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AO JUÍZO DA 2ª VARA DE FAMÍLIA E DE ÓRFÃOS E SUCESSÕES DA CIRCUNSCRIÇÃO

JUDICIÁRIA DE SAMAMBAIA/DF

Autos n°: 0706821-77.2023.8.07.0009

VITOR FELIPE DOS SANTOS OLIVEIRA, brasileiro, casado,


industriá rio, portador do RG nº 1.123.760.785 SSP/DF, inscrito no CPF sob o nº
040.720.600-03, residente e domiciliado na Rua Bonfilho de Rocco, nº 200, apartamento
302, Marau/RS, CEP nº 99165-000, telefone: (54) 9 9231-8459, endereço eletrô nico:
vitorfelipe1776@gmail.com, vem a esse Juízo, por intermédio da DEFENSORIA
PÚBLICA DO DISTRITO FEDERAL, apresentar

CONTESTAÇÃO

à açã o de Alimentos Gravídicos que lhe move ANA LUÍZA FEITOSA DA SILVA, já
qualificada nos autos, o que faz nos seguintes termos.

Da gratuidade de justiça

De início, declara-se pobre, na acepçã o jurídica do termo, nã o podendo


arcar com as custas, as despesas processuais e os honorá rios advocatícios, fazendo jus à
GRATUIDADE DE JUSTIÇA, nos termos do artigo 5º, inciso LXXIV, da Constituiçã o da
Repú blica, e artigo 98, §1º, do Có digo de Processo Civil vigente.
Da síntese processual

Trata-se de demanda em que pretende a Autora seja o Réu condenado a


lhe prestar alimentos gravídicos no valor equivalente a 40% (quarenta por cento) de
seus rendimentos brutos e, apó s o nascimento com vida da criança, requereu a
conversã o dos alimentos gravídicos em alimentos definitivos em favor do menor.

Para tanto, alega que se casou com o Réu em 15 de julho de 2022, sob o
regime de comunhã o universal de bens e que durante a sociedade conjugal mantiveram
prá tica de relaçõ es sexuais sem o uso de métodos contraceptivos, e que deste
relacionamento resultou na gravidez da Autora, que conta com idade gestacional de dois
meses quando do ajuizamento da açã o.

Informa que se separaram de fato em 03 de abril de 2023, bem como


que durante o casamento nã o manteve relaçã o sexual com outro homem, nã o havendo,
portanto, chances de que outro seja o pai do nascituro.

Por fim, pugnou pela fixaçã o de alimentos gravídicos à razã o de 40%


(quarenta por cento) dos rendimentos brutos do requerido. Requereu a procedência dos
pedidos.

Os alimentos provisó rios foram fixados à razã o de 20% (vinte por


cento) dos rendimentos brutos do demandado, nos termos da decisã o interlocutó ria ID
160654531.

Regularmente citado, o Requerido constituiu a Defensoria Pú blica para


o patrocínio dos seus interesses.

É a síntese do necessá rio.

Da improcedência do pedido de fixação de alimentos e do pedido


contraposto

Inicialmente, o Demandado se opõ e aos termos da exordial, uma vez


que possui dú vidas acerca da paternidade a ele imputada, conforme passa a expor.

É preciso esclarecer, desde logo, que apesar dos litigantes serem


casados, estã o separados de fato, e o motivo da dú vida acerca da paternidade do
nascituro se dá em razã o dos vizinhos do Requerido informarem que a Autora sempre
saia à noite quando este estava trabalhando no período noturno, todavia, essas saídas
nã o eram comunicadas ao Demandado, o que gera grande estranheza, pois a
Demandante sempre informava que estava em casa, logo, levanta-se dú vida acerca da
fidelidade da Requerente durante o casamento.

Outrossim, destaca-se que os litigantes tiveram um desentendimento e


terminaram o relacionamento, o que ocasionou a viagem da Requerente para Brasília em
06/12/2022.

