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AgRg no HABEAS CORPUS Nº 831367 - SC (2023/0205081-5)

RELATOR : MINISTRO RIBEIRO DANTAS


AGRAVANTE : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
AGRAVADO : EVERTON DA BOIT OLIVEIRA (PRESO)
ADVOGADO : RICHARD MANOEL LESSA VIEIRA - SC051180
INTERES. : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SANTA CATARINA

EMENTA

AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE


DROGAS. AFASTAMENTO DA MINORANTE DO ART. 33, §4º DA LEI
11.34/2006. IMPOSSIBILIDADE. NÃO COMPROVAÇÃO DE
DEDICAÇÃO À ATIVIDADE CRIMINOSA. RECURSO NÃO PROVIDO.
1. A teor do disposto no § 4º do art. 33 da Lei n. 11.343/2006, os condenados
pelo crime de tráfico de drogas terão a pena reduzida, de um sexto a dois
terços, quando forem reconhecidamente primários, possuírem bons
antecedentes e não se dedicarem a atividades criminosas ou integrarem
organizações criminosas.
2. No caso, observa-se que o Tribunal de origem considerou o conteúdo dos
diálogos interceptados para concluir que o paciente já conhecia a pessoa de
quem adquiria o entorpecente. Não obstante, como bem pontuou o juiz de
primeiro grau, referidos diálogos revelam a "alta probabilidade de que os réus
tenham enviado drogas a Danilo em outras oportunidades" todavia "não existe
nos autos elementos concretos dando conta de tais ocorrências" (e-STJ, fl.
43).Com efeito, a referida minorante não pode ser afastada com base tão
somente em probabilidade de envolvimento anterior com o tráfico de drogas.
3. Ademais, como reconheceu a própria Corte de origem, o quantum de droga
apreendido (530,5g de maconha) não é suficiente, por si só, para se inferir a
dedicação do paciente ao tráfico, sobretudo quando certificada sua
primariedade e seus bons antecedentes.
4. Assim, à míngua de elementos probatórios que indiquem a dedicação do
acusado em atividade criminosa, é de rigor a aplicação do redutor do art. 33, §
4º, da Lei n. 11.343/2006, tal qual reconhecido pelo juiz sentenciante.
5. Agravo regimental desprovido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, acordam os
Ministros da QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiça, em sessão virtual de
12/09/2023 a 18/09/2023, por unanimidade, negar provimento ao recurso, nos termos do voto do
Sr. Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Reynaldo Soares da Fonseca, Joel Ilan Paciornik, Messod Azulay
Neto e João Batista Moreira (Desembargador convocado do TRF1) votaram com o Sr. Ministro
Relator.
Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Messod Azulay Neto.
Brasília, 18 de setembro de 2023.

Ministro Ribeiro Dantas


Relator
AgRg no HABEAS CORPUS Nº 831367 - SC (2023/0205081-5)

RELATOR : MINISTRO RIBEIRO DANTAS


AGRAVANTE : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
AGRAVADO : EVERTON DA BOIT OLIVEIRA (PRESO)
ADVOGADO : RICHARD MANOEL LESSA VIEIRA - SC051180
INTERES. : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SANTA CATARINA

EMENTA

AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE


DROGAS. AFASTAMENTO DA MINORANTE DO ART. 33, §4º DA LEI
11.34/2006. IMPOSSIBILIDADE. NÃO COMPROVAÇÃO DE
DEDICAÇÃO À ATIVIDADE CRIMINOSA. RECURSO NÃO PROVIDO.
1. A teor do disposto no § 4º do art. 33 da Lei n. 11.343/2006, os condenados
pelo crime de tráfico de drogas terão a pena reduzida, de um sexto a dois
terços, quando forem reconhecidamente primários, possuírem bons
antecedentes e não se dedicarem a atividades criminosas ou integrarem
organizações criminosas.
2. No caso, observa-se que o Tribunal de origem considerou o conteúdo dos
diálogos interceptados para concluir que o paciente já conhecia a pessoa de
quem adquiria o entorpecente. Não obstante, como bem pontuou o juiz de
primeiro grau, referidos diálogos revelam a "alta probabilidade de que os réus
tenham enviado drogas a Danilo em outras oportunidades" todavia "não existe
nos autos elementos concretos dando conta de tais ocorrências" (e-STJ, fl.
43).Com efeito, a referida minorante não pode ser afastada com base tão
somente em probabilidade de envolvimento anterior com o tráfico de drogas.
3. Ademais, como reconheceu a própria Corte de origem, o quantum de droga
apreendido (530,5g de maconha) não é suficiente, por si só, para se inferir a
dedicação do paciente ao tráfico, sobretudo quando certificada sua
primariedade e seus bons antecedentes.
4. Assim, à míngua de elementos probatórios que indiquem a dedicação do
acusado em atividade criminosa, é de rigor a aplicação do redutor do art. 33, §
4º, da Lei n. 11.343/2006, tal qual reconhecido pelo juiz sentenciante.
5. Agravo regimental desprovido.

