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AO JUÍZO CÍVEL DA COMARCA DE ________/___

NINFADORA TONKS, brasileira, estado civil, profissã o, portadora do RG sob o nº


_____________, inscrita no CPF sob o nº ___________, residente e domiciliada no [endereço
completo], com endereço eletrô nico registrado como _____@__________.com, vem
respeitosamente à presença de Vossa Excelência, por meio de sua procuradora signatá ria,
que junta neste ato instrumento de procuraçã o com endereço profissional completo para
receber notificaçõ es e intimaçõ es, propor a presente
AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE MATERNIDADE, CUMULADA COM INDENIZATÓRA POR
ABANDONO AFETIVO, em face de
ANDRÔMEDA BLACK, brasileira, casada, empresá ria, portadora do RG sob o nº
_____________, inscrita no CPF sob o nº ___________, residente e domiciliado no [endereço
completo], com endereço eletrô nico registrado como _____@__________.com, pelas razõ es de
fato e de direito a seguir expostas:
1. DOS FATOS
A requerente nasceu em [data], contando atualmente com xxxxx anos de idade, é filha de
[NOME DO PAI] e supostamente filha da requerida.
A concepçã o da requerente aconteceu em decorrência do casamento do seu pai e sua mã e
no ano de 19xx, sendo que apó s o casamento, sua suposta mã e foi entã o deserdada pela sua
família, e para ser novamente aceita pela Casa Black, abandonou a Requerente com seu pai.
O primeiro contato da requerente com a suposta mã e foi no ano de 20xx, quando contatou
por meio de ligaçã o telefô nica, nessa oportunidade contou toda a histó ria e o mesmo
prontamente manifestou interesse na realizaçã o do exame de DNA. Todavia, a requerida
vem se esquivando para efetivamente realizar o exame, bem como tem evitado contato com
a requerente.
Em 20xx, a requerida prometeu que, estabilizando o quadro saú de pú blica decorrente da
pandemia, procuraria a suposta filha para realizar o exame, fato que fora compreendido
pela requerente.
Infelizmente, essa foi somente uma manobra para ganhar tempo e nã o realizar o exame,
considerando que depois do período de pandemia a requerente entrou em contato para
realizar o exame e passou a ser ignorada.
A requerente claramente buscou meios de resolver administrativamente, por meio do
exame, o seu direito em ter o reconhecimento materno, porém, tem sido ignorada pela
requerida.
Todo esse distanciamento proposital por parte da requerida privou a requerente do
convívio familiar materno, inclusive com os filhos da requerida, supostos irmã os da
requerente.
A ausência de referencial materno acarretou em diversas sequelas à requerente na vida
adulta, principalmente em relaçã o aos relacionamentos amorosos, nã o conseguindo manter
a estabilidade, sentindo-se traída e abandonada por seus companheiros, que só existiam na
sua mente, culminando sempre no término dos relacionamentos e consequentemente
sendo obrigada a arcar sozinha com os cuidados das suas filhas.
Além disso, a requerida sempre gozou de uma excelente condiçã o financeira, e a
requerente foi privada de uma vida melhor, de uma educaçã o melhor, como por exemplo
pelo fato de sempre ter estudado em escolas pú blicas e nã o ter tido a oportunidade de
cursar faculdade, diferente dos outros filhos da requerida.
Cumpre salientar que a requerente trabalha como aurora, de onde provém o sustento de
suas três filhas menores, leva uma vida bastante diferente daqueles filhos que tiveram
referencial materno e financiamento estudantil pela genitora.
A requerida, por outro lado, exerce atividade empresarial em vá rios segmentos:
supermercados, hotéis, postos de combustíveis e agropecuá ria, sendo patente a diferença
das suas condiçõ es financeiras, que se mostram muito superiores.
Assim sendo, necessá ria se faz a propositura da presente demanda, requerendo-se o total
provimento dos pedidos de mérito.
2. DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS
a) DO DIREITO DE TER RECONHECIDO O VÍNCULO DE FILIAÇÃO BIOLÓGICA – MÃE
BIOLÓGICA QUE SE FURTA DE SUAS OBRIGAÇÕES
Assiste à requerente o direito de ter reconhecido seu vínculo de filiaçã o para com a
requerida. Afinal, segundo o art. 27 da Lei 8.069/90, “o reconhecimento do estado de
filiação é direito personalíssimo, indisponível e imprescritível”.
O direito de reconhecimento da filiaçã o bioló gica é amparado pelo ordenamento jurídico
brasileiro, sendo um direito indisponível.
A Constituiçã o Federal prevê em seu art. 227, § 6º:
Art. 227 (...)
§ 6º - Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações,
proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação.

O Có digo Civil também assegura a imprescritibilidade da filiaçã o:


Art. 1.606. A ação de prova de filiação compete ao filho, enquanto viver, passando aos herdeiros, se ele morrer
menor ou incapaz.
Parágrafo único. Se iniciada a ação pelo filho, os herdeiros poderão continuá-la, salvo se julgado extinto o processo.

