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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE RORAIMA

COMARCA DE BOA VISTA


VARA DE ENTORPECENTES E ORGANIZAÇÕES
CRIMINOSAS - PROJUDI
Avenida Cabo PM José Tabira de Alencar Macedo,
602-1º Piso – Caranã – Boa Vista/RR - Fone: 31942610-
E-mail: varatraficodrogas@tjrr.jus.br

Processo n.º: 0800054-81.2023.8.23.0010

RÉU: ELINALDO DE MELO SILVEIRA e VALDENIR GALVAO COSTA

S E N T E N Ç A  (EM AUDIÊNCIA)

I – RELATÓRIO

O Representante do Ministério Público ofereceu denúncia em face de ELINALDO


DE MELO SILVEIRA e VALDENIR GALVAO COSTA, devidamente qualificados,
ante o suposto cometimento das condutas delituosas descritas nos artigos 33,
caput, da Lei 11.343/2006.

Adoto como relatório a ata de audiência. Decido.

II – FUNDAMENTAÇÃO

A materialidade restou comprovada através do auto de apresentação e apreensão


(EP. 1.1, fl. 15) e do laudo de exame pericial criminal definitivo.

As substâncias apreendidas foram submetidas a perícia química, que constatou que


os invólucros continham 0,42g de maconha e 146,24g de cocaína, confirmando a
sua natureza ilícita (EP. 53).

Vale registrar ainda, que as partes não impugnaram a materialidade da substância


apreendida no presente processo, não havendo nenhuma controvérsia a ser
analisada por este juízo nesse sentido.
Em relação à autoria do delito, também resta inconteste, sendo certo que pode ser
retirada dos depoimentos das testemunhas ouvidas em juízo, bem como pela
confissão dos réus.

Ultrapassada a fase de apreciação da materialidade, quanto à autoria do delito de


tráfico de drogas, esta também é indiscutível diante dos depoimentos das
testemunhas de acusação ouvidas em juízo.

Arrolados como testemunhas de acusação, os policiais confirmaram em seus


depoimentos em juízo as informações contidas no caderno inquisitorial, o que
analisado com as demais provas constantes dos autos encontra perfeita sintonia.

Convém lembrar que o depoimento de agentes públicos prestados em juízo constitui


meio de prova idôneo a resultar em condenação, notadamente quando ausente
qualquer dúvida sobre a imparcialidade das testemunhas e seus depoimentos se
coadunem com as demais provas produzidas.

A Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu que o depoimento dos
policiais que fizeram o flagrante é meio de prova idôneo, podendo,
consequentemente, “fundamentar a condenação, mormente quando corroborado em
Juízo, no âmbito do devido processo legal” (AgRg no HC 649.425/RJ).

Para reforçar a intenção da traficância, destaca-se as circunstâncias do flagrante e a


apreensão de 0,42g de maconha e 146,24g de cocaína e da balança de precisão.

O tráfico de drogas é crime de ação múltipla e a prática de um dos verbos contidos


no art. 33, caput, é suficiente para a consumação da infração, sendo prescindível a
realização de atos de venda do entorpecente (HC 332396/SP, Rel. Ministro
GURGEL DE FARIA, QUINTA TURMA, Julgado em 23/02/2016, DJE 15/03/2016).

Diante do conjunto probatório colhido sob o crivo do contraditório e ampla defesa,


não há dúvidas quanto à consumação do crime de tráfico (art. 33 da Lei n.
11.343/06) praticado pelos réus, eis que se tratando de “tipo misto alternativo”,
basta para a consumação a realização de apenas um dos verbos do núcleo do tipo.
Nesse sentido, é fácil perceber que os réus atuavam na atividade de tráfico de
drogas, sendo, pois, medida imperativa a condenação nos moldes das alegações
finais ofertadas pelo Ministério Público.

DA APLICAÇÃO DO § 4º, DO ARTIGO 33, DA LEI 11.343/2006

A causa de diminuição de pena prevista no § 4º do art. 33 da Lei de Drogas só pode


ser aplicada se todos os requisitos, cumulativamente, estiverem presentes (HC
320278/SP).

Nesses termos, considero aplicável aos réus ELINALDO DE MELO SILVEIRA e


VALDENIR GALVAO COSTA a causa especial de diminuição de pena prevista no
§4º, do art. 33 da Lei de Drogas.

