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AO JUÍZO DA COMARCA DE COLINAS DO SUL/GO

[NOME DA PARTE AUTORA], brasileira, estado civil, supervisora de vendas,


portadora do RG sob o nº _____________, inscrita no CPF sob o nº
___________, residente e domiciliada no [endereço completo], com endereço
eletrônico registrado como _____@__________.com, vem respeitosamente à
presença de Vossa Excelência, por meio de sua procuradora signatária, que
junta neste ato instrumento de procuração com endereço profissional completo
para receber notificações e intimações, propor a presente

AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE, CUMULADA COM


INDENIZATÓRA POR ABANDONO AFETIVO, em face de

[NOME DA PARTE REQUERIDA], brasileiro, estado civil, empresário, portador


do RG sob o nº _____________, inscrito no CPF sob o nº ___________,
residente e domiciliado no [endereço completo], com endereço eletrônico
registrado como _____@__________.com, pelas razões de fato e de direito a
seguir expostas:

1. DOS FATOS

A requerente nasceu em [data], contando atualmente com xxxxx


anos de idade, é filha de [NOME DA MÃE] e supostamente filha do requerido.

A concepção da requerente aconteceu em decorrência de um


relacionamento esporádico no ano de 19xx, quando a mãe da requerente
pegou uma “carona” com o requerido de xxxx até a cidade do interior de xxxx,
onde a família da mãe requerente residia, como também a família do requerido.
Quando a mãe da requerente descobriu sobre a gravidez, levou ao
conhecimento da família do requerido. Na época, soube que ele estava prestes
a se casar com outra pessoa, que inclusive é sua atual esposa, e como eles
tinham elevado poder aquisitivo, ouviu de algumas pessoas que se ela
buscasse o reconhecimento da paternidade perderia a filha, porque o requerido
teria melhores condições de prover o sustento da criança.

Considerando a ignorância da genitora quanto a tais questões


jurídicas, resolveu que cuidaria da filha sozinha, sem buscar qualquer ajuda do
genitor. Ainda assim, informou ao requerido sobre a existência da sua filha,
buscando o reconhecimento voluntário, no entanto, foi ignorada.

Após determinado tempo, a mãe da requerente passou a residir em


Goiânia e, como sempre teve muita disposição para trabalhar e conseguia
prover o sustento da filha, ainda que se forma precária, não buscou o
reconhecimento por vias judiciais.

Contudo, a requerente sempre teve muita insatisfação quanto a sua


história e manifestou o interesse em buscar o reconhecimento da paternidade,
desde que completou a maioridade. Fez algumas pesquisas com base nas
informações fornecidas por sua genitora e por alguns amigos da família que
ainda residem em xxxxxxx, e chegou à identificação do seu suposto pai, ora
requerido.

O primeiro contato da requerente com o suposto pai foi no ano de


20xx, quando contatou por meio de ligação telefônica, nessa oportunidade
contou toda a história e o mesmo prontamente manifestou interesse na
realização do exame de DNA. Todavia, o requerido vem se esquivando para
efetivamente realizar o exame, bem como tem evitado contato com a
requerente.
Em 20xx, o requerido prometeu que, estabilizando o quadro saúde
pública decorrente da pandemia, procuraria a suposta filha para realizar o
exame, fato que fora compreendido pela requerente.

Infelizmente, essa foi somente uma manobra para ganhar tempo e


não realizar o exame, considerando que depois do período de pandemia a
requerente entrou em contato para realizar o exame e passou a ser ignorada.

A requerente claramente buscou meios de resolver


administrativamente, por meio do exame, o seu direito em ter o reconhecimento
paterno, porém, o mesmo tem ignorado toda a situação.

Todo esse distanciamento proposital por parte do requerido privou a


requerente do convívio familiar paterno, inclusive com os filhos do requerido,
supostos irmãos da requerente.

A ausência de referencial paterno acarretou em diversas sequelas à


requerente na vida adulta, principalmente em relação aos relacionamentos
amorosos, não conseguindo manter a estabilidade, sentindo-se traída e
abandonada por seus companheiros, que só existiam na sua mente,
culminando sempre no término dos relacionamentos e consequentemente
sendo obrigada a arcar sozinha com os cuidados das suas filhas.

Além disso, o requerido sempre gozou de uma excelente condição


financeira, e a requerente foi privada de uma vida melhor, de uma educação
melhor, como por exemplo pelo fato de sempre ter estudado em escolas
públicas e não ter tido a oportunidade de cursar faculdade, diferente dos outros
filhos do requerido.

Cumpre salientar que a requerente trabalha como supervisora de


vendas em uma empresa de perfumaria, de onde provém o sustento de suas
três filhas menores, leva uma vida bastante diferente daqueles filhos que
tiveram referencial paterno e financiamento estudantil pelo genitor.
O requerido, por outro lado, exerce atividade empresarial em vários
segmentos: supermercados, hotéis, postos de combustíveis e agropecuária,
sendo patente a diferença das suas condições financeiras, que se mostram
muito superiores.

Assim sendo, necessária se faz a propositura da presente demanda,


requerendo-se o total provimento dos pedidos de mérito.

2. DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS

a) DO DIREITO DE TER RECONHECIDO O VÍNCULO DE


FILIAÇÃO BIOLÓGICA – PAI BIOLÓGICO QUE SE FURTA DE
SUAS OBRIGAÇÕES

Assiste à requerente o direito de ter reconhecido seu vínculo de


filiação para com o requerido. Afinal, segundo o art. 27 da Lei 8.069/90, “o
reconhecimento do estado de filiação é direito personalíssimo, indisponível e
imprescritível”.

O direito de reconhecimento da filiação biológica é amparado pelo


ordenamento jurídico brasileiro, sendo um direito indisponível.

A Constituição Federal prevê em seu art. 227, §6º:

Art. 227 (...)

§ 6º - Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por


adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas
quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação.