A jurisprudência já se manifestou quanto a imprescritibilidade da filiaçã o, conforme


adotado na seguinte ementa de acó rdã o do Supremo Tribunal Federal:
EMENTA RECURSO EXTRAORDINÁRIO. DIREITO PROCESSUAL CIVIL E CONSTITUCIONAL. REPERCUSSÃO GERAL
RECONHECIDA. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE DECLARADA EXTINTA, COM FUNDAMENTO EM COISA
JULGADA, EM RAZÃO DA EXISTÊNCIA DE ANTERIOR DEMANDA EM QUE NÃO FOI POSSÍVEL A REALIZAÇÃO DE
EXAME DE DNA, POR SER O AUTOR BENEFICÁRIO DA JUSTIÇA GRATUITA E POR NÃO TER O ESTADO
PROVIDENCIADO A SUA REALIZAÇÃO. REPROPOSITURA DA AÇÃO. POSSIBILIDADE, EM RESPEITO À PREVALÊNCIA
DO DIREITO FUNDAMENTAL À BUSCA DA IDENTIDADE GENÉTICA DO SER, COMO EMANAÇÃO DE SEU DIREITO DE
PERSONALIDADE. 1. É dotada de repercussão geral a matéria atinente à possibilidade da repropositura de ação de
investigação de paternidade, quando anterior demanda idêntica, entre as mesmas partes, foi julgada
improcedente, por falta de provas, em razão da parte interessada não dispor de condições econômicas para
realizar o exame de DNA e o Estado não ter custeado a produção dessa prova. 2. Deve ser relativizada a coisa
julgada estabelecida em ações de investigação de paternidade em que não foi possível determinar-se a efetiva
existência de vínculo genético a unir as partes, em decorrência da não realização do exame de DNA, meio de
prova que pode fornecer segurança quase absoluta quanto à existência de tal vínculo. 3. Não devem ser
impostos óbices de natureza processual ao exercício do direito fundamental à busca da identidade genética,
como natural emanação do direito de personalidade de um ser, de forma a tornar-se igualmente efetivo o
direito à igualdade entre os filhos, inclusive de qualificações, bem assim o princípio da paternidade responsável.
4. Hipótese em que não há disputa de paternidade de cunho biológico, em confronto com outra, de cunho afetivo.
Busca-se o reconhecimento de paternidade com relação a pessoa identificada. 5. Recursos extraordinários
conhecidos e providos. (STF - RE: 363889 DF, Relator: DIAS TOFFOLI, Data de Julgamento: 02/06/2011, Tribunal
Pleno, Data de Publicação: 16/12/2011)

Diante do exposto, tendo em vista que mesmo ciente da maternidade, a requerido recusa-se
a registrar a requerente, inclusive a realizar o exame de DNA de forma administrativa,
necessá ria a sua realizaçã o e consequentemente a procedência da demanda.
b) DO EXAME DE DNA – NECESSIDADE DA COMPROVAÇÃO DE MATERNIDADE
BIOLÓGICA
Ante a necessidade da comprovaçã o de maternidade bioló gica, requer seja determinado
com urgência a realização do exame de DNA, para certificaçã o do vínculo paterno entre
a requerente e a requerida.
A preferência na averiguaçã o da maternidade tem como base o exame de DNA, dada sua
precisã o e confiabilidade, é o que prevê o Có digo Civil:
Art. 231. Aquele que se nega a submeter-se a exame médico necessário não poderá aproveitar-se de sua recusa.
Art. 232. A recusa à perícia médica ordenada pelo juiz poderá suprir a prova que se pretendia obter com o exame.

A Sumula 301 do STJ foi uníssona no assunto: “Em ação investigatória, a recusa do suposto
pai a submeter-se ao exame de DNA induz presunção juris tantum de paternidade”.
A presente demanda pretende exclusivamente ter comprovada a maternidade e
consequentemente os direitos e obrigaçõ es provenientes do vínculo.
A jurisprudência vem destacar ainda que é direito inaliená vel e imprescritível do filho
buscar o reconhecimento de sua filiaçã o bioló gica através do exame de DNA:
EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO ORDINÁRIA. INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE. RETIFICAÇÃO DE
REGISTRO. EXAME DE DNA. FILHO MAIOR. FILIAÇÃO SÓCIOAFETIVA. DECADÊNCIA. PRESCRIÇÃO. NÃO OCORRÊNCIA.
AGRAVO A QUE SE NEGA PROVIMENTO "IN CASU". -Ainda que exista uma filiação socioafetiva, é direito inalienável
e imprescritível do filho buscar o reconhecimento de sua filiação biológica através do exame de DNA -Inexiste no
direito brasileiro a decadência ou mesmo a prescrição do direito ou ação do filho objetivando reconhecer seu pai
biológico -Somente através da prova científica "DNA" e da ação, o filho pode ter a certeza de quem é seu pai
biológico. ( TJ-MG - Agravo de Instrumento-Cv AI 10699100028595001 Ubá. Desembargador BELIZÁRIO DE
LACERDA (RELATOR). Data de publicação: 13/07/2012)

Sendo assim, nã o há dú vidas quanto ao direito da requerente e a necessidade de realizaçã o


do exame de DNA com finalidade de verificaçã o da maternidade, e inexiste maneira mais
segura, senã o a realizaçã o do exame pleiteado.
c) DO EXAME DE DNA SER CUSTEADO PELO PODER JUDICIÁRIO ANTE A
HIPOSSUFICIÊNCIA DA REQUERENTE
É certo que o exame de DNA possui ainda um elevado custo no país, sendo praticamente
inviá vel para grande parte da populaçã o brasileira arcar com as despesas do referido
exame. Dispõ e o art. 98, § 1º, inciso V, do Có digo de Processo Civil de 2015, “a
gratuidade da justiça compreende as despesas com a realização de exame de código
genético - DNA e de outros exames considerados essenciais”.
Ante a hipossuficiência da requerente, requer que o exame de DNA seja custeado pelo
Poder Judiciário.
d) DA NECESSÁRIA RETIFICAÇÃO DO REGISTRO CIVIL
Apó s o devido reconhecimento da maternidade pleiteada, é devido à requerente, conforme
direito insculpido na Lei nº 6.015 de 31/12/1973, que, em seus artigos 109 e seguintes,
abre a possibilidade de retificaçã o dos registros:
Art. 109. Quem pretender que se restaure, supra ou retifique assentamento no Registro Civil, requererá, em
petição fundamentada e instruída com documentos ou com indicação de testemunhas, que o Juiz o ordene, ouvido
o órgão do Ministério Público e os interessados, no prazo de cinco (5) dias, que correrá em cartório.

