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08/11/2020 Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça

Acórdãos STJ Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça


Processo: 759/14.8TBSTB.E1.S1
Nº Convencional: 7ª SECÇÃO
Relator: LOPES DO REGO
Descritores: ACÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DA PATERNIDADE
CADUCIDADE
DIREITO FUNDAMENTAL AO RECONHECIMENTO DA PATERNIDADE BIOLÓGICA
INCONSTITUCIONALIDADE
CONHECIMENTO DE FACTOS SUPERVENIENTES
ÓNUS DE ALEGAÇÃO
Nº do Documento: SJ
Data do Acordão: 09-03-2017
Votação: UNANIMIDADE
Texto Integral: S
Privacidade: 1
Meio Processual: REVISTA
Decisão: NEGADA A REVISTA
Área Temática:
DIREITO CIVIL - DIREITO DA FAMÍLIA / FILIAÇÃO / ESTABELECIMENTO DA
FILIAÇÃO / RECONHECIMENTO JUDICIAL / ACÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE
PATERNIDADE.
Legislação Nacional:
CÓDIGO CIVIL (CC): - ARTIGOS 1817.º, N.ºS 1 E 3, AL. B), 1873.º.
Jurisprudência Nacional:
ACÓRDÃO DO TRIBUNAL CONSTITUCIONAL:
-N.º 401/11 (PLENÁRIO).

-*-

ACÓRDÃOS DO SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA:

-DE 23/6/2016, PROC. N.º 1937/15.8T8BCL.S1, E DE 17/11/2015, PROC. N.º


30/14.5TBVCD.P1.S1.
Sumário :
I. - Conforme se decidiu no Ac. 401/11 do TC, a norma do artigo 1817.º,
n.º 1, do Código Civil, na redacção da Lei n.º 14/2009, de 1 de Abril, na
parte em que, aplicando-se às acções de investigação de paternidade, por
força do artigo 1873.º, do mesmo Código, prevê um prazo de dez anos
para a propositura da acção, contado da maioridade ou emancipação do
investigante, não se afigura desproporcional, não violando os direitos
constitucionais ao conhecimento da paternidade biológica e ao
estabelecimento do respectivo vínculo jurídico, abrangidos pelo direitos
fundamentais à identidade pessoal, previsto no artigo 26.º, n.º 1, e o
direito a constituir família, previsto no artigo 36.º, n.º 1, ambos da
Constituição.

II. - Incumbe ao A., em resposta à dedução da excepção de caducidade


pelo R., alegar, como matéria de contra excepção, a verificação das
circunstâncias que prorrogam a possibilidade de propor ainda a acção,
invocando, nomeadamente, factos ou circunstâncias que tornem
justificável e admissível a propositura tardia da acção -demonstrando que,
sem o respectivo conhecimento, não lhe seria possível ou exigível
avançar para a proposição da acção de investigação da paternidade.
Decisão Texto Integral: Acordam no Supremo Tribunal de Justiça:
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1. AA intentou acção de investigação e reconhecimento da paternidade,


com processo comum, contra BB, CC, DD, EE e FF, pedindo que se
declare reconhecida a filiação de GG, em relação a HH, seu pai, com
todas as consequências e efeitos legais.
Como fundamento da sua pretensão, alegou factos destinados a
demonstrar a legitimidade dos Réus, invocando ainda, em síntese, que:
Nasceu em 26 de Julho de 1971, e é filho de II e de GG;
A sua mãe nasceu em 29 de Março de 1936, tendo sido registada como
filha de JJ, não constando o nome do pai, mas antes a menção “pai
incógnito”;
Em 1970 GG casou com II, tendo adoptado o apelido deste, e faleceu em
25/10/2005;
A identidade do avô materno do A. sempre foi conhecida, embora não
conste do registo de nascimento da mãe do A., sendo a mãe do A. filha da
referida JJ e de HH;
Durante a década de 30 do século XX, HH administrou a Quinta da … e a
Fábrica de Cortiça do … que faziam parte integrante da Companhia de
Agricultura de Portugal (CAP).
Era de conhecimento público que a avó materna do A. mantinha um
relacionamento amoroso com HH, os quais trabalhavam na Companhia de
Agricultura de Portugal, sendo o HH o gestor da referida Companhia e a
JJ sua funcionária.
O referido HH e a avó do A., coabitavam, vivendo como se fossem
marido e mulher, e mantinham relações de natureza sexual, aptas à
procriação, tendo a JJ ficado grávida da mãe do A., a qual nasceu em
29/03/1936, em …, Barreiro, tendo sido registada com o nome de GG.
Apesar de nunca ter perfilhado a GG, HH sempre assumiu a paternidade
da mesma perante familiares e amigos, e perante o público, e, mesmo
tendo ido viver para o Brasil até ao resto dos seus dias, continuou a existir
um contacto entre a JJ e a sua filha GG e a família de HH que estava, em
grande parte, no Brasil, mas também com aqueles que ficaram em
Portugal, tendo inclusivamente nos anos 70 do século passado sido
trocada correspondência e havido visitas que abordaram o seu quinhão
hereditário.
Assim, verifica-se a presunção de paternidade de HH, relativamente a
GG, nos termos do disposto, nomeadamente, nas alíneas a) e c), do nº 1,
do artº 1871º do C. Civil, uma vez que a GG sempre foi tratada pelo HH
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como filha, sendo tal facto assumido pelo mesmo publicamente e


reconhecido pelos familiares e amigos, tendo existido, entre o referido
HH e JJ comunhão duradoira de vida em condições análogas às dos
cônjuges, nomeadamente durante o período legal de concepção.
Não obstante a GG e o pai terem já falecido, é possível fazer a prova da
existência do vínculo biológico, pois o A., o 1º R. e o filho deste são
primos, tendo-se submetido -se a um estudo de genoma, que concluiu:
a) O A. e o 1º R. apresentam 20 alelos comuns;
b) O 1º R. e o filho apresentam 23 alelos comuns;
c) O A. apresenta 11 alelos comuns com o filho do 1º R.;
d) A semelhança de genoma entre o A. e o 1º R. é de 76,97 %;
e) A semelhança de genoma entre o 1º R. e o seu referido filho é de 85,13
%.
Donde é por demais evidente a relação consanguínea do A. e do 1º R. –
bem como dos 2º a 4º - a qual decorre da circunstância de terem
ascendentes comuns, concretamente os avós paternos do 1º R. são os
bisavós do A.

A R. FF contestou, invocando a caducidade do direito do A, e


impugnando parte da factualidade alegada.
O A. foi convidado a responder à invocada excepção, o que fez alegando
ser jurisprudência pacífica do Supremo Tribunal de Justiça (STJ), que o
direito ao conhecimento da filiação natural é um direito fundamental
constitucionalmente consagrado como de identidade pessoal, nos termos
do disposto no art.º 26.º, n.º 1 da Constituição da República Portuguesa;
pelo que, qualquer limitação temporal ao exercício de direito de
investigar a paternidade implicaria a violação da referida norma da
constituição.
Os prazos constantes do artigo 1817.º do Código Civil na redacção
anterior e posterior à Lei 14/2009, de 01 de Abril, são, assim,
inconstitucionais, o mesmo acontecendo com a norma constante do artigo
1819.º, na medida em que os descendentes do filho são titulares do
mesmo direito constitucional de conhecimento da sua filiação natural.
Acresce que, ao contrário do direito à identidade, o princípio da
segurança jurídica não aparece autonomamente enunciado na
Constituição da República Portuguesa - concluindo que a
imprescritibilidade da acção de investigação de paternidade corresponde à
única solução constitucionalmente conforme.

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Considerando que se encontravam já assentes todos os factos que


permitiam conhecer da invocada questão da caducidade do direito do
autor, foi dispensada a realização de audiência prévia e julgada
procedente a invocada excepção de caducidade, com a consequente
absolvição dos Réus do pedido.

2. Inconformado, o autor apelou, tendo, porém, a Relação confirmado


inteiramente a decisão recorrida – começando por enunciar a matéria de
facto assente:
1 – a) O A. nasceu em 26 de Julho de 1971, e é filho de II e de GG.
b) A mãe do A. nasceu em 29 de Março de 1936, tendo sido registada
como filha de JJ, não constando o nome do pai, mas antes a menção “pai
incógnito”.
c) Em 1970 GG casou com II, tendo adoptado o apelido deste, e faleceu
em 25/10/2005.
d) HH faleceu no dia 2/12/1974, no Brasil.

Passando, de seguida, a apreciar o mérito do recurso, considerou a


Relação no acórdão recorrido:
O autor pretende fazer valer por via desta acção - entrada em juízo no
dia 21 de Fevereiro de 2014 -, o direito a ver reconhecida a filiação de
sua mãe, GG, relativamente a HH, pretenso pai daquela.
A Mm.ª Juíza entendeu que a acção de investigação em causa apenas
podia ter sido intentada até ao dia 29 de Março de 1967, pelo que o
direito do A. caducou, fundamentando esta conclusão nos seguintes
termos: «dispõe o art.º 1869º do Código Civil que a paternidade pode ser
reconhecida em acção especialmente intentada pelo filho se a
maternidade já se encontrar estabelecida.
A esta acção são aplicáveis, por força do disposto pelo art.º 1873º do
Código Civil, os artigos 1917º a 1819º e 1821º.
Estabelece o art.º 1818º do Código Civil, para o que aqui interessa, que
os descendentes do filho podem propor a acção se o filho, sem a haver
intentado, falecer antes de terminar o prazo em que o podia fazer.
E, de acordo com o art.º 1817º, n.º 1 do mesmo diploma, na parte
pertinente, a acção de investigação só pode ser proposta nos dez anos
posteriores à maioridade ou emancipação do investigante.

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Ora, nascida em 29 de Março de 1936, a mãe do A. atingiu a maioridade


em 29 de Março de 1957 (conf. art.º 311º do Código Civil de 1867)».
Sendo os citados normativos os aplicáveis ao caso em apreço importa
começar por referir que quando a presente acção deu entrada em juízo
no dia 21 de Fevereiro de 2014, haviam passado quase 57 anos sobre a
maioridade da mãe do autor e quase 47 anos desde o prazo de dez anos
para a propositura da acção de investigação de paternidade, actualmente
previsto no n.º 1 do artigo 1817.º do Código Civil[1].
Conforme é conhecido, a questão de saber se a acção de investigação de
maternidade ou paternidade deve ou não ser limitada no tempo sempre
foi objecto de controvérsia, sendo fundamentalmente duas as posições
que a sustentam:
«Uma no sentido de estamos perante interesses inalienáveis da pessoa,
como seja o direito à identidade pessoal, nele incluindo o direito de
conhecer e ver reconhecida a sua ascendência biológica, configura um
direito de índole pessoalíssimo e como tal imprescritível consagrado
constitucionalmente consagrado, e daí que o estabelecimento de prazos
de caducidade, sejam eles quais forem a condicionar a instauração da
acção de investigação de paternidade / maternidade traduzem restrições
desproporcionadas ao direito de identidade pessoal e ao direito de
integridade moral violadoras da Constituição (cfr. entre outros Ac. deste
Supremo de 10.1.2012 e Acórdãos aí citados, acessíveis via www.dgsi.pt).
A outra posição no sentido do estabelecimento de prazos, estriba-se em
princípios de certeza e segurança jurídicas, argumentando que a
possibilidade de instauração da acção a todo tempo implica uma
situação de incerteza prolongada por muito tempo sobre o pretenso pai e
herdeiros, as dificuldades, perdas ou “envelhecimentos” das provas e a
instrumentalização da acção como incentivo para “caça às
fortunas”»[2].
Esta última posição foi a acolhida no Código Civil de 1966, razão pela
qual a redacção anterior do referido artigo 1817.º, n.º 1, do CC, fixava o
prazo para a propositura da acção de investigação de maternidade ou
paternidade, no decurso da menoridade ou nos dois anos posteriores à
maioridade ou emancipação.

