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NAO-CUMULATIVIDADE DO
M S
Dimensão Normativa e Eficácia
53
699
A
livraria/
DO ADYOGADO
Teditora
NÃO-CUMULATIVIDADE DO ICMS
Dimensão Normativa e Eficácia
0285
C268n Cardoso, Anderson Trautmann
Não-cumulatividade do ICMS: dimensão normativa
e eficácia/ Anderson Trautmann Cardoso. - Porto Alegre:
Livraria do Advogado Editora, 2009.
123 p.: 21 cm.
ISBN 978-85-7348-589-9
CDU-336.222
Constituiciono
Direito
Brasileira de
Academia
Centro
Andar
2°
Novembro, 964
R. XV de PR
CEP 80.060-000 Curitiba
NÃO-CUMULATTVIDADE DO ICMS
Dimensão Normativa e Eficácia
3413363 livraria
DO ADYOGADO
DO editora
Porto Alegre, 2009
Cardoso, 2009
C Anderson Trautmann
e dingramação
Capa, projeto gráfico
Livraria do Advogado Editora
Revisão
Betina Denardin Szabo
de
Imposto sobre a Circulação não-cumulatividade
garantida pela Constituição, a
esteja e contínuas restrições prove-
tem sido objeto de sucessivas
infraconstitucional,
nientes de modificações da legislação
em muito, a sua
eficácia. Daí a neces-
que têm diminuído,
sidade de um estudo que, fundado na Constituição, pos-
infraconstitucional não
sa revelar aquilo que o legislador
pode restringir.
sistematiza
O presente estudo, em segundo lugar,
adequadamente o tema, apresentando as principais posi-
ções doutrinárias a seu respeito, não apenas fazendo re-
.. 113
4.Conclusão........
117
Referências...
1. Introdução
no texto consti-
Originária da França' e introduzida
tucional brasileiro na Constituiço
Federal de 1946, pela
dezembro de 1965, a
Emenda Constitucional n° 18, de 1° de
institutos no cam-
não-cumulatividade é um dos principais
caracterizando o
Constitucional Tributário,
po do Direito
sobre Circulação de Mercadorias e Serviços de
Imposto Interestadual e Comunicação
Transporte Intermunicipal e Federal
forma como previsto na Constituição
(ICMS), na
de 1988.
incidentes
Atributo peculiar aos
modernos impostos
não-cumulatividade
circulação de mercadorias,
a
sobre a
sobre
tão-somente
o tributo incida
tem como objetivo que da cadeia
o valor acrescido em cada operação integrante
denominada inci-
produtiva, eliminando os prejuízos da
dência "em cascata".2
industrializado a reconhecer as desvantagens de
"A França foi o primeiro país industrial e
incidente sobre todas a» tases de produção
um imposto
cumulativo, tentativas de mudança, apenas
em 1936 se
tazem asprimenas
de circulação. Se já la valeur ajouter,
tuiluuto retocado, posteriormen
criou Taxe sur
Sachaalmon Navarro; DERZI,
de 1954 se a
no ano
efetividade.
adequada aplicação e
NAO-CUMULATIVIDADE DO ICMS
13
2. A dimensão normativa da
não-cumulatividade do ICMS
NÃO-CUMULATIVIDADE DO ICMS 15
do estudo, faz-se essencial referências que auxiliem para
NÃO-CUMULATIVIDADE DO ICMS 19
verifica em sua redação original, abaixa
dade se
-, como
transcrita sobre:
União decretar impostos
Art 15-Compete à
I1-consumo de mercadorias;
sobre:
Estados decretar impostos
Art 19-Compete aos
comerciantes e produtores
V-vendas e consignações efetuadas por do pequeno
a primeira operaçao
inclusive industriais, isenta, porém,
o abatimento do
va-
como já referido, ao atual IPI-a permitir
e demais in-
lor incidente nas aquisições de matérias-primas
e no acondicionamento de
sumos empregados na fabricação
ensina Costa:
produtos submetidos a sua incidência, como
O antigo imposto de consumo, que economicamente conceitua-se como
um imposto de vendas, era um imposto multifásico e cumulativo, cobra-
do no ciclo da produção industrial. Era multifásico porque incidia em to-
das as operações realizadas por industriais, ainda quando vendessem
a outros, e cumulativos porque o imposto pagos sobre matérias primas
e produtos secundários (que fossem, por seu turno, produtos industria-
lizados) não era tomado em consideração no cálculo do valor incidente
Sobre o produto a que se integravam tais matrias primas e produtos
secundários. ALei n 3.520, de 30 de dezembro de 1958, em sua Al
teração 10, dispós que, do imposto devido em cada quinzena, tosse
deduzido o valor do imposto que, no mesmo periodo, houvesse incidido
sobre matérias primas e outros produtos empregados na fabricação e
acondicionamento dos produtos tributados. Estava, assim, introduzido o0
sistema do valor acrescido no imposto de consumo."
BRASIL Constituição dos Estados Unidos do Brasil de 1946. Diário Oficial ldal
República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 19 set. 1946. Disponível em: https://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao /Constituiçao46.htm. Acesso em:
28 jul. 2006.
" C O S T A , A l c i d e s J o r g e . ICM: na Constituição e na Lei Complementar. S ã o Paulo:
21
NAO-CUMULATIVIDADE D0 ICMS
do
Estados a competência para instituição
a
concede aos
relativas à Circulação de Merca-
Imposto sobre Operações
também a não-cumulativida-
dorias (ICM), atribuindo-lhe
o imposto sobre consumo,
de-prevista originalmente para termos:
pela Lei n° 3.520/58-,nos seguintes
operações relativasà
Art. 12-Compete aos Estados oimposto sobre
realizadas por comerciantes, industriais e
circulação de mercadorias,
produtores.
abatendo-se, em cada operação,
S 29-0 imposto é não-cumulativo, o montante cobrado nas
nos termos do disposto em lei complementar,
e não incidira sobre a ven
anteriores, pelo mesmo ou por outro Estado,
de primeira neces
da a varejo, diretarmente do consumidor, de gêneros
Executivo Estadual.
sidade, definidos como tais por ato do Poder
oriun-
Dessa forma, o novo ICM solidifica os conceitos
brasileira
dos do antigo IVC e a doutrina e a jurisprudência
não-cumulatividade.
passam a tratar do instituto da
Souza, ao referir a alteração promovida pela Reforma
Constitucional de 1965, o faz nos seguintes termos:
Eaqui chegamos ao ICM caboclo. Também ele não foi qualquer novida
de que em 1965 tivesse saído toda feita da cabeça de Minerva; o valor
agregado jä existia desde 1956 na sistemática do antigoimpostosobre
consumo. Sua extensão ao antigo IVC para transformá-lo em ICM foi
explicada no relatório da reforma tributária, como principal razão liga-
1954, que criou a 'taxe sur la valeur ajoutée' - TVA, em substituição à 'taxe à
23
NÃO-CUMULATIVIDADE DO ICMS
dual, a norma de dedutibilidade do montante pago na operação anterior
teve de ser ampliada, para abranger não só o impósto cobrado pelo
mesmo Estado, mas também por outro. A não ser assim, com
efeito, a
Configuração sistemática do impósto estaria desvirtuada, mas, por outro
lado, a norma, como prevista no inciso ll do parágrafo único dêste ar.
14, contribui decisivamente para acentuar o caráter nacional do sistema
tributário.18
Na esteira da previsão contida na Carta anterior, en-
tão, a Constituição Federal de 1967 assim dispôs em rela-
ção ao ICMea sua não-cumulatividade:
Art. 24-Compete aos Estados e ao Distrito Federal decretar impostos
Sobre:
jurisprudên-
-
to
outras na competência dos Estados e do
União Federal" e
um único imposto,
Distrito Federal"-passaram integrar
a
o vigente ICMS.
no orde-
De fato, a hipótese de incidência do ICMS,
da Constituição Federal
namento jurídico erigido a partir do
no inciso II do artigo 155
de 1988, encontra-se prevista
textoconstitucional, in verbis:
salvo os de natureza
transporte e comunicações, lubrificantes e
importação, circulação, distribuição ou c o n s u m o de
-
triais e comerciantes;
Federativa do Brasil de 1988.
Diário Oficial
BRASIL Constituição da República 1988. Disponível em: ht-
República Federativa do Brasil, Braslia, DE, 05 out.Constituiçao.htm.
aa)
ps://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/ Acesso
NÃO-CUMULATIVIDADE DO ICMS
25
Art. 155-.]
no incisoll atenderá ao seguinte:
S2-0imposto previsto
|- será não-Cumulativo, compensando-se o que for devido em cada
mercadorias ou prestação de serviços
operação relativa à circulação de mesmo ou outro Estado
Com o montante cobrado nas anteriores pelo
Ou pelo Distrito Federal;
salvo determinação em contrário da
ll-aisenção ou não-incidncia,
legislaçao com o montante devido nas
a) não implicará crédito para compensação
operações ou prestações seguintes;
relativo ås operações anteriores;
b) acarretará a anulação do crédito
XIl-cabe à lei complementar:
NÃO-CUMULATIVIDADE DO ICMS 27
contido atualmente no ar.
Esse, também, o comando
n° 37.699/97 (Regulamento do
tigo 30 do Decreto Estadual
ICMS): o que for devido
é não-Cumulativo, compensando-se
Art. 30-O imposto prestação de
em cada operação relativa
à circulação de mercadorias ou
e de comunicacão
interestadual e intermunicipal
serviços de transporte outra unidade da
anteriores por esta ou
com o montante cobrado nas
Federação.2
ICMS devido, contem-
Ea sistemática de apuração do
não-cumulatividade do ICMS, prevista Cons- na
plando a
tituição Federal, é
estabelecida pela Lei n° 8.820/89, nos
seguintes moldes:
maior (saldo de
Art. 21 O montante devido resultará da diferença a
fixado em regulamento, entre as
vedor), em cada período de apuraçãomercadorias Ou às
prestações de
operações relativas à circulação de
crédito fiscal.
serviços, escrituradas a débito fiscalea
19-Constituirão débito fiscal e como tal serão escriturados
a) o valor resultante da aplicação da aliquota sobre a base de cálculo,
relativamente às operações e prestações realizadas; ..]
$2-Constituiräo crédito fiscal e como tal serão escriturados:
a) o valor correspondente ao imposto cobrado, relativamente às merca
dorias entradas no estabelecimento e aos serviços a ele prestados;
b) outros créditos fiscais do imposto admitidos pela legislação trbutánia.
$3-0 saldo do imposto verificado a favor do contribuinte (saldo cre
dor), apurado com base nos critérios estabelecidos neste artigo, transfe-
re-se para o periodo ou periodos seguintes, monetariamente atualizado,
nos termos da legislação tributária estadual, utilizando-se as regras que
estiverem sendo aplicadas para a atualização monetäria dos créditos
tributários no período correspondente.0 (grifou-se)
de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação e dá
outras providências. Disponível em: http://www.fiscosoft.com.br/main_online.
php?home= estadual&optcase=RS. Acesso em: 28 jul. 2006.