Afinal, trata-se de direito à retificaçã o consubstanciada no reconhecimento da verdadeira


filiaçã o bioló gica.
Trata-se, portanto, de direito que assiste à requerente, conforme jurisprudência do nosso
Tribunal de Justiça:
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE C/C PETIÇÃO DE HERANÇA. PATERNIDADE BIOLÓGICA
COMPROVADA POR MEIO DE EXAME DE DNA. RETIFICAÇÃO DE REGISTRO CIVIL PARA CANCELAMENTO DA
PATERNIDADE SOCIOAFETIVA RECONHECIDA LIVREMENTE. 1. Não há que se falar em decadência do direito para
ajuizar ação investigatória de paternidade, na qual se pretende alterar o estado de filiação, substituindo no registro
de nascimento o pai afetivo pelo pai biológico, por se referir ao estado da pessoa e ser corolário do princípio da
dignidade da pessoa humana (precedentes desta Corte). 2. Embora não haja graduação de provas, o exame de
DNA goza de posição privilegiada, não consistindo óbice à retificação do registro civil a filiação socioafetiva
(precedentes do STJ). 3. Uma vez comprovada a paternidade biológica, é o caso de se acolher a pretensão de
investigação de paternidade com todos os seus consectários legais, inclusive, no tocante ao registro civil. APELO
DESPROVIDO. (TJ-GO – Apelação Cível ( CPC): 02683184820048090143, Relator: CARLOS HIPOLITO ESCHER, Data
de Julgamento: 10/11/2017, 4ª Câmara Cível, Data de Publicação: DJ de 10/11/2017)

Desta feita, é patente o direito que assiste a requerente em ter o seu registro retificado para
[NOME DA REQUERENTE COM O SOBRENOME MATERNO], sendo imperioso concluir-se
pela procedência de seu pedido.
e) DO DEVER DE INDENIZAR PELO ABANDONO AFETIVO
O direito da requerente vem amparado segundo o artigo 227 da Constituiçã o Federal, no
qual atribui aos pais e responsá veis o dever de cuidado, zelo, criaçã o da prole, convivência
familiar com seus filhos, a fim de preservá -los de negligências, discriminaçã o entre outros.
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com
absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma
de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (Redação dada Pela Emenda
Constitucional nº 65, de 2010)

Infelizmente, nã o há como o Estado obrigar um pai e mã e a darem amor e afeto ao seu filho,
mas a legislaçã o assegura à requerente o direito de ser cuidada. Assim, os responsá veis que
negligenciam ou sã o omissos no dever de cuidado podem responder judicialmente por
terem causados danos morais à sua prole.
O ordenamento jurídico brasileiro também inclui normas que tratam, especificamente, dos
deveres dos pais para com seus filhos, a exemplo do art. 229 da Constituiçã o Federal. E do
Có digo Civil infere-se que:
Art. 1.634. Compete aos pais, quanto à pessoa dos filhos menores:
I - dirigir-lhes a criação e educação;
II - tê-los em sua companhia e guarda;
III - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para casarem;
IV - nomear-lhes tutor por testamento ou documento autêntico, se o outro dos pais não lhe sobreviver, ou o
sobrevivo não puder exercer o poder familiar;
V - representá-los, até aos dezesseis anos, nos atos da vida civil, e assisti-los, após essa idade, nos atos em que
forem partes, suprindo-lhes o consentimento;
VI - reclamá-los de quem ilegalmente os detenha;
VII - exigir que lhes prestem obediência, respeito e os serviços próprios de sua idade e condição.

