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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE

DIREITO
DA VARA DO SISTEMA DE JUIZADOS ESPECIAIS DO
CONSUMIDOR DA COMARCA DE SALVADOR - BAHIA

CARLOS ALBERTO NOVAES MACHADO, brasileiro,


solteiro, portador da cédula de identidade nº.1405098953 SSP/BA, inscrito
no CPF/MF sob o nº. 048.994.385-32, residente e domiciliado na Rua do
Beija-Flor nº 106, Edifício Beija-Flor, apt. 101, Imbui, Salvador/Ba, CEP
41720-370, endereço eletrônico: canmachado@hotmail.com.br, por meio de
sua advogada infrafirmada, mediante documento de procuração anexa (doc.
01), vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, propor

AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÍVIDA C/C


INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS

com fulcro no artigo 5º, V e X da Constituição Federal c/c artigos 4º, 6º


Incisos VI, VII e VIII, artigos 32 a 39º Inciso I da Lei 8078/90 em face de
BANCO BRADESCO S.A pessoa jurídica de direito privado, inscrito no
CNPJ sob o nº 60.746.948.0001-12 estabelecida na Cidade de Deus, s/n, Vila
Yara, Osasco, São Paulo/SP, CEP: 06029-900, pelas seguintes razões fáticas
e jurídicas:
1. DA ASSISTÊNCIA GRATUITA
Em linhas de princípio, apenas por excesso de zelo, em face de uma possível fase
recursal, declara o requerente que não possui condições de arcar com as despesas
processuais e honorários advocatícios sem prejuízo do sustento próprio, razão pela qual
faz jus ao benefício da gratuidade da justiça.

Nos termos do art. 5º, LXXIV, da Constituição Federal, há previsão da justiça


gratuita, tratando-se, este, de um direito público subjetivo e que referenda outras garantias
constitucionais. Consoante dispõem os artigos 98 e 99 do Código de Processo Civil, a
pessoa natural com insuficiência de recursos para pagar as custas, as despesas processuais
e os honorários advocatícios tem direito à gratuidade da justiça, possuindo presunção de
veracidade tal alegação.

2. SINOPSE FÁTICA

A empresa ré e o consumidor estabeleceram relação de consumo conforme doc nº


02 em anexo, do cartão de crédito visa signature. O pagamento da fatura do mês de agosto
do presente ano (2023) no valor de R$ 8.942,01 (doc 03) foi quitado parcialmente apenas
no dia 01 de setembro do presente ano no valor de R$ 1.770,00 ( doc 04).

SEM QUALQUER AVISO, LIGAÇÃO, OU QUALQUER OUTRO MEIO DE


INFORMAÇÃO A EMPRESA RÉ PARCELOU EM VINTE E QUATRO PRESTAÇÕES
O VALOR RESTANTE CONFORME DOCUMENTAÇAO ACOSTADA AS AUTOS (
doc 05).

Nobre julgador (a), conforme anexos ( doc 05) a EMPRESA RÉ está cobrando
cerca de R$21.000,00 ( vinte um mil reais) de juros conforme documento nº 05.
Excelência, em momento algum o postulante quer se imiscuir de pagar a sua dívida, porém,
ele que efetuar o pagamento aplicando os juros legais e não de mais de 21 mil reais. O que
demonstra a ilegalidade pela empresa-ré.

O postulante não satisfeito com as impropriedades pela empresa-ré, buscou solução


administrativamente conforme documento nº 06 e ligação telefônica ( doc 07), PORÉM
SEM QUALQUER SOLUÇÃO ATÉ O PRESENTE MOMENTO.

Sabe-se que o nosso ordenamento jurídico pátrio é contra o superendividamento e


pensando nisso, e querendo pagar sua dívida, destarte, pagar o valor correto.

Por derradeiro, não houve outra alternativa para que o consumidor pagasse o valor
correto a não ser socorrer-se ao Poder Judiciário.
3. DO ENQUADRAMENTO LEGAL E DA RESPONSABILIDADE
CIVIL

O Código de Defesa do Consumidor declara, expressamente, já em seu primeiro


artigo, que este diploma estabelece normas de proteção e defesa do consumidor,
acrescentando serem tais regras de ordem pública e interesses sociais.