Importante destacar que, embora o réu ELINALDO DE MELO SILVEIRA esteja


atualmente respondendo por outro processo de tráfico de drogas (processo nº
0839260-39.2022.8.23.0010), de acordo com o Tema Repetitivo 1139 do STJ, "Não é
permitido utilizar investigações ou processos criminais em andamento para impedir
a aplicação do artigo 33, parágrafo 4 da Lei nº 11.343/06".

III – DISPOSITIVO

Ante o exposto, julgo procedente a pretensão punitiva estatal contida na denúncia


para CONDENAR os réus ELINALDO DE MELO SILVEIRA e VALDENIR GALVAO
COSTA como incurso nas penas do artigo 33, caput, da Lei 11.343/2006, com o
reconhecimento da causa especial de diminuição de pena prevista no §4º, do art. 33
da Lei de Drogas.

IV - PASSO A DOSIMETRIA DA PENA

Em atenção ao disposto no art. 42, da Lei 11.343/2006 e art. 59, e seguintes do


Código Penal, especialmente o art. 68 do aludido diploma legal, que elegeu o
Sistema Trifásico de Nelson Hungria para a quantificação das sanções aplicáveis ao
condenado, passo à fixação da pena.

ELINALDO DE MELO SILVEIRA

A culpabilidade do réu é normal à espécie.


Não constam antecedentes criminais.

Poucos elementos foram coletados para aferir a conduta social e a personalidade do


réu.

Os motivos do crime são intrínsecos à reprovabilidade em abstrato dos delitos, não


podendo eles apenarem ainda mais ao réu.

As circunstâncias e consequências são próprias do tipo penal.

Quanto ao comportamento da vítima, tal quesito resta prejudicado, ao passo que a


vítima é a própria sociedade.

Não existem dados para se aferir a situação econômica do condenado.

Em observância ao disposto no art. 42 da Lei 11.343/2006, verifico que foram


apreendidos 0,42g de maconha e 146,24g de cocaína, merecendo a pena ser
exasperada pela quantidade e variedade.

Tenho que reconhecer a maior nocividade da cocaína em relação a outras


substâncias proscritas, levando-se em conta os efeitos deletérios causados à saúde
dos usuários, a dependência psicológica e física acarretadas pelo consumo. 

A quantidade, natureza e diversidade de entorpecentes constituem fatores que, de


acordo com o art. 42 da Lei 11.343/2006, são preponderantes para a fixação das
penas relacionadas ao tráfico ilícito de entorpecentes. (HC 345.706/RS, Rel.
Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em
23/02/2016, DJe 29/02/2016).

Conforme Tema 712 do STF, as circunstâncias da natureza e da quantidade da


droga apreendida devem ser levadas em consideração apenas em uma das fases
do cálculo da pena.

No que diz respeito a quantidade da substância apreendida, não se pode olvidar


que prevalece no Estado de Roraima, como modalidade para a prática do crime
previsto no art. 33, caput, da Lei 11.343/2006, o "microtráfico", determinado pela
existência de muitos casos com apreensão de quantidade de substância
entorpecente que, em grandes metrópoles, poderia até ser considerada pequena,
mas se revela impactante na realidade local, a justificar o recrudescimento da pena
base.

Deve-se destacar que Boa Vista é a capital do Estado menos populoso do país e,
nos termos do art. 42 da Lei 11.343/2006, tais fatos devem ser considerados na
fixação da pena base.

Dessa forma, tendo em vista que a dosimetria da pena é matéria sujeita a certa
discricionariedade judicial e que o Código Penal ou Lei de Drogas não estabelece
regras exclusivamente objetivas e/ou esquemas matemáticos para sua fixação,
estando mais próximo dos fatos, da realidade local e na busca de se evitar decisões
contraditórias, este Juízo, sem se afastar das normas dos arts. 59 e 68 do Código
Penal e, em observância ao comando de preponderância do art. 42 da Lei de
Drogas, estabeleceu parâmetros para fixação da pena base, nos quais, para
determinar possível exacerbação atinente às circunstâncias da quantidade e da
natureza da droga apreendida, considera a realidade local, a quantidade em si, da
substância e, se for o caso, sua variedade/diversidade.

No que diz respeito às circunstâncias judiciais do art. 59 do Código Penal, os


Tribunais Superiores tem admitido a aplicação de 1/8 para estabelecimento da pena
base diante de cada circunstância desabonadora que, no caso do crime de tráfico
de drogas, corresponde a 1 ano de 3 meses (15 meses), considerando a diferença
entre a pena mínima (5 anos) e máxima (15 anos) prevista em lei para o
mencionado delito (10 anos).