O grande filó sofo, Platã o, já dizia “não deverão gerar filhos quem não quer dar-se ao trabalho
de criá-los e educá-los”.
Ora, Nobre Julgador, é de conhecimento comum da sociedade a importâ ncia da presença da
mã e na vida de um filho, nã o sendo possível mensurar os danos causados pela ausência
desta figura na filiaçã o familiar.
Assim, nã o se trata se falta de amor, mas sim de negativa real de amparo para garantir uma
assistência moral e psíquica ao ofendido.
Neste caso, resta clara a falta de cuidado e amparo pela requerida, ao passo que jamais
preocupou-se em procurar a requerente, ignorando e enrolando-a, caracterizando assim
um descaso com reais necessidades ínfimas e primá rias na vida da suposta filha.
Todo esse distanciamento por parte da requerida privou a requerente do convívio familiar
paterno, inclusive com os filhos da requerida, supostos irmã os da requerente.
Nã o fosse suficiente, a ausência de referencial materno acarretou em diversas sequelas à
requerente na vida adulta, principalmente em relaçã o aos relacionamentos amorosos, nã o
conseguindo manter a estabilidade, sentindo-se traída e abandonada por seus
companheiros, que só existiam na sua mente, culminando sempre no término dos
relacionamentos e consequentemente sendo obrigada a arcar sozinha com os cuidados das
suas filhas.
Além disso, a requerida sempre gozou de uma excelente condiçã o financeira, e a
requerente foi privada de uma vida melhor, de uma educaçã o melhor, como por exemplo
pelo fato de sempre ter estudado em escolas pú blicas e nã o ter tido a oportunidade de
cursar faculdade, diferente dos outros filhos da requerida.
Neste viés, é ausente o papel de mã e na vida da autora, causando tamanhos transtornos,
refletindo até no presente momento. É nítido que a requerida jamais demonstrou qualquer
responsabilidade, por intermédio do dever de cuidar, criar, dar subsistências, amparo e
educaçã o, infringindo assim os preceitos bá sicos da personalidade humana da requerente.
Como relatado, Excelência, foram dias de tristeza, de menosprezo, de rejeiçã o, de dú vidas
sobre o motivo que levava o requerido a agir desta maneira.
Sabe-se que os meandros da mente humana sã o difíceis de ser compreendidos, como
também as atitudes da requerida, que age ao contrá rio do que se espera de uma verdadeira
mã e.
Destarte, nã o há como o judiciá rio obrigar alguém a amar, em razã o que o amor é um
sentimento tã o puro e nobre, nã o podendo ser imposto juridicamente à parte requerida.
Em recente julgado o Tribunal do Distrito Federal teve o seguinte entendimento, sendo
necessá rio abrilhantar a presente peça com o referido precedente:
CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. FAMÍLIA. ABANDONO AFETIVO. COMPENSAÇÃO POR DANO MORAL. POSSIBILIDADE.
DANO IN RE IPSA. 1. "A omissão é o pecado que com mais facilidade se comete, e com mais dificuldade se
conhece, e o que facilmente se comete e dificultosamente se conhece, raramente se emenda. A omissão é um
pecado que se faz não fazendo." (Padre Antônio Vieira. Sermão da Primeira Dominga do Advento.Lisboa, Capela
Real, 1650). 2. A omissão não significa a mera conduta negativa, a inatividade, a inércia, o simples não-fazer, mas,
sim, o não fazer o que a lei determina. 3. "Inexistem restrições legais à aplicação das regras concernentes à
responsabilidade civil e o consequente dever de indenizar/compensar no Direito de Família." (Precedente do
STJ: REsp. 1159242/SP, Relatora Ministra Nancy Andrighi). 4. "A indenização do dano moral por abandono afetivo
não é o preço do amor, não se trata de novação, mas de uma transformação em que a condenação para pagar
quantia certa em dinheiro confirma a obrigação natural (moral) e a transforma em obrigação civil, mitigando a
falta do que poderia ter sido melhor: faute de pouvoir faire mieux, fundamento da doutrina francesa sobre o
dano moral.Não tendo tido o filho o melhor, que o dinheiro lhe sirva, como puder, para alguma melhoria." (Kelle
Lobato Moreira. Indenização moral por abandono afetivo dos pais para com os filhos: estudo de Direito
Comparado. Dissertação de Mestrado. Universidade Católica Portuguesa/Université de Rouen, França/Leibniz
Universität Hannover. Orientadora: Profa. Dra. Maria da Graça Trigo. Co-orientador: Prof. Dr. Vasco Pereira da
Silva. Lisboa, 2010). 5. "Dinheiro, advirta-se, seria ensejado à vítima, em casos que tais, não como simples mercê,
mas, e sobretudo, como algo que correspondesse a uma satisfação com vistas ao que foi lesado moralmente. Em
verdade, os valores econômicos que se ensejassem à vítima, em tais situações, teriam, antes, um caráter
satisfatório que, mesmo, ressarcitório." (Wilson Melo da Silva. O dano moral e sua reparação,Rio de Janeiro:
Forense, 1955, p. 122). 6. Não se pode exigir, judicialmente, desde os primeiros sinais do abandono, o
cumprimento da "obrigação natural" do amor. Por tratar-se de uma obrigação natural, um Juiz não pode obrigar
um pai a amar uma filha. Mas não é só de amor que se trata quando o tema é a dignidade humana dos filhos e a
paternidade responsável. Há, entre o abandono e o amor, o dever de cuidado. Amar é uma possibilidade; cuidar é
uma obrigação civil. 7. "A obrigação diz-se natural, quando se funda num mero dever de ordem moral ou social,
cujo cumprimento não é judicialmente exigível, mas corresponde a um dever de justiça." ( Código Civil português
- Decreto-Lei nº 47.344, de 25 de novembro de 1966, em vigor desde o dia 1 de junho de 1967, artigo 402º). 8. A
obrigação dos progenitores cuidarem (lato senso) dos filhos é dever de mera conduta, independente de prova ou
do resultado causal da ação ou da omissão. 9. "O cuidado como valor jurídico objetivo está incorporado no
ordenamento jurídico brasileiro não com essa expressão, mas com locuções e termos que manifestam suas
diversas desinências, como se observa do art. 227 da CF/88."(Precedente do STJ: REsp. 1159242/SP, Relatora
Ministra Nancy Andrighi). 10. Até 28 de março de 2019, data da conclusão deste julgamento, foram 21 anos, 2
meses e 20 dias de abandono, que correspondem a 1.107 semanas, com o mesmo número de sábados e
domingos, e a 21 aniversários sem a companhia do pai. 11. A mesma lógica jurídica dos pais mortos pela morte
deve ser adotada para os órfãos de pais vivos, abandonados, voluntariamente, por eles, os pais. Esses filhos não
têm pai para ser visto. No simbolismo psicanalítico, há um ambicídio. Esse pai suicida-se moralmente como via
para sepultar as obrigações da paternidade, ferindo de morte o filho e a determinação constitucional da
paternidade responsável. 12. "O dano moral, com efeito, tem seu pressuposto maior na angústia, no sofrimento,
na dor, assim como os demais fatores de ordem física ou psíquica que se concretizam em algo que traduza, de
maneira efetiva, um sentimento de desilusão ou de desesperança." (Wilson Melo da Silva. Idem,p. 116). 13.O dano
moral (patema d'animo) por abandono afetivo é in re ipsa 14. O valor indenizatório, no caso de abandono afetivo,
não pode ter por referência percentual adotado para fixação de pensão alimentícia, nem valor do salário mínimo
ou índices econômicos. A indenização por dano moral não tem um parâmetro econômico absoluto, uma tabela
ou um baremo, mas representa uma estimativa feita pelo Juiz sobre o que seria razoável, levando-se em conta,
inclusive, a condição econômica das partes, sem enriquecer, ilicitamente, o credor, e sem arruinar o devedor.
15. "É certo que não se pode estabelecer uma equação matemática entre a extensão desse dano [moral] e uma
soma em dinheiro. A fixação de indenização por dano [moral] decorre do prudente critério do Juiz, que, ao
apreciar caso a caso e as circunstâncias de cada um, fixa o dano nesta ou naquela medida." (Maggiorino Capello.
Diffamazione e Ingiuria. Studio Teorico-Pratico di Diritto e Procedura.2 ed., Torino: Fratelli Bocca Editori, 1910, p.
159). 16. A indenização fixada na sentença não é absurda, nem desarrazoada, nem desproporcional. Tampouco é
indevida, ilícita ou injusta. R$ 50.000,00 equivalem, no caso, a R$ 3,23 por dia e a R$ 3,23 por noite. Foram cerca
de 7.749 dias e noites. Sim, quando o abandono é afetivo, a solidão dos dias não compreende a nostalgia das
noites. Mesmo que nelas se possa sonhar, as noites podem ser piores do que os dias. Nelas, também há pesadelos.
17. Recurso conhecido e desprovido.(TJ-DF 20160610153899 DF 0015096-12.2016.8.07.0006, Relator: NÍDIA
CORRÊA LIMA, Data de Julgamento: 28/03/2019, 8ª TURMA CÍVEL, Data de Publicação: Publicado no DJE :
04/04/2019 . Pág.: 404/405)

