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AgRg no HABEAS CORPUS Nº 653358 - SC (2021/0082145-8)

RELATOR : MINISTRO JOÃO OTÁVIO DE NORONHA


AGRAVANTE : KESIA DOS SANTOS (PRESO)
ADVOGADO : MARCELO WOJCIECHOWSKI DORNELES DA SILVA - RS078267
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SANTA CATARINA

EMENTA

AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS E


ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO. PRISÃO PREVENTIVA. REVOGAÇÃO.
IMPOSSIBILIDADE. PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS LEGAIS.
SUBSTITUIÇÃO POR PRISÃO DOMICILIAR. FILHO MENOR. DEDICAÇÃO A
ATIVIDADE DELITUOSA. RECURSO DESPROVIDO.
1. A prisão preventiva é cabível mediante decisão fundamentada em dados concretos,
quando evidenciada a existência de circunstâncias que demonstrem a necessidade da medida
extrema, nos termos dos arts. 312, 313 e 315 do Código de Processo Penal.
2. São fundamentos idôneos para a decretação da segregação cautelar no caso de
tráfico ilícito de entorpecentes a quantidade, a variedade ou a natureza das drogas
apreendidas.
3. Indefere-se o pleito de prisão domiciliar à mãe de menor de 12 anos quando não há
prova de que o filho depende exclusivamente dos cuidados dela e quando as instâncias
ordinárias concluírem que a custodiada dedica-se ao tráfico de entorpecentes e que a criança
recebe atenção e assistência de terceiros.
4. Agravo regimental desprovido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da
QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, negar provimento ao agravo
regimental.
Os Srs. Ministros Reynaldo Soares da Fonseca, Ribeiro Dantas e Joel Ilan Paciornik votaram
com o Sr. Ministro Relator.
Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Felix Fischer.

Brasília, 11 de maio de 2021.

MINISTRO JOÃO OTÁVIO DE NORONHA


Relator
AgRg no HABEAS CORPUS Nº 653358 - SC (2021/0082145-8)

RELATOR : MINISTRO JOÃO OTÁVIO DE NORONHA


AGRAVANTE : KESIA DOS SANTOS (PRESO)
ADVOGADO : MARCELO WOJCIECHOWSKI DORNELES DA SILVA - RS078267
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SANTA CATARINA

EMENTA

AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS E


ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO. PRISÃO PREVENTIVA. REVOGAÇÃO.
IMPOSSIBILIDADE. PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS LEGAIS.
SUBSTITUIÇÃO POR PRISÃO DOMICILIAR. FILHO MENOR. DEDICAÇÃO A
ATIVIDADE DELITUOSA. RECURSO DESPROVIDO.
1. A prisão preventiva é cabível mediante decisão fundamentada em dados concretos,
quando evidenciada a existência de circunstâncias que demonstrem a necessidade da medida
extrema, nos termos dos arts. 312, 313 e 315 do Código de Processo Penal.
2. São fundamentos idôneos para a decretação da segregação cautelar no caso de
tráfico ilícito de entorpecentes a quantidade, a variedade ou a natureza das drogas
apreendidas.
3. Indefere-se o pleito de prisão domiciliar à mãe de menor de 12 anos quando não há
prova de que o filho depende exclusivamente dos cuidados dela e quando as instâncias
ordinárias concluírem que a custodiada dedica-se ao tráfico de entorpecentes e que a criança
recebe atenção e assistência de terceiros.
4. Agravo regimental desprovido.

RELATÓRIO

Trata-se de agravo regimental interposto por KESIA DOS SANTOS contra a decisão de fls.

604-607, que não conheceu do habeas corpus.

A agravante teve a prisão em flagrante convertida em preventiva a pedido do Ministério

Público (fls. 106-119) e foi denunciada por suposta prática dos delitos descritos nos arts. 33, caput, 35,

caput, c/c o art. 40, V, todos da Lei n. 11.343/2006.

O decreto prisional fundou-se na garantia da ordem pública, na gravidade concreta do delito,

na expressiva quantidade dos entorpecentes apreendida – 60kg de cocaína – e na insuficiência de medidas

cautelares alternativas.

A agravante reafirma a tese lançada na inicial de que é cabível a aplicação do art. 318-A do

CPP, de modo que possa aguardar o término da ação penal em prisão domiciliar, pois é mãe de 3 filhos
menores de 12 anos de idade. Afirma que o Ministério Público Federal apresentou parecer pela concessão

da ordem.

Requer a reconsideração da decisão ou a submissão do recurso a julgamento para que seja

provido.

É o relatório.

VOTO

A decisão agravada merece ser mantida.

