIMO a redifinir a
sua política externa: i) em 1982 o governo ‘começou a cortejar os Estados Unidos e a fazer a sua "viragem
para o Ocidente" (HANLON, 1997: 15); ii) em 1984, assinou o ‘Acordo de Nkomati’ com a África do Sul,
uma tentativa de cortar os apoios da África do Sul à RENAMO. Com este acordo, criaram-se também alguns
espaços para negociações sobre a mão de obra moçambicana, e sobre o fornecimento da energia eléctrica de
Cabora-Bassa para a África do Sul.
Depois de uma fase de economia centralmente planificada, em 1985 dão-se os primeiros passos para a sua
liberalização, o que leva a uma transição. Visando reverter as tendências negativas do crescimento económico
através de um reajustamento estrutural, em 1987 é introduzido o Programa de Reabilitaçao Económica
(PRE) e em 1990 o Programa de Reabilitação Económica e Social (PRES). O programa de ajustamento
estrutural, é um pacote que envolve o livre comércio, a desregulamentação e a privatização. O governo:
liberalizou os preços, praticamente terminou a sua gestão do mercado, cortou o seu orçamento nos sectores
sociais, e introduziu mudanças nas políticas da saúde e da educação, onde foi estabelecido um sistema que
atribui acesso com base no rendimento. As reformas económicas introduzidas em Moçambique, nas duas
últimas décadas levaram a uma revitalização da economia, o que não pode ser mecanicamente traduzido por
uma redução da pobreza. ‘A pobreza, entendida como ausência das condições para uma vida longa,
instrução e um padrão de vida aceitável, afecta a maioria esmagadora da população de Moçambique’

5
PERIODIZAÇÃO DA ECONOMIA DE MOÇAMBIQUE. ERNESTO SAMO, AGOSTO 2018

(PNUD, 1996: 81). Organizações como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional classificaram
este país na posição dos mais pobres do mundo.

O processo de transição política já embrionário na década de 80, tem a sua concretização nos anos 90. As
crises económicas sucessivas e os processos de transição que marcaram Moçambique entre 1974/75 e 1999
têm custos sociais, que se reflectem na qualidade de vida das populações. A necessidade de contrair os níveis
de consumo para os adaptar à realidade económica do país e a incapacidade e impossibilidade do Estado para
prover o bem estar social impede que se crie um sistema para a minimização dos efeitos sociais negativos das
reformas económicas, elevando os níveis de pobreza e o crescimento da exclusão, da reivindicação e da
violência.

3.3. Reconstrução de uma Nova Sociedade (1992-1994)

Em 1990 a FRELIMO introduziu uma nova constituição que permitia eleições multipartidárias, a liberdade
de imprensa e o direito à greve. Desde 1987 que se faziam esforços para estabelecer conversações entre a
FRELIMO e a RENAMO. Em Julho de 1990 o governo e a RENAMO deram início às conversações em
Roma e em Outubro de 1992, também em Roma, Joaquim Chissano e Afonso Dlakama assinaram o Acordo
de Paz. O processo de cessar fogo, a desmobilização e o repatriamento decorreram sem incidentes de maior, e
em Outubro de 1994, realizavam-se as primeiras eleições gerais (presidenciais e legislativas) e
multipartidárias em Moçambique.

3.4. Economia no Multipartidarismo e mais abertura para o exterior (1995-2018)

Em 1998 realizaram-se as primeiras eleições para os órgãos locais ou seja, eleições autárquicas, em 1999 as
segundas eleições gerais, em 2003 as segundas eleições autárquicas, em 2004 as terceiras eleições gerais,
em 2008 as terceiras eleições autárquicas, em 2009 as quartas eleições gerais, em 2013 as quartas eleições,
em 2014 as quintas eleições gerais e está previsto para 2018 as quintas eleições autárquicas e 2019 as sextas
eleições gerais. Por cada ano seguinte às eleições gerais, nasceram os respectivos Planos Quinquenais do
Governo (PQGs), com linhas gerais daquilo que o Governo pretendia realizar em cada quinquénio de
governação. O mesmo aconteceu nas autarquias, com parte dos planos desenhados para o desenvolvimento
local.

No intervalo 2013 à 2017, assiste-se uma circunstância em que o país está assolado por duas crises,
nomeadamente a Crise Política e a Crise Económica vs Financeira Internacional.