O Código Civil também assegura a imprescritibilidade da filiação:

Art. 1.606. A ação de prova de filiação compete ao filho, enquanto


viver, passando aos herdeiros, se ele morrer menor ou incapaz.
Parágrafo único. Se iniciada a ação pelo filho, os herdeiros poderão
continuá-la, salvo se julgado extinto o processo.

A jurisprudência já se manifestou quanto a imprescritibilidade da


filiação, conforme adotado na seguinte ementa de acórdão do Supremo
Tribunal Federal:

EMENTA RECURSO EXTRAORDINÁRIO. DIREITO


PROCESSUAL CIVIL E CONSTITUCIONAL. REPERCUSSÃO
GERAL RECONHECIDA. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE
PATERNIDADE DECLARADA EXTINTA, COM FUNDAMENTO EM
COISA JULGADA, EM RAZÃO DA EXISTÊNCIA DE ANTERIOR
DEMANDA EM QUE NÃO FOI POSSÍVEL A REALIZAÇÃO DE
EXAME DE DNA, POR SER O AUTOR BENEFICÁRIO DA
JUSTIÇA GRATUITA E POR NÃO TER O ESTADO
PROVIDENCIADO A SUA REALIZAÇÃO. REPROPOSITURA DA
AÇÃO. POSSIBILIDADE, EM RESPEITO À PREVALÊNCIA DO
DIREITO FUNDAMENTAL À BUSCA DA IDENTIDADE GENÉTICA
DO SER, COMO EMANAÇÃO DE SEU DIREITO DE
PERSONALIDADE. 1. É dotada de repercussão geral a matéria
atinente à possibilidade da repropositura de ação de investigação
de paternidade, quando anterior demanda idêntica, entre as
mesmas partes, foi julgada improcedente, por falta de provas, em
razão da parte interessada não dispor de condições econômicas
para realizar o exame de DNA e o Estado não ter custeado a
produção dessa prova. 2. Deve ser relativizada a coisa julgada
estabelecida em ações de investigação de paternidade em que
não foi possível determinar-se a efetiva existência de vínculo
genético a unir as partes, em decorrência da não realização do
exame de DNA, meio de prova que pode fornecer segurança
quase absoluta quanto à existência de tal vínculo. 3. Não
devem ser impostos óbices de natureza processual ao
exercício do direito fundamental à busca da identidade
genética, como natural emanação do direito de personalidade
de um ser, de forma a tornar-se igualmente efetivo o direito à
igualdade entre os filhos, inclusive de qualificações, bem
assim o princípio da paternidade responsável. 4. Hipótese em
que não há disputa de paternidade de cunho biológico, em
confronto com outra, de cunho afetivo. Busca-se o reconhecimento
de paternidade com relação a pessoa identificada. 5. Recursos
extraordinários conhecidos e providos. (STF - RE: 363889 DF,
Relator: DIAS TOFFOLI, Data de Julgamento: 02/06/2011, Tribunal
Pleno, Data de Publicação: 16/12/2011)

Diante do exposto, tendo em vista que mesmo ciente da


paternidade, o requerido recusa-se a registrar a requerente, inclusive a
realizar o exame de DNA de forma administrativa, necessária a sua realização
e consequentemente a procedência da demanda.

b) DO EXAME DE DNA – NECESSIDADE DA COMPROVAÇÃO


DE PATERNIDADE BIOLÓGICA

Ante a necessidade da comprovação de paternidade biológica,


requer seja determinado com urgência a realização do exame de DNA,
para certificação do vínculo paterno entre a requerente e o requerido.

A preferência na averiguação da paternidade tem como base o


exame de DNA, dada sua precisão e confiabilidade, é o que prevê o Código
Civil:

Art. 231. Aquele que se nega a submeter-se a exame médico


necessário não poderá aproveitar-se de sua recusa.

Art. 232. A recusa à perícia médica ordenada pelo juiz poderá suprir
a prova que se pretendia obter com o exame.
A Sumula 301 do STJ foi uníssona no assunto: “Em ação
investigatória, a recusa do suposto pai a submeter-se ao exame de DNA induz
presunção juris tantum de paternidade”.

A presente demanda pretende exclusivamente ter comprovada a


paternidade e consequentemente os direitos e obrigações provenientes do
vínculo.

A jurisprudência vem destacar ainda que é direito inalienável e


imprescritível do filho buscar o reconhecimento de sua filiação biológica através
do exame de DNA:

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO ORDINÁRIA.


INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE. RETIFICAÇÃO DE
REGISTRO. EXAME DE DNA. FILHO MAIOR. FILIAÇÃO
SÓCIOAFETIVA. DECADÊNCIA. PRESCRIÇÃO. NÃO
OCORRÊNCIA. AGRAVO A QUE SE NEGA PROVIMENTO "IN
CASU". -Ainda que exista uma filiação socioafetiva, é direito
inalienável e imprescritível do filho buscar o reconhecimento de sua
filiação biológica através do exame de DNA -Inexiste no direito
brasileiro a decadência ou mesmo a prescrição do direito ou ação
do filho objetivando reconhecer seu pai biológico -Somente através
da prova científica "DNA" e da ação, o filho pode ter a certeza de
quem é seu pai biológico. (TJ-MG - Agravo de Instrumento-Cv AI
10699100028595001 Ubá. Desembargador BELIZÁRIO DE
LACERDA (RELATOR). Data de publicação: 13/07/2012)

Sendo assim, não há dúvidas quanto ao direito da requerente e a


necessidade de realização do exame de DNA com finalidade de verificação da
paternidade, e inexiste maneira mais segura, senão a realização do exame
pleiteado.
c) DO EXAME DE DNA SER CUSTEADO PELO PODER
JUDICIÁRIO ANTE A HIPOSSUFICIÊNCIA DA REQUERENTE

É certo que o exame de DNA possui ainda um elevado custo


no país, sendo praticamente inviável para grande parte da população
brasileira arcar com as despesas do referido exame. Dispõe o art. 98, § 1º,
inciso V, do Código de Processo Civil de 2015, “a  gratuidade da justiça
compreende as despesas com a realização de  exame  de
código  genético -  DNA  e de outros exames considerados essenciais”.