Acontece que, pelo Acórdão n.º 23/2006[3], o Tribunal Constitucional


declarou a inconstitucionalidade com força obrigatória geral do
segmento do referido normativo referente ao indicado prazo de
caducidade, considerando que o mesmo desrespeitava os artigos 16.º, n.º
1, 18.º, n.º 2, e 36.º, n.º 1, da Constituição da República Portuguesa[4].
Após tal declaração de inconstitucionalidade e até ao dia 2 de Abril de
2009, data da entrada em vigor da Lei n.º 14/2009, «sucedeu-se, ao
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menos aparentemente, um vazio legislativo. Uma vez que, em simultâneo


com tal declaração de inconstitucionalidade, não foi alterada a redação
do nº 1 do art. 1817º do CC (…)[5]».
Assim, entendeu-se no referido período temporal que tal declaração de
inconstitucionalidade devia ser havida como uma alteração da legislação
vigente, donde decorria que, tendo sido declarado inconstitucional o
prazo estabelecido no referido preceito, as acções de investigação de
maternidade ou paternidade não estavam sujeitas a qualquer prazo de
caducidade, podendo, assim, ser instauradas a todo o tempo. Por outras
palavras, considerou-se que tal direito seria imprescritível.
Com a entrada em vigor da «Lei nº 14/09, de 1 de Abril, que, além de
fixar o prazo geral de caducidade em 10 anos a partir da maioridade ou
da emancipação do investigante, reforçou ainda a extensão temporal do
exercício do direito nos termos que ficaram fixados nos nºs 2 a 4,
designadamente para os casos em que haja conhecimento superveniente
de factos ou de circunstâncias justificativas da propositura da ação de
investigação»[6], as sobreditas divergências de entendimento não
terminaram.
De facto, como o autor aliás invoca, após a alteração legislativa
introduzida pela citada Lei n.º 14/2009, continuou a discutir-se a
constitucionalidade da fixação de um qualquer prazo nas acções de
estabelecimento da filiação, tendo o Supremo Tribunal de Justiça emitido
pronúncia em vários processos nesse sentido, entendendo que a
valorização dos direitos fundamentais da pessoa, tais como o de saber
quem é e de onde vem, na vertente da ascendência genética, e a inerente
força redutora da verdade biológica, prevalecem sobre a ideia da
existência de prazos de caducidade neste tipo de acções[7].
Pretende o recorrente que a fixação deste prazo também é, por isso,
inconstitucional, uma vez que a imprescritibilidade da acção de
investigação de paternidade corresponde à única solução
constitucionalmente conforme, citando alguns Acórdãos do Supremo
Tribunal de Justiça que se pronunciaram nesse sentido.
Não obstante este entendimento, que conforme dito também foi sufragado
pelo Supremo Tribunal de Justiça, o certo é que, suscitada novamente
junto do Tribunal Constitucional a questão da inconstitucionalidade,
agora do preceituado no artigo 1817.º, n.º 1, do CC, de acordo com o
qual a acção de investigação de maternidade só pode ser proposta
durante a menoridade do investigante ou nos dez anos posteriores à sua
maioridade ou emancipação, aquele Tribunal, no acórdão n.º 401/2011,
tirado em 22-09-2011 pelo respectivo plenário, entendeu que o
estabelecimento do prazo de caducidade previsto no citado normativo
não viola qualquer preceito constitucional.

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É certo que este acórdão não mereceu a unanimidade dos votos dos
Exm.ºs Conselheiros, tendo sido tirado por maioria, mas tanto quanto
averiguámos, na sequência da prolação daquele acórdão do respectivo
plenário, todos os posteriores acórdãos daquele tribunal têm vindo a
considerar que a referida norma não viola a Constituição da República
Portuguesa, afastando o juízo de inconstitucionalidade que havia sido
formulado quanto ao prazo anteriormente estabelecido na lei.[8]
Em conformidade com o juízo assim expresso pelo Tribunal
Constitucional – instância que na nossa organização judiciária é a
especialmente vocacionada para dirimir, de forma definitiva, questões de
natureza constitucional -, o Supremo Tribunal de Justiça, tem vindo
também a pronunciar-se neste mesmo sentido em Acórdãos mais recentes
do que os citados pelo Recorrente[9], o mesmo acontecendo
designadamente com este Tribunal da Relação, no citado Acórdão em que
a ora Relatora foi primeira adjunta.
Considerando que a questão que nos foi colocada se encontra
profundamente analisada quer na citada jurisprudência do Supremo
Tribunal de Justiça quer especialmente na do Tribunal Constitucional,
permitimo-nos remeter para os argumentos já anteriormente expressos
sobre a matéria, e que consideramos mais impressivos.
Assim, transcrevendo argumentação já expendida pelo Supremo Tribunal
de Justiça[10], «a fundamentação do acórdão n.º 23/06 referido foi toda
no sentido de que aquele prazo em matéria de tamanha relevância
pessoal é manifestamente insuficiente ou exíguo, sem que aquele acórdão
haja defendido a natureza inconstitucional do estabelecimento de
qualquer prazo de caducidade», ou dito de outro modo, daquele Acórdão
não resulta «a necessária imprescritibilidade do direito potestativo de
investigação da paternidade, considerando-se legítima a aprovação de
normas de direito ordinário que disciplinem temporalmente esse direito,
como veio a ocorrer posteriormente, através da Lei nº 14/09, de 1-4. A
declaração de inconstitucionalidade foi sustentada simplesmente no facto
de se considerar que o referido prazo de dois anos não assegurava
eficazmente a tutela daquele direito de natureza pessoal e familiar».
Ora, como vimos, o legislador aprovou a Lei n.º 14/2009 estabelecendo
novos prazos de caducidade no artigo 1817.º, em termos
significativamente mais longos do que o prazo anteriormente constante
do aludido n.º 1 do preceito que o tribunal constitucional havia declarado
inconstitucional com força obrigatória geral, prazos estes que
sistematicamente têm vindo a ser considerados quer pela jurisprudência
do Tribunal Constitucional quer pela do Supremo Tribunal de Justiça,
como sendo prazos razoáveis para acautelar o estabelecimento da
filiação com a inerente propositura da acção nesse período temporal.

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Pretende o Recorrente que o estabelecimento de tal prazo viola os artigos


2.º, 8.º, e 25.º da Declaração Universal dos Direitos do Homem, à luz da
qual os preceitos constitucionais e legais relativos aos direitos
fundamentais devem ser interpretados.
Porém, conforme expendido no referido acórdão n.º 401/2011 do
Tribunal Constitucional, «O Tribunal Europeu dos Direitos do Homem
também já teve oportunidade de se pronunciar sobre a compatibilidade
de limitações temporais ao exercício do direito de investigação de
paternidade com os princípios da Convenção Europeia dos Direitos do
Homem.
Extraindo do “ direito ao respeito da vida privada e familiar”,
consagrado no artigo 8º, nº 1 da Convenção, um direito fundamental ao
conhecimento das origens genéticas, o Tribunal tem entendido que a
existência de um prazo limite para instauração duma acção de
reconhecimento judicial da paternidade não é, só por si, violadora da
Convenção, importando verificar se a natureza, duração e características
desse prazo resultam num justo equilíbrio entre o interesse do
investigante em ver esclarecido um aspecto importante da sua identidade
pessoal, o interesse do investigado e da sua família mais próxima em
serem protegidos de demandas respeitantes a factos da sua vida íntima
ocorridos há já muito tempo, e o interesse público da estabilidade das
relações jurídicas. Neste discurso é realçado que o “ direito ao respeito
da vida privada e familiar” não assiste apenas à pessoa que pretende
saber quem são os seus pais e estabelecer o respectivo vínculo jurídico,
mas também protege os investigados e suas famílias, cuja tutela não pode
deixar de ser considerada, importando harmonizar os interesses
opostos».
Verifica-se, portanto, em face da referida jurisprudência do Tribunal
Europeu dos Direitos do Homem, que o estabelecimento de limitações
temporais ao exercício do direito de investigação de maternidade ou
paternidade, não é incompatível com os princípios da Convenção
Europeia dos Direitos do Homem, porquanto do mesmo não resulta
qualquer distinção, nomeadamente por via do nascimento dentro ou fora
do matrimónio, não significando ainda no caso da nossa legislação em
concreto, a violação de direitos fundamentais reconhecidos quer pela
Constituição quer pela Lei.
Efectivamente, conforme se afirmou no já citado Acórdão do STJ de 17-
11-2015, há que sopesar os direitos em confronto. Na verdade, «o direito
ao conhecimento da paternidade biológica, assim como ao
estabelecimento do respetivo vínculo jurídico cabem no âmbito de
proteção quer do direito fundamental à identidade pessoal previsto no
art. 26º, nº 1 da CRP quer do direito fundamental de constituir família
integrado na previsão do art. 36º, nº 1 do mesmo diploma fundamental.

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Mas a proteção destes direitos que não são absolutos tem de ser
compatibilizado com os outros interesses ou valores igualmente
constitucionalmente protegidos e com eles conflituantes.
As restrições aos referidos direitos fundamentais prosseguidos pelos
investigantes da maternidade/paternidade constam também de outras
disposições como as decorrentes do art. 1987º, integrado em matéria de
adoção.
Os interesses do investigado ou da sua família na sua segurança de ver
definida uma situação de verificação de uma relação de
maternidade/paternidade que tem, obviamente e também, reflexos
patrimoniais, coincidem com as finalidades do estabelecimento de prazos
de caducidade.
Além disso, ainda encontramos um interesse público a apontar no mesmo
sentido, interesse esse que se traduz na urgência na definição da
organização jurídico social, nomeadamente estabelecendo, tão cedo
quanto possível, o vínculo genético da filiação, tendo reflexos em matéria
de impedimentos matrimoniais.
Citando, mais uma vez, o referido acórdão nº 401/2011, diremos:
“É do interesse público que se estabeleça o mais breve possível a
correspondência entre a paternidade biológica e a paternidade jurídica,
fazendo funcionar o estatuto da filiação com todos os seus efeitos, duma
forma estável e que acompanhe durante o maior tempo possível a vida
dos seus sujeitos”.
Logo nenhum obstáculo constitucional existe na fixação de prazos de
caducidade para o exercício do direito aqui em causa, desde que estes
sejam razoáveis, razoabilidade esta que tem sido unanimemente
reconhecida ao prazo do nº 1 do art. 1817º aqui em causa.»
Concluindo, na esteira da citada jurisprudência do Supremo Tribunal de
Justiça e do Tribunal Constitucional, e ainda do mencionado Acórdão
deste Tribunal da Relação, entendemos que o estabelecimento no artigo
1817.º, n.º 1, do CC, do razoável prazo de dez anos após a maioridade
para a propositura das acções tendentes ao estabelecimento da filiação
biológica, não viola qualquer preceito constitucional, designadamente os
mencionados artigos 16.º, n.º 2, 18.º, n.ºs 2 e 3, 26.º, n.º 1, e 36.º, n.º 1, da
CRP, estando consequentemente tal direito submetido ao referido prazo
de caducidade, salvo se se verificar alguma das situações previstas nos
n.ºs 2 a 4 do indicado normativo.
Defende, também, o Recorrente que na situação em apreço, porque está
em causa o exercício do direito de acção por força do disposto no artigo
1818.º do CC, importa ainda ter em consideração o facto de o direito de
acção reconhecido, nomeadamente, aos descendentes do investigante, ser
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um direito próprio, invocando em abono da sua posição o Acórdão do


STJ de 15 de Maio de 2013 proferido no processo n.º
787/06.7TBMAI.P1.S1 de cujo sumário consta designadamente que:
«II - O direito que o art. 1818.º CC atribui aos descendentes do filho é
um direito próprio, inteiramente autónomo, de propor a acção; trata-se
de um direito que a lei concede a cada titular, não no interesse próprio
dele, mas no interesse da sociedade familiar, e que ele exerce com plena
legitimidade; as pessoas a quem este preceito se refere para lhes
reconhecer legitimidade na propositura da acção agem iure proprio, e
não iure hereditatis.
IV - Do acatamento da doutrina estabelecida nos acórdãos do TC n.ºs
23/2006, de 10-01-2006, e 24/2012, de 17-01-2012, resulta que o direito
de investigar a paternidade, quer do pai dos autores, quer destes, não se
extinguiu, subsistindo à data em que a acção foi proposta, apesar daquele
ter nascido em 04-10-1947 e estes já terem atingido a maioridade há
mais de dez anos à data da morte de seu pai (11-03-2003), tudo se
passando, portanto, como se o direito em causa pudesse ser, como
efectivamente foi, exercido a todo o tempo».
Porém, é relevante notar que o indicado Acórdão do Tribunal
Constitucional, acatado pelo Supremo Tribunal de Justiça se refere a
decisão proferida pelo Plenário daquele Tribunal que declarou
inconstitucional a norma constante do artigo 3.º da citada Lei n.º
14/2009, de 1 de Abril, porquanto a mesma mandava aplicar, aos
processos pendentes à data da sua entrada em vigor, o prazo previsto na
nova redacção do artigo 1817.º n.º 1, do Código Civil.
Assim, ponderando a declaração de inconstitucionalidade anteriormente
declarada no Acórdão n.º 23/2006, o Tribunal Constitucional considerou
que a referida norma transitória violava o princípio da protecção da
confiança, decorrente do artigo 2.º da CRP, na medida em que vinha
colocar em causa as acções pendentes em juízo que haviam dado entrada
após a prolação daquele Acórdão, o mesmo é dizer, que se refere
estritamente às acções que deram entrada em tribunal num momento em
que, tendo sido declarada a referida inconstitucionalidade do prazo de
dois anos, e não estando ainda legalmente fixado qualquer outro prazo
para o exercício da acção, tudo se passava como se não existisse
qualquer prazo para a propositura de acções de investigação da
paternidade. Ou seja, a citada jurisprudência do STJ reporta-se àquele
limitado período temporal, não se podendo retirar da mesma o alcance
que o recorrente pretende porquanto a presente acção foi intentada já na
vigência da Lei n.º 14/2009, de 01 de Abril.
Efectivamente, caso o ora Recorrente tivesse instaurado a presente acção
no período em que nenhum prazo existia legalmente fixado para a
propositura da presente acção, não sofre qualquer dúvida de que não
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teria visto declarada a caducidade do seu direito. Basta atentar na