29
RIO GRANDE DO SUL. Decreto n°37.699, de 26 de
agosto de 1997.
do Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias Regulamento
e sobre Presta-
ções de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação
RICMS RS. Disponível em: Disponível em:
http://www.fiscosoft.com.br/main_
-
d do crédito fiscal:
1-presumido, nos termos previstos no art. 32.3 (grifou-se)
Como se verifica a partir da leitura dos dispositivos
conti-
citados, a Lei n° 8.820/89, utilizando-se da previsão
incluiu
da no S 6° do artigo 150 da Constituição Federal,32
na sistemática de apuração do ICMS,
além do crédito as-
não-cumulatividade
segurado constitucionalmente pela
do imposto -
NÃO-CUMULATIVIDADE DO ICMS 29
Grande do Sul assegura
Desse modo, o Estado do Rio
meio da Lei n° 8.820/89
aos contribuintes do ICMS, por
recolhido à Fazenda Públi.
que o imposto devido, a ser
a maior (saldo devedor)
ca Estadual, resulte da diferença crédito, cons-
escrituradas a débito e a
entre operações
as cobrado nas
o "imposto
tituindo crédito fiscal não apenas
na Constituição Federal,
operações anteriores", assegurado
admitidos
mas também "outros créditos fiscais do imposto
"crédito fiscal
tributária", entre os quais, o
pela legislação
presumido".3
concebida a não-cumulativi-
Analisada a forma como
desde sua
dade do ICMS no ordenamento jurídico pátrio,
da Constituição
origem até o sistema erigido sob égideas
a
NÃO-CUMULATIVIDADE DO ICMS 31
nas anteriores pelo
de com o montante cobrado*
serviços a Cons
mesmo ou outro Estado ou pelo Distrito Federal",
de
sistemática própria apuração
tituição Federal fixou uma instrumentalizada por meio de
do imposto devido,a a ser
compensaçoes. esclarecido na lição de Melo e
Esse mecanismo é bem
Lippo:
ao fim de cada período (usualmente
Pela regra da não-cumulatividade, do montante
a proceder à apuração
mensal), o contribuinte é obrigado
débitos pelas suas operações de saídas
do imposto correspondente aos
mercadorias ou prestações de serviços de
de produtos industrializados,
montante dos créditos corresponden
transportese comunicações, e do no seu estabe.
tes as operações anteriores, de bens que ingressaram
e de comunicaçãoo
lecimento e de prestações de serviços de transporte
resultará um
entre ambos (débitos e créditos)
que contratou. Do confronto
da hipótese.
saldo, que poderá ter destinação diferente, dependendo
título de débito, ao
Caso desse confronto resulte importância superior a
contribuinte incumbirá recolher para o Erário, nos prazos e condições
devida. A não-cumulatividade
que a lei estipular, essa importäncia ainda
decorrente da sim-
repousa na existência de "operações e prestações',
ples mecânica de apuração de débitos (gerador pelas materialidades
do ICMS e do IPl) e créditos (decorrentes das operações e prestações
anteriores) que, num encontro de contas, permite apurar um determi-
nado valor, que (resultado positivo para a Fazenda) deve ser oferecido
tributação. Caso o confronto resulte importância superior a titulo de
Essa questão há muito já foi superada, como ensina COSTA: "O vocábulo 'co-
brado' não pode ser entendido no sentido de concretamente exigido. Seria irreal
pretender que o adquirente soubesse se o Estado exigiu ou não, concretamente, o
ICM que incidiu sobre a operação. O sentido de cobrar só pode ser o de incidir".
(COSTA, Alcides Jorge. 1CM na Constituição e na Lei Complementar. São Paulo:
Resenha Tributária, 1979, p. 156).
Essa sistemática foi definida por ATALIBA e GIARDINO, ao analisarem a
Constituição Federal de 1967, nos seguintes termos: "O esquema constitucional
portanto - ao mencionar 'abatimento' - pode ser visto como um processo mate-
NÃO-CUMULATIVIDADE DO ICMS 33
de
constitucional
como uma norma
Caracteriza-se, ainda,
eficácia plena e aplicabilidade
imediata,' não dependendo0
atue em
infraconstitucionais para que
da edição de normas
toda sua integralidade. "dire-
trata-se de uma
Ataliba Giardino,
No dizer de e
cunho sugestivo. O
tuições não têm esse
se chega
e forma inexorável pela qual
retriz constitucional imperativa; brasileira a
no sentido que a Constituiçao
a um ICM "näo-cumulativo", constitucional pelo
essa expressão emprestou.
Em essência, é o critério
não-cumulatividade do ICM
junidicamente, se constrôi a chamada
qual, e Go-
mente dos juristas Ulhôa Canto
(Como, isto sim, esteve nítida na
mes de Sousa, que a engendraram)2
Nesse sentido, o escólio da doutrina de Melo e Lippo
sobre o assunto:
le-
Aplicar o princípio da não-cumulatividade não é mera sugesto do
comando
gislador constituinte. Antes, pelo contrário. Trata-se de um
indisponivel, que vinculo 0 Contribuinte e o Estado, para a manutençao
da ordem econômica instituída no Texto Supremo. O agente realiza-
dos das operações sujeitas ao IPl e ao ICMS, com reflexos na Cofins,
não possui a faculdade de creditar-se do imposto incidente nas anterio
operações. No lhe foi outorgada uma possibilidade. O dispositivo
constitucional manda, impo0e, determina que se taça a apropriaçao dos
créditos para, com eles, proceder-se å "compensação'. E uma obriga-
ção que comete cada um dos agentes participes do ciclo da circulação
de mercadorias e prestação de serviços. A própria fiscalização tem o
dever de conferir a exata aplicação do comando constitucional. Näo é
a tanto, sob pena de inconstitucionalidade" (Recurso Extraordinário n° 111.757
-
seguinte redação:
Tal técnica foi introduzida pela E.C. n®se33/01.
Por fim, há a técnica cumulativa, que encontra exposta no incisoll do
2 do artigo 155, assim redigido.
43
Luiz Francisco. A Não-Cumulatividade
MELO, José Eduardo Soares de; LIPPO,
Tributária. São Paulo: Dialética, 1998, p. 135.
NAO-CUMULATIVIDADE DO ICMS 35
da obrigank
nascimento
Como a isenção, no direito pátrio, implica o
do crédito tributano respectivo, por forca
d
tributária e não nascimento
no artigo 175 do
CTN assim redigido:
disposto
ao nascimento da obrigação nän
O crédito escritural correspondente "cumulativa" a técnica de
neste particular,
pode ser aproveitado, sendo,
arrecadação do ICMS. e que a "não.
este primeiro aspecto,
certo, todavia, para concluir
O e arrecadaçao geral-sempre
cumulatividade" é atécnica de imposição
ao legislador ordiná-
não excepcionada de obrigatória imposição
-
Como adverte
COSCIANI, pode-se dizer, de modo
posto sobre imposto, geral, que no método im
alíquota das fases ulteriores exerce
a
precedentes, enquanto que, no método influência nas fases
base sobre base, o efeito da
alíquota cu
36
Anderson Trautmann Cardoso
Conforme vemos, a Constituição submeteu o ICMS ao sistema "imposto
contra imposto,
e nao o
SIstema "mercadoria contra mercadoria'". Desta
forma, o contribuinte, para calcular 0 montante de ICMS a recolher, deve
Subtrair, periodicamente, de todos os débitos (causados por saidas de
mercadorias, bens e serviços tributáveis), todos os créditos (provenientes
o resultado
de entradas de mercadorias, bens e serviços tributáveis). Se
for negativo, isto é, se os créditos forem superiores aos débitos,
há saldo
credor a transferir para o periodo de apuração subseqüente.4
Desse modo, a não-cumulatividade do ICMS prescin-
de da consideração do bem cuja tributação gera crédito a
compensado quando do surgimento do débito do
im-
Ser
posto. O crédito de
lCMS deriva da aquisição, por contri-
buinte, de bem tributado, no havendo que se perquirir
sobre identificação do bem que sofreu a incidência do
a
direito ao creditamento.
imposto para se cogitar do
definir
Diverge, no entanto, a doutrina tributária, Consti-
ao
curso do ciclo a
inferior ou uma isenção no
imposto sobre imposto, uma alíquota é re-
não beneficia o consumidor, porque diferença
a
que está sujeito o produto, mais elevada nas operações
da
cuperada pelo fisco através da aplicação alíquotaDesnecessário acrescentar que,
posteriores. E o chamado efeito de recuperação.
no método base sobre base, as reduções de alíquotas ou isenções em operações
37
NAO-CUMULATIVIDADE DO ICMS
Entende-se como regime do crédito financeiro aquele no qual todos os
custos, em sentido amplo, que vierem onerados pelo ICMS, ensejam o
credito respectivo. Sempre que a empresa suporta um custo, seja ele
consubstanciado no preço de um serviço, ou de um bem, e quer seja
este destinado àrevenda, à utilização como matéria-prima, produto in.
ou mesmo ao consumo ou
termediário, embalagem, acondicionamento,
a imobilização, o ônus do ICMS respectivo configura como um crédito
desse imposto.
De outro modo:
Entende-se como regime do crédito fisico aquele segundo o qual so-
mente geram créditos as entradas de bens que se destinem a sair do
estabelecimento, tal como entraram ou a integrarem, fisicamente, o pro-
duto em cuja fabricação constituem insumo.
No mesmo sentido, a distinção apontada por Torres:
Os impostos podem adotar o sistema do crédito fisico, em que se
deduzem do imposto a pagar as quantias correspondentes aos tridu-
tos que anteriormente incidiram sobre as mercadorias empregadas
fisicamente na industrialização ou comercialização; ou o do crédito
financeiro, em que se deduzem todas as despesas necessárias à pro-
dução do bem.50
Ovalor dessa classificação é revelado, entre outros, na
garantia ou não - de acordo com a postura adotada -, aos
créditos de ICMS relativos aos
produtos destinados ao uso
e consumo e aos bens integrantes do ativo permanente do
contribuinte. Senão veja-se.
A Constituição Federal de 1988
consagra, em seu ar-
tigo 155, S2°, inciso I, a não-cumulatividade do ICMS, de-
terminando que: "será não-cumulativo,
que for devido cada
o compensando-se
8
em
operação relativa à circulação de
MACHADO, Hugo de Brito. Aspectos Fundamentais do ICMS. São
tica, 1997, p. 131. Paulo: Dialé-
45
MACHADO, Hugo de Brito. ICMS: créditos relativos a
ço de energia elétrica e servi-
comunicação. In: ROCHA, Valdir de Oliveira (Coord.).
São Paulo: O ICMS e a LC 102.
Dialética, 2000, p. 94.
TORRES, Ricardo Lobo. O IVA no Direito
Grandra da Silva (Coord.). O Comparado. In: MARTINS, Ives
Princípio da
dos Tribunais; Centro de Extensão Não-Cumulatividade. São Paulo: Revista
Universitária, 2004, p. 147.