A Crise Política, em algum momento criou obstáculos no contexto da produção, distribuição e


comercialização dos produtos em diferentes sectores de actividade. Com o alastramento da
tensão, houve dificuldades na circulação de pessoas e bens de e para as regiões centro e norte do
país, criando atraso na distribuição de mercadorias que antes levavam 1, 2 ou 3 dias para chegar
ao destino e com a tensão este tempo dobrou e/ ou triplicou encarecendo desta feita alguns bens e
serviços, concorrendo assim, para o aumento da taxa de inflação. Esta crise intimidou os
agricultores que se viram obrigados a abandonar as suas machambas.
Crise Económica: A Economia de Moçambique tem uma extensa base agrária. Nos finais de 2015,
a estiagem que assolou o sul do país e houve abundância de chuvas no centro e norte, que
destruíram diversas culturas, criaram escassez de matéria-prima para a indústria, concorrendo
assim, para o aumento da taxa de inflação. Houve redução da força de trabalho em algumas
empresas industriais, concorrendo assim para o aumento da taxa de desemprego no país.
O Governo, viu-se obrigado a criar medidas e elaborar planos de contingência para fazer face às
calamidades naturais. No início de 2016, com o despoletar do assunto relativo às dívidas ocultas,
houve corte de financiamento ao orçamento do Estado por parte dos parceiros de cooperação
internacional, reduzindo desta feita, a capacidade do mesmo (Governo) em algumas intervenções

6
PERIODIZAÇÃO DA ECONOMIA DE MOÇAMBIQUE. ERNESTO SAMO, AGOSTO 2018

nos sectores de actividade como por exemplo, certos subsídios. A crise da dívida externa, na qual
o Governo viu-se desprovido de dinheiro para pagar o serviço da dívida entre outros, vai
agravando o estado de funcionamento dos diferentes sectores de actividade. Com isso quero dizer
que, perante o corte no orçamento, sem nenhum financiamento, o pouco que o Estado adquire
proveniente das receitas fiscais, a maior percentagem poderá ir para o pagamento da dívida, em
detrimento dos diferentes sectores de actividade. A subida das taxas de câmbio em 2016, fizeram
com que os bens e serviços de consumo final, consumo intermédio entre outros importados
ficassem cada vez mais caros. A estabilidade cambial acabou aparecendo, graças à intervenção
do Banco Central (Banco de Moçambique), aquando da revisão dos instrumentos de política
monetária e consequentemente, estamos assistindo a redução de preços dos diferentes produtos,
o melhoramento do ambiente climático e o encorajamento da população para o aumento da
produção de alimentos.
Ainda no período 2014-2017, houve tréguas ditas pelo líder da RENAMO. Foi uma fase ou período
que também teve o seu impacto na economia. Através das tréguas, iniciou um processo endógeno
de reconciliação nacional que tende a culminar com fim dos constantes conflitos entre o Governo e
a Renamo. Repito, pôr fim aos conflitos e não a trégua que parece uma recarga de telemóvel,
que se renovava ou se recarregava de 2 em 2 meses.

No 1º trimestre de 2018, o Presidente da República Filipe Jacinto Nyusi, depois das negociações
com o falecido Líder da RENAMO Afonso Macacho Marceta Dhlakama, falou acerca do “Processo
de Descentralização” e Remeteu o documento a respeito do assunto à Assembleia da República
para “apreciação e parecer”. Em Maio de 2018, o país foi surpreendido com o desaparecimento
físico de Afonso Dhlakama. Em Julho de 2018, alguns pontos que constam no documento
submetido a assembleia da república, foram aprovados. Assim, inicia um outro período que poderá
ter o seu impacto directo ou indirecto, negativo ou positivo sobre a Economia Moçambicana.

De 25 de Julho a 03 de Agosto de 2018, uma equipa do corpo técnico do Fundo Monetário


Internacional (FMI), visitou Moçambique para avaliar os desenvolvimentos macroeconómicos
recentes, actualizar o quadro macroeconómico para 2018-2019 e proporcionar contribuições para a
elaboração do orçamento preliminar de 2019. Detalhes sobre o assunto, podem ser lidos no
documento em anexo, disponibilizado pelo docente.

Aos 06 de Agosto de 2019, um ano após o 1º encontro em Gorongosa, os consensos de 11 de


Julho de 2018 na Cidade da Beira, culminaram com a assinatura de um memorando entre o
Governo e a RENAMO sobre os assuntos militares no que tange (i) ao desarmamento, (ii)
desmobilização e (iii) reintegração. O memorando visava definir o roteiro do que deve ser feito ou
seja, os passos subsequentes que dependiam do memorando assinado.

A presente brochura de apontamentos foi actualizada aos 08 de Agosto de 2018.

Referências Bibliográficas
 ABRAHAMSON,H.& NILSSON, A. (1995) Mozambique, the troubled transition. From socialist
construction to free market capitalism. London: Zed Books
 ADAM, Yussuf (1997) ‘Evolução das estratégias para o desenvolvimento no Moçambique pós-
colonial’. In: SOGGE, D.(1997), ed. Moçambique: perspectivas sobre a ajuda e o sector civil.
Amsterdam: Frans Beijaard, pp. 1-14.
 ANDRADE, X., LOFORTE, A., OSÓRIO, C., et al (1998) Famílias em contexto de mudanças em
Moçambique. Maputo: WLSA Mozambique e Centro de Estudos Africanos.