Em 22 de março de 2023 a Demandante descobriu a gravidez e reatou


relacionamento com o Requerido, todavia, a relaçã o nã o perdurou por mais tempo,
considerando as diversas discussõ es do casal, optaram por se separar.

Outro ponto que levanta dú vida acerca da fidelidade da Requerente é


que em meados do ano de 2022, o Demandado descobriu que sua ex-esposa estava
conversando de forma carinhosa com outro homem, conforme mensagens anexas,
demonstrando, por tanto, que esta nã o cumpriu com todos os deveres conjugais do
casamento, nã o havendo motivos há beis para fixar alimentos gravídicos a seu favor,
sendo certo que nã o está claro se o Réu é realmente genitor da criança.

Ademais, a alegaçã o da Requerente se baseia meramente em


conjecturas que sã o altamente contestá veis, nã o havendo qualquer elemento concreto
que comprove que o demandado é o genitor. A esse respeito, dispõ e o art. 1.605, inciso
II, do Có digo Civil, que poderá provar-se a filiaçã o por qualquer modo admissível em
direito quando existirem veementes presunçõ es resultantes de fatos já certos.

Na hipó tese em tela, nã o há qualquer fato certo que faça presumir a


paternidade que se busca imputar ao Requerido. Ao revés, o Requerido tem claras
dú vidas acerca da paternidade do nascituro, considerando a separaçã o de fato ocorrida
e os fatos narrados.

Nã o obstante, o Réu nã o se opõ e à realizaçã o do exame técnico pericial


de DNA, a fim de confirmar, de forma inequívoca, a inexistência do vínculo paterno-filial
entre o Requerido e o nascituro.
Ademais, ainda que a demanda trate de alimentos gravídicos
regulamentados pela Lei nº 11.804/2008, os quais sã o necessá rios para a cobertura de
despesas adicionais decorrentes da gravidez, nã o se pode perder de vista que sua
fixaçã o deve obedecer a regra geral da proporcionalidade alimentar prevista no art.
1.694, §1º, do Có digo Civil, in verbis:
Art. 1.694. Podem os parentes, os cô njuges ou companheiros pedir uns
aos outros os alimentos de que necessitem para viver de modo
compatível com a sua condiçã o social, inclusive para atender à s
necessidades de sua educaçã o.
§ 1 o Os alimentos devem ser fixados na proporção das
necessidades do reclamante e dos recursos da pessoa obrigada.
(Grifado)

Nesse descortino, a fixaçã o dos alimentos deve respeitar o trinô mio


necessidade x possibilidade x proporcionalidade, visto que fixar alimentos acima da
possibilidade do Demandado é onerá -lo de forma desproporcional.

Outrossim, o Requerido trabalha como operador de produçã o,


auferindo renda mensal aproximada no valor de R$2.300,00 (dois mil e trezentos reais)
conforme contracheque anexo ID 169616356 (pá g. 05), tendo que arcar mensalmente
com as despesas de seu lar. As despesas fixas que o Requerido possuí sã o relativas ao
pagamento do financiamento da casa pró pria (R$530,00), abastecimento de á gua,
fornecimento de luz e condomínio (R$310,00), alimentaçã o + higiene (R$400,00),
despesas com gasolina para deslocamento para o trabalho, pois mora na cidade de
Marau e trabalha na cidade vizinha, Camargo, e demais despesas comuns do dia a dia.

Por outro lado, à míngua de qualquer comprovaçã o, a Autora deixou de


comprovar os gastos mensais extras que possui em decorrência da gravidez, bem como
sabe que a Autora é pessoa apta ao trabalho, nã o possui gestaçã o de risco, nã o trabalha
por opçã o, pois reside com os avó s aposentados, bem como os pais dã o todo o suporte
material que precisa.