sobredita jurisprudência do STJ.
Porém, como o fez já na vigência dos prazos previstos pela referida Lei, e
concluindo-se, como também já se concluiu no citado acórdão desta
Relação, «no sentido da legitimidade constitucional da subordinação a
um prazo de caducidade do direito de investigar a maternidade ou a
paternidade, será inevitável concluir igualmente que não é
inconstitucional a previsão de um prazo de caducidade para a hipótese
de a ação ser proposta por um descendente do pretenso filho».
Efectivamente, «o que resulta do disposto no artigo 1818º do Código
Civil, quando permite aos descendentes e, desde a reforma do Código
Civil de 1977, ao cônjuge sobrevivo, que continuem com a ação iniciada
pelo investigante-filho, ou que a proponham, se este morreu ainda no
prazo legalmente definido para a iniciar, é antes a atribuição de um
direito próprio desses familiares [11].
O direito de investigação da paternidade é um direito eminentemente
pessoal, insuscetível de transmissão. A legitimidade (processual) que o
artigo 1818º do Código Civil confere aos familiares ali identificados
decorre da titularidade do direito que lhes é reconhecido».
Porém, diferentemente do pretendido pelo Recorrente, este direito
eminentemente pessoal dos descendentes do pretenso filho, está também
subordinado temporalmente no respectivo exercício, uma vez que neste
caso, a norma é igualmente expressa, no sentido de que aqueles só podem
propô-la se o filho, sem a haver intentado, morrer antes de terminado o
prazo em que o podia fazer, limitação temporal que pelas razões já
expostas também não pode ser considerada inconstitucional.
No caso dos autos, quando a mãe do ora Recorrente morreu, em 25-10-
2005, há muito havia expirado o prazo para interposição da acção de
investigação da paternidade, porquanto aquela havia atingido a
maioridade em 29 de Março de 1957.
Ora, «é à data da propositura da ação de investigação de paternidade
que tem de ser interpretado o art. 1818º do CC, e não à data do
falecimento»[11] da mãe do autor.
Conclui-se, portanto, que «a não inconstitucionalidade da norma contida
no nº 1 do artigo 1817º do Código Civil, segundo a qual o direito do
(pretenso) filho de instaurar a ação de investigação da paternidade
caduca se a ação não for instaurada durante a sua menoridade ou nos
dez anos posteriores à maioridade ou à emancipação, implica a não
inconstitucionalidade da norma segundo a qual o filho do (pretenso)
filho, se este último não tiver proposto a ação de investigação, só a pode

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propor “antes de terminar o prazo” de dez anos, contados a partir da


maioridade daquele»[12].
Como dito, para não estar sujeito a qualquer prazo de caducidade, o ora
Recorrente teria que ter instaurado a acção depois de em 08-02-2006 ter
sido publicado no Diário da República o citado Acórdão do Tribunal
Constitucional que declarou a inconstitucionalidade daquele preceito
com força obrigatória geral, e até à data em que foi alterado aquele
normativo pela Lei n.º 14/2009, de 1 de Abril, que fixou em 10 anos o
prazo de caducidade, período durante o qual algumas situações
semelhantes à que ora nos ocupa, provado o vínculo de filiação, viram o
mesmo efectivamente estabelecido, conforme aconteceu, por exemplo, no
caso já supra referido decidido pelo Acórdão do STJ de 24-05-2012.
Porém, não o tendo feito nesse período, o autor está agora sujeito aos
prazos legalmente estabelecidos, situação que, como também já tem sido
repetidamente afirmado, não viola o princípio da igualdade.
Efectivamente, conforme se disse no já citado Acórdão do STJ de
22.10.2015, «…, os efeitos jurídicos que, por via directa ou indirecta,
foram extraídos do juízo de inconstitucionalidade firmado sobre o que se
dispunha na anterior redacção do nº 1 do art. 1817º do CC em
determinadas acções já definitivamente julgadas não interferem nem
impedem a extracção dos efeitos que decorrem de normas
infraconstitucionais que, como a da actual redacção do art. 1817º, nº 1,
foram posteriormente aprovadas. (…)
Por isso, o facto de alguns investigantes terem obtido o reconhecimento
da sua paternidade em circunstâncias semelhantes àquelas em que o A.
se encontrava e de a este ser negado esse mesmo efeito por via da
caducidade em face do actual regime, não implica, por si, a formulação
de um juízo de desconformidade constitucional das normas que ao caso
são aplicáveis.
A negação de qualquer violação do princípio da igualdade emerge do
simples facto de não existir uma total identidade do regime jurídico que
deve ser aplicado naquelas acções e na presente acção, tendo em conta
as modificações que entretanto ocorreram e que se repercutem, sem
dúvida alguma, nas acções de investigação de paternidade instauradas
depois da entrada em vigor do novo regime legal».
Consequentemente, há que concluir, como nos citados arestos, pela não
inconstitucionalidade do prazo fixado pelo artigo 1818.º do CC para
delimitar o momento até ao qual o descendente do pretenso filho pode
propor a acção de investigação da maternidade ou paternidade que
aquele não propôs em vida, o que implica, no caso em apreço, a
caducidade de o autor intentar a presente acção por haver já decorrido o
referido prazo de dez anos.
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Finalmente importa apreciar se, conforme o autor invoca nas respectivas


alegações de recurso, mesmo que se entendesse estar ultrapassado o
prazo previsto no n.º 1 do artigo 1817.º do CC, à data da interposição da
presente acção não se encontrava esgotado o prazo previsto no n.º 3 do
mesmo preceito, uma vez que o fez antes de decorridos 3 anos sobre o
momento em que tomou conhecimento dos resultados do estudo de
genoma que juntou à petição inicial.
Aduz ainda o autor nesta peça processual que os ficheiros de ADN
referentes ao recorrente e ao primeiro réu datam de 4 de Maio de 2013, e
o teste referente ao filho do 1.º réu, de 12 de Dezembro do mesmo ano,
tendo sido o conhecimento do resultado dos testes de ADN que constituiu
o facto que determinou o recorrente a instaurar a presente acção.
Dispõe o artigo 1817.º, n.º 3, alíneas b) e c), do CC, que a acção pode
ainda ser proposta nos três anos posteriores à ocorrência de algum dos
seguintes factos:
(…) b) Quando o investigante tenha tido conhecimento, após o decurso
do prazo previsto no n.º 1, de factos ou circunstâncias que justifiquem a
investigação, designadamente quando cesse o tratamento como filho pela
pretensa mãe;
c) Em caso de inexistência de maternidade determinada, quando o
investigante tenha tido conhecimento superveniente de factos ou
circunstâncias que possibilitem e justifiquem a investigação.
Conforme se expendeu no Acórdão do Tribunal Constitucional n.º
401/2011, de 22-09-2011, «como resulta do advérbio “ainda” introduzido
no corpo deste número, é manifesto que os prazos de três anos referidos
nos n.ºs 2 e 3 se contam para além do prazo fixado n.º 1 do artigo 1817.º,
não caducando o direito de proposição da acção antes de esgotados
todos eles. Isto é, mesmo que já tenham decorrido dez anos a partir da
maioridade ou emancipação, a acção é ainda exercitável dentro dos
prazos previstos nos n.ºs 2 e 3».
Trata-se de alteração introduzida pela citada Lei n.º 14/2009 na
decorrência da referida declaração de inconstitucionalidade,
pretendendo precisamente o legislador que, mesmo quando já tenha
decorrido o prazo de dez anos previsto no n.º 1, verificadas as
circunstâncias referidas nos nºs 2 e 3, o investigante possa ainda
instaurar a acção independentemente de quantos anos passaram sobre
aquele prazo, desde que não esgote este novo prazo. Estamos, portanto,
perante uma excepção ao prazo regra previsto no n.º 1 do citado artigo,
tratando-se da estatuição de um novo prazo especial de 3 anos contados
a partir do conhecimento que o investigante tenha tido, posteriormente
àquele prazo geral, da verificação de factos ou circunstâncias que

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possibilitem e justifiquem a investigação, nos termos referidos nas


indicadas alíneas do preceito.
Configurando-se como um regime especial relativamente ao geral,
compete a quem pretende prevalecer-se do mesmo, a invocação da
verificação de qualquer uma das circunstâncias enquadráveis no
indicado segmento da norma, competindo depois a quem pretende
prevalecer-se da caducidade desse direito a prova do decurso do
respectivo prazo – cfr. artigos 303.º, 331º, n.º 1, e 343º, n.º 3 todos do CC.
Efectivamente, o n.º 4 do indicado preceito estabelece de forma mais
favorável ao investigante, norma especial quando ao ónus da prova, mas
que se aplica apenas à situação que prevê, ou seja, incumbe ao réu a
prova da cessação voluntária do tratamento nos três anos anteriores à
propositura da acção.
Significa esta expressa previsão legal quanto a esta situação concreta
que, nada sendo referido quanto à primeira parte da indicada alínea, ou
seja, à prova de que só após o decurso do prazo previsto no n.º 1 houve
conhecimento da verificação de factos ou circunstâncias que possibilitem
e justifiquem a investigação, se aplicam as regras dos sobreditos
preceitos do Código Civil.
Mais se aplica o preceituado no artigo 333.º, n.º 1, do CC, de acordo com
cuja previsão a caducidade neste tipo de acção é de conhecimento
oficioso, porque no caso em apreço estamos em presença de acção sobre
direitos indisponíveis, podendo consequentemente ser apreciada pelo
Tribunal em qualquer fase do processo.
Porém, no caso dos autos, como visto, o autor, apenas em sede de
alegações de recurso invocou a tempestividade da acção por a ter
proposto antes de decorridos 3 anos sobre o momento em que tomou
conhecimento dos resultados do estudo de genoma que juntou à petição
inicial, aduzindo só então que os ficheiros de ADN referentes ao
recorrente e ao primeiro réu datam de 4 de Maio de 2013, e o teste
referente ao filho do 1.º réu, de 12 de Dezembro do mesmo ano, e que ter
tido o conhecimento do resultado dos testes de ADN foi o facto que
determinou o recorrente a instaurar a presente acção.
Ora, o facto de o tribunal poder conhecer da caducidade a todo o tempo
não significa que o possa fazer se a parte onerada com algum ónus o não
cumpriu oportunamente, já que o tribunal está sujeito à alegação dos
factos essenciais que seja efectuada pelas partes (artigo 5.º, n.º 1, do
CPC).
Efectivamente, como vimos, tendo decorrido o prazo-regra de 10 anos e,
portanto, tendo caducado o direito de o autor poder instaurar acção para
reconhecimento da paternidade de sua mãe, a possibilidade que o n.º 3
do artigo 1817.º do CC prevê de propor a acção no prazo de 3 anos
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contados a partir do conhecimento superveniente àquele prazo, depende


da alegação de factos ou circunstâncias que possibilitem e justifiquem a
investigação mercê do mesmo, sendo esses naturalmente factos essenciais
pois deles depende a possibilidade de o investigante exercer o direito que
invoca, decorrido que está o prazo-regra que a lei lhe assinala para o
efeito.
Assim, pretendendo exercer o direito com este fundamento, ao autor
incumbia alegar que só naquele momento teve conhecimento de quem era
o seu presumível avô. Como vimos, não foi isso que se passou já que o
autor, salvo o devido respeito, confunde factos com meios de prova.
Efectivamente, não é o facto de o autor ter tido conhecimento do
resultado dos testes de ADN só naquele momento que lhe impossibilitava
o exercício do direito anteriormente, já que a viabilidade da acção não
dependia daqueles testes. Tanto assim, que o autor alegou os factos
pertinentes a poder demonstrar a verificação das presunções de
paternidade constantes das alíneas a), c) e e) do n.º 1 do artigo 1871.º do
CC, aduzindo ainda ser possível demonstrar a filiação biológica para o
que requereu na petição inicial, como meio de prova, a realização de
estudo comparativo de ADN junto do INML.
De todo o seu articulado inicial resulta exuberantemente que o mesmo
configura a acção no pressuposto de que o direito ao estabelecimento da
filiação é imprescritível. Assim o entendeu a Ré e a Mm.ª Juiz a quo. E
não lhes era possível entenderem de outro modo, já que o autor em
momento algum dá a entender - antes pelo contrário -, que os factos que
invocou em fundamento da sua pretensão seriam apenas do conhecimento
da sua mãe e que ele só teve conhecimento dos mesmos com o resultado
dos testes de ADN. E, diga-se, não o fez mesmo depois de ter sido
convidado a pronunciar-se sobre a invocação pela Ré da caducidade da
acção, com fundamento no n.º 1 do artigo 1817.º do CC.
Ora, se por um lado a lei impõe que o juiz resolva todas as questões que
as partes tenham submetido à sua apreciação, sendo pacífico que tais
questões - a que se reportam o n.º 2 do artigo 608.º e a alínea d) do n.º 1
do artigo 615.º do CPC -, «são os pontos de facto ou de direito relevantes
no quadro do litígio, ou seja, concernentes ao pedido, à causa de pedir e
às excepções»[13], por outro lado, de acordo com os mesmos indicados
preceitos legais, não pode ocupar-se senão das questões suscitadas pelas
partes, salvo se a lei lhe permitir ou impuser o conhecimento oficioso de
outras.
Porém, é evidente que também os poderes de cognição do juiz em matéria
de conhecimento oficioso das questões têm como pressuposto a aquisição
no processo da necessária base factual em que aquelas assentam,
impondo-se que decorram dos factos essenciais ou principais alegados
pelas partes, ou dos factos complementares e instrumentais relativamente

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aos quais o juiz tem poderes de cognição oficiosa, nos termos do artigo
5.º, n.º 2, do CPC.
No caso dos autos, como dito supra, não foram oportunamente alegados
os factos essenciais pertinentes, donde a questão em apreço não pode
deixar de ser considerada como questão nova, porquanto a sua
apreciação dependeria de ter de sido observado pelo recorrente o ónus
de alegação e prova que oportunamente não cumpriu.
Concluindo, tendo a acção de investigação de paternidade sido proposta
muito depois do prazo estipulado no citado artigo 1817.º, n.º 1, do
Código Civil e não tendo o Autor ora Recorrente alegado factos dos
quais fosse possível concluir que a presente acção somente foi instaurada
em 2014, por só menos de 3 anos antes ter tido conhecimento de factos
ou circunstâncias que possibilitem e justifiquem a investigação, procede
necessariamente a excepção peremptória da caducidade invocada pela
Ré.