Na decisã o acima mencionada, o desembargador mencionou, e que importa frisar: “Amar é


uma possibilidade; cuidar é uma obrigação civil”.
Assim, sabe-se que a omissã o do genitor com relaçã o à assistência moral, à educaçã o e ao
convívio em relaçã o à sua filha, configura danos morais. Inicialmente, sobreleva consignar
que, em tese, é possível a reparaçã o por danos extrapatrimoniais no â mbito do Direito de
Família, embasada nos artigos 186 e 927, ambos do Có digo Civil, que assim dispõ em:
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a
outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. (...)
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.

Desta forma, a responsabilidade civil extracontratual decorrente da prá tica de ato ilícito,
depende da presença de três pressupostos elementares: conduta culposa ou dolosa, dano e
nexo de causalidade.
Ao discorrer sobre o tema, Sérgio Cavalieri Filho assinala que "(...) só deve ser reputado
como dano moral a dor, vexame, sofrimento ou humilhação que, fugindo à normalidade,
interfira intensamente no comportamento psicológico do indivíduo, causando-lhe aflições,
angústia e desequilíbrio em seu bem-estar. Mero dissabor, aborrecimento, mágoa, irritação
ou sensibilidade exacerbada estão fora da órbita do dano moral (...)".
Por dano moral entende-se o dano que atinge os atributos da personalidade, como imagem,
bom nome, a qualidade ou condiçã o de ser de uma pessoa, a intimidade e a privacidade.
Tem natureza compensató ria e nã o ressarcitó ria. Para o dano patrimonial há a reparaçã o,
para o dano à personalidade, há o regime de compensaçã o.
Para Stoco (2011), os direitos da personalidade sã o direitos fundamentais com origens e
raízes constitucionais. Sã o, portanto, direitos do homem, competindo ao Estado o dever de
defendê-los. Os direitos da personalidade sã o aqueles sem os quais todos os outros direitos
subjetivos perderiam o interesse. Nesse sentido, também afirmam Arnoldo Wald e Bruno
Pandori Giancoli (2012) que os direitos à honra, ao nome, à intimidade, à privacidade e à
liberdade estã o englobados no direito à dignidade, esta que é a base de todos os valores.
Para Venosa (2012), o direito ao dano moral reside no fato de que ninguém deve prejudicar
o pró ximo (neminem laedere). E, continua o doutrinador sustentando que o conceito de
culpa é alargado, nã o mais se amoldando à trilogia imprudência, negligência e imperícia. O
vasto campo da responsabilidade extranegocial transita na esfera da culpa implícita ou
evidente.
Ainda, consoante a assertiva propalada por José de Aguiar Dias: “O conceito de dano é único,
e corresponde a lesão de um direito” (Da Responsabilidade Civil. Rio de Janeiro: Forense,
1995, p. 737).
Bem como ainda, por Moral, na dicçã o de Luiz Antô nio Rizzatto Nunes, entende-se “(…)
tudo aquilo que está fora da esfera material, patrimonial do indivíduo” (O Dano Moral e sua
interpretaçã o jurisprudencial. Sã o Paulo: Saraiva, 1999, p. 1).
Reputa-se o dano moral como uma dor interior, nã o apreciá vel economicamente, pois se
cinge a um sentimento negativo, que nã o causa modificaçõ es no mundo exterior, mas, tã o-
somente, na esfera íntima do ofendido.
Como restou comprovado, a conduta da requerida causou à requerente sentimentos de
afliçã o espiritual e tristeza, bem como ficou comprovado que a falta de convívio com a mã e
causou profundo e irremediá vel abalo pessoal.
Com efeito, é certo que a comprovaçã o de que o abandono afetivo causou abalo psicoló gico
de grande intensidade na autora.
ASSIM, A CONDUTA OMISSIVA DA MÃE EM RELAÇÃO AO DEVER JURÍDICO DE
CONVIVÊNCIA COM A FILHA (ATO ILÍCITO), CAUSOU O TRAUMA PSICOLÓGICO
SOFRIDO (DANO À PERSONALIDADE), E, SOBRETUDO, A REQUERENTE DESENVOLVEU
TRAUMAS PSICOLÓGICOS E DANOS IRREPARÁVEIS NA SUA FORMAÇÃO PESSOAL
COMO PESSOA E PROFISSIONAL.
SERÁ FACILMENTE DEMONSTRADO PELA REALIZAÇÃO DE UM LAUDO PERICIAL QUE
A REQUERENTE ATESTA A EXISTÊNCIA DE TRAUMA PSICOLÓGICO DECORRENTE DA
CONDUTA DA GENITORA.
Veja precedentes sobre o tema do Superior Tribunal de Justiça em revisã o à ementa
anterior, ou seja, admitindo a reparaçã o civil pelo abandono afetivo. A ementa foi assim
publicada por esse Tribunal Superior:
"Civil e Processual Civil. Família. Abandono afetivo. Compensação por dano moral. Possibilidade. 1. Inexistem
restrições legais à aplicação das regras concernentes à responsabilidade civil e o consequente dever de
indenizar/compensar no Direito de Família. 2. O cuidado como valor jurídico objetivo está incorporado no
ordenamento jurídico brasileiro não com essa expressão, mas com locuções e termos que manifestam suas
diversas desinências, como se observa do art. 227 da CF/1988. 3. Comprovar que a imposição legal de cuidar da
prole foi descumprida implica em se reconhecer a ocorrência de ilicitude civil, sob a forma de omissão. Isso porque
o non facere, que atinge um bem juridicamente tutelado, leia-se, o necessário dever de criação, educação e
companhia – de cuidado –, importa em vulneração da imposição legal, exsurgindo, daí, a possibilidade de se
pleitear compensação por danos morais por abandono psicológico. 4. Apesar das inúmeras hipóteses que
minimizam a possibilidade de pleno cuidado de um dos genitores em relação à sua prole, existe um núcleo mínimo
de cuidados parentais que, para além do mero cumprimento da lei, garantam aos filhos, ao menos quanto à
afetividade, condições para uma adequada formação psicológica e inserção social. 5. A caracterização do
abandono afetivo, a existência de excludentes ou, ainda, fatores atenuantes – por demandarem revolvimento de
matéria fática – não podem ser objeto de reavaliação na estreita via do recurso especial. 6. A alteração do valor
fixado a título de compensação por danos morais é possível, em recurso especial, nas hipóteses em que a quantia
estipulada pelo Tribunal de origem revela-se irrisória ou exagerada. 7. Recurso especial parcialmente provido"(STJ,
REsp 1.159.242/SP, Terceira Turma, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 24/04/2012, DJe 10/05/2012).

