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08/11/2020 Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça

Acórdãos STJ Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça


Processo: 200/11.8TBFVN.C2.S1
Nº Convencional: 7ª SECÇÃO
Relator: ANTÓNIO JOAQUIM PIÇARRA
Descritores: INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE
PRAZO DE PROPOSITURA DA ACÇÃO
CADUCIDADE
CONHECIMENTO SUPERVENIENTE
INCONSTITUCIONALIDADE
SUCESSÃO DE LEIS NO TEMPO
TRIBUNAL CONSTITUCIONAL
FORÇA OBRIGATÓRIA GERAL
ESTABELECIMENTO DA FILIAÇÃO
PRESUNÇÕES JUDICIAIS
RECURSO DE REVISTA
MATÉRIA DE FACTO
ABUSO DO DIREITO
Nº do Documento: SJ
Data do Acordão: 02-02-2017
Nº Único do Processo:
Votação: UNANIMIDADE
Texto Integral: S
Privacidade: 1
Meio Processual: REVISTA
Decisão: NAGADA A REVISTA
Doutrina:
- Cristina M. A. Dias, «Investigação da paternidade e abuso do direito. Das consequências
jurídicas do reconhecimento da paternidade», in Cadernos de Direito Privado, n.º 45,
Janeiro/Março 2014.
- Jorge Duarte Pinheiro, O Direito da Família Contemporâneo, 4.ª Edição, 162 e ss.;
“Inconstitucionalidade do artigo 1817.º, n.º 1, do Código Civil”, in Cadernos de Direito Privado,
n.º 15, Julho/Setembro 2006.
- Luís Menezes Leitão, em anotação ao acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 09-04-2013,
disponível em www.oa.pt .
Legislação Nacional:
CÓDIGO CIVIL (CC): - ARTIGOS 334.º, 1817.º.
CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL (CPC): - ARTIGOS 662.º, N.º 4, 674.º, N.ºS 1 A 3, E 682.º.
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA PORTUGUESA (CRP): - ARTIGOS 16.º, N.º 1, 36.º, N.º 1,
E 18.º, N.º 2, 282.º, N.º 1.
LEI DE ORGANIZAÇÃO DO SISTEMA JUDICIÁRIO (LOSJ) – LEI N.º 62/2013, DE 26 DE
AGOSTO: - ARTIGO 46.º.
LEI N.º 14/2009, DE 01-04: - ARTIGO 2.º.
Jurisprudência Nacional:
ACÓRDÃOS DO SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA:

-DE 21/09/2010 (PROC. N.º 4/07.2TBEPS.G1.S1), E DE 24/05/2012 (PROC. N.º


37/07.9TBVNG.P1.S1), DISPONÍVEIS EM WWW.DGSI.PT .
-DE 25/11/2014, PROCESSO N.º 6629/04. 0TBBRG.G1.S1, E DE 24/11/2016, PROCESSO N.º
96/14.8TBSPS.C1.S1, AMBOS ACESSÍVEIS ATRAVÉS DE WWW.DGSI.PT .

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ACÓRDÃOS DO TRIBUNAL CONSTITUCIONAL:

-N.º 164/2011, DE 24 DE MARÇO, N.º 24/2012, DE 17 DE JANEIRO, E N.º 323/2013, DE 31 DE


MAIO, TODOS DISPONÍVEIS EM WWW.TRIBUNALCONSTITUCIONAL.PT .
-N.º 456/03, DE 14 DE OUTUBRO, DISPONÍVEL EM
WWW.TRIBUNALCONSTITUCIONAL.PT .
-N.º 486/2004, DISPONÍVEL EM WWW.DGSI.PT .
-N.º 23/2006, DE 10 DE JANEIRO, PUBLICADO NO D.R., I SÉRIE-A, DE 08-02-2006.
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ACÓRDÃO DO PLENÁRIO N.º 401/2011, DE 22 DE SETEMBRO, DISPONÍVEL NO SUPRA
INDICADO SÍTIO.
Sumário :
I – A problemática da caducidade das acções de investigação de
paternidade, no que concerne, especialmente, à constitucionalidade ou
inconstitucionalidade da fixação de prazos para a sua propositura, tem
sido largamente debatida na doutrina e na jurisprudência e está, ainda
hoje, longe de ser pacífica.
II - A Lei n.º 14/2009, de 01/04, surgiu depois de o Tribunal
Constitucional ter declarado a inconstitucionalidade, com força
obrigatória geral, da norma do n.º 1 do artigo 1817.º do Código Civil,
aplicável por força do artigo 1873.º do mesmo Código, na medida em que
previa para a caducidade do direito de investigar a paternidade, um prazo
de dois anos a partir da maioridade do investigante, por violação das
disposições conjugadas dos artigos 16.º, n.º 1, 36.º, n.º 1, e 18.º, n.º 2, da
Constituição da República Portuguesa (cfr. acórdão n.º 23/2006, de 10 de
Janeiro, publicado no D.R., I Série-A, de 08-02-2006).
III - Essa declaração suscitou inúmeras dúvidas, na doutrina e na
jurisprudência, no que toca aos seus efeitos, passando a principal por
saber se, a partir daí, as acções de investigação de paternidade
continuavam a estar dependentes de algum prazo para a sua propositura
ou se, ao invés, tinha deixado de existir qualquer prazo para esse efeito,
tendo sido precisamente a essas dúvidas que o legislador visou dar
resposta.
IV – A reforma legislativa em causa não se limitou a alongar a duração
dos prazos de caducidade anteriormente estabelecidos no artigo 1817.º do
Código Civil, tendo ido mais longe ao ter posto fim ao funcionamento
autónomo de um prazo de caducidade “cego” que corria inexorável e
ininterruptamente, independentemente de poder existir qualquer
justificação ou fundamento para o exercício do direito.
V – Não obstante o n.º 1 do artigo 1817.º do Código Civil (aplicável às
acções de investigação da paternidade ex vi do disposto no artigo 1873.º
do mesmo Código) manter que esta acção só pode ser proposta durante a
menoridade do investigante ou nos 10 anos posteriores à sua maioridade
ou emancipação, o n.º 3 estabelece que a acção ainda pode ser proposta
nos três anos posteriores à ocorrência de algum dos factos aí enunciados
VI - O prazo de três anos referido no n.º 3 conta-se para além do prazo
fixado no n.º 1, do artigo 1817.º do Código Civil, não caducando o direito
de proposição da acção antes de esgotados todos eles. Isto é, mesmo que
já tenham decorrido dez anos a partir da maioridade ou emancipação, a
acção é ainda exercitável dentro do prazo fixado no n.º 3; e inversamente,
a ultrapassagem deste prazo não obsta à instauração da acção, se ainda