3. Novamente inconformado, interpôs o A. revista excepcional, admitida


pela competente formação, que encerra com as seguintes conclusões:
I - O presente recurso de revista excepcional é admissível, por estarem
em causa interesses de particular relevância social, uma vez que, do
estabelecimento da filiação paterna da mãe do recorrente decorrem,
necessariamente, efeitos jurídicos que se projectam para além das esferas
jurídicas das partes nos presentes autos, uma vez que irá provocar a
alteração de um conjunto de relações jurídicas, nomeadamente de
carácter sucessório.
II - Em primeira instância o Tribunal apreciou a questão da caducidade
do direito de acção apenas quanto à verificação do prazo de 10 anos a
que alude o n° 1, do art° 1817° do C. Civil, sendo omisso quanto à
verificação - ou não - da caducidade do direito de acção, considerando o
prazo a que alude o n° 3 do mesmo artigo.
III - O recorrente, na sua p.i., configurou o direito de acção como
imprescritível.
IV - Na contestação, a recorrida FF invocou a excepção da caducidade
do direito de acção, defendendo o decurso do prazo a que alude o art°
1817°, n° 1, do C. Civil e, na resposta à excepção, o recorrente defendeu
que os prazos constantes do art° 1817° do C. Civil são inconstitucionais.
V - Ao decidir a excepção da caducidade do direito de acção, o Tribunal
de primeira instância não podia, como fez, ignorar que o exercício do
direito de acção em concreto em causa, admitindo-se que está sujeito a
prazos de caducidade, considerando o disposto no art° 1817° do C. Civil,

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não está sujeito apenas a um único prazo de exercício, mas sim a dois,
que se contam um independentemente da verificação do outro.
VI - A questão do exercício do direito de acção, pelo recorrente, tendo em
conta o momento em que realiza e conhece os resultados do teste de
ADN, não é uma questão nova, trazida aos autos apenas no recurso
interposto do saneador sentença, pois tais factos foram alegados na p.i..
VII - O Tribunal de primeira instância, colocado perante a questão da
caducidade do direito de acção, se não dispunha de todos os elementos
que lhe permitissem decidir, considerando todos os prazos que podiam
ser considerados na situação concreta, não podia ter proferido saneador
sentença,
VIII - Ao decidir no saneador sentença, o Tribunal de 1ª instância privou
o recorrente da possibilidade de fazer mais prova da não verificação da
excepção da caducidade do direito de acção no prazo de 3 anos a que
alude a alínea b), do n° 3, do art° 1817° do C. Civil, por referência à
data da realização do teste de ADN e à da interposição da acção.
IX - Sobre o recorrente não impendia qualquer ónus de alegação que não
tenha cumprido.
X - Na acção de investigação de paternidade o pedido consiste na
declaração de paternidade, sendo a causa de pedir o vínculo biológico,
tendo o recorrente alegado os factos essenciais que constituem a causa
de pedir e as razões de direito que servem de fundamento à acção,
conforme lhe impõe o disposto no art° 552°, nº 1, alínea d), do CPC.
XI - O recorrente não invocou qualquer prazo de exercício do direito de
acção, nem tinha que o fazer.
E,
XII - O Tribunal, colocado perante a necessidade de decidir sobre a
excepção da caducidade do direito de acção tinha, necessariamente, que
analisar a verificação ou não de tal excepção considerando todos os
prazos que pudessem estar em causa, não estando dispensado de tal
apreciação ademais porque tal excepção é de conhecimento oficioso.
Donde,
XIII - Ao confirmar a decisão proferida em primeira instância, o douto
acórdão recorrendo encontra-se ferido de ilegalidade e
inconstitucionalidade.
XIV - O direito ao conhecimento da filiação natural é um direito
fundamental constitucionalmente consagrado como de identidade
pessoal, nos termos do disposto no art°. 26°, n° 1 da CRP.

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XV - Qualquer limitação temporal ao exercício do direito de investigar a


paternidade, implicaria a violação da referida norma da constituição.
Donde,
XVI - Os prazos constantes do art°. 1817° do C.C., na redacção anterior
e posterior à Lei n° 14/2009, de 1 de Abril, são inconstitucionais.
XVII - É pacífica a previsão constitucional dos direitos ao conhecimento
da paternidade biológica e do estabelecimento do respectivo vínculo
jurídico, como direitos fundamentais.
XVIII - A imprescritibilidade da acção de investigação de paternidade
corresponde à única solução constitucionalmente conforme.
XIX - Nos termos do disposto no n° 2, do art°. 16° da CRP, "Os preceitos
constitucionais e legais relativos aos direitos fundamentais devem ser
interpretados e integrados de harmonia com a Declaração Universal dos
Direitos do Homem."
E,
XX - Sendo esta um instrumento que vincula o Estado Português, por via
do disposto no n° 2, do art°. 8º da CRP, as disposições que as contrariem
padecem não só de um vício de inconstitucionalidade, mas também de um
vício de ilegalidade.
Pelo que,
XXI - Os prazos estabelecidos nos n°s. 1 e 3, do art.° 1817°, são
indiscutivelmente inconstitucionais e, ao violar normas constantes de
Convenção Internacional dos Direitos do Homem geram, também, uma
situação de ilegalidade.
XXII - A acção de investigação de paternidade é condição necessária à
efetivação do imperativo de tutela constitucional dos direitos
fundamentais à identidade e a constituir família, pelo que, não se
coaduna com a fixação de um prazo de caducidade para o exercício da
mesma.
XXIII - A paternidade estabelece-se, também, pelo reconhecimento, e tem
eficácia retroactiva.
Donde,
XXIV - Os presentes autos, ao contrário do decidido pelo Tribunal a quo,
foram instaurados em tempo.
XXV - Por um lado, porque o direito de acção de investigação da
paternidade não está sujeito a qualquer prazo.

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XXVI - E, por outro, porque, ainda que se considerasse serem válidas as


normas constantes dos n°s.1 e 3 do art° 1817° do C. Civil, e se
considerasse esgotado o prazo a que alude o n° 1, à data da interposição
dos presentes autos não se encontrava esgotado o prazo a que alude o
referido n° 3.
XXVII - "(...)uma vez falecido o filho, e havendo ainda a possibilidade de
a acção ser proposta, a qualquer das pessoas, isolada ou conjuntamente,
a quem o artigo 1818° confere legitimidade para o fazer, é atribuído um
direito próprio, inteiramente autónomo, de propor a acção. É um direito
que a lei concede a cada titular, não no interessa próprio dele, mas no
interesse da sociedade familiar - e que ele exerce com plena legitimidade,
(...)"
XXVIII - "As pessoas a quem este preceito se refere (art° 1818°. C.C.)
para lhes reconhecer legitimidade na propositura da acção, agem iure
próprio, e não iure hereditatis."
XXIX - Por força do disposto no art° 1818° do C.C. o recorrente, na
qualidade de filho da investigante, pode exercer o direito de acção no
prazo de 3 anos a que alude o n° 3, do art° 1817° do C.C, contados a
partir da data em que se verificou o conhecimento dos resultados do teste
de ADN, circunstância que justifica a investigação da paternidade da
mãe do recorrente.
XXX - O prazo de 3 anos referido no n° 3 do art° 1817° do C.C., conta-se
para além do prazo fixado no n° 1 do mesmo artigo, não caducando o
direito de propor a acção de investigação de paternidade antes de
esgotados todos eles.
XXXI - Os resultados do teste de ADN referentes ao recorrente e ao 1° R.
datam de 4 Maio de 2013 e, o teste referente ao filho do 1° R., de 12 de
Dezembro de 2013
XXXII - O recorrente interpôs a acção de investigação de paternidade de
sua mãe, antes de decorridos 3 anos sobre o momento em que tomou
conhecimento dos resultados do referido teste de ADN
Donde,
XXXIII - O direito de acção foi exercido, pelo recorrente,
tempestivamente.
XXXIV - O douto acórdão recorrendo, ao confirmar a decisão proferida
em primeira instância, viola o disposto, nomeadamente, nos art°s 8°, n°
2, 16°, n° 1 e 26°, n° 2, todos da CRP e artºs. 2°, 8º e 25° da Declaração
Universal dos Direitos do Homem, art°s 1818° e 1817°, n°s 1 e 3, art°
1796°, n° 2 e 1797°, n° 2, todos do C.Civil e art°s 5°, 552°, n° 1, alínea
d), 608°, n° 2 e 615°, n° 1, alínea d), todos do CPC.

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4. O presente recurso centra-se na questão – há muito controvertida – da


invocada imprescritibilidade das acções de investigação ou
reconhecimento da paternidade, sustentando o recorrente que o regime
introduzido pela Lei 14/09 continua a padecer de inconstitucionalidade,
invocando, para tal, diversos arestos, proferidos pelo STJ, que teriam
julgado que as ditas acções não poderiam ser sujeitas a qualquer prazo de
caducidade.

Sucede, porém, que – como refere o acórdão recorrido - tal entendimento


jurisprudencial não se sedimentou, já que as recusas de aplicação
normativa, constantes de tais arestos, originaram naturalmente a
interposição de recurso obrigatório para o TC, que reiteradamente
considerou que o regime actualmente estabelecido, em sede de
caducidade das referidas acções, desencadeadas após a edição da Lei
14/09, não viola qualquer preceito ou princípio constitucional.
Foi neste sentido a orientação do Plenário, consubstanciada no Ac.
401/11, em que se considerou, nomeadamente:
A jurisprudência constitucional em matéria de prazos de caducidade das
acções de investigação da paternidade O Tribunal Constitucional foi
chamado por diversas vezes a apreciar a constitucionalidade dos prazos
de caducidade estabelecidos no artigo 1817.º, do Código Civil, na
redacção anterior às alterações introduzidas pela Lei n.º 14/2009, de 1 de
Abril.
Numa primeira fase, o Tribunal Constitucional decidiu sempre no sentido
da compatibilidade das normas que previam os referidos prazos com os
princípios constitucionais.
Assim, no Acórdão n.º 99/88, de 28 de Abril de 1988 (pub. no D.R., II
Série, de 22-8-1988, pág. 7642, e em A.T.C., 11.º vol., pág. 785), o
Tribunal Constitucional julgou não inconstitucionais as normas dos n.º 3
e 4, do artigo 1817.º, do Código Civil, na redacção do Decreto-lei n.º
496/77, de 25 de Novembro, enquanto aplicáveis às acções de
investigação de paternidade, por força do artigo 1873.º do mesmo
Código, juízo que foi reiterado no Acórdão n.º 370/91, de 25 de Setembro
de 1991 (pub. no D.R. n.º 78 – Suplemento, II Série, de 2-4-1992, pág.
3112, e em A.T.C., 20.º vol., pág. 321).
Por seu turno, no Acórdão n.º 413/89, de 31 de Maio de 1989 (pub. no
D.R. n.º 213, II Série, de 15-9-1989, pág. 9244, e no B.M.J. n.º 387, pág.
262), julgou não inconstitucional a norma do n.º 1, do artigo 1817.º, do
Código Civil, na redacção do Decreto-lei n.º 496/77, de 25 de Novembro,
enquanto aplicável às acções de investigação de paternidade, por força
do artigo 1873.º do mesmo Código, posição que foi mantida nos
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Acórdãos n.º 451/89, de 21 de Junho de 1989 (pub. no D.R. n.º 218, II