Ante a hipossuficiência da requerente, requer que o


exame de DNA seja custeado pelo Poder Judiciário.

d) DA NECESSÁRIA RETIFICAÇÃO DO REGISTRO CIVIL

Após o devido reconhecimento da paternidade pleiteada, é devido à


requerente, conforme direito insculpido na Lei nº 6.015 de 31/12/1973, que, em
seus artigos 109 e seguintes, abre a possibilidade de retificação dos registros:

Art. 109. Quem pretender que se restaure, supra ou retifique


assentamento no Registro Civil, requererá, em petição
fundamentada e instruída com documentos ou com indicação de
testemunhas, que o Juiz o ordene, ouvido o órgão do Ministério
Público e os interessados, no prazo de cinco (5) dias, que correrá
em cartório.

Afinal, trata-se de direito à retificação consubstanciada no


reconhecimento da verdadeira filiação biológica.

Trata-se, portanto, de direito que assiste à requerente,


conforme jurisprudência do nosso Tribunal de Justiça:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE


C/C PETIÇÃO DE HERANÇA. PATERNIDADE BIOLÓGICA
COMPROVADA POR MEIO DE EXAME DE DNA. RETIFICAÇÃO
DE REGISTRO CIVIL PARA CANCELAMENTO DA PATERNIDADE
SOCIOAFETIVA RECONHECIDA LIVREMENTE. 1. Não há que se
falar em decadência do direito para ajuizar ação investigatória de
paternidade, na qual se pretende alterar o estado de filiação,
substituindo no registro de nascimento o pai afetivo pelo pai
biológico, por se referir ao estado da pessoa e ser corolário do
princípio da dignidade da pessoa humana (precedentes desta
Corte). 2. Embora não haja graduação de provas, o exame de DNA
goza de posição privilegiada, não consistindo óbice à retificação do
registro civil a filiação socioafetiva (precedentes do STJ). 3. Uma
vez comprovada a paternidade biológica, é o caso de se acolher
a pretensão de investigação de paternidade com todos os seus
consectários legais, inclusive, no tocante ao registro civil.
APELO DESPROVIDO. (TJ-GO – Apelação Cível (CPC):
02683184820048090143, Relator: CARLOS HIPOLITO ESCHER,
Data de Julgamento: 10/11/2017, 4ª Câmara Cível, Data de
Publicação: DJ de 10/11/2017)

Desta feita, é patente o direito que assiste a requerente em ter o seu


registro retificado para [NOME DA REQUERENTE COM O SOBRENOME
PATERNO], sendo imperioso concluir-se pela procedência de seu pedido.

e) DO DEVER DE INDENIZAR PELO ABANDONO AFETIVO

O direito da requerente vem amparado segundo o artigo 227 da


Constituição Federal, no qual atribui aos pais e responsáveis o dever de
cuidado, zelo, criação da prole, convivência familiar com seus filhos, a fim de
preservá-los de negligências, discriminação entre outros.

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à


criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o
direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e
à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de
toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência,
crueldade e opressão. (Redação dada Pela Emenda Constitucional
nº 65, de 2010)

Infelizmente, não há como o Estado obrigar um pai a dar amor e


afeto ao seu filho, mas a legislação assegura à requerente o direito de ser
cuidada. Assim, os responsáveis que negligenciam ou são omissos no dever
de cuidado podem responder judicialmente por terem causados danos morais à
sua prole.

O ordenamento jurídico brasileiro também inclui normas que tratam,


especificamente, dos deveres dos pais para com seus filhos, a exemplo do art.
229 da Constituição Federal. E do Código Civil infere-se que:

Art. 1.634. Compete aos pais, quanto à pessoa dos filhos menores:

I - dirigir-lhes a criação e educação;

II - tê-los em sua companhia e guarda;

III - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para casarem;

IV - nomear-lhes tutor por testamento ou documento autêntico, se o


outro dos pais não lhe sobreviver, ou o sobrevivo não puder exercer
o poder familiar;

V - representá-los, até aos dezesseis anos, nos atos da vida civil, e


assisti-los, após essa idade, nos atos em que forem partes,
suprindo-lhes o consentimento;

VI - reclamá-los de quem ilegalmente os detenha;


VII - exigir que lhes prestem obediência, respeito e os serviços
próprios de sua idade e condição.

O grande filósofo, Platão, já dizia “não deverão gerar filhos quem


não quer dar-se ao trabalho de criá-los e educá-los”.

Ora, Nobre Julgador, é de conhecimento comum da sociedade a


importância da presença do pai na vida de um filho, não sendo possível
mensurar os danos causados pela ausência desta figura na filiação familiar.

Assim, não se trata se falta de amor, mas sim de negativa real de


amparo para garantir uma assistência moral e psíquica ao ofendido.

Neste caso, resta clara a falta de cuidado e amparo pelo requerido,


ao passo que jamais preocupou-se em procurar a requerente, ignorando e
enrolando-a, caracterizando assim um descaso com reais necessidades
ínfimas e primárias na vida da suposta filha.

Todo esse distanciamento por parte do requerido privou a


requerente do convívio familiar paterno, inclusive com os filhos do requerido,
supostos irmãos da requerente.

Não fosse suficiente, a ausência de referencial paterno acarretou em


diversas sequelas à requerente na vida adulta, principalmente em relação aos
relacionamentos amorosos, não conseguindo manter a estabilidade, sentindo-
se traída e abandonada por seus companheiros, que só existiam na sua mente,
culminando sempre no término dos relacionamentos e consequentemente
sendo obrigada a arcar sozinha com os cuidados das suas filhas.

