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ACÓRDÃO
Processo nº 0252106-18.2010.8.04.0001
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Poder Judiciário
Tribunal de Justiça do Estado do Amazonas
Gabinete do Desembargador Sabino da Silva Marques
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Justiça do Estado do Amazonas, em Manaus/AM, data do sistema.
Desembargador Presidente
01. Relatório
01.02. Diz que pretende a indenização por danos morais, pela presença
de uma agulha cirúrgica deixada no corpo de Doracy Araújo Maia quando esta
realizou um parto cesariano, em 06.07.1980, na Maternidade Ana Nery, atualmente
Balbina Mestrinho.
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01.06. Destaca, ainda, que não pode ser culpada pela inexistência do
prontuário médico da época da cirurgia cesariana, se ficou cabalmente comprovado
nos autos que a maternidade Ana Nery, agora Balbina Mestrinho, só passou a ter os
prontuários dos pacientes a partir de 2000.
02. Voto
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02.06. Consta nos autos que a Sra. Doracy Araújo Maia, após o
nascimento do seu último filho, começou a sentir fortes dores na região da bacia,
pernas, lombar e que depois de anos de investigação descobriu a existência de uma
agulha na região pélvica. Para provar o alegado, observo no caderno processual: i) a
certidão de nascimento e o cartão do berçário da internação (fls. 28/29) –
demonstrando, assim, os fatos que originaram o dano alegados pela mesma; ii) o
laudo da radiografia – que especifica a existência da agulha cirúrgica na projeção
pélvica datado de 08/05/2009 (fls. 36), ratificado pela ressonância magnética da pelve
datado de 10/08/2009 (fls. 55); iii) prontuário médico (fls. 148/192) do procedimento
cirúrgico para a retirada do corpo estranho (agulha de fio cirúrgico em parede
abdominal, fls. 151).
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Art. 43. Ocorrendo a morte de qualquer das partes, dar-se-á a substituição pelo seu espólio ou pelos
seus sucessores, observado o disposto no art. 265.
2“Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos poderes da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade,
publicidade e eficiência, e, também, ao seguinte:
(...)
§ 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos
responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito
de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.”
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02.08. Leciona Hely Lopes Meirelles que para o Estado eximir-se dessa
obrigação incumbirá “comprovar que a vítima concorreu com culpa ou dolo para o
evento danoso. Enquanto não evidenciar a culpabilidade da vítima, subsiste a
responsabilidade objetiva da Administração. Se total a culpa da vítima, fica excluída a
responsabilidade da Fazenda Pública; se parcial, reparte-se o quantum da
indenização” (MEIRELLES, 2010, p.692).
02.09. Diante das provas existentes nos autos, observo preenchidos todos
os requisitos que ensejam a reparação do dano e consequente dever de indenizar do
Estado. O nexo causal e o fato lesivo foram devidamente demonstrados nos
documentos juntados que comprovam que a mesma tinha se submetido a cirurgia
cesariana para o nascimento de seu filho na Maternidade Ana Nery e a existência de
uma agulha cirúrgica do abdômen da Requerente (detectada nos exames, inclusive
com a sua retirada às fls. 36; 55 e 148/192) e o dano nas fortes dores que sentia
gerando-lhe uma má qualidade de vida e na busca incessante para a solução do
problema.
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02.15. Sérgio Cavalieri Filho, ao discorrer sobre o tema, assinala que “(...)
só deve ser reputado como dano moral a dor, vexame, sofrimento ou humilhação que,
fugindo à normalidade, interfira intensamente no comportamento psicológico do
indivíduo, causando-lhe aflições, angústia e desequilíbrio em seu bem-estar. Mero
dissabor, aborrecimento, mágoa, irritação ou sensibilidade exacerbada estão fora da
órbita do dano moral (...)”.(CAVALIERI, 2009, p. 83)
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MÉDICO - FRAGMENTO DE MATERIAL CIRÚRGICO DEIXADO NO
ORGANISMO DO PACIENTE - AUSÊNCIA DE OMISSÕES NO ACÓRDÃO
- DANOS MORAIS - FIXAÇÃO - RAZOABILIDADE - LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ
- REEXAME DO CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO - IMPOSSIBILIDADE
- SÚMULA 7/STJ - DECISÃO AGRAVADA MANTIDA - IMPROVIMENTO.