RELATÓRIO

Trata-se de agravo regimental interposto pelo MINISTÉRIO PÚBLICO


FEDERAL, contra a decisão de fls. 900-902 (e-STJ), que concedeu habeas corpus de ofício,
para restabelecer a minorante do art. 33, §4º da Lei 11.343/2006, nos termos em que reconhecido
pela sentença de primeiro grau.
O agravante alega, em suma, que restou "evidenciado nos autos que o paciente se
dedica à atividade criminosa, ante os diálogos interceptados e pela quantidade de droga
apreendida em seu poder, não se aplica a causa de diminuição de pena descrita no §4º do art. 33
da Lei Antitóxicos."
Requer, ao final, a reconsideração da decisão agravada ou a submissão do presente
recurso ao órgão colegiado.
É o relatório.

VOTO

Não obstante os argumentos expendidos pelo agravante, estes não possuem o condão
de infirmar os fundamentos da decisão agravada.
Consoante anteriormente explicitado, a Corte de origem, ao dar parcial provimento
ao apelo ministerial, afastou o redutor do art. 33, § 4º, da Lei de Drogas, com base nos seguintes
fundamentos:

"Com a devida vênia ao entendimento da togada singular, nos diálogos interceptados


restou claro que Maria Laura e Everton já conheciam a pessoa da qual adquiriram o
entorpecente naquela data, sob orientação de Danilo. Em conversa datada de
19/8/2011, Danilo instruiu Maria Laura a deixar as "pratas" para a "MA". Na mesma
data, Danilo conversou com Everton acerca do "corre" combinado (fl.44):

DANILO: [...] eu queria que tu levasse aquelas "pratas" ali para mim, cara. É aqui
pertinho de onde é que eu estou. Eu vou ligar... vou marcar com a guria ("MA") num
lugar, mas tem que ver que horas tu vai sair daí, né?
EVENTON: Tá! A hora que eu sair daqui.
DANILO: E eu consegui aquele outro lá. É lá naquela casa que vocês foram aquele dia
buscar aquela tinta lá.
EVENTON: Aham! Sei..
DANILO: Tá ligado?
EVENTON: Aham.
DANILO: É lá que está o "chá chileno"(grifou-se).

Dessarte, ainda que a quantidade apreendida (530,5g de maconha), por si só, não seja
suficiente a demonstrar a dedicação a atividades criminosas, esta circunstância, aliada
aos demais elementos colhidos, permite concluir que os réus já estavam
familiarizados com a atividade ilícita perpetrada.
Com efeito, o pressuposto previsto em lei da não dedicação a atividades criminosas
refere-se aos casos em que o crime de tráfico de drogas seja um evento isolado na
vida do acusado (LIMA, Renato Brasileiro de. Legislação criminal especial
comentada: v. único. 4. ed. rev., ampl. e atual. Salvador: Jus PODIVM, 2016.
p.757).[...] (e-STJ, fls. 79-80).

A teor do disposto no § 4º do art. 33 da Lei n. 11.343/2006, os condenados pelo


crime de tráfico de drogas terão a pena reduzida, de um sexto a dois terços, quando forem
reconhecidamente primários, possuírem bons antecedentes e não se dedicarem a atividades
criminosas ou integrarem organizações criminosas.
Como é cediço, o legislador ao instituir o referido benefício legal, teve como objetivo
conferir tratamento diferenciado aos pequenos e eventuais traficantes, não alcançando, assim,
aqueles que fazem do tráfico de entorpecentes um meio de vida.
Na falta de parâmetros legais para se fixar o quantum dessa redução, os Tribunais
Superiores têm decidido que a quantidade e a natureza da droga apreendida, além das demais
circunstâncias do delito, podem servir para a modulação de tal índice ou até mesmo para impedir
a sua aplicação, quando evidenciarem o envolvimento habitual do agente com o narcotráfico (HC
401.121/SP, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado
em 27/6/2017, DJe 1/8/2017 e AgRg no REsp 1.390.118/PR, Rel. Ministro ROGERIO
SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 23/5/2017, DJe 30/5/2017).
No caso, observa-se que o Tribunal de origem considerou o conteúdo dos diálogos
interceptados para concluir que o paciente já conhecia a pessoa de quem adquiria o entorpecente.
Não obstante, como bem pontuou o juiz de primeiro grau, referidos diálogos revelam a "alta
probabilidade de que os réus tenham enviado drogas a Danilo em outras oportunidades" todavia "
não existe nos autos elementos concretos dando conta de tais ocorrências" (e-STJ, fl. 43,
grifou-se).
Com efeito, a referida minorante não pode ser afastada com base tão somente em
probabilidade de envolvimento anterior com o tráfico de drogas.
Ademais, como reconheceu a própria Corte de origem, o quantum de droga
apreendido (530,5g de maconha) não é suficiente, por si só, para se inferir a dedicação do
paciente ao tráfico, sobretudo quando certificada sua primariedade e seus bons antecedentes.
Assim, à míngua de elementos probatórios que indiquem a dedicação do acusado em
atividade criminosa, é de rigor a aplicação do redutor do art. 33, § 4º, da Lei n. 11.343/2006, tal
qual reconhecido pelo juiz sentenciante.
Confira-se o seguinte precedente que respalda esse entendimento:

