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08/11/2020 Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça
4. Falou então com a sua mãe, que lhe confirmou que o réu era seu pai.
5. Notificado o réu para comparecer no IML, a fim de serem colhidas
amostras biológicas ao mesmo, para possibilitar realização de exame
pericial ao ADN, o mesmo, em 08/06/2014, juntou aos autos atestado
médico, justificando a sua não comparência - cft. fls. 85.
6. Notificado o réu para comparecer no IML, a fim de serem colhidas
amostras biológicas ao mesmo, para possibilitar realização de exame
pericial ao ADN, o mesmo, em 06/08/2014, não compareceu, nem
justificou a falta de comparência.
7. Em 22/09/2014, foi proferido despacho a instar o réu a efectuar o
exame, sob pena de, não o fazendo, ser condenado em multa por falta de
colaboração com o tribunal, nos termos do disposto no art. 417.º, n.º2, do
CPC – cft. fls. 91.
8. Em 10/09/2014, o réu juntou aos autos requerimento com o teor de fls.
99 e 100, dando conta de que não efectuaria o exame em causa.
9. Em 23/10/2014, foi proferido despacho a instar o réu a efectuar o
exame, sob pena de, não o fazendo, ser condenado em multa por falta de
colaboração com o tribunal, nos termos do disposto no art. 417.º, n.º2, do
CPC – cft. fls. 102.
10. Notificado o réu para comparecer no IML, a fim de serem colhidas
amostras biológicas ao mesmo, para possibilitar realização de exame
pericial ao ADN, o mesmo, em 13/11/2014, não compareceu, nem
justificou a falta de comparência.
11. Em 25/11/2014, foi proferido despacho a condenar o réu em multa,
que se fixou em 1 UC, por falta de colaboração com o tribunal, nos
termos do disposto no art. 417.º, n.º2, do CPC, tendo no mesmo despacho,
sido instado a efectuar o exame, sob pena de, não o fazendo, ser
condenado em multa mais gravosa, por falta de colaboração com o
tribunal, nos termos do disposto no art. 417.º, n.º2, do CPC.
12. Em 03.12.2014, o réu reiterou que “não se sente motivado” para
efectuar o exame.
13. Liquidou o valor da multa em que foi condenado – fls. 119.
14. Em 26/01/2015, foi proferido despacho a condenar o réu em multa,
que se fixou em 3 UC, por falta de colaboração com o tribunal, nos
termos do disposto no art. 417.º, n.º2, do CPC, tendo no mesmo despacho,
sido instado a efectuar o exame, sob pena de, não o fazendo, ser
condenado em multa mais gravosa, por falta de colaboração com o
tribunal, nos termos do disposto no art. 417.º, n.º2, do CPC.
15. Liquidou o valor da multa em que foi condenado – fls. 137.
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posse de estado (tratamento do filho pelo pretenso pai), mas outros factos
ou circunstâncias que objectiva e fundadamente justifiquem a
investigação com vista ao estabelecimento da paternidade pela verdade
biológica. Isto é, não obstante o decurso do prazo geral de 10 anos
previsto no nº1 do artigo 1817º, a acção ainda pode ser proposta destro
dos 3 anos posteriores ao conhecimento dum dos enunciados
fundamentos da al. b, do nº3 do artigo 1817º, cabendo-lhe a ele,
demandante, o correspondente ónus de prova - excepto se o fundamento
invocado for a cessação voluntária do tratamento, caso em que, nos
termos do nº4, do aludido preceito legal, impende sobre o réu o ónus de
demonstrar que a cessação dessa posse de estado ocorreu nos três anos
anteriores à propositura da acção.
No caso em apreço, o autor não logrou provar que apenas teve
conhecimento no verão de 2013 da circunstância justificativa da
investigação. Assim, e uma vez que a acção foi intentada quando estavam
excedidos os 10 anos posteriores à maioridade do autor, procede a
caducidade.