Registre-se que a prisão preventiva é cabível mediante decisão fundamentada em dados

concretos, quando evidenciada a existência de circunstâncias que demonstrem a necessidade da medida

extrema, nos termos dos arts. 312, 313 e 315 do Código de Processo Penal (HC n. 527.660/SP, relator

Ministro Sebastião Reis Júnior, Sexta Turma, DJe de 2/9/2020).  

No caso, está justificada a manutenção da prisão preventiva, pois foi demonstrado o

preenchimento dos requisitos do art. 312 do CPP, não sendo recomendável a aplicação de medida cautelar

referida no art. 319 do CPP. A propósito, o Juízo de primeiro grau decretou a preventiva nos seguintes

termos (fls. 78-80):


[...] Infere-se dos autos que a paciente foi presa em flagrante juntamente com Josimar Ferreira
dos Santos, Maicon Flores e Cíntia Loeser - e posteriormente denunciados - pela apontada prática dos
crimes de tráfico ilícito de substâncias entorpecentes e associação para tal finalidade, entre entes da
federação, porquanto teriam se agrupado para a traficância - inclusive com outro indivíduo ainda não
identificado - e, no dia vinte e seis de janeiro passado, por volta das14h20min, sido surpreendidos
transportando e trazendo consigo, por dentro das forrações dos veículos Renault/Clio, placas IVC-
5E96, e Ford/KA, placas IUL-2009, com os quais trafegavam, cinquenta e seis tabletes, em um
total de sessenta quilos e duzentos e cinquenta gramas, de pasta base de cocaína, o que
pretendiam levar de Curitiba/PR para Porto Alegre/RS, porém sem autorização ou em desacordo
com determinação legal ou regulamentar.
Diante de tais notícias, o ato foi homologado e convertido em prisão preventiva pelo Togado a
quo sob os bem lançados fundamentos: [...]
O periculum libertatis, por seu turno, evidencia-se pela constatação de que a conduta praticada
pelos representados é dotada de gravidade concreta, já que, ao que consta do caderno investigativo,
transportavam aproximadamente 60 kg da substância vulgarmente conhecida como pasta base
para cocaína, quantidade esta que detêm vultuoso valor econômico - aproximadamente 7
milhões de reais, conforme manifestação do Ministério Público.
Em outros termos, não trata-se de uma simples apreensão de drogas, e sim um milionário
carregamento perpetrado pelos conduzidos. [...]

O entendimento acima está em consonância com a jurisprudência do STJ de que, tendo a

necessidade de prisão cautelar sido exposta de forma fundamentada e concreta, é incabível a substituição

por medidas cautelares mais brandas (RHC n. 133.153/MG, relator Ministro Reynaldo Soares da Fonseca,

Quinta Turma, DJe de 21/9/2020).

No mesmo sentido, o Supremo Tribunal Federal assentou que “a gravidade concreta do

crime, o modus operandi da ação delituosa e a periculosidade do agente, evidenciados pela expressiva
quantidade e pluralidade de entorpecentes apreendidos, respaldam a prisão preventiva para a garantia da

ordem pública” (HC n. 130.708/SP, relatora Ministra Cármen Lúcia, Segunda Turma, DJe de 6/4/2016).

Ademais, eventuais condições subjetivas favoráveis da agravante, como residência fixa e

trabalho lícito, não impedem a prisão preventiva quando preenchidos os requisitos legais para sua

decretação. Essa orientação está de acordo com a jurisprudência do STJ. Vejam-se os seguintes

precedentes: AgRg no HC n. 585.571/GO, relator Ministro Joel Ilan Paciornik, Quinta Turma, DJe de

8/9/2020; e RHC n. 127.843/MG, relatora Ministra Laurita Vaz, Sexta Turma, DJe de 2/9/2020.

Quanto ao pedido de prisão domiciliar, não obstante o disposto no art. 318 do Código de

Processo Penal e a decisão do Supremo Tribunal Federal no HC coletivo n. 143.641/SP, tanto o Tribunal

de origem quanto o Juízo de primeiro grau ressaltaram que “não se mostra recomendável a medida

pretendida, pois a atividade ilícita ocorreu dentro da residência da acusada, colocando em risco a

preservação do bem-estar dos filhos menores” (fl. 30). Isso justifica a negativa da pretensão de

substituição da prisão preventiva por domiciliar.

