EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) JUIZ (ÍZA) DA __ª VARA DO TRABALHO DE ________ –
ESTADO DO ________________. TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA __ª REGIÃO.
FULANO DE TAL, pessoa jurídica de direito privado, com sede no (endereço completo), inscrita no CNPJ/MF sob o nº ___________________, neste ato representada por sua só cia proprietá ria, ___________________, (qualificaçã o), vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, através de sua causídica constituída na forma da lei (doc. 01 – procuração. Pdf), com escritó rio profissional no (endereço completo), para onde devem ser destinadas as intimaçõ es pertinentes, apresentar CONTESTAÇÃO aos termos aduzidos por RECLAMANTE, nos autos da Reclamatória Trabalhista de nº ______________________, o que o faz com arrimo nos fatos e fundamentos a seguir expostos. Veja-se: I – DO ESCORÇO FÁTICO Cuida-se de Reclamató ria Trabalhista promovida por RECLAMANTE em desfavor de _________________________, com o fito de obter provimento jurisdicional que condene a Empresa Reclamada ao seguinte: pagamento de “verbas rescisó rias” (férias proporcionais 2/12; 13º proporcional 2/12; FGTS + 40%; aviso prévio; horas extras + reflexos; multas dos arts. 467 e 477 da CLT); indenizaçã o por contingência da moto; indenizaçã o por danos morais; contribuiçã o previdenciá ria; honorá rios de sucumbência. Em prol do pretendido, afirma ter sido contratado pela Empresa Reclamada aos 10 de janeiro de 2016, para exercer a funçã o de “entregador”, com salá rio de R$ 1.600,00 (hum mil e seiscentos reais) e jornada de trabalho de segunda à sá bado, das 10h à s 23h, sem intervalo intrajornada para descanso e alimentaçã o. Relata que a Empresa Reclamada lhe dispensou sem justa causa e sem pagar suas verbas rescisó rias aos 05 de março de 2016. Afirma que, em razã o do nã o pagamento de suas verbas rescisó rias e anotaçã o de sua CTPS, faz jus ao pagamento de indenizaçã o por danos morais no valor de R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil reais). É o que importa relatar. II – DOS FATOS SOB A ÓTICA DA VERDADE O Reclamante, numa clara e ardilosa tentativa de locupletar-se ilicitamente à custa da Empresa Reclamada traz aos autos inú meros fatos que nã o guardam qualquer correspondência com o contexto fá tico ao qual estava inserido, manipulando a realidade a fim de induzir este Probo Juízo a erro. Ab initio, cumpre destacar que o Reclamante NUNCA foi contratado COMO EMPREGADO para exercer a funçã o de entregador. Na verdade, o Reclamante era verdadeiro prestador de serviços, trabalhando de maneira autô noma, assim como os demais motoqueiros que também efetuavam as entregas esporadicamente. Desse modo, nã o sofria qualquer controle de jornada por parte da Empresa Reclamada, razã o pela qual sequer haverá juntada de cartõ es de ponto, haja vista serem inexistentes. O Reclamante tão somente efetuava as entregas dos pedidos feitos e era livre para ir trabalhar no dia que melhor lhe aprouvesse, não havendo qualquer sanção acaso faltasse, bem como qualquer mácula ao serviço da Empresa Reclamada, que poderia, perfeitamente, redistribuir o pedido a outro motoqueiro prestador de serviço, sendo irrelevante a pessoa física que iria fazer a entrega. Só o fato de manter mais 04 (quatro) outros motoqueiros já demonstra a absoluta impessoalidade na relaçã o jurídica ora exposta, haja vista que, se o Reclamante não pudesse comparecer ou, por algum motivo, não quisesse, poderia perfeitamente ser substituído por outro profissional, sem qualquer ô nus para a Empresa Reclamada e tampouco para o obreiro. De fato, a Empresa Reclamada adicionava ao valor dos lanches a chamada “taxa de entrega”, a qual era repassada, INTEGRALMENTE, aos motoqueiros prestadores de serviço. Durante o curtíssimo período em que prestou serviços para a Empresa Reclamada, o Reclamante sempre foi tratado com respeito e urbanidade e tinha plena ciência de que nã o se tratava de