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08/11/2020 Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça
XIII - Não age com abuso de direito, a investigante que apenas soube em
Março de 2010 da sua paternidade, justificando esse tardio acesso à sua
ascendência na ausência em parte incerta do investigado e na comprovada
sonegação de informação relevante por parte da mãe e de familiares.
Decisão Texto Integral: Acordam no Supremo Tribunal de Justiça:
Relatório
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neste lugar que o mesmo tinha ido para África - Resposta ao artigo 17º da
base instrutória.
13 - Como resulta do assento de óbito cuja certidão consta de fls. 403-
404, JJ faleceu a 14 de outubro de 1986 - artigo 20º da base instrutória.
III – Fundamentação de direito
A apreciação e decisão do presente recurso de revista passam, atentas as
conclusões delimitadoras do seu objecto (art.ºs 635º, n.º 4 e 639º, n.º 1, do
Cód. de Proc. Civil[2]), pela análise e resolução das seguintes questões
jurídicas colocadas pelos recorrentes a este tribunal:
- caducidade da acção e suficiência factual para a sua dilucidação; e
- abuso de direito por banda da autora.
Debrucemo-nos, então, sobre cada uma delas.
1 – Da caducidade da acção
A problemática da caducidade das acções de investigação de paternidade,
no que concerne, especialmente, à constitucionalidade ou
inconstitucionalidade da fixação de prazos para a sua propositura, tem
sido largamente debatida na doutrina e na jurisprudência e está, ainda
hoje, longe de ser pacífica[3].
No caso vertente, está em causa a questão de saber se o direito de acção
da autora se mostra ou não caducado à luz da alínea c) do n.º 3 do artigo
1817.º do Código Civil, na sua redacção actual, introduzida pela Lei n.º
14/2009, de 01-04, o que passa por analisar se a factualidade dada como
provada é ou não subsumível à mencionada previsão legal.
Como é sabido, a Lei n.º 14/2009 surgiu depois de o Tribunal
Constitucional ter declarado a inconstitucionalidade, com força
obrigatória geral, da norma do n.º 1 do artigo 1817.º do Código Civil,
aplicável por força do artigo 1873.º do mesmo Código, na medida em que
previa para a caducidade do direito de investigar a paternidade, um prazo
de dois anos a partir da maioridade do investigante, por violação das
disposições conjugadas dos artigos 16.º, n.º 1, 36.º, n.º 1, e 18.º, n.º 2, da
Constituição da República Portuguesa (cfr. acórdão n.º 23/2006, de 10 de
Janeiro, publicado no D.R., I Série-A, de 08-02-2006).
Essa declaração suscitou inúmeras dúvidas, na doutrina e na
jurisprudência, no que toca aos seus efeitos, passando a principal por
saber se, a partir daí, as acções de investigação de paternidade
continuavam a estar dependentes de algum prazo para a sua propositura
ou se, ao invés, tinha deixado de existir qualquer prazo para esse efeito,
tendo sido precisamente a essas dúvidas que o legislador visou dar
resposta.
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Apesar da questão não ter sido seleccionada pela formação (cfr. fls. 967),
o que, em princípio, a excluiria do objecto do recurso, entende-se apreciá-
la, por ser de conhecimento oficioso, adiantando, desde logo, que a mera
instauração da providência cautelar desencadeada pela autora não
configura nem indicia que há abuso de direito. A função essencial deste
consiste, como decorre do artigo 334º do Código Civil, em temperar, com
o apelo a regras e princípios fundamentais (a boa fé, a confiança legítima,
a finalidade económica e social dos direitos) os resultados que
decorreriam de uma aplicação estrita e imediata de outras figuras ou
regimes jurídicos.
Ora, a autora limitou-se, por um lado, a exercer o direito a ver
reconhecida a sua paternidade biológica que se insere no seu direito à
identidade pessoal plena e conhecimento das suas raízes ou ascendência
biológica e, por outro, justificou a tardia iniciativa do acesso às suas
origens, na ausência do pai em parte incerta e sonegação de informação
relevante por parte da mãe e familiares até Março de 2010, o que, como já
se disse e salientou, acabou por se confirmar.