38
Anderson Trautmann Cardoso
ou prestação.de serviços com o montante co-
mercado dorias
nas
teriores pelo mesmno ou outro Estado ou pelo
brado
Distrito Federal",51
NAO-CUMULATIVIDADE D0 ICMS 41
há que se permitir ao contribuinte apropriar-se do crédit
de ICMS decorrente da entrada dos produtos destinados
ao uso e consumo e dos bens destinadosa seu ativo perma.
CARRAZZA, Roque Antônio. ICMS. 7. ed. Säo Paulo: Malheiros, 2001. p. 260-1.
NAO-CUMULATIVIDADE DO ICMS 43
Ataliba e Giardino, quanto ao tema, adotaram enten-
ICMS em razão
dimento no sentido de que, incidindo o
da ocorrência de "operações" e não "operações lucrativas",
não há que se falar em imposto sobre valor agregado:
titucional
Como já visto, com essa configuração, o abatimento constitucional
traduz uma dedução ulterior (e independente) ao próprio processo de
apuração do ICM; aos mecanismos de liquidação do quantum debeatur.
Não atina ao procedimento de determinação da base imponivel, j que
nada, logicamente, tem a ver com o "valor da operação" tributada. Não
se confunde com o processo de lançamento tributário (o procedimento
de fixação do valor do "imposto devido) porquanto é absolutamente
irrelevante, no momento dessa apuração, o montante do imposto co
brado nas anteriores. 0 abatimento é externo, alheio à base de cálculo,
ao "elemento quanttativo da hipótese de incidência", como o designa
Paulo de Barros Carvalho. O montante da obrigação tributária éfixado
pela simples aplicação da alíquota sobre a base: o valor da operação
submetida ao tributo. Sô em momento lógica e cronologicamente po
terior na eventual fixação da "base liquidable" - é que se cogitará da
compensação de outros valores (oponíiveis ao ICM devido) destate,
quando já constituido, em grandeza determinada, o rédito tributário
desse imposto. Dai a coeréncia dos autores dos anteprojetos da EC
18/65 e do Código Tributário Nacional- Uihôa Canto e Gomes de Sou-
ATALIBA, Geraldo; GIARDINO, Cléber. ICM: Abatimento Constitucional;
Princípio da Não-Cumulatividade. Revista de Direito Tributário, v. 8, n. 29/30, p.
110-126, jul./dez. 1984, p. 118.
quantificada mediante
ou seja, um valor
a aplicação de uma alíquota sobre a base imponivel,
(tributário) líquido e certo.
Omesmo entendimento pode ser extraído de Arzua:
AConstituição alude a cada operação relativa à circulação de mercado-
rias ou prestação de serviços e compensação do montante cobrado nas
(operações ou prestações) anteriores, sem registrar, em nenhum mo
mento, que ditas operações ou prestações devem estar ligadas ou dizer
respeito à mesma mercadoria ou ao mesmo serviço que o contribuinte
impulsiona em direção consumo ou aouso.
s
ARZUA, Heron. Créditos de ICMS e IPI. Revista de Direito Tributário, n. 64,
261, abr./jun. 1994 p. 256. p. 255-
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de
1988. Diário Oficial
dal República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 05 out.
1988. Disponível em: ht
tps://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/ Constituiçao.htm. Acesso
em: 28 jul. 2006. Art. 155, $ 2", I.
apuração.
Diante disso, também Carrazza compartilha do en-
tendimento de Ataliba e Giardino, acima exposto, no sen-
tido de que, incidindo sobre "operações" e não "operações
lhucrativas", o ICMS não configura um imposto sobre valor
agregado:
E por esse motivo que dizemos que uma das hipóteses de incidência
do ICMS é "realizar operações relativas à circulação de mercadorias"
(e, não, "realizar operações, com lucro, relativaS à circulação de mer-
cadorias").
Vai daí dizer que, juridicamente, o ICMS não é um imposto sobre 0 valor
agregado. Só para registro, o imposto sobre o valor agregado caracte-
riza-se, noS patamares do Direito, por incidir sobre a parcela acrescida,
Ou seja, sobre a diferença positiva de valor que se veritica entre duas
operações em seqüência, alcançando o novo contribuinte na justa pro-
porção do que ele adicionou ao bem. Não é o caso do ICMS, que grava
O valor total
da operaçao.
Heaimente, se a base de cálculo (que mede o fato juridico tributário)
do ICMS é o valor da operação (ou da prestaço) realizada, resulta
Claro que este imposto não pode incidir sobre o valor acrescentado em
eiaçao a anterior (sob pena de descumprida a primordial função dimen-
Sionadora desta mesma base de cálculo).
Fosse o ICMS um tributo sobre o valor acrescido, havendo operação
abaxo do custo", o contribuinte não precisaria debitar-se sobre o valor
0a saida, já que não estaria presente, no caso, o elemento quantificador
1ato imponivel, ou seja a agregação de valor.
s e argumento, diga-se de passagem, foi desenvolvido por Jose Souto
Maior Borges
NAO-CUMULATVIDADE DO ICMS 47
. além de não estar contemplada na legisiaçao respectiva a
agregue valor à mera
ção de circulação de mercadoria que nao de
Como hipótese de não-incidencia, a exigencia valor agregadola
ao absurdo de não estar o contribuinte obrigado sequer a debi
do imposto quando da saída da juízo, porque ar-se
mercadoria com prejuízo, poro
48
Anderson Trautmann Cardoso
MS, só se pode
conclu que do ambito estritamente
juridico-tributário,
o imposto estadual incide integralmente sobre cada uma das operações
realizadas. (.)|
Atécnica da não-cumulatividade, como se verá minudemente, incide
omento posterior à constituição da obrigação tributária. Daí a sua
em moment
NAO-CUMULATIVIDADE D0 ICMS 49
se dizer
com lucro"," haveria que
realização de "operação valor agregado, que apenas
o
incide sobre o
que o imposto operação à operaçao, por meio
seria possível de se aferir,
sobre base).
base" (base
do método "base on o de conje.
conje
um exercício.de
No entanto, basta que se faça
se o legislador houvesse
optado
verificar que,
tura para se
tratar-se-ia de uma Sistematica
ainda
método,
pelo referido legislador constitu
mais complexa do que a adotada pelo evidentemente acarretaria
cional de 1988. Mais, tal técnica na medida em que
aos contribuintes,
sensíveis prejuízos dos créditos relativos às
somente permitiria a utilização
insumos depois das saídas das mercadorias
entradas dos antes disso, não
uma vez que,
ou prestações dos serviços,
dimensionar o "valor agregado" na opera-
haveria como se
na incidëncia
do impoOsto mesm
pretensa fundamerntação
verifica lucro.
em operações que não se
ao exercíciohipotetico, verificar.
De fato, retornando
entradas dos insu.
se-á que, se concebermos que tanto as
mercadoria final ocorreu em um
mos quanto a saída da
essa foi a única operacão
único período de apuração e que
nesse intervalo de tempo, não havendo lucro, não have-
uma vez que os
rá, evidentemente, ICMS a ser recolhido,
créditos relativos às entradas superar o o débito relativo à
saída.9
Como se verifica, o fato de o método concebido pela
Constituição Federal à não-cumulatividade do ICMS não
ser "operação à operação" não retira a sua característica de
imposto sobre valor agregado. Ao contrario, evidencia a
opção do legislador por uma sistemática de tributo sobre o
valor acrescido mais favorável ao próprio contribuinte.
78
MARTINS, Ives Gandra da Silva. Comentários à Constituição do Brasil. 2. ed. São
Paulo: Saraiva, 2001. v. 6, t. 1, p. 438-440.
Mas se extremarmos nosso raciocínio a uma hipótese ideal em que todas as
aquisições de determinado período foram nesse mesmo período incorporadas aos
produtos fabricados (ou simplesmente revendidos), constataremos que a diteren-
ça entre o valor das entradas e o valor das posteriores saídas
tamente a um montante que corresponderá exa
multiplicado pela alíquota do ICMS praticado pelo
comerciante/industrial, dará como resultado o valor do tributo a ser recolhido ao
Ora, mas se a diferença entre as saídas e as anteriores entradas
Fisco.
o valor que o comerciante/industrial acrescentou em representa
cada operação no perioao,
pelo menos do ponto de vista econômico, de fato estamos tratando de um tribu"
to que incide sobre o valor
agregado. E, veja-se, não podemos deixar de salientar
este ponto, uma vez que a não-cumulatividade é
regra constitucional que toca ae
maneira direta os preços dos
produtos colocados no mercado". (MELO, José bau
ardo Soares de; LIPP0, Luiz Francisco. A
Não-Cumulatividade Tributária. São Paulo
Dialética, 1998, p. 115)
aquele
mercadorias e sobre prestações de serviços de transpor-
deberestadual e intermunicipal e de comunicação", des-
consio
iderandoa normaiinscrita no inciso I do $2° do artigo
Constituição Federal.
155 da
Isso porque,
como bem refere a lição de Carvalho: "a
reara-matriz do tributo deve esclarecer todos os seus as-
regra-matriz
valor
nectos, inclusive o quantitativo, de modo a indicar o
ser recolhido",
do tributo a
sistemática de apuraço do
Ora, bem se sabe que a
como já demonstrado anterior
ICMS é outra. Com efeito, como débito,
mente, tais operações serão contabilizadas
de saídas de mercadorias ou prestações de
em se tratando
à não-cumulatividade consa-
e, em observäncia
serviços crédito em se tratando
constitucionalmente, como
grada
Ao final do período, entäo, é que
de entradas de insumos.
deverá ser recolhido
será apurado o valor do imposto que
Fazenda Pública Estadual.
a título de ICMS à
7. ed. Rio de
Constitucionais ao
Poder de Tributar.
lanEEIRO, Aliomar. Limitações
Janeiro: Forense, 1999, p. 450.