Sobre essa questão, a Corte a quo ressaltou o seguinte (fls. 83-85):


[...] 4. Do pedido subsidiário de prisão domiciliar
A defesa das acusadas Quezia Santos Faria e Cintia Loeser postula, subsidiariamente, a
concessão de prisão domiciliar, ao argumento que esta é genitora de uma adolescente de17 anos e
aquela mãe de três infantes: 09, 05 e 04 anos (art. 318, V e 318-A, ambos do Código de Processo
Penal). [...]
Em sequência, no que tange à conduzida Quezia Santos Faria, examina-se que o fundamento
da Defensoria Pública é a imprescindibilidade de guarnecer cuidados a três crianças de 09, 05 e 04
anos.
Apesar da manifestação da defesa, não há no feito elemento conclusivo da existência das
infantes e, também, de suposta deficiência. No mais, não subsiste nenhuma informação ou, ao menos,
mínimo indício patente da necessidade da presença e cuidado constante da conduzida em relação a
eventuais crianças.
Frise-se que, conforme relato do conduzido Josimar Ferreira dos Santos, os investigados
viajaram do Estado do Rio Grande do Sul - São Leopoldo, até o Paraná - Curitiba, e
pernoitaram em um hotel. Nesses termos, pela distância do local e pelo tempo da viagem, é
crível que eventuais proles permaneceram sob os cuidados exercidos por terceiros. Assim, é
evidente que os infantes poderão receber atenção e assistência de intercessores [...]
Destarte, a defesa não logrou êxito em justificar o pleito de prisão domiciliar. Até porque,
reforça-se as conduzidas sequer demonstraram a imprescindibilidade dos cuidados aos
eventuais infantes ou informaram que estes encontram-se em situação de risco por falta de
cautela.
Diante do cenário dos autos, aliado ao fato de que as conduzidas foram presas em flagrante
delito na posse de aproximadamente 60kg da substância vulgarmente conhecida como pasta base de
cocaína, avaliada em aproximadamente 7 milhões de reais-constatação ministerial, é perceptível que
a proteção integral das crianças, a qual inclui o dever de garantir um ambiente sadio para o seu
desenvolvimento pleno, ou seja, livre de qualquer influência ilícita e onde sua dignidade, em seu
aspecto mais abrangente, possa ser respeitada, acima de qualquer outro interesse, não restou,
em tese, devidamente resguardada. [...]

Como visto, apesar de a agravante ter comprovado a maternidade dos filhos menores de 12

anos, não ficou demonstrada a imprescindibilidade de sua presença e cuidado em relação aos infantes.

Além disso, as atividades ilícitas demandavam o pernoite em outro Estado, fazendo crer que os menores

recebiam assistência de terceiros, razão pela qual é inviável o acolhimento do pedido de substituição da
custódia cautelar por prisão domiciliar.

Assim, não se trata de descumprimento da decisão do STF no HC. 143.641, mas de caso que

recomenda solução diversa, aplicando-se o distinguishing.

Portanto, visto que a agravante não apresentou argumentos novos capazes de infirmar o

decisum impugnado, mantenho-o por seus próprios fundamentos. 

Ante o exposto, nego provimento ao agravo regimental.

É o voto.
Superior Tribunal de Justiça
CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUINTA TURMA

AgRg no
Número Registro: 2021/0082145-8 HC 653.358 / S C
MATÉRIA CRIMINAL

Números Origem: 50003895320218240022 50007220520218240022 50062863120218240000


EM MESA JULGADO: 11/05/2021

Relator
Exmo. Sr. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro RIBEIRO DANTAS
Subprocuradora-Geral da República
Exma. Sra. Dra. ÁUREA M. E. N. LUSTOSA PIERRE
Secretário
Me. MARCELO PEREIRA CRUVINEL
AUTUAÇÃO
IMPETRANTE : MARCELO WOICIECHOWSKI DORNELES DA SILVA
ADVOGADO : MARCELO WOJCIECHOWSKI DORNELES DA SILVA - RS078267
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SANTA CATARINA
PACIENTE : KESIA DOS SANTOS (PRESO)
CORRÉU : JOSIMAR FERREIRA DOS SANTOS
CORRÉU : CINTIA LOESER
CORRÉU : MAICON FLORES
INTERES. : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA
ASSUNTO: DIREITO PENAL - Crimes Previstos na Legislação Extravagante - Crimes de Tráfico
Ilícito e Uso Indevido de Drogas - Tráfico de Drogas e Condutas Afins

AGRAVO REGIMENTAL
AGRAVANTE : KESIA DOS SANTOS (PRESO)
ADVOGADO : MARCELO WOJCIECHOWSKI DORNELES DA SILVA - RS078267
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SANTA CATARINA

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUINTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na
sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
"A Turma, por unanimidade, negou provimento ao agravo regimental."
Os Srs. Ministros Reynaldo Soares da Fonseca, Ribeiro Dantas e Joel Ilan
Paciornik votaram com o Sr. Ministro Relator.
Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Felix Fischer.

C542164155443452290113@ 2021/0082145-8 - HC 653358 Petição : 2021/0040207-8 (AgRg)

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