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não tiver decorrido o prazo geral contado a partir da maioridade ou


emancipação.
VII - Onde anteriormente se previam, de forma fechada e taxativa, duas
causas de concessão de prazos que, excepcionalmente, poderiam legitimar
o exercício da acção para lá dos dois anos posteriores à maioridade ou
emancipação, passou a acolher-se, através de autênticas cláusulas gerais,
como dies a quo, a data em que se verifique “o conhecimento de factos ou
circunstâncias que possibilitem e justifiquem a investigação”.
VIII - O conhecimento superveniente de que cuida o n.º 3, alínea c) será
aquele que se verifique depois de integralmente decorrido o prazo
objectivo de dez anos previsto no n.º 1 do artigo 1817º do Código Civil.
IX - O seu preenchimento não se basta com todo e qualquer facto ou
circunstância, antes exigindo que o tal conhecimento superveniente se
reporte a factos ou circunstâncias que possibilitem e justifiquem a
investigação ou, dito de outro modo, a factos que justifiquem que tenha
sido apenas nesse momento (e não antes – ou seja, dentro do prazo geral
de dez anos após a maioridade ou a emancipação) que o investigante
tenha lançado mão da acção com vista a exercer o seu direito de ver
estabelecido o vínculo da filiação.
X - Em sede de recurso de revista, a sindicância sobre a decisão de facto
das instâncias em matéria de presunções judiciais é muito circunscrita,
admitindo-se, ainda que com alguma controvérsia, que o Supremo
Tribunal de Justiça apenas poderá sindicar o uso de tais presunções se
este uso ofender qualquer norma legal, se padecer de evidente ilogicidade
ou se partir de factos não provados.
XI – Na decisão de direito, o STJ deve levar em conta também a
factualidade que as instâncias deram por apurada, ainda que não a tenham
inserido na respectiva enunciação, ou seja, no lugar próprio.
XII – Tendo a autora comprovado que só em Março de 2010 teve
conhecimento da sua paternidade e justificando esse tardio acesso a
informação relevante, não ocorre caducidade da acção de investigação
proposta em Maio de 2011.

XIII - Não age com abuso de direito, a investigante que apenas soube em
Março de 2010 da sua paternidade, justificando esse tardio acesso à sua
ascendência na ausência em parte incerta do investigado e na comprovada
sonegação de informação relevante por parte da mãe e de familiares.
Decisão Texto Integral: Acordam no Supremo Tribunal de Justiça:

Relatório

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I – AA, residente em …, Oeiras, intentou acção declarativa de


investigação de paternidade, sob a forma de processo ordinário, contra:
1 - BB, residente em …;
2 - CC, residente em Lisboa;
3 - DD, residente em …;
4 - EE, residente em Santa …;
5 - FF, residente em Marvila;
6 - GG, residente em C…; e
7 - HH, residente em Lisboa, todos estes na qualidade de únicos herdeiros
de II, falecido em 01/10/2009, alegando, em síntese, que:
Entre Janeiro de 1946 e Julho de 1947, a sua mãe – JJ – e II
estabeleceram uma relação amorosa, durante a qual mantiveram relações
sexuais com cópula completa.
Fruto dessas relações veio a nascer, em 14/12/1947, a Autora, sendo, por
isso, filha biológica daquele.
A sua mãe, já falecida, nunca lhe transmitiu a identidade do seu
progenitor, apesar das suas insistentes e reiteradas tentativas nesse
sentido.
Só em Março de 2010 foi informada por uma prima de que o seu pai tinha
falecido no dia 1 de Outubro de 2009, no Lar de Idosos da Santa Casa da
Misericórdia de …, e que se chamava II.
Após ter tomado conhecimento da sua paternidade, deslocou-se a F…,
onde a referida relação entre sua mãe e o dito progenitor se desenvolveu,
tendo só então tido ocasião de falar com vizinhos e familiares deste,
contemporâneos dos ditos acontecimentos, de quem soube o dito passado.
Com tais fundamentos concluiu por pedir a declaração de que é filha
biológica de II, falecido a 1 de Outubro de 2009.
Os Réus, regularmente citados, ofereceram contestação conjunta em que,
além de arguirem a litispendência entre esta acção e aquela que pendia no
extinto Tribunal da Comarca de Figueiró dos Vinhos com o número
125/10.4TBFVN, bem como a caducidade desta acção, por instaurada
mais de 10 anos após a maioridade da Autora, impugnaram também a
versão factual narrada na petição.
A Autora apresentou réplica, pugnando pela improcedência de ambas as
deduzidas excepções e invocando, em particular, a inconstitucionalidade
do prazo de investigação da paternidade previsto no artigo 1817º, nº 1, do
Código Civil, na redação introduzida pela Lei nº 14/2009, de 1 de Abril.
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A instância foi suspensa até à decisão da aludida acção (125/10.4TBFVN)


que terminou pela absolvição da ali ré, a Herança jacente por óbito de II.
Finda essa acção, foi proferido saneador a refutar a excepção de
litispendência e a julgar procedente a excepção de caducidade, com a
consequente absolvição dos Réus do pedido.
Inconformada, a Autora interpôs recurso, tendo a Relação de Coimbra,
por acórdão de 15 de Janeiro de 2013, revogado a decisão e ordenado o
prosseguimento da acção, com a seleção da matéria de facto tida como
relevante para efeitos de instrução e de discussão da causa, incluindo a
aplicabilidade ou não, ao caso, do disposto no artº 1817º, nº 3, als. b) e c)
do Cód. Civil.
Saneado o processo e relegada para final a apreciação da excepção de
caducidade, procedeu-se à selecção da matéria de facto, com enunciação
dos factos assentes e organização da base instrutória, sobre o que incidiu
reclamação de ambas as partes, parcialmente atendidas (cfr. fls. 418 a
420).
Realizadas duas perícias médicas, a última a material biológico colhido
ao cadáver do falecido II (cfr. fls. 688, 692, 710 e 711), procedeu-se a
julgamento, seguido de prolação de sentença a decidir de facto e de
direito, datada de 16.11.2015, que, após refutar a caducidade, o abuso de
direito e a inconstitucionalidade invocadas, julgou a acção procedente e
declarou a Autora filha de II.
Inconformados com tal decisão, apelaram os Réus, sem êxito, tendo a
Relação de Coimbra confirmado a sentença da 1ª instância e, persistindo
irresignados, interpuseram recurso de revista excepcional (admitido pela
formação prevista no art.º 672º, n.º 3, do Cód. Proc. Civil), finalizando a
sua alegação, com as seguintes conclusões[1]:
1 - As instâncias não podem, relativamente a uma ação instaurada
apenas em 27/05/2011 (quando a Autora já tinha nascido em 14/12/1947
e o investigado falecido em 1/10/2009), limitar-se a referir que "até
Março de 2010 a autora pouco ou nada sabia acerca do seu progenitor".
2 - Não só por se estar perante uma proposição que, manifestamente,
posterga as regras da lógica (concretamente, o princípio da não
contradição).
3 - Mas também, e ipso facto, ela não afirmar nenhum facto
(precisamente, por, sendo este "algo que acontece no mundo", nada poder
ter acontecido que seja e não seja ao mesmo tempo) e ser,
consequentemente, falsa.
4 - A lei distingue entre o caso julgado material e o caso julgado formal,
conforme a sua eficácia se estenda ou não a processos diversos daqueles