53
NAO-CUMULATIVIDADE DO ICMS
Discordamos, com respeito, de todos 0S que acham não intenr ointegrar an0
ma jurldico-tributária do ICM o princípio não-cumulatividade o
sim, e integra a conseqüëncia. A base de cálculo não é o único
de se apurar o quantum do dever decorrente da realização do modo
Seria reduzir a estrutura normativa à sua feição
mais
tem impostos sofisticados, do ponto de vista jurídico, tais
tais como
primária,uiposto,
como oICMS
eo imposto de renda, que exigem operações mais complexas n
conclusão do quantum debeatur e que solicitam o concurso parataa
de leis
principios diversos, todos convergentes a um só fim: a
do dever do Sujeito passio da obrigação. "quantificaçãot
No caso especifico do ICMS, o imposto devido não decorre
apenas t
incidência da aliquota, singela e primária, sobre a base de da
o valor de saida da mercadoria decorrente da
cálculo. esta
operação a
lar. Depende de outros cálculos e de outros elementos que fazZ circ
Depende, v.g, por expressa determinaço constitucional,complicadores
da deducão
do crédito devido pelas entradas do valor das
"'saidas'. Ora, se o cálcula
monetário do imposto não fizer parte da
conseqüëncia da norma-de-de
ver, dita tributäria, estará destruida toda a rica
teoria da noma tributária. No caso do
versatilidade cientifica da
o modo de
ICMS, além da base de
cálcuio,
apurar o quantum debeatur final implica o
cumulatividade. Dessarte, concernentemente a princípio da não-
formação das normas juríidicas, assunto que se atuaçao
dos principios na
da teoria normativa, não deve coloca no plano mais alto
pairar sobre o tema a minima
Da opinião
compartilham Alberto P. Xavier, Ulhôa Canto dúvida.e, até certa
data, Alcides J. Costa, que depois mudou de
tividade do ICM-prevista na opinião. Se a não cumula-
na norma Constituiço
juridica tributária do ICM,
-
não se projetasse "dentro'
pela frente Os seguintes dislates: aperfeiçoando-lhe perfil, teriamos
o
dito,
do crédito
crédito
compensando- (débito a -
= imposto
hito
débito ee
do crédito
-
ou
do contribuinte autônomo e próprio, não po
direito de crédito
pagar
Fosse o
através do lançamento, que é ato
Fisco (Sujeito.ativo) apurá-lo
o duas
Existe, portanto, uma sO relação juridica e não
leria
dministrativo.
inistrativo.
Na mesma
de Brito, também ao estudar
linha, a lição
acrescido é circunstância que com-
o antigo ICM: "O valor
põe a hipótese de
incidência do ICM a qual, na formulação
circunstäncia como seu ele-
Constitucional, evidencia tal
mento objetivo".3
não-cumulatividade do
Analisada a estrutura da
concedi-
examinar, ainda, o tratamento
TCMS, há que se
decorrentes da sua
do pela doutrina tributária aos créditos
Concretização. Quanto ao tema, pode-se dividir doutrina a
reza é "tributária".
de
Tributário Brasileiro. Rio
Sacha Calmon Navarro. Curso de Direito
ToL,
Janeiro: Forense, 2005, p. 400-401. Ont
Centro de Extensao
Vegerador do ICM. São Paulo: Resenha Tributária;
versitária, 1991. adernos de Pesquisas Tributárias,
V. 3) p. 102.
Tbidem, p. 171.
55
NAO-CUMULATIVIDADE DO ICMS
Entre os primeiros, pode-se distinguir: 1) uma primei.
ra corrente, para a qual se trata de créditos de nature
eza
meramente escriturais, "pois 0 ato não cria nem é renro
sentativo de direito decrédito na acepção juridica de queo
contribuinte tenha direito, por esse fato, de exigir prestacão
patrimonial a que alguém esteja obrigado"s*" e ii) uma se
gunda corrente, paraa qual se esta "diante de uma relação
jurídica obrigacional (porque dotada de conteúdo econ
mico), constitucional (porque disciplinada exaustivamente
na Constituição) e que se pode qualificar como financeira.
em oposição à tributária, no sentido de que, embora en-
volva valores econômicos, nada tem a ver com as relações
tributárias".85
Já para os segundos, "se a não-cumulatividade é umn
princípio constitucional tributário, e se os créditos fazem
parte da estrutura desse princípi0, não há dúvida que estes
também estão no bojo da matéria tributária" s6
Cumpre destacar que o crédito fiscal decorrente da
concretização da não-cumulatividade do ICMS, aqui tra-
tado, não se confunde com o "crédito fiscal presumido",
previsto no § 6° do artigo 150 da Constituição Federal, que
se caracteriza como um benefício
fiscal concedido ao con-
tribuinte do imposto, utilizando-se da sistemática de com-
pensações prevista para a apuração do tributo.
A notória
distinção é bem apontada por Torres:
Usa-se a expressão crédito básico, cunhada
diferenciä-lo do crédito-incentivo, que tambémpela legislação
do IPl, para
pensação financeira, quando houver autorizaçãopode objeto com
ser de
da lei. O crédito básico
éo montante cobrado na operação anterior
atitulo de ICMS (art. 155,
$2,1, da CF), decorrendo da própria estrutura da
84
não-cumulatividade.
BONILHA, Paulo Celso Bergstrom. IPl-ICM:
Cumulativa. Resenha Tributária: São Paulo, 1979.
Fundamentos da Técnica Não-
85
ATALIBA, Geraldo; GIARDINO, Cléber. ICM:
Princípio da Não-Cumulatividade. Revista de DireitoAbatimentov.Constitucional;
110-126, jul./dez. 1984, Tributário, 8, n. 29/30, P
p. 122
MELO, José Eduardo Soares de; LIPPO, Luiz Francisco.
Tributária. São A Não-Cumulatividade
Paulo: Dialética, 1998, p. 132.
compensação
financeira, näão resulta da atuação do principio
tivel de
cele onal da não-cumulatividade, mas de razões de politicatributá
constitucionalda r
uma renuncia de receita,87
Constituind0
ria, deve serreal
ou verdadeiro, ou seja, deve corresponder a
crédito Crédito simbólico ou presumido
na operação anterior.
Oc
de todos os aspectos da
fim, depois
Por
que se examine
o
tratados, cumpre
aVidade do ICMS já tributária nacional
em relação
POSiCionamento da doutrina
a sua dimensão normativa.
A técnica da
a seu turno,
não-cumulatividade, éo
modo pelo sere qual
A
aliza o principio. Técnica é "maneira ou habilidade especial de executar
algo". Assim,
a cnica da nao cumulatividade é o modo pelo qual se
principio.
eletiva o
executa, ou se técnica pode
bem entender-se a iferença entre o princípio ea
Para
distinçao que os processualistas fazem entre processo
e
se invocar a um determi-
tendentes a
procedimento. O primeirO e oconjunto de atosatos são
o modo pelo qual tais praticados, e se
nado fim. O segundo,
relacionam, para compor o processo. do principio da não-
é define o regime juridico
A técnica, portanto, que este que se define em duas
cumulatividade do imposto, regime
juridico
financeiro eo regime do crédito
a saber, o regime do crdito
espécies, terceira espécie, na qual são albergados
ele-
ainda por uma
físico, ou
mentos de um e do
outro daqueles dois regimes jurídicos.2
não-cumula-
pode-se dizer que a
Do até aqui exposto, na Constituição
forma como prevista
tividade do ICMS, na
instrumento que cria
direitos
Federal de1988, constitui umcontribuinte e busca alcançar
o
públicos subjetivos para evitando os prejuízos
cau-
isonômico,
um sistema neutro e tantos
incidente "em cascata", que
sados pela tributação sistema de tributação
pluritási-
em um
maleficios produz
sistema do ICMS.
co, tal qual o concretizada por
meio de
constitucional é
A norma
"compensações", que permire
em rela-
m mecanismo fundado cada operação
em
for devido de serviços
que Compenseo que ou prestação
mercadorias nao se
Circulação de cobrado n a s
anteriores,
tante
do imposto São Paulo:
Dialé-
92 M Fundamentais
do ICMS.
Hugo de Brito. Aspectos
tica, 1997o,
1997, p. 130-131. 59
NAO-CUMULATIVIDADE DOo ICMS
tratando de mera recomendaço do legislador constituinte
mas de norma cogente, que, por isso mesmo, nem o legis.
lador ordinário, nem o administrador, nem, muito menos,
1stituído sob o
abrigo da atual ordenamento jurídico
Pois bem, para o bom eXito do
Constituição.
Pols
que sejam referidos
estudo proposto, es-
possibilidadeprecedentes
senc
do Colendo
da
acerca
do Soda-
licio
asto creditamento do valor do
recolhido
nas
aquisições de
produtos destinados
usC e consumo do contribuinte e de bens
seu ativo permanente. integrantes de
Ouanto ao tema, o
Supremo Tribunal Federal, no ijul-
gamento do
gamento Recursoo Extraordinário n° 200.379-4-SP, ana-
lisando o direito de o contribuinte creditar-se do valor
ICMS recolhido do
na
aquisição de
máquinas e equipamentos
utilizados no
processo de
industrialização, parecia haver
adotado interpretação no sentido de que a
Federal de 1988 haveria consagrado, Constituição
para implementar a
não-cumulatividade do ICMS, o regime de dedução "fi-
nanceira", em detrimento do regime de
Eo que se infere no dedução "física".
seguinte
Ministro Marco Aurélio:
trecho do voto
proferido pelo
A Corte de origem refutou
40 da Lei n° 6.374/89 no
inconstitucionalidade do inciso I do artigo
a
que afastava, à
controvérsia, a possibilidade de chegar-seépoca
dos fatos envolvidos na
ao crédito do valor
do com o Imposto sobre despendi-
Circulação
rada a aquisição de mercadoria a ser
de Mercadorias e Serviços
conside
analise, não se teve como consumidas na
integrada ao ativo fixo. Em última
neraçao a aa matérn
alcança matéria-prima adquirida e que venha a ser consumida
aicrada ao produto final, na condi de elemento essencial à res-
ou inte composição. Aóptica é imprópria em se tratando de matérias,
Ou
pectiva
m ncionado no item 4 da inicial, peças de reposição
segundo
tais
como,
máquinas,
aparelhos e equipamentos industrias e o que despendido
de manutenção des
na manutenção destes, inclusive com a frota de veículos para otrans
Há de exigir-se correlação. No caso de
r a mercadoria a clientes.
o r t e d am e r c a d o r i a .
máquinas,
A0arelhos e equipamentos industriais, bem como de material
manutenção
de veículos, naose tem, a seguir, a comercialização.
para
processo de transformação
em nova mercadoria passive
NäoOcorre Daí a impertinëncia de pretender-se lançar
vir a sercomercializa
de materiais como crédito, isso visando
na aquisição desses
tributo pago
debitos decorrentes da alienação das merca
ACompensação com os
dorias produzidas.S7
se verifica, o
entendimento do Supremo Tri-
Como
sentido de que "O princípio alcança a
bunal Federal,
no
consumido ou
matéria-prima adquirida
e que venha a ser
de elemento essen-
integrada produto final, condição
na
ao
é motivado pela aceitação
ial à respectiva composição", Federal
adotado pela Constituição para
de que o regime
não-cumulatividade do ICMS é aquele con-
dar execução à
cebido pela Lei Complementar n° 87/1996, que
privilegia
um sistema intermediário entre a "dedução física" e a "de-
dução financeira"8
assunto, o
Cumpre destacar, também, em relação Federal, em
ao
NAO-CUMULATVIDADE DO ICMS 63
inciso IV ao artigo 33 ao mesmo n:
inciso IIe acréscimo do
modificando, assim, o critériod apropria
ploma Legal, decorrentes de aquisições de ben b
dos créditos de ICMS
destinados ao ativo permanente,
de
serviços de fornec. neci-
elétrica e de comunicação. O resulta o
mento de energia
descrito no lnformativo n° 362 d
do
desse julgamento está termos:
n o s seguintes
Supremo Tribunal Federal,
a questão do princinin
o Pleno, apreciando
Na sessão de 29.11.2000, em parte, a liminar Dara
da anterioridade art. 150, , b), deferiu,
(CF,
conforme a Constituiçao e sem reducão do
emprestar interpretação
texto, sentido de afastar a eficacia
no
dO art. da norma impugnada
entra em vigor no primeiro dia do mês sub.
