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Processo n.º:0839937-69.2022.8.23.0010
S E N T E N Ç A (EM AUDIÊNCIA)
I – RELATÓRIO
II – FUNDAMENTAÇÃO
A Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu que o depoimento dos
policiais que fizeram o flagrante é meio de prova idôneo, podendo,
consequentemente, “fundamentar a condenação, mormente quando corroborado em
Juízo, no âmbito do devido processo legal” (AgRg no HC 649.425/RJ).
Pelo que consta nos autos, não há como acatar a tese de desclassificação do crime
de tráfico para a conduta típica prevista no artigo 28 da Lei 11.343/2006, uma vez
que é incompatível com o caso, seja pelas circunstâncias em que o réu foi preso,
seja pelos depoimentos das testemunhas.
O pleito de desclassificação para uso próprio deve ser rejeitado, pois a redação do
artigo 28 da Lei n°11.343/2006 é clara ao dispor que a quantidade e natureza do
entorpecente apreendido, bem como o local e condições em que se desenvolveu a
ação criminosa, além das circunstâncias sociais e pessoais do caso devem ser
analisadas pelo juiz e no caso concreto indicam que a droga não se destinava
exclusivamente ao consumo pessoal.
Nesse sentido, é fácil perceber que o réu atuava na atividade de tráfico de drogas,
sendo, pois, medida imperativa a condenação nos moldes das alegações finais
ofertadas pelo Ministério Público.
III – DISPOSITIVO
Consta um processo com condenação capaz de gerar maus antecedentes que será
valorado na 1ª fase da dosimetria da pena (proc. n.º 0801678-39.2021.8.23.0010).
Deve-se destacar que Boa Vista é a capital do Estado menos populoso do país e,
nos termos do art. 42 da Lei 11.343/2006, tais fatos devem ser considerados na
fixação da pena base.
Dessa forma, tendo em vista que a dosimetria da pena é matéria sujeita a certa
discricionariedade judicial e que o Código Penal ou Lei de Drogas não estabelece
regras exclusivamente objetivas e/ou esquemas matemáticos para sua fixação,
estando mais próximo dos fatos, da realidade local e na busca de se evitar decisões
contraditórias, este Juízo, sem se afastar das normas dos arts. 59 e 68 do Código
Penal e, em observância ao comando de preponderância do art. 42 da Lei de
Drogas, estabeleceu parâmetros para fixação da pena base, nos quais, para
determinar possível exacerbação atinente às circunstância da quantidade e da
natureza da droga apreendida, considera a realidade local, a quantidade em si, da
substância e, se for o caso, sua variedade/diversidade.
Todavia, no que se refere ao art. 42 da Lei 11.343/2006, o juízo não deve ficar
restrito à aplicação exclusiva dessas frações (1/6 ou 2/6). Evidente que estas
poderão ser moduladas no recrudescimento da pena base, a depender da
quantidade da substância e se há ou não variedade/diversidade desta, respeitado,
em regra, os limites máximos acima esposados ou até em patamar superior,
admitido nas situações em que algum destes fatores (quantidade e natureza)
excede a realidade local.
Deve-se destacar que estes critérios balizadores não são absolutos, mas servem
apenas como parâmetros gerais, que são sopesados de acordo com o caso sob
análise, sendo certo que a pena não deve ser um simples cálculo aritmético, deve
prevalecer a sensibilidade do julgador no exame dos fatos.
Desse modo, com base no princípio do livre convencimento motivado, ainda que
valorado negativamente um único vetor, considerada sua preponderância, o julgador
poderá até concluir pela necessidade de exasperação da pena-base em fração
superior a 1/6 se considerar expressiva a quantidade da droga, sua diversidade e/ou
natureza (art. 42 da Lei n. 11.343/2006). Nesse sentido:
4. O juiz pode fixar regime inicial mais gravoso do que aquele relacionado
unicamente com o quantum da pena desde que fundamente concretamente.
O tráfico ilícito de entorpecentes é um dos crimes que devem ser banidos do nosso
meio social em virtude dos grandes males causados.
Isto posto, fixo para o crime de tráfico de drogas a pena base em 06 anos de
reclusão.
Incide a atenuante da confissão, motivo pelo qual atenuo a pena em 1/6, fixo a pena
em 05 anos de reclusão.
V – PROVIDÊNCIAS
Condeno o réu ao pagamento das custas processuais. Intime-se o réu, por meio de
seu procurador legalmente constituído, para efetuar o recolhimento dos valores a
título de custas. Intimado o réu e em caso de não pagamento, certifique-se e
PROTESTE-SE.
De acordo com Tema 647 do STF, “É possível o confisco de todo e qualquer bem
de valor econômico apreendido em decorrência do tráfico de drogas, sem a
necessidade de se perquirir a habitualidade, reiteração do uso do bem para tal
finalidade, a sua modificação para dificultar a descoberta do local do
acondicionamento da droga ou qualquer outro requisito além daqueles previstos
expressamente no art. 243, parágrafo único, da Constituição Federal.”
Desta forma, com fundamento no art. 63, da Lei 11.343/2006, decreto o perdimento
em favor da União dos bens e valores apreendidos, após o trânsito em julgado.
Juíza Titular