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em que foram proferidos os despachos, as sentenças ou os acórdãos em


causa.
5 - O intérprete deve partir do texto e do seu sentido perfunctório, liminar
e heurístico para através de adequada hermenêutica jurídica alcançar o
real e essencial pensamento, a ratio e teleologia do quid interpretativo,
pois que só assim se consegue a finalidade suprema a alcançar pela
aplicação concreta do direito: a realização efetiva da justiça material.
6 - Resultando do acórdão da Relação de Coimbra de 15/01/2013,
reportado a este processo, que a ação deve prosseguir, "com a seleção de
matéria de facto alegada pelas partes e tida como relevante para efeitos
de instrução e de discussão da presente causa,..., com vista a permitir-se
a produção de prova que no caso vier a caber e a discutir-se, a
aplicabilidade ou não, ao caso, do disposto no artº 1817s, nº 3, ais. b) e
c) do C. Civil" é inequívoco que a questão sobre a aplicação da segunda
parte do nº. 1 deste artigo não pode voltar a discutir-se, sob pena de
violação do caso julgado formal, que o objeto do litígio ficou delimitado
à seleção e discussão da referida matéria, com o consequente
afastamento da possibilidade de se poder curar do prazo de 10 anos do
citado nº. 1.
7 - Este prazo é suficiente para o exercício ponderado do direito de
propor a ação de investigação de paternidade, não exigindo o princípio
constitucional da proteção do direito fundamental à identidade pessoal a
imprescritibilidade desse tipo de ação.
8 - A Lei 14/2009 entrou em vigor em 2/4/2009 e o investigado faleceu em
1 de Outubro de 2009, estando, já, em vigor os novos prazos.
9 - O DL 47344, de 25/11/1966, que aprovou o Código Civil de 1966
revogou o anterior Código Civil, designado Código Civil de Seabra.
10 - A alteração dos prazos estabelecidos no art.º 1817º do C. Civil, por
força da Lei 14/2009, deu resposta à declaração de
inconstitucionalidade.
11 - Esta alteração legislativa sofreu forte influência do ordenamento
jurídico francês.
12 - Os prazos das alíneas b) e c) do n.º 3 do art.º 1817º do C. Civil
devem considerar-se especiais em relação ao prazo geral previsto no n.º
1 desse mesmo artigo.
13 - O prazo da alínea b) do n.º 3 desse artigo incorpora, apenas, a posse
de estado, devendo o direito de ação ser exercido, ainda, em vida do
investigado.
14 - O prazo da alínea c) do n.º 3 desse artigo visa a cessação
involuntária (morte ou perda definitiva de faculdades mentais do
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investigado) da posse de estado e o conhecimento de escrito ou


declaração inequívoca de reconhecimento da paternidade ou, no limite,
de factos concretos que viabilizem uma pretensão investigatória.
15 - Pretender-se que os prazos das alíneas b) e c) se referem a quaisquer
factos ou circunstâncias genericamente consideradas é subverter a ratio
que determinou o instituto.
16 - Tendo-se considerado apenas provado que "até Março de 2010 a
autora pouco ou nada sabia do seu progenitor" temos como evidente que
esta prova não permite, por si só, a aplicação do disposto no artigo
1817º, n.º 3, alíneas b) e c) do Código Civil.
17 - Importa, por outro lado, notar que a declaração de
inconstitucionalidade da norma constante do art.º 1817º, 2 do C. C. (na
redacção anterior) teve como base o facto do investigante só adquirir
essa qualidade, por causa do êxito da impugnação com sucesso da
paternidade ter ocorrido após o decurso do referido prazo legal.
18 - E que a aplicação dos prazos previstos nas alíneas b) e c) do artº
1817º do C.C. implica a alegação de factos que demonstrem o
conhecimento superveniente da cessação voluntária da posse do estado,
ou da cessação involuntária (morte do investigado) e conhecimento de
documento escrito ou declaração confirmadora da paternidade, ou,
ainda, de facto concreto e relevante, não bastando uma mera afirmação
equívoca.
19 - Factos que não foram (concretamente) alegados e cuja omissão o
Tribunal não pode, como é sabido, suprir, até por os réus não terem
podido defender-se deles.
20 - Constitui pressuposto de aplicação do disposto na alínea c) do n.º 3
do art.º 1817º do CC a alegação e prova por parte do autor da
investigação de paternidade de que obteve o conhecimento superveniente
de factos ou circunstâncias que possibilitam e justificam a investigação.
21 - Considerar idóneo o facto de "até Março de 2010 a autora pouco ou
nada saber acerca do seu progenitor" é não só ofender as regras da
lógica (por violação do princípio da contradição, pois não se pode saber
pouco e, simultaneamente, nada saber), como subverter a sistema atual
que considera idóneos prazos para a instauração de ações deste tipo.
22 - O mesmo é dizer que "...pouco ou nada saber" não pode, nem deve,
ser considerado facto ou circunstância que possibilite e justifique a
investigação, tratando-se, apenas, de enunciação não suscetível de prova,
já que o facto é algo que acontece no mundo e é impossível acontecer que
alguém saiba pouco de algo e simultaneamente nada saiba deste algo.
23 - Deve considerar-se manifestamente extemporânea a acção de
investigação de paternidade decorridos que são 63 anos sobre o
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nascimento da autora e 42 anos sobre a data em que esta - autora -


atingiu a maioridade.
24 - Resultando dos autos que a autora em 28 de Junho de 2010 requereu
providência cautelar de arrolamento de bens do investigado, na
sequência, aliás, de anterior providência instaurada em 14 de Junho de
2010, é exteriorizar uma clara intenção de ver salvaguardados a seu
favor os bens materiais daquele.
25 - É no contexto do abuso de direito que a distinção de efeitos -
filiação/herdeiro - deve ser enfocada, admitindo que qualquer pretensão
jurídica pode ser paralisada se o respetivo exercício for maculado pelo
seu abuso - a questão da "caça à fortuna".
26 - O que ocorre nos casos em que o investigante, a coberto de
averiguar a sua filiação, da proclamada intenção de conhecer as suas
raízes, que apareceria como um propósito legítimo e da maior
importância pessoal e social, pretendesse primordialmente, acautelar
aspetos patrimoniais, visando o estatuto de herdeiro para aceder à
partilha dos bens do progenitor.
27 - Não carecem de alegação, em homenagem ao princípio da aquisição
da prova, os factos de que o tribunal tem conhecimento por virtude do
exercício das suas funções.
28 - O que, com o devido respeito, que é muito, demonstra a incorreção
da interpretação e aplicação do direito, traduzindo, assim, a violação
inequívoca do disposto nos artigos 1817º, 3, alínea c), 334º e 342º, todos
do C. Civil, e artºs 412º e 620ºdo C. P. Civil, devendo o douto acórdão ser
revogado, considerando-se verificado o prazo de caducidade previsto no
art.º 1817º, n.º 3, do Código Civil.