Série, de 21-9-1989, pág. 9521, e em A.T.C., 13.º vol., pág. 1321), 311/95,
de 20 de Junho de 1995 (acessível em tribunalconstitucional.pt), 506/99,
de 21 de Setembro de 1999 (pub. no D.R. n.º 65, II Série, de 17-3-2000,
pág. 5167, e em A.T.C., 44.º vol., pág. 763) e 525/03, de 29 de Outubro de
2003 (acessível em tribunalconstitucional.pt).
Em todos os referidos arestos, o Tribunal encarou os prazos de
caducidade como meros condicionamentos do exercício do direito de
investigação da paternidade, inerente ao direito à identidade pessoal, e
não como verdadeiras restrições desse direito fundamental. No essencial,
entendeu invariavelmente que o regime jurídico da filiação em questão
assegurava um equilíbrio adequado entre o direito do filho ao
reconhecimento da paternidade e o interesse do pretenso progenitor a
não ver protelada uma situação de incerteza, agravada pelo
envelhecimento e aleatoriedade da prova, e ainda o interesse da paz da
família conjugal do investigado e o direito à reserva da vida privada
deste.
Contudo, a consolidação e a aplicação bem sucedida das novas técnicas
laboratoriais de determinação científica da paternidade viriam a ser
decisivas numa mudança de rumo da jurisprudência constitucional.
A primeira viragem neste entendimento deu-se com a prolação do
Acórdão n.º 456/03, de 14 de Outubro de 2003 (pub. D.R., n.º 34, II Série,
de 10-2-2004, pág. 2368, e em A.T.C. 57.º vol., pág. 461), que julgou
inconstitucional a norma constante do artigo 1817.º, n.º 2, do Código
Civil, na redacção introduzida pelo Decreto-Lei n.º 496/77, de 25 de
Novembro, por impedir a investigação da paternidade em função de um
critério que utilizava um prazo objectivo, nos casos em que os
fundamentos e as razões para instaurar a acção de investigação surgiam
pela primeira vez em momento ulterior ao termo do prazo referido no n.º
1, do mesmo artigo 1817.º, do Código Civil. Este aresto não censurou a
existência de limites temporais ao exercício do direito de instaurar acção
de investigação, mas apenas a consagração de limites que inviabilizavam
absolutamente a possibilidade do interessado averiguar o vínculo de
filiação natural quando o fundamento para o fazer ocorria em momento
posterior ao prazo de dois anos após aquele ter atingido a maioridade ou
se ter emancipado. Na verdade, o n.º 2, do artigo 1817.º, do Código Civil,
não só exigia que a acção de paternidade fosse proposta no ano seguinte
à rectificação, declaração de nulidade ou cancelamento do registo de
paternidade existente, o qual impedia, enquanto vigente, o
reconhecimento de outra paternidade, como também impunha que a
remoção do registo tivesse sido requerida até ao termo do prazo
estabelecido no n.º 1, do artigo 1817.º, do Código Civil, se o investigante
tivesse legitimidade para esse pedido. Daí que, como sucedia no caso em
que foi proferido o referido Acórdão, uma filha, após a ultrapassagem do

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prazo de caducidade previsto no n.º 1, do artigo 1817.º, do Código Civil,


não pudesse investigar a paternidade biológica quando visse impugnada
com sucesso a paternidade presumida em acção proposta pelo cônjuge da
mãe após já ter decorrido aquele prazo. Foi a subordinação a este último
prazo que se completava independentemente do conhecimento pelo
investigante das razões que justificavam a sua pretensão de ver
reconhecida a sua paternidade biológica que foi censurada pelo Tribunal
Constitucional.
Novo passo seria dado no Acórdão n.º 486/04, de 7 de Julho de 2004
(pub. no D.R. n.º 35, II Série, de 18-2-2005, pág. 2456, e em A.T.C., 60.º
vol., pág. 191), através do qual se julgou inconstitucional o artigo 1817.º,
n.º 1, do Código Civil, na redacção introduzida pelo Decreto-lei n.º
496/77, de 25 de Novembro, ao prever a extinção do direito de investigar
a paternidade, dois anos após o investigante ter atingido a maioridade ou
a emancipação. Também neste último aresto, apesar de se fazer
referência às posições que defendiam a “imprescritibilidade” das acções
de investigação da paternidade, não se reprovou a existência de limites
temporais à sua propositura, mas apenas a consagração de prazos que,
pela sua exiguidade, dificultavam seriamente ou inviabilizavam a
possibilidade do interessado averiguar o vínculo de filiação natural,
nomeadamente a circunstância do prazo se esgotar num momento em que
o investigante não era ainda uma pessoa inteiramente madura e em que o
mesmo podia nem sequer ter qualquer justificação para a interposição da
acção de investigação.
A inconstitucionalidade do prazo objectivo consagrado no n.º 1, do artigo
1817.º, do Código Civil, viria posteriormente a ser declarada com força
obrigatória geral pelo Acórdão do Plenário n.º 23/06, de 10 de Janeiro
de 2006 (pub. no D.R. n.º 28, IA Série, de 8-2-2006, pág. 1026, e em
A.T.C., 64.º vol., pág. 81), por se entender que o mesmo funcionava como
uma restrição inadmissível do conteúdo essencial dos direitos
fundamentais à identidade pessoal e a constituir família.
Mas os prazos de caducidade especiais previstos nos n.º 3 e 4, do artigo
1817.º, do Código Civil, apesar de assentarem num critério subjectivo
também viriam a ser julgados inconstitucionais, respectivamente pelos
Acórdãos n.º 626/09, de 2 de Dezembro de 2009 (pub. no D.R. n.º 11, II
Série, de 18-1-2010, pág. 2378 e em A.T.C., 76.º vol., pág. 409) e 65/10,
de 4 de Fevereiro de 2010 (pub. no D.R. n.º 46, II Série, de 8-3-2010,
pág. 10.194, e em A.T.C., 77.º vol, pág. 387), que consideraram que os
mesmos resultavam, pela sua curta duração, numa restrição
desproporcionada ao direito fundamental à identidade pessoal.
Estes prazos, diversamente do que sucedia com o prazo-regra
estabelecido no n.º 1, do artigo 1817.º, do Código Civil, já declarado
inconstitucional, que começava a correr inexorável e ininterruptamente
desde o nascimento do filho e se podia esgotar integralmente sem que o
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mesmo tivesse qualquer justificação para a instauração da acção de


investigação de paternidade contra o pretenso pai, apenas se iniciavam a
partir do momento em que o investigante – depois de se terem
completado dois anos após ter atingido a maioridade ou se ter
emancipado – conheceu ou devia ter conhecido o conteúdo do escrito de
pai em que o reconhecia como filho, ou cessou o seu tratamento pelo
investigado nessa qualidade. Já não estávamos aqui perante prazos
“cegos”, que começavam a correr independentemente de poder haver
qualquer justificação para o exercício do direito pelo respectivo titular,
como sucedia com o prazo estabelecido no n.º 1, do artigo 1817.º, do
Civil, mas sim perante prazos cujo início de contagem coincidia com o
momento em que o titular do direito tinha ou devia ter conhecimento do
facto que o motivava a agir.
O Acórdão n.º 626/09 considerou que nas situações de conhecimento pelo
investigado dos dados que o motivavam a obter o reconhecimento
judicial da paternidade, pelo menos o interesse da segurança jurídica,
nomeadamente o direito do pretenso progenitor em não ver indefinida ou
excessivamente protelada uma situação de incerteza quanto à sua
paternidade, podia justificar que se condicionasse o exercício do direito
do filho à investigação da paternidade, através do estabelecimento de um
prazo para o accionar. Tendo o titular deste direito conhecimento dos
factos que lhe permitem exercê-lo, admitiu a legitimidade do legislador
estabelecer um prazo para a propositura da respectiva acção, após esse
conhecimento, de modo a que o interesse da segurança jurídica não
pudesse ser posto em causa por uma atitude desinteressada daquele.
Entendeu-se nesse Acórdão que o estabelecimento destes prazos de
caducidade para o exercício do direito à investigação de paternidade,
apoiados em critérios subjectivos – o conhecimento pelo interessado das
razões que justificam a propositura da acção de investigação de
paternidade – poderia revelar-se, em abstracto, uma limitação adequada,
necessária e proporcional do direito à identidade pessoal, para satisfação
do interesse da segurança jurídica, como elemento essencial de Estado de
Direito.
Contudo, o referido Acórdão não deixou de julgar inconstitucional o
prazo de caducidade estabelecido no n.º 3, do artigo 1817.º, do Código
Civil, tal como o fez o Acórdão n.º 65/10, relativamente ao prazo previsto
no n.º 4, do mesmo artigo, por terem entendido que eles eram exíguos
para efeito de uma serena avaliação e ponderação de todos os factores
que podem condicionar a difícil tomada de decisão de pedir o
reconhecimento judicial da paternidade por parte de quem até então não
tinha quaisquer razões, ou pelo menos razões sérias, que justificassem a
propositura de uma acção de investigação contra uma determinada
pessoa na qualidade de pretenso pai, o que inviabilizava ou dificultava
gravemente o exercício do respectivo direito, tornando a adopção desses

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prazos uma restrição desproporcionada ao conteúdo do direito à


identidade pessoal.
Estes juízos de inconstitucionalidade fundamentaram-se apenas na ideia
de que a decisão de avançar para o estabelecimento da ascendência
biologicamente verdadeira convoca uma reflexão prévia e profunda sobre
aspectos pessoalíssimos da pessoa humana – e, secundariamente,
também de ordem social e patrimonial – que não é compatível com a
exigência legal do seu exercício judicial em prazos de curta duração.
Apesar da ênfase dada na fundamentação de alguns destes acórdãos (v.g.
o Acórdão n.º 65/10) às teses defensoras da “imprescritibilidade” das
acções de investigação da paternidade, nunca se sustentou que não
fossem admissíveis prazos de caducidade contados a partir do
conhecimento efectivo pelo investigante dos dados que o motivam a ver
judicialmente reconhecida a sua paternidade biológica, desde que a
duração desses prazos tivesse em consideração que essa opção exige um
tempo de maturação alargado.
Da evolução da jurisprudência constitucional nesta temática constata-se
que perante o fim do receio do envelhecimento e aleatoridade da prova,
face aos avanços científicos que permitiram o emprego de testes de ADN
com uma fiabilidade próxima da certeza – probabilidades bioestatísticas
superiores a 99,5% - conjugado com as rápidas alterações registadas no
domínio dos valores dominantes no âmbito da filiação, os interesses da
segurança jurídica do pretenso progenitor, da prevenção da “caça às
fortunas”, da paz da família conjugal do investigado e da reserva da vida
privada deste perderam importância e começaram a ser olhados como
interesses menores face ao superior interesse do investigado conhecer e
ver reconhecida juridicamente as origens da sua existência.
Foi um novo olhar que perscrutou o peso real dos argumentos que
sobraram após a saída de cena do envelhecimento e aleatoriedade das
provas da paternidade, e que não deixou de acompanhar as novas
realidades familiares, a valorização da realização individual e a
preocupação da verdade e da transparência.
5. A jurisprudência do TEDH em matéria de prazos de caducidade das
acções de investigação da paternidade
O Tribunal Europeu dos Direitos do Homem também já teve
oportunidade de se pronunciar sobre a compatibilidade de limitações
temporais ao exercício do direito de investigação da paternidade com os
princípios da Convenção Europeia dos Direitos do Homem.
Extraindo do “direito ao respeito da vida privada e familiar”,
consagrado no artigo 8.º, n.º 1, da Convenção, um direito fundamental ao
conhecimento das origens genéticas, o Tribunal tem entendido que a
existência de um prazo limite para a instauração duma acção de
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reconhecimento judicial da paternidade não é, só por si, violadora da


Convenção, importando verificar se a natureza, duração e características
desse prazo resultam num justo equilíbrio entre o interesse do
investigante em ver esclarecido um aspecto importante da sua identidade
pessoal, o interesse do investigado e da sua família mais próxima em
serem protegidos de demandas respeitantes a factos da sua vida íntima
ocorridos há já muito tempo, e o interesse público da estabilidade das
relações jurídicas. Neste discurso é realçado que o “direito ao respeito
da vida privada e familiar” não assiste apenas à pessoa que pretende
saber quem são os seus pais e estabelecer o respectivo vínculo jurídico,
mas também protege os investigados e suas famílias, cuja tutela não pode
deixar de ser considerada, importando harmonizar os interesses opostos.
Neste sentido pronunciaram-se os Acórdãos de 6 de Julho de 2010,
proferidos nos casos Backlund c. Finlândia (queixa n.º 36498/05), e
Gronmark c. Finlândia (queixa n.º 17038/04) e de 20 de Dezembro de
2007, proferido no caso Phinikaridou c. Chipre (queixa n.º 23890/02),
nos quais estava em causa a existência de prazos limite para a
instauração de acções de reconhecimento da paternidade (acessíveis em
www.echr.coe.int/hudoc).
Nestes arestos ponderou-se se o sistema concreto de prazos das
legislações em causa assegurava uma real possibilidade dos interessados
estabelecerem a sua paternidade, não criando ónus que dificultassem
excessivamente o estabelecimento da relação biológica.
6. Os direitos fundamentais ao conhecimento da paternidade biológica e
ao estabelecimento do respectivo vínculo jurídico
O direito ao conhecimento da paternidade biológica, assim como o
direito ao estabelecimento do respectivo vínculo jurídico (sobre a
distinção entre estes dois direitos, vide João Loureiro, em “Filho(s) de
um gâmeta menor? Procriação medicamente assistida heteróloga”, na
Revista Lex Medicae, ano 3.º (2006), n.º 6, pág. 26 e seg., e Rafael Vale e
Reis, em “O direito ao conhecimento das origens genéticas”, pág. 108 e
109), cabem no âmbito de protecção quer do direito fundamental à
identidade pessoal (artigo 26.º, n.º 1, da Constituição), quer do direito
fundamental de constituir família (artigo 36.º, n.º 1, da Constituição).
A identidade pessoal consiste no conjunto de atributos e características
que permitem individualizar cada pessoa na sociedade e que fazem com
que cada indivíduo seja ele mesmo e não outro, diferente dos demais, isto
é, “uma unidade individualizada que se diferencia de todas as outras
pessoas por uma determinada vivência pessoal” (Jorge Miranda/Rui
Medeiros, em “Constituição Portuguesa Anotada”, Tomo I, pág. 609, da
2.ª ed., da da Coimbra Editora).