Dessa forma, diante da preponderância sobre o previsto no art. 59 do Código Penal


atribuída pelo art. 42 da Lei 11.343/2006, dentre outros, para a natureza e a
quantidade da substância, razoável a aplicação da fração de 1/6 na fixação da pena
base que, nos mesmos moldes calculados acima, resulta em 1 ano e 8 meses (20
meses) para cada um desses vetores (quantidade e natureza), como patamar de
recrudescimento da pena base. Este tem sido o entendimento jurisprudencial:

PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO REGIMENTAL NO


RECURSO ESPECIAL. TRÁFICO DE DROGAS. DOSIMETRIA DA PENA.
PRIMEIRA FASE. ART. 42 DA LEI N. 11.34/2006. QUANTIDADE DA
DROGA. CIRCUNSTÂNCIA DESFAVORÁVEL. PATAMAR DE ACRÉSCIMO.
PROPORCIONALIDADE. FRAÇÃO DE 1/6 PARA CADA VETOR.
POSSIBILIDADE. PRECEDENTES DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
– STJ. AGRAVO DESPROVIDO.

1. "A jurisprudência desta Corte firmou-se no sentido de que a exasperação


da pena-base, pela existência de circunstâncias judiciais negativas, deve
seguir o parâmetro da fração de 1/6 (um sexto) para cada fator desfavorável"
(AgRg no AREsp 484.057/SP, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA
TURMA, DJe 9/3/2018). 2. Agravo regimental desprovido. AgRg no
RECURSO ESPECIAL Nº 1.788.757 - RO (2018/0338058-7).

Assim, à vista do exposto, têm-se que, em face do entendimento jurisprudencial


citado e da preponderância estabelecida no art. 42 da Lei de Drogas às
circunstâncias da natureza e da quantidade da substância, é perfeitamente plausível
atribuir a cada uma delas a fração de 1/6 na aplicação da pena base,
correspondente a 1 ano e 8 meses (20 meses), podendo chegar ao patamar de 2/6,
se ambas estiverem presentes, resultando em 3 anos e 4 meses (40 meses) de
acréscimo.

Todavia, no que se refere ao art. 42 da Lei 11.343/2006, o juízo não deve ficar
restrito à aplicação exclusiva dessas frações (1/6 ou 2/6). Evidente que estas
poderão ser moduladas no recrudescimento da pena base, a depender da
quantidade da substância e se há ou não variedade/diversidade desta, respeitado,
em regra, os limites máximos acima esposados ou até em patamar superior,
admitido nas situações em que algum destes fatores (quantidade e natureza)
excede a realidade local.

Deve-se destacar que estes critérios balizadores não são absolutos, mas servem
apenas como parâmetros gerais, que são sopesados de acordo com o caso sob
análise, sendo certo que a pena não deve ser um simples cálculo aritmético, deve
prevalecer a sensibilidade do julgador no exame dos fatos.

Desse modo, com base no princípio do livre convencimento motivado, ainda que
valorado negativamente um único vetor, considerada sua preponderância, o julgador
poderá até concluir pela necessidade de exasperação da pena-base em fração
superior a 1/6 se considerar expressiva a quantidade da droga, sua diversidade e/ou
natureza (art. 42 da Lei n. 11.343/2006). Nesse sentido:

AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. RECEPTAÇÃO.


AUSÊNCIA DE MATERIALIDADE DELITIVA. AUTORIA. ABSOLVIÇÃO.
NÃO CABIMENTO. CONJUNTO PROBATÓRIO INCONTROVERSO.
MATÉRIA DE PROVA. TRÁFICO ILÍCITO DE ENTORPECENTES.
DOSIMETRIA. REDUÇÃO PENA-BASE. MAUS ANTECEDENTES.
CIRCUNSTÂNCIAS DO CRIME. NATUREZA DOS ENTORPECENTES
APREENDIDOS. QUANTIDADE EXPRESSIVA. CONSTRANGIMENTO
ILEGAL NÃO EVIDENCIADO. RECURSO DESPROVIDO.

1. A revisão da dosimetria da pena pelo Superior Tribunal de Justiça só é


admitida em situações excepcionais de manifesta ilegalidade ou de abuso de
poder que possam ser aferidas de plano, sem necessidade de dilação
probatória.