Certo, ademais, que o Alimentante nã o possuí capacidade financeira


suficiente para arcar com os alimentos pleiteados, pois a fixaçã o no patamar pretendido
comprometeria muito de sua renda, e considerando suas demais despesas mensais, pode
até levá -lo à insolvência.
Sobre o tema, segue entendimento do Egrégio Tribunal de Justiça do
Distrito Federal e dos Territó rios:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. ALIMENTOS GRAVÍDICOS. BINÔ MIO


NECESSIDADES/POSSIBILIDADES. RAZOABILIDADE E
PROPORCIONALIDADE. REDUÇÃ O. A Lei nº 11.804/2008 garante à
mulher o direito de receber alimentos referentes a parte das despesas
adicionais do período de gravidez e que sejam dela decorrentes, da
concepçã o ao parto. Na fixação dos alimentos gravídicos devem ser
observadas as necessidades da mulher grávida e as possibilidades
do futuro pai, visando garantir que a primeira receba auxílio
destinado à cobertura dos dispêndios adicionais decorrentes da
gravidez, mencionados sem caráter exaustivo pelo legislador.
Todavia, não pode o alimentante ser compelido a arcar com ônus
superior ao possível, devendo os alimentos gravídicos obedecer à
regra geral da proporcionalidade alimentar prevista no artigo
1.694, § 1º, do Código Civil. (Acó rdã o 1384061,
07306248720218070000, Relator: ESDRAS NEVES, 6ª Turma Cível,
data de julgamento: 3/11/2021, publicado no DJE: 17/11/2021. Pá g.:
Sem Pá gina Cadastrada.) (Grifado)

AGRAVO DE INSTRUMENTO. ALIMENTOS GRAVÍDICOS. LEI Nº


11.804/2008. FIXAÇÃ O. POSSIBILIDADE. BINÔ MIO NECESSIDADE E
POSSIBILIDADE. DECISÃ O MANTIDA. 1. Na presente hipó tese o
recorrente pretende obtrer a reduçã o da prestaçã o de alimentos
gravídicos deferidos em favor da agravada. 2. Ressalte-se que a
prestaçã o de alimentos gravídicos em desfavor do hipotético genitor
deve ser constituída com suporte em elementos probató rios mínimos,
nos termos do art. 6º da Lei nº 11.804/2008. 3. No caso dos autos, a
partir dos documentos que instruem a petiçã o inicial, é possível inferir
nã o só a existência de relacionamento amoroso entre as partes, mas
também a declaraçã o feita pelo pró prio recorrente de que pode ser ele
mesmo o pai do nascituro. 4. Verifica-se que no atual momento do curso
do processo nã o há a necessidade de demonstraçã o cabal da
paternidade. Portanto, os referidos elementos probató rios sã o
suficientes para constituir a prestaçã o de alimentos gravídicos em favor
da recorrida. 5. Em relaçã o ao valor dos alimentos, o parâ metro para a
respectiva fixaçã o deve pautar-se, sobretudo, nos elementos
probató rios produzidos em relaçã o à condiçã o econô mica do devedor
dos alimentos, sua posiçã o social e econô mica, dentre outros fatores. 6.
Registre-se que o valor da prestaçã o de alimentos deve levar em
consideraçã o a necessidade do custeio de atividades inerentes aos
cuidados exigidos pela gestaçã o da recorrida. 7. Agravo conhecido e
desprovido.
(Acó rdã o 1236396, 07196393020198070000, Relator: ALVARO
CIARLINI, 3ª Turma Cível, data de julgamento: 4/3/2020, publicado no
PJe: 16/3/2020. Pá g.: Sem Pá gina Cadastrada.) (Grifado)

Nessa esteira, considerando as dú vidas levantadas pelo Requerido


acerca da paternidade que lhe é imputada, requer a improcedência do pedido de fixaçã o
de alimentos gravídicos, bem como requer, em sede pedido contraposto e apó s o
nascimento com vida da criança,a realizaçã o de exame técnico pericial de DNA, a fim de
averiguar a paternidade ora discutida.

