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Aula 9 Ação de investigação de paternidade

Caso: Nizete que nasceu em 2005, foi criada por sua mãe Beatriz e sua avó Olga. Quando
Nizete perguntava sobre o pai, Beatriz desconversava ou caía em prantos, dizendo que
ela e a avó eram a família de Nizete e sugerindo que a filha seria ingrata por não
reconhecer os esforços das duas para lhe oferecerem tudo o que podiam.
Nizete se sentia culpada, mas a dúvida sobre quem era seu pai continuava a lhe inquietar.
Um dia, em conversa com sua madrinha Sara, esta lhe revelou que Beatriz, quando disse
ao pai de Nizete que estava grávida, foi rechaçada: Edgar disse que não se
responsabilizaria e sua família não aceitaria a filha de uma faxineira. Humilhada, Beatriz
se demitiu da residência dos Sampaio Cotrim e nunca mais procurou Edgar.
Após muito pensar, Nizete resolveu ir atrás de seu pai biológico, pois não achava justo
passar por tantas dificuldades enquanto o pai pertencia a uma família abastada e poderia
lhe ter dado condições de vida muito mais favoráveis.
Ao bater à porta dos Sampaio Cotrim, foi atendida pelo próprio Edgar, hoje, já
aposentado. Quando Nizete lhe explicou a que viera, Edgar se enfureceu, alegando tratar-
se de uma interesseira que apenas visava o lucro fácil. Nizete, então, buscou resolver o
problema amigavelmente, conforme comprovam três telegramas, mas não obteve
resposta.
Nizete foi atrás de um (a) advogado (a) por estar disposta a não aceitar calada humilhação
semelhante à tolerada por sua mãe. Informa ainda que quer passar a usar o sobrenome do
pai e que, no momento, não deseja pleitear alimentos para mostrar ao pai que sua intenção
não é patrimonial.

Aula 9 Resolução Ação de investigação de paternidade


Peça: Ação de Investigação de paternidade pelo procedimento especial das ações de
família – art. 693 do CPC; a demanda será proposta por Nizete.
Fundamento: Arts. 26 e 27 da Lei n. 8.069/1990, Lei 8.560/1992 e arts. 1.607 e seguintes
do Código Civil.
Competência: Domicílio do Réu – art. 46, CPC. Mas, se no polo ativo houver um menor
(criança ou adolescente) prevalecerá o domicílio do Autor (art. 147 do ECA).
Pedido: a) a procedência integral do pedido e retificação do registro civil da autora; b) a
citação do réu...c) a produção de prova... d) condenação do réu no ônus da sucumbência
e) que o processo corra em segredo de justiça (art. 189, II, CPC).
Valor da Causa: R$ 1.000,00 (valor de alçada)
Obs. No caso em espécie, outras decorrências poderiam ser pertinentes, como a
cumulação com o pedido de alimentos. No entanto, a autora manifestou que, por
enquanto, não deseja.
Modelo de petição
EXCELENTÍSSIMO JUIZ DE DIREITO DA ___a VARA DE FAMÍLIA E
SUCESSÕES DO FORO DA COMARCA DE (domicílio do réu – regra geral, CPC/2015,
art. 46)

NIZETE (sobrenome), solteira, do lar, portadora do RG (número) e do CPF


(número), usuária do endereço eletrônico (e-mail), residente e domiciliada nesta cidade,
em (endereço), vem, respeitosamente, por seu advogado (mandato anexo), ajuizar a
presente

AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE


PELO PROCEDIMENTO ESPECIAL DAS AÇÕES DE FAMÍLIA

em face de EDGAR SAMPAIO COTRIM, casado, aposentado, portador do RG (número)


e do CPF (número), usuário do endereço eletrônico (e-mail), residente e domiciliado nesta
comarca, em (endereço), com fundamento nos arts. 26 e 27 da Lei 8.069/90, na Lei
8.560/92 e nos arts. 1.607 e seguintes do Código Civil, pelos fundamentos fáticos e
jurídicos a seguir expostos.