2. O cálculo da pena é questão afeta ao livre convencimento do juiz, passível


de revisão pelo STJ somente nos casos de notória ilegalidade, para
resguardar a observância da adequação, da proporcionalidade e da
individualização da pena.

3. Com base no princípio do livre convencimento motivado, ainda que


valorado um único vetor, considerada sua preponderância, o julgador poderá
concluir pela necessidade de exasperação da pena-base em fração superior
a 1/6 se considerar expressiva a quantidade da droga, sua diversidade e/ou
natureza (art. 42 da Lei n. 11.343/2006).

4. A aferição das circunstâncias do crime, que constituem circunstâncias


judiciais objetivas e se referem ao modo de execução, deve levar em conta a
gravidade do delito, evidenciada pelos instrumentos e meios utilizados e
pelas condições em que se deu a prática delitiva, ou seja, demanda a análise
da intensidade da lesão causada pela conduta delitiva, motivo pelo qual,
somente se há extrapolação dos limites do resultado previstos pelo tipo
penal, referida circunstância judicial deve ser valorada negativamente.

5. A forma utilizada para esconder a droga em compartimentos ocultos de


veículo autoriza a valoração negativa das circunstâncias do crime de tráfico
de entorpecentes.

6. Com base no princípio do livre convencimento motivado, ainda que


valorado um único vetor, considerada sua preponderância, o julgador poderá
concluir pela necessidade de exasperação da pena-base em fração superior
se considerar expressiva a quantidade da droga, sua diversidade e/ou
natureza (art. 42 da Lei n. 11.343/2006).

7. Agravo regimental desprovido. (AgRg no HC 610.260/MS, Rel. Ministro


JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, QUINTA TURMA, julgado em 22/02/2022,
DJe 24/02/2022)
AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. TRÁFICO ILÍCITO DE
ENTORPECENTES. DOSIMETRIA. REDUÇÃO DA PENA-BASE. MAUS
ANTECEDENTES. NATUREZA DOS ENTORPECENTES APREENDIDOS.
QUANTIDADE EXPRESSIVA. REGIME INICIAL DE CUMPRIMENTO DA
PENA. FUNDAMENTAÇÃO. NOCIVIDADE DA DROGA. HABITUALIDADE.
RÉU REINCIDENTE. CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO EVIDENCIADO.
INOVAÇÃO RECURSAL. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. RECURSO
DESPROVIDO.

1. A revisão da dosimetria da pena pelo Superior Tribunal de Justiça só é


admitida em situações excepcionais de manifesta ilegalidade ou de abuso de
poder que possam ser aferidas de plano, sem necessidade de dilação
probatória.

2. O cálculo da pena é questão afeta ao livre convencimento do juiz, passível


de revisão pelo STJ somente nos casos de notória ilegalidade, para
resguardar a observância da adequação, da proporcionalidade e da
individualização da pena.

3. Com base no princípio do livre convencimento motivado, ainda que


valorado um único vetor, considerada sua preponderância, o julgador poderá
concluir pela necessidade de exasperação da pena-base em fração superior
a 1/6 se considerar expressiva a quantidade da droga, sua diversidade e/ou
natureza (art. 42 da Lei n. 11.343/2006).

4. O juiz pode fixar regime inicial mais gravoso do que aquele relacionado
unicamente com o quantum da pena desde que fundamente concretamente.

5. Quando as matérias discutidas no recurso, além de representarem


indevida inovação recursal, não tenham sido objeto de análise pelo tribunal
de origem, não são passíveis de conhecimento pelo STJ, sob pena de
indevida supressão de instância. 6. Agravo regimental desprovido. (AgRg no
HC 679.221/SP, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, QUINTA
TURMA, julgado em 07/12/2021, DJe 14/12/2021)

O tráfico ilícito de entorpecentes é um dos crimes que devem ser banidos do nosso
meio social em virtude dos grandes males causados.

Desta forma, à vista destas circunstâncias, analisadas individualmente, impõe-se


uma resposta penal condizente com a exigência da necessidade e que seja
suficiente para reprovação e prevenção dos crimes, consoante determinam os
dispositivos norteadores de aplicação da reprimenda legal.
Isto posto, fixo para o crime de tráfico de drogas a pena base em 05 anos e 06
meses de reclusão.

Não há agravantes.