Além disso, o requerido sempre gozou de uma excelente condição


financeira, e a requerente foi privada de uma vida melhor, de uma educação
melhor, como por exemplo pelo fato de sempre ter estudado em escolas
públicas e não ter tido a oportunidade de cursar faculdade, diferente dos outros
filhos do requerido.

Neste viés, é ausente o papel de pai na vida da autora, causando


tamanhos transtornos, refletindo até no presente momento. É nítido que o
requerido jamais demonstrou qualquer responsabilidade, por intermédio do
dever de cuidar, criar, dar subsistências, amparo e educação, infringindo assim
os preceitos básicos da personalidade humana da requerente.

Como relatado, Excelência, foram dias de tristeza, de menosprezo,


de rejeição, de dúvidas sobre o motivo que levava o requerido a agir desta
maneira.

Sabe-se que os meandros da mente humana são difíceis de ser


compreendidos, como também as atitudes do requerido, que age ao contrário
do que se espera de um verdadeiro pai.

Destarte, não há como o judiciário obrigar alguém a amar, em razão


que o amor é um sentimento tão puro e nobre, não podendo ser imposto
juridicamente à parte requerida.

Em recente julgado o Tribunal do Distrito Federal teve o seguinte


entendimento, sendo necessário abrilhantar a presente peça com o referido
precedente:

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. FAMÍLIA. ABANDONO AFETIVO.


COMPENSAÇÃO POR DANO MORAL. POSSIBILIDADE. DANO
IN RE IPSA. 1. "A omissão é o pecado que com mais facilidade se
comete, e com mais dificuldade se conhece, e o que facilmente se
comete e dificultosamente se conhece, raramente se emenda. A
omissão é um pecado que se faz não fazendo." (Padre Antônio
Vieira. Sermão da Primeira Dominga do Advento.Lisboa, Capela
Real, 1650). 2. A omissão não significa a mera conduta negativa, a
inatividade, a inércia, o simples não-fazer, mas, sim, o não fazer o
que a lei determina. 3. "Inexistem restrições legais à aplicação
das regras concernentes à responsabilidade civil e o
consequente dever de indenizar/compensar no Direito de
Família." (Precedente do STJ: REsp. 1159242/SP, Relatora
Ministra Nancy Andrighi). 4. "A indenização do dano moral por
abandono afetivo não é o preço do amor, não se trata de
novação, mas de uma transformação em que a condenação
para pagar quantia certa em dinheiro confirma a obrigação
natural (moral) e a transforma em obrigação civil, mitigando a
falta do que poderia ter sido melhor: faute de pouvoir faire
mieux, fundamento da doutrina francesa sobre o dano
moral.Não tendo tido o filho o melhor, que o dinheiro lhe sirva,
como puder, para alguma melhoria." (Kelle Lobato Moreira.
Indenização moral por abandono afetivo dos pais para com os
filhos: estudo de Direito Comparado. Dissertação de Mestrado.
Universidade Católica Portuguesa/Université de Rouen,
França/Leibniz Universität Hannover. Orientadora: Profa. Dra.
Maria da Graça Trigo. Co-orientador: Prof. Dr. Vasco Pereira da
Silva. Lisboa, 2010). 5. "Dinheiro, advirta-se, seria ensejado à
vítima, em casos que tais, não como simples mercê, mas, e
sobretudo, como algo que correspondesse a uma satisfação com
vistas ao que foi lesado moralmente. Em verdade, os valores
econômicos que se ensejassem à vítima, em tais situações, teriam,
antes, um caráter satisfatório que, mesmo, ressarcitório." (Wilson
Melo da Silva. O dano moral e sua reparação,Rio de Janeiro:
Forense, 1955, p. 122). 6. Não se pode exigir, judicialmente, desde
os primeiros sinais do abandono, o cumprimento da "obrigação
natural" do amor. Por tratar-se de uma obrigação natural, um Juiz
não pode obrigar um pai a amar uma filha. Mas não é só de amor
que se trata quando o tema é a dignidade humana dos filhos e a
paternidade responsável. Há, entre o abandono e o amor, o dever
de cuidado. Amar é uma possibilidade; cuidar é uma obrigação
civil. 7. "A obrigação diz-se natural, quando se funda num mero
dever de ordem moral ou social, cujo cumprimento não é
judicialmente exigível, mas corresponde a um dever de
justiça." (Código Civil português - Decreto-Lei nº 47.344, de 25 de
novembro de 1966, em vigor desde o dia 1 de junho de 1967,
artigo 402º). 8. A obrigação dos progenitores cuidarem (lato senso)
dos filhos é dever de mera conduta, independente de prova ou do
resultado causal da ação ou da omissão. 9. "O cuidado como valor
jurídico objetivo está incorporado no ordenamento jurídico
brasileiro não com essa expressão, mas com locuções e termos
que manifestam suas diversas desinências, como se observa do
art. 227 da CF/88."(Precedente do STJ: REsp. 1159242/SP,
Relatora Ministra Nancy Andrighi). 10. Até 28 de março de 2019,
data da conclusão deste julgamento, foram 21 anos, 2 meses e 20
dias de abandono, que correspondem a 1.107 semanas, com o
mesmo número de sábados e domingos, e a 21 aniversários sem a
companhia do pai. 11. A mesma lógica jurídica dos pais mortos
pela morte deve ser adotada para os órfãos de pais vivos,
abandonados, voluntariamente, por eles, os pais. Esses filhos não
têm pai para ser visto. No simbolismo psicanalítico, há um
ambicídio. Esse pai suicida-se moralmente como via para sepultar
as obrigações da paternidade, ferindo de morte o filho e a
determinação constitucional da paternidade responsável. 12. "O
dano moral, com efeito, tem seu pressuposto maior na angústia, no
sofrimento, na dor, assim como os demais fatores de ordem física
ou psíquica que se concretizam em algo que traduza, de maneira
efetiva, um sentimento de desilusão ou de desesperança." (Wilson
Melo da Silva. Idem,p. 116). 13.O dano moral (patema d'animo) por
abandono afetivo é in re ipsa 14. O valor indenizatório, no caso de
abandono afetivo, não pode ter por referência percentual adotado
para fixação de pensão alimentícia, nem valor do salário mínimo ou
índices econômicos. A indenização por dano moral não tem um
parâmetro econômico absoluto, uma tabela ou um baremo,
mas representa uma estimativa feita pelo Juiz sobre o que
seria razoável, levando-se em conta, inclusive, a condição
econômica das partes, sem enriquecer, ilicitamente, o credor,
e sem arruinar o devedor. 15. "É certo que não se pode
estabelecer uma equação matemática entre a extensão desse
dano [moral] e uma soma em dinheiro. A fixação de indenização
por dano [moral] decorre do prudente critério do Juiz, que, ao
apreciar caso a caso e as circunstâncias de cada um, fixa o dano
nesta ou naquela medida." (Maggiorino Capello. Diffamazione e
Ingiuria. Studio Teorico-Pratico di Diritto e Procedura.2 ed., Torino:
Fratelli Bocca Editori, 1910, p. 159). 16. A indenização fixada na
sentença não é absurda, nem desarrazoada, nem desproporcional.
Tampouco é indevida, ilícita ou injusta. R$ 50.000,00 equivalem, no
caso, a R$ 3,23 por dia e a R$ 3,23 por noite. Foram cerca de
7.749 dias e noites. Sim, quando o abandono é afetivo, a solidão
dos dias não compreende a nostalgia das noites. Mesmo que nelas
se possa sonhar, as noites podem ser piores do que os dias.
Nelas, também há pesadelos. 17. Recurso conhecido e desprovido.
(TJ-DF 20160610153899 DF 0015096-12.2016.8.07.0006, Relator:
NÍDIA CORRÊA LIMA, Data de Julgamento: 28/03/2019, 8ª
TURMA CÍVEL, Data de Publicação: Publicado no DJE :
04/04/2019 . Pág.: 404/405)