O autor enquadra-se no conceito de consumidor e, a ré, no de fornecedor,


previstos, respectivamente, nos arts. 2º e 3º do Código de Defesa do Consumidor.

Conforme resposta administrativa (doc 06) a empresa ré alegou que “ esclarecemos


que o parcelado fácil é aplicado conforme Resolução # 4549 do CMN” . A resolução
supracitada ( doc 09) é clara e limpa ao salientar que

“ O financiamento do saldo devedor por meio de outras


modalidades de crédito em condições mais vantajosas para o cliente,
inclusive no que diz respeito à cobrança de encargos financeiros, pode
ser concedido, a qualquer tempo, antes do vencimento da fatura
subsequente”

Erudito magistrado (a) por questões de logicismo gostariámos de saber em qual


momento aplicar o dobro do valor da dívida em juros é uma condição mais vantajosa
para o cliente? É notório que a empresa ré utilizou o parcelamento de forma ilícita. Se
foi ilegal, por óbvio, surge o dever de indenizar. Veja-se, a propósito, o que diz a norma
contida no artigo 14 do referido diploma legal:

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente


da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos
consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como
por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.

Assim, diante da evidente relação de causa e efeito que se formou e ficou


demonstrada nos autos, surge o dever de indenizar independentemente da apuração de culpa.
Nos termos do art. 6º do CDC;

Art. 6º São direitos básicos do consumidor:

IV - a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos


comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas
abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços;
V - a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam
prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos
supervenientes que as tornem excessivamente onerosas;

VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e


morais, individuais, coletivos e difusos;

VII - o acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas


à prevenção ou reparação de danos patrimoniais e morais, individuais,
coletivos ou difusos, assegurada a proteção Jurídica, administrativa e
técnica aos necessitados;

Ademais, sabe-se que pela teoria Kelseniana as resoluções estão abaixo das
Leis, ou seja, a empresa ré deve se atentar ao Código de Defesa do Consumidor na
aplicação dos juros e em sua cobrança. Na seção IV do CDC dentre outras situações, são
considerados atos ilicitos as seguintes imposições:

V - exigir do consumidor vantagem manifestamente


excessiva;

VI - executar serviços sem a prévia elaboração de orçamento


e autorização expressa do consumidor, ressalvadas as decorrentes de
práticas anteriores entre as partes

X - elevar sem justa causa o preço de produtos ou serviços.

É de clareza solar que a empresa ré descumpriu o mandamento legal e por isso


deverá refazer o calculo cobrando os juros legais NÃO ABUSIVOS.

4. DO PARCELAMENTO

Tendo por orientação a LEI Nº 14.181, DE 1º DE JULHO DE 2021 que versa


sobre a vedação ao superendividamento, ou seja, a vedação legal de cobrança de dívidas
que nunca poderão ser pagas pelo consumidor, sugere-se que a empresa ré parcele a
dívida legal em no mínimo doze vezes sem juros.
5. DA INVERSÃO DO ÔNUS DA
PROVA

Cumpre, ainda, realçar a desigualdade entre o promovente e a pessoa jurídica


promovida. Buscando facilitar a defesa da parte hipossuficiente, o ordenamento pátrio
prevê, e a jurisprudência dos Tribunais consagra, a inversão do ônus da prova. Em assim
sendo, quem deve ser responsável pela produção probatória não é o autor, mas a promovida,
em face da desproporcionalidade entre as partes.

O CDC em seu art. 6º prevê a inversão do ônus da prova. Em assim sendo, quem
deve tomar o interesse em provar não é o autor, mas a parte requerida. Ilustre julgador é
manifesto que “só prova quem pode provar”. O autor faz prova daquilo que está ao seu
alcance e é notório que a empresa ora ré possui melhores meios de produção de prova do
que o postulante.