Presente a atenuante da confissão, razão pela qual atenuo a pena em 1/6,


entretanto, com fundamento no Tema 158 do STF e 190 do STJ, mantenho a pena
em 05 anos de reclusão.

Não há causas de aumento.

Presente a causa de diminuição do §4º, do artigo 33, da Lei 11.343/2006, razão pela
qual diminuo 1/6 da pena, considerando a nocividade, passando a dosá-la em 04
anos e 02 meses de reclusão.

No tocante à pena de multa, consideradas as circunstâncias do artigo 42 e 43 da Lei


de Drogas, fixo em 400 dias-multa e levando em consideração à situação
econômica do réu, fixo em um trinta avos o valor de cada dia-multa, considerando
cada dia multa à base de um salário mínimo vigente à época do fato, corrigido
monetariamente desde então.

Assim, fixo definitivamente a pena para o crime de tráfico de drogas em 04


anos e 02 meses de reclusão e ao pagamento de 400 dias-multa no valor
acima referido.

Fixo o regime semiaberto, considerando a pena aplicada, na forma do artigo 33


do Código Penal.

Verifico que na situação em tela, torna-se incabível a aplicabilidade da substituição


da pena privativa de liberdade por restritiva de direito, bem como do sursis, por não
satisfazer os requisitos dos artigos 44 e 77 do CP.

Nego ao réu o direito de recorrer em liberdade, em consonância com o art.


387, § 1o do CPP, pois persistem as razões motivadoras de seu decreto
preventivo, em especial para garantia da ordem pública. Ficou comprovado
que o réu está dedicado à prática de crimes, visto que ele está atualmente
enfrentando outro processo por tráfico de drogas com audiência agendada
para maio, conforme atestado em sua certidão de antecedentes criminais (EP.
78).

VALDENIR GALVAO COSTA

A culpabilidade do réu é normal à espécie.

Não constam antecedentes criminais.

Poucos elementos foram coletados para aferir a conduta social e a personalidade do


réu.

Os motivos do crime são intrínsecos à reprovabilidade em abstrato dos delitos, não


podendo eles apenarem ainda mais ao réu.

As circunstâncias e consequências são próprias do tipo penal.

Quanto ao comportamento da vítima, tal quesito resta prejudicado, ao passo que a


vítima é a própria sociedade.

Não existem dados para se aferir a situação econômica do condenado.

Em observância ao disposto no art. 42 da Lei 11.343/2006, verifico que foram


apreendidos 0,42g de maconha e 146,24g de cocaína, merecendo a pena ser
exasperada pela quantidade e variedade.

Tenho que reconhecer a maior nocividade da cocaína em relação a outras


substâncias proscritas, levando-se em conta os efeitos deletérios causados à saúde
dos usuários, a dependência psicológica e física acarretadas pelo consumo. 

A quantidade, natureza e diversidade de entorpecentes constituem fatores que, de


acordo com o art. 42 da Lei 11.343/2006, são preponderantes para a fixação das
penas relacionadas ao tráfico ilícito de entorpecentes. (HC 345.706/RS, Rel.
Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em
23/02/2016, DJe 29/02/2016).
Conforme Tema 712 do STF, as circunstâncias da natureza e da quantidade da
droga apreendida devem ser levadas em consideração apenas em uma das fases
do cálculo da pena.

No que diz respeito a quantidade da substância apreendida, não se pode olvidar


que prevalece no Estado de Roraima, como modalidade para a prática do crime
previsto no art. 33, caput, da Lei 11.343/2006, o "microtráfico", determinado pela
existência de muitos casos com apreensão de quantidade de substância
entorpecente que, em grandes metrópoles, poderia até ser considerada pequena,
mas se revela impactante na realidade local, a justificar o recrudescimento da pena
base.

Deve-se destacar que Boa Vista é a capital do Estado menos populoso do país e,
nos termos do art. 42 da Lei 11.343/2006, tais fatos devem ser considerados na
fixação da pena base.

Dessa forma, tendo em vista que a dosimetria da pena é matéria sujeita a certa
discricionariedade judicial e que o Código Penal ou Lei de Drogas não estabelece
regras exclusivamente objetivas e/ou esquemas matemáticos para sua fixação,
estando mais próximo dos fatos, da realidade local e na busca de se evitar decisões
contraditórias, este Juízo, sem se afastar das normas dos arts. 59 e 68 do Código
Penal e, em observância ao comando de preponderância do art. 42 da Lei de
Drogas, estabeleceu parâmetros para fixação da pena base, nos quais, para
determinar possível exacerbação atinente às circunstâncias da quantidade e da
natureza da droga apreendida, considera a realidade local, a quantidade em si, da
substância e, se for o caso, sua variedade/diversidade.