No mesmo sentido sã o os precedentes proferidos pelo nosso Tribunal de Justiça de Goiá s,


que assim vem decidindo:
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE PATERNIDADE C/C ALIMENTOS. TERMO INICIAL PARA PAGAMENTO.
CITAÇÃO. SÚMULA 277 DO STJ. INDENIZAÇÃO POR ABANDONO AFETIVO. NÃO CUMPRIMENTO DO DEVER DE
CUIDAR. COMPROVAÇÃO DO ATO ILÍCITO. DANO MORAL CONFIGURADO. PRECEDENTES STJ. 1. Julgada
procedente a investigação de paternidade, os alimentos são devidos a partir da citação (Súmula 277, do STJ). 2. "O
dever de cuidado compreende o dever de sustento, guarda e educação dos filhos. Não há dever jurídico de cuidar
afetuosamente, de modo que o abandono afetivo, se cumpridos os deveres de sustento, guarda e educação da
prole, ou de prover as necessidades de filhos maiores e pais, em situação de vulnerabilidade, não configura dano
moral indenizável." (REsp 1579021/RS, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, QUARTA TURMA, julgado em
19/10/2017, DJe 29/11/2017). 3. Não tendo o pai se incumbido do seu dever de cuidar, já que mesmo ciente da
paternidade desde de 2009, não prestou nenhum tipo de assistência, seja material ou de ordem afetiva à sua
filha, patente o dever de indenizar haja vista a configuração do abandono afetivo. Precedentes do Superior
Tribunal de Justiça. Apelação cível conhecida e parcialmente provida. Sentença mantida. (TJ-GO – Apelação Cível (
CPC): 03377637820118090024, Relator: ITAMAR DE LIMA, Data de Julgamento: 10/01/2019, 3ª Câmara Cível, Data
de Publicação: DJ de 10/01/2019)
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE REVISÃO DE ALIMENTOS. PEDIDO RECONVENCIONAL. INDENIZAÇÃO POR ABANDONO
AFETIVO. NÃO CUMPRIMENTO DO DEVER DE CUIDAR. COMPROVAÇÃO DO ATO ILÍCITO. DANO MORAL
CONFIGURADO. PRECEDENTES STJ. 1- O art. 1.634 do Código Civil impõe como atributos do poder familiar a
direção da criação dos filhos e o dever de ter os filhos em sua companhia. 2- "O dever de cuidado compreende o
dever de sustento, guarda e educação dos filhos. Não há dever jurídico de cuidar afetuosamente, de modo que o
abandono afetivo, se cumpridos os deveres de sustento, guarda e educação da prole, ou de prover as necessidades
de filhos maiores e pais, em situação de vulnerabilidade, não configura dano moral indenizável." (REsp
1579021/RS, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, QUARTA TURMA, julgado em 19/10/2017, DJe 29/11/2017).
PRIMEIRA APELAÇÃO CÍVEL CONHECIDA E PROVIDA. SEGUNDA APELAÇÃO CÍVEL CONHECIDA E DESPROVIDA.
SENTENÇA REFORMADA. (TJ-GO - Apelação Cível ( CPC): 02657633920168090175, Relator: JAIRO FERREIRA
JUNIOR, Data de Julgamento: 09/09/2019, 6ª Câmara Cível, Data de Publicação: DJ de 09/09/2019)