"HABEAS CORPUS. TRÁFICO ILÍCITO DE ENTORPECENTES.


CONDENAÇÃO. CAUSA ESPECIAL DE DIMINUIÇÃO. AFASTAMENTO.
AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA. ILEGALIDADE.
OCORRÊNCIA. REGIME INICIAL ABERTO. SUBSTITUIÇÃO DA PENA.
POSSIBILIDADE. CONCESSÃO DA ORDEM.
1. As instâncias de origem não lograram fundamentar de maneira idônea o
afastamento da causa especial de diminuição de pena prevista no art. 33, § 4º, da Lei
n. 11.343/2006, porquanto não declinaram elementos concretos dos autos aptos a
demonstrar a efetiva dedicação do paciente às atividades criminosas ou a sua
participação em organização criminosa. Imperiosa, pois, a aplicação da minorante no
quantum de 2/3, redimensionando-se a pena para 1 ano, 11 meses e 10 dias de
reclusão e 193 dias-multa.
2. Fixada a pena-base no mínimo legal, ante a ausência de motivos para a sua
exasperação, e aplicada a causa especial de diminuição de pena prevista no art. 33, §
4º, da Lei n. 11.343/2006 em patamar máximo, sendo a reprimenda final inferior a 4
anos de reclusão, é possível o estabelecimento do regime inicial aberto e a
substituição da pena privativa de liberdade por restritivas de direitos, a teor do
disposto no art. 33, § 2º, c, e 44 e incisos, ambos do Código Penal.
3. Ordem concedida a fim de reduzir a pena do paciente para 1 ano, 11 meses e 10
dias de reclusão e 193 dias-multa, bem como fixar o regime inicial aberto,
possibilitando, ainda, a substituição da pena privativa de liberdade por restritivas de
direitos, a serem fixadas pelo Juízo das Execuções."
(HC 395.574/SP, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA
TURMA, julgado em 3/8/2017, DJe 14/8/2017).

Dessa forma, verifica-se que o recorrente não trouxe elementos aptos a infirmar a
decisão agravada, razão pela qual merece subsistir por seus próprios fundamentos.
Ante o exposto, nego provimento ao agravo regimental.
É o voto.
TERMO DE JULGAMENTO
QUINTA TURMA
AgRg no HC 831.367 / SC
Número Registro: 2023/0205081-5 PROCESSO ELETRÔNICO
MATÉRIA CRIMINAL
Número de Origem:
00170011220118240020 020110170016 170011220118240020 20110170016

Sessão Virtual de 12/09/2023 a 18/09/2023

Relator do AgRg
Exmo. Sr. Ministro RIBEIRO DANTAS

Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro MESSOD AZULAY NETO

Secretário
Me. MARCELO PEREIRA CRUVINEL

AUTUAÇÃO

IMPETRANTE : RICHARD MANOEL LESSA VIEIRA


ADVOGADO : RICHARD MANOEL LESSA VIEIRA - SC051180
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SANTA CATARINA
PACIENTE : EVERTON DA BOIT OLIVEIRA (PRESO)
CORRÉU : DANILO DE BITTENCOURT BURIGO
CORRÉU : MARIA LAURA ROCHA
INTERES. : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA

ASSUNTO : DIREITO PENAL - CRIMES PREVISTOS NA LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE -


CRIMES DE TRÁFICO ILÍCITO E USO INDEVIDO DE DROGAS - TRÁFICO DE
DROGAS E CONDUTAS AFINS

AGRAVO REGIMENTAL

AGRAVANTE : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL


AGRAVADO : EVERTON DA BOIT OLIVEIRA (PRESO)
ADVOGADO : RICHARD MANOEL LESSA VIEIRA - SC051180
INTERES. : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SANTA CATARINA

TERMO

A QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiça, em sessão virtual de 12/09/2023 a 18/09


/2023, por unanimidade, decidiu negar provimento ao recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Reynaldo Soares da Fonseca, Joel Ilan Paciornik, Messod Azulay Neto e
João Batista Moreira (Desembargador convocado do TRF1) votaram com o Sr. Ministro Relator.
Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Messod Azulay Neto.

Brasília, 19 de setembro de 2023

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