("Esta Lei Complementar no tocante a inserçao do § 5° do art
seqüente ao da sua publicaçao),introduzidas no art. 33, ll, da referida
20 da LC 87/96, e às inovações
inciso IV, protraindo o início da eficácia
Lei, bem como à inserção do Entendeu-se que a modificação do
desses dispositivos para 1.1.2001.
em questão, quer consubstancie a
sistema de creditamento pela norma
quer contigure a majoração
benefício de natureza fiscal,
redução de um contribuinte e, portanto, sujeita-se ao
de tributo, cria uma carga para o
em relação à
principio da anterioridade. Prosseguindo o julgamento,
o Tribunal, por
análise da ofensa ao princípio da não-cumulatividade,
vislumbrar a alegada violação, uma
maioria, indeferiu o pedido, por não
vez que, não tendo a Constituição
Federal fixado de maneira inequi
no inciso I do do
§2 art. 155,o de compensação de
regime
voca,
lei complementar (CF,
tributos, cuja regulamentação há de ser feita por
fixe um novo
art. 155, § 29, XII, c), nada impede que lei complementar
dos créditos, na
critério, ressalvado o direito adquirido à apropriação
no ponto, o
conformidade do disposto na legislação anterior. Vencido,
Confo
Min. Marco Aurélio, relator, que deferia a liminar por considerar que
da
aproveitamento fracionado de créditos, sem se permitir a atualização
fora das hipote
moeda, implicaria verdadeiro empréstimo compulsório,
ses do art. 148 da CF.99
Como se infere a partir da leitura do extrato do Jul
ADI-MC n° 2325 - DF, STF, Pleno, Rel. Min. Marco Aurélio, 23-9-2004. u
mativo n° 362)
Anderson Trautmann Cardoso
64
de redução d e
um benefício fiscal, quer se trate de majo-
uto, considerando que cria uma carga para
acão
r a ç ã o
ribuinte, portanto,
sujeita-se à anterioridade; ii) a
concão Federal de 1988 nao estabeleceuo regime de
c o n t r i b
o
Constitu
Constirecão necessário à implementação da não-cumula-
compensação
comp
ividade do ICMS; e in) dessa forma, havendo previsto que
do IC
tivdamentação do "regime de compensação do impos-
aecabe
h eàà lei
leicomplementar, ada impede que lei comple-
a r e g u l a m
to um novo
critério".
m e n t a r
ixe
nos permite revelar a dimensão nor-
Outro tema que
do ICMS, sob a ótica da
mativa
da não-cumulatividade
jurisprudên do Supremo Tribunal Federal, é o da im-
nossibilidade do creditamernto do ICMS pago nas aquisi-
p o s s i b i l i d a
fim de compensação
de matérias-primas isentas, para
cÖes de
ções
n a saida da mercadoria.
Com o imposto pago
E bastante esclarecedor quanto à matéria é o posicio-
Turma do Pretório Excelso, a n a -
namento adotado pela 1*"
n o julgamento do
o Texto Constitucional de 1988,
lisando
Eo que s e veri-
Recurso Extraordinário n° 212.019-7 SP.
-
Ilmar
fica no seguinte trecho do voto do relator, Ministro
Galvão:
O principio da não-cumulatividade de certos tributos, comoo ICMS, tem
da mercadoria, nas
por objeto impedir que, na composição do preço
diversas fases do ciclo econômico, mormente na última, de venda ao
Consumidor final, a parcela representativa do tributo venha representar
percentual excedente do que corresponde à aliquota máxima permitida
em lei. Em suma, previne excessos resultantes de tributações suces
Sivas.
Opera ele, como disposto no art. 155, § 29, 1, da CF/88, por meio de
entrada da mercadoria com o valor
compensação do tributo pago na
devido por ocasião da saída, significando, na prática, que a operaça o de
venda é tributada tão-somente pelo valor adicionado ao preço.
Evita-se, por esse modo, cumulação do tributo. no havera,
Se uma das duas operações, todavia, não foi tributada,
wiamente, possibilidade de cumulação, inexistindo espaço para com-
pensação. Conseqüentemente, perde o seu objeto o crédito fisCal, que
se destinava exclusivamente a essa operação. Na hipótese de entrada
NAO-CUMULATIVIDADE DO ICMS 65
mesmo a creditar, já que nada foi pago. E, Da sa
isenta, nada haveria
descabida qualquer dedução. O problema
da, descabido o imposto,
meramente aritmético, não havendo como tergiversar.
A própria Constituição tornou explicito o que se acnava subentendinn
no principio em foco, dispondo:
"Art. 155,$2"|
II- a isenção ou não-incidëncia, salvo determinaçao em contrário da
legislação:
a) não implicará crédito para compensação com o montante devido nas
operações ou prestaçóes seguintes;
b) acarretará a anulação do crédito relativo ás operações anteriores"
Assim também dispõe o art. 37,le ll, da Lei 6.374/89 do Estado de São
Paulo.
Patente, assim, a ausência de embasamento legal da pretensão da re
corrente em creditar o valor do ICMS na entrada de mercadorias isentas
para fins de compensação com o valor do tributo pago na saída da
mercadoria.100
Recurso Exi
ordinário n° 161.257-6, de que se transcreve
excerto do voto condutor, de lavra do Ministro
seguinte
o
M a r c o A u r é l i o :
" n ã or e s t a r
albergado pela disposição constitucional caso
autos, em que houve, na operação antecedente,
dos
como
ento do Imposto sobre Circulação de Mercadorias,
opagame
e ai s e n ç a
o na bseqüente", assegurando-se o direito ao
103
c r é d i t o do
c
imposto pago.
Crédito ao da impossibilidade do credi-
uestão semelhante
mento do ICMS pago nas aquisições de matérias-primas
também contribui para de-
-
e cujojulgamento se
isentas
dimensão normativa da não-cumulatividade do
duzir a
CMS, sob
o ponto de vista da jurisprudência do Supremo
Tribunal
Federal. vedação ao creditamento
é a relativa à
imposto recolhiao sobre a matéria-prima adquirida em
do concedido ao seu vende-
outro Estado,
objeto de incentivo
dor.
Em relação ao assunto, por esclarecedor, vale trans-
excerto do voto condutor no julgamen-
crever o seguinte
Extraordinário n° 109.486-9 SP, proferido -
to do Recurso
Ministro lImar Galvão:
pelo
desenvolvido. Com efeito, a glosa efetuada
Incensurável o raciocinio
da não-
destino da mercadoria não afrontou principio
o
pelo Estado de
cumulatividade que, diferentemente
do entendido pela recorrente, visa
em cada operaço
relativa
tao-somente a assegurar compensação,
a
do montante do tributo que foi exigido
nas
pelo SOrdar
Emenda
anteriormente à n°94.177-
remo Tribunal Federal, além do leading
case (RE
de 1° de zembro demonstram,
Rel. Min. Décio
de 1983, comoo
MG, STE, 2 Turma,
SP), Outros: o RE n° 91.107-3
STE, 14 Turma, Rel.
Min. Ratae
Miranda 103.217-1- SP,
Mayer 10-1980; e o RE n°
Mayer, DJ 14-12-1984.
69
NAO-CUMULATIVIDADE DO ICMS
o respectivo crédito não haver sido admitido no Estado de destinn
pode afetar a equação final, custo do produtoimposto tolal .
so
Extraordinário n° 161.031-0 - MG, cuja ementa
assim redigida: MERCADORIA USA-
N
vedadora da compensação
Vidade norma valorativa da base
de incidéncia
ter-se a diminuição
anterior. O fato de Os preceitos das
constitucional, tal proibição. Fe
não autoriza, sob o ângulo artigo 155 da Constituiçao
inciso lI do § 2 do
alineas "a"e 'b" do caso de isenção ou não-incidência,
em o com
Oeral somente tëm pertinência institutos
incontundiveis
totalidade do
tributo,
no que voltadas à
beneficio fiscal em questao.
anterior mante-
posicionamento
EDAI n° 497.7
.755-1 -
RJ, cuja
redigida:
TRIBUTÁRI0. IMPOSTO SOBRE CIRCULAÇÃO DE
CAFE COMPRADO AO 1BC. SUMULA 571. O MERCADORIAS
o torrefador é o do
crédito a que tem direito
imposto que figuraria na nota fiscal que o BC ex
pediria se não fosse uma autarquia, e não o do
imposto, isoladamente
considerado, pago pelo produtor na venda efetuada ao lBC. A
são do torrefador,
aparentemente preten
paradoxal, decorre da circunstancia
de vender o lBC
por menos do
Subsidio ao consumidor interno.0que compra, na pratica da politica de
108
AGRG n° 201.764-7-SP, STF, 1*
0O Supremo Tribunal Federal
Turma, Rel. Min. Eros Grau, D] 25-02-2005.
já se posicionou no sentido da
(AGRE 118.049 SP, STE, 1""irrelevância
se tratar, ou
não, de empresa
Min." Ellen Gracie, DJ torrefadora" ae
Turma, Rel.
110 18-05-2001).
ERE n° 92.766- RJ, STF, Rel.
Min. Décio Miranda,
J. 17-10-1980.
72
Anderson Trautmann Cardos0
Asrazões sicionamento foram bem expostas
desse
Ministro Néri da Silveira, ao reafirmar o voto proferi
Extraordinario0n92.766-RJ, no voto condu-
Re
dono
dono.