Subsidiariamente, na hipó tese de restar comprovado que a criança é


filha do Requerido, atendo-se à s necessidades desta, bem como à s possibilidades do Réu,
à luz do princípio da necessidade x possibilidade x proporcionalidade, requer a parcial
procedência do pedido, no sentido de que ocorra a fixação dos alimentos
gravídicos à razão de 10% (dez por cento) de seus rendimentos brutos.

Do pedido de reconsideração da Decisão interlocutória ID


160654531

Compulsando os autos verifica-se que este Juízo fixou alimentos


provisó rios no valor equivalente a 20% (vinte por cento) dos rendimentos brutos do
Requerido, o que totaliza o montante de R$576,99 (quinhentos e setenta e seis reais e
noventa e nove centavos), conforme se depreende do contracheque do Demandado
colacionado aos autos ao ID 169616356 (pá g. 05).

Conforme demostrado anteriormente, a parte Ré nã o consegue arcar


com a verba alimentar fixada provisoriamente, uma vez que um valor tã o alto como o
cobrado poderá levá -lo à insolvência, considerando que já encontra-se com suas contas
atrasadas, em especial a do cartã o de crédito, conforme documentaçã o anexa.

Da aná lise da argumentaçã o apresentada pela parte Requerida, nota-se


que a Autora tem todo amparo material de sua família, tanto de seus pais quanto avó s,
bem como nã o trabalha por opçã o, logo, nã o deve recair sobre o Demandado toda a
responsabilidade sobre os gastos provenientes da gravidez da Autora cuja a paternidade
é imputada ao Réu, sendo certo que apresentou suas dú vidas se é pai ou nã o da criança,
considerando o rompimento do dever conjugal de fidelidade da Requerente.
Nessa esteira, requer a reconsideraçã o da Decisã o Interlocutó ria ID
160654531, a fim de fixar a verba alimentar provisó ria em favor da Requerente no valor
equivalente a 10% (dez por cento) dos rendimentos brutos do Requerido.

Dos pedidos

Por todo o exposto, requer:

a) A concessã o dos benefícios da GRATUIDADE DE JUSTIÇA, nos


termos do art. 98 do Có digo de Processo Civil (declaraçã o anexa);

b) A intimaçã o do Ministério Pú blico para oficiar no feito, nos termos


da lei;

c) No mérito, seja julgado IMPROCEDENTE o pedido formulado na


inicial de fixaçã o de alimentos gravídicos em desfavor do Requerido;

d) Na ocasiã o do nascimento com vida da criança, a parte Requerida


pugna pela procedência do pedido contraposto, consubstanciado na
realizaçã o do exame de DNA, a fim de averiguar a paternidade da
criança;

e) Subsidiariamente, caso seja constatada a paternidade imputada ao


Requerido, requer a fixaçã o da verba alimentar à razã o de 10% (dez por
cento) de seus rendimentos brutos;

f) A reconsideraçã o da Decisã o Interlocutó ria ID 160654531, a fim de


fixar a verba alimentar provisó ria em favor da Requerente no valor
equivalente a 10% (dez por cento) dos rendimentos brutos do
Requerido;

g) A condenaçã o da Autora ao pagamento das custas processuais e de


honorá rios advocatícios, no percentual de 20% do valor da causa, a
serem revertidos em favor do Fundo de Aparelhamento da Defensoria
Pú blica do Distrito Federal – PRODEF (artigo 3°, inciso I, da Lei
Complementar Distrital n° 744, de 04 de dezembro de 2007 com a
redaçã o que lhe deu o artigo 3º da Lei Complementar Distrital Nº
908/2016) – e deverã o ser recolhidos junto ao Banco Regional de
Brasília S.A. – BRB, Có digo do Banco 070, Agência 100, conta bancá ria
013251-7, PRODEF.

Protesta provar o alegado por todos os meios de prova admitidos em


direito, em especial pela documentaçã o juntada e a realizaçã o do exame de DNA.

Pede deferimento.

(datado e assinado eletronicamente)

Luciana da Silva Nunes de Carvalho


Defensor Pú blico do Distrito Federal

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