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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 1.808.050 - SP (2019/0097921-3)

RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI


RECORRENTE : C DE F S D
ADVOGADO : DANTE FRASNELLI GIANOTTO - SP357925
RECORRIDO : JVP
ADVOGADO : MAURO AUGUSTO MATAVELLI MERCI - SP091461
RECORRIDO : MEDICAL MEDICINA COOPERATIVA ASSISTENCIAL DE LIMEIRA
ADVOGADO : LUCIANA MARIA SOARES E OUTRO(S) - SP143140
RECORRIDO : NOBRE SEGURADORA DO BRASIL S.A - EM LIQUIDACAO
REPR. POR : PEDRO PAULO PEREIRA MOTA - LIQUIDANTE
ADVOGADOS : DENIS ATANAZIO E OUTRO(S) - SP229058
MARIA EMILIA GONÇALVES DE RUEDA - PE023748
EMENTA

RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C INDENIZAÇÃO POR


DANOS MATERIAIS E COMPENSAÇÃO DE DANOS MORAL E ESTÉTICO. DANOS
MORAL E ESTÉTICO. VALOR DA CONDENAÇÃO. MAJORAÇÃO. DANO
MATERIAL. PENSIONAMENTO. TERMO INICIAL. EVENTO DANOSO.
CORREÇÃO MONETÁRIA E JUROS DE MORA. JULGAMENTO: CPC/2015.
1. Ação de obrigação de fazer c/c indenização de danos materiais e
compensação de danos moral e estético ajuizada em 17/03/2015, da qual foi
extraído o presente recurso especial, interposto em 07/11/2018 e atribuído
ao gabinete em 13/05/2019.
2. O propósito recursal é decidir sobre a proporcionalidade dos valores
fixados a título de compensação dos danos moral e estético, causados em
decorrência de erro médico, bem como sobre o termo inicial do
pensionamento devido e a majoração dos honorários de sucumbência.
3. Com relação aos danos moral e estético, sobressai do acórdão recorrido a
situação de extrema angústia, aflição e sofrimento vivida pela recorrente,
ao ser submetida, sem o seu consentimento informado, a procedimento de
mastectomia bilateral, depois do diagnóstico errado de neoplasia maligna,
causando-lhe danos psíquicos, físicos e funcionais, evidenciados, sobretudo,
pelas cicatrizes e pela mutilação das duas mamas, além das limitações para
esforço e movimentos repetitivos dos membros superiores, que lhe
acarretaram a consequente incapacidade parcial e permanente
multiprofissional.
4. Hipótese em que, tendo como parâmetro a jurisprudência desta Corte, e à
luz das circunstâncias particulares, hão de ser majoradas as verbas
arbitradas a título de compensação dos danos moral e estético de R$
30.000,00 (trinta mil reais) cada para, respectivamente, R$ 120.000,00
(cento e vinte mil reais) e R$ 100.000,00 (cem mil reais).
5. A obrigação de pagar o pensionamento nasce com o evento danoso, qual
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seja, a data em que a recorrente foi submetida ao procedimento de
mastectomia bilateral, que culminou com a sua inaptidão parcial e
permanente para o trabalho.
6. As prestações relativas ao pensionamento devem ser corrigidas
monetariamente a contar da data do evento danoso, mas os juros
moratórios, por se tratar de responsabilidade contratual por erro médico,
contam-se a partir da citação, em relação às parcelas vencidas por ocasião
da propositura da ação, e de cada vencimento, quanto às vincendas e
inadimplidas a partir de então.
7. Recurso especial conhecido e parcialmente provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Terceira


Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas
taquigráficas constantes dos autos, por unanimidade, conhecer e dar parcial provimento
ao recurso especial, nos termos do voto do(a) Sr(a). Ministro(a) Relator(a). Os Srs.
Ministros Paulo de Tarso Sanseverino, Ricardo Villas Bôas Cueva, Marco Aurélio Bellizze e
Moura Ribeiro votaram com a Sra. Ministra Relatora.

