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Observação: importante frisar que o STJ sedimentou o entendimento de que, em
conformidade com os princípios do Có digo Civil de 2002 e da Constituiçã o Federal de 1988,
o sucesso da ação negatória de paternidade, depende da demonstraçã o, a um só tempo:
a) da inexistência de origem biológica (demonstrada com exame de DNA negativo); b) de
que não tenha sido constituído o estado de filiação socioafetiva, edificado, na maioria das
vezes, pela convivência familiar; e c) demonstração inequívoca de vício de consentimento
do pai registral no momento do registro ( leia mais nesse artigo).
GERALDO , idoso com 69 anos e gravemente enfermo, brasileiro, viú vo, aposentado,
portador do RG nº ______, e inscrito no CPF/ MF sob nº _______, telefone ________, e e-mail
________, residente e domiciliado à RUA ___, Nº _____- JARDIM ____, na cidade de _______, estado
de ________, através de seu advogado infra-assinado (procuraçã o anexa - Doc. 01), com
escritó rio profissional no endereço abaixo impresso, onde recebe intimaçõ es e notificaçõ es,
vem respeitosamente à honrosa presença de Vossa Excelência propor a presente
I- DOS FATOS:
Em meados de 2017, o Autor, entã o viú vo e contando com 68 (sessenta e oito) anos
conheceu a jovem ADRIANA ______, há época com 32 (trinta e dois) anos, sua entã o vizinha,
com quem passou a manter relaçõ es íntimas e esporá dicas.
Ato contínuo, referida jovem comunicou ao Autor que estava grávida, atribuindo-lhe a
paternidade.
Em 04 de maio de 2018, adveio o nascimento da Requerida MARIA ______ (certidã o de
nascimento anexa - Doc.03).
Pressionado pela genitora da Requerida e por motivos de ordem moral e social e diante da
possibilidade de que fosse o pai bioló gico, o Requerente foi induzido a erro, e nesta
contingência, a registrou como filha.
No entanto, com o passar do tempo, vá rios acontecimentos vieram a contribuir para que o
Autor passasse a desconfiar de que nã o era, de fato, o pai bioló gico da Requerida.
Para surpresa do Requerente, logo que este registrou a criança como sua filha, a genitora
da Requerida estreitou, ainda mais, relacionamento com um antigo companheiro.
Cumpre frisar que o Requerente é pessoa totalmente estranha à Requerida, sendo certo,
inclusive, que o Autor e sua família, no que pese o pouco contato com a criança, nã o
reconhecem nenhum traço de semelhança física entre eles e a Requerida.
Acredita agora o Autor que foi “escolhido” para pai, em virtude de, na época dos fatos,
embora com idade avançada, estar empregado, somando-se ao seu salá rio valor que
recebia a título de aposentadoria, gozando, assim, de status superior a média das pessoas
do círculo de relacionamento da genitora da Requerida.
Frise-se, por oportuno, que a genitora da Requerida possui outros 02 (dois) filhos com seu
ex-companheiro, que se desconfia o real pai bioló gico da Requerida, razã o pela qual,
atribuir-lhe mais uma paternidade, pouca ou nenhuma vantagem econô mica traria à mã e
da Requerida.
No entanto, na presente data, recebe o Autor somente o valor líquido mensal de R$ ____
(_______) à título de aposentadoria, estando impossibilitado de exercer qualquer atividade
laboral remunerada tendo em vista que, nã o bastassem as pró prias limitaçõ es naturais em
decorrência da idade avançada (69 anos), está o Requerente padecendo de doença grave:
__________.
II- DO DIREITO
Importante reiterar que o Autor, no momento do registro, acreditava ser ele o pai bioló gico
da Requerida. Em nenhum momento registrou a Requerida sabendo que nã o era seu pai.
Evidente, portanto, o erro e o vício no consentimento, o que torna possível o presente
pedido, posto que presentes a legitimidade e o interesse de agir.
Afastada, portanto, a limitaçã o esculpida no art. 1.609 do Có digo Civil, aplicá vel apenas nos
casos onde a parte, espontaneamente, mesmo sabendo da inexistência do vínculo,
reconhece como seu, filho alheio.
A hipó tese tratada nos presentes autos é justamente oposta, pois o Autor acreditava ser
realmente o pai bioló gico da Requerida.
O artigo 1.604 do Có digo Civil ressalva que “ninguém pode vindicar estado contrá rio ao que
resulta do registro de nascimento, salvo provando-se erro ou falsidade do registro”,
justamente o caso em tela.
Tal preceito é no sentido que deve prevalecer a verdade real sobre a formal, de modo que o
reconhecimento voluntá rio nã o inibe o seu exercício pelo perfilhante, que por defeito do
ato jurídico, quer por nã o espelhar a verdade. Trata-se de irrevogabilidade vitanda que
impede a retraçã o pura e simples do ato, mas nã o a sua anulaçã o por meio de decisã o
judicial (artigos 1º da Lei nº 8.560/92, 1.604 do Có digo Civil de 2002 e 113 da Lei de
Registros Publicos).
Informa ainda o Autor que nã o sente arrependimento, mas sim insegurança quanto à
paternidade assumida, receando pelos efeitos deletérios que o descobrimento tardio da
paternidade bioló gica possa causar à infante, hoje com apenas 07 (sete) meses de vida. A
tenra idade da Requerida demonstra, inclusive, que não se criou vínculo afetivo
entre as partes, sendo este, o melhor momento para se buscar a verdade sobre a
paternidade.
Conforme doutrina do operoso magistrado JORGE LUIS COSTA BEBER (in, “Açã o negató ria
de paternidade aforada por pai registral ou reconhecido judicialmente”, Revista da AJURIS,
nº 73, Porto Alegre, p.202), a norma jurídica precisa ir ao encalço dos avanços científicos
relacionados com a matéria familiar, sobretudo no campo da genética, verbis:
“A identificação digital genética do DNA constitui valiosíssimo recurso na distribuição da justiça, rápida e justa,
possibilitando considerável economia de tempo e dinheiro. Destarte, diante da certeza que dimana do exame
científico pelo sistema DNA, reconhecida tanto na doutrina como na jurisprudência, não vejo como manter, em
sede de ações declaratórias negativas, tanto da paternidade como da maternidade, o pensamento jurídico vigente
a mais de oitenta anos atrás, época em que foi promulgado o vetusto Código Civil Brasileiro. (...) É que, na verdade,
não há como continuar sustentando uma aparente verdade, em desfavor de uma prevalente verdade biológica; No
caso concreto, o que houve, foi uma declaração de vontade não correspondente ao verdadeiro ato volitivo do pai
registral, pois agiu de modo contrário ao que certamente agiria se conhecesse, na época do registro, a verdade
sobre a concepção; Interessa ao Estado manter uma formalidade registral falsa (mesmo que por erro) em
detrimento de uma verdade biológica? Acredito que não”.
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