6. DO DANO MORAL

Sabe-se que o dano moral é aquele que atinge o patrimônio ideal do cidadão, ou
seja, é uma conduta ilícita que viola a honra, a vida, a liberdade, o decoro, a paz interior
de cada qual, enfim, é a diminuição dos bens que têm um valor precípuo na vida do
homem. A esse respeito, ensina o erudito Sérgio Cavalieri:

“[...] dano moral é lesão de um bem integrante da personalidade;


violação de um bem personalíssimo, tal como a honra, a liberdade,
a saúde, a integridade psicológica, causando dor, vexame,
sofrimento, desconforto e humilhação à vítima” 3

Ademais, a nossa Carta Magna, ao proteger a dignidade da pessoa humana, faz


deste um dos alicerces do Estado Democrático de Direito e, conseqüentemente, deu nova
roupagem ao dano moral. Desta feita, isso significa dizer que o dano moral, à luz da
Constituição Federal, é o mesmo que a violação ao direito à dignidade.

Nesse aspecto, razão assiste, pois, ao comentário de José Afonso da Silva acerca
do art. 5º, X, da vigente Constituição Federal:

“A moral individual sintetiza a honra da pessoa, o bom nome, a


boa fama, a reputação que integram a vida humana como
discussão imaterial. Ela e seus componentes são atributos sem
os quais apessoa fica reduzida a uma condição animal de pequena
significação. Daí porque o respeito à integridade moral do indivíduo
assume feição de direito fundamental.” 4

Dessa forma, o Art. 186 do CÓDIGO CIVIL define o que é ato ilícito, entretanto, observa-
se que não disciplina o dever de indenizar, ou seja, a responsabilidade civil, matéria tratada
no art. 927 do mesmo Código. Sendo assim, é previsto como ato ilícito àquele que cause
dano, ainda que, exclusivamente moral. Faça-se constar Art. 927, caput, do mesmo diploma
legal:

"Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a
outrem, fica obrigado a repará-lo."

Os Tribunais pátrios já decidiram casos análogos ao presente, consolidando


entendimento no sentido ao cabimento da indenização pela cobrança indevida a clientes de
bancos.

O STF tem proclamado que" a indenização, a título de dano moral, não exige
comprovação de prejuízo "(RT 614/236), por ser este uma conseqüência irrecusável do
fato e um" direito subjetivo da pessoa ofendida "(RT 124/299).

As decisões partem do princípio de que a prova do dano (moral) está no próprio


fato, "não sendo correto desacreditar na existência de prejuízo diante de situações
potencialmente capazes de infligir dor moral.

Esta não é passível de prova, pois está ligada aos sentimentos íntimos da pessoa.
Assim, é correto admitir-se a responsabilidade civil, por exemplo, na maioria dos casos de
ofensa à honra, à imagem ou ao conceito da pessoa, pois subentendem-se feridos seus
íntimos sentimentos de auto-estima.1

Não é por acaso que a indenizabilidade encontra amparo no rol dos direitos e
garantias fundamentais. Isso foi possível devido à importância que foi dada pela
Constituição Pátria à pessoa humana, pois a dignidade é fundamento da República.

7. DA JURISPRUDÊNCIA SOBRE
O ASSUNTO

A jurisprudência pátria vai no mesmo sentido das argumentações do autor a declarar


ilegal o parcelamento automático que gera o superendividamento. Neste sentido:

1
(CRJEC, 3ª Turma, Rec. 228/98, rel. Juiz Demócrito Reinaldo Filho, j. 20.08.98, DJ 21.08.98). Como já proclamava José de Aguiar Dias,