Na decisão acima mencionada, o desembargador mencionou, e


que importa frisar: “Amar é uma possibilidade; cuidar é uma obrigação civil”.

Assim, sabe-se que a omissão do genitor com relação à assistência


moral, à educação e ao convívio em relação à sua filha, configura danos
morais. Inicialmente, sobreleva consignar que, em tese, é possível a reparação
por danos extrapatrimoniais no âmbito do Direito de Família, embasada nos
artigos 186 e 927, ambos do Código Civil, que assim dispõem:

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou


imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito. (...)

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a
outrem, fica obrigado a repará-lo.

Desta forma, a responsabilidade civil extracontratual decorrente da


prática de ato ilícito, depende da presença de três pressupostos elementares:
conduta culposa ou dolosa, dano e nexo de causalidade.

Ao discorrer sobre o tema, Sérgio Cavalieri Filho assinala que "(...)


só deve ser reputado como dano moral a dor, vexame, sofrimento ou
humilhação que, fugindo à normalidade, interfira intensamente no
comportamento psicológico do indivíduo, causando-lhe aflições, angústia e
desequilíbrio em seu bem-estar. Mero dissabor, aborrecimento, mágoa,
irritação ou sensibilidade exacerbada estão fora da órbita do dano moral (...)".

Por dano moral entende-se o dano que atinge os atributos da


personalidade, como imagem, bom nome, a qualidade ou condição de ser de
uma pessoa, a intimidade e a privacidade. Tem natureza compensatória e não
ressarcitória. Para o dano patrimonial há a reparação, para o dano à
personalidade, há o regime de compensação.

Para Stoco (2011), os direitos da personalidade são direitos


fundamentais com origens e raízes constitucionais. São, portanto, direitos do
homem, competindo ao Estado o dever de defendê-los. Os direitos da
personalidade são aqueles sem os quais todos os outros direitos subjetivos
perderiam o interesse. Nesse sentido, também afirmam Arnoldo Wald e Bruno
Pandori Giancoli (2012) que os direitos à honra, ao nome, à intimidade, à
privacidade e à liberdade estão englobados no direito à dignidade, esta que é a
base de todos os valores.

Para Venosa (2012), o direito ao dano moral reside no fato de que


ninguém deve prejudicar o próximo (neminem laedere). E, continua o
doutrinador sustentando que o conceito de culpa é alargado, não mais se
amoldando à trilogia imprudência, negligência e imperícia. O vasto campo da
responsabilidade extranegocial transita na esfera da culpa implícita ou
evidente.

Ainda, consoante a assertiva propalada por José de Aguiar Dias: “O


conceito de dano é único, e corresponde a lesão de um direito” (Da
Responsabilidade Civil. Rio de Janeiro: Forense, 1995, p. 737).

Bem como ainda, por Moral, na dicção de Luiz Antônio Rizzatto


Nunes, entende-se “(…) tudo aquilo que está fora da esfera material,
patrimonial do indivíduo” (O Dano Moral e sua interpretação jurisprudencial.
São Paulo: Saraiva, 1999, p. 1).

Reputa-se o dano moral como uma dor interior, não apreciável


economicamente, pois se cinge a um sentimento negativo, que não causa
modificações no mundo exterior, mas, tão-somente, na esfera íntima do
ofendido.

Como restou comprovado, a conduta do requerido causou à


requerente sentimentos de aflição espiritual e tristeza, bem como ficou
comprovado que a falta de convívio com o pai causou profundo e irremediável
abalo pessoal.

Com efeito, é certo que a comprovação de que o abandono afetivo


causou abalo psicológico de grande intensidade na autora.
ASSIM, A CONDUTA OMISSIVA DO PAI EM RELAÇÃO AO
DEVER JURÍDICO DE CONVIVÊNCIA COM A FILHA (ATO ILÍCITO),
CAUSOU O TRAUMA PSICOLÓGICO SOFRIDO (DANO À
PERSONALIDADE), E, SOBRETUDO, A REQUERENTE DESENVOLVEU
TRAUMAS PSICOLÓGICOS E DANOS IRREPARÁVEIS NA SUA
FORMAÇÃO PESSOAL COMO PESSOA E PROFISSIONAL.