Recurso
amento do Recurso Extraordinário n" 111.661-7
tor do julgament
seguinte termos:
nos
PR,
Reporto-me, nesse:sentido, a0 voto que proferi nos ERE 92.766, inte
ando a maioria constitu no Plenário (RTJ 100/1257-1260)
1
Oprincipio da nao-cumulatividadeOudo montante do imposto pago nas
mesmo outro Estado (Constituição, art.
o0erações anteriores pelo
99 Deceto-lei n° 406/68, art. 3), de forma que, a nosso ver, esse
em relaçao ao imposto devido nas ope
direito de crédito assegurado
e
de cale feita pelo IBC aos produtores. A expressão
racões de compra
no plural, utilizada nos dispositivos citados, já
"operações anteriores, do
do crédito corresponde à soma das parcelas
denota que o montante a propósito,
as operações precedentes. Observa,
ICM relativo a todas
Souza:
Rubens Gomes de e
n' 18, nos arts. 11, parágrafo unico,
Tanto éassim que a Emenda enunciam a
Constituição
e a
de 1967, arts. 22, 5 4, e 24, § 5,
12,529, ao IPl e ao ICM,
dizendo que em
não-cumulatividade, quanto
norma da Falando
cobrado "nas anteriores".
abater-se-á o imposto
referem-se a todas as parcelas impos
cada operação do
no plural, aqueles
dispositivos imediatamente anterior á
ate (inclusive) a operação
to total acumuladas do imposto total,
relatva aquela
não somente a parcela 29.4.68 na
considerada, e
à considerada (Parecer de
anterior
o ICM, 1972, p
imediatamente
operação Fernando A. Brochstedt,
AO 45.172, do TJ RGS, apud
238). deve limitar-se ao valorda operação0
direto de crédito å tributa-
7.A tese de que o
torrefador implica uma ficção, quantoautonizada
do IBC ao não
de venda feita pela Autarquia,
revenda da não-
DWdade da operação de indevidamente o principio
abatimento o
restringe montante do
pela Constituição e que reduz o
em
na medida que alias, que
Acrescenle-se,
Cumuiatividade, anteriores. art.
cobrado nas
operações o principio do
posto igualmente
prevalece admitir-se
interestaduais nao
de torma a
ds operações em sua
plenitude,
imposto
incidente nas
da Constituição, ao
C, , crédito relativo
ao direito de
yudiquer restrição dá o total do
crédi-
operações anteriores. anteriores que
recolhimentos nao cumu
vários No sistema
8.E a somados operaçáo. número de
qual for o
determinada
consideradoem seja
SEr sera sempre
o mesmo,
lativo, o gravame 73
AO-CUMULATIVIDADE DO ICMS
comercializações ou o aumento de valor em relação ao preco finat
mercadoria (Paulo Roberto Cabral Nogueira, A Reforma Tribut
in Dir. Trib., la. Coletánea, José Bushatsky SP, 1973,
p. 352).em
-
A cumulatividade,
que a Constituição proibe, relativamente ao ICMS,
consiste na cobrança, a cada operação, do imposto, sem o desconto do
que foi pago nas operações anteriores, Quer dizer, o custo dos bens ou
serviços e acrescido do tributo pago nas operações anteriores. Para0
fim de coibir o "efeito cascata" decorrente da cumulatividade, a Cons
RE n° 111.661-7- PR, STE, 1* Turma, Rel. Min. Néri da
Silveira, DJ 13-03-1992.
RE n° 172.394-7- SP, STF, Pleno, Rel. p/ o Acórdão Min. Ilmar Galva0, D)
21-06-1995.
9
REn 154.273-0- SP, STE, Pleno, Rel. p/ o Acórdão Min. Ilmar Galvao, D
14-06-1996.
relatva
ontante cobrado nas anteriores pelo mesmo ou outro Estado ou pelo
Distrito F e d e r a l "
om o montante cobrado
nas anteriores (C.F. art. 155, $ 2, ).
com o
do imposto, somam-se débitos e
somam-se
mais absurdo"114
Embora haja reconhecido que "longe fica de vulne
sobre o
não-cumulatividade conclusão
rar o princípio da
direito do contribuinte à reposição do poder aquisitivo da
moeda quanto crédito tributário reconhecido, homena-
a
crédito e débito" 115 a
geando-se o equilíbrio da equação
monetária de "saldos credo-
posicionar-se sobre a correção
res" de ICMS acumulados pelos contribuintes, admitindo
Sua natureza meramente escritural, diverso foio entendi
mento do Supremo Tribunal Federal, como demonstra o
Embar
relativo a0
Recurso Extraordinário n° 212.163 - SP, assim
e m e n t a d o
77
NAO-CUMULATIVIDADE DO ICMS
com correção monetária. Precedente: RE 282.120, DJ de30/06/199
3.0 Estado do Paraná impugnou apenas o reconnecimento, pelo acór.
dão recorido, do direito à correção monetária do crédito escritural
ral de
ICMS no periodo anterior ao Decreto Estadual 2.044/93, não estand
em causa os créditos escriturados após a edição dessa norma. 4. Aara.
vo regimental provido, para conhecer e improver o recurso extraorin
á-
rio do Estado do Paraná.
Cabe referir, ainda, visando a delimitar a dimensão
normativa da não-cumulatividade do ICMS na jurispru-
dencia do Pretório Excelso, o posicionamento enunciado
em sua Súmula n° 660, no sentido de que: "Não incide
ICMS na importação de bens por pessoa física ou jurídica
que não seja contribuinte do imposto".
Esse entendimento tem como precedente a orientação
adotada pelo Supremo Tribunal Federal ao analisar, por
seu Plenário, o Recurso Extraordinário n° 203.075-9-DE 19
em que se discutia a constitucionalidade de lei distrital que
previa a incidência do ICMS na importação de mercadoria
do exterior por pessoa física, antes da edição da Emenda
Constitucional n° 33, de 11 de dezembro de 2001.
Digno de nota, por elucidativo, o seguinte trecho do
voto de lavra do Ministro Maurício Corrêa, relator para o
acórdão:
2. Estabeleceo artigo 155, incisoll, da Constituição Federal, quecom
pete aos Estados e ao Distrito Federal instituir imposto sobre "operações
relativas å circulação de mercadoriase sobre prestação de serviços de
transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, ainda que
asoperaçõese as prestações se iniciem no exterior, dispondo o seu
inciso IX, alinea "a', primeira parte, que o ICMS incidirá também 'sobre
a entrada de mercadoria importada do exterior, ainda quando Se tratar
de bem destinado a consumo ou ativo fixo do estabelecimento.
3. Do referido preceito sobressaem expressões significativas para se
determinar a extensão da norma constitucional e a exigibilidade ou nao
178
RE-AgRn° 301753-PR,STF, 2* Turma, Rela. Min. Ellen Gracie, DJ 12-12-2003.
RE n° 203.075-9- DF, STF, Pleno, Rel. p/ o Acórdão Min. Maurício Corrêa, D)
29-10-1999.
81
NAO-CUMULATIVIDADE DO ICMS
Então veja, Ministro, nessa hipótese, 0 que vamos ter? Se a tese for var
dadeira, o terceiro, ou seja o último vendedor, vai apropriar-se daul
que estava embutido no preço da diferença de H$21,24 para 18,00, Ou aquilo
seja, em torno de R$ 3,24.
Sr.Presidente, eminente Relator, crelo que temos de um lado o aspecth
82
Anderson Trautmann Cardoso
evCecão, que é a unica, doinciso XI do $ 2" do art. 155 da Cons
s a l v oe x c e ç ã o ,
calvo ex
tituição, onde
está disposto que o ICMS não compreenderá, em sua
tiuecálculo, o montantedo imposto sobre produtos industrializados,
baseo
D&do
quand a operação, realizada entre contribuintes e relativa a produto
estinado à industrialização ou:à comercialização, configure fato gera
dos dois impostos.
dor
Ae como assinalou o eminente Ministro Moreira Alves, o principio da
Aliás, comoassinalo
latividade aplicável ao ICMS não tem outro sentido senão e
ystamente impedir atributação em cascata, é um meio de compensar o
e sese pagou
pagou pelo.
pelo mesmo tributo anteriormente. Por meio da compen-
ue
Ue
25 oidem
NAO-CUMULATIVIDADE DO ICMS 83
Por fim, para se alcançar a dimenso normativaa
não-cumulatividade do ICMS na
jurisprudência da da
Suprema, não se poderia deixar de referir os Recursosorte
traordinários n° 195.621-6-GO6 e n° 70.204-SC1Ex Ex-
No primeiro deles, porque se analisou, sob
sob a égide da
Constituição Federal de 1988, situação em da
que a Fazenda d
Estado de Goiás, diante de infrações cometidas
pelo con
con-
tribuinte, atribui-lhe regime especial, por meio de Portaria
com a obrigatoriedade do recolhimento diário do ICMS
Eo entendimento adotado pelo
Federal, seguindo a
Supremo Tribunal
orientação consagrada
nos
Embargos
no Recurso Extraordinário n' 115.452-7
SP, foi no
tido reconhecer a violação à não-cumulatividade do sen-
-
como demonstra o
ICMS
seguinte excerto do voto do relator, Mi.
nistro Marco Aurélio:
Se, de um lado, fisco é assegurado o controle, a
ao
fiscalização e a
arrecadação dos tributos pela ordem juridica constitucional em vigor,
de outro não menos correto é que não pode introduzir no
cenário juridi-
co procedimento que,
alcançando liberdade de comércio, acabe por
a
criar situação diferenciada relativamente ao
prazo de recolhimento do
tributo. A Carta da República, ao garantir, no
livre exercicio de qualquer trabalho, oficio, ou
preceito do inciso Xll, o
profissão,
atendidas as
qualificações profissionais que a lei estabelecer, revela a igualização de
tratamento, não sendo admissível enfoque que acabe em
com nefastos efeitos no campo da livre concorrência. Ao fiscodesequilibrio
incumbe,
na hipótese de infração fiscal, atuar, exercendo, assim, a fiscalização.
Dai vir a introduzir sistema diferenciado no tocante
ao recolhimento do
tributo, chegando à determinação do recolhimento diário, quando se
tem um sistema geral de crédito e débito para ajuste nos
do mes subsequente, é primeiros dias
passo demasiadamente largo, que se mostra
desproporcional e discrepante da razoabilidade, tendo em vista o obje
tivo perseguido. Até mesmo o
principio da não-cumulatividade fica sola
pado. E que, obrigada ao recolhimento diário, não terão as recorrenies
como implementá-lo, consideradas as entradas de mercadoria E,
tanto, os creditos relativos ao
Imposto sobre Circulação de Mercadofnas
O
RE n° 195.621-6- G0,
STF, 2* Turma, Rel. Min. Marco Aurélio, DJ 10-08-2001.
ERE n° 70.204 SC, STF,
O
Pleno, Rel. Min. Aliomar Baleeiro, DJ 30-04-1971.
RE-ED-EDv n°115.452-SP, STE,
Pleno, Rel. Min. Carlos Velloso, DJ 06-11-190
84 Anderson Trautmann Cardoso
eServiços recolhidos na origem,passando a satisfazer otributo confor
e
notas scais expedidas. Como ciência, em
me Direito, o
meio justifica o
fim, aquele. grifou-se)
mas nãoeste,
NÃO-CUMULATIVIDADE D0 ICMS 87
sistemática e hierarquizadora do direito, demonstrar a real
eficácia da jurídica dentro do sistema em que esti.
norma
ver inserida,
garantindo sua adequada aplicação e eficácia
o que denota a sua relevância.
A distinção faz-se necessária diante da admissão
do
caráter normativo dos princípios, já que, desse
modo, as.
sim como regras, eles passam a constituir espécie do
gå.
nero norma jurídica, com as caracteristicas
peculiares às
normas jurídicas.
De fato, embora as regras evidenciem mais a sua hi
pótese e conseqüência jurídica, os princípios também pos-
suem um pressuposto de fato para a sua aplicação, ainda
que enunciando uma série indeterminada de fatos e corres
pondentes conseqüências jurídicas.
Pois bem, para distingui-los, vários são os critérios
apresentados, podendo-se afirmar a existência de duas
grandes correntes doutrinárias.
