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ACÓRDÃO
Documento: 2003569 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 26/11/2020 Página 2 de 4
Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 1.808.050 - SP (2019/0097921-3)
RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI
RECORRENTE : C DE F S D
ADVOGADO : DANTE FRASNELLI GIANOTTO - SP357925
RECORRIDO : JVP
ADVOGADO : MAURO AUGUSTO MATAVELLI MERCI - SP091461
RECORRIDO : MEDICAL MEDICINA COOPERATIVA ASSISTENCIAL DE LIMEIRA
ADVOGADO : LUCIANA MARIA SOARES E OUTRO(S) - SP143140
RECORRIDO : NOBRE SEGURADORA DO BRASIL S.A - EM LIQUIDACAO
REPR. POR : PEDRO PAULO PEREIRA MOTA - LIQUIDANTE
ADVOGADOS : DENIS ATANAZIO E OUTRO(S) - SP229058
MARIA EMILIA GONÇALVES DE RUEDA - PE023748
RELATÓRIO
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denunciação da lide havida pela ré MEDICAL à NOBRE, condenando a ré
denunciada ao reembolso da quantia que a segurada fora condenada a prestar à
autora, observados, quanto ao pensionamento, os limites de valor fixados na
apólice e exigências impostas pela liquidação extrajudicial.
Condenados os réus a arcarem com os ônus da sucumbência e
honorária advocatícia que se arbitrou em 10% sobre o valor da condenação, assim
também a denunciada, observando, quanto a esta, a gratuidade a ela concedida por
ocasião do julgamento de agravo de instrumento.
Acórdão: o TJ/SP deu parcial provimento às apelações interpostas
por C DE F S D e MEDICAL e negou provimento às interpostas por J V P e NOBRE,
para afastar a determinação de manutenção do plano de saúde e majorar o valor
da pensão alimentar para um salário mínimo, devida a partir do ajuizamento da
ação, nos termos da seguinte ementa:
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Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 1.808.050 - SP (2019/0097921-3)
RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI
RECORRENTE : C DE F S D
ADVOGADO : DANTE FRASNELLI GIANOTTO - SP357925
RECORRIDO : JVP
ADVOGADO : MAURO AUGUSTO MATAVELLI MERCI - SP091461
RECORRIDO : MEDICAL MEDICINA COOPERATIVA ASSISTENCIAL DE LIMEIRA
ADVOGADO : LUCIANA MARIA SOARES E OUTRO(S) - SP143140
RECORRIDO : NOBRE SEGURADORA DO BRASIL S.A - EM LIQUIDACAO
REPR. POR : PEDRO PAULO PEREIRA MOTA - LIQUIDANTE
ADVOGADOS : DENIS ATANAZIO E OUTRO(S) - SP229058
MARIA EMILIA GONÇALVES DE RUEDA - PE023748
VOTO
DA DELIMITAÇÃO DA CONTROVÉRSIA
Extrai-se do acórdão recorrido que C DE F S D foi submetida a
procedimento cirúrgico de mastectomia bilateral, sem a indicação para tanto e
sem o seu consentimento informado, após ter sido equivocadamente
diagnosticada por J V P como portadora de neoplasia maligna.
Ainda de acordo com o TJ/SP, ficou “comprovado que a autora foi
submetida a uma terapêutica mais arriscada e agressiva, sobrevindo danos físicos
consistentes em limitações para esforço e movimentos repetitivos com membros
superiores, bem como incapacidade parcial e permanente multiprofissional da
autora, dano psíquico e dano estético” (fl. 2.531, e-STJ).
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Diante desse contexto, o TJ/SP manteve a condenação ao pagamento
de R$ 30.000,00 (trinta mil reais), a título de compensação do dano moral, e mais
R$ 30.000,00 (trinta mil reais) para compensar o dano estético, além de majorar o
valor do pensionamento para um salário mínimo, devido a partir da data do
ajuizamento da ação.
Do dano moral
De fato, no julgamento do REsp 1.411.740/SC, (julgado em
14/02/2017, DJe 20/02/2017), que versava sobre a compensação do dano moral
decorrente da remoção total da mama esquerda e dos linfonodos da autora, com
base em resultado de exame citológico equivocado, esta Turma entendeu razoável
a condenação ao pagamento de quantia equivalente a 100 salários mínimos.
No julgamento do REsp 1.133.386/RS (julgado em 17/06/2010, DJe
30/06/2010), a Quarta Turma decidiu que a condenação arbitrada em R$
120.000,00 (cento e vinte mil reais), a título de compensação do dano moral,
guarda proporcionalidade com a gravidade da ofensa, o grau de culpa e o porte
socioeconômico do médico causador do dano, solidariamente com o plano de
saúde, na hipótese de erro de diagnóstico de câncer de mama e consequente
submissão da paciente à cirurgia de mastectomia bilateral.
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A despeito das peculiaridades de cada situação concreta, certo é que
os mencionados julgados são aptos a evidenciar, num primeiro momento, que a
quantia arbitrada na origem é irrisória, de tal modo a se configurar a ofensa ao art.
944 do CC/2002.
Convém ressaltar, no particular, que a recorrente em nada contribuiu
para o evento danoso, tendo sido a responsabilidade atribuída ao médico, ao
hospital em que realizados os procedimentos e à operadora do plano de saúde à
qual eram conveniados. Ademais, sobressai do acórdão recorrido a situação de
extrema angústia, aflição e sofrimento a que foi submetida a recorrente, tendo em
vista os danos físicos suportados, depois da perda desnecessária de ambas as
mamas, os quais acarretaram limitações para esforço e movimentos repetitivos
dos membros superiores e a sua consequente incapacidade parcial e permanente
multiprofissional, além dos danos estético e psíquico.