A Autora ofereceu contra-alegação a pugnar pelo insucesso da revista.


Colhidos os vistos, cumpre apreciar e decidir.
II - Fundamentação de facto
Na enunciação expressa da factualidade dada como provada, nas
instâncias, consta o seguinte:
1 - II faleceu no dia 1 de outubro de 2009 - Alínea A) dos factos assentes.
2 - A autora nasceu a 14 de dezembro de 1947, está registada como filha
de JJ, sendo o seu assento de nascimento omisso quanto à paternidade e
quanto à avoenga paterna - Alínea B) dos factos assentes.
3 - A presente ação foi instaurada a 27 de maio de 2011 - Alínea C) dos
factos assentes.

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4 - Até março de 2010 a autora pouco ou nada sabia acerca do seu


progenitor - Alínea D) dos factos assentes.
5 - Correu termos no extinto Tribunal da Comarca de Figueiró dos
Vinhos, sob o número 125/10.4TBFVN, ação de investigação de
paternidade que AA instaurou, a 29 de março de 2010, contra a herança
jacente de II, na qual foi proferida sentença, já transitada em julgado, na
qual se declarou verificada a exceção dilatória de falta de personalidade
judiciária da ré, prevista na alínea c) do artigo 494º, do (anterior) Código
de Processo Civil, absolvendo-se a mesma da instância, nos termos dos
artigos 288º, número 1, alínea c), e 493º, número 2, do mesmo diploma
legal - Alínea E) dos factos assentes.
6 - Do teor da sentença anteriormente referida consta “A falta de
personalidade judiciária da herança consubstancia uma exceção
dilatória, de conhecimento oficioso e cuja consequência é a absolvição
da ré da instância, sem prejuízo do disposto nos artigos 289º, números 1
e 2, e 389º, número 1, alínea d), ambos do (anterior) Código de Processo
Civil, este último no que concerne aos efeitos sobre os autos de
procedimento cautelar a estes apensos” - Alínea F) dos factos assentes.
7 - Do escrito denominado “Procedimento Simplificado de Habilitação
de Herdeiros e Registos”, outorgado na Conservatória do Registo
Civil/Predial/Comercial de Figueiró dos Vinhos, em 9 de dezembro de
2009, que aqui se dá por integralmente reproduzido, com relevância
consta que os réus foram declarados herdeiros do falecido II e que não há
quem lhes prefira ou com eles possa concorrer na sucessão - Alínea G)
dos factos assentes.
8 - Em data não concretamente apurada, mas anterior a 14 de dezembro
de 1947, a mãe da autora, JJ, encetou uma relação de namoro com o
falecido II, com quem manteve relações sexuais de cópula completa -
Resposta – restritiva - aos artigos 1º a 5º da base instrutória.
9 - O que aconteceu nos primeiros cento e vinte dias dos trezentos que
antecederam o nascimento da autora, que sobreveio a tais relações sexuais
de cópula completa, mantidas neste período, e como consequência delas -
Resposta ao artigo 6º da base instrutória.
10 - JJ confidenciou a KK que estava grávida de II e que este lhe
prometera casamento - Resposta – restritiva - aos artigos 13º e 14º da base
instrutória.
11 - A referida KK não conheceu outro namorado a JJ no período que
antecedeu o nascimento da autora - Resposta ao artigo 15º da base
instrutória.
12 - Ainda antes do nascimento da autora e depois de JJ lhe ter dito que
estava grávida dele, II desapareceu da localidade de B…, tendo corrido
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neste lugar que o mesmo tinha ido para África - Resposta ao artigo 17º da
base instrutória.
13 - Como resulta do assento de óbito cuja certidão consta de fls. 403-
404, JJ faleceu a 14 de outubro de 1986 - artigo 20º da base instrutória.
III – Fundamentação de direito
A apreciação e decisão do presente recurso de revista passam, atentas as
conclusões delimitadoras do seu objecto (art.ºs 635º, n.º 4 e 639º, n.º 1, do
Cód. de Proc. Civil[2]), pela análise e resolução das seguintes questões
jurídicas colocadas pelos recorrentes a este tribunal:
- caducidade da acção e suficiência factual para a sua dilucidação; e
- abuso de direito por banda da autora.
Debrucemo-nos, então, sobre cada uma delas.
1 – Da caducidade da acção
A problemática da caducidade das acções de investigação de paternidade,
no que concerne, especialmente, à constitucionalidade ou
inconstitucionalidade da fixação de prazos para a sua propositura, tem
sido largamente debatida na doutrina e na jurisprudência e está, ainda
hoje, longe de ser pacífica[3].
No caso vertente, está em causa a questão de saber se o direito de acção
da autora se mostra ou não caducado à luz da alínea c) do n.º 3 do artigo
1817.º do Código Civil, na sua redacção actual, introduzida pela Lei n.º
14/2009, de 01-04, o que passa por analisar se a factualidade dada como
provada é ou não subsumível à mencionada previsão legal.
Como é sabido, a Lei n.º 14/2009 surgiu depois de o Tribunal
Constitucional ter declarado a inconstitucionalidade, com força
obrigatória geral, da norma do n.º 1 do artigo 1817.º do Código Civil,
aplicável por força do artigo 1873.º do mesmo Código, na medida em que
previa para a caducidade do direito de investigar a paternidade, um prazo
de dois anos a partir da maioridade do investigante, por violação das
disposições conjugadas dos artigos 16.º, n.º 1, 36.º, n.º 1, e 18.º, n.º 2, da
Constituição da República Portuguesa (cfr. acórdão n.º 23/2006, de 10 de
Janeiro, publicado no D.R., I Série-A, de 08-02-2006).
Essa declaração suscitou inúmeras dúvidas, na doutrina e na
jurisprudência, no que toca aos seus efeitos, passando a principal por
saber se, a partir daí, as acções de investigação de paternidade
continuavam a estar dependentes de algum prazo para a sua propositura
ou se, ao invés, tinha deixado de existir qualquer prazo para esse efeito,
tendo sido precisamente a essas dúvidas que o legislador visou dar
resposta.
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Na verdade, tendo a declaração de inconstitucionalidade de uma norma