vínculo empregatício, haja vista a completa autonomia que tinha de ir no dia que julgasse conveniente, bem como fazer a rota que quisesse para a entrega dos pedidos. Evidente, portanto, que nã o existia qualquer controle de jornada por parte da Empresa Reclamada, para quem pouco importava se o Reclamante compareceria para trabalhar ou nã o, uma vez que poderia perfeitamente ser substituído por qualquer outro motoboy que tivesse disponibilidade. Impende destacar, ainda, a completa má -fé do Reclamante, ao afirmar que cumpria a extenuante jornada de 13 (treze) horas diá rias seguidas, sem qualquer intervalo para alimentaçã o e repouso. Ora, Excelência, a Empresa Reclamada é empresa de pequeno porte, lanchonete familiar situada em bairro simples e que, por conseguinte, não possui uma gama de clientes e pedidos – tampouco de pessoal – tão volumosa, que realize pedidos incontáveis por 13 (treze) horas seguidas. III – PRELIMINARMENTE: DA INÉPCIA DA INICIAL. Precedendo a entrada à s questõ es meritó rias, de bom alvitre destacar a inépcia da petiçã o inicial, razã o pela qual deve ser rejeitada prima facie, haja vista o nã o preenchimento dos requisitos bá sicos insculpidos no Có digo de Processo Civil. Em sua narrativa, o Reclamante postula o reconhecimento do suposto vínculo empregatício e a anotaçã o de sua CTPS, entretanto, no item específico dos pedidos, nã o há qualquer mençã o a tais pleitos. Trata-se, portanto, de clara situaçã o de inépcia da petiçã o inicial, enquadrada no art. 840, § 1º da CLT e art. 330, § 1º, I, do Novo Có digo de Processo Civil. Veja-se: CLT Art. 840 - A reclamaçã o poderá ser escrita ou verbal. § 1º - Sendo escrita, a reclamaçã o deverá conter a designaçã o do Presidente da Junta, ou do juiz de direito a quem for dirigida, a qualificaçã o do reclamante e do reclamado, uma breve exposiçã o dos fatos de que resulte o dissídio, o pedido, a data e a assinatura do reclamante ou de seu representante. (...) NCPC Art. 330. A petiçã o inicial será indeferida quando: I - for inepta; (...) § 1o Considera-se inepta a petiçã o inicial quando: I - lhe faltar pedido ou causa de pedir; Verifica-se, portanto, que o Reclamante, ao expor suas pretensõ es, olvidou-se de regra bá sica trazida pelo ordenamento jurídico civil e trabalhista, tornando impossível, portanto, o reconhecimento de tais pedidos. Levando em consideração que, em torno do pleito de reconhecimento do vínculo empregatício gravitam todos os demais pedidos formulados pelo Reclamante, pugna a Empresa Reclamada pela extinção do processo sem resolução do mérito, por inépcia da petição inicial, nos termos do disposto no art. 485, I, do Novo Código de Processo Civil. Em atençã o ao princípio da eventualidade, acaso seja rejeitada a pretensão de extinção do processo sem resolução do mérito, pugna a Empresa Reclamada unicamente pela extinção dos pedidos de anotação da CTPS e reconhecimento do vínculo empregatício sem resolução do mérito, uma vez que houve violaçã o ao disposto nos arts. 840, § 1º, da CLT e art. 330, § 1º, I, do Novo Có digo de Processo Civil. IV - DO MÉRITO Em atençã o ao princípio da eventualidade, considerando a remota possibilidade deste Probo Juízo nã o acolher a pretensã o aventada no item anterior, o que só se admite por excesso de zelo, vem a Empresa Reclamada demonstrar a inexistência de qualquer arrimo fá tico e jurídico que autorize o deferimento de qualquer dos pleitos formulados na peça vestibular. Conforme restará demonstrado, as alegaçõ es contidas na petiçã o inicial sã o absolutamente carregadas de inverdades, demonstrando uma clara tentativa de locupletamento ilícito por parte do Reclamante, fato que deve ser afastado pelo Poder Judiciá rio Trabalhista, sob pena de violaçã o ao disposto no ordenamento jurídico pá trio. IV.1 – DA INEXISTÊNCIA DE VÍNCULO EMPREGATÍCIO. DO NÃO PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS ARROLADOS NO ART. 3º DA CONSOLIDAÇÃO DAS LEIS DO TRABALHO. A análise perfunctória do