Sendo assim, inquestioná vel o dever de indenizar a requerente, tendo em a situaçã o já


narrada, que merece ser imputada a responsabilidade ao requerido, pela ofensa extrema
aos preceitos inerentes a pessoa humana.
f) DO QUANTUM INDENIZATÓRIO
Uma vez reconhecida a existência do dano afetivo, e o consequente direito à indenizaçã o
dele decorrente, necessá rio se faz analisar o aspecto do quantum pecuniá rio a ser
considerado e fixado, nã o só para efeitos de reparaçã o do prejuízo, mas também sob o
cunho de cará ter punitivo ou sancionaria, preventivo, repressor.
E essa indenização que se pretende em decorrência dos danos afetivos, há de ser
arbitrada, mediante estimativa prudente, que possa em parte, compensar o "dano sofrido"
da parte Autora.
No tocante ao quantum indenizató rio, entendo que ao quantificar a indenizaçã o por dano
moral o julgador deve atuar com razoabilidade, observando o cará ter indenizató rio e
sancionató rio de modo a compensar o abalo suportado, sem caracterizar enriquecimento
ilícito. Ou seja, “... a indenização a esse título deve ser fixada em termos razoáveis, não se
justificando que a reparação venha a constituir-se em enriquecimento indevido, com
manifestos abusos e exageros, devendo o arbitramento operar com moderação,
proporcionalmente ao grau de culpa e ao porte econômico das partes, orientando-se o juiz
pelos critérios sugeridos pela doutrina e pela jurisprudência, com razoabilidade, valendo-se
de sua experiência e do bom senso, atento à realidade da vida e às peculiaridades de cada
caso.” (REsp 245727/SE, Rel. Ministro SÁ LVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, 4ª Turma, DJ
05/06/2000 p. 174).
No caso, levando-se em conta a atividade desenvolvida pela ofensora, que é
empresária em diversos segmentos, como supermercados, hotéis, postos de
combustíveis e agropecuária, seus lucros levam à presunção de sua maior
capacidade econômica, observando-se ainda, a desídia de sua conduta, é de rigor que a
verba indenizató ria seja de, no mínimo, R$ 150.000,00 (cento e cinquenta mil reais),
ou em valor justo e condizente a ser arbitrado por este magistrado, que represente nã o só
uma medida para tentar reparar o dano causado à requerente, mas também um valor que
leve em consideraçã o uma medida para que o requerido seja coibido a praticar ato lesivo
contra terceiros.
Outrossim, deve ser ressalvado o termo inicial dos juros, que devem incidir desde o evento
danoso, conforme dispõ e o artigo 398, do Có digo Civil e nos termos do entendimento já
sumulado pelo C. Superior Tribunal de Justiça (sú mula 54).
O dano moral perseguido resulta da indignaçã o e da sensaçã o, ou melhor, da certeza da
impotência da requerente perante o requerido.
3. DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA
A requerente é pessoa pobre na acepçã o do termo e nã o possui condiçõ es financeiras para
arcar com as custas processuais e honorá rios advocatícios sem prejuízo do pró prio
sustento, razã o pela qual desde já requer o benefício da Gratuidade de Justiça, assegurados
pela Lei nº 1.060/50 e consoante o art. 98, caput, do CPC [1].
Como dito, a requerente atualmente trabalha como supervisora de vendas, percebendo
renda bruta de aproximadamente R$ 2.776,05 (dois mil, setecentos e setenta e seis
reais e cinco centavos). Desse valor, é preciso ponderar ainda que possui 3 (três) filhas
menores que residem consigo, que precisa prover o seu sustento, contando com
despesas com moradia, alimentaçã o, energia, á gua e condomínio, sendo terminantemente
impossibilitada de arcar com o pagamento das custas processuais.
Mister frisar, ainda, que, em conformidade com o art. 99, § 1º, do CPC [2], o pedido de
gratuidade da justiça pode ser formulado por petiçã o simples e durante o curso do
processo, tendo em vista a possibilidade de se requerer em qualquer tempo e grau de
jurisdiçã o os benefícios da justiça gratuita, ante a alteraçã o do status econô mico.
Para tal benefício, a requerente junta declaraçã o de hipossuficiência e comprovante de
renda, os quais demonstram a inviabilidade de pagamento das custas judiciais sem
comprometer sua subsistência, conforme clara redaçã o do Có digo de Processo Civil:
“Presume-se verdadeira a alegação de insuficiência deduzida exclusivamente por
pessoa natural” (art. 99, § 3º).
Assim, por simples petiçã o, sem outras provas exigíveis por lei, faz jus a requerente ao
benefício da gratuidade de justiça:
AGRAVO DE INSTRUMENTO. JUSTIÇA GRATUITA. INDEFERIMENTO DA GRATUIDADE PROCESSUAL. AUSÊNCIA DE
FUNDADAS RAZÕES PARA AFASTAR A BENESSE. CONCESSÃO DO BENEFÍCIO. CABIMENTO. Presunção relativa que
milita em prol do autor que alega pobreza. Benefício que não pode ser recusado de plano sem fundadas razões.
Ausência de indícios ou provas de que pode a parte arcar com as custas e despesas sem prejuízo do próprio
sustento e o de sua família. Recurso provido. (TJ-SP - AI: 22391085720198260000 SP 2239108-57.2019.8.26.0000,
Relator: Gilberto Leme, Data de Julgamento: 21/02/2020, 35ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação:
21/02/2020)
AGRAVO DE INSTRUMENTO. GRATUIDADE DA JUSTIÇA. CONCESSÃO. Presunção de veracidade da alegação de
insuficiência de recursos, deduzida por pessoa natural, ante a inexistência de elementos que evidenciem a falta
dos pressupostos legais para a concessão da gratuidade da justiça. Recurso provido. (TJ-SP - AI:
21202035920208260000 SP 2120203-59.2020.8.26.0000, Relator: Roberto Mac Cracken, Data de Julgamento:
15/06/2020, 22ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 15/06/2020)