como efeito a repristinação da norma ou das normas que aquela que foi
declarada inconstitucional tenha, entretanto, revogado (artigo 282.º, n.º 1,
da Constituição da República Portuguesa), colocou-se a questão de saber
se tendo o legislador do Código, em 1966, ao ter instituído o prazo de
dois anos para a propositura da acção de investigação de paternidade,
revogado as normas constantes do Decreto n.º 2 de 1910, seria esse o
regime aplicável no respeitante ao tempo do exercício do direito de
investigar ou se, ao invés, tal acção tinha deixado de estar dependente de
qualquer prazo.
Prevaleceu na jurisprudência o entendimento – alicerçado na falta de
conformidade constitucional do apontado regime pretérito – de que tais
acções tinham passado a ser imprescritíveis, tendo sido, pois, a esse
mesmo entendimento maioritário que o legislador pretendeu por cobro
através da Lei n.º 14/2009, de 01-04, fixando, no artigo 1817.º do Código
Civil, novos prazos de caducidade para a propositura da acção: um prazo
geral de dez anos após a maioridade ou emancipação do investigante (ao
invés dos dois anos anteriormente previstos); e um prazo de três anos
após o conhecimento superveniente (isto é, depois de decorrido aquele
outro prazo) de factos ou circunstâncias justificativas da propositura da
investigação.
Permaneceram, contudo, as dúvidas quanto à questão de saber qual o
regime que seria aplicável às acções que se encontravam pendentes, bem
como às acções instauradas no aludido período intercalar (isto é, entre a
declaração de inconstitucionalidade com força obrigatória geral e a
entrada em vigor da Lei n.º 14/2009), sendo que em relação às primeiras,
apesar de o legislador ter pretendido dissipar tais dúvidas (prevendo a
aplicação imediata do novo regime às acções pendentes), a verdade é que
não foi bem sucedido, pois o artigo 3.º da Lei n.º 14/2009, de 01-04, veio
igualmente a ser declarado inconstitucional, por violação do n.º 3 do
artigo 18.º da Constituição, na medida em que mandava aplicar, aos
processos pendentes à data da sua entrada em vigor o prazo previsto na
nova redacção do artigo 1817.º do Código Civil, aplicável por força do
artigo 1873.º do mesmo Código (cfr. acórdãos do Tribunal Constitucional
n.º 164/2011, de 24 de Março, n.º 24/2012, de 17 de Janeiro, e n.º
323/2013, de 31 de Maio, todos disponíveis em
http://www.tribunalconstitucional.pt).
A declaração de inconstitucionalidade da mencionada disposição
transitória deu azo a que várias acções de investigação de paternidade que
se encontravam pendentes à data da entrada em vigor da Lei n.º 14/2009,
de 01-04, tenham sido decididas sem dependência de qualquer prazo,
podendo ver-se, nesse sentido, a título exemplificativo, os acórdãos do
Supremo Tribunal de Justiça de 21-09-2010 (proc. 4/07.2TBEPS.G1.S1),

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e de 24-05-2012 (proc. 37/07.9TBVNG.P1.S1), disponíveis em


www.dgsi.pt.
Todavia, no caso sub judice, a acção foi instaurada em 27-05-2011,
quando já estava em vigor, portanto, o novo regime a que acima se aludiu
– posto que a Lei n.º 14/2009, de 01-04 entrou em vigor em 02-04-2009
(cfr. artigo 2.º) – não se suscitando, assim, as supra enunciadas questões
que apenas revestem interesse para um melhor enquadramento da questão
decidenda e para cuja apreciação importa ter em conta o artigo 1817.º do
Código Civil.
Estabelece este, na actual redacção, que:
1. A acção de investigação de maternidade só pode ser proposta durante
a menoridade do investigante ou nos dez anos posteriores à sua
maioridade ou emancipação.
(…)
3. A acção pode ainda ser proposta nos três anos posteriores à
ocorrência de algum dos seguintes factos:
(…)
b) Quando o investigante tenha tido conhecimento, após o decurso do
prazo previsto no n.º 1, de factos ou circunstâncias que justifiquem a
investigação, designadamente quando cesse o tratamento como filho pela
pretensa mãe;
c) Em caso de inexistência de maternidade determinada, quando o
investigante tenha tido conhecimento superveniente de factos ou
circunstâncias que possibilitem ou justifiquem a investigação.
4. No caso referido na alínea b) do número anterior, incumbe ao réu a
prova da cessação voluntária do tratamento nos três anos anteriores à
propositura da acção.
Como se deixou dito, a Lei n.º 14/2009, de 01-04, teve subjacente o
desiderato do legislador de dar resposta à evolução verificada na
jurisprudência constitucional que, após a prolação do acórdão n.º 456/03,
de 14 de Outubro (disponível em http://www.tribunalconstitucional.pt),
passou a julgar inconstitucionais os prazos de caducidade estabelecidos
no artigo 1817.º do Código Civil e que veio a culminar com a declaração
de inconstitucionalidade, com força obrigatória geral, a que já antes se fez
referência. Tal como fez notar o Tribunal Constitucional, em Plenário, no
acórdão n.º 401/2011, de 22 de Setembro (disponível no supra indicado
sítio), a reforma legislativa em causa não se limitou a alongar a duração
dos prazos de caducidade anteriormente estabelecidos no artigo 1817.º do
Código Civil, tendo ido mais longe ao ter posto fim ao funcionamento
autónomo de um prazo de caducidade “cego” que corria inexorável e
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ininterruptamente, independentemente de poder existir qualquer