Mesmo que se entenda que o nº4 do artigo 1817º do Código Civil se
aplica a outras situações que se enquadrem na previsão da alínea b) do
nº1, e que por isso impendia sobre o réu o ónus de prova de que o autor
tomou conhecimento das referidas cartas de namoro em data anterior aos
três anos que precederam a propositura da acção, sempre deve ser negado
o direito peticionado pelo autor por não se ter provado que é fruto das
relações sexuais que o réu manteve com sua mãe nos 120 dias dos 300
que precederam o seu nascimento.
Nesse capítulo, confrontamo-nos com uma situação de non liquet em sede
de matéria de facto relativa aos fundamentos da acção, pelo que o sentido
da decisão deve buscar-se à regra da repartição do ónus da prova dos
factos. Como refere Manuel de Andrade o ónus da prova «incumbe à
parte cuja pretensão processual só pode obter êxito mediante a aplicação
da norma de que ele é pressuposto» (in Noções Elementares de Processo
Civil, 1976, pág. 200), e nas palavras de Anselmo de Castro, “o problema
da distribuição do ónus da prova traduz-se em determinar quais são os
elementos verdadeiramente constitutivos da norma fundamentadora do
direito invocado em juízo e os que fora dela constituem elemento duma
norma que se lhe oponha (impeditiva ou extintiva) decidindo contra a
parte a quem interesse no processo a aplicação da norma constitutiva do
direito ou da contra-norma” (Direito Processual Civil Declaratório, ed.
1982, Volume III-pág. 352), e a parte onerada com o ónus da prova dos
fundamentos da acção é o autor.
O despacho interlocutório que determinou a inversão do ónus de prova
nos termos do artigo 344º, nº2, do Código Civil, não vincula o tribunal a
quem cabe apreciar o mérito da causa. Esse despacho serve apenas de
alerta/sanção ao réu por mor do seu comportamento de falta de
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de 1977), referindo que "é lícito defender-se que o disposto nos nºs 3[8] e
4[9] do artigo 1817º do Código Civil não constitui qualquer espécie de
prorrogação legal do prazo estabelecido no nº 1 do mesmo artigo,
regulando apenas desvios ao princípio geral, no caso de ocorrência de
especiais situações impeditivas da utilização do prazo normal".
Acrescenta depois o mesmo Autor:
"É bem certo que, no caso de estar precludido o exercício do direito do
autor em face da regra geral proclamada no nº 1 do art. 1817º, é ele que
tem de alegar e provar alguma das excepções previstas nos números 3 e 4.
Tem de alegar e provar o tratamento; tem de alegar e provar a existência
do escrito: factos que lhe abrirão a porta da excepção consagrada
naqueles números.
Porém, não será exigível ao autor que alegue e prove que o direito de
acção não caducou.
Na hipótese, por exemplo, da excepção do tratamento (…) haverá que
distinguir entre a incerteza sobre o tratamento e a incerteza sobre a
manutenção dos actos até certo momento.
Aquela funcionará contra o autor, posto que lhe atribui a carga da prova
da existência de uma relação de tratamento que o inibiu de agir até ao
limite do prazo estabelecido no nº 1 do art. 1817º; esta funcionará contra
o réu, que tem o ónus da prova dos factos que integram a caducidade".
Parece-nos, com efeito, que o prazo fixado no nº 3 do art. 1817º não
funciona propriamente como contra excepção da caducidade, face ao
decurso do prazo regra previsto no nº 1; não diz respeito, nem estende ou
prorroga este prazo, sendo autónomo dele, constituindo antes um prazo
especial que depende de certos pressupostos próprios.
O "facto ou circunstância" justificativos da investigação podem ocorrer a
todo o tempo, mas necessariamente após o decurso do prazo do nº 1 (se o
"facto ou circunstância" apenas justificam ou permitem a investigação,
sendo meramente habilitantes desta, não faria sentido invocá-los no
decurso deste prazo, pelo menos para este efeito da caducidade).
O facto – o decurso do prazo de três anos – é extintivo, competindo a
respectiva prova àquele contra quem a invocação do direito é feita, no
caso ao réu, como decorre do disposto no art. 343º, nº 2, do CC (Nas
acções que devam ser propostas dentro de certo prazo a contar da data em
que o autor teve conhecimento de determinado facto, cabe ao réu a prova
de o prazo já ter decorrido, salvo se outra for a solução especialmente
consignada na lei[10]).
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