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EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA ___ VARA CÍVEL/ VARA DE DIREITO


BANCÁRIO/ JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA DE _________/ESTADO.

TRAMITAÇÃO PRIORITÁRIA (ESTATUTO DO IDOSO)

Autor (a): XXXXXXXXXXX

Réu: Banco….

_______________(nome completo), (nacionalidade), (estado civil), (profissão), portador do


RG XXXXXX- SSP/UF e CPF XXXXXXXXX, e-mail xxxxx@xxxxx.com.br, residente e domiciliado
na Rua____________, nº ______, Bairro, cidade, CEP XXXXXXX, por seu Advogado,recebe
intimação em seu escritório (inserir endereço completo e e-mail),vem à presença de Vossa
Excelência propor Ação Declaratória de Inexistência de Relação Contratual c/c Ação
de Repetição de Indébito e Ação de Danos Morais com pedido de liminar urgente
inaudita altera pars, em face de ___________ (nome do BANCO réu), pessoa jurídica de
direito público/privado, inscrito no CNPJ sob o nº XXXXXXX, com sede na Rua____________,
nº ______, Bairro, cidade, CEP XXXXXXX, pelas razões de fato e de direito que passa a expor:

I. NOTIFICAÇÕES

Inicialmente, requer a Autora que todas as intimações e notificações expedidas através do


Diário Oficial, sejam em nome do advogado ___________________ (Adv. OAB-UF Nº____),
com escritório profissional (inserir endereço completo), sob pena de nulidade, nos precisos
termos do art. 272, §5º, do CPC.

II. PRELIMINARMENTE
DA TUTELA DE URGÊNCIA

Os arts. 300 e ss. do Código de Processo Civil dispõem acerca das tutelas de urgência, que
devem ser concedidas quando comprovadamente a parte que a requerer provar ou delinear
nos autos a probabilidade do direito perseguido e o perigo do dano ou risco ao resultado
útil do processo.

No presente caso, o pleito antecipatório versa sobre a imediata necessidade de suspensão


de qualquer tipo de desconto referente ao repasse à título de empréstimo consignado
para a parte Ré.

Sabe-se que o Réu teme em descumprir acordos e até mesmo decisões judiciais em casos
semelhantes ao da Autora, e que, medida impositiva é a concessão de tutela de urgência
com cominação de multa diária caso não seja cumprida.

Há presente a clara plausibilidade do direito ora perseguido pela parte Autora, com
estrondosa guarida no Código do Consumidor, que a protege dos abusos e descasos de
empresas que continuamente descumprem o mandamento legal, principalmente no que
tange ao amparo contra práticas abusivas na relação de consumo imposta no fornecimento
do serviço ou produto.

Evidenciado está o periculum in mora, pois se não cessado de imediato o desconto


repassado ao Réu, gerará insegurança à parte Autora, ainda mais quanto a sua
indisponibilidade monetária, uma vez que supre desta valores referentes a pensão que
recebe, subsídio do qual utiliza para sobreviver.

Outrossim, é imperioso salientar que a concessão da tutela provisória não acarretará perigo
de irreversibilidade neste átimo processual (art. 300, § 3o, CPC/2015), uma vez que esta
poderá ser perfeitamente alterada com a prolação da sentença de mérito.

Diante do exposto, em virtude da Autora jamais ter contratado qualquer empréstimo de


cartão de crédito com a Ré, entende-se possível que haja a concessão dos efeitos da tutela
de urgência, para que se suspenda de imediato o desconto à título de “EMPRÉSTIMO
SOBRE A RMC”, bem como, o Réu seja proibido de inscrever a Autora nos órgãos de
proteção ao crédito, ou, caso já tenha inserido, a devida retirada no nome da Autora no
prazo máximo de 24 (vinte e quatro) horas contados da citação/intimação.

Portanto, desde já, requer-se que seja concedida a tutela de urgência, para que seja
efetuada a notificação do Réu e que o mesmo pare de descontar, de forma imediata, o valor
referente ao inexistente empréstimo de cartão de crédito (RMC), sob pena de multa diária
no valor de R$ 500,00 (quinhentos reais), consoante previsão do art. 297 do CPC/2015, caso
ocorra o descumprimento da decisão judicial.

DA JUSTIÇA GRATUITA

Requer a parte Autora, a concessão dos benefícios da justiça gratuita, com fulcro no art. 5o,
XXXIV, alínea ‘a’, da Constituição Federal de 1988, no disposto da Lei 1.060/50, bem como
arts. 98 e seguintes do Código de Processo Civil, em virtude de ser pessoa pobre na acepção
jurídica da palavra e sem condições de arcar com os encargos decorrentes do processo, sem
prejuízo de seu próprio sustento, com declaração de hipossuficiência acostada aos autos.

DA PRIORIDADE NA TRAMITAÇÃO PROCESSUAL

Consoante argumentação desenvolvida no corpo da presente, bem como, ante a


documentação acostada, verifica-se que a Autora ostenta a condição de idosa, justamente
por ser pessoa com idade acima de 60 (sessenta anos) - Artigo 1º da Lei 10.741/2003.

Sendo assim, nos termos do artigo 71 do referido Estatuto, a pretensão aqui versada gozará
de prioridade no que concerne à tramitação processual.

DA DISPENSA DA AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO


A Autora posiciona-se de forma contrária à audiência de conciliação, nos termos do art. 334,
§4, inc. I do CPC/15, uma vez entender pela impossibilidade do Réu transigir em casos como
o que se apresenta.

II. DOS FATOS

A parte Autora é pensionista (ou aposentado ou servidor público) e percebe benefício


previdenciário com o número de XXXXXXX.

Salienta também que é uma pessoa simples, idosa e que procurou saber o porquê estava
recebendo menos que seu salário.

Ante tal dúvida, foi realizada consulta perante o INSS, sendo constatado que haviam
descontos além dos reconhecidos pela Autora, em valores que excedem aqueles que tinha
ciência.

Se constatou, por exemplo, que existia um desconto no benefício da Autora no importe de


R$ XXX em 2019, e R$ XXX em 2018, R$ XXX em 2017, com os competentes descontos
iniciados no mês 12/2017, conforme se infere de doc. anexo.

Todavia, tais valores cobrados em seu benefício nunca foram contratados pela Autora no
que tange à “Reserva de Margem Consignável”, estipulado no histórico de créditos como,
“EMPRÉSTIMO SOBRE A RMC”, código 217.

Nota-se que a data dessa suposta aquisição é próxima ao empréstimo consignado que fora
realmente celebrado entre as partes, conforme comprovante acostado à exordial, e que o
Réu notadamente se aproveitou da situação.

Importa salientar que o empréstimo realizado já está sendo descontado na relação de


contrato de empréstimos, sendo essa inclusão de “CARTÃO DE CRÉDITO” inválida.
Sabe-se que essa modalidade de contrato gera parcelas infindáveis e constitui em vantagem
excessiva e onerosa à parte Autora, logo, é nítido que o Réu impôs à parte Autora, sem seu
conhecimento, a chamada venda casada, que é veementemente repudiada pelo Judiciário.

Neste contexto, vale enfatizar novamente que a parte Autora, nunca, jamais solicitou o
referido Cartão de Crédito, bem como, em momento algum recebeu qualquer cartão de
crédito, sendo certo que o único cartão que a parte Autora possui é o de saque de seu
benefício.

Ademais, o Réu não forneceu a Autora cópia do suposto contrato de empréstimo, posto que
assinou o contrato em branco sem ter a informação das taxas mas somente o
demonstrativo de pagamentos, onde não figuram as taxas de juros contratadas e tampouco
o valor emprestado como também o saldo devedor, o que deixa a Autora sem saber de
forma concreta o que realmente contratou, mesmo após vários requerimentos, sem
contudo lograr êxito, o que causa grandes prejuízos a mesma.

III. DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS

DA APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

Por muito tempo a questão da aplicabilidade ou não do CDC às instituições financeiras foi
amplamente discutida, sendo que os julgados de nossos tribunais, não raras vezes,
apresentavam julgados discrepantes ante uma mesma situação lançada ao crivo do Poder
Judiciário.

Porém, hodiernamente, inquestionável é a aplicabilidade do referido Codex aos contratos


bancários, em especial, após a edição da Súmula 297 pelo Superior Tribunal de Justiça, que
assim determina:

“Súmula 297. O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições


financeiras.”

A atividade bancária e financeira, portanto, está indiscutivelmente sujeita às regras do


Código de Defesa do Consumidor, como expresso também no art. 3º, § 2º, da Lei nº
8.078/90.

DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

Deve ser observado o disposto no art. 6º, VIII, do Código de Defesa do Consumidor, que
sufraga o princípio da inversão do ônus da prova. Preconiza o referido artigo que:

“ São direitos básicos do consumidor

(...)
VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da
prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a
alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de
experiências”.

Logo, mostra-se incidente a inversão do ônus da prova, nos termos do que determina o
CDC, quando houver a presença de um dos requisitos indicados no inc. VIII, do seu art. 6º,
quais sejam, a verossimilhança da alegação trazida pelo consumidor ou em razão de sua
hipossuficiência.

Isso porque a Autora está em condição de vulnerabilidade como consumidora, pois que nos
momentos da contratação do empréstimo, não foi assistido por profissional habilitado a
orientá-la adequadamente, isto é, analisando as taxas de juros aplicadas ao financiamento,
bem como a forma de cálculo dos mesmos.

Outrossim, faz-se importante destacar que a hipossuficiência a que se refere o dispositivo


acima citado não é somente econômica, mas também de natureza técnica, senão vejamos,
in verbis:

“[...] hipossuficiência, para fins da possibilidade de inversão do ônus da prova, tem


sentido de desconhecimento técnico e informativo do produto e do serviço, de suas
propriedades, de seu funcionamento vital e/ou intrínseco, de sua distribuição, dos
modos especiais de controle, dos aspectos que podem ter gerado o acidente de
consumo e o dano, das características do vício etc”. (Rizzato Nunes, in Curso de Direito
do Consumidor. Saraiva, 2004, p. 731).

A hipossuficiência técnica da parte Autora também se evidencia no presente caso e consiste


no fato de que é necessária a compreensão de complexas operações financeiras, bem como
o modo como operam os bancos ao prestarem os seus serviços.

Além disso, é necessário esclarecer que a forma da cobrança do cumprimento das


obrigações pactuadas está adstrita ao sistema interno do réu, cujos componentes, regras
administrativas e forma de funcionamento não estão disponíveis a Autora, seja por
desconhecimento imposto pelo próprio Réu, seja pela conduta proposital deste no sentido
de ocultar tais informações e/ou dificultá-las ao máximo, utilizando-se de termos técnicos,
insuscetíveis de interpretação ao consumidor leigo.

DA INEXISTÊNCIA DA RELAÇÃO CONTRATUAL

Diante do narrado em tópico supra, restou demonstrado de forma clara que o Réu falhou na
prestação dos seus serviços.

Destaca-se que, a cobrança de serviço não contratado, tal qual demonstrado no caso em
tela, configura como ato ilícito, com fulcro no artigo 33, III, do CDC.
O Banco Réu jamais poderia cobrar por valores não contratados pela Autora, ainda mais
quando ela desconhecia tais valores.

No caso em tela, se faz necessária a rescisão da cédula de crédito bancário disponibilizada


pelo Réu, pois, nunca houve interesse da Autora em firmá-la.

A Autora sempre contratou empréstimos consignados na modalidade clássica, que é quando


ocorre o desconto mensal de seu benefício previdenciário por um período já estipulado em
contrato, normalmente em 72 (setenta e duas) parcelas, ocorrendo a quitação após o
pagamento da última parcela, muito diferente do ocorrido no presente
caso.

De mais a mais, para que ocorra a contratação de RMC, é necessária a expressa autorização
do aposentado, seja por escrito ou por meio eletrônico, conforme dispõe o artigo 3, III, da
Instrução Normativa do INSS nº 28/2008, alterada posteriormente pela IN do INSS nº
39/2009, vejamos:

Art. 3º Os titulares de benefícios de aposentadoria e pensão por morte,


pagos pela Previdência Social, poderão autorizar o desconto no respectivo
benefício dos valores referentes ao pagamento de empréstimo pessoal e
cartão de crédito concedidos por instituições financeiras, desde que:

III – a autorização seja dada de forma expressa, por escrito ou por meio
eletrônico e em caráter irrevogável e irretratável, não sendo aceita
autorização dada por telefone e nem a gravação de voz reconhecida como
meio de prova de ocorrência.

Mais uma vez, se faz necessário informar que a Autora jamais efetuou o desbloqueio do
“cartão”, muito menos utilizou o cartão de crédito para efetuar saques ou compras em
qualquer estabelecimento comercial.

Diferente do que ocorreria em um empréstimo consignado “normal”, caso aquele valor


realmente estivesse em posse da Autora, o valor seria dividido em quantas parcelas forem
necessárias – tendo como limite 72 (setenta e duas) parcelas – até que ocorresse a quitação
do montante contratado.

Por tal razão, o Réu reservou margem de crédito que não lhe é devida, devendo assim ser
declarada a inexistência de qualquer reserva em favor dela, o que se requer que seja
deferida na prolação da sentença.

Informa-se também que, diante da ausência de informação clara ao consumidor quanto ao


comprometimento da margem consignável, deve-se julgar que a RMC constituída sofre de
ilegalidade e de inexistência na sua contratação.

Ademais, ainda que tivesse ocorrido o esclarecimento cabível perante a Autora, tal
prática é considerada abusiva, nos termos do artigo 39, V, do CDC, vejamos:
Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras
práticas abusivas:
V - exigir do consumidor vantagem manifestamente excessiva;

Assim, vê-se que não houve um prévio esclarecimento sobre o negócio jurídico que a parte
Autora celebraria, prova disso é que não consta do instrumento contratual o montante
total do débito, nem quantas parcelas seriam necessárias para sua quitação, bem como
não especifica a taxa de juros, mostrando-se, assim, em total confronto com as normas
norteadoras do Código de Defesa do Consumidor, principalmente em relação aos princípios
da informação e transparência, previstos nos artigos 4o, IV e 6o, III da Lei no 8.078/90.

Fica evidente, portanto, que a parte Autora não teve prévio esclarecimento sobre o negócio
jurídico que estava celebrando, pois se assim fosse, não o firmaria.

Dessa forma, percebe-se claramente que o contrato foi redigido de forma ardilosa, com o
fito de induzir o consumidor a erro, levando-o a acreditar que contraía um empréstimo
consignado comum, quando na verdade estaria contratando um empréstimo via cartão de
crédito com Reserva de Margem Consignável (RMC).

Nesse sentido, diversos Tribunais já se manifestaram em casos similares:

“Apelação Cível. Ação declaratória de nulidade contratual c/c repetição do


indébito e condenatória por danos morais. I- Contrato de cartão de crédito na
modalidade desconto em folha de pagamento. Cláusula abusiva. O contrato de
cartão de crédito na modalidade de desconto em folha de pagamento não tem prazo
determinado para o fim do pacto, pois, após o desconto mínimo do valor da fatura
mensal efetuado diretamente da folha de pagamento da parte autora/apelada, faz o
banco réu/apelante, em seguida, refinanciamento do restante do valor total devido.
É uma modalidade contratual extremamente onerosa e lesiva ao consumidor,
razão pela qual deve ser interpretada como contrato de crédito de empréstimo
consignado, no intuito de reestabelecer o equilíbrio contratual entre a instituição
financeira e o consumidor. II - Contrato de adesão. Revisão de cláusulas contratuais.
Possibilidade. Código de Defesa do Consumidor. Aplicabilidade. As instituições
financeiras se submetem às disposições do artigo 3o, parágrafo 2o, do Código de
Defesa do Consumidor, ante as cláusulas abusivas ou impostas unilateralmente no
fornecimento de serviços, conforme prevê, também, a Súmula 297, do STJ. (...)”
(TJGO, Apelação (CPC) 0207212-72.2015.8.09.0152, Rel. CARLOS ALBERTO FRANÇA,
2a Câmara Cível, julgado em 25/10/2018, DJe de 25/10/2018)

“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO REVISIONAL C/C REPETIÇÃO DE INDÉBITO E DANO


MORAL. CONTRATO DE CARTÃO DE CRÉDITO CONSIGNADO. APLICAÇÃO DO
CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. ABUSIVIDADE E ONEROSIDADE EXCESSIVAS
DEMONSTRADAS. DESNATURAÇÃO DESSE TIPO DE CONTRATO PARA EMPRÉSTIMO
CONSIGNADO EM FOLHA DE PAGAMENTO. JUROS REMUNERATÓRIOS. REPETIÇÃO
NA FORMA SIMPLES. DANO EXTRAPATRIMONIAL NÃO CONFIGURADO. SENTENÇA
REFORMADA, EM PARTE. SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA. I. Os contratos firmados entre
consumidores e fornecedores devem observar os princípios da informação e da
transparência, nos termos dos artigos 4o e 6o do Código de Defesa do Consumidor.
II. O cartão de crédito consignado em folha de pagamento é modalidade de contrato
bancário com prestações sem número ou prazo determinado, com desconto apenas
do mínimo do valor da fatura mensal efetuado direto da folha de pagamento da
autora/servidora pública, fazendo o banco réu, em seguida um refinanciamento do
restante do valor total devido. III. Ao consumidor, no momento da contratação, não
foi dada ciência da real natureza do negócio, modalidade contratual que combina
duas operações distintas, o empréstimo consignado e o cartão de crédito, motivo
pelo qual deve ser convertido o pacto para a modalidade crédito pessoal consignado,
no intuito de restabelecer o equilíbrio entre as partes contratantes. (...)” (TJGO,
APELACAO 0119854-70.2016.8.09.0011, Rel. AMÉLIA MARTINS DE ARAÚJO, 1a
Câmara Cível, julgado em 18/10/2018, DJe de 18/10/2018)

Diante do narrado, requer-se que seja reconhecida a rescisão contratual, já que a Autora
desconhecia de tal contrato e jamais concordaria com tais termos, bem como a restituição
de todos os valores pagos indevidamente.

Ad argumentandum tantum, se assim Vossa Excelência não concordar pela inexistência da


relação contratual entre as partes, o que não se espera, que a presente avença seja
interpretada como “contrato de crédito pessoal consignado”, nos termos do 47 do Código
de Defesa do Consumidor, no intuito de restabelecer o equilíbrio contratual entre a
instituição financeira e o consumidor.

Além disso, impõe-se a determinação de utilização das regras do empréstimo consignado a


essa pactuação, com a incidência dos juros remuneratórios previstos no Bacen no ato da
contratação, e o seu pagamento deve dar-se nos moldes tradicionais para operações dessa
natureza, ou seja, por meio de parcelas fixas, com prazo determinado para a quitação.

DA RESTITUIÇÃO DO INDÉBITO

A Autora tem sofrido descontos referente a empréstimo consignado por RMC do Réu e que
não foram autorizados por si, sendo que o desconto mensal nos dias atuais é de R$ XXXX à
título de “EMPRÉSTIMO SOBRE A RMC”, código “217”.

Como já dito, estão sendo descontados da parte Autora o valor R$ XXXX, conforme se infere
de doc. anexo.

Desta forma, resta claro que inexiste prova sobre a anuência da parte Autora nos descontos
praticados pelo Réu, o que, por consequência, acarreta na ocorrência de falha na prestação
do serviço e consequente má-fé, vez que tentaram lançar descontos de quem nem ao
menos anuiu com qualquer cobrança ou mesmo não detinha qualquer vínculo com a
referida instituição.

Constatada a cobrança de valores indevidos pela instituição financeira, cabível é a aplicação


do art. 876 do Código Civil, que estabelece:
Art. 876 Todo aquele que recebeu o que lhe não era devido fica obrigado a restituir;
obrigação que incumbe àquele que recebe dívida condicional antes de cumprida a
condição.

Destarte, considerando que não há relação jurídica validamente constituída entre as partes
e que a cobrança realizada pelo Réu demonstra, ao mesmo tempo, a existência da conduta,
da culpa, do nexo de causalidade e do prejuízo, requer, por consequência, o dever de
indenização material dobrado (repetição de indébito) dos descontos efetuados no importe
de R$ XXXX , que deverão ser corrigidos e com juros de mora desde a data dos efetivos
descontos, conforme art. 42, parágrafo único do Código de Defesa ao Consumidor, e art.
398, do Código Civil.

DANOS MORAIS

A parte Autora entende que houve abusividade na conduta da instituição financeira ao


averbar a reserva de margem consignável em seu benefício previdenciário, pois, além de
acreditar ter pactuado um empréstimo puro e simples, contraiu uma dívida
substancialmente maior em relação ao produto que imaginava ter contratado, situação que
representa claramente um ilícito sujeito a indenização.

Inclusive, para diversos Tribunais, tal ato viola sim direitos da personalidade da parte
Autora, passível de compensação pecuniária. Nesse sentido:

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - EMPRÉSTIMO CONSIGNADO - DESCONTO INDEVIDO EM


BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO - FALHA NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO - INEXIGIBILIDADE
DO DÉBITO RECONHECIDA - REPETIÇÃO EM DOBRO DO INDÉBITO - DANOS MORAIS
CONFIGURADOS - QUANTUM INDENIZATÓRIO - CRITÉRIOS DE ARBITRAMENTO -
OBRIGAÇÃO DE FAZER - ASTREINTE - POSSIBILIDADE - REDUÇÃO - NÃO CABIMENTO -
LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ - INOCORRÊNCIA - RECURSO NÃO PROVIDO. - Não tendo à
instituição financeiro comprovado a existência de relação jurídica válida e regular
entre as partes, deve ser reconhecida a irregularidade dos descontos efetuados no
benefício previdenciário do postulante, tal como entendeu o douto Magistrado
primevo. - Diante do inequívoco desconto indevido, de valores no benefício de INSS
da parte autora, sem que a instituição financeira tenha justificado a legitimidade na
contratação de mútuo, configurada está a falha na prestação do serviço,
constituindo conduta ilícita que autoriza a repetição em dobro dos valores
debitados. - Os descontos sofridos pela autora, em sua aposentadoria, de valores
referentes a empréstimo não autorizado, caracteriza falha na prestação de
serviços, e, inegavelmente, causa-lhe aflição, restando manifesta a configuração de
dano moral. - O numerário deve proporcionar à vítima satisfação na justa medida do
abalo sofrido, produzindo, no ofensor, impacto bastante para dissuadi-lo de igual
procedimento, forçando-o a adotar uma cautela maior, diante de situações como a
descrita nestes autos. - A fixação de astreintes para o caso de descumprimento da
decisão é perfeitamente viável, frente à disposição do artigo 497 do CPC/2015. - Se a
multa fixada para o caso de descumprimento obedece aos critérios de razoabilidade
e proporcionalidade, de forma a compelir o destinatário da obrigação, sem importar
no enriquecimento ilícito da outra parte, deve ser mantida. - A condenação às penas
da litigância de má-fé se constitui em medida extrema, somente podendo ser
aplicada em casos excepcionais, nos quais se apresenta evidente a intenção
fraudulenta e maliciosa do litigante, a qual não se verifica na hipótese dos autos.
(TJMG - Apelação Cível 1.0394.14.004147-3/001, Relator(a): Des.(a) Shirley Fenzi
Bertão , 11ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 13/06/2018, publicação da súmula em
20/06/2018)

Destarte, diante de tais assertivas, é fácil concluir que a Autora sofreu dano moral, o que é
reforçado pela prova produzida nestes autos no sentido de que percebia valores e que teve
seus créditos de proventos limitados de forma indevida.

A propósito, devem ser considerados os seguintes fatores para o arbitramento da


indenização por danos morais: (a) reflexos do dano frente às condições pessoais (não
econômicas) do lesado; (b) intensidade do sofrimento; (c) situação econômica do ofensor;
(d) gravidade do ato danoso (grau de culpa); (e) benefícios obtidos em razão da sua prática;
(f) demais peculiaridades e circunstâncias.

No caso concreto, a parte Autora teve parte do seu benefício previdenciário descontado
pela instituição financeira. No que tange à condição social e econômica do Banco Réu, trata-
se de instituição financeira de considerável porte econômico, enquanto a parte Autora é
pessoa física, hipossuficiente, que recebe benefício previdenciário, cuja condição demonstra
sua dependência de crédito e vulnerabilidade.

Assim, atento a tais circunstâncias, sugere-se a indenização por danos morais em


R$10.000,00 (dez mil reais), a ser acrescido de juros moratórios de 1% ao mês a contar do
evento danoso (data do primeiro desconto e atualização monetária pelo INPC a partir da
prolação da sentença, nos termos das súmulas 54 e 362 do STJ, respectivamente.

DOS PEDIDOS
Ante ao exposto requer a Vossa Excelência:

a) A concessão do benefício da justiça gratuita, isentando a Autora do pagamento das


custas e demais despesas processuais, uma vez que a mesma não dispõe de condições para
custear as despesas processuais sem prejuízo à sua manutenção e de sua família, conforme
declaração de hipossuficiência em anexo, nos termos do art. 99, §3º, CPC/2015;

b) Seja concedida a liminar pleiteada para o fim de se determinar, imediatamente a


suspensão dos descontos a título de RMC, bem como que o Réu se abstenha em inserir o
nome e o CPF da Autora nos cadastros de proteção ao crédito, até solução final da presente
demanda sob pena de multa diária ou, caso já tenha inserido, a devida retirada no nome da
Autora no prazo máximo de 24 (vinte e quatro) horas contados da citação/intimação;

c) Seja a presente ação julgada totalmente procedente, declarando a inexistência da


contratação de empréstimo via cartão de crédito com RMC, igualmente a reserva de
margem consignável, e com a condenação da Ré ao pagamento de indenização por danos
morais, no montante sugestivo de R$ 10.000,00 (dez mil reais), a ser acrescido de juros
moratórios de 1% ao mês a contar do evento danoso (data do primeiro desconto) e
atualização monetária pelo INPC a partir da prolatação da sentença, conforme súmulas 54 e
362 do STJ, respectivamente., bem como a restituição dos valores descontados de forma
irregular do salário da Autora, devendo ser aplicada a dobra, com a devida correção
monetária e juros de mora, a contar do desconto em cada benefício;

d) Na remota hipótese de comprovação do cartão de crédito consignado (RMC) via


apresentação de contrato devidamente assinada pela Autora, requer, alternativamente ao
pedido acima, seja realizada a readequação/conversão do empréstimo via cartão de
crédito consignado (RMC) para empréstimo consignado, sendo os valores já pagos a título
de RMC utilizados para amortizar o saldo devedor, o qual deverá ser feito com base no valor
liberado a Autora, desprezando-se o saldo devedor atual, ou seja, não deverá ser
considerado para o cálculo o valor acrescidos de juros e encargos; bem como seja aplicada a
Taxa de juros da data da contratação como fora informada no site do Banco Central, além
de seu pagamento se dar nos moldes tradicionais para operações da mesma natureza
(parcelas fixas com prazo determinado para quitação), e que seja aceita a planilha de
cálculos em anexo;

e) A aplicação do Código de Defesa do Consumidor, para determinar a inversão do ônus da


prova, determinando-se, também, que o Réu forneça os documentos necessários ao
esclarecimento dos fatos;

f) A produção de todos os meios de prova em direito admitidos, sob pena dos efeitos do
art. 400 do CPC/2015;
g) A condenação da Ré ao pagamento das verbas sucumbenciais, em especial aos
honorários, que deverão ser fixados no montante de 20% sobre o valor da
condenação, consoante art. 85, §2º, CPC/2015;

h) Requer que seja dispensada a audiência de conciliação, com fulcro no artigo 319,
VII do CPC, uma vez que a Ré não teve interesse em efetuar acordo extrajudicial;

Dá-se o presente o valor de R$XXXXXX (escrever por extenso).

Nestes termos,

Pede deferimento.

Cidade, dia de mês de ano.

ADVOGADO - OAB/UF Nº XXXXXXX

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