disposto na petição inicial permite verificar que o Reclamante postula direitos aos quais não faz jus, haja vista INEXISTIR qualquer liame empregatício entre o profissional e a Empresa Reclamada. Consoante abalizado pela doutrina e legislaçã o pá tria, a configuraçã o do vínculo de emprego pressupõ e o preenchimento de determinados requisitos de maneira cumulativa, o que faz concluir que o perecimento de qualquer um deles compromete a pretensã o de reconhecimento. Para que seja reconhecida a relaçã o empregatícia, necessá rio que estejam presentes, na relaçã o jurídica em aná lise, os seguintes requisitos: subordinaçã o, pessoalidade, onerosidade e nã o eventualidade. No caso em tela, nã o demanda muito esforço intelectual para verificar que o Reclamante nã o preenche as condiçõ es estabelecidas por lei, razã o pela qual seus pedidos devem ser julgados improcedentes. Veja-se: IV.1. A – DA INEXISTÊNCIA DE SUBORDINAÇÃO O Reclamante afirma, em sua exordial, que foi “contratado” pela Empresa Reclamada para exercer a funçã o de entregador, afirmando que percebia R$ 1.600,00 (hum mil e seiscentos reais) de salá rio e alegando que cumpria a fantasiosa jornada de trabalho das 10h à s 23h, de segunda a sá bado, sem qualquer intervalo para repouso e alimentaçã o. Conforme aduzido anteriormente, o Reclamante nunca foi contratado para exercer funçã o de entregador, como empregado da Empresa Reclamada. O acerto verbal existente sempre foi de mera prestaçã o de serviços. É tanto que, conforme aduzido no item “dos fatos sob a ó tica da verdade”, restou anotado que a Empresa Reclamada possui, ainda, mais 04 (quatro) motoqueiros no mesmo sistema: trabalho autô nomo, sem qualquer controle de jornada, exigência de comparecimento ou pagamento de salá rio, sendo a remuneraçã o dos profissionais tã o somente a chamada “taxa de entrega” acrescida ao lanche solicitado pelo cliente via delivery. O Reclamante não sofria, por parte da Empresa Reclamada, qualquer forma de subordinação ou controle. Poderia aparecer para trabalhar no dia que quisesse e, acaso faltasse, não lhe era aplicada qualquer sanção ou punição. A Empresa Reclamada não tinha qualquer gerência sobre os itinerários realizados pelo Reclamante para a entrega dos pedidos e nem determinava quanto tempo deveria gastar para cada entrega. O que acontecia era o seguinte: havendo algum lanche para entregar, o motoqueiro era acionado. Caso nã o pudesse realizar a entrega, um outro era contactado pela Empresa Reclamada e a entrega era efetuada. Faticamente, o Reclamante só tinha que trabalhar quando havia entrega para ser feita. Acaso nã o houvesse, poderia deslocar-se livremente para realizar outras entregas de outros estabelecimentos. Em assim sendo, verifica-se que o Reclamante não estava submisso a qualquer ordem exarada pela Empresa Reclamada ou seus prepostos. O que havia, na verdade, era uma “oferta” de trabalho: efetuar a entrega em troca da percepção do valor cobrado a título de “taxa de entrega”. Caso não quisesse, poderia rejeitar de forma livre, sem sofrer qualquer sanção por isso. Nesse sentido, merece destaque o que preceitua a jurisprudência moderna acerca do tema. Ex vi: PRESTAÇÃ O DE SERVIÇOS DE ENTREGA DE MEDICAMENTOS - MOTOBOY INTEGRANTE DE LISTA DE PROFISSIONAIS DA Á REA - AUSÊ NCIA DOS REQUISITOS DA SUBORDINAÇÃ O, PESSOALIDADE E CONTINUIDADE - INVIABILIDADE DE RECONHECIMENTO DO VÍNCULO EMPREGATÍCIO. O vínculo empregatício se revela apenas na presença concomitante dos requisitos do artigo 2º e 3º da CLT. Não é trabalhador subordinado, portanto, não é empregado, aquele que administra sua força de trabalho segundo sua conveniência, podendo alterar o roteiro de entrega e ser substituído por terceiros, prestando serviços de forma descontínua, segundo seu interesses particulares e não de acordo com as exigências da empresa. (TRT-2 - RO: 00026675520125020034 SP 00026675520125020034 A28, Relator: ROSA MARIA VILLA, Data de Julgamento: 23/04/2014, 2ª TURMA, Data de