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Este direito fundamental pode ser visto numa perspectiva estática – onde
avultam a identificação genética, a identificação física, o nome e a
imagem – e numa perspectiva dinâmica – onde interessa cuidar da
verdade biográfica e da relação do indivíduo com a sociedade ao longo
do tempo.
A ascendência assume especial importância no itinerário biográfico, uma
vez que ela revela a identidade daqueles que contribuíram
biologicamente para a formação do novo ser. O conhecimento dos
progenitores é um dado importante no processo de auto-definição
individual, pois essa informação permite ao indivíduo encontrar pontos
de referência seguros de natureza genética, somática, afectiva ou
fisiológica, revelando-lhe as origens do seu ser. É um dado
importantíssimo na sua historicidade pessoal. Como expressivamente
salienta Guilherme de Oliveira, «saber quem sou exige saber de onde
venho» (em “Caducidade das acções de investigação”, ob. cit., pág. 51),
podendo, por isso dizer-se que essa informação é um factor conformador
da identidade própria, nuclearmente constitutivo da personalidade
singular de cada indivíduo.
Mas o estabelecimento jurídico dos vínculos da filiação, com todos os
seus efeitos, conferindo ao indivíduo o estatuto inerente à qualidade de
filho de determinadas pessoas, assume igualmente um papel relevante na
caracterização individualizadora duma pessoa na vida em sociedade. A
ascendência funciona aqui como um dos elementos identificadores de
cada pessoa como indivíduo singular. Ser filho de é algo que nos
distingue e caracteriza perante os outros, pelo que o direito à identidade
pessoal também compreende o direito ao estabelecimento jurídico da
maternidade e da paternidade.
Por outro lado, o direito fundamental a constituir família consagrado no
artigo 36.º, n.º 1, da Constituição, abrange a família natural, resultante
do facto biológico da geração, o qual compreende um vector de sentido
ascendente que reclama a predisposição e a disponibilização pelo
ordenamento de meios jurídicos que permitam estabelecer o vínculo da
filiação, com realce para o exercitável pelo filho, com o inerente
conhecimento das origens genéticas.
Na verdade, o direito a constituir família, se não pode garantir a inserção
numa autêntica comunidade de afectos – coisa que nenhuma ordem
jurídica pode assegurar – implica necessariamente a possibilidade de
assunção plena de todos os direitos e deveres decorrentes de uma ligação
familiar susceptível de ser juridicamente reconhecida. Pela natureza das
coisas, a aquisição do estatuto jurídico inerente à relação de filiação, por
parte dos filhos nascidos fora do matrimónio, processa-se de forma
diferente da dos filhos de mãe casada, uma vez que só estes podem
beneficiar da presunção de paternidade marital. Mas essa aquisição,
deve ser garantida através da previsão de meios eficazes. Aliás a
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peremptória proibição de discriminação dos filhos nascidos fora do


casamento (artigo 36.º, n.º 4, da CRP) não actua só depois de constituída
a relação, projecta-se também na fase anterior, exigindo que os filhos
nascidos fora do casamento possam aceder a um estatuto idêntico aos
filhos nascidos do matrimónio. A infundada disparidade de tratamento,
em violação daquela proibição, tanto pode resultar da atribuição de
posições inigualitárias, em detrimento dos filhos provenientes de uma
relação não conjugal, como, antes disso, e mais radicalmente do que isso,
do estabelecimento de impedimentos desrazoáveis a que alguém que
biologicamente é filho possa aceder ao estatuto jurídico correspondente.
É, pois, pacífica a previsão constitucional dos direitos ao conhecimento
da paternidade biológica e do estabelecimento do respectivo vínculo
jurídico, como direitos fundamentais.
Isso não impede, contudo, que o legislador possa modelar o exercício de
tais direitos em função de outros interesses ou valores
constitucionalmente tutelados. Não estamos perante direitos absolutos
que não possam ser confrontados com valores conflituantes, podendo
estes exigir uma tarefa de harmonização dos interesses em oposição, ou
mesmo a sua restrição.
No actual ordenamento jurídico português, a acção de investigação de
paternidade prevista nos artigos 1869.º e seguintes do Código Civil
constitui o único meio destinado à efectivação do direito fundamental ao
estabelecimento do vínculo jurídico da paternidade biológica, sendo
também o meio mais eficaz de satisfação do direito ao conhecimento da
ascendência biologicamente verdadeira quando o suposto pai recusa
qualquer colaboração.
Em certos casos, a lei interdita o acesso a esta acção para estabelecer a
filiação biológica, consagrando verdadeiras restrições aos referidos
direitos, como sucede nos casos de adopção (artigo 1987.º, do Código
Civil), e nos casos de procriação medicamente assistida heteróloga, isto é
com recurso a gâmetas de dadores e a dádiva de embriões (artigo 10.º,
n.º 2, e 21.º, da Lei n.º 32/2006, de 26 de Julho).
Mas neste recurso está apenas em causa a recente opção do legislador de
continuar a estabelecer limites temporais genéricos à propositura das
acções de investigação de paternidade.
7. A questão da constitucionalidade da previsão de limites temporais à
propositura da acção de investigação da paternidade
A tese sustentada na decisão recorrida é a de que os interesses que
anteriormente justificavam a fixação de prazos de caducidade revelam-
se, numa observação actualizada, insubsistentes, pelo que deixaram de
ter uma eficácia contrabalanceadora, capaz de justificar a previsão de
limites temporais à instauração da acção de investigação da paternidade.
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A caducidade enquanto figura extintiva de direitos, pelo seu não exercício


em determinado prazo, procura satisfazer os interesses da certeza e
estabilidade das relações jurídicas, os quais exigem a sua rápida
definição, impulsionando os titulares dos direitos em jogo a exerce-los
num espaço de tempo considerado razoável, sob a cominação da sua
extinção.
Apesar dos decisivos progressos científicos no domínio da determinação
da filiação biológica, conjugados com a evolução verificada nos valores
dominantes no âmbito da filiação, terem determinado uma significativa
desvalorização dos interesses que presidiam ao estabelecimento de
prazos de caducidade para a propositura das acções de investigação da
paternidade, alguns desses interesses não deixaram de manter um peso
atendível pelo legislador nas suas opções de definição do regime da
constituição da filiação.
Desde logo, há que ter presente que ainda existem situações, por ventura
residuais, em que, face à inexistência de um registo universal de ADN,
quando não é conhecido o paradeiro do investigado ou este já faleceu
(como sucede no presente caso) e o seu cadáver não está acessível (v.g.
porque foi cremado), não existindo familiares directos do suposto pai
necessários à realização dos exames periciais, não é possível a
determinação científica da filiação, havendo que recorrer aos meios
tradicionais de prova, pelo que nessas situações continua a fazer todo o
sentido a intenção de evitar a valorização de provas pouco fiáveis devido
ao seu envelhecimento, sendo o estabelecimento de prazos de caducidade
um meio ao dispor do legislador para atingir esse objectivo.

Mas, já num plano geral, não é possível ignorar que a constituição e a


determinação integral do vínculo de filiação, abrangendo ambos os
progenitores, corresponde a um interesse de ordem pública, a um
relevante princípio de organização jurídico-social. O dar eficácia
jurídica ao vínculo genético da filiação, propiciando a localização
perfeita do sujeito na zona mais nuclear do sistema das relações de
parentesco, não se repercute apenas na relação pai-filho, tendo
projecções externas a essa relação (v.g. em tema de impedimentos
matrimoniais). É do interesse da ordem jurídica que o estado pessoal de
alguém não esteja amputado desse dado essencial. Daí, além do mais, a
consagração da averiguação oficiosa de paternidade (artigos 1864.º e
seguintes). E importa que esse objectivo seja alcançado o mais rápido
possível, numa fase ainda precoce da vida do filho, evitando-se um
prolongamento injustificado de uma situação de indefinição na
constituição jurídica da relação de filiação. É do interesse público que se
estabeleça o mais breve que seja possível a correspondência entre a
paternidade biológica e a paternidade jurídica, fazendo funcionar o
estatuto jurídico da filiação com todos os seus efeitos, duma forma
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estável e que acompanhe durante o maior tempo possível a vida dos seus
sujeitos.
Este interesse também tem projecção na dimensão subjectiva, como
segurança para o investigado e sua família. Não deixa de relevar que
alguém a quem é imputada uma possível paternidade – vínculo de efeitos
não só pessoais, como também patrimoniais – tem interesse em não ficar
ilimitadamente sujeito à “ameaça”, que sobre ele pesa, de instauração
da acção de investigação. Note-se que este interesse do suposto pai não é
auto-tutelável, uma vez que nas situações de dúvida a realização de testes
científicos exige a colaboração do suposto filho, além de que nas
situações de completo desconhecimento, apesar de não se registar uma
vivência de incerteza, a propositura da acção de investigação
potencialmente instaurada largos anos volvidos após a procriação é de
molde a “apanhar de surpresa” o investigado e a sua família, com as
inerentes perturbações e afectações sérias do direito à reserva da via
privada. Também deste ponto de vista há razões para o legislador
incentivar o exercício o mais cedo possível desse direito.
Ora, o meio, por excelência, para tutelar estes interesses atendíveis
públicos e privados ligados à segurança jurídica, é precisamente a
consagração de prazos de caducidade para o exercício do direito em
causa. Esses prazos funcionam como um meio de induzir o titular do
direito inerte ou relutante a exercê-lo com brevidade, não permitindo um
prolongamento injustificado duma situação de indefinição, tendo deste
modo uma função compulsória, pelo que são adequados à protecção dos
apontados interesses, os quais também se fazem sentir nas relações de
conteúdo pessoal, as quais, aliás, têm muitas vezes, como sucede na
relação de filiação, importantes efeitos patrimoniais.
Apesar da inexistência de qualquer prazo de caducidade para as acções
de investigação da paternidade, permitindo que alguém exerça numa fase
tardia da sua vida um direito que anteriormente negligenciou, poder
corresponder a um nível de protecção máximo do direito à identidade
pessoal, isso não significa que essa tutela optimizada corresponda ao
constitucionalmente exigido.
Como já vimos, o direito ao estabelecimento do vínculo da filiação não é
um direito absoluto que não possa ser harmonizado com outros valores
confituantes, incumbindo ao legislador a escolha das formas de
concretização do direito que, dentro das que se apresentem como
respeitadoras da Constituição, se afigure mais adequada ao seu
programa legislativo. Assim o impõe a margem de liberdade que a
actividade do legislador democrático reclama. Caberá, assim, nessa
margem de liberdade do legislador determinar se se pretende atingir esse
maximalismo, protegendo em absoluto o referido direito, ou se se opta
por conceder protecção simultânea a outros valores constitucionalmente