No que diz respeito às circunstâncias judiciais do art. 59 do Código Penal, os


Tribunais Superiores tem admitido a aplicação de 1/8 para estabelecimento da pena
base diante de cada circunstância desabonadora que, no caso do crime de tráfico
de drogas, corresponde a 1 ano de 3 meses (15 meses), considerando a diferença
entre a pena mínima (5 anos) e máxima (15 anos) prevista em lei para o
mencionado delito (10 anos).

Dessa forma, diante da preponderância sobre o previsto no art. 59 do Código Penal


atribuída pelo art. 42 da Lei 11.343/2006, dentre outros, para a natureza e a
quantidade da substância, razoável a aplicação da fração de 1/6 na fixação da pena
base que, nos mesmos moldes calculados acima, resulta em 1 ano e 8 meses (20
meses) para cada um desses vetores (quantidade e natureza), como patamar de
recrudescimento da pena base. Este tem sido o entendimento jurisprudencial:

PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO REGIMENTAL NO


RECURSO ESPECIAL. TRÁFICO DE DROGAS. DOSIMETRIA DA PENA.
PRIMEIRA FASE. ART. 42 DA LEI N. 11.34/2006. QUANTIDADE DA
DROGA. CIRCUNSTÂNCIA DESFAVORÁVEL. PATAMAR DE ACRÉSCIMO.
PROPORCIONALIDADE. FRAÇÃO DE 1/6 PARA CADA VETOR.
POSSIBILIDADE. PRECEDENTES DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
– STJ. AGRAVO DESPROVIDO.

1. "A jurisprudência desta Corte firmou-se no sentido de que a exasperação


da pena-base, pela existência de circunstâncias judiciais negativas, deve
seguir o parâmetro da fração de 1/6 (um sexto) para cada fator desfavorável"
(AgRg no AREsp 484.057/SP, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA
TURMA, DJe 9/3/2018). 2. Agravo regimental desprovido. AgRg no
RECURSO ESPECIAL Nº 1.788.757 - RO (2018/0338058-7).

Assim, à vista do exposto, têm-se que, em face do entendimento jurisprudencial


citado e da preponderância estabelecida no art. 42 da Lei de Drogas às
circunstâncias da natureza e da quantidade da substância, é perfeitamente plausível
atribuir a cada uma delas a fração de 1/6 na aplicação da pena base,
correspondente a 1 ano e 8 meses (20 meses), podendo chegar ao patamar de 2/6,
se ambas estiverem presentes, resultando em 3 anos e 4 meses (40 meses) de
acréscimo.

Todavia, no que se refere ao art. 42 da Lei 11.343/2006, o juízo não deve ficar
restrito à aplicação exclusiva dessas frações (1/6 ou 2/6). Evidente que estas
poderão ser moduladas no recrudescimento da pena base, a depender da
quantidade da substância e se há ou não variedade/diversidade desta, respeitado,
em regra, os limites máximos acima esposados ou até em patamar superior,
admitido nas situações em que algum destes fatores (quantidade e natureza)
excede a realidade local.

Deve-se destacar que estes critérios balizadores não são absolutos, mas servem
apenas como parâmetros gerais, que são sopesados de acordo com o caso sob
análise, sendo certo que a pena não deve ser um simples cálculo aritmético, deve
prevalecer a sensibilidade do julgador no exame dos fatos.

Desse modo, com base no princípio do livre convencimento motivado, ainda que
valorado negativamente um único vetor, considerada sua preponderância, o julgador
poderá até concluir pela necessidade de exasperação da pena-base em fração
superior a 1/6 se considerar expressiva a quantidade da droga, sua diversidade e/ou
natureza (art. 42 da Lei n. 11.343/2006). Nesse sentido:

AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. RECEPTAÇÃO.