justificação ou fundamento para o exercício do direito.
Com efeito, apesar do n.º 1 do artigo 1817.º do Código Civil (que
continua a ser aplicável às acções de investigação da paternidade ex vi do
disposto no artigo 1873.º do mesmo Código) manter que esta acção só
pode ser proposta durante a menoridade do investigante ou nos 10 anos
(na nova redacção) posteriores à sua maioridade ou emancipação, o n.º 3
estabelece que a acção ainda pode ser proposta nos três anos posteriores à
ocorrência de algum dos seguintes factos: a) ter sido impugnada por
terceiro, com sucesso, a paternidade do investigante; b) quando o
investigante tenha tido conhecimento, após o decurso do prazo previsto
no n.º 1, de factos ou circunstâncias que justifiquem a investigação,
designadamente quando cesse o tratamento como filho pelo pretenso pai;
c) e em caso de inexistência de paternidade determinada, quando o
investigante tenha tido conhecimento superveniente de factos ou
circunstâncias que possibilitem e justifiquem a investigação.
Como resulta do advérbio “ainda” introduzido no corpo do n.º 3 do artigo
1817.º do Código Civil, é manifesto que os prazos de três anos referidos
nos n.º 2 e 3 se contam para além do prazo fixado no n.º 1, do artigo
1817.º, não caducando o direito de proposição da acção antes de
esgotados todos eles. Isto é, mesmo que já tenham decorrido dez anos a
partir da maioridade ou emancipação, a acção é ainda exercitável dentro
dos prazos previstos nos n.ºs 2 e 3; inversamente, a ultrapassagem destes
prazos não obsta à instauração da acção, se ainda não tiver decorrido o
prazo geral contado a partir da maioridade ou emancipação.
Do confronto do regime anterior com o actual, sobressai a inovadora
previsão de um fundamento genérico de abertura de prazos específicos
para a proposição da acção de investigação, não contando apenas, para
esse efeito, o conhecimento do escrito onde seja declarada a
maternidade/paternidade e a cessação do tratamento como filho. Onde
anteriormente se previam, de forma fechada e taxativa, duas causas de
concessão de prazos que, excepcionalmente, poderiam legitimar o
exercício da acção para lá dos dois anos posteriores à maioridade ou
emancipação, passou a acolher-se, através de autênticas cláusulas
gerais, como dies a quo, a data em que se verifique “o conhecimento de
factos ou circunstâncias que possibilitem e justifiquem a investigação”
(cfr. acórdão do Tribunal Constitucional n.º 401/2011 já citado, sendo os
sublinhados e o negrito nossos).
Trata-se, aliás, de solução que o Tribunal Constitucional já tinha
avançado, no seu acórdão n.º 486/2004 (disponível em www.dgsi.pt) –
quando acolheu a tese da inconstitucionalidade do prazo “normal” de dois
anos então previsto no artigo 1817.º, n.º 1, do Código Civil (por o mesmo
ser exíguo e ter o seu termo inicial numa época da vida em que os
investigantes não gozam ainda da normal maturidade e experiência para
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aquilatar da necessidade, da oportunidade ou da conveniência em


estabelecerem juridicamente a respectiva ascendência biológica) – ao ter
salientado a possibilidade de previsão de uma cláusula geral de
salvaguarda, que permitisse a propositura da acção para além do referido
prazo mínimo “normal”, contanto que o autor cumprisse o ónus de alegar
e provar factos que tomassem a propositura tardia da acção desculpável
ou justificável (maxime, o desconhecimento, sem culpa, da identidade do
progenitor ou a existência de reais obstáculos práticos ou sociais à
proposição da acção).
Foi essa solução que veio a ser consagrada pelo legislador, através da Lei
n.º 14/2009, de 01/04, em que, a par do dies a quo puramente objectivo
previsto no n.º 1 do mencionado preceito legal (isto é, não dependente de
quaisquer elementos relativos à possibilidade concreta do exercício de
acção), estabeleceram-se também, nos números seguintes desse
normativo, alternativas que ligam o direito de investigar às reais e
concretas possibilidades investigatórias do pretenso filho, sem
imprescritibilidade da acção, mas com a previsão de um termo inicial que
não ignora o conhecimento das circunstâncias que fundamentam a acção
(dies a quo subjectivo).
Enquadra-se neste último leque de prazos subjectivos o prazo que vem
previsto na alínea c) do n.º 3 do artigo 1817.º do Código Civil, cuja
previsão, constituindo objecto da presente revista excepcional, vale a
pena relembrar: A acção pode ainda ser proposta nos três anos
posteriores à ocorrência de algum dos seguintes factos: (…) c) Em caso
de inexistência de paternidade determinada, quando o investigante tenha
tido conhecimento superveniente de factos ou circunstâncias que
possibilitem e justifiquem a investigação.
Não restam dúvidas de que o conhecimento superveniente de que cuida
este normativo será aquele que se verifique depois de integralmente
decorrido o prazo objectivo de dez anos previsto no n.º 1 do preceito e o
seu preenchimento não se basta com todo e qualquer facto ou
circunstância, antes exigindo que o tal conhecimento superveniente se
reporte a factos ou circunstâncias que possibilitem e justifiquem a
investigação ou, dito de outro modo, a factos que justifiquem que tenha
sido apenas nesse momento (e não antes – isto é, dentro do prazo geral de
dez anos após a maioridade ou a emancipação) que o investigante tenha
lançado mão da acção com vista a exercer o seu direito de ver
estabelecido o vínculo da filiação.
Com relevância, para apreciação desta questão, provou-se que:
· II faleceu no dia 1 de Outubro de 2009.
· A autora nasceu a 14 de Dezembro de 1947, está registada como filha de
JJ, sendo o seu assento de nascimento omisso quanto à paternidade e

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quanto à avoenga paterna.


· A presente acção foi instaurada a 27 de Maio de 2011.
· Até Março de 2010 a autora pouco ou nada sabia acerca do seu
progenitor.
· Ainda antes do nascimento da autora e depois de JJ lhe ter dito que
estava grávida dele, II desapareceu da localidade de B…, tendo corrido
neste lugar que o mesmo tinha ido para África.
· JJ faleceu a 14 de Outubro de 1986.
De entre esta factualidade releva, sobretudo, o facto comprovado de que
«até Março de 2010 a autora pouco ou nada sabia acerca do seu
progenitor», cujo sentido não é claro ou unívoco. Na verdade, a expressão
«pouco ou nada sabia», quando dissecada no seu conteúdo, não é
particularmente feliz, em termos de rigor, mas constitui expressão de uso
corrente que tem, para qualquer homem médio, o sentido de praticamente
nada saber ou de não saber o suficiente. Seja como for, deixa em aberto se
antes a autora conhecia algo sobre a sua paternidade e ainda se o “pouco”
que a autora sabia era ou não suficiente para conhecer a paternidade e
tomar a iniciativa de propor a respectiva acção. Aliás e sintomaticamente,
é sobre a falta de clareza e sentido unívoco desse facto que gravitam
nuclearmente as conclusões dos recorrentes, quando se batem pela
caducidade da acção.
Contudo, a 1ª instância, ainda que não o tivesse incluído no lugar normal
da enunciação da matéria de facto, deixou explícito, a fls. 744 verso, em
alusão à data de 10 de Março de 2010, que «resultou também da
discussão da causa ter sido nesta altura que…a autora soube que o seu
pretenso pai tinha falecido, das suas condições de vida nos últimos dias e
do local onde o mesmo estava enterrado», factos que possibilitavam e
justificavam a investigação seriamente dificultada, senão mesmo
comprometida dada a ausência do pretenso pai em parte incerta (cfr.
ponto 12. do elenco factual provado). E a 2ª instância, por seu turno,
consignou, a fls. 829, «permite-nos considerar…como provado que a mãe
da autora…. nada disse de relevante à filha sobre a identidade do
progenitor …..apenas depois de Março de 2010 veio a tomar
conhecimento da identidade completa desse investigado, na sequência da
respectiva morte…».
Estes factos que as instâncias acabaram por dar por assentes, embora não
os inserindo no respectivo elenco factual, têm de ser aditados a tal elenco
(trata-se verdadeiramente de operação de mera arrumação) e levados
também em consideração por este Tribunal Supremo que, como é sabido,
ressalvados os casos excepcionais legalmente previstos, apenas conhece,
em regra, de matéria de direito, aplicando definitivamente aos factos
materiais fixados pelo tribunal recorrido, o regime jurídico que julgue
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adequado (cfr. art.º 46.º da Lei de Organização do Sistema Judiciário –


