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AgRg no HABEAS CORPUS Nº 636164 - RS (2020/0346607-5)

RELATOR : MINISTRO JOÃO OTÁVIO DE NORONHA


AGRAVANTE : CARLA ALVES DA ROSA (PRESO)
ADVOGADOS : SANDRO GUARAGNI E OUTROS - RS078594
MARCOS PÔRTO RODRIGUES - RS092280
AGRAVANTE : ETSON JOAO LEAL DA SILVA (PRESO)
ADVOGADOS : SANDRO GUARAGNI E OUTROS - RS078594
MARCOS PÔRTO RODRIGUES - RS092280
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

EMENTA

AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS E


ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO. PRISÃO PREVENTIVA. REVOGAÇÃO.
IMPOSSIBILIDADE. PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS LEGAIS.
SUBSTITUIÇÃO POR PRISÃO DOMICILIAR. FILHO MENOR. DEDICAÇÃO A
ATIVIDADE DELITUOSA. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.
1. A prisão preventiva é cabível mediante decisão fundamentada em dados concretos,
quando evidenciada a existência de circunstâncias que demonstrem a necessidade da medida
extrema, nos termos dos arts. 312, 313 e 315 do Código de Processo Penal.
2. São fundamentos idôneos para a decretação da segregação cautelar no caso de
tráfico ilícito de entorpecentes a quantidade, a variedade ou a natureza das drogas
apreendidas.
3. Os maus antecedentes e a reincidência evidenciam o maior envolvimento do agente
com a prática delitiva, podendo ser utilizados para justificar a manutenção da segregação
cautelar para garantia da ordem pública, com o objetivo de conter a reiteração delitiva.
4. Indefere-se o pleito de prisão domiciliar à mãe de filho menor de 12 anos quando
não apresentada prova de que depende exclusivamente dos cuidados dela e quando as
instâncias ordinárias concluírem pela dedicação da custodiada ao tráfico de entorpecentes
por ser a residência local de práticas delitivas, colocando em risco a criança.
5. Agravo regimental desprovido.

RELATÓRIO

Trata-se de agravo regimental interposto por CARLA ALVES DA ROSA e ETSON JOÃO

LEAL DA SILVA contra a decisão de fls. 189-191, que não conheceu do habeas corpus.

Os agravantes tiveram a prisão em flagrante convertida em preventiva mediante pedido do

Ministério Público (fl. 49), por suposta prática dos delitos descritos nos arts. 33, caput, e 35 da Lei n.

11.343/2006.

O decreto prisional fundou-se na quantidade de entorpecente apreendida, nos maus


antecedentes da agravante Carla Alves da Rosa e no modus operandi de ambos (fls. 49-67).

Os agravantes reafirmam as teses suscitadas na inicial de que não há fundamentação idônea

para a manutenção da prisão cautelar e de que é cabível a aplicação do art. 318-A do CPP a Carla Alves

da Rosa.

Requerem a reconsideração da decisão ou a submissão do recurso a julgamento para que seja

provido.

É o relatório.

VOTO

A decisão agravada merece ser mantida.

Registre-se que a prisão preventiva é cabível mediante decisão fundamentada em dados

concretos, quando evidenciada a existência de circunstâncias que demonstrem a necessidade da medida

extrema, nos termos dos arts. 312, 313 e 315 do Código de Processo Penal (HC n. 527.660/SP, relator

Ministro Sebastião Reis Júnior, Sexta Turma, DJe de 2/9/2020).  

No caso, está justificada a manutenção da prisão preventiva, pois foi demonstrado o

preenchimento dos requisitos do art. 312 do CPP, não sendo recomendável a aplicação de medida cautelar

referida no art. 319 do CPP. A propósito, o Juízo de primeiro grau decretou a preventiva nos seguintes

termos (fls. 50-52):


[...] Consta dos depoimentos prestados no expediente que acompanha o auto de prisão em
flagrante que a Polícia Militar recebeu denúncia de que um casal estaria traficando em sua residência.
Que foi realizado patrulhamento de rotina e identificado o local como sendo o Bar da Carla, já
conhecido da guarnição como ponto de tráfico de drogas. Que havia um motociclista em frente ao
portão da residência, que empreendeu fuga quando da aproximação da viatura. Que no local estava o
casal e Etson tentou fugir para o interior da residência, tendo sido alcançado e preso. Que com
Etson foram apreendidos valores. Que Carla segurava em sua mão um invólucro contendo uma
pedra de crack e alguns farelinhos de mesma substância. Por fim, mencionou o condutor que
foram lavrados inúmeros termos circunstanciados de usuários abordados com crack que informavam
que adquiriam a droga no Bar da Carla. [...]
Consta do auto de apreensão, que foram apreendidos uma porção maior de crack e
farelos de mesma substância, pesando 10,44g, além de dinheiro e aparelhos celulares. O teste de
constatação provisório realizado deu conta que a substância localizada trata-se de crack. [...]
Com efeito, conforme documentos que acompanham o auto de prisão em flagrante, Carla é
investigada pela prática do tráfico de drogas há algum tempo. [...]
Isso porque já havia informação de que usuários comprovam drogas no "Bar da Carla" e
a flagrada, embora tecnicamente primária, ostenta condenação pelo delito de tráfico. Quanto ao
flagrado Etson João, embora primário, é companheiro e reside com Carla, sendo que o local é
conhecido como ponto de tráfico. [...]

O entendimento acima está em consonância com a jurisprudência do STJ de que a existência

de maus antecedentes e a reincidência justificam a imposição de prisão preventiva como forma de evitar a

reiteração delitiva e, assim, garantir a ordem pública (AgRg no HC n. 591.246/SP, relator Ministro

Antonio Saldanha Palheiro, Sexta Turma, DJe de 22/9/2020; e AgRg no HC n. 602.616/SP, relator


Ministro Ribeiro Dantas, Quinta Turma, DJe de 3/9/2020).

Ademais, conforme a orientação da Quinta Turma, a quantidade, a variedade ou a natureza

das drogas apreendidas servem de fundamento para a decretação da prisão preventiva (AgRg no RHC n.

131.420/MS, relator Ministro Ribeiro Dantas, Quinta Turma, DJe de 30/9/2020; e AgRg no HC n.

590.807/RJ, relator Ministro Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta Turma, DJe de 28/9/2020). 

Registre-se que o Tribunal de origem entendeu que eventuais condições subjetivas favoráveis

dos agravantes não impedem a prisão preventiva quando presentes os requisitos legais para sua

decretação, como ocorreu no caso.

Quanto ao pedido de prisão domiciliar de Carla Alves da Rosa, não obstante o disposto no

art. 318 do Código de Processo Penal e a decisão do Supremo Tribunal Federal no HC coletivo n.

143.641/SP, o Juízo de primeiro grau ressaltou que “não se pode perder de vista que a flagrada utiliza a

própria residência e bar, este anexo a casa, conforme relato dela, como ponto de venda de drogas,

expondo os filhos na atividade do crime, fator que só ratifica a necessidade da decretação de prisão

preventiva, a fim de garantir a ordem pública e a aplicação da lei penal, com o elemento corroborador da

reiteração de condutas ilícitas praticadas pela flagrada” (fl. 65). Isso justifica a negativa da pretensão de

substituição da prisão preventiva por domiciliar.

Portanto, os agravantes não apresentaram argumentos novos capazes de infirmar o decisum

impugnado. 

Ante o exposto, nego provimento ao agravo regimental.

É o voto.

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