A assistência de advogado particular nã o pode ser parâ metro ao indeferimento do pedido,


nos termos do que dispõ e o § 4º do art. 99 do CPC: “A assistência do requerente por
advogado particular não impede a concessão de gratuidade da justiça”.
É nesse sentido ainda o entendimento jurisprudencial:
"JUSTIÇA GRATUITA. EXIGÊNCIA DE DECLARAÇÃO DE PATROCÍNIO GRATUITO INCONDICIONAL. DESCABIMENTO.
AUSÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL. PRECEDENTES. (...) 2. É possível o gozo da assistência judiciária gratuita mesmo ao
jurisdicionado contratante de representação judicial com previsão de pagamento de honorários advocatícios ad
exitum. 3. Essa solução é consentânea com o propósito da Lei n. 1.060/1950, pois garante ao cidadão de poucos
recursos a escolha do causídico que, aceitando o risco de não auferir remuneração no caso de indeferimento do
pedido, melhor represente seus interesses em juízo. 4. A exigência de declaração de patrocínio gratuito
incondicional não encontra assento em qualquer dispositivo da Lei n. 1.060/1950, criando requisito não
previsto, em afronta ao princípio da legalidade. 5. Precedentes das Terceira e Quarta Turmas do STJ. 6. Recurso
especial parcialmente conhecido e, nessa extensão, provido, com determinação de retorno dos autos à origem para
processamento da apelação" (STJ, REsp 1504432 - RJ Relator : Ministro OG FERNANDES julgado em 21/09/2016).
(grifo meu)

Assim, considerando a demonstraçã o inequívoca da necessidade da requerente, tem-se por


comprovada sua necessidade, fazendo jus ao benefício.
Cabe destacar que a lei nã o exige atestado de miserabilidade do requerente, sendo
suficiente a "insuficiência de recursos para pagar as custas, despesas processuais e
honorários advocatícios" (art. 98, CPC), conforme destaca a doutrina:
"Não se exige miserabilidade, nem estado de necessidade, nem tampouco se fala em renda familiar ou
faturamento máximos. É possível que uma pessoa natural, mesmo com bom renda mensal, seja merecedora do
benefício, e que também o seja aquela sujeito que é proprietário de bens imóveis, mas não dispõe de liquidez. A
gratuidade judiciária é um dos mecanismos de viabilização do acesso à justiça; não se pode exigir que, para ter
acesso à justiça, o sujeito tenha que comprometer significativamente sua renda, ou tenha que se desfazer de
seus bens, liquidando-os para angariar recursos e custear o processo." (DIDIER JR. Fredie. OLIVEIRA, Rafael
Alexandria de. Benefício da Justiça Gratuita. 6ª ed. Editora JusPodivm, 2016. p. 60)

Por tais razõ es, com fulcro no artigo 5º, inc. LXXIV, da Constituiçã o Federal, e no artigo 98
do CPC, requer seja deferida a gratuidade de justiça à requerente.
4. DA AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO (CPC, art. 319, inc. VII)
Manifesta-se a requerente sobre seu interesse na realizaçã o de audiência de conciliaçã o ou
mediaçã o, nos termos do art. 319, inc. VII, do CPC.
5. DOS PEDIDOS
Diante o exposto, requer a Vossa Excelência:
a) Seja o requerido citado para que, querendo, conteste a presente açã o no momento
processual oportuno, sob pena de revelia e confissã o;
b) A determinaçã o da realização do exame de DNA entre a requerente e o requerido;
c) Que o exame de DNA seja custeado pelo convênio da justiça com laboratórios, pois
a requerente nã o possui condiçõ es financeiras para arcar com o valor;
d) A produçã o de todos os meios de prova em direito admitidos, notadamente a prova
documental, testemunhal, depoimento pessoal do requerido, sob pena de confissã o ficta, e
pericial, com a realização do exame de DNA e de atendimento na área da
psicologia/psiquiatria com a requerente;
e) Ao final, julgar procedente a ação (em caso de verificado positivo o exame
laboratorial), para:
i. reconhecer a maternidade do requerido em relaçã o à requerente, autorizando a
expediçã o de mandado ao cartó rio de registro civil competente para assentamento do
registro paterno, inclusive dos avó s paternos, passando a requerente a se chamar [NOME
DA REQUERENTE COM O SOBRENOME PATERNO];
ii. condenar o requerido ao pagamento de uma indenizaçã o por abandono afetivo, pelos
prejuízos causados à requerente, no valor de, no mínimo, R$ 150.000,00 (cento e cinquenta
mil reais), ou em valor justo e condizente com o caso concreto a ser arbitrado por Vossa
Excelência, corrigidos monetariamente e acrescidos de juros legais;
f) A condenaçã o do requerido ao pagamento das custas e demais despesas processuais,
inclusive em honorá rios advocatícios sucumbenciais, que deverã o ser arbitrados por este
Juízo, conforme norma do artigo 85 do CPC;
g) A concessã o do benefício da justiça gratuita, por ser a requerente pessoa sem condiçõ es
de arcar com as custas, honorá rios advocatícios e demais despesas processuais, sem
prejuízo ao sustento pró prio e de sua família, consoante declaraçã o anexa;
h) Manifesta-se a requerente sobre seu interesse na realizaçã o de audiência de conciliaçã o
ou mediaçã o, nos termos do art. 319, inc. VII, do CPC;
Dá -se à causa o valor de R$ 150.000,00 (cento e cinquenta mil reais).
Nesses termos, pede e espera deferimento.
Cidade, 27 de junho de 2022.

ADVOGADO
OAB
*Essa peça foi elaborada pela Iuris Petiçõ es, serviço de petiçõ es sob medida para
advogados modernos.
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[1] Art. 98. A pessoa natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira, com insuficiência de
recursos para pagar as custas, as despesas processuais e os honorá rios advocatícios tem
direito à gratuidade da justiça, na forma da lei.
[2] Art. 99. O pedido de gratuidade da justiça pode ser formulado na petiçã o inicial, na
contestaçã o, na petiçã o para ingresso de terceiro no processo ou em recurso.
§ 1º Se superveniente à primeira manifestaçã o da parte na instâ ncia, o pedido poderá ser
formulado por petiçã o simples, nos autos do pró prio processo, e nã o suspenderá seu curso.

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