Assim, tendo como parâmetro os acórdãos mencionados e à luz das
circunstâncias particulares, sobretudo de que se trata de responsabilidade solidária
imputada ao médico a ao hospital, há de ser majorada a condenação a título de
compensação de dano moral para R$ 120.000,00 (cento e vinte mil reais),
equivalente a aproximadamente 125 salários mínimos, vigentes na data da
sentença.
Do dano estético
Quanto ao dano estético, também se verifica, a partir da
jurisprudência desta Corte, que o valor arbitrado na origem merece ser majorado.
Com efeito, em ação civil pública fundada em diversos casos de erro
médico após cirurgia plástica, a Segunda Turma decidiu, a partir das peculiaridades:
a) Hipótese: “apesar de não ter sido constatada nenhuma sequela
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física após a cirurgia plástica para redução das mamas, a autora
apresentou flacidez nas mamas, ressaltando que a mesma foi submetida à
cirurgia reparadora, por uma equipe médica, o que pode ter atenuado as sequelas
posteriores à primeira cirurgia. Valor: R$ 30.000,00 (trinta mil reais) (REsp
1.784.741/SP, julgado em 19/03/2019, DJe 23/04/2019);
b) Hipótese: paciente submetida a cirurgia de mamoplastia redutora
mal executada, apresentando cicatriz alargada na mama direita inoperável
e outras que carecem de nova intervenção cirúrgica. Valor: R$ 30.000,00
(trinta mil reais) (REsp 1.678.855/SP, julgado em 15/08/2017, DJe 12/09/2017);
c) Hipótese: paciente submetida a procedimentos de mamoplastia e
abdominoplaslia, apresentando “cicatrizes alargadas na região do sulco
infra mamário, inclusive passou por uma cirurgia reparadora na região, a qual
apenas amenizou o dano, mas não reparou totalmente, assim como apresenta
cicatriz alargadas no abdome em toda a região da cicatriz (mais ou menos 4
cm) sendo essa permanente, sem possibilidade de reversão”. Valor: R$
40.000,00 (quarenta mil reais) (REsp 1.672.420/SP, julgado em 27/06/2017,
DJe 30/06/2017).
Insta destacar que as circunstâncias dos autos revelam danos
estéticos muito mais severos, com sequelas bem mais graves que as descritas nos
mencionados arestos, tendo em vista que, além das cicatrizes, a recorrente
terminou mutilada em suas duas mamas e com limitação nos movimentos dos
membros superiores.
Por sinal, no âmbito da Terceira Turma, já se decidiu que “não se
mostra irrisório o valor das indenizações arbitrado pelos julgadores em R$
200.000,00, pelos danos morais, e R$ 100.000,00, pelo dano estético”, em
hipótese na qual do erro médico resultou quadro de algia crônica, com
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perda parcial e permanente dos movimentos de uma das pernas da
paciente. (AgRg no REsp 1.537.273/SP, julgado em 24/11/2015, DJe 01/12/2015).
Tal o panorama, há de ser majorada a condenação a título de
compensação de dano estético para R$ 100.000,00 (cento mil reais).
DA CONCLUSÃO
Forte nessas razões, CONHEÇO do recurso especial e DOU-LHE
PARCIAL PROVIMENTO para majorar o valor da condenação a título de
compensação dos danos moral e estético para, respectivamente, R$ 120.000,00
(cento e vinte mil reais) e R$ 100.000,00 (cem mil reais), bem como para
determinar o pagamento da pensão desde a data em que a recorrente foi
submetida ao procedimento de mastectomia bilateral, corrigida monetariamente a
respectiva quantia a partir de então, e com incidência de juros de mora, quanto às
prestações vencidas na propositura da ação, a partir da citação.
Incabível a majoração de honorários, ante a ausência simultânea dos
requisitos elencados pela Segunda Seção no julgamento do AgInt nos EREsp
1.539.725/DF, (julgado em 09/08/2017, DJe 19/10/2017).
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Superior Tribunal de Justiça
CERTIDÃO DE JULGAMENTO
TERCEIRA TURMA
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : C DE F S D
ADVOGADO : DANTE FRASNELLI GIANOTTO - SP357925
RECORRIDO : J VP
ADVOGADO : MAURO AUGUSTO MATAVELLI MERCI - SP091461
RECORRIDO : MEDICAL MEDICINA COOPERATIVA ASSISTENCIAL DE LIMEIRA
ADVOGADO : LUCIANA MARIA SOARES E OUTRO(S) - SP143140
RECORRIDO : NOBRE SEGURADORA DO BRASIL S.A - EM LIQUIDACAO
REPR. POR : PEDRO PAULO PEREIRA MOTA - LIQUIDANTE
ADVOGADOS : DENIS ATANAZIO E OUTRO(S) - SP229058
MARIA EMILIA GONÇALVES DE RUEDA - PE023748
ASSUNTO: DIREITO CIVIL - Responsabilidade Civil - Indenização por Dano Material - Erro Médico
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na
sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Turma, por unanimidade, conheceu e deu parcial provimento ao recurso especial, nos
termos do voto do(a) Sr(a). Ministro(a) Relator(a).
Os Srs. Ministros Paulo de Tarso Sanseverino (Presidente), Ricardo Villas Bôas Cueva,
Marco Aurélio Bellizze e Moura Ribeiro votaram com a Sra. Ministra Relatora.
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