O critério da abstração e da
do por Esser. Segundo ele, os
generalidade é apresenta-
diretamente.
como cri-
ainda, com0 Larenz,a" apresentam,
Outros, com o
princípios e regras, a ligação
trio para
istinguir
ério para dist
radicados na próprio
os principios estão
Direito, ou seja, as regras possuem
con-
Direito, aopasso que
anceito de
Con
funcional. Esser e Canaris134
defendem,
meramente
teúdo e regras é funda-
a distinção entre princípios
também, que Considerando que os princí-
normogenetica,
da na função as regras.
fundamento para
nios constituem uma diferençi
indicação de que não há apenas
A considerando o cará-
-
e regras
entre principios uma
de grau ambos, mas
por
ter generalidade apresentado
da a generalidade
dos
de natureza,
u m a vez que
diferença caracterizadora das regras, foi
distingue-se da Para ele, as
princípios inicialmente por Boulanger.155
apresentada e s t a b e l e c i d a s para
u m número
regras
são gerais porque princípios,
embora igual-
indeterminado de casos. Já os
indefinida de situa-
uma série
mente gerais, disciplinam regras as
a partir
dessa distinção, que
ções. Verifica-se, teoria, não pos-
m e s m o em
que se
declare a pró-
não admitem sequer
principios, que
pria hipótese de aplicação.
Calouste Gul-
3. ed. Lisboa:
Ciência do Direito.
Karl. Metodologia da
LARENZ,
benkian,
1997, p. 236; 674.
São Paulo:
CANARIS, op cit, p. 77.
135 Econômica na Constituição
Federal de 1988.
G Eros. A Ordem
Revista dos Tribunais, 199,p. 95.
89
NÃO-CUMULATIVIDADE DO ICMs
Expostas as teorias acima, cumpre referir a distinco
entre princípios e regras na lição de Dworkin,136 que a d
ua-
lifica como uma distinção lógica - e
graude nao apenas de
cujos critérios sãoa forma de aplicação e a circunstância
possuírem ou no uma dimensão de peso. AO seu ver, as
regras so aplicáveis na forma "tudo-ou-nada" (all-or-no
thing), de maneira que, uma vez ocorridos os tatos previs-
tos na norma, a regra é válida e suas conseqüências devem
ser, necessariamente, implementadas.7 Elas possuem di
mensão de peso, de acordo com seu papel maior na dis-
ciplina de condutas, devendo prevalecer, em um conflito
aquela com maior peso. Dessa forma, diante de um con-
flito de regras, que nenhuma estabeleça exceção para
sem
outra, verificar-se-á, necessariamente, a invalidade de umna
delas. Revela-se uma insuperável incompatibilidade,
que conduz necessariamente à eliminação da norma invá-
lida do sistema.13
Para Dworkin, o próprio sistema jurídico deve
regular,
por meio de outras regras, o conflito de regras, decidindo
qual será válida, segundo um critério específico (tempo
ral, de autoridade, de especificidade, etc.).40 Desse modo,
como as exceções apresentadas pelas regras integramoseu
próprio conteúdo, uma enunciação precisa sua deverá in-
cluir a
listagem, exaustiva, de suas exceções. Do contrário,
a regra será inexata e incompleta.
J áos princípios, no entendimento de Dworkin, não
estabelecem quais as
conseqüências jurídicas que devem
se
seguir, no caso da concretização condições neles das
previstas, nem
sequer pretendem estabelecer condições
195
DWORKIN, Ronald. Taking rights serioushy. 6 ed. Londres: Duckworth, 1991,
P. 24.
STbidem,
138
p. 24.
bidem, p. 27.
GRAU, op. cit., p. 99.
140
Ibidem, p. 95.
DWORKIN, Ronald. Taking rights seriously. 6 ed. Londres: Duckworth, 197,
p. 25
90
Anderson Trautmann Cardoso
que façam necessária a sua aplicação, pois visam, preci-
que
ente, a apontaruma direção, revelando o sentido de
uma decisão, mas sem indicar uma em específico.142
Existem situações em que princípios indicam outras
luções ao roblema enfrentado, não prevalecendo o pri-
que nao acarreta afastamento do sistema.
o seu
meiro, o
em outro caso, revelando-se ele o de maior peso,
e fato,
ser uutilizado para a decisão, de maneira que se de-
oderá ser
oderá
erá avaliar, em cada situação, quais os princípios adequa-
diversas as soluções que
dos, o que permite concluir que
caso se privilegie ora a utilização
nodem ser alcançadas,
de um principio, ora de outro. Verifica-se, assim, que os
ou de importância
de
princípios possuem dimensão peso
evidentemente distinta das regras,144
Em uma interação entre princípios, cada princípio
e
entre princípios
nos estudos de Dworkin - , a diferença
1991,
142 6 ed. Londres: Duckworth,
DWORKIN, Ronald. Taking rights seriously.
p. 26.
143 Tbidem.
144 Tbidem.
145 Tbidem
146 Tbidem.
91
NAO-CUMULATIVIDADE DO ICMS
mas se trata de uma dis.
regras não reside apenas no grau,
tinção de qualidade.147
sua distinção daquela
Ao seu ver, o que diferencia
dos princípios
formulada por Dworkin é a qualificação
Ele OS caracteriza comno
como mandados de otimização.
de algo na maior medida
normas que ordenam a realização
fáticas e jurídicas exis-
possível, dentro das possibilidades
determinarão a medida
de seu cumprimento.
tentes, que
mandados de otimização e
Desse princípios são
modo, os
em diferen-
ser cumpridos
caracterizam-se por poderem
ele, são normas
tes graus.5 De outro lado, as regras, para
tratando-se, assim, de
que exigem cumprimento integral,
ou não ser realizados.
"mandados definitivos", que podem
Dessa maneira, sendo válida, a regra deve ser cumprida,
caso contrário, deve ser afastada do ordenamento jurídico.
âmbito do fática
Trata-se, portanto, de determinação no e
147
ALEXY, Robert. Teoria de los Derechos Fundamentales. Madri: Centro de Estu-
dios Constitucionales, 1993, p. 87.
146
Ibidem, p. 86.
149
Tbidem, p. 87.
150 Ibidem.
151 Tbidem.
Co .o
de.Alexy, conceito validade
de No entender
le ou não a regra.
jurídica graduável, não é
ou vale
Valendo,
consequencias jurídicas,152
aplicável e dela
decorrem
suas
Diferentemente
onde
ocorre em
relação à colisão entre
princípios, o
que se verifica é que cada um limita a
ssibilidade juríd do
cumprimento do outro, pois as
05sibilidades jurídicas
pos da medida de
aplicação de cada
Drincípio são determinadas justamente por regras e princí-
Dios que se opõem a sua aplicação, o que leva à necessi-
dade de que os principios sejam ponderados. Nesses casos,
um dos principios deve ceder em favor do outro.
Porém,
diante disso não signitica que o princípio que não
preva-
leceu seja inválido e deva ser eliminado do ordenamento
jurídico. Da mesma forma, não significa que nele se haja
incluído uma cláusula de exceção para que em todos os
casos futuros esse princípio haja que ser considerado como
uma regra satisfeita ou não.154
156Tbidem,p. 93.
159Ibidem,p. 94.
bilidadeterminação
portanto, de
de seu conteúdo em relação aos
e regras contrapostos
e às possibilidades jurí-
princípios apresentam razões
principios
porque os
Isso Ocorre
dicas.
onduzem a
uma determinada solução, mas essas ra-
afastadas por outras, impostas por outro
podem ser
que
zões
NÃO-CUMULATIVIDADE DO ICMS 95
que instituem, ou seja, absolutas, no caso das regrac e pri-
tratando dos princípios.160
ma facie, em se
Além dos autores já citados, outros também contrik.
relativa à distinção entre nrin
íram para a doutrina
e regras. Entre eles, cumpre citar a doutrina de Avila,pios
que cípios
propõe a distinção entre principios e regras com base
"ligação da previsão normativa com a concretização dos fins e
condutas".161 Ao seu ver, normas finalísticas estabelecem.
a
devidos. O seu conteúdo mediato consie
realização de fins
te nas condutas a serem tomadas para
a realização dos fine
as normas finalísticas definem condutac
devidos, ou seja,
fim almejado.162
dirigidas ao alcance do
A conduta humana, para Avila, integra as regras e
direto, no primeiro caso. e
os princípios, como conteudo
reside no grau
indireto, no segundo. Para ele, distinção
a
163 Ibidem.
164 Jbidem.
NAO-CUMULATIVIDADE DO ICMS 97
e harmonia do sistema, erigida a partir.da supremacia da
Constituição Federal.
Nesse sentido, a lição de Lummertz:
O ordenamento juridico deve ser coerente, racional, lógico, deve
ser descrito com proposições jurídicas harmónica que não se
oder
gam, não pode admitir contradições internas ou antinomias. Os Contradi-
diversos
elementos que compõemo ordenamento juridico devem guardar diversos
coerên.
cia entre si. Qualquer incompatibilidade contrastaria com o principio da
coerència e harmonia das normas do ordenamento juridico. Além disso
o ordenamento juridico deve tambem se apresentar como uma
unidade.
que constitui uma exigéncia da coerência narrativa do sistemajurídico,
Desse modo, no que se refere à não-cumulatividade
do ICMS, matéria constitucional da mais alta relevância
teórica e prática para a atividade jurisdicional, em que se
trata da própria supremacia da Constituição Federal, não
se pode decidir com base em critérios meramente
subjeti-
vos, desprovidos de uma análise sistemática.
De fato, imprescindível que sejam apresentados os
mais sólidos fundamentos jurídicos para se decidir, o que
passa, necessariamente, pelo efetivo dimensionamento do
conteúdo da norma constitucional.
Para se realizar o estudo proposto, então, relativo à
eficácia da não-cumulatividade do ICMS, inevitável que se
parta do exame de sua estrutura, levado a efeito na primei-
ra parte do presente trabalho.
E, analisando o conteúdo extraído pela doutrina tri
butária nacional, a partir do estudo do ordenamento
juri-
dico brasileiro, verificou-se que a não-cumulatividade do
ICMS cornstitui instrumento que cria direitos públicos
um
subjetivos para o contribuinte, concretizados por meio de
um mecanismo de compensações, visando a um sistema ae
tributação neutro e isonômico.
100
LUMMERTZ, Henry Gonçalves. Processo de Controle de Constitucionalidade: Te
U1Sitando a inconstitucionalidade da norma. 2006. Dissertação (Mestrado em Direlto
Faculdade de Direito, UFRGS, Porto
Alegre, 2006, p. 191-192.