Brasília (DF), 17 de novembro de 2020(Data do Julgamento)

MINISTRA NANCY ANDRIGHI


Relatora

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RECURSO ESPECIAL Nº 1.808.050 - SP (2019/0097921-3)
RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI
RECORRENTE : C DE F S D
ADVOGADO : DANTE FRASNELLI GIANOTTO - SP357925
RECORRIDO : JVP
ADVOGADO : MAURO AUGUSTO MATAVELLI MERCI - SP091461
RECORRIDO : MEDICAL MEDICINA COOPERATIVA ASSISTENCIAL DE LIMEIRA
ADVOGADO : LUCIANA MARIA SOARES E OUTRO(S) - SP143140
RECORRIDO : NOBRE SEGURADORA DO BRASIL S.A - EM LIQUIDACAO
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RELATÓRIO

O EXMO. SR. MINISTRO NANCY ANDRIGHI (RELATOR):

Cuida-se de recurso especial interposto por C DE F S D, fundado nas


alíneas “a” e “c” do permissivo constitucional, contra acórdão do TJ/SP.
Ação: de obrigação de fazer c/c indenização por danos materiais e
compensação de dano moral e dano estético, fundada em erro médico, ajuizada
por C DE F S D em face de J V P, MEDICAL MEDICINA COOPERATIVA ASSISTENCIAL
DE LIMEIRA, AMIL ASSISTÊNCIA MÉDICA INTERNACIONAL S/A, tendo sido
denunciada à lide NOBRE SEGURADORA DO BRASIL S.A - EM LIQUIDACAO.
Sentença: o Juízo de primeiro grau julgou parcialmente procedentes
os pedidos para condenar os réus, solidariamente, ao pagamento da quantia de R$
30.000,00 (trinta mil reais), a título de compensação do dano moral, ao pagamento
da quantia de R$ 30.000,00 (trinta mil reais), à título de compensação do dano
estético, e ao pagamento de pensão alimentar em favor da autora, no importe
mensal correspondente a meio salário mínimo, em caráter vitalício ou enquanto
durar a incapacidade desta, sem prejuízo da manutenção do plano de saúde até o
término do tratamento, inclusive psicológico. Ademais, julgou procedente a

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denunciação da lide havida pela ré MEDICAL à NOBRE, condenando a ré
denunciada ao reembolso da quantia que a segurada fora condenada a prestar à
autora, observados, quanto ao pensionamento, os limites de valor fixados na
apólice e exigências impostas pela liquidação extrajudicial.
Condenados os réus a arcarem com os ônus da sucumbência e
honorária advocatícia que se arbitrou em 10% sobre o valor da condenação, assim
também a denunciada, observando, quanto a esta, a gratuidade a ela concedida por
ocasião do julgamento de agravo de instrumento.
Acórdão: o TJ/SP deu parcial provimento às apelações interpostas
por C DE F S D e MEDICAL e negou provimento às interpostas por J V P e NOBRE,
para afastar a determinação de manutenção do plano de saúde e majorar o valor
da pensão alimentar para um salário mínimo, devida a partir do ajuizamento da
ação, nos termos da seguinte ementa:

RESPONSABILIDADE CIVIL - ERRO MÉDICO - INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS,


