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08/11/2020 Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça
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E para chegar a tal valor, diz que está provado que, no sector agrícola,
teria facilidade de arranjar trabalho ao longo de todo o ano, profissão
onde auferiria, em média, 40,00€ por dia e que, decorrendo das regras da
experiência que tal trabalho é prestado durante 6 dias por semana –
nessa actividade a autora teria um rendimento mensal nunca inferior a
1.000,00€.
E diz ainda que como empregada doméstica sempre poderia auferir pelo
menos € 800,00 (5,00€ à hora x 8 horas x 22 dias) – podendo ainda
acumular serviços no sector agrícola e como empregada doméstica.
Todavia, a nosso ver sem razão.
Com efeito o que, de concreto, se apurou foi que a apelante, à data do
acidente, se encontrava desempregada e que até poucos dias antes
estivera a trabalhar (como auxiliar de serviços gerais) auferindo um
rendimento mensal líquido de € 390,00.
É certo que também se provou que no sector agrícola teria facilidade em
arranjar trabalho ao longo de todo o ano, podendo ganhar, em média, €
40,00 por dia (valor bruto – que não valor líquido) e poderia ainda fazer
limpezas a casas particulares, empresas ou serviços públicos, mediante
valor diário não concretamente apurado.
Todavia o facto de ter facilidade em arranjar trabalho no sector agrícola
“ao longo de todo o ano”, e até pelas especificidades dessa actividade
(designadamente sazonalidade da generalidade das diversas culturas
agrícolas), não significa que poderia conseguir trabalho “durante todos
os dias”, com excepção dos fins-de-semana. Com efeito uma coisa é
poder ter trabalho ao longo do ano e outra coisa é ter trabalho todos os
dias do ano.
E o mesmo se diga em relação ao trabalho de limpezas. A trabalhar a
tempo inteiro numa qualquer empresa, dificilmente auferiria
remuneração superior ao salário mínimo nacional e, a trabalhar em
casas particulares (mesmo admitindo que pudesse receber a € 5,00/hora)
dificilmente conseguiria trabalho de forma seguida e durante 8 horas por
dia.
De resto, se assim fosse, por que razão é que a autora, podendo assim
ganhar bem mais, estava desempregada e até pouco antes apenas se
sujeitara a receber um rendimento de apenas € 390,00?
Diz ainda a apelante que o tribunal “a quo” não teve em consideração o
facto de em consequência do acidente lhe ter sido fixada uma IPG de
31,20 pontos.
É certo que, conforme supra referido, o tribunal na enunciação dos
critérios a que atendeu, não faz referência específica a essa IPG que foi
atribuída à apelante.
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6. Na concreta situação litigiosa, está apenas em causa – uma vez que nos
movemos no âmbito de incidente de liquidação de anterior condenação
genérica – a quantificação do dano patrimonial futuro, conexionado
com as relevantes limitações decorrentes das sequelas das lesões sofridas,
estando, pois, situados claramente fora do perímetro deste específico
procedimento a avaliação dos danos não patrimoniais.
Poderá, todavia, considerar-se que está identicamente fora do âmbito
deste incidente de liquidação a avaliação do dano biológico sofrido pela
lesada (como expressamente se considerou no acórdão recorrido)?
Saliente-se que a sentença proferida em 1ª instância fez apelo a esta
categoria específica de danos (cfr. fls. 496 /497), representando ainda
claro apelo a tal figura a argumentação esgrimida pelo lesada no pedido
de liquidação deduzido, ao pôr o acento tónico precisamente na perda de
chance profissional emergente do tipo de limitação física de que passou a
padecer irremediavelmente, impossibilitadora da realização de tarefas que
possam implicar esforços físicos (e que seriam precisamente as mais
prováveis e adequadas às habilitações da lesada)…
Não parece efectivamente que a vertente patrimonial da figura do dano
biológico – consistente essencialmente em determinar em que medida é
que, para além da perda efectiva de rendimentos ocorre também a
perda de chance profissional como consequência das sequelas das
lesões sofridas – se possa cindir ou autonomizar totalmente da
quantificação do dano patrimonial futuro – sendo este precisamente o
resultado da adição ou soma dos prováveis rendimentos profissionais
futuros perdidos, face ao grau de incapacidade que afecta
permanentemente o lesado, e da perda inelutável de oportunidades
profissionais futuras, inviabilizadas irremediavelmente pelas limitações
físicas de que passou a padecer de modo definitivo.
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No caso dos autos, não oferece dúvida que a indemnização a arbitrar pelo
dano biológico sofrido pela lesada - consubstanciado em limitações
funcionais particularmente relevantes - deverá compensá-la – para além
da presumida perda de rendimentos, associada àquele grau de
incapacidade permanente - também da inerente perda de capacidades,
mesmo que esta não esteja imediata e totalmente reflectida e
contabilizada no nível de rendimento auferido ou auferível pelo
lesado.
A compensação do dano biológico tem como base e fundamento a
relevante e substancial restrição às possibilidades exercício de uma
profissão e de futura mudança, desenvolvimento ou reconversão de
emprego pelo lesado, implicando flagrante perda de oportunidades,
geradoras de possíveis e futuros acréscimos patrimoniais, frustrados
irremediavelmente pelo grau de incapacidade que definitivamente o vai
afectar: na verdade, a perda relevante de capacidades funcionais –
mesmo que não imediata e totalmente reflectida no valor dos
rendimentos pecuniários auferidos pelo lesado – constitui uma verdadeira
«capitis deminutio» num mercado laboral exigente, em permanente
mutação e turbulência, condicionando-lhe, de forma relevante e
substancial, as possibilidades exercício profissional e de escolha e
evolução na profissão, eliminando ou restringindo seriamente a carreira
profissional expectável - e, nessa medida, o leque de oportunidades
profissionais à sua disposição, - erigindo-se, deste modo, em fonte actual
de possíveis e futuramente acrescidos lucros cessantes, a compensar,
desde logo, como verdadeiros danos patrimoniais; e sendo naturalmente
tais restrições e limitações particularmente relevantes em lesada com 18
anos de idade, ficando as perspectivas de evolução no campo profissional
plausivelmente afectadas pelas irremediáveis sequelas, físicas das
gravosas lesões corporais sofridas.
E, nesta perspectiva, deverá aditar-se ao lucro cessante, decorrente da
previsível perda de remunerações, calculada estritamente em função do
grau de incapacidade permanente fixado, uma quantia que constitua justa
compensação do referido dano biológico, consubstanciado na privação de
futuras oportunidades profissionais, precludidas irremediavelmente pela
capitis deminutio de que passou a padecer a recorrente, bem como pelo
esforço acrescido que o já relevante grau de incapacidade fixado irá
envolver para o exercício de quaisquer tarefas da vida profissional –
considerando-se, em termos de equidade, que representará compensação
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