nesses casos "acreditar na presença de dano é tudo quanto há de mais natural" (Da Responsabilidade Civil, vol. II, p. 368). Sobre dano moral a Egrégia Corte
do Superior Tribunal de Justiça entende que: “Ementa: Dano moral puro. Caracterização. Sobrevindo em razão de ato ilícito, perturbação nas relações
psíquicas, na tranqüilidade, nos entendimentos e nos afetos de uma pessoa, configura-se o dano moral, passível de indenização. (STJ, Min. Barros Monteiro,
T. 04, REsp 0008768, decisao 18/02/92, DJ 06/04/1998, p. 04499)”.
EMENTA RECURSO INOMINADO. AÇÃO
INDENIZATÓRIA. PAGAMENTO PARCIAL DA
FATURA. PARCELAMENTO AUTOMÁTICO IMPOSTO PELA
INSTITUIÇÃO BANCÁRIA. AUSÊNCIA DE INFORMAÇÃO
DETALHADA AO CONSUMIDOR ACERCA DO
PARCELAMENTO. FALHA NO DEVER DE INFORMAÇÃO.
INSTITUIÇÃO BANCÁRIA QUE NÃO COMPROVOU QUE O
PARCELAMENTO SE DEU EM CONDIÇÕES MAIS
VANTAJOSAS AO CONSUMIDOR. DESATENDIMENTO DOS
REQUISITOS DA RESOLUÇÃO BACEN nº
4.549/17. SENTENÇA QUE JULGOU IMPROCEDENTE OS
PEDIDOS FORMULADOS NA EXORDIAL. IMPERIOSA
NECESSIDADE DE REFORMA DO COMANDO JUDICIAL
PARA DECLAR NULA A COBRANÇA A TÍTULO DE
PARCELAMENTO, COM A DEVOLUÇÃO, EM DOBRO, DOS
VALORES PAGOS INDEVIDAMENTE, ALÉM DE ARBITRAR
INDENIZAÇÃO A TÍTULO DE DANO MORAL NO VALOR DE
R$ 3.000,00. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. RELATÓRIO
Dispensado o relatório nos termos do artigo 46 da Lei nº 9.099/95.
Presentes as condições de admissibilidade do recurso, conheço-o,
apresentando voto com a fundamentação aqui expressa, o qual
submeto aos demais membros desta Egrégia Turma. VOTO A título
de registro, pontuo que a controvérsia recursal reside na cobrança de
valores relativos ao pagamento de parcelamento automático, além do
arbitramento de indenização a título de dano moral. Referente às
preliminares suscitadas verifica-se que foram corretamente analisadas
e afastadas pelo juiz sentenciante, sem reparos. 1.PARCELAMENTO
AUTÓMATÍCO DA FATURA DE CARTÃO DE CRÉDITO: Da
análise dos autos, verifica-se que a parte Autora, nos meses de
fevereiro e julho de 2020 teve as suas faturas de cartão de crédito
parcelada automaticamente, por não ter efetuado o pagamento
integral do seu débito. Com efeito, em 26 de janeiro de 2017, o
Banco Central (BACEN) divulgou a Resolução nº 4.549 que altera
as normas de utilização do crédito rotativo do cartão de crédito,
que passou a vigorar a partir de 03/04/2017. De acordo com o
BACEN, o rotativo consiste em uma modalidade de crédito
concedido quando o pagamento integral da fatura não é efetuado
até o vencimento, ou seja, trata-se de um financiamento da
diferença entre o valor total da fatura e o valor efetivamente
quitado pelo consumidor, ocorrendo quando o consumidor opta
por realizar apenas o pagamento mínimo da sua fatura de cartão
de crédito e isso o sujeita ao pagamento de juros. Faz necessário
esclarecer que essas novas regras foram emitidas como meios de
prevenção, visando a redução da inadimplência, e para evitar o
superendividamento do consumidor, posto que os bancos devem
oferecer condições "mais vantajosas", com juros menores, de
parcelamento da dívida que permanecer no crédito rotativo por
30 dias. Entretanto, destaca-se que a Resolução do BACEN não
determina que o banco faça automaticamente o financiamento dos
valores não quitados no prazo de um mês, devendo-se observar um
direito básico do consumidor que é a liberdade de contratação. A Ré,
por sua vez, não se desincumbiu de seu ônus, deixando de provar fato
impeditivo, extintivo ou modificativo do direito da Autora, não
demonstrando que esta tenha anuído com o parcelamento lançado,
automaticamente, em sua fatura, razão pela qual o pedido de
cancelamento deve ser acolhido. CONDENAÇÃO AO
PAGAMENTO DE INDENIZAÇÃO A TÍTULO DE DANO
MORAL: Quanto aos danos morais postulados, a simples
alteração unilateral da forma de pagamento, com a cobrança de
tarifas mais onerosas não informadas ao consumidor, configura a
ocorrência de dano moral, uma vez que gera cobrança indevida e
prejuízo patrimonial, bem como, por consequência, transtornos
de ordem psíquica, já que obriga o consumidor a pagamento de
valores que não contratou, principalmente frente a necessidade de
não ter seu nome incluído em cadastros de restrição ao crédito.
Ante ao exposto, voto no sentido de CONHECER E DAR
PROVIMENTO AO RECURSO interposto pela parte Autora para
DECLARAR a 1) nulidade dos parcelamentos lançados no cartão de
crédito dela, discutidos na presente demanda, ocorridos em fevereiro
e julho de 20202, com seu imediato estorno, retirando-lhe os juros e
encargos que lhe são decorrentes; 2) determinar a devolução, em
dobro, se for o caso, dos valores pagos indevidamente a tal título, após
a quitação de todas as despesas realizadas pelo consumidor em seu
cartão de crédito; 3) condenar, ainda, a empresa Acionada a pagar à
Parte Autora, a título de indenização por danos morais, o valor de R$
3.000,00 (três mil reais), a ser corrigido monetariamente pelo INPC e
acrescido de juros de mora de 1% (um por cento) incidentes a partir
da presente sentença. Salvador-Ba, 2022. ELIENE SIMONE SILVA
OLIVEIRA Juíza Relatora ACÓRDÃO Realizado julgamento do
Recurso do processo acima epigrafado, a QUINTA TURMA,
composta dos Juízes de Direito, decidiu, à unanimidade de votos,
CONHECER E DAR PROVIMENTO AO RECURSO interposto pela
parte Autora para DECLARAR a 1) nulidade dos parcelamentos
lançados no cartão de crédito dela, discutidos na presente demanda,
ocorridos em fevereiro e julho de 20202, com seu imediato estorno,
retirando-lhe os juros e encargos que lhe são decorrentes; 2)
determinar a devolução, em dobro, se for o caso, dos valores pagos
indevidamente a tal título, após a quitação de todas as despesas
realizadas pelo consumidor em seu cartão de crédito; 3) condenar,
ainda, a empresa Acionada a pagar à Parte Autora, a título de
indenização por danos morais, o valor de R$ 3.000,00 (três mil
reais), a ser corrigido monetariamente pelo INPC e acrescido de
juros de mora de 1% (um por cento) incidentes a partir da presente
sentença. Salvador-Ba, 2022. ELIENE SIMONE SILVA OLIVEIRA
Juíza Relatora