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relevantes, diminuindo proporcionalmente a protecção conferida aos


direitos à identidade pessoal e da constituição da família.
Ao ter optado por proteger simultaneamente outros valores relevantes da
vida jurídica através da consagração de prazos de caducidade, o
legislador não desrespeitou, as fronteiras da suficiência da tutela, uma
vez que essa limitação não impede o titular do direito de o exercer,
impondo-lhe apenas o ónus de o exercer num determinado prazo.
É legítimo que o legislador estabeleça prazos para a propositura da
respectiva acção de investigação da paternidade, de modo a que o
interesse da segurança jurídica não possa ser posto em causa por uma
atitude desinteressada do investigante, não sendo injustificado nem
excessivo fazer recair sobre o titular do direito um ónus de diligência
quanto à iniciativa processual para apuramento definitivo da filiação,
não fazendo prolongar, através de um regime de imprescritibilidade, uma
situação de incerteza indesejável.
Necessário é que esse prazo, pelas suas características, não impossibilite
ou dificulte excessivamente o exercício maduro e ponderado do direito ao
estabelecimento da paternidade biológica.
Por isso, o que incumbe ao Tribunal Constitucional verificar é se, na
modelação desses prazos, o legislador ultrapassou a margem de
conformação que lhe cabe.
Na verdade, sendo o tipo de instrumento limitativo utilizado o adequado
à defesa dos valores conflituantes, resta sindicar se as características dos
prazos de caducidade estipulados respeitam o princípio da
proporcionalidade, mantendo-se a linha mais recente do Tribunal
Constitucional.
8. A questão da constitucionalidade do prazo previsto no artigo 1817.º,
n.º 1, do Código Civil
O limite temporal em causa no presente recurso é o prazo de caducidade
estabelecido no artigo 1817.º, n.º 1, do Código Civil, aplicável às acções
de investigação de paternidade, por força da remissão constante do
artigo 1873.º, n.º 1, do mesmo diploma, segundo o qual essas acções só
podem ser propostas durante a menoridade do investigante ou nos dez
anos posteriores à sua maioridade ou emancipação.
Contudo, o alcance deste prazo só pode ser compreendido numa
ponderação integrada do conjunto de prazos de caducidade estabelecidos
nos diversos números do artigo 1817.º, do Código Civil.
Embora o disposto em todos estes preceitos não integre o objecto da
questão de constitucionalidade que nos ocupa, o seu conteúdo não pode
deixar de ser tido em consideração na apreciação da norma impugnada,
uma vez que a sua eficácia flanqueadora tem interferência no alcance
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extintivo do prazo de caducidade sob fiscalização. Os efeitos da


aplicação deste prazo, só podem ser medidos, na sua devida extensão, se
ponderarmos também a latitude com que são admitidas, no regime
envolvente daquela norma, causas que obstem à preclusão total da acção
de investigação, por força do decurso do prazo geral de dez anos, após a
maioridade.
Ora, enquanto no n.º 2 se estabeleceu que se não fosse possível
estabelecer a maternidade em consequência de constar do registo
maternidade determinada, a acção já podia ser proposta nos três anos
seguintes à rectificação, declaração de nulidade ou cancelamento do
registo inibitório, no n.º 3 permitiu-se que a acção ainda pudesse ser
proposta nos três anos posteriores à ocorrência de algum dos seguintes
factos: a) ter sido impugnada por terceiro, com sucesso, a maternidade
do investigante; b) quando o investigante tenha tido conhecimento, após
o decurso do prazo previsto no n.º 1, de factos ou circunstâncias que
justifiquem a investigação, designadamente quando cesse o tratamento
como filho pela pretensa mãe; c) e em caso de inexistência de
maternidade determinada, quando o investigante tenha tido
conhecimento superveniente de factos ou circunstâncias que possibilitem
e justifiquem a investigação.
Como já acima se explicou, os prazos de três anos referidos nos
transcritos n.º 2 e 3 do artigo 1817.º do Código Civil, contam-se para
além do prazo fixado no n.º 1, do mesmo artigo, não caducando o direito
de proposição da acção antes de esgotados todos eles. Isto é, mesmo que
já tenham decorrido dez anos a partir da maioridade ou emancipação, a
acção é ainda exercitável dentro dos prazos previstos nos n.º 2 e 3;
inversamente, a ultrapassagem destes prazos não obsta à instauração da
acção, se ainda não tiver decorrido o prazo geral contado a partir da
maioridade ou emancipação.
Isto significa que o prazo de dez anos após a maioridade ou emancipação
previsto no n.º 1 do artigo 1817.º do Código Civil não funciona como um
prazo cego, cujo decurso determine inexoravelmente a perda do direito
ao estabelecimento da paternidade, mas sim como um marco terminal de
um período durante o qual não opera qualquer prazo de caducidade.
Verdadeiramente e apesar da formulação do preceito onde está inserido
ele não é um autêntico prazo de caducidade, demarcando antes um
período de tempo onde não permite que operem os verdadeiros prazos de
caducidade consagrados nos n.º 2 e 3, do mesmo artigo.
Face ao melindre, à profundidade e às implicações que a decisão de
instaurar a acção de investigação da paternidade reveste, entende-se que
num período inicial após se atingir a maioridade ou a emancipação, em
regra, não existe ainda um grau de maturidade, experiência de vida e

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autonomia que permita uma opção ponderada e suficientemente


consolidada.
Apesar de na actual conjuntura a cada vez mais tardia inserção estável
no mundo profissional poder acarretar falta de autonomia financeira,
eventualmente desincentivadora de uma iniciativa, por exclusiva opção
própria, a alegada falta de maturidade e experiência do investigante
perde muito da sua evidência quando se reporta aos vinte e oito anos de
idade, ou um pouco mais cedo nos casos de emancipação. Neste escalão
etário, o indivíduo já estruturou a sua personalidade, em termos
suficientemente firmes e já tem tipicamente uma experiência de vida que
lhe permite situar-se autonomamente, sem dependências externas, na
esfera relacional, mesmo quando se trata de tomar decisões, como esta,
inteiramente fora do âmbito da gestão corrente de interesses.
O prazo de 10 anos após a maioridade ou emancipação, consagrado no
artigo 1817.º, n.º 1, do Código Civil, revela-se, pois, como suficiente para
assegurar que não opera qualquer prazo de caducidade para a
instauração pelo filho duma acção de investigação da paternidade,
durante a fase da vida deste em que ele poderá ainda não ter a
maturidade, a experiência de vida e a autonomia suficientes para sobre
esse assunto tomar uma decisão suficientemente consolidada.
Por estas razões cumpre concluir que a norma do artigo 1817.º, n.º 1, do
Código Civil, na redacção da Lei n.º 14/2009, de 1 de Abril, na parte em
que, aplicando-se às acções de investigação de paternidade, por força do
artigo 1873.º, do mesmo Código, prevê um prazo de dez anos para a
propositura da acção, contado da maioridade ou emancipação do
investigante, não se afigura desproporcional, não violando os direitos
constitucionais ao conhecimento da paternidade biológica e ao
estabelecimento do respectivo vínculo jurídico, abrangidos pelo direitos
fundamentais à identidade pessoal, previsto no artigo 26.º, n.º 1, e o
direito a constituir família, previsto no artigo 36.º, n.º 1, ambos da
Constituição.

Tal jurisprudência constitucional, obstando, como se referiu, a que se


sedimentasse e tornasse definitivo o anterior entendimento do STJ, no
sentido da imprescritibilidade, constante dos arestos invocados pelo
recorrente, conduziu a uma reponderação da questão, passando este
Supremo a aceitar o referido juízo de não inconstitucionalidade,
reiteradamente emitido pelo TC.
Sirvam de exemplo os recentes Acs. de 23/6/16 ( P. 1937/15.8T8BCL.S1)
e de 17/11/15 ( P. 30/14.5TBVCD.P1.S1), onde se decidiu,
respectivamente:

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Para contrariar os efeitos extintivos sustentados na caducidade a A.


alega unicamente a inconstitucionalidade do referido art. 1817º, nº 1, do
CC, com invocação do Ac. do STJ, de 14-1-14 (proc. nº
155/12.1TTBVLC-A.P1.S1), onde se defendeu a tese de que a previsão de
um prazo de caducidade – qualquer que seja – em acções de filiação
viola o direito à identidade pessoal do investigante.
Tal argumentação improcede.
É verdade que, mesmo depois da alteração do art. 1817º, nº 1, do CC,
que aumentou de 3 para 10 anos o prazo geral para o exercício do direito
de reconhecimento da paternidade ou da maternidade, continuaram a ser
proferidos neste Supremo Tribunal de Justiça acórdãos que recusaram a
aplicação do normativo em causa com fundamento na sua
inconstitucionalidade material.
Todavia, essa tese decaiu na apreciação que foi feita pelo Trib. Const., o
que obrigou à prolação de novos arestos em conformidade com o juízo de
não inconstitucionalidade.
Assim ocorreu com o Ac. do STJ, de 21-3-13 (proc. nº
1906/11.7T2AVR.P1.S1), cuja decisão foi entretanto invertida na
sequência de uma pronúncia do Trib. Const., dando origem ao Ac. do
STJ, de 15-10-13.
O mesmo se passou com o Ac. do STJ, de 27-5-14 (proc. nº
165/13.1TBVLR.P1.S1), a que se sucedeu novo aresto do STJ, de 13-1-15
em conformidade com o juízo de não inconstitucionalidade.
Outro tanto se passou com o Ac. do STJ, de 14-1-14 (www.dgsi.pt)
especificamente invocado pela A. nesta revista. Tendo recusado a
aplicação do art. 1817º, nº 1, do CC, o Supremo, depois de ter sido
confrontado com a recusa de inconstitucionalidade emanada do Trib.
Const., reformulou a decisão de mérito, daí emergindo o Ac. do STJ de 9-
7-14 (proc. nº 155/12.1TTBVLC-A.P1.S2) que culminou com a
declaração de procedência da excepção de caducidade pelo decurso do
prazo previsto no art. 1817º, nº 1, do CC.
Ou seja, a tese defendida pela A. e em que funda a tempestividade do
exercício do direito de acção com vista ao reconhecimento da
paternidade vem sendo recusada, de forma consistente e uniforme, pelo
Trib. Constitucional, como o revelam o Ac. do Plenário nº 401/2011, e os
Acs. nº 704/2014, de 28-10-14, e nº 547/2014, de 15-7-14.
Correspondentemente, a referida jurisprudência deste Supremo teve de se
acomodar a tal solução, assumindo-se agora, sem divergências, neste
Supremo Tribunal a aplicabilidade às acções de reconhecimento da
paternidade do regime de caducidade emergente do art. 1817º do CC

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- Vejamos agora a questão acima apontada como objeto desta revista.


Trata-se aqui da questão da constitucionalidade do disposto no nº 1 do
art. 1817º que estabelece um prazo de caducidade para o exercício do
direito de investigar a maternidade que o art. 1873º manda aplicar ao
caso de investigação da paternidade, como é o caso dos autos.
Este dispositivo foi aplicado na decisão da 1ª instância e no acórdão
recorrido com aquela concordante, tendo por consequência sido julgado
o direito da autora extinto por caducidade.
A recorrente defende que o estabelecimento de um prazo de caducidade
em matéria em que está em causa o direito do investigante a conhecer as
suas raízes, a sua filiação biológica, a sua identidade pessoal, tudo
contendendo com a sua dignidade humana, viola o disposto nos arts. 1º e
26º, nº 1 da Constituição da República Portuguesa ( CRP ).
Esta questão está há muito estudada e tratada na nossa jurisprudência
quer deste Supremo Tribunal quer sobretudo do Tribunal Constitucional,
instância esta especialmente vocacionada para dirimir, de forma
definitiva, questões desta natureza.
O Tribunal Constitucional, em acórdão tirado em 22-09-2011, pelo
respetivo plenário, com o número 401/2011, entendeu que o
estabelecimento do prazo de caducidade previsto no nº 1 do art. 1817º
não viola qualquer preceito constitucional.
É certo que este acórdão foi tirado por maioria, mas todas as posteriores
decisões daquele tribunal decidiram no mesmo sentido, tanto quanto
averiguamos – cfr. acs. nºs 24/2012 de 17-01-2012 e 247/2012 de 22-05-
2012, entre outros.
A própria recorrente nas suas extensas alegações não cita qualquer
acórdão do Tribunal Constitucional que haja decidido no sentido que ela
defende, antes limitando-se a transcrever extratos de douto voto de
vencido formulado ao referido acórdão nº 401/2011.
Já quanto à jurisprudência deste Supremo Tribunal, a unanimidade não
era tão constante, tal como se refere quer nas decisões aqui já proferidas
quer nas alegações da recorrente, mas na sequência da declaração de
constitucionalidade operada no referido acórdão do Tribunal
Constitucional nº 401/2011, a jurisprudência deste Supremo tem infletido
de forma unânime, tanto quanto sabemos, no sentido da
constitucionalidade do preceito aqui em causa – cfr. acs. deste Supremo
de 29-11-2012, no proc. 367/10.2TBCVC-A.G1.S1; de 13-02-2013 no
proc. 214/12.OTBVVD.G1.S1; de 15-10-2013 no proc.
1906/11.7T2AVR.P1.S e de 24-02-2015 no proc. 692/11.5TBPTG.E1.S1,
entre outros.