7
PERIODIZAÇÃO DA ECONOMIA DE MOÇAMBIQUE. ERNESTO SAMO, AGOSTO 2018

 BRITO, Luís (1980), ‘Dependência Colonial e Integração Regional’.Estudos Moçambicanos (1),


pp.23-32.
 BARNES, Sam (1998) Humanitarian Aid Coordination during the war and peace in Mozambique,
1985-1995. Nordiska Afrikainstitutet, studies on emergence and disaster relief, 7.
 BRAGANÇA, A.& DEPELCHIN, J. (1986) ‘Da idealização da FRELIMO à compreensão da
História de Moçambique’ Estudos Moçambicanos (5/6), pp29-52.
 CAHEN, Michel (1995) ’O Contexto político-documental da Investigação em História
Contemporânea e imediata da Africa Lusófona’ ARQUIVO (17), pp.125-158.
 CASIMIRO, Isabel (1998) ‘Exclusion and participation: women’s orgnizations in Mozambique. In:
CRUZ E SILVA, T.& SITAS, A. (1998).eds. Gathering Voices-perspectives on social sciences in
Southern Africa. ISA
 Centro de Estudos Africanos (1998) O Mineiro Moçambicano.Maputo
 Christian Michelson Institute (1997) Evaluation of Norwegian assistance to peace, reconciliation and
rehabilitation in Mozambique.
 CIMENT, James(1997) Angola and Mozambique: postcolonial wars in southern Africa. New York:
Facts on File.
 COELHO, João Paulo (1997) ‘A investigação recente da luta armada de libertação nacional: contexto,
práticas e perspectivas’ ARQUIVO (17), pp.159-179
 CRUZ E SILVA, T., SILVA, T., CARRILHO, L., et al (1998)Carências Sociais na Periferia da
Cidade de Maputo: os casos de Chamanculo, Albasini e Zimpeto. Maputo: Relatório de pesquisa.
 FIRST,R., MANGHEZI, A., at al (1983) Black Gold: the Mozambican miner, proletarian and
peasant. Brighton: Harvester Press.
 HALL, Margaret, & YOUNG, Tom (1997) Confronting Leviathan; Mozambique since independence.
London: Hurst & Company.
 HANLON, Joseph (1984) Mozambique, the revolution under fire.London: Zed Books, 1984.
 HANLON, Joseph (1997) Paz sem benefícios: como o FMI bloqueia a reconstrução de Moçambique.
Maputo: Centro de Estudos Africanos.
 Human Rights Watch (1994) Landmines in Mozambique. New York.
 HEDGES, David (1993) org. História de Moçambique: Moçambique no auge do colonialismo, 1930-
1961 (vol.3). Maputo: Departamento de História, Universidade Eduardo Mondlane.
 HERMELE, Kenneth (1988) Country Report Mozambique: war & stabilization. A mid-term review of
Mozambique’s economic rehabilitation programme (PRE), with implications for Swedish
Development Assistance. SIDA.
 HOILE, David (1989) Mozambique, a nation in crises.London: The Claridge Press.
 JOSE, Alexandrino (1998) ’The Social Sciences in Mozambique- some theoretical and institutional
questions’ in: CRUZ E SILVA, T. & SITAS, A. (1998).ed.
 Ministério do Plano e Finanças (1998) Pobreza em Moçambique: perfil, determinantes e implicações
para as políticas. Maputo.
 MUNSLOW, B. ed. (1983) Mozambique: the revolution and its origins.London: Longman.
 MARSHAAL, Judith (1993) Literacy, Power amd Democracy in Mozambique, the governance of
learning from colonization to the present. Oxford: Westview Press.
 MAZULA, B. (1989) ed. Moçambique, Eleições, Democracia e Desenvolvimento.
 MAZULA, B. (1995) Educação, Cultura e Ideologia em Moçambique: 1975-1985. Porto:
Afrontamento e Fundo Bibliográfico da Língua Portuguesa.
 NEWIT, Malyn (1997) História de Moçambique.Lisboa: Publicações Europa-América.
 PNUD(1998) Moçambique: paz, crescimento económico: oportunidades para o desenvolvimento
humano. Maputo: Relatório Nacional do Desenvolvimento Humano.
 REIS, Maria do Céu (1996) ‘Poderes e Saberes: Estado, financiadores e investigação, a África ao Sul
do Sahara e algumas questões’. Estudos Moçambicanos (14), pp.87-114.
 RITA-FERREIRA (1975) Povos de Moçambique: história e cultura. Porto: Afrontamento.
 STEPHENS, Jeanne (1991) The Political Economy of Transport in Mozambique: implications for
regional development.University of Sussex, IDS.
 SOGGE, David (1997), ed. Moçambique: perspectivas sobre a ajuda e o sector civil. Amsterdam:
Frans Beijaard.