AUSÊNCIA DE MATERIALIDADE DELITIVA. AUTORIA. ABSOLVIÇÃO.
NÃO CABIMENTO. CONJUNTO PROBATÓRIO INCONTROVERSO.
MATÉRIA DE PROVA. TRÁFICO ILÍCITO DE ENTORPECENTES.
DOSIMETRIA. REDUÇÃO PENA-BASE. MAUS ANTECEDENTES.
CIRCUNSTÂNCIAS DO CRIME. NATUREZA DOS ENTORPECENTES
APREENDIDOS. QUANTIDADE EXPRESSIVA. CONSTRANGIMENTO
ILEGAL NÃO EVIDENCIADO. RECURSO DESPROVIDO.

1. A revisão da dosimetria da pena pelo Superior Tribunal de Justiça só é


admitida em situações excepcionais de manifesta ilegalidade ou de abuso de
poder que possam ser aferidas de plano, sem necessidade de dilação
probatória.

2. O cálculo da pena é questão afeta ao livre convencimento do juiz, passível


de revisão pelo STJ somente nos casos de notória ilegalidade, para
resguardar a observância da adequação, da proporcionalidade e da
individualização da pena.

3. Com base no princípio do livre convencimento motivado, ainda que


valorado um único vetor, considerada sua preponderância, o julgador poderá
concluir pela necessidade de exasperação da pena-base em fração superior
a 1/6 se considerar expressiva a quantidade da droga, sua diversidade e/ou
natureza (art. 42 da Lei n. 11.343/2006).

4. A aferição das circunstâncias do crime, que constituem circunstâncias


judiciais objetivas e se referem ao modo de execução, deve levar em conta a
gravidade do delito, evidenciada pelos instrumentos e meios utilizados e
pelas condições em que se deu a prática delitiva, ou seja, demanda a análise
da intensidade da lesão causada pela conduta delitiva, motivo pelo qual,
somente se há extrapolação dos limites do resultado previstos pelo tipo
penal, referida circunstância judicial deve ser valorada negativamente.
5. A forma utilizada para esconder a droga em compartimentos ocultos de
veículo autoriza a valoração negativa das circunstâncias do crime de tráfico
de entorpecentes.

6. Com base no princípio do livre convencimento motivado, ainda que


valorado um único vetor, considerada sua preponderância, o julgador poderá
concluir pela necessidade de exasperação da pena-base em fração superior
se considerar expressiva a quantidade da droga, sua diversidade e/ou
natureza (art. 42 da Lei n. 11.343/2006).

7. Agravo regimental desprovido. (AgRg no HC 610.260/MS, Rel. Ministro


JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, QUINTA TURMA, julgado em 22/02/2022,
DJe 24/02/2022)

AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. TRÁFICO ILÍCITO DE


ENTORPECENTES. DOSIMETRIA. REDUÇÃO DA PENA-BASE. MAUS
ANTECEDENTES. NATUREZA DOS ENTORPECENTES APREENDIDOS.
QUANTIDADE EXPRESSIVA. REGIME INICIAL DE CUMPRIMENTO DA
PENA. FUNDAMENTAÇÃO. NOCIVIDADE DA DROGA. HABITUALIDADE.
RÉU REINCIDENTE. CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO EVIDENCIADO.
INOVAÇÃO RECURSAL. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. RECURSO
DESPROVIDO.

1. A revisão da dosimetria da pena pelo Superior Tribunal de Justiça só é


admitida em situações excepcionais de manifesta ilegalidade ou de abuso de
poder que possam ser aferidas de plano, sem necessidade de dilação
probatória.

2. O cálculo da pena é questão afeta ao livre convencimento do juiz, passível


de revisão pelo STJ somente nos casos de notória ilegalidade, para
resguardar a observância da adequação, da proporcionalidade e da
individualização da pena.

3. Com base no princípio do livre convencimento motivado, ainda que


valorado um único vetor, considerada sua preponderância, o julgador poderá
concluir pela necessidade de exasperação da pena-base em fração superior
a 1/6 se considerar expressiva a quantidade da droga, sua diversidade e/ou
natureza (art. 42 da Lei n. 11.343/2006).

4. O juiz pode fixar regime inicial mais gravoso do que aquele relacionado
unicamente com o quantum da pena desde que fundamente concretamente.

5. Quando as matérias discutidas no recurso, além de representarem


indevida inovação recursal, não tenham sido objeto de análise pelo tribunal
de origem, não são passíveis de conhecimento pelo STJ, sob pena de
indevida supressão de instância. 6. Agravo regimental desprovido. (AgRg no
HC 679.221/SP, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, QUINTA
TURMA, julgado em 07/12/2021, DJe 14/12/2021)

O tráfico ilícito de entorpecentes é um dos crimes que devem ser banidos do nosso
meio social em virtude dos grandes males causados.