SERÁ FACILMENTE DEMONSTRADO PELA REALIZAÇÃO DE


UM LAUDO PERICIAL QUE A REQUERENTE ATESTA A EXISTÊNCIA DE
TRAUMA PSICOLÓGICO DECORRENTE DA CONDUTA DO GENITOR.

Veja precedentes sobre o tema do Superior Tribunal de Justiça em


revisão à ementa anterior, ou seja, admitindo a reparação civil pelo abandono
afetivo. A ementa foi assim publicada por esse Tribunal Superior:

"Civil e Processual Civil. Família. Abandono afetivo.


Compensação por dano moral. Possibilidade. 1. Inexistem
restrições legais à aplicação das regras concernentes à
responsabilidade civil e o consequente dever de
indenizar/compensar no Direito de Família. 2. O cuidado como
valor jurídico objetivo está incorporado no ordenamento
jurídico brasileiro não com essa expressão, mas com locuções
e termos que manifestam suas diversas desinências, como se
observa do art.  227  da  CF/1988. 3. Comprovar que a imposição
legal de cuidar da prole foi descumprida implica em se reconhecer
a ocorrência de ilicitude civil, sob a forma de omissão. Isso porque
o  non facere, que atinge um bem juridicamente tutelado, leia-se, o
necessário dever de criação, educação e companhia – de cuidado
–, importa em vulneração da imposição legal, exsurgindo, daí, a
possibilidade de se pleitear compensação por danos morais por
abandono psicológico. 4. Apesar das inúmeras hipóteses que
minimizam a possibilidade de pleno cuidado de um dos genitores
em relação à sua prole, existe um núcleo mínimo de cuidados
parentais que, para além do mero cumprimento da lei, garantam
aos filhos, ao menos quanto à afetividade, condições para uma
adequada formação psicológica e inserção social. 5. A
caracterização do abandono afetivo, a existência de excludentes
ou, ainda, fatores atenuantes – por demandarem revolvimento de
matéria fática – não podem ser objeto de reavaliação na estreita
via do recurso especial. 6. A alteração do valor fixado a título de
compensação por danos morais é possível, em recurso especial,
nas hipóteses em que a quantia estipulada pelo Tribunal de origem
revela-se irrisória ou exagerada. 7. Recurso especial parcialmente
provido" (STJ, REsp 1.159.242/SP, Terceira Turma, Rel. Min.
Nancy Andrighi, j. 24/04/2012,  DJe  10/05/2012).

No mesmo sentido são os precedentes proferidos pelo nosso


Tribunal de Justiça de Goiás, que assim vem decidindo:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE PATERNIDADE


C/C ALIMENTOS. TERMO INICIAL PARA PAGAMENTO.
CITAÇÃO. SÚMULA 277 DO STJ. INDENIZAÇÃO POR
ABANDONO AFETIVO. NÃO CUMPRIMENTO DO DEVER DE
CUIDAR. COMPROVAÇÃO DO ATO ILÍCITO. DANO MORAL
CONFIGURADO. PRECEDENTES STJ. 1. Julgada procedente a
investigação de paternidade, os alimentos são devidos a partir da
citação (Súmula 277, do STJ). 2. "O dever de cuidado compreende o
dever de sustento, guarda e educação dos filhos. Não há dever
jurídico de cuidar afetuosamente, de modo que o abandono afetivo,
se cumpridos os deveres de sustento, guarda e educação da prole,
ou de prover as necessidades de filhos maiores e pais, em situação
de vulnerabilidade, não configura dano moral indenizável." (REsp
1579021/RS, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, QUARTA
TURMA, julgado em 19/10/2017, DJe 29/11/2017). 3. Não tendo o
pai se incumbido do seu dever de cuidar, já que mesmo ciente
da paternidade desde de 2009, não prestou nenhum tipo de
assistência, seja material ou de ordem afetiva à sua filha,
patente o dever de indenizar haja vista a configuração do
abandono afetivo. Precedentes do Superior Tribunal de Justiça.
Apelação cível conhecida e parcialmente provida. Sentença
mantida. (TJ-GO – Apelação Cível (CPC): 03377637820118090024,
Relator: ITAMAR DE LIMA, Data de Julgamento: 10/01/2019, 3ª
Câmara Cível, Data de Publicação: DJ de 10/01/2019)

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE REVISÃO DE ALIMENTOS. PEDIDO


RECONVENCIONAL. INDENIZAÇÃO POR ABANDONO AFETIVO.
NÃO CUMPRIMENTO DO DEVER DE CUIDAR. COMPROVAÇÃO
DO ATO ILÍCITO. DANO MORAL CONFIGURADO.
PRECEDENTES STJ. 1- O art. 1.634 do Código Civil impõe como
atributos do poder familiar a direção da criação dos filhos e o dever
de ter os filhos em sua companhia. 2- "O dever de cuidado
compreende o dever de sustento, guarda e educação dos filhos.
Não há dever jurídico de cuidar afetuosamente, de modo que o
abandono afetivo, se cumpridos os deveres de sustento, guarda e
educação da prole, ou de prover as necessidades de filhos maiores
e pais, em situação de vulnerabilidade, não configura dano moral
indenizável." (REsp 1579021/RS, Rel. Ministra MARIA ISABEL
GALLOTTI, QUARTA TURMA, julgado em 19/10/2017, DJe
29/11/2017). PRIMEIRA APELAÇÃO CÍVEL CONHECIDA E
PROVIDA. SEGUNDA APELAÇÃO CÍVEL CONHECIDA E
DESPROVIDA. SENTENÇA REFORMADA. (TJ-GO - Apelação
Cível (CPC): 02657633920168090175, Relator: JAIRO FERREIRA
JUNIOR, Data de Julgamento: 09/09/2019, 6ª Câmara Cível, Data
de Publicação: DJ de 09/09/2019)

Sendo assim, inquestionável o dever de indenizar a requerente,


tendo em a situação já narrada, que merece ser imputada a responsabilidade
ao requerido, pela ofensa extrema aos preceitos inerentes a pessoa humana.

f) DO QUANTUM INDENIZATÓRIO

Uma vez reconhecida a existência do dano afetivo, e o consequente


direito à indenização dele decorrente, necessário se faz analisar o aspecto do
quantum pecuniário a ser considerado e fixado, não só para efeitos de
reparação do prejuízo, mas também sob o cunho de caráter punitivo ou
sancionaria, preventivo, repressor.