ESTÉTICOS E PENSÃO ALIMENTÍCIA Autora que busca receber indenização diante
de erro médico, em virtude da realização de uma mastectomia bilateral, sobrevindo
complicações após a cirurgia, bem como sua incapacidade parcial e permanente
multiprofissional - Procedência parcial Perícia realizada Laudo encartado ao
processo Constatação de terapêutica mais arriscada e agressiva, sobrevindo
danos físicos consistentes em limitações para esforço e movimentos repetitivos
com membros superiores, bem como incapacidade parcial e permanente
multiprofissional da autora, dano psíquico e dano estético Culpa do médico
verificada Responsabilidade objetiva dos hospitais Obrigação reparatória que deriva
da correta aplicação do artigo 14 do Código de Defesa do Consumidor - Nexo causal
estabelecido Obrigação reparatória Danos morais e estéticos mantidos Importância
arbitrada (R$30.000,00 para danos morais e R$30.000,00 para danos estéticos)
que se mostra suficiente para compensar a dor, a frustração experimentada pela
autora - Valor da pensão alimentar que merece ser majorado para um salários
mínimo, considerando a incapacidade parcial e permanente multiprofissional da
autora, bem como o fato de que a mesma, anteriormente, já exercia profissão
Determinação de manutenção do plano de saúde afastada Pleito que foi dirigido na
inicial apenas em relação à corré Amil, com quem a autora formalizou acordo, nada
constando a respeito da manutenção do plano Pretensão que deverá ser objeto de
ação autônoma - Pleito de reavaliação periódica da autora para fins de aferição de
incapacidade que também deverá ser objeto de ação própria Sentença parcialmente
reformada Recurso da autora e da corré Medical parcialmente providos e recursos
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dos demais corréus improvidos.

Recurso especial: aponta violação do art. 944 do CC/2002, bem


como dissídio jurisprudencial.
Alega que os valores da condenação se mostram irrisórios,
considerando o erro no diagnóstico de neoplasia maligna e as inúmeras cirurgias e
complicações posteriores, decorrentes da mastectomia bilateral indevidamente
realizada, as quais a tornaram incapaz para o exercício de sua profissão de
cabeleireira.
Afirma que “a quantificação do dano deve ponderar múltiplos
aspectos, tais como: as dores, no sentido físico da questão, própria dos
procedimentos radicais a que fora submetida e que ainda lhe trazem problemas de
saúde (e ainda sem solução); a angústia em receber a notícia (errada) de que era
portadora de neoplasia maligna; a humilhação quanto à sua própria identidade,
enxergando, ainda hoje, uma pessoa deformada e, nas palavras da própria
recorrente, em confissão a esta causídico 'descascada como uma laranja' e o
sofrimento diante da incapacidade de exercer seu antigo trabalho tolhendo desta,
por completo, a perspectiva de uma vida normal” (fl. 2.548, e-STJ).
Sustenta, no que tange ao termo inicial do pensionamento, que o
“acórdão recorrido deixa verdadeira lacuna entre a data do evento danoso
(mastectomia bilateral), até a data do ajuizamento da demanda, obrigando a
Recorrente a amargar por sua incapacidade, durante período extremamente
turbulento, em que ainda tentava se recuperar dos insucessos, rejeições e do
próprio erro cometido pelos Recorridos” (fl. 2.557, e-STJ).
Pleiteia o provimento do recurso especial a fim de que sejam
majorados os valores relativos à compensação dos danos moral e estético, para
R$120.000,00 (cento e vinte mil reais) e R$100.000,00 (cem mil reais),
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respectivamente, ou quantia superior à imposta pelas instâncias ordinárias, além
de fixada a data do evento danoso (realização da mastectomia bilateral) como o
termo inicial para o pagamento do pensionamento, sem prejuízo da majoração dos
honorários de sucumbência.
Juízo prévio de admissibilidade: o TJ/SP admitiu o recurso
especial.
É o relatório.