I – DOS FATOS
A autora nasceu em 10 de outubro de 2005 e foi registrada unicamente pela mãe,
Beatriz (sobrenome), sendo declarado desconhecido o pai, segundo certidão de
nascimento anexa. A autora foi criada sem nenhuma informação a respeito de quem era
seu pai.
Sua madrinha, a senhora Sara (sobrenome), amiga de infância da genitora,
informou-lhe apenas recentemente a identidade de seu pai. A mãe da autora e o réu
mantiveram, secretamente, relacionamento amoroso pelo período de um ano e meio,
segundo atestam as cartas anexas a esta petição; esse fato pode também ser comprovado
por pessoas que os conheceram à época.
A autora procurou o réu tão logo soube de sua ascendência, mas foi imediatamente
rechaçada por ele sob a alegação de que intentava mero enriquecimento às suas custas e
que, idoso, não ia permitir ter seu patrimônio dilapidado.
Tendo procurado auxílio jurídico, a autora buscou resolver o problema
amigavelmente, convidando o réu para uma sessão de mediação, conforme comprovam
os três telegramas anexos; como não obteve resposta, não lhe resta outra via senão o
socorro do Poder Judiciário.

II – DO DIREITO
Assiste à autora o direito a ter reconhecido seu vínculo de filiação para com o réu.
Afinal, segundo o art. 27 da Lei 8.069/90, “o reconhecimento do estado de filiação é
direito personalíssimo, indisponível e imprescritível”.
É pacífico hoje, na doutrina e na jurisprudência pátrias, o reconhecimento de que o
conhecimento da origem genética integra o rol dos direitos da personalidade. Em
precedente relevante da lavra da Ministra Nancy Andrighi, ficou assentado que:
Os direitos da personalidade, entre eles o direito ao nome e ao conhecimento
da origem genética são inalienáveis, vitalícios, intransmissíveis,
extrapatrimoniais, irrenunciáveis, imprescritíveis e oponíveis erga omnes.
(...) O direito à busca da ancestralidade é personalíssimo e, dessa forma,
possui tutela jurídica integral e especial, nos moldes dos arts. 5.º e 226,
da CF/88. (STJ, REsp 807.849/RJ, 2.ª Seção, Rel. Min. Nancy Andrighi, j.
24 mar. 2010, DJ 06 ago. 2010.)

Na hipótese dos autos, há subsídios concretos que demonstram o relacionamento do


réu com a genitora da autora. Além disso, quando procurado, o réu não recusou ter se
relacionado com Beatriz, nem ser pai da autora: ele apenas a rechaçou afirmando que ela
buscaria “lucro fácil” e afirmando que sua família jamais aceitaria a filha de uma
faxineira.
Será essencial a prova do vínculo genético para atestar o liame biológico entre as
partes.
A autora infelizmente jamais contou com uma figura paterna, não tendo em seu
registro a indicação de um pai registral nem uma pessoa com quem tenha desenvolvido
um vínculo socioafetivo.

III – DOS PEDIDOS E REQUERIMENTOS


Pelo exposto, pede e requer a autora:

a) a procedência integral do pedido, para declarar que a autora é filha do réu, com a
consequente retificação do registro civil da autora, devendo constar de sua certidão de
nascimento ser filha do Sr. Edgar Sampaio Cotrim e ser agregado ao seu nome o prenome
Sampaio Cotrim;
b) a citação do réu por oficial de justiça para comparecer à audiência de mediação a
ser designada por esse juízo;
c) a produção de prova documental, testemunhal e especialmente pericial (exame de
DNA), além do depoimento pessoal do réu;
d) que o processo corra em segredo de justiça (CPC, art. 189, II).
e) a condenação do réu no ônus da sucumbência.
Dá-se à causa o valor de R$ 1.000,00 (mil reais) para fins de distribuição.

Termos em que pede deferimento.

Cidade, data, assinatura, OAB.

Extraído do Livro Processo Civil no Direito de Família. Fernanda Tartuce. 4 ed., 2019.
P. 514 a 518, com adaptações.

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