Publicaçã o: 29/04/2014) Por todo o exposto, uma vez amplamente demonstrada a inexistência de subordinação através das ilações fáticas trazidas à baila, as quais serão oportunamente confirmadas através de prova testemunhal, pugna a Empresa Reclamada pelo indeferimento do pleito de reconhecimento do vínculo empregatício e, por conseguinte, dos pedidos que lhe são acessórios. IV.1. B – DA INEXISTÊNCIA DE PESSOALIDADE O pró ximo requisito a ser analisado, indispensá vel para a caracterizaçã o do liame empregatício, é a existência da pessoalidade. No caso em tela, conforme aduzido anteriormente, a presença ou não do Reclamante no estabelecimento era absolutamente irrelevante, mormente pelo fato de que a Empresa Reclamada possuía outros motoqueiros em seus contatos, os quais poderiam ser acionados para realizar as entregas dos lanches solicitados pelos clientes. Em assim sendo, acaso o motoqueiro faltasse o dia de trabalho, nenhum prejuízo traria para a Empresa Reclamada, haja vista a desnecessidade de sua mão de obra PESSOAL, demonstrando, portanto, o viés de prestação de serviços que reveste a relação jurídica ora analisada. Impende destacar, igualmente, que o motoqueiro não estava sujeito a qualquer sanção ou punição acaso faltasse e não avisasse, fato que jamais ocorreria em se tratando de empregado regido pela CLT. Resta claro, portanto, que nã o existia a condiçã o de pessoalidade na relaçã o jurídica ora exposta, perecendo, portanto, o requisito ora analisado. Nesse sentido, cabível trazer à baila a liçã o do Professor Sérgio Pinto Martins [1] acerca da pessoalidade. Veja-se: “A prestação de serviços deve ser feita com pessoalidade. O contrato de trabalho é feito com certa pessoa, daí se dizer que é intuitu personae. O empregador conta com certa pessoa específica para lhe prestar serviços. Se o empregado faz-se substituir constantemente por outra pessoa, como por um parente, inexiste o elemento pessoalidade na referida relação”. Clarividente, portanto, que o requisito em tela nã o está presente na relaçã o jurídica apresentada a este Probo Juízo, uma vez que irrelevante para a Empresa Reclamada quem seria o condutor da moto, contanto que a entrega fosse efetivada. Ante a tal fato, pugna a Empresa Reclamada pelo indeferimento do pedido de reconhecimento de vínculo empregatício e os pedidos que lhe sã o acessó rios, os quais englobam toda a Reclamató ria Trabalhista, razã o pela qual deve ter os pleitos julgados absolutamente improcedentes, o que desde já se requer. IV.1. C – DA INEXISTÊNCIA DE ONEROSIDADE Nã o fosse suficiente o perecimento dos dois requisitos esmiuçados no item anterior, o Reclamante também nã o preenchia o requisito da onerosidade. Ora, Excelência, conforme anotado anteriormente, a Empresa Reclamada NUNCA EFETUOU QUALQUER PAGAMENTO AO RECLAMANTE A TÍTULO DE SALÁRIO, de forma que sua remuneraçã o, quando aparecia para trabalhar, consistia unicamente no repasse da “taxa de entrega”, cobrada quando da ocorrência de pedidos delivery (doc. 04 – comprovante. Pdf). Em assim sendo, não havia o binômio “prestação de serviços – contraprestação salarial” entre as partes, razão pela qual o acerto de prestação de serviços firmado entre as partes não tinha caráter oneroso diretamente para a Empresa Reclamada, uma vez que quem adimplia com a remuneração do motoqueiro responsável pela entrega era o próprio cliente que fazia o pedido. Perceba-se, portanto, que a Empresa Reclamada nã o tinha custo com a manutençã o dos entregadores, inexistindo, portanto, onerosidade na relaçã o jurídica, o que evidencia, novamente, o cará ter de prestaçã o de serviços desse liame existente entre as partes. Ante ao exposto, pugna a Empresa Reclamada pelo indeferimento do pleito de reconhecimento de vínculo empregatício e dos pedidos acessó rios, que englobam a totalidade da Reclamató ria Trabalhista ora rebatida, devendo ser declarados totalmente improcedentes, com a consequente extinçã o da demanda. IV.1. D – DA OCORRÊNCIA