Desta forma, à vista destas circunstâncias, analisadas individualmente, impõe-se


uma resposta penal condizente com a exigência da necessidade e que seja
suficiente para reprovação e prevenção dos crimes, consoante determinam os
dispositivos norteadores de aplicação da reprimenda legal.

Isto posto, fixo para o crime de tráfico de drogas a pena base em 05 anos e 06
meses de reclusão.

Não há agravantes.

Presente a atenuante da confissão, razão pela qual atenuo a pena em 1/6,


entretanto, com fundamento no Tema 158 do STF e 190 do STJ, mantenho a pena
em 05 anos de reclusão.

Não há causas de aumento.

Presente a causa de diminuição do §4º, do artigo 33, da Lei 11.343/2006, razão pela
qual diminuo 1/6 da pena, considerando a nocividade, passando a dosá-la em 04
anos e 02 meses de reclusão.

No tocante à pena de multa, consideradas as circunstâncias do artigo 42 e 43 da Lei


de Drogas, fixo em 400 dias-multa e levando em consideração à situação
econômica do réu, fixo em um trinta avos o valor de cada dia-multa, considerando
cada dia multa à base de um salário mínimo vigente à época do fato, corrigido
monetariamente desde então.

Assim, fixo definitivamente a pena para o crime de tráfico de drogas em 04


anos e 02 meses de reclusão e ao pagamento de 400 dias-multa no valor
acima referido.
Fixo o regime semiaberto, considerando a pena aplicada, na forma do artigo 33
do Código Penal.

Verifico que na situação em tela, torna-se incabível a aplicabilidade da substituição


da pena privativa de liberdade por restritiva de direito, bem como do sursis, por não
satisfazer os requisitos dos artigos 44 e 77 do CP.

Concedo ao réu o direito de recorrer em liberdade, tendo em vista a


quantidade de pena aplicada e o regime fixado, devendo manter o endereço e
o telefone atualizados nesta Vara por meio do telefone para contato (95)
98406-9316.

Expeça-se alvará de soltura.

V – PROVIDÊNCIAS

Deixo de condenar os réus ao pagamento das custas processuais por serem


assistidos pela Defensoria Pública.

Dos elementos probatórios colacionados nos autos, depreende-se que os bens e


valores apreendidos em poder do réu, conforme auto de apresentação e apreensão,
são usados para a prática da atividade criminosa, havendo, portanto, nexo de
causalidade entre sua existência e apreensão e o crime praticado.

O crime de tráfico ilícito de entorpecentes possui previsão constitucional no artigo


243 e constitui efeito de condenação, nos termos do artigo 63 da Lei 11.343/2006.

De acordo com Tema 647 do STF, “É possível o confisco de todo e qualquer bem
de valor econômico apreendido em decorrência do tráfico de drogas, sem a
necessidade de se perquirir a habitualidade, reiteração do uso do bem para tal
finalidade, a sua modificação para dificultar a descoberta do local do
acondicionamento da droga ou qualquer outro requisito além daqueles previstos
expressamente no art. 243, parágrafo único, da Constituição Federal.”

Desta forma, com fundamento no art. 63, da Lei 11.343/2006, decreto o perdimento
em favor da União dos bens e valores apreendidos, após o trânsito em julgado.

Determino a incineração da droga apreendida guardada para eventual contraprova.


Com o trânsito em julgado desta sentença, determino que sejam tomadas as
seguintes providências, independentemente de nova conclusão dos autos:

1. Comuniquem-se aos órgãos competentes (Tribunal Regional Eleitoral de


Roraima, Instituto de Identificação Civil e Criminal da Secretaria de Segurança
Pública de Roraima e Superintendência Regional da Polícia Federal).

2. Expeçam-se as Guias de Execução.

3. Encaminham-se as peças pertinentes à Vara de Execução com cálculos da multa,


observando o prazo de 10 dias estipulado pelo artigo 51 do Código Penal.

4. Cumpre-se o art. 63, §4°, da lei de drogas.

Após todas as providências quanto ao cumprimento da sentença, arquive-se.

Publique-se. Registre-se. Intimem-se. Cumpra-se.

DANIELA SCHIRATO COLLESI MINHOLI

Juíza Titular

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