8
PERIODIZAÇÃO DA ECONOMIA DE MOÇAMBIQUE. ERNESTO SAMO, AGOSTO 2018

 UNICEF (1988) Children in the Frontline. The impact of apartheid, destabilization and warfare on
children in Southern Africa.New York
 WUYTS, Marc (1980) ‘Economia Política do Colonialismo’.Estudos Moçambicanos (1). pp. 9-22.
 WUYTS, Marc & O’LAUGHLIN, Bridget (1981)’A questão agrária em Moçambique’ Estudos
Moçambicanos (3), pp.9-32
 WUYTS, Marc (1985) ‘Money, Planning and Rural transformation in Mozambique’. Journal of
Development Studies(22), pp.180-207.
 WUYTS, Marc (1989) Money and Planning for Socialist Transition. Gower, Aldershot.

ZACARIAS, Agostinho(1991)Repensando sobre Moçambique e África Austral. Maputo: Instituto Superior de


Relações Internacionais.

9
PERIODIZAÇÃO DA ECONOMIA DE MOÇAMBIQUE. ERNESTO SAMO, AGOSTO 2018

Quadro 1: Informações Complementares às anteriores

A ECONOMIA DE MOCAMBIQUE NO PERIODO POS INDEPENDENCIA


(1975-1999)

1975- dia 25 de Junho, declaração da independência Nacional e transformação de


Moçambique em republica popular,
* Aprovação da primeira constituição da republica popular pelo comité central da Frelimo a
20 de Junho de 1975. Em relação a orientação e estratégia de desenvolvimento de
Moçambique, são de destacar os seguintes artigos:
Artigo 6- a Republica Popular de Moçambique, tomando a agricultura como base e a
indústria como factor dinamizador e decisivo dirige a política económica no sentido da
liquidação do subdesenvolvimento e da criação de condições para elevação do nível de vida
do povo trabalhador. Na realização desse objectivo, o Estado baseia-se principalmente na
força criadora do povo e dos recursos económicos do pais concedendo um apoio total a
produção agrícola, promovendo um aproveitamento adequado das empresas de produção e
procedendo a exploração dos recursos naturais.
Artigo 8- a terra e os recursos naturais situados no solo e no subsolo nas áreas territoriais e na
plataforma continental de Moçambique, são propriedades do Estado.
Artigo 10- na Republica popular de Moçambique, o sector económico do Estado é o elemento
dirigente e impulsionador da economia nacional.
A propriedade do Estado recebe protecção especial sendo o seu subdesenvolvimento e
expansão, responsabilidade de todos os órgãos do Estado, organizações sociais e cidadãos.
Artigo 11- o Estado encoraja os camponeses e trabalhadores individuais a organizarem-se em
formas colectivas de produção, cujo desenvolvimento apoia e orienta.
Artigo 12- o Estado reconhece e garante a propriedade pessoal.
Artigo 13- à propriedade privada estão ligadas obrigações.
A propriedade privada não pode ser usada em detrimento dos interesses fixados na
constituição.
O rendimento e a propriedade privada estão sujeitos à impostos progressivos, fixados
Segundo critérios de justice social.
Artigo 14- o capital estrangeiro poderá ser autorizado a operará no quadro da política
económica do Estado.
 nomeação do primeiro governo da RPM, A 1 DE Julho de 1975, composto por 15
ministros e 3 vice ministros. Destaque para a criação do ministério do
desenvolvimento e planificação económica.
 Realização da primeira sessão do conselho de ministros (de 9 a 25 de Julho de 1975)
onde foram definidas as tarefas que, no âmbito da acção governamental competiam a
cada ministério.
 Nacionalização da terra, estabelecimentos de ensino e clinicas privadas e prédios de
rendimento. Intervencionamento de empresas abandonadas total ou parcialmente.
1978- introdução do primeiro plano estatal central:
 Definição de metas de produção pela comissão nacional do plano;
 Alocação de recursos financeiros, humanos e materiais através do plano estatal
central;
 Criação das unidades de direcção, para reforçar a direcção efectiva das empresas.
1979- aprovação do plano prospectivo indicativo (PPI), o plano de transformação socialista
em Moçambique, o plano da década da victória sobre o subdesenvolvimento. O PPI tinha
como objectivos principais:
 Promover uma radical transformação da estrutura económica e social da economia
moçambicana com a criação de um sector socialista dominante;
 Promover o aumento do nível de vida de todo o povo moçambicano com vista a
satisfação das suas necessidades básicas;
 Consolidar o poder político fortalecendo a base social da revolução, com o

10
PERIODIZAÇÃO DA ECONOMIA DE MOÇAMBIQUE. ERNESTO SAMO, AGOSTO 2018

crescimento de uma combativa classe operaria e de um campesinato forte.