DE EVENTUALIDADE NA PRESTAÇÃO DOS SERVIÇOS PELO RECLAMANTE Conforme exaustivamente demonstrado no item V desta contestaçã o, nã o havia qualquer relaçã o de pessoalidade entre o Reclamante e a Empresa Reclamada, de modo que a pessoa física que iria conduzir a moto para realizar a entrega sempre foi fator irrelevante para a Empresa Reclamada. De mais a mais, diferente do que alega em sua exordial, o Reclamante NUNCA laborou na jornada de trabalho afirmada, haja vista que, assim como os demais motoqueiros que prestam serviços para a Empresa Reclamada, trabalha de forma autônoma, trabalhando apenas nos dias que lhe interessar e realizando a rota que melhor lhe aprouver. Desse modo, nã o há como se estabelecer uma constâ ncia na prestaçã o dos serviços pelo Reclamante, especialmente pelo fato de que nã o existia nenhuma expectativa em torno de seu serviço. Se viesse trabalhar, teria entregas para efetuar, assim como os demais; se nã o viesse, os prepostos direcionariam as entregas para os motoqueiros que tivessem disponibilidade, sem designar qualquer sançã o ou puniçã o ao Reclamante pela sua ausência. Excelência, a leitura atenta do presente item permite verificar a ausência de absolutamente todos os requisitos indispensáveis para a caracterização do vínculo de emprego, conforme lição insculpida no art. 3º da Consolidação das Leis do Trabalho, de modo que o indeferimento dos pedidos de reconhecimento de vínculo de emprego e correlatos é medida que se impõe. IV.2 – DA INOCORRÊNCIA DE DANO MORAL Em que pese a rejeiçã o do pleito ora vergastado decorrer do pró prio indeferimento do pedido de reconhecimento de vínculo empregatício, por excesso de zelo, vem a Empresa Reclamada demonstrar a inocorrência do suposto dano moral alegado pelo Reclamante. Inicialmente, há de se destacar que os fatos ensejadores do suposto dano sã o o nã o pagamento das supostas verbas rescisó rias e a ausência de anotaçã o da CTPS do obreiro. Ora, Excelência, amplamente demonstrado no item anterior que o vínculo fá tico-jurídico existente entre as partes nã o guarda qualquer característica pró pria das relaçõ es de emprego, razã o pela qual o pedido de indenizaçã o por dano moral, arrimado nos fatos alegados pelo Reclamante, nã o se sustentam. Em assim sendo, pugna a Empresa Reclamada pelo indeferimento do pleito em questã o, por ausência de causa de pedir, haja vista a inexistência de vínculo empregatício entre as partes. Entretanto, em atençã o ao princípio da eventualidade e considerada a importâ ncia da alegaçã o de toda a matéria de defesa em sede de contestaçã o, vem a Empresa Reclamada demonstrar o nã o preenchimento dos requisitos necessá rios para a caracterizaçã o da responsabilidade civil empresarial, a fim de fulminar, por todos os aspectos, a ardilosa pretensã o do Reclamante. Veja-se: IV.2. A – DA INEXISTÊNCIA DE CONDUTA DANOSA POR PARTE DA EMPRESA RECLAMADA É liçã o comezinha do Direito Civil que a caracterizaçã o do instituto da responsabilidade civil pressupõ e a existência concomitante de três pressupostos, a saber: ato/omissã o danosa; o dano propriamente dito e um nexo de causalidade que una o ato/omissã o danosa ao dano experimentado pelo ofendido. No caso em tela, nã o consta nos autos a comprovaçã o de qualquer prá tica danosa por parte da Empresa Reclamada, mormente pelo fato de que nunca houve relação de emprego entre as partes e, consequentemente, inexiste a obrigaçã o de quitaçã o de verbas rescisó rias ou anotaçã o da CTPS. Conforme amplamente anotado, o Reclamante prestou serviços de entrega por um curtíssimo período, sem jornada de trabalho fixa e sem qualquer obrigaçã o de comparecimento, além de poder ser substituído por qualquer outro motoqueiro, sendo irrelevante a sua presença pessoal para a Empresa Reclamada. A natureza jurídica da relação existente entre as partes tutela a Empresa Reclamada, afastando a obrigação de anotação da CTPS do Reclamante e o pagamento de “verbas rescisórias”, haja vista não