Lei n.º 62/2013, de 26 de Agosto - e art.ºs 662º, n.º 4, 674º, n.ºs 1 a 3, e
682º, n.ºs 1 e 2, do Cód. de Proc. Civil). Mais assentando tais factos em
presunções judiciais, o uso destas apenas é sindicável, em sede de revista,
se ofender qualquer norma legal, se padecer de evidente ilogicidade ou se
partir de factos não provados[4], o que não se descortina que ocorra, na
medida em que a lógica seguida nos raciocínios realizados pelas
instâncias é patente e até reconhecida pelos recorrentes, não incorre na
violação de qualquer preceito legal (os recorrentes não a indicam) e parte
de factos provados (em lado algum se parte de factos não provados, com
referem os recorrentes) para, com recurso às regras da experiência, dar
por assentes outros factos.
Acresce que estando tal matéria fáctica também assente, há que
considerar ultrapassada, desde já, a pretensa insuficiência factual
apontada pelos recorrentes e a que antes se aludiu, a qual poderia
justificar, no limite, o reenvio do processo às instâncias, nos termos do
artigo 682.º, n.º 3, do Código de Processo Civil, para novo julgamento
dessa factualidade alegada pela autora. Contudo, ponderando que afinal a
indicada factualidade acabou por ser dada por assente, nos moldes já
antes referidos, entendemos que não se justifica sequer nova baixa do
processo, tanto mais que a autora caminha para os 70 anos de idade e o
teste de paternidade realizado, após exumação do cadáver do pretenso pai,
apontou para uma paternidade praticamente provada, com a probabilidade
de 99,99994%, nada aconselhando portanto o arrastamento da lide
iniciada há quase seis anos (completam-se no próximo mês de Maio).
Pelo contrário, impõe-se reconhecer, por um lado, que essa factualidade,
como bem equacionaram convergentemente as instâncias, integra, face às
considerações expendidas, a previsão da alínea c) do n.º 3 do artigo
1817.º do Código Civil - por estarem comprovados factos ou
circunstâncias que justificaram e possibilitaram a investigação (até aí
impedida pelo desconhecimento da autora acerca do seu progenitor) – e,
por outro lado, que, iniciando-se em Março de 2010 o prazo de três anos
ali previsto e tendo a acção sido instaurada em 27-05-2011, a caducidade
não se verifica.
Improcedem, pois, ou mostram-se deslocadas todas as conclusões tecidas
pelos recorrentes, a propósito da caducidade da presente acção, inclusive
as referentes à pretensa violação do ónus da prova ou desrespeito da 1ª
instância pelo primeiro acórdão da Relação que ordenou o
prosseguimento da acção.
2 – Do abuso de direito
Por fim, sustentam os recorrentes o abuso de direito da autora, com
fundamento no arrolamento dos bens do investigado que a mesma
requereu em Junho de 2010.

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Apesar da questão não ter sido seleccionada pela formação (cfr. fls. 967),
o que, em princípio, a excluiria do objecto do recurso, entende-se apreciá-
la, por ser de conhecimento oficioso, adiantando, desde logo, que a mera
instauração da providência cautelar desencadeada pela autora não
configura nem indicia que há abuso de direito. A função essencial deste
consiste, como decorre do artigo 334º do Código Civil, em temperar, com
o apelo a regras e princípios fundamentais (a boa fé, a confiança legítima,
a finalidade económica e social dos direitos) os resultados que
decorreriam de uma aplicação estrita e imediata de outras figuras ou
regimes jurídicos.
Ora, a autora limitou-se, por um lado, a exercer o direito a ver
reconhecida a sua paternidade biológica que se insere no seu direito à
identidade pessoal plena e conhecimento das suas raízes ou ascendência
biológica e, por outro, justificou a tardia iniciativa do acesso às suas
origens, na ausência do pai em parte incerta e sonegação de informação
relevante por parte da mãe e familiares até Março de 2010, o que, como já
se disse e salientou, acabou por se confirmar.
Nada permite, assim, afirmar, como o fazem os recorrentes, que é «caça-
fortuna» ou que age apenas por razões patrimoniais e, nessa medida, não
há lugar à paralisação desse seu direito fundamental com base em
pretenso abuso de direito que não se descortina existir.
Nesta conformidade, improcedem ou mostram-se deslocadas todas as
conclusões dos recorrentes, a quem não assiste razão para se insurgir
contra o decidido pela Relação, que não merece os reparos que lhe
apontam, nem viola os princípios ou disposições legais que indicam.
3 – Pode, assim, concluir-se, de relevante, o seguinte:
1 – A problemática da caducidade das acções de investigação de
paternidade, no que concerne, especialmente, à constitucionalidade ou
inconstitucionalidade da fixação de prazos para a sua propositura, tem
sido largamente debatida na doutrina e na jurisprudência e está, ainda
hoje, longe de ser pacífica.
2 - A Lei n.º 14/2009, de 01/04, surgiu depois de o Tribunal
Constitucional ter declarado a inconstitucionalidade, com força
obrigatória geral, da norma do n.º 1 do artigo 1817.º do Código Civil,
aplicável por força do artigo 1873.º do mesmo Código, na medida em que
previa para a caducidade do direito de investigar a paternidade, um prazo
de dois anos a partir da maioridade do investigante, por violação das
disposições conjugadas dos artigos 16.º, n.º 1, 36.º, n.º 1, e 18.º, n.º 2, da
Constituição da República Portuguesa (cfr. acórdão n.º 23/2006, de 10 de
Janeiro, publicado no D.R., I Série-A, de 08-02-2006).
3 - Essa declaração suscitou inúmeras dúvidas, na doutrina e na
jurisprudência, no que toca aos seus efeitos, passando a principal por
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saber se, a partir daí, as acções de investigação de paternidade