Nada permite, assim, afirmar, como o fazem os recorrentes, que é «caça-
fortuna» ou que age apenas por razões patrimoniais e, nessa medida, não
há lugar à paralisação desse seu direito fundamental com base em
pretenso abuso de direito que não se descortina existir.
Nesta conformidade, improcedem ou mostram-se deslocadas todas as
conclusões dos recorrentes, a quem não assiste razão para se insurgir
contra o decidido pela Relação, que não merece os reparos que lhe
apontam, nem viola os princípios ou disposições legais que indicam.
3 – Pode, assim, concluir-se, de relevante, o seguinte:
1 – A problemática da caducidade das acções de investigação de
paternidade, no que concerne, especialmente, à constitucionalidade ou
inconstitucionalidade da fixação de prazos para a sua propositura, tem
sido largamente debatida na doutrina e na jurisprudência e está, ainda
hoje, longe de ser pacífica.
2 - A Lei n.º 14/2009, de 01/04, surgiu depois de o Tribunal
Constitucional ter declarado a inconstitucionalidade, com força
obrigatória geral, da norma do n.º 1 do artigo 1817.º do Código Civil,
aplicável por força do artigo 1873.º do mesmo Código, na medida em que
previa para a caducidade do direito de investigar a paternidade, um prazo
de dois anos a partir da maioridade do investigante, por violação das
disposições conjugadas dos artigos 16.º, n.º 1, 36.º, n.º 1, e 18.º, n.º 2, da
Constituição da República Portuguesa (cfr. acórdão n.º 23/2006, de 10 de
Janeiro, publicado no D.R., I Série-A, de 08-02-2006).
3 - Essa declaração suscitou inúmeras dúvidas, na doutrina e na
jurisprudência, no que toca aos seus efeitos, passando a principal por
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[1] Com exclusão das referentes à admissibilidade da revista excepcional.
[2] Naversão aprovada pela Lei nº 41/2013, de 26 de Junho, uma vez que o recurso tem por objecto
decisão proferida já depois de 01 de Setembro de 2013 e o processo é posterior a 01 de Janeiro de
2008 (cfr. os seus art.ºs 5º, n.º 1, 7º, n.º 1, e 8º).
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[3] Apesar das sucessivas decisões do Tribunal Constitucional confirmarem a constitucionalidade dos
prazos fixados na Lei n.º 14/2009, de 01/04, a tese da inconstitucionalidade do estabelecimento de
todo e qualquer prazo para a propositura das acções de investigação da paternidade continua a ser
defendida por parte da doutrina e da jurisprudência, incluindo no seio do Supremo Tribunal de Justiça,
citando-se, neste sentido, Jorge Duarte Pinheiro, em O Direito da Família Contemporâneo, 4.ª Edição,
p. 162 e ss. e em “Inconstitucionalidade do artigo 1817.º, n.º 1, do Código Civil” in Cadernos de
Direito Privado, n.º 15, Julho/Setembro 2006; Luís Menezes Leitão, em anotação ao acórdão do
Supremo Tribunal de Justiça de 09-04-2013, disponível em www.oa.pt; Cristina M. A. Dias, em
“Investigação da paternidade e abuso do direito. Das consequências jurídicas do reconhecimento da
paternidade, in Cadernos de Direito Privado, n.º 45, Janeiro/Março 2014, bem como inúmeros arestos
do Supremo Tribunal de Justiça, cujos sumários se encontram acessíveis no respectivo site.
[4] Nestesentido, vide, entre outros, o acórdão do STJ, de 25/11/2014, proferido no processo n.º
6629/04. 0TBBRG.G1.S1, e o acórdão 24/11/2016, proferido no processo n.º 96/14.8TBSPS.C1.S1,
ambos acessíveis através de www.dgsi. pt/stj.
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