Ação: Procedimento do Juizado Especial Cível


Recurso nº 0003972-74.2020.8.05.0191
Processo nº 0003972-74.2020.8.05.0191
Recorrente(s):
JOSE LUIS ALVES DA SILVA

Recorrido(s):
BANCO BRADESCO S A

EMENTA

RECURSO INOMINADO. NOVAS REGRAS


DE CARTÃO DE CRÉDITO ROTATIVO.
VIOLAÇÃO DO DEVER DE INFORMAR.
AUSÊNCIA DE INFORMAÇÕES CLARAS E
PRECISAS E IMPOSSIBILIDADE DE
PARCELAMENTO UNILATERAL.
RECURSO DA PARTE CONHECIDO E
PROVIDO.

Ocorre que, o parcelamento automático da


requerida se deu de forma ilegal por falta de
clareza das informações. O parcelamento só
pode ocorrer de forma bilateral, com a
aquiescência de ambas as partes envolvidas
sobre sua contratação e acessórios. No caso dos
autos, o autor não concordou com os acessórios
que desconhecia. É o que a jurisprudência tem
decidido:

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO


DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE
NEGÓCIO JURÍDICO C/C DANOS MORAIS -
CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR -
APLICABILIDADE – BANCO BRADESCO
CARTÕES S.A- FATURA DE CARTÃO DE
CRÉDITO NÃO PAGA INTEGRALMENTE -
RESOLUÇÃO Nº 4.549 BACEN -
PARCELAMENTO AUTOMÁTICO -
AUSÊNCIA DO DEVER DE INFORMAÇÃO
-- INCLUSÃO INDEVIDA NO CADASTRO DE
INADIMPLENTES - DANO MORAL
CONFIGURADO - VALOR INDENIZATÓRIO
- MINORAÇÃO - IMPOSSIBILIDADE -
HONORÁRIOS RAZOABILIDADE -
MANