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Advocacia e Consultoria Jurídica

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DE UMA DAS VARAS DO


JUIZADO ESPECIAL CÍVEL CENTRAL DA COMARCA DE SÃO PAULO - SP

FULANO, qualificação, endereço de e-mail: XXX , vem a presença de Vossa


Excelência, por sua patrona que ora subscreve, propor a presente AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE
FAZER C/C PEDIDO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS em face de BANCO XXX,
qualificação.

DOS FATOS

O autor é pensionista do INSS e possui uma relação comercial (empréstimo


consignado em folha) junto ao Banco réu, relação essa que vem sendo devidamente
quitada.

O Banco réu, através de seus prepostos, diariamente oferece o serviço de


“refinanciamento” e oferecimento de novos empréstimos, mas o autor não tem e nunca teve
interesse na referida proposta, primeiramente por conseguir arcar com o pagamento das
parcelas assumidas de forma assídua (desconto em folha) e, também, pelo fato de que o
serviço oferecido não é vantajoso, vez que importa em um aumento consubstancial dos
juros, o que não lhe é interessante.

O autor, por sua vez, já informou ao réu o desinteresse na proposta, bem


como solicitou a sua exclusão nos cadastros do réu através do protocolo XXXXXXXXX.
Não tendo seu pedido atendido e diante da insistência do réu, abriu chamado no
PROCON, protocolo XXXXXXXX.

Diante de novo insucesso, o autor bloqueou o acesso a novos


empréstimos junto ao INSS (protocolo XXXXXXX).

No entanto, mesmo diante das inúmeras tentativas de resolução amigável e


de forma administrativa, o réu persiste em diariamente efetuar ligações, SMS, mensagens
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via whatsapp tentando forçar a aceitação do refinanciamento ou de um novo


empréstimo.

O autor vinha descartando de forma natural as propostas, dizendo não ter


interesse, mas as ligações, mensagens e tentativas de contato do Banco réu se tornaram
extremamente indesejadas e estão a atrapalhar o trabalho do autor, uma vez que devido a
pandemia está em home-office utilizando o computador e o celular como instrumentos de
trabalho.

Segue print de apenas um dia de ligações do réu e seus prepostos - mais


de 20 ligações entre as 11:00 e 15:00:

PRINTS LIGAÇÕES

No mais, as atendentes do réu estão cada vez mais incisivas,


constrangendo o autor à aceitação da proposta, questionando o motivo pelo qual não aceita
e, ainda, dizendo que não é inteligente não aceitar. Até mesmo já apontaram que o autor
seria ignorante na área financeira pelo fato de não querer aceitar a “ótima” proposta
oferecida.

De outra forma, as ligações e mensagens passaram a se estender a


terceira pessoa, cônjuge do autor, que nada tem com a relação comercial havida.
Assim sendo, o Banco réu consegue, a cada dia que passa, agravar ainda mais o
constrangimento ao autor.

Algumas gravações das ligações estão elencadas no link abaixo, através do


qual Vossa Excelência poderá verificar o modus operandi dos prepostos do réu:

LINK GOOGLE DRIVE COM GRAVAÇÕES

Algumas das tentativas de contato via whatsapp também seguem com os


prints e nelas o autor deixa claro que não quer mais o contato do réu:
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PRINTS WHATSAPP

As ligações, SMS’s e mensagens por whatsapp são insistentes e


sobrepõem o nível aceitável de contato (documentos anexos), o que vem desencadeando
uma desordem psicológica ao autor, que não vê alternativa que não o acionamento do
judiciário para que a conduta ilícita do réu seja cessada e devidamente punida.

DO DIREITO

A responsabilização da empresa é inevitável. Inicialmente cabe dizer a


aplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor no presente caso, conforme se extrai da
matéria já sumulada pelo Superior Tribunal de Justiça, como visto na súmula 297, que diz:
“O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições financeiras.”

Nesse sentido cumpre destacar que a relação existente entre as partes


apresenta nítido caráter de relação de consumo, razão pela qual o Autor está amparado pelo
Código de Defesa do Consumidor, onde é possível a inversão do ônus da prova que está
prevista no CDC art. 6º, VIII, in fine:

Art. 6º. [...]

VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão


do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do
Juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente,
segundo as regras ordinárias de experiência;

Assim, as gravações de conversas telefônicas, assim como a relação das


centenas de ligações realizadas pelo Réu devem ser disponibilizadas. Ainda, em se tratando
da legislação regulamentadora das relações de consumo fica clara a obrigatoriedade da parte
Ré em seguir com o descrito no texto legal, especificamente no artigo 6º, IV do CDC, que diz:
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“Art. 6º São direitos básicos do consumidor:


(...)
IV - a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos
comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e
cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e
serviços;”

O Código de Defesa do Consumidor, segundo o dispositivo


retromencionado, entende como básico o direito à proteção contra as práticas abusivas
impostas pelo réu no ato de fornecer seus serviços.

Ao lecionar a matéria, a doutrina destaca que:

“A ideia da abusividade tem relação com a doutrina do abuso do direito. Foi


a constatação de que o titular de um direito subjetivo pode dele abusar no seu exercício que
acabou por levar o legislador a tipificar certas relações como abusivas. (...). Logo, abuso não
seria direito, e, em contrapartida, quem tem direito exerce-o, e não pode estar abusando de
exercê-lo. (...). Pode-se definir o abuso do direito como resultado do excesso de
exercício de um direito, capaz de causar dano a outrem. Ou, em outras palavras, o
abuso do direito se caracteriza pelo uso regular e desviante do direito em seu exercício, por
parte do titular.” (NUNES, Rizzato. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor. 8ª Ed.
Editora Saraiva, 2017. Versão kindle, 6. Proibição de Práticas Abusivas).

No presente caso, a publicidade abusiva fica caracterizada diante da


insistência injustificada por parte do réu, com ligações, whatsapp e SMS diários, mesmo
após o pedido de cancelamento.

Trata-se de situação que ultrapassa o mero dissabor cotidiano, uma vez


que houve notória perturbação do trabalho, descanso e vida conjugal do autor. A referida
conduta configura de forma inequívoca o dever de indenizar.

É o que claramente ficou demonstrado no caso em tela, a respeito, o


doutrinador Yussef Said Cahali aduz: “O dano moral é presumido e, desde que verificado ou
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pressuposto da culpabilidade, impõe-se a reparação em favor do ofendido”. (Yussef Said


Cahali, in Dano e sua indenização, p. 90).

Ainda, preconiza o Art. 927 do Código Civil: Art. 927. Aquele que, por ato
ilícito, causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. O quantum indenizatório visa reparar
o estado à moral abalada, bem como aplicar sanção pedagógica ao causador do dano.

Diante do princípio da vulnerabilidade do consumidor (artigo 4º do CDC), é


que o Estado tem o dever de garantir sua proteção, conforme previsão constitucional de
direito fundamental (inciso XXXII do artigo 5º).

Salienta o artigo 5º, inciso X, da Constituição Federal, o qual define: “X -


são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o
direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;”.

Deste modo, mais uma vez observa que a parte Ré contraria normas
jurídicas, desta vez divergindo até mesmo da Carta Magna, corrompendo a honra e a
imagem do Autor.

A parte Ré desrespeitou uma série de ordenamentos jurídicos, contrariou


uma sequência de entendimentos jurisprudenciais e o mais relevante, feriou a honra,
dignidade e moral do autor e a indenização deve ser correspondente a soma de todos esses
fatores, somado a situação financeira da Ré, a qual se trata de instituição financeira com
grande giro de capital, devendo a indenização corresponder a isso, não se aplicando a
chamada teoria do risco, onde grandes instituições assumem um mau serviço e atendimento
levando em consideração que a sua responsabilização será ínfima para o seu porte,
correndo esse risco que é insignificante para si.

É cediço que as instituições financeiras tem o hábito de tratar os clientes


desta forma, levando em consideração que um mínimo de clientes irá acionar o judiciário, e
desse mínimo que aciona o judiciário as indenizações são irrelevantes para o porte destas
instituições, por isso o Autor, pede um valor elevado de indenização, para que de fato tais
empresas parem com estas práticas abusivas de constrangimento.
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Desta feita, pleiteia o autor seja o réu condenada a cessar as ligações e


outras vias de contato realizados de forma abusiva e a terceiros em seu nome.

Requer, ainda, a condenação do réu ao pagamento de indenização por


danos morais no valor de R$20.000,00 (vinte mil reais), diante dos fatos narrados.

DA TUTELA DE URGÊNCIA

Nos termos do artigo 300 do Código de Processo Civil, “a tutela de urgência


será concedida quando houver elementos que evidenciam a probabilidade do direito e o
perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo.”
No presente caso, os requisitos para concessão da tutela são preenchidos,
vez que o ato ilícito praticado pelo réu de ligar e mandar mensagens diariamente e
constantemente, além de entrar em contato com seu cônjuge, vem ocasionando grave
prejuízo ao autor em seu trabalho e interferindo em seu casamento.

Lembra-se, por oportuno, que as ligações não são feitas para cobrança (até
porque o autor não é inadimplente) e sim para oferecimento de serviço que o autor não tem
interesse em adquirir.

As tentativas de contato estão atrapalhando o desenvolvimento laborativo


do autor, uma vez que este usa o seu celular como meio de contato e instrumento de
trabalho em home-office.

Frisa-se, Excelência, que em um curto espaço de tempo de 4 horas o réu


chegou a efetuar mais de 20 ligações:

PRINT LIGAÇÕES

A probabilidade do direito advém da própria lei, que determina a cessação


de propaganda abusiva, como já relatado (art. 6º, IV, CDC).
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O autor não tem outros meios de produzir provas para comprovar as


ligações, além dos prints e gravações que ora junta, mas pede que a tutela seja concedida.
De outro modo, cessar o número de ligações e formas de contato não irá prejudicar o réu,
mas será de grande valia ao autor.

Requer, desta feita, a concessão de tutela de urgência, para que o réu


cesse as formas de contato com o autor para oferecimento de produtos ou serviços.

Requer, ainda, a aplicação de multa diária de R$300,00 por contato que


descumpra da medida.

DOS PEDIDOS

Diante do exposto, requer-se:

1) A citação da Ré, no endereço inicialmente referido, para comparecer na


audiência de conciliação a ser designada, e, querendo, apresentar proposta de acordo;

2) a inversão do ônus da prova, com fulcro no Código de Defesa do


Consumidor;

3) a concessão de tutela de urgência, para que o réu cesse os contatos com


o autor e com terceiros em nome do autor, para oferecimento de produtos ou serviços, sob
pena de multa diária de R$300,00 por contato que descumpra a medida.

4) a confirmação da tutela de urgência de forma a condenar o réu a


definitivamente cessar os contatos com o autor e com terceiros em nome do autor, para
oferecimento de produtos ou serviços, sob pena de multa diária de R$300,00 por contato
que descumpra a medida.

5) seja o Réu condenado a pagar em favor do Autor, indenização a título de


danos morais, em valor não inferior a R$ 20.000,00 (vinte mil reais) como forma pedagógica
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à parte Ré e de reparação à moral do autor, indenização essa que deverá ser corrigida na
forma da lei;

6) Protesta por todos os meios de provas admitidas no direito,


essencialmente pela oitiva de testemunhas.

Dá-se à causa o valor de R$ 20.000,00 (vinte mil reais).

Termos em que,

Pede deferimento.

São Paulo, .....

ADVOGADO
OAB

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