1.- Não se detecta qualquer omissão, contradição ou obscuridade no
Acórdão Recorrido, uma vez que a lide foi dirimida com a devida e suficiente
fundamentação, apenas não se adotou a tese do Agravante.
2.- Ultrapassar os fundamentos do Acórdão e acolher a tese sustentada pelo
Agravante, afastando a culpa reconhecida pelo Tribunal a quo, demandaria
inevitavelmente, o reexame de provas, incidindo, à espécie, o óbice da
Súmula 7 desta Corte.
3.- A intervenção do STJ, Corte de caráter nacional, destinada a firmar
interpretação geral do Direito Federal para todo o país e não para a revisão
de questões de interesse individual, no caso de questionamento do valor
fixado para o dano moral, somente é admissível quando o valor fixado pelo
Tribunal de origem, cumprindo o duplo grau de jurisdição, se mostre
teratólogico, por irrisório ou abusivo.
4.- Inocorrência de teratologia no caso concreto, em que Foi fixado o valor
de indenização de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) devido pela ora
Agravante à autora, a título de danos morais decorrentes da presença de
fragmento de agulha de sutura esquecido no corpo da paciente.
6.- Aferir se houve ou não litigância de má-fé é providência inviável em sede
de Recurso Especial, a teor do óbice constante do enunciado nº 7 da
Súmula do Superior Tribunal de Justiça.
7.- Agravo Regimental improvido.
(AgRg no AREsp 422.718/SP, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA
TURMA, julgado em 11/02/2014, DJe 13/03/2014)
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do evento danoso (Súmula 54/STJ). Todavia, na hipótese vertente, impõe-se
a manutenção da data da citação como marco inicial para a incidência dos
juros moratórios, sob pena de reformatio in pejus.
5 - Vencida a Fazenda Pública, os honorários advocatícios devem ser
fixados nos termos do § 4º, art. 20, do CPC, atendidos os requisitos
estabelecidos nas alíneas "a", "b" e "c" do § 3º do mesmo dispositivo legal.
Na hipótese, majora-se a verba honorária para adequá-la aos parâmetros
legais.
6 - Apelação interposta pelo Distrito Federal não provida. Recurso adesivo
da autora parcialmente provido.
(Acórdão n.537671, 20070111540185APC, Relator: NÍDIA CORRÊA LIMA,
Relator Designado:HUMBERTO ADJUTO ULHÔA, Revisor: HUMBERTO
ADJUTO ULHÔA, 3ª Turma Cível, Data de Julgamento: 14/09/2011,
Publicado no DJE: 29/09/2011. Pág.: 80)
“(...)
Embora não arguido pelas partes, por ser matéria de ordem pública,
portanto objeto de apreciação pelo parquet, passamos a analisar a
prescrição. Segundo Leonardo José Carneiro da Cunha, “qualquer
pretensão que seja formulada em face da Fazenda Pública está sujeita a
um prazo prescricional de 05 (cinco) anos. E já se viu que, no conceito de
Fazenda Pública, se inserem não somente a União, os Estados, o Distrito
Federal e os Municípios, mas também suas autarquias e fundações
públicas. Essa, aliás é a regra inserta no art. 2º do Decreto-Lei nº
4.597/1942, que assim dispõe:
“Art. 2º O Decreto nº 20.910, de 6 de janeiro de 1932, que regula a
prescrição quinquenal, abrange as dívidas passivas das autarquias, ou
entidades e órgãos paraestatais, criados por lei e mantidos mediante
impostos, taxas ou quaisquer contribuições, exigidas em virtude de lei
federal, estadual ou municipal, bem como a todo e qualquer direito e ação
contra os mesmos.” (A Fazenda Pública em juízo / Leonardo José Carneiro
da Cunha – 7 ed. Rev., ampl. e atual. - São Paulo: Dialética, 2009, pag.
72).
(…)
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I - ao autor, quanto ao fato constitutivo do seu direito;
II - ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou
extintivo do direito do autor.
Parágrafo único. É nula a convenção que distribui de maneira
diversa o ônus da prova quando:
I - recair sobre direito indisponível da parte;
II - tornar excessivamente difícil a uma parte o exercício do
direito.
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da Lei nº 1.060/50.
É como voto.
Manaus, 2015.
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