E essa indenização que se pretende em decorrência dos danos


afetivos, há de ser arbitrada, mediante estimativa prudente, que possa em
parte, compensar o "dano sofrido" da parte Autora.

No tocante ao quantum indenizatório, entendo que ao quantificar a


indenização por dano moral o julgador deve atuar com razoabilidade,
observando o caráter indenizatório e sancionatório de modo a compensar o
abalo suportado, sem caracterizar enriquecimento ilícito. Ou seja, “... a
indenização a esse título deve ser fixada em termos razoáveis, não se
justificando que a reparação venha a constituir-se em enriquecimento indevido,
com manifestos abusos e exageros, devendo o arbitramento operar com
moderação, proporcionalmente ao grau de culpa e ao porte econômico das
partes, orientando-se o juiz pelos critérios sugeridos pela doutrina e pela
jurisprudência, com razoabilidade, valendo-se de sua experiência e do bom
senso, atento à realidade da vida e às peculiaridades de cada caso.” (REsp
245727/SE, Rel. Ministro SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, 4ª Turma, DJ
05/06/2000 p. 174).

No caso, levando-se em conta a atividade desenvolvida pelo


ofensor, que é empresário em diversos segmentos, como supermercados,
hotéis, postos de combustíveis e agropecuária, seus lucros levam à
presunção de sua maior capacidade econômica, observando-se ainda, a
desídia de sua conduta, é de rigor que a verba indenizatória seja de, no
mínimo, R$ 150.000,00 (cento e cinquenta mil reais), ou em valor justo e
condizente a ser arbitrado por este magistrado, que represente não só uma
medida para tentar reparar o dano causado à requerente, mas também um
valor que leve em consideração uma medida para que o requerido seja coibido
a praticar ato lesivo contra terceiros.

Outrossim, deve ser ressalvado o termo inicial dos juros, que devem
incidir desde o evento danoso, conforme dispõe o artigo 398, do Código Civil e
nos termos do entendimento já sumulado pelo C. Superior Tribunal de Justiça
(súmula 54).

O dano moral perseguido resulta da indignação e da sensação, ou


melhor, da certeza da impotência da requerente perante o requerido.

3. DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA

A requerente é pessoa pobre na acepção do termo e não possui


condições financeiras para arcar com as custas processuais e honorários
advocatícios sem prejuízo do próprio sustento, razão pela qual desde já requer
o benefício da Gratuidade de Justiça, assegurados pela Lei nº 1.060/50 e
consoante o art. 98, caput, do CPC1.

Como dito, a requerente atualmente trabalha como supervisora de


vendas, percebendo renda bruta de aproximadamente R$ 2.776,05 (dois mil,
setecentos e setenta e seis reais e cinco centavos). Desse valor, é preciso
ponderar ainda que possui 3 (três) filhas menores que residem consigo,
que precisa prover o seu sustento, contando com despesas com moradia,
alimentação, energia, água e condomínio, sendo terminantemente
impossibilitada de arcar com o pagamento das custas processuais.

1 Art. 98. A pessoa natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira, com insuficiência de recursos
para pagar as custas, as despesas processuais e os honorários advocatícios tem direito à
gratuidade da justiça, na forma da lei.
Mister frisar, ainda, que, em conformidade com o art. 99, § 1º, do
CPC2, o pedido de gratuidade da justiça pode ser formulado por petição
simples e durante o curso do processo, tendo em vista a possibilidade de se
requerer em qualquer tempo e grau de jurisdição os benefícios da justiça
gratuita, ante a alteração do status econômico.

Para tal benefício, a requerente junta declaração de hipossuficiência


e comprovante de renda, os quais demonstram a inviabilidade de pagamento
das custas judiciais sem comprometer sua subsistência, conforme clara
redação do Código de Processo Civil: “Presume-se verdadeira a alegação de
insuficiência deduzida exclusivamente por pessoa natural” (art. 99, § 3º).

Assim, por simples petição, sem outras provas exigíveis por lei, faz
jus a requerente ao benefício da gratuidade de justiça:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. JUSTIÇA GRATUITA.


INDEFERIMENTO DA GRATUIDADE PROCESSUAL. AUSÊNCIA
DE FUNDADAS RAZÕES PARA AFASTAR A BENESSE.
CONCESSÃO DO BENEFÍCIO. CABIMENTO. Presunção relativa
que milita em prol do autor que alega pobreza. Benefício que não
pode ser recusado de plano sem fundadas razões. Ausência de
indícios ou provas de que pode a parte arcar com as custas e
despesas sem prejuízo do próprio sustento e o de sua família.
Recurso provido. (TJ-SP - AI: 22391085720198260000 SP 2239108-
57.2019.8.26.0000, Relator: Gilberto Leme, Data de Julgamento:
21/02/2020, 35ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação:
21/02/2020)

AGRAVO DE INSTRUMENTO. GRATUIDADE DA JUSTIÇA.