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DANOS MATERIAIS E COMPENSAÇÃO DE DANOS MORAL E ESTÉTICO. DANOS
MORAL E ESTÉTICO. VALOR DA CONDENAÇÃO. MAJORAÇÃO. DANO
MATERIAL. PENSIONAMENTO. TERMO INICIAL. EVENTO DANOSO.
CORREÇÃO MONETÁRIA E JUROS DE MORA. JULGAMENTO: CPC/2015.
1. Ação de obrigação de fazer c/c indenização de danos materiais e
compensação de danos moral e estético ajuizada em 17/03/2015, da qual foi
extraído o presente recurso especial, interposto em 07/11/2018 e atribuído
ao gabinete em 13/05/2019.
2. O propósito recursal é decidir sobre a proporcionalidade dos valores
fixados a título de compensação dos danos moral e estético, causados em
decorrência de erro médico, bem como sobre o termo inicial do
pensionamento devido e a majoração dos honorários de sucumbência.
3. Com relação aos danos moral e estético, sobressai do acórdão recorrido a
situação de extrema angústia, aflição e sofrimento vivida pela recorrente,
ao ser submetida, sem o seu consentimento informado, a procedimento de
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mastectomia bilateral, depois do diagnóstico errado de neoplasia maligna,
causando-lhe danos psíquicos, físicos e funcionais, evidenciados, sobretudo,
pelas cicatrizes e pela mutilação das duas mamas, além das limitações para
esforço e movimentos repetitivos dos membros superiores, que lhe
acarretaram a consequente incapacidade parcial e permanente
multiprofissional.
4. Hipótese em que, tendo como parâmetro a jurisprudência desta Corte, e à
luz das circunstâncias particulares, hão de ser majoradas as verbas
arbitradas a título de compensação dos danos moral e estético de R$
30.000,00 (trinta mil reais) cada para, respectivamente, R$ 120.000,00
(cento e vinte mil reais) e R$ 100.000,00 (cem mil reais).
5. A obrigação de pagar o pensionamento nasce com o evento danoso, qual
seja, a data em que a recorrente foi submetida ao procedimento de
mastectomia bilateral, que culminou com a sua inaptidão parcial e
permanente para o trabalho.
6. As prestações relativas ao pensionamento devem ser corrigidas
monetariamente a contar da data do evento danoso, mas os juros
moratórios, por se tratar de responsabilidade contratual por erro médico,
contam-se a partir da citação, em relação às parcelas vencidas por ocasião
da propositura da ação, e de cada vencimento, quanto às vincendas e
inadimplidas a partir de então.
7. Recurso especial conhecido e parcialmente provido.

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RECORRIDO : JVP
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RECORRIDO : MEDICAL MEDICINA COOPERATIVA ASSISTENCIAL DE LIMEIRA
ADVOGADO : LUCIANA MARIA SOARES E OUTRO(S) - SP143140
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ADVOGADOS : DENIS ATANAZIO E OUTRO(S) - SP229058
MARIA EMILIA GONÇALVES DE RUEDA - PE023748

VOTO

O EXMO. SR. MINISTRO NANCY ANDRIGHI (RELATOR):

O propósito recursal é decidir sobre a proporcionalidade dos valores


fixados a título de compensação dos danos moral e estético, causados em
decorrência de erro médico, bem como sobre o termo inicial do pensionamento
devido e a majoração dos honorários de sucumbência.

DA DELIMITAÇÃO DA CONTROVÉRSIA
Extrai-se do acórdão recorrido que C DE F S D foi submetida a
procedimento cirúrgico de mastectomia bilateral, sem a indicação para tanto e
sem o seu consentimento informado, após ter sido equivocadamente
diagnosticada por J V P como portadora de neoplasia maligna.
Ainda de acordo com o TJ/SP, ficou “comprovado que a autora foi
submetida a uma terapêutica mais arriscada e agressiva, sobrevindo danos físicos
consistentes em limitações para esforço e movimentos repetitivos com membros
superiores, bem como incapacidade parcial e permanente multiprofissional da
autora, dano psíquico e dano estético” (fl. 2.531, e-STJ).

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Diante desse contexto, o TJ/SP manteve a condenação ao pagamento
de R$ 30.000,00 (trinta mil reais), a título de compensação do dano moral, e mais
R$ 30.000,00 (trinta mil reais) para compensar o dano estético, além de majorar o
valor do pensionamento para um salário mínimo, devido a partir da data do
ajuizamento da ação.