se tratar de relação de emprego. Em assim sendo, o não pagamento das supostas verbas rescisórias e a não anotação da CTPS do Reclamante não figuram como atos danosos, uma vez que a Empresa Reclamada não está obrigada a reconhecer relação jurídica de prestação de serviços como se de emprego fosse, criando uma realidade falsa. Nesse sentido, pugna a Empresa Reclamada pelo indeferimento do pleito de indenização por dano moral, posto que nunca incorreu em qualquer conduta que maculasse a honra objetiva ou subjetiva do Reclamante. IV.2. B – DA INOCORRÊNCIA DE DANO O Reclamante, de maneira superficial, afirma que sofreu dano moral em razã o do nã o pagamento das verbas rescisó rias que entende fazer jus e da nã o anotaçã o de sua CTPS. De início, cumpre destacar que, curiosamente, em que pese ter cessado a prestaçã o de serviços em março do corrente ano, apenas agora veio pleitear o suposto “dano” sofrido. Ademais, a inexistência de ato/omissão danosa por parte da Empresa Reclamada já faz cair por terra a ocorrência de dano. Entretanto, ainda que assim não se considere, o Reclamante não trouxe aos autos qualquer comprovação da mácula moral que alega ter sofrido, seja pela ausência de anotação de sua CTPS, seja pelo não pagamento das supostas verbas rescisórias que entende fazer jus. Consoante é cediço, a mera alegaçã o de dano nã o franqueia o seu deferimento, devendo haver prova cabal de que o Reclamante realmente experimentou mais do que um mero dissabor. No caso em tela, clarividente é a intençã o do Reclamante de locupletar-se ilicitamente à custa da Empresa Reclamada, haja vista a sua alegaçã o genérica de que sofreu dano. Ressalte-se, por oportuno, que inexistia relaçã o de emprego entre as partes, razã o pela qual nunca figurou como obrigaçã o da Empresa Reclamada a anotaçã o da CTPS ou o pagamento de verbas rescisó rias, haja vista que estas ú ltimas sã o, inclusive, inexistentes. Por todo o exposto, sendo a inexistência de dano decorrência ló gica da ausência de prá tica de qualquer ato ilícito por parte da Empresa Reclamada, pugna pelo indeferimento do pleito ora vergastado. IV.2. C – DA INEXISTÊNCIA DE NEXO CAUSAL Igualmente, nã o há que se falar em nexo causal se inexistentes ato ilícito e dano, devendo, portanto, o pleito em questã o ser indeferido de plano. No caso em tela, os fatos que arrimam a pretensã o autoral nã o tem razã o de ser, simplesmente em razã o da natureza jurídica do vínculo existente entre as partes. Nã o pode o Reclamante esperar que a Empresa Reclamada cumpra obrigaçõ es pró prias de relaçõ es empregatícias quando, na verdade, existia entre as partes um mero acerto para realizaçã o de entregas mediante repasse de taxa cobrada ao consumidor adquirente. Ora, se tinha ampla liberdade para ir trabalhar ou não, para formular sua própria rota de entregas e não sofria qualquer controle de jornada ou manifestação do poder diretivo por parte da Empresa Reclamada, como poderia esperar o cumprimento de obrigações claramente empregatícias? Há de se rememorar que o contrato de emprego, assim como qualquer contrato bilateral, traz direitos e obrigaçõ es para ambas as partes. Caracteriza latente má -fé da parte a exigência tã o somente das obrigaçõ es da outra, sem haver o cumprimento de direitos. No caso em tela, considerado o acerto existente entre as partes, sempre foram cumpridas mutuamente as obrigações existentes, tanto pela Empresa Reclamada quanto pelo Reclamante, obviamente, respeitando as estipulações próprias dessa relação jurídica, não havendo que se falar em exigência – de nenhuma das partes – de obrigações próprias de outras modalidades contratuais. Inexistentes o dano e a prá tica de ato ilícito pela Empresa Reclamada, perece a fixaçã o de nexo causal, fazendo cair por terra o pleito de indenizaçã o por danos morais formulado pelo Reclamante, cujo indeferimento se requer. IV.3 – DO DESCABIDO PLEITO DE VERBAS RESCISÓ RIAS, PAGAMENTO DE MULTAS DOS ARTS. 467 E 477 DA CLT E HONORÁ RIOS DE SUCUMBÊ NCIA. O Reclamante postula o pagamento de verbas rescisó rias e de multas específicas em razã o do seu nã o pagamento. Conforme amplamente ventilado na presente contestaçã o e demonstrado em sede de audiência, a relaçã o jurídica existente é de prestaçã o de serviços, de modo que nã o se admite a cobrança de direitos trabalhistas pró prios dos empregados regidos pela Consolidaçã o das Leis do Trabalho. O acerto ora esmiuçado tem natureza civil, razã o pela qual nã o lhe sã o extensíveis as garantias insculpidas na Consolidaçã o das Leis do Trabalho. No caso em tela, havia a prestaçã o dos serviços de motoboy mediante o recebimento do valor integral cobrado a título de “taxa de entrega” para cada lanche solicitado pelo sistema delivery. O Reclamante possuía liberdade para construir seu horá rio, seu itinerá rio, poderia faltar ou sair para resolver assuntos pessoais quando quisesse e nã o precisava apresentar qualquer satisfaçã o para a Empresa Reclamada, razã o pela qual nã o há que se falar em vínculo empregatício. Sucumbente a caracterizaçã o do vínculo de emprego entre as partes, os pedidos correlatos devem seguir a mesma sorte, razã o pela qual pugna a Empresa Reclamada pelo indeferimento do pedido de pagamento das verbas rescisó rias, contribuiçã o previdenciá ria e multas dos arts. 467 e 477 da Consolidaçã o das Leis do Trabalho. Acerca dos honorá rios pleiteados, é entendimento pacificado pelo Colendo Tribunal Superior do Trabalho, nas Sú mulas nº 219 e 329 que os honorá rios advocatícios na Justiça do Trabalho só sã o devidos a parte hipossuficiente representada por sindicato da categoria, o que, notadamente, nã o é o caso dos autos. Havendo, portanto, regra específica para o cabimento de honorá rios na Justiça do Trabalho, nã o há que se falar em aplicaçã o do Novo Có digo de Processo Civil na forma que pretende o Reclamante. Por todo o exposto, pugna a Empresa Reclamada pelo indeferimento dos pleitos de condenaçã o ao pagamento de verbas rescisó rias, anotaçã o da CTPS, multas dos arts. 467 e 477 e honorá rios advocatícios. V – DA IMPUGNAÇÃO ESPECÍFICA DOS PEDIDOS Em atençã o ao princípio da eventualidade, na remota hipó tese da preliminar argü ida ser superada, pugna a Empresa Reclamada pela IMPROCEDÊNCIA TOTAL de todos os pleitos formulados na petiçã o inicial, a saber: a) Reconhecimento do vínculo empregatício e anotaçã o da CTPS; b) Pagamento das verbas rescisó rias arroladas na petiçã o inicial; c) Pagamento de indenizaçã o a título de danos morais; d) Pagamento das multas insculpidas nos arts. 467 e 477 da CLT; e) Recolhimento de contribuiçõ es previdenciá rias; f) Pagamento de honorá rios de sucumbência. VI – DOS REQUERIMENTOS FINAIS Ante ao exposto, pugna a Empresa Reclamada pelo deferimento do pedido de Justiça Gratuita, nos termos do disposto na Lei nº 1060/50. Requer, igualmente, o acolhimento da preliminar de inépcia da inicial, com a consequente extinçã o do presente feito sem resoluçã o de mérito, haja vista as transgressõ es ao disposto no art. 840, § 1º, da Consolidaçã o das Leis do Trabalho e art. 330, § 1º, I, do Novo Có digo de Processo Civil. Caso seja superada a preliminar aventada, requer o reconhecimento da inépcia da exordial especificamente no tocante aos pedidos de reconhecimento do vínculo empregatício e da anotaçã o da CTPS do Reclamante, haja vista nã o constarem no rol de pedidos. Em atençã o ao princípio da eventualidade, na remota hipó tese da preliminar argü ida ser superada, pugna a Empresa Reclamada pela IMPROCEDÊNCIA TOTAL de todos os pleitos formulados na petiçã o inicial. Protesta provar o alegado por todos os meios de prova em direito admitidos, em especial o depoimento das partes, oitiva de testemunhas e demais provas legal e moralmente aceitas. Termos em que, Pede e espera deferimento. Cidade/UF, __ de ______ de 2016. Advogado OAB/__ xxxx
[1] MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 30ª ediçã o – Sã o Paulo: Atlas, 2014. P. 154.