continuavam a estar dependentes de algum prazo para a sua propositura
ou se, ao invés, tinha deixado de existir qualquer prazo para esse efeito,
tendo sido precisamente a essas dúvidas que o legislador visou dar
resposta.
4 – Tal reforma legislativa não se limitou a alongar a duração dos prazos
de caducidade anteriormente estabelecidos no artigo 1817.º do Código
Civil, tendo ido mais longe ao ter posto fim ao funcionamento autónomo
de um prazo de caducidade “cego” que corria inexorável e
ininterruptamente, independentemente de poder existir qualquer
justificação ou fundamento para o exercício do direito.
5 – Não obstante o n.º 1 do artigo 1817.º do Código Civil (aplicável às
acções de investigação da paternidade ex vi do disposto no artigo 1873.º
do mesmo Código) manter que esta acção só pode ser proposta durante a
menoridade do investigante ou nos 10 anos posteriores à sua maioridade
ou emancipação, o n.º 3 estabelece que a acção ainda pode ser proposta
nos três anos posteriores à ocorrência de algum dos factos aí enunciados
6 - O prazo de três anos referido no n.º 3 conta-se para além do prazo
fixado no n.º 1, do artigo 1817.º do Código Civil, não caducando o direito
de proposição da acção antes de esgotados todos eles. Isto é, mesmo que
já tenham decorrido dez anos a partir da maioridade ou emancipação, a
acção é ainda exercitável dentro do prazo fixado no n.º 3; e inversamente,
a ultrapassagem deste prazo não obsta à instauração da acção, se ainda
não tiver decorrido o prazo geral contado a partir da maioridade ou
emancipação.
7 - Onde anteriormente se previam, de forma fechada e taxativa, duas
causas de concessão de prazos que, excepcionalmente, poderiam legitimar
o exercício da acção para lá dos dois anos posteriores à maioridade ou
emancipação, passou a acolher-se, através de autênticas cláusulas gerais,
como dies a quo, a data em que se verifique “o conhecimento de factos ou
circunstâncias que possibilitem e justifiquem a investigação”.
8 - O conhecimento superveniente de que cuida o n.º 3, alínea c) será
aquele que se verifique depois de integralmente decorrido o prazo
objectivo de dez anos previsto no n.º 1 do artigo 1817º do Código Civil.
9 - O seu preenchimento não se basta com todo e qualquer facto ou
circunstância, antes exigindo que o tal conhecimento superveniente se
reporte a factos ou circunstâncias que possibilitem e justifiquem a
investigação ou, dito de outro modo, a factos que justifiquem que tenha
sido apenas nesse momento (e não antes – ou seja, dentro do prazo geral
de dez anos após a maioridade ou a emancipação) que o investigante
tenha lançado mão da acção com vista a exercer o seu direito de ver
estabelecido o vínculo da filiação.

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10 - Em sede de recurso de revista, a sindicância sobre a decisão de facto


das instâncias em matéria de presunções judiciais é muito circunscrita,
admitindo-se, ainda que com alguma controvérsia, que o Supremo
Tribunal de Justiça apenas poderá sindicar o uso de tais presunções se
este uso ofender qualquer norma legal, se padecer de evidente ilogicidade
ou se partir de factos não provados.
11 – Na decisão de direito, o STJ deve levar em conta também a
factualidade que as instâncias deram por apurada, ainda que não a tenham
inserido na respectiva enunciação, ou seja, no lugar próprio.
12 – Tendo a autora comprovado que só em Março de 2010 teve
conhecimento da sua paternidade e justificando esse tardio acesso a
informação relevante, não ocorre caducidade da acção de investigação
proposta em Maio de 2011.
13 - Não age com abuso de direito, a investigante que apenas soube em
Março de 2010 da sua paternidade, justificando esse tardio acesso à sua
ascendência na ausência em parte incerta do investigado e na comprovada
sonegação de informação relevante por parte da mãe e de familiares.
IV – Decisão
Nos termos expostos, nega-se a revista e confirma-se o acórdão
recorrido.
Custas pelos recorrentes.

Anexa-se sumário do acórdão (art.ºs 663º, n.º 7, e 679º, ambos do


CPC).

Lisboa, 02 de Fevereiro de 2017

António Piçarra (relator)


Fernanda Isabel Pereira
Olindo Geraldes

________________
[1] Com exclusão das referentes à admissibilidade da revista excepcional.
[2] Naversão aprovada pela Lei nº 41/2013, de 26 de Junho, uma vez que o recurso tem por objecto
decisão proferida já depois de 01 de Setembro de 2013 e o processo é posterior a 01 de Janeiro de
2008 (cfr. os seus art.ºs 5º, n.º 1, 7º, n.º 1, e 8º).

www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/385bc212966b17da802580bc0058f13f?OpenDocument 19/20
08/11/2020 Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça
[3] Apesar das sucessivas decisões do Tribunal Constitucional confirmarem a constitucionalidade dos
prazos fixados na Lei n.º 14/2009, de 01/04, a tese da inconstitucionalidade do estabelecimento de
todo e qualquer prazo para a propositura das acções de investigação da paternidade continua a ser
defendida por parte da doutrina e da jurisprudência, incluindo no seio do Supremo Tribunal de Justiça,
citando-se, neste sentido, Jorge Duarte Pinheiro, em O Direito da Família Contemporâneo, 4.ª Edição,
p. 162 e ss. e em “Inconstitucionalidade do artigo 1817.º, n.º 1, do Código Civil” in Cadernos de
Direito Privado, n.º 15, Julho/Setembro 2006; Luís Menezes Leitão, em anotação ao acórdão do
Supremo Tribunal de Justiça de 09-04-2013, disponível em www.oa.pt; Cristina M. A. Dias, em
“Investigação da paternidade e abuso do direito. Das consequências jurídicas do reconhecimento da
paternidade, in Cadernos de Direito Privado, n.º 45, Janeiro/Março 2014, bem como inúmeros arestos
do Supremo Tribunal de Justiça, cujos sumários se encontram acessíveis no respectivo site.

[4] Nestesentido, vide, entre outros, o acórdão do STJ, de 25/11/2014, proferido no processo n.º
6629/04. 0TBBRG.G1.S1, e o acórdão 24/11/2016, proferido no processo n.º 96/14.8TBSPS.C1.S1,
ambos acessíveis através de www.dgsi. pt/stj.

www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/385bc212966b17da802580bc0058f13f?OpenDocument 20/20

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