DOS VALORES FIXADOS A TÍTULO DE COMPENSAÇÃO DOS


DANOS MORAL E ESTÉTICO
Os danos sofridos pela recorrente estão assim descritos na sentença,
confirmada pelo TJ/SP:

Referida prova técnica, após submeter a autora à minuciosa


avaliação, em consonância com os documentos trazidos aos autos -
prontuários médicos e relatórios, ao se referir ao diagnóstico, afirmou:
"Concluiu-se que a requerente era portadora de uma neoplasia benigna de
mama e não há elementos em nenhum dos exames para conclusão
de neoplasia maligna ou de presença de indicadores de alto risco
para seu desenvolvimento. Tais achados também contrariam diversos
relatórios médicos do requerido com diagnóstico descrito de neoplasia
maligna e uso de CID - C50 (Neoplasia maligna) acostados aos autos". Ao se
referir à indicação terapêutica o senhor perito foi categórico em afirmar
que: "...fica caracterizado que houve inclinação para uso de uma
terapêutica mais arriscada e agressiva, uma vez que não fica
indubitável e patente sua indicação".
Vê-se, portanto, que a opção de tratamento mais
agressivo não se fazia por pertinente segundo o diagnóstico aferido e
como bem anotado pelo ilustre perito, ao ser submetida ao referido
procedimento, embora empregada correta técnica, não se pode negar
que as intercorrências posteriores, próprias do risco cirúrgico,
tiveram como concausa a referida opção equivocada, chegando o
senhor perito a afirmar que: "Há nexo causal entre os atos praticados pelo
requerido e os danos documentados. O manejo pós operatório pela própria
requerente pode ser considerado concausa superveniente e o histórico de
tabagismo, concausa concomitante."
Por fim, concluiu o senhor perito houve danos físicos
consistentes em limitações para esforço e movimentos repetitivos
Documento: 2003569 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 26/11/2020 Página 9 de 4
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com membros superiores, havendo risco de aumento para lesões e
linfedema em braços decorrentes do erro na adoção do
tratamento eleito. Concluiu, ainda, que em consequência se deu
incapacidade parcial e permanente multiprofissional da autora,
estimando, também, dano psíquico em grau leve (25%) e dano
estético em grau moderado (3/51). (fl. 2.120, e-STJ – grifou-se)

Conforme relatado, a condenação, a título de compensação dos danos


moral e estético, foi arbitrada em R$ 30.000,00 (trinta mil reais) em relação a cada
um deles.
Afirma a recorrente, à vista disso, que “diante da
proporção/repercussão do erro médico, das inúmeras complicações posteriores e
ainda persistentes no cotidiano da recorrente, os valores fixados a título de dano
moral e estéticos mostram-se irrisórios” (fl. 2.541, e-STJ).

Do dano moral
De fato, no julgamento do REsp 1.411.740/SC, (julgado em
14/02/2017, DJe 20/02/2017), que versava sobre a compensação do dano moral
decorrente da remoção total da mama esquerda e dos linfonodos da autora, com
base em resultado de exame citológico equivocado, esta Turma entendeu razoável
a condenação ao pagamento de quantia equivalente a 100 salários mínimos.
No julgamento do REsp 1.133.386/RS (julgado em 17/06/2010, DJe
30/06/2010), a Quarta Turma decidiu que a condenação arbitrada em R$
120.000,00 (cento e vinte mil reais), a título de compensação do dano moral,
guarda proporcionalidade com a gravidade da ofensa, o grau de culpa e o porte
socioeconômico do médico causador do dano, solidariamente com o plano de
saúde, na hipótese de erro de diagnóstico de câncer de mama e consequente
submissão da paciente à cirurgia de mastectomia bilateral.

Documento: 2003569 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 26/11/2020 Página 10 de 4
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A despeito das peculiaridades de cada situação concreta, certo é que
os mencionados julgados são aptos a evidenciar, num primeiro momento, que a
quantia arbitrada na origem é irrisória, de tal modo a se configurar a ofensa ao art.
944 do CC/2002.
Convém ressaltar, no particular, que a recorrente em nada contribuiu
para o evento danoso, tendo sido a responsabilidade atribuída ao médico, ao
hospital em que realizados os procedimentos e à operadora do plano de saúde à
qual eram conveniados. Ademais, sobressai do acórdão recorrido a situação de
extrema angústia, aflição e sofrimento a que foi submetida a recorrente, tendo em
vista os danos físicos suportados, depois da perda desnecessária de ambas as
mamas, os quais acarretaram limitações para esforço e movimentos repetitivos
dos membros superiores e a sua consequente incapacidade parcial e permanente
multiprofissional, além dos danos estético e psíquico.
Assim, tendo como parâmetro os acórdãos mencionados e à luz das
circunstâncias particulares, sobretudo de que se trata de responsabilidade solidária
imputada ao médico a ao hospital, há de ser majorada a condenação a título de
compensação de dano moral para R$ 120.000,00 (cento e vinte mil reais),
equivalente a aproximadamente 125 salários mínimos, vigentes na data da
sentença.