CONCESSÃO. Presunção de veracidade da alegação de
2 Art. 99. O pedido de gratuidade da justiça pode ser formulado na petição inicial, na
contestação, na petição para ingresso de terceiro no processo ou em recurso.
§ 1º Se superveniente à primeira manifestação da parte na instância, o pedido poderá ser
formulado por petição simples, nos autos do próprio processo, e não suspenderá seu curso.
insuficiência de recursos, deduzida por pessoa natural, ante a
inexistência de elementos que evidenciem a falta dos
pressupostos legais para a concessão da gratuidade da justiça.
Recurso provido. (TJ-SP - AI: 21202035920208260000 SP 2120203-
59.2020.8.26.0000, Relator: Roberto Mac Cracken, Data de
Julgamento: 15/06/2020, 22ª Câmara de Direito Privado, Data de
Publicação: 15/06/2020)

A assistência de advogado particular não pode ser parâmetro ao


indeferimento do pedido, nos termos do que dispõe o § 4º do art. 99 do CPC:
“A assistência do requerente por advogado particular não impede a concessão
de gratuidade da justiça”.

É nesse sentido ainda o entendimento jurisprudencial:

"JUSTIÇA GRATUITA. EXIGÊNCIA DE DECLARAÇÃO DE


PATROCÍNIO GRATUITO INCONDICIONAL. DESCABIMENTO.
AUSÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL. PRECEDENTES. (...) 2. É
possível o gozo da assistência judiciária gratuita mesmo ao
jurisdicionado contratante de representação judicial com previsão de
pagamento de honorários advocatícios ad exitum. 3. Essa solução é
consentânea com o propósito da Lei n. 1.060/1950, pois garante ao
cidadão de poucos recursos a escolha do causídico que, aceitando
o risco de não auferir remuneração no caso de indeferimento do
pedido, melhor represente seus interesses em juízo. 4. A exigência
de declaração de patrocínio gratuito incondicional não encontra
assento em qualquer dispositivo da Lei n. 1.060/1950, criando
requisito não previsto, em afronta ao princípio da legalidade. 5.
Precedentes das Terceira e Quarta Turmas do STJ. 6. Recurso
especial parcialmente conhecido e, nessa extensão, provido, com
determinação de retorno dos autos à origem para processamento da
apelação" (STJ, REsp 1504432 - RJ Relator : Ministro OG
FERNANDES julgado em 21/09/2016).(grifo meu)

Assim, considerando a demonstração inequívoca da necessidade da


requerente, tem-se por comprovada sua necessidade, fazendo jus ao benefício.

Cabe destacar que a lei não exige atestado de miserabilidade do


requerente, sendo suficiente a "insuficiência de recursos para pagar as custas,
despesas processuais e honorários advocatícios" (art. 98, CPC), conforme
destaca a doutrina:

"Não se exige miserabilidade, nem estado de necessidade, nem


tampouco se fala em renda familiar ou faturamento máximos. É
possível que uma pessoa natural, mesmo com bom renda mensal,
seja merecedora do benefício, e que também o seja aquela sujeito
que é proprietário de bens imóveis, mas não dispõe de liquidez. A
gratuidade judiciária é um dos mecanismos de viabilização do
acesso à justiça; não se pode exigir que, para ter acesso à
justiça, o sujeito tenha que comprometer significativamente sua
renda, ou tenha que se desfazer de seus bens, liquidando-os
para angariar recursos e custear o processo." (DIDIER JR.
Fredie. OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Benefício da Justiça
Gratuita. 6ª ed. Editora JusPodivm, 2016. p. 60)

Por tais razões, com fulcro no artigo 5º, inc. LXXIV, da Constituição
Federal, e no artigo 98 do CPC, requer seja deferida a gratuidade de justiça à
requerente.

4. DA AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO (CPC, art. 319, inc. VII)

Manifesta-se a requerente sobre seu interesse na realização de


audiência de conciliação ou mediação, nos termos do art. 319, inc. VII, do CPC.
5. DOS PEDIDOS

Diante o exposto, requer a Vossa Excelência:

a) Seja o requerido citado para que, querendo, conteste a presente ação


no momento processual oportuno, sob pena de revelia e confissão;

b) A determinação da realização do exame de DNA entre a requerente e


o requerido;
c) Que o exame de DNA seja custeado pelo convênio da justiça com
laboratórios, pois a requerente não possui condições financeiras para
arcar com o valor;
d) A produção de todos os meios de prova em direito admitidos,
notadamente a prova documental, testemunhal, depoimento pessoal do
requerido, sob pena de confissão ficta, e pericial, com a realização do
exame de DNA e de atendimento na área da psicologia/psiquiatria
com a requerente;
e) Ao final, julgar procedente a ação (em caso de verificado positivo o
exame laboratorial), para:
i. reconhecer a paternidade do requerido em relação à
requerente, autorizando a expedição de mandado ao cartório
de registro civil competente para assentamento do registro
paterno, inclusive dos avós paternos, passando a requerente
a se chamar [NOME DA REQUERENTE COM O
SOBRENOME PATERNO];
ii. condenar o requerido ao pagamento de uma indenização por
abandono afetivo, pelos prejuízos causados à requerente, no
valor de, no mínimo, R$ 150.000,00 (cento e cinquenta mil
reais), ou em valor justo e condizente com o caso concreto a
ser arbitrado por Vossa Excelência, corrigidos
monetariamente e acrescidos de juros legais;
f) A condenação do requerido ao pagamento das custas e demais
despesas processuais, inclusive em honorários advocatícios
sucumbenciais, que deverão ser arbitrados por este Juízo, conforme
norma do artigo 85 do CPC;
g) A concessão do benefício da justiça gratuita, por ser a requerente
pessoa sem condições de arcar com as custas, honorários advocatícios
e demais despesas processuais, sem prejuízo ao sustento próprio e de
sua família, consoante declaração anexa;
h) Manifesta-se a requerente sobre seu interesse na realização de
audiência de conciliação ou mediação, nos termos do art. 319, inc. VII,
do CPC;

Dá-se à causa o valor de R$ 150.000,00 (cento e cinquenta mil reais).

Nesses termos, pede e espera deferimento.

Cidade, 10 de May de 2023.

ADVOGADO

OAB

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