98 Anderson Trautmann Cardoso
Diante disso, a doutrina tributária nacional é quase
um "princípio constitucio
me e m qualificá-la como
unanc o m oo exemplifica o dizer de Barreto:
u n â n 1
n a1",
l
esse icionamento, o professor José Eduardo So-
com categoricamente:
Concordandoafirma,
Melo
res de
Por isso que "o que permite a assunçã0 dos citados 'créditos' (em
circunstância do contribuinte haver
estrito rigor constituCIonal) e s0 a envolvendo produtos ou
participado de operaçoes anternores quaisquer
mercadorias" (nessas operações adquirindo-lhe titularidade".
a
da
Essa compreensão corresponde à rigorosa interpretação jurídica
e ao significado econômico-financeiro da não-
norma constitucional
entre esses significados, haverá que
cumulatividade. Se houver conflito
termos juridicos.
prevalecer sua intelecçao em
Dai o não poder restar düvida quanto ao conteúdo, sentido e alcance do
da não-cumulatividade (art. 155, S 2,
preceito enunciador do principiode básico, geral e irrestrito.17
I)e, sobretudo, do seu caráter princípio
(grifou-se)
Merece referência, também, a fim
de comprovar esse
doutrina de Greco:
entendimento, o escólio da
circula-
leva conta o ciclo econômico de produção e
em
Este princípio a carga tributária
um todo, e visa distribuir equanimemente
ção como
a fração que Ihe cabe
de modo que cada contribuinte suporte apenas
identificada pelo mecanismo de dedução,
no conjunto. Esta fração é
deve ser vista nao
cabendo sublinhar que a existëncia de acumulação
apenas numa etapa, mas sim à luz das etapas anteriores e subseqüen-
a
tes que estiveram ou estarão sujeitas ao imposto. A cumulação que
não detectada numa unica operaçao,
Constituição proibe, muitas vezes
exame de todo o ciclo de operações.
mas só resulta clara mediante um
saber
Para o controle do atendimento à não-cumulatividade, isto é, para
é aplicar a regra
violação ao principio o modo os simples
se nouve
mais
recolhimentos efetuados
segundo a qual o imposto total (somados
não ser maior do que a multiplicaçaop
em todas as etapas do ciclo) dapodeúltima operação do ciclo económico
valor
da aliquota aplicável pelo resultado apurado ultrapassar aquele valor,
167
do consumidor final). Se o Não-Cumulatividade na Esfera
B Aires Fernandino. O Princípio da
Estad O, da Não-Cumu-
da Silva (Coord.). O Principio Universitäria,
latiain: MARTINS, Ives Grandra de Extensão
20 de. São Paulo: Revista dos Tribunais; Centro
2004, p. 188.
99
NÃO-CUMULATIVIDADE DO ICMS
em alguma etapa do ciclo houve cumulação do imposto vala
devido,168
vale dizer, fo
recolhido imposto maior do que o
No mesmo sentido, ainda, o posicionamento d
Bri- e
to, ao asseverar que "[...] se pode avançar.afirmandri
afirmando
idéia de 'não-cumulatividade' é, entre nós, um 'princí
que aa
tributário uma vez que garante a observância da
ca
dade econômica do
contribuinte"." Mais, acredita
que esse "princípio", na forma como "adotado pela Coons Brito
tituição Federal de 1988 é direito fundamental, tal como ela
50" 170
propria define-o no § 2° do seu
art.
mbora
referindo "princípio constitucional", adotou a
rientação no sentido de que: i) a Constituição Federal de
o regime de compensação necessá-
O98 não estabeleceu
1988 não estabe
da não-cumulatividade do ICMS; e
rioà implementação
dessa forma, havendo previsto que a regulamentação
instituir tratamento
desigual entre contribuintes que se encontrem
em situação equivalente, proibida
qualquer distinção em razão de ocu-
pação profissional ou função por eles exercida, independentemente da
denominaçao juridica dos rendimentos, titulos Ou direitos
Quanto à dimensão normativa da igualdade, merece
referência, por esclarecedora, a doutrina de Ávila:
Na perspectiva da espécie normativa que a exterioriza, a igualdade é
tridimensional. Sua dimensão normativa preponderante é de princípio
na medida em que estabelece o dever de buscar um ideal de igualda-
de, equidade, generalidade, impessoalidade, objetividade, legitimidade,
pluralidade e representatividade no exercicio das competencias atnbu
das aos entes federados. E necessário salientar, todavia, que a igualda-
de possui sentido normativo indireto tanto de regra, na medida em que
em:
em: 28
jul.
2006 2004,
Sistema Constitucional
Tributário. São Paulo: Saraiva,
D.33A Humberto.
P.334-335.
103
NAO-CUMULATIVIDADE DO ICMS
Considerando, então, que: i) a finalidac almejada
p. 337.
Ferreiro
se
Juan
ganizada, que
aceita como principios gerais da tributação a igualdade
lei, da capacidade económica como forma de aplicar
perant a
de todos
efetivana oistriDuiçao dos tributos e a generalidade na
na iqualdade
tinanciamento do gasto público, deve for
Uma
mtrbuição da sustentaçao e
mular leis que
respeitem e efetivamente apliquem nas relações sociais
E maiS adiante explica-nos que ".] la
concretas, aqueles principios. constitucional da
capacidad econõmi-
adecuación de la Ley ai pincipio ver de modo explicito la intención
ca exige,
la
que el texto de Ley haga
y em definitiva, no al
em terminosS económicoS
Del legislador de gravar "Y para que
consumidor finalr". E finalmente ressalta:
fabricante sino al el ordena-
efectiva tenga lugar, insisto, es preciso que
esta aplicación läs
brinde la proteccción adecuada a todas
mento jurídico reconozca y
conduzcan a que el sujeito que el legislador
relaciones sOciales que
sea efectivamente el sujeto gravado por
quiere gravar com impuesto
este impuesto".
Estas palavras são precisas. O legislador
ordinário, determinando que
dos agen-
o principio da não-cumulatividade
se estenda sobre cada um
valor real dos bens e
tes do ciclo, estará impondo a presenvação do
tenna a
inclusive o consumidor tinal,
serviços, de forma que todos eles,
capacidade econômica garantida e preservada."
renovado no seguinte
posicionamento de Melo é
trecho de sua doutrina:
tem naturais implicações cunho
de
Aexpressão "não-cumulatividade" de índole econômica e até mesmo
dicelro, demandado considerações
ser compreendida abrangencia
a
Onca. Entretanto, para que possa
considere os diversos principios
E Seu significado, é imprescindível verdadeiro designio
o seu
Conebpdra que possa
ser alcançado
Constitucional.
MELO, José Eduardo Soares de; LIPPO, Luiz Francisco. A Não-Cumulatividade
pela rerncioionão-cumulatividade
da
(que a doutrina, de um modo
geral,
chama
de prin da
não-Cumulatividade),
não-Cumulati
o montante
Ihido em cada operação mercantil ou prestação de serviçode deICMS reco
transpor
teinterestadual e intermunicipalee de comunicação, transforma-se num
num
rédito fiscal, que
sera deduzido do
quantum de imposto ama-se quan
do da prátic de novas operaçoes mercantis ou prestaçõespagar,
de serviços,
por novos comerciantes ou industr Em suma, na apuração total
de ICMS a recolher, compensa-se "'o que for devido em cada operação
relativa à circulação de mercadorias ou prestação de serviços com o
montante cobrado nas anteriores pelo mesmo ou por outro Estado ou
pelo Distrito Federal" (CF, art. 155, §29,)
Ao analisarem o ICM, Geraldo Ataliba e Cleber Giardino apontam
objetivos da não-cumulatividade:
O Crédlito do ICM tem como finalidade assegurar que esse tributo seja
eficaz instrumento de concomitante promoção de dois desígnios cons-
titucionais-que transcendem de muito seu cunho de simples meio de
realização de receitas públicas - manifestos nas dobras do sistema: a)
onerada
garantir que uma mesma mercadoria não seja multiplamente
não o deva pagar
pelo imposto; b) garantir que o mesmo contribuinte Texto
se não uma só vez e em medida idealmente
fixada no própria
Constitucional"
torme-se um
A não-cumulatividade visa, assim, impedir que o imposto
de circulaçao do
gravame cada vez mais oneroso nas várias operações
e de indus-
produtoou mercadoria, de prestação dos aludidos serviços
trialização de produtos, deixando-os proibitivos.mais nada, o próprio prin-
antes de
Em verdade, tal diretriz homenageia, sentidomaterial.
Cipio da igualdade, entendida em seu
outro
restam de que
mesma forma, dúvidas não
Da nãso-cumulativi-
axiologicamente sobrejacente à
ncipio na medida
em que o
neutralidade,
dae ICMS é
do o da das em
sistema cumulativo incentivava a verticalização
e comercia-
Dree
presas, pois quanto maior o ciclo de produção
incidente. Eo
lização das mercadorias, maior a tributação
pois,
de acordo com as premissas expostas no ponto
flito, tuações
anterior, essas situ devem ser solucionadas por meio
hierarquização, ou seja, o princípio constitucional pre-
da.
alece sobre
regra infraconstitucional, ao passo que a
sobre a
16
AVILA, Humberto. Teoria dos Princípios: da
jurídicos. São Paulo: Malheiros, 2003, p. 83-84. definição
à aplicação dos princip
princípio ou regra
estudos
ormuladas
partir das lições dos principais
a
Teoria Geral do Direito acerca de sua
resentados pela
os preconizados por Dworkin
e
apre
especialmente
distinção,
da normativa que exterioriza
Alexy, na perspectiva especie caracteri-
n ã o - c u m u l a t i v i d a d e do ICMS
a
forma,
a de sua constitucional, na medida e m que
como u m a regra
za-se
comportamento a ser
adotado pelo Poder
um
estabelece
e pelo Poder Executivo, qual seja, respeitar a
Legislativo ICMS devido e m cada
de s e compense o
determinação que
m o n t a n t e cobrado nas
anteriores, deven-
com o da
operação com os princípios
e m consonância
do ser interpretada
igualdadee d a n e u t r a l i d a d e .
lhe éé
Isso denota a imprecisão da qualificação que
nacional e pela jurispru-
doutrina tributária
concedida pela e m que,
Tribunal Federal, na medida
dência do Supremo atribuem-lhe efei-
c o m o princípio,
mesmo qualificando-na
tos c o n c e r n e n t e s às regras.
Essa classificação equivocada
"de que os
decorra do apego à concepção
PoSSTVelmente valores
mestras o u os
principios são alicerces, as vigas
os etei-
irradiam os seus
sobre o qual
aO ordenamento jurídico, dizer de Åvila, "uma distinçãojra-
S que se revela, n o
cados princípios em relação as regras.
Constitucionalidade:
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ÁVILA, Humberto. A Teoria dos Princípios2006, e o Direito
111
NAO-CUMULATIVIDADE DO ICMS
4.Conclusão
7. A
dimensão normativa da não-cumulatividade do
ICMS, partindo-se
da definição conceitual das especIes
114 Anderson Trautmann Cardoso
cmativas princípio e regra, formulada a partir das lições
rincipais modernos estudos apresentados pela Teoria
Geral do.
Direito acerca de sua distinção, especialmente os
preconizad por Dworkine Alexy, na perspectiva da es-
cie normativa que terioriza e de sua forma, é de regra
rOnstitucional, na medida em que estabelece um compor-
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NAO-CUMIIL ATILIDADD
ABDConsf
GRADI
JACA
Impressão:
Rua WaldomiroEvangraff
Fone: (51) Schapke, 77 P. Alegre, RS
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da não-cumulatividade do ICMS
livrari
DO AD 0000000702
34