Do dano estético
Quanto ao dano estético, também se verifica, a partir da
jurisprudência desta Corte, que o valor arbitrado na origem merece ser majorado.
Com efeito, em ação civil pública fundada em diversos casos de erro
médico após cirurgia plástica, a Segunda Turma decidiu, a partir das peculiaridades:
a) Hipótese: “apesar de não ter sido constatada nenhuma sequela
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física após a cirurgia plástica para redução das mamas, a autora
apresentou flacidez nas mamas, ressaltando que a mesma foi submetida à
cirurgia reparadora, por uma equipe médica, o que pode ter atenuado as sequelas
posteriores à primeira cirurgia. Valor: R$ 30.000,00 (trinta mil reais) (REsp
1.784.741/SP, julgado em 19/03/2019, DJe 23/04/2019);
b) Hipótese: paciente submetida a cirurgia de mamoplastia redutora
mal executada, apresentando cicatriz alargada na mama direita inoperável
e outras que carecem de nova intervenção cirúrgica. Valor: R$ 30.000,00
(trinta mil reais) (REsp 1.678.855/SP, julgado em 15/08/2017, DJe 12/09/2017);
c) Hipótese: paciente submetida a procedimentos de mamoplastia e
abdominoplaslia, apresentando “cicatrizes alargadas na região do sulco
infra mamário, inclusive passou por uma cirurgia reparadora na região, a qual
apenas amenizou o dano, mas não reparou totalmente, assim como apresenta
cicatriz alargadas no abdome em toda a região da cicatriz (mais ou menos 4
cm) sendo essa permanente, sem possibilidade de reversão”. Valor: R$
40.000,00 (quarenta mil reais) (REsp 1.672.420/SP, julgado em 27/06/2017,
DJe 30/06/2017).
Insta destacar que as circunstâncias dos autos revelam danos
estéticos muito mais severos, com sequelas bem mais graves que as descritas nos
mencionados arestos, tendo em vista que, além das cicatrizes, a recorrente
terminou mutilada em suas duas mamas e com limitação nos movimentos dos
membros superiores.
Por sinal, no âmbito da Terceira Turma, já se decidiu que “não se
mostra irrisório o valor das indenizações arbitrado pelos julgadores em R$
200.000,00, pelos danos morais, e R$ 100.000,00, pelo dano estético”, em
hipótese na qual do erro médico resultou quadro de algia crônica, com
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perda parcial e permanente dos movimentos de uma das pernas da
paciente. (AgRg no REsp 1.537.273/SP, julgado em 24/11/2015, DJe 01/12/2015).
Tal o panorama, há de ser majorada a condenação a título de
compensação de dano estético para R$ 100.000,00 (cento mil reais).