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Assim, pensamos que no seguimento do acórdão do Tribunal


Constitucional acima apontado a melhor solução é a seguida nas
decisões das instâncias, pelo que o recurso tem de soçobrar.
Desta forma iremos apreciar a questão colocada pela recorrente em
termos mais sintéticos, remetendo para ou transcrevendo algumas das
decisões já referidas.
A questão da existência do prazo de caducidade nas ações de
investigação de maternidade/paternidade, prevista no nº 1 do art. 1817º
foi contestada e acabou por ser declarada a inconstitucionalidade
daquele preceito, na sua versão anterior à dada pela Lei nº 14/2009 de
1/04, pelo acórdão nº 23/06 de 10-01-2006.
O disposto no nº 1 do art. 1817º tinha então a redação seguinte:
” A ação de investigação de maternidade só pode ser proposta durante a
menoridade dom investigante ou nos dois primeiros anos posteriores à
sua maioridade ou emancipação.”
A fundamentação do acórdão nº 23/06 referido foi toda no sentido de que
aquele prazo em matéria de tamanha relevância pessoal é
manifestamente insuficiente ou exíguo, sem que aquele acórdão haja
defendido a natureza inconstitucional do estabelecimento de qualquer
prazo de caducidade.
Por isso, o legislador aprovou a Lei nº 14/2009 mencionada que
estabeleceu novos prazos de caducidade no art. 1817º, em termos mais
longos, nomeadamente, mais dilatados do que o prazo do aludido nº 1
que o tribunal constitucional havia declarado inconstitucional com força
obrigatória geral, como dissemos já.
Segundo o nº 1 do art. 1817º resultante daquela lei, a ação de
investigação de maternidade só pode ser proposta durante a menoridade
do investigante ou nos dez anos posteriores à sua maioridade ou
emancipação .
Tal como disse o acórdão nº 401/2011 referido:
“ O Tribunal Europeu dos Direitos do Homem também já teve
oportunidade de se pronunciar sobre a compatibilidade de limitações
temporais ao exercício do direito de investigação de paternidade com os
princípios da Convenção Europeia dos Direitos do Homem.
Extraindo do “ direito ao respeito da vida privada e familiar”,
consagrado no artigo 8º, nº 1 da Convenção, um direito fundamental ao
conhecimento das origens genéticas, o Tribunal tem entendido que a
existência de um prazo limite para instauração duma acção de
reconhecimento judicial da paternidade não é, só por si, violadora da
Convenção, importando verificar se a natureza, duração e características
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desse prazo resultam num justo equilíbrio entre o interesse do


investigante em ver esclarecido um aspecto importante da sua identidade
pessoal, o interesse do investigado e da sua família mais próxima em
serem protegidos de demandas respeitantes a factos da sua vida íntima
ocorridos há já muito tempo, e o interesse público da estabilidade das
relações jurídicas. Neste discurso é realçado que o “ direito ao respeito
da vida privada e familiar” não assiste apenas à pessoa que pretende
saber quem são os seus pais e estabelecer o respectivo vínculo jurídico,
mas também protege os investigados e suas famílias, cuja tutela não pode
deixar de ser considerada, importando harmonizar os interesses
opostos”.
Ainda citando aquele acórdão acrescentaremos que o direito ao
conhecimento da paternidade biológica, assim como ao estabelecimento
do respetivo vínculo jurídico cabem no âmbito de proteção quer do
direito fundamental à identidade pessoal previsto no art. 26º, nº 1 da CRP
quer do direito fundamental de constituir família integrado na previsão
do art. 36º, nº 1 do mesmo diploma fundamental.
Mas a proteção destes direitos que não são absolutos tem de ser
compatibilizado com os outros interesses ou valores igualmente
constitucionalmente protegidos e com eles conflituantes.
As restrições aos referidos direitos fundamentais prosseguidos pelos
investigantes da maternidade/paternidade constam também de outras
disposições como as decorrentes do art. 1987º, integrado em matéria de
adoção.
Os interesses do investigado ou da sua família na sua segurança de ver
definida uma situação de verificação de uma relação de
maternidade/paternidade que tem, obviamente e também, reflexos
patrimoniais, coincidem com as finalidades do estabelecimento de prazos
de caducidade.
Além disso, ainda encontramos um interesse público a apontar no mesmo
sentido, interesse esse que se traduz na urgência na definição da
organização jurídico social, nomeadamente estabelecendo, tão cedo
quanto possível, o vínculo genético da filiação, tendo reflexos em matéria
de impedimentos matrimoniais.
Citando, mais uma vez, o referido acórdão nº 401/2011, diremos:
“ É do interesse público que se estabeleça o mais breve possível a
correspondência entre a paternidade biológica e a paternidade jurídica,
fazendo funcionar o estatuto da filiação com todos os seus efeitos, duma
forma estável e que acompanhe durante o maior tempo possível a vida
dos seus sujeitos”.

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Logo nenhum obstáculo constitucional existe na fixação de prazos de


caducidade para o exercício do direito aqui em causa, desde que estes
sejam razoáveis, razoabilidade esta que tem sido unanimemente
reconhecido ao prazo do nº 1 do art. 1817º aqui em causa.
Por isso, o estabelecimento daquele prazo de caducidade não viola
qualquer preceito constitucional, nomeadamente, os constantes dos arts.
26º, nº 1 e 36º, nº 1, ambos da CRP, tal como é jurisprudência do
Tribunal Constitucional, de que é paradigma o acórdão do respetivo
plenário acima mencionado e transcrito em parte.
Para terminar apenas se acrescenta que os recentes progressos
científicos na determinação da filiação biológica que têm vindo a ser
apontados como razão para a eliminação dos referidos prazos de
caducidade, no caso em apreço são substancialmente desvalorizados, por
a autora haver proposto a ação mais de quarenta e três anos após a
morte do pretenso pai e embora se referira que aquele foi inumado em
local conhecido, há, porém, a alegação por parte da ré de haver sido
enterrado recentemente no mesmo local outro cadáver, o que, pelo
menos, dificulta a prova por ADN requerido pela autora, além da
perturbação que provavelmente ocasionaria a exumação pretendida para
os familiares deste último cadáver, estranhos, presumidamente, ao
presente litigio.

Por outro lado – e como bem refere a decisão recorrida - não pode extrair-
se da caracterização como direito próprio do direito de investigação da
paternidade conferido aos descendentes do investigante a alegada
imprescritibilidade de tal direito, o qual se encontra sujeito, como nos
demais casos, à regra da caducidade, legitimamente estabelecida no actual
regime vigente no CC.
Perante a inexistência de argumentos novos, é esta a jurisprudência
que se reitera no caso dos autos, improcedendo, pois, a questão de
constitucionalidade/ilegalidade suscitada pelo recorrente.

5. Invoca ainda o recorrente que – independentemente do sentido em que


se dirimisse a dita questão de constitucionalidade – sempre beneficiaria
do prazo estipulado no nº3 do art. 1817º do CC, na medida em que não se
mostrava decorrido, à data da propositura da acção, o prazo de 3 anos
para a propor, contado do conhecimento do resultado de testes de ADN
que juntou com a petição inicial, sustentando que tal extensão do prazo
resultaria de factos alegados na petição, criticando a decisão das
instâncias que dirimiu a questão da caducidade no despacho saneador.
Na verdade, incumbe ao A. a alegação dos factos constitutivos da contra
excepção de caducidade, resultante da previsão do nº 3 , al. b),do
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art.1817º do CC, ao alongar o prazo geral quando o investigante só tenha


tido conhecimento, após o decurso do prazo previsto no n.º 1, de factos
ou circunstâncias que justifiquem a investigação: ou seja, cabe ao
investigante o ónus de alegar os factos que demonstrem que – só após ter
decorrido o prazo de 10 anos sobre a respectiva maioridade – teve
conhecimento de facto ou circunstância essencial e decisiva para
desencadear a propositura da acção, já que não era exigível que a tivesse
proposto antes de ter adquirido conhecimento do facto – subjectivamente
superveniente - invocado.
E o momento processualmente adequado para invocar tais factos,
consubstanciadores de uma verdadeira contra excepção, paralisando o
efeito extintivo do direito que normalmente decorreria do esgotamento do
prazo regra - era naturalmente o da apresentação da resposta à excepção
de caducidade, deduzida pelo A. na contestação, cabendo ao R. o ónus
de – ainda que a título subsidiário, relativamente à tese da
imprescritibilidade da acção – alegar que só tardiamente teve acesso a
factualidade fundamental para viabilizar a proposição da acção de
reconhecimento judicial da paternidade.
Ora, percorrido o teor da dita resposta à excepção de caducidade, a fls.
123 e segs., verifica-se que tal peça processual é absolutamente silente
sobre a matéria da referida contra excepção, não contendo a menor
referência a qualquer facto ou circunstância que pudesse representar ou
traduzir a invocação de um relevante conhecimento tardio de factos ou
circunstâncias decisivamente relevantes para apurar do reconhecimento
da paternidade.
E não se diga que tal factualidade essencial foi adequadamente alegada
logo na petição inicial, em antecipada defesa à provável dedução pelo R.
da excepção de caducidade – não bastando obviamente a mera referência
a resultados de um estudo de genoma, junto em CD, para integrar a
matéria subjacente à previsão normativa da referida al. b) do nº 3 ; como
bem refere o acórdão recorrido, efectivamente, como vimos, tendo
decorrido o prazo-regra de 10 anos e, portanto, tendo caducado o direito
de o autor poder instaurar acção para reconhecimento da paternidade de
sua mãe, a possibilidade que o n.º 3 do artigo 1817.º do CC prevê de
propor a acção no prazo de 3 anos contados a partir do conhecimento
superveniente àquele prazo, depende da alegação de factos ou
circunstâncias que possibilitem e justifiquem a investigação mercê do
mesmo, sendo esses naturalmente factos essenciais pois deles depende a
possibilidade de o investigante exercer o direito que invoca, decorrido
que está o prazo-regra que a lei lhe assinala para o efeito.
Assim, pretendendo exercer o direito com este fundamento, ao autor
incumbia alegar que só naquele momento teve conhecimento de quem era
o seu presumível avô. Como vimos, não foi isso que se passou já que o
autor, salvo o devido respeito, confunde factos com meios de prova.
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Efectivamente, não é o facto de o autor ter tido conhecimento do


resultado dos testes de ADN só naquele momento que lhe impossibilitava
o exercício do direito anteriormente, já que a viabilidade da acção não
dependia daqueles testes. Tanto assim, que o autor alegou os factos
pertinentes a poder demonstrar a verificação das presunções de
paternidade constantes das alíneas a), c) e e) do n.º 1 do artigo 1871.º do
CC, aduzindo ainda ser possível demonstrar a filiação biológica para o
que requereu na petição inicial, como meio de prova, a realização de
estudo comparativo de ADN junto do INML.
Não tendo, deste modo, o A., na sua estratégia processual (que consistiu
fundamentalmente em questionar a constitucionalidade de quaisquer
regimes limitativos no tempo da possibilidade de investigar a
paternidade), invocado, de forma consistente e adequada, factos ou
circunstâncias que tornassem admissível a propositura tardia da acção
(demonstrando que, sem o respectivo conhecimento, não seria possível ou
exigível a proposição da acção), integradores de uma verdadeira contra
excepção de caducidade, nenhuma censura merece a decisão que
conheceu imediatamente de tal matéria, sem necessidade de produção de
outras provas.

6. Nestes termos e pelos fundamentos apontados nega-se provimento à


revista, confirmando inteiramente o acórdão recorrido.
Custas pelo recorrente.

Lisboa, 9 de Março de 2017

Lopes do Rego (Relator)


Távora Victor
Silva Gonçalves
______________

[1] Doravante abreviadamente designado CC.


[2] Cfr. Acórdão do STJ, de 29-11-2012, processo 367/10.2TBCBC-A.G1.S1, citando a síntese
efectuada no Acórdão recorrido.
[3] Acórdão do Tribunal Constitucional n.º 23/2006, de 10 de Janeiro de 2006, publicado no D.R., I
Série, de 08-02-2006.
[4] Doravante abreviadamente designada CRP.
[5] Cfr. o recente Acórdão desta Relação do passado dia 21 de Abril , em que a ora Relatora foi
primeira Adjunta, proferido no processo 1339/14.3TBPTM.E1, que seguiremos de perto.
[6] Cfr. o citado Acórdão desta Relação.
[7] Cfr. exemplificativamente, para além dos citados pelo Recorrente, os Acórdãos STJ de 16-09-
2014, processo 973/11.8TBBCL.G1.S1; e de 16-01-2014, processo 905/08.0TBALB.P1.S1, citando

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08/11/2020 Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça

no mesmo sentido o Acórdão proferido no processo 187/09.7TBPFR.P1.S1ambos disponíveis em


www.stj.pt.
[8] Cfr. exemplificativamente, ainda anteriormente aos acórdãos citados pela Mm.ª Juíza na sentença
recorrida, as decisões do Tribunal Constitucional proferidas nos acórdãos nºs 24/2012 de 17-01-2012 e
247/2012 de 22-05-2012, e posteriormente, os acórdãos nº 547/2014, de 15-07-2014, e 704/2014, de
28-10-14.
[9] Cfr. Acórdãos STJ de 15-05-2014, processo 3444/11.9TBTVD.L1.S1; de 18-02-2015, processo
4293/10.7TBSTS.P1.S1; de 28-05-2015, processo 2615/11.2TBBCL.G2.S1; de 22-10-2015, processo
1292/09.5TBVVD.G1.S1; de 03-11-2015, processo 253/11.9TBVZL.L1.S1; e de 17-11-2015,
processo 30/14.5TBVCD.P1.S1, todos disponíveis em www.dgsi.pt.
[10] Cfr. respectivamente, citados Acórdãos de 17-11-2015 e 22.10.2015.
[11] Cfr. citado Acórdão deste Tribunal.
[12] Cfr. citado Acórdão do STJ de 15-05-2014.
[13] Cfr. Ac. STJ de 22-10-2015, Revista n.º 2844/09.9T2SNT.L2.S1 - 7.ª Secção.

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