Filosofia central do PPI: OS GRANDES PROJECTOS E 3 EIXOS


A- socialização do campo
 Criação de um forte sector estatal agrário e transformação da agricultura familiar
através de um dinâmico movimento cooperativo, com o enquadramento de milhões
de camponeses em cooperativas agrícolas;
 Criação de um operariado agrícola e de um campesinato cooperativista;
 Criação de condições para o aumento da produtividade no campo;
B- industrialização do país
 Criação de uma industria pesada e a incorporação de técnicas mais avançadas e
mecanizadas, como suporte indispensável para a socialização do campo;
 Criação de uma forte base operaria;
 Redução de assimetrias no desenvolvimento do pais;
C- Formação da força de trabalho
 Acção altamente planificada na formação;
 Conhecimento real da forca de trabalho existente como ponto de partida;
 Uniformização de critérios para a formação técnico /profissional;
 Redefinição dos métodos de alfabetização e educação de adultos;
 Definição de uma metodologia adequada para a formação de quadros para a
socialização do campo;
 Existência de um organismo coordenador de todas as acções de formação no exterior.
OS GRANDES PROJECTOS DE DESENVOLVIMENTO
Com um sector estatal dominante completado pelas cooperativas, as aldeias comunais, as
machambas estatais e outras iniciativas individuais (incluindo o capital estrangeiro),
estavam previstos os seguintes grandes projectos
 Projectos no vale do Save, Lúrio, Lugenda, Limpopo, Incomati e Zambeze
 Cahora-Bassa e a electrificação do centro, norte e sul do pais;
 Construção de barragens para a irrigação e produção de energia;
 Electrificação dos principais eixos ferroviários e rodoviários ligando o norte ao sul do
pais;
 Investimento de grande vulto na área industrial- ferro, aço, alumínio, químicos,
engenharia e montagem de veículos;
 Estudo aprofundado dos jazigos de carvão nas províncias de Tete e Niassa e dos
depósitos dos hidrocarbonetos já localizados;
 Inventariação de pedras raras, o conhecimento preciso da dimensão dos depósitos de
estanho, zinco, cobre e bauxite;
 A planificação de um grande impacto na alocação de recursos para a industria
(recursos externos) e no controle de salários e preços.

1980- ofensiva política e organizacional em todas as frentes. Foi uma ofensiva de longo
alcance contra o burocratismo, a corrupção, a ineficiência, a indisciplina, a negligência, o
esbanjamento de recursos materiais e financeiros, a apatia e a destruição de bens e
equipamento.
1983- liberalização de preços de hortícolas, frutas e vegetais, em cumprimento do
programa de acção económica aprovado no quarto congresso da Frelimo, de 26 a 30 de
Abril.
A reflexão sobre a estrutura económica e social de Moçambique, agravada por factores
adversos que ocorreram nos oito anos após a independência nacional, foram o ponto
central das discussões e decisões do 4º congresso do partido Frelimo, que marcaram o

11
PERIODIZAÇÃO DA ECONOMIA DE MOÇAMBIQUE. ERNESTO SAMO, AGOSTO 2018

primeiro passo para a introdução da economia de Mercado em Moçambique.


1994 (Dezembro)- início do funcionamento do primeiro parlamento moçambicano
multipartidário. Aprovação do programa do Governo 1995-1999. Inicio de um processo
de transição para a estabilização social e política, após um periodo longo em que a vida
nacional se foi gerindo num quadro de emergência.
Programa quinquenal do Governo (1995-1999). Estabelecia como objectivos prioritários a
realização de acções que resultassem na garantia da paz, estabilidade e unidade nacional,
o emprego e desenvolvimento rural, para a redução dos níveis de pobreza absoluta e
melhoria do nível de vida das populações. Estes objectivos estavam inseridos em quarto
áreas fundamentais:
1. Desenvolvimento social;
2. Desenvolvimento económico;
3. A organização do estado;
4. A política externa.

PARTE 2

1. Conferência de Berlim (1884-1885)

12
PERIODIZAÇÃO DA ECONOMIA DE MOÇAMBIQUE. ERNESTO SAMO, AGOSTO 2018

Quando as colónias se tornaram uma componente fundamental da fase imperialista, na segunda metade do
século XIX, os principais financiadores e credores de Portugal (Inglaterra, Alemanha e França)
procuraram tirar o máximo partido da exploração das colónias portuguesas. Foi neste contexto que entre
conflitos, arbitragens e tratados, se inseriu o traçado das actuais fronteiras de Moçambique.
De um modo geral, as fronteiras em muitos lugares de África foram definidas obedecendo à vontade dos
diplomatas intervenientes, sem um conhecimento real das regiões em causa.

2. Os Tratados e as Fronteiras Moçambicanas


Em 1898, a Alemanha e Grã-Bretanha assinaram o Tratado de Westminster que previa a distribuição de
territórios (colónias) de Portugal caso este fosse obrigado a ficar sem eles. Deste tratado, os britânicos
ficariam com o Sul de Moçambique e o Centro de Angola, enquanto aos alemães caberia o norte de
Moçambique, o norte e centro de Angola.
Este tratado serviu às grandes potências em termos de:
- actividades comercias;
- investimentos;
- actividades de missionários (serviu também para diminuir a tensão sobre os portugueses em relação à
perda das colónias.
Em consequência disso, as fronteiras moçambicanas foram mais tarde produto de negociação entre a Grã-
Bretanha e Portugal.
A ameaça do poder britânico no Transval levou a Grã-Bretanha um acordo secreto com os portugueses- o
Tratado de Windsor que garantia a Portugal a segurança de posse de suas colónias.
Até 1890, o norte de Moçambique era desconhecido para os portugueses.
Por volta dos anos 1900, largas áreas de Moçambique eram controladas por companhias estrangeiras.
Por volta de 1913, a Grã-Bretanha renovou o tratado de Windsor pois, já alcançara uma parte das suas
pretensões.

3. Companhias Majestáticas

As companhias majestáticas são as grandes companhias que recebiam permissão de sua majestade ou seja,
eram autorizadas directamente pelo rei de Portugal a explorar terras do seu domínio e a conceder terras à
terceiros (pequenas companhias arrendatárias). Nas suas terras, tais companhias detinham um poder e uma
autonomia absolutos, não se fazendo por isso sentir a presença da burguesia portuguesa.

a) Companhia de Moçambique (1888/1891-1942), reestruturada em 1891 com poderes de:


- fazer subconcessões;
- cobrar impostos;

13
PERIODIZAÇÃO DA ECONOMIA DE MOÇAMBIQUE. ERNESTO SAMO, AGOSTO 2018

- emitir selos;
- cunhar moeda
A companhia de Moçambique com uma concessão para 25 anos (extendida em 1897 e prevista para
terminar em 1942) foi dada pelo governo português uma missão de pacificar o território sob seu controlo
(do Rio Zambeze à Latitude 22º) à sul do Rio Save.

b) Companhia do Niassa (1891) com poderes para:


- cobrar impostos aos camponeses;
- controlar o emprego;
- cobrar os direitos e emolumentos aduaneiros.
A Companhia do Niassa, cuja área de 100.000 Km quadrados se estendia ao norte do Rio Lúrio e tinha
sido dada uma concessão de 35 anos, contados apartir de 1894.

4. Companhias Concessionárias/ arrendatárias


Constituem um conjunto de empreendimentos económicos que arrendavam terras do Estado colonial
português ou companhias majestáticas. Ocupavam-se apenas da exploração económica reconhecendo a
soberania territorial de Portugal ou da companhia. Daí que tais companhias não tinham os mesmos
previlégios que as companhias majestáticas. Desenvolveram os sistemas de plantações e por vezes
podiam ocupar-se também da exploração da mão-de-obra. Aqui, a burguesia portuguesa apresentava-se
como agentes da autoridade pois, tinham muito poder e influência.
a) Companhia da Zambézia (1892), que resultou da fusão da Sociedade dos Fundadores da
Companhia Geral da Zambézia, criada em 1880 com Central Africa Zoutpamberg
Exploration Company;
b) Companhia do Borror (1898);
c) Companhia do Madal (1904);
d) Sociedade do Madal (1904);
e) Empresa Agrícola do Lugela (1906);
f) Sena Sugar Estates (1920);
g) Incomati Sugar Estates (1914)

14
PERIODIZAÇÃO DA ECONOMIA DE MOÇAMBIQUE. ERNESTO SAMO, AGOSTO 2018

5. Sul de Moçambique e o Trabalho Migratório

5.1. Causas
O trabalho migratório deveu-se em grande parte:
- ao avanço do desenvolvimento do capitalismo na África Austral, em especial na colónia britânica do
Natal, devido à:
1. introdução das plantações da cana sacarina no Natal em 1850;
2. abertura das minas de diamante em Kimberley em 1870;
3. exploração do ouro em Lydenburg- leste de Transval em 1874;
4. abertura de novas minas de ouro nas áreas central e sul do transval
(Witwatersrand);
5. construção das linhas férreas Lourenço Marques- Transval para
servir estes centros em 1892;
- à crise ecológica no começo dos anos 1860 (seca e fome) e com ela a procura de sobrevivência;
- a proibição do uso da mão-de-obra nativa na África do Sul;
- às guerras de resistência dos estados africanos ao avanço do poder colonial que se verificava em Gaza
e Maputo entre 1894-1897;
- nível de salários baixos no sul de Moçambique e em consequência, existência de medidas
administrativas para regular e restringir a mobilidade da mão-de-obra (introdução da Lei do passe em
relação à emigração e à residência em Lourenço Marques).

5.2. Consequências
- falta de mão-de-obra em algumas zonas do interior de Moçambique;
- o subdesenvolvimento económico de Moçambique;
- a criação de um ambiente favorável à colonização, pois havia fraca resistência;
- crescimento de empreendimentos comerciais em Lourenço Marques e Gaza;
- início frequente do trabalho migratório para as minas de ouro do Leste do Transval;
- expansão da rede comercial no interior, largamente controlada pelos asiáticos e que absorvia os
salários dos mineiros. Facto que leva à monetarização da economia que com escassez do gado,
substitui o dote para o pagamento nupcial (lobolo).
Anos depois, o sistema económico da RSA alterou e diminuiu a procura de mão de obra nas fábricas o que
diminuiu o número de moçambicanos naquele país. O decréscimo da economia na RSA, Rodésias no Norte e
Sul e Nyassalândia, reduziu o tráfico nos caminhos de ferro e portos de Lourenço Marques e Beira,
constituindo assim a quebra considerável do rendimento do Estado, reduziu as receitas e divisas vindas do
pagamento diferido e impostos sobre os emigrantes. É desta forma que o governo em 1934 se vê obrigado a
renegociar a convenção de 1928 com a RSA para garantir emprego de um mínimo de 65 000 trabalhadores
moçambicanos nas minas.