DO TERMO INICIAL DO PENSIONAMENTO


Extrai-se da sentença que “a autora exercia profissão anteriormente
aos fatos, e a conclusão pericial no sentido de que apresenta incapacidade parcial
permanente multiprofissional” (fls. 2.120-2.122, e-STJ).
A condenação ao pensionamento, nessas circunstâncias, visa à
reparação dos danos consistentes na inabilitação ou diminuição da capacidade da
vítima para o trabalho, sem prejuízo da indenização pelas despesas de tratamento
e lucros cessantes até o fim da convalescença, nos termos do que dispõe o art. 950
do CC/2002, aplicável à espécie por força do art. 951 do mesmo diploma legal.
Trata-se, segundo Gustavo Tepedino e outros, de indenização de
natureza patrimonial, fundada “nos lucros cessantes que razoavelmente serão
ocasionados à vítima por força da perda total ou parcial de sua aptidão para o ofício
que desempenhava” (Código Civil interpretado conforme a Constituição da
República. Vol II. Rio de Janeiro: Renovar, 2006. p. 876).
Daí porque a obrigação de pagar o pensionamento nasce com o
evento danoso, qual seja, o ato do ofensor que gera a inaptidão ou redução da
capacidade laborativa da vítima.
Não por outro motivo, também, afirmam Cristiano Chaves de Farias e
outros que “a pensão deve ser calculada à luz do salário que o ofendido recebia
quando ocorreu o dano, se este ocasionou a diminuição da capacidade laborativa,
conforme o parâmetro definido em perícia” (Curso de Direito Civil. 5 ed. Salvador:
Documento: 2003569 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 26/11/2020 Página 13 de 4
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JusPodivm, 2018. p. 290).
Aliás, é do senso comum de justiça, ínsito ao princípio da reparação
integral, que o patrimônio do causador do dano é que responde pela indenização, e
não o patrimônio da própria vítima. Como bem pontua Sérgio Cavalieri Filho, “se a
responsabilidade é o dever de responder pelo ato ilícito perante a ordem jurídica,
e indenizar é reparar o dano dele decorrente da forma mais completa possível,
segue-se não ser possível ao autor do dano aproveitar-se do patrimônio da própria
vítima par diminuir o quantum indenizatório ou mesmo excluí-lo” (Programa de
responsabilidade civil. 13 ed. São Paulo: Atlas, 2019. p. 186).
Veja que a Segunda Seção, ao decidir sobre os lucros cessantes
devidos por atraso em entrega de imóvel, concluiu que “é devido o pagamento de
indenização ao comprador desde a data fixada no contrato, a qual será acrescida
apenas do prazo de tolerância, a ser calculada com base no valor locatício de
imóvel assemelhado, a ser apurado em liquidação de sentença”, e que “o termo
final da indenização deverá corresponder à data do recebimento da unidade pelo
adquirente, mediante a entrega das chaves, por ser o momento em que ele tem a
efetiva posse do imóvel, fazendo cessar, por conseguinte, o fato gerador do dever
de reparação, salvo disposição contratual diversa, que lhe seja mais favorável”
(REsp 1.729.593/SP, julgado em 25/09/2019, DJe de 27/09/2019).
O fato gerador do dever de reparação pelo erro médico, no particular,
é a data em que a recorrente foi submetida ao procedimento de mastectomia
bilateral, que culminou com a sua inaptidão parcial e permanente para o trabalho.
Por todo o exposto, infere-se que a manutenção do acórdão recorrido,
no ponto em que se afirma que “o termo inicial da pensão é a data do ajuizamento
da ação” (fl. 2.534, e-STJ), faz recair sobre o patrimônio da recorrente parte do
prejuízo decorrente do evento danoso imputado aos recorridos, contrariando o
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princípio da reparação integral.
Cabe ressaltar, no entanto, que essa obrigação de pagar pensão,
embora nascida com o evento danoso, é reconhecida e arbitrada em juízo e só
passa a ser exigível depois do provimento jurisdicional, de modo que, de acordo
com a jurisprudência, as prestações devem ser corrigidas monetariamente a
contar da data do evento danoso, mas os juros moratórios, por se tratar de
responsabilidade contratual por erro médico (AgInt no AREsp 1.659.434/SP, Quarta
Turma, julgado em 15/06/2020, DJe de 18/06/2020; REsp 1.677.309/SP, Terceira
Turma, julgado em 20/03/2018, DJe de 03/04/2018), contam-se a partir da
citação, em relação às parcelas vencidas por ocasião da propositura da ação, e de
cada vencimento, quanto às vincendas e inadimplidas a partir de então (AgRg no
AREsp 401.543/RJ, Quarta Turma, julgado em 24/03/2015, DJe 30/03/2015; AgRg
no Ag 1.398.895/PR, Quarta Turma, julgado em 01/09/2015, DJe 08/09/2015;
AgInt no AREsp 1.510.104/RJ, Quarta Turma, julgado em 19/11/2019, DJe
12/12/2019; EDcl no REsp 1.591.178/RJ, Terceira Turma, julgado em 25/02/2019,
DJe 25/04/2019; REsp 1.270.983/SP, Quarta Turma, julgado em 08/03/2016, DJe
05/04/2016).

DA MAJORAÇÃO DOS HONORÁRIOS DE SUCUMBÊNCIA


Consoante decidiu a Segunda Seção, no julgamento do AgInt nos
EREsp 1.539.725/DF, (julgado em 09/08/2017, DJe 19/10/2017): “É devida a
majoração da verba honorária sucumbencial, na forma do art. 85, § 11, do
CPC/2015, quando estiverem presentes os seguintes requisitos, simultaneamente:
a) decisão recorrida publicada a partir de 18.3.2016, quando entrou em vigor o
novo Código de Processo Civil; b) recurso não conhecido integralmente ou
desprovido, monocraticamente ou pelo órgão colegiado competente; e c)
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condenação em honorários advocatícios desde a origem no feito em que
interposto o recurso”.
Ausentes os requisitos na espécie, é incabível a majoração de
honorários de sucumbência.

DA CONCLUSÃO
Forte nessas razões, CONHEÇO do recurso especial e DOU-LHE
PARCIAL PROVIMENTO para majorar o valor da condenação a título de
compensação dos danos moral e estético para, respectivamente, R$ 120.000,00
(cento e vinte mil reais) e R$ 100.000,00 (cem mil reais), bem como para
determinar o pagamento da pensão desde a data em que a recorrente foi
submetida ao procedimento de mastectomia bilateral, corrigida monetariamente a
respectiva quantia a partir de então, e com incidência de juros de mora, quanto às
prestações vencidas na propositura da ação, a partir da citação.
Incabível a majoração de honorários, ante a ausência simultânea dos
requisitos elencados pela Segunda Seção no julgamento do AgInt nos EREsp
1.539.725/DF, (julgado em 09/08/2017, DJe 19/10/2017).

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
TERCEIRA TURMA

Número Registro: 2019/0097921-3 PROCESSO ELETRÔNICO REsp 1.808.050 / SP

Números Origem: 0009353-55.2015.8.26.0320 10025564620158260320 93535520158260320

EM MESA JULGADO: 17/11/2020


SEGREDO DE JUSTIÇA
Relatora
Exma. Sra. Ministra NANCY ANDRIGHI
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. ONOFRE DE FARIA MARTINS
Secretária
Bela. MARIA AUXILIADORA RAMALHO DA ROCHA

AUTUAÇÃO
RECORRENTE : C DE F S D
ADVOGADO : DANTE FRASNELLI GIANOTTO - SP357925
RECORRIDO : J VP
ADVOGADO : MAURO AUGUSTO MATAVELLI MERCI - SP091461
RECORRIDO : MEDICAL MEDICINA COOPERATIVA ASSISTENCIAL DE LIMEIRA
ADVOGADO : LUCIANA MARIA SOARES E OUTRO(S) - SP143140
RECORRIDO : NOBRE SEGURADORA DO BRASIL S.A - EM LIQUIDACAO
REPR. POR : PEDRO PAULO PEREIRA MOTA - LIQUIDANTE
ADVOGADOS : DENIS ATANAZIO E OUTRO(S) - SP229058
MARIA EMILIA GONÇALVES DE RUEDA - PE023748

ASSUNTO: DIREITO CIVIL - Responsabilidade Civil - Indenização por Dano Material - Erro Médico

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na
sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Turma, por unanimidade, conheceu e deu parcial provimento ao recurso especial, nos
termos do voto do(a) Sr(a). Ministro(a) Relator(a).
Os Srs. Ministros Paulo de Tarso Sanseverino (Presidente), Ricardo Villas Bôas Cueva,
Marco Aurélio Bellizze e Moura Ribeiro votaram com a Sra. Ministra Relatora.

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