15
PERIODIZAÇÃO DA ECONOMIA DE MOÇAMBIQUE. ERNESTO SAMO, AGOSTO 2018

6. Acto colonial e a carta orgânica do ultramar

6.1. Acto colonial e a República de Moçambique Sob o Domínio da Monarquia e da República


Portuguesa

A Monarquia Liberal do século XIX aspirava à uma administração centralizada para as colónias.
No entanto, nos últimos anos da monarquia, as oportunidades de organização e desenvolvimento político
administrativo de Portugal nas suas colónias e particularmente em Moçambique foram muito limitadas pelas
concessões e pelos prazos. As concessões originais dos prazos tinham sido por 15 anos mas muitas delas já
haviam sido estendidas para 25 anos.
Com a República, Portugal prometeu uma maior autonomia às colónias no âmbito de uma administração mais
centralizada.
Promulgação do estatuto dos indígenas e a respectiva Secretaria dos Negócios Indígenas (1907).
Criação de hierarquias na Administração Civil: Divisão do país em Distritos e destes em Circunscrições
(Zonas Rurais) e Conselhos (Zonas Urbanas).

6.2. Carta Orgânica do Ultramar


Com Salazar há uma definição de novas relações económicas entre Portugal e seus territórios ultramarinos.
Segundo Salazar:
Os territórios ultramarinos eram uma “solução lógica para os problemas de sobrepopulação de Portugal,
para instalar cidadãos portugueses nas colónias e para que as colónias produzam matérias-primas para
vender à mãe pátria em troca de produtos manufacturados”.
Em consequência desta política do chamado Estado Novo, e no caso concreto de Moçambique, Portugal
precisava de alterar à seu favor o domínio do capital estrangeiro e precisava de desenvolver a sua indústria
têxtil e para tal era preciso garantir um crescente fornecimento de algodão barato a fim de se poder situar o
país numa posição competitiva no mercado mundial.
Para a concretização das suas pretensões, Portugal:
1. aboliu os poderes políticos administrativos que as companhias majestáticas que
operavam no norte e centro de Moçambique detinham, fazendo com que estas
passassem apenas a contar com a sua base produtiva. Assim, houve modificações

16
PERIODIZAÇÃO DA ECONOMIA DE MOÇAMBIQUE. ERNESTO SAMO, AGOSTO 2018

da estrutura de Moçambique colonial, pois a actividade do capital estrangeiro ficou


restringida à economia de plantações;
2. assinou em 1928 uma nova convenção com a África do Sul que prolongava a
integração já estabelecida de Moçambique no subsistema da África Austral
através do elo trabalho migratório- serviços de transportes. Esta convenção trazia
um novo elemento: a obrigatoriedade de pagamento do diferido por parte da
África do Sul e desta forma assegurar a entrada em Moçambique de divisas
estrangeiras de parte significativa da conta salarial dos mineiros;
3. intensificou, alargou, institucionalizou a prática do trabalho forçado e do cultivo
forçado de culturas de rendimento.
Estas medidas eram parte de uma estratégia de desenvolvimento da burguesia portuguesa que era
subdesenvolvida. Assim, os interesses da burguesia dos colonos e pequena burguesia local, tiveram de se
subordinar às necessidades de acumulação da burguesia portuguesa.
O aparelho repressivo do Estado tornou-se portanto um instrumento para instituir um sistema de acumulação
de capital assente na extracção da mais valia absoluta: quer directamente, através da venda forçada da força
de trabalho, quer indirectamente através do cultivo forçado das culturas de rendimento.
Neste contexto, é de destacar a circular de 1 de Maio de 1947 que obrigava todos os indígenas a trabalhar seis
meses por ano para o Governo, para uma companhia ou para um particular.

7. Primeira Convenção de Trabalho: 1909 (1 de Abril)- entre os governos da Província de


Moçambique e do Transval
Nessa convenção:
- garantiu-se a passagem por Moçambique de 50% do tráfego ferro-portuário para Witwatersrand;
- garantiu-se o monopólio do recrutamento à WENELA (Wittwatersrand Native Labour Association)
que podia actuar nas zonas moçambicanas sob o controlo governamental, à excepção do território da
Companhia de Moçambique;
- o governo português passaria a receber uma taxa (salário diferido) da WENELA por cada trabalhador
Moçambicano;
- estabeleceu-se que os produtos agrícolas e industriais originários de um ou outro lado da fronteira
poderiam circular para ambos os países sem taxas aduaneiras. Isso favorecia os proprietários rurais
sul-africanos e desfavorecia o capital agrícola português em Moçambique pois Portugal não tinha
capital para desenvolver o sul de Moçambique.

17
PERIODIZAÇÃO DA ECONOMIA DE MOÇAMBIQUE. ERNESTO SAMO, AGOSTO 2018

8. Segunda Convenção de Trabalho: 1928


Esta convenção:
- confirmou que 50% à 55% do tráfego de Witwatersrand devia transitar por Lourenço Marques;
- o número de moçambicanos nas minas deveria reduzir para 80 mil até 1933;
- diminuiu o periodo de contrato por um ano, renovável somente por seis meses;
- impôs o repatriamento compulsório depois destes anos com a proibição de novo contrato durante os
seis meses seguintes e estabeleceu formalmente o pagamento diferido.

9. Planos de Fomento em Moçambique e o Nacionalismo Económico de Salazar


9.1. O Nacionalismo Económico de Salazar
A sobrepopulação em Portugal constituía uma questão séria para as autoridades governamentais. Esta
sobrepopulação resultava do facto do desenvolvimento da indústria para as cidades que levou às altas taxas de
emigração, condicionados pelas relações sociais de produção prevalecentes em Portugal- domínio dos
latifundiários.

Houve um empenho activo do regime para:


 evitar que o fluxo da emigração não fosse para as colónias, isto com o
propósito de manter os colonos dentro da jurisdição de Portugal,
contribuindo para o rendimento nacional e disponíveis para o serviço
militar;
 fortalecer a base de apoio do regime transformando a força revolucionária
em potência, campesinato proletarizado, numa pequena burguesia colonial
e ou aristocracia operária;
 adoptar uma política de incorporação das colónias como províncias
ultramarinas de Portugal, negando assim formalmente a existência de uma
questão colonial.

9.2. Objectivos Gerais dos Planos de Fomento


Após a segunda guerra mundial, os Estados Unidos da América adoptaram o “Plano Marshall”, um plano
de ajuda à reconstrução da Europa Capitalista.
Portugal tendo se beneficiado pouco dessa ajuda, optou por copiar o modelo de reconstrução da Europa,
em que o Estado concentrava os seus esforços no desenvolvimento de infra-estruturas económicas,
criando assim a base para a industrialização capitalista do sector privado. É nesse contexto que a partir do
início da década 50, surgiram os planos de fomento em Portugal:
a) 1º plano: 1953-1958, concentrava-se na construção de infra-estruturas económicas e promoção da
imigração branca;

18
PERIODIZAÇÃO DA ECONOMIA DE MOÇAMBIQUE. ERNESTO SAMO, AGOSTO 2018

b) 2º plano: 1959-1964, dava ênfase à industrialização; (estudos científicos de geologia, solos


cartografia; investimento na agricultura de irrigação; investimento na área dos transportes e
investigações diversas)
c) plano de fomento intercalar (1965-1967), visava dar apoio especial ao sector de exportação;
d) 3º plano: 1968-1973, focava a industrialização;
e) 4º plano: 1974-1979, contemplava o processo de industrialização.

Tudo isso para:


 elevar o nível de vida dos portugueses;
 assegurar aos portugueses novas e melhores oportunidades de emprego;
 modernizar a técnica e o equipamento da agricultura e nas indústrias
daquele tempo com a absorção de braços em condições suficientemente
remuneradoras através da remuneração interna, da colonização ultramarina
e da instalação de novas indústrias.
Os planos de fomento das colónias sempre foram concebidos dentro de uma perspectiva de subordinar os
interesses das colónias aos da metrópole. A colónia era vista como fonte de acumulação para o processo de
industrialização em Portugal, e no caso concreto de Moçambique como colónia tinha de assumir o papel de:
 produzir matérias primas baratas para a indústria portuguesa (algodão,
açúcar, etc);
 ganhar divisas para a metrópole, através da exportação da mão-de-obra,
dos saldos dos serviços de transportes de mercadorias em trânsito, da
venda de matérias primas ao mercado mundial- cajú, etc;
 fornecer um mercado seguro para os produtos industriais de Portugal e
permitir ao mesmo tempo a migração de Portugueses para as colónias.
Da Descrição feita anteriormente, é fácil compreender que uma grande parte dos planos de fomento nas
colónias visava criar infra-estruturas económicas para a exploração colonial, em particular apoiando o
desenvolvimento da economia capitalista dos colonatos.
Os planos de fomento eram também caracterizados por ser parciais e restritos aos grandes investimentos a
efectuar pelo Estado na agricultura, nas vias de comunicação e nos meios de transportes, e aos investimentos
a fazer pelos particulares com auxílio directo e indirecto do Estado não só na agricultura e nos meios de
transportes, como também na instalação de novas indústrias e no desenvolvimento das existentes.
Os planos de fomento tinham um duplo carácter: imperativos, em relação aos investimentos exclusivamente
públicos, indicativos, no que respeita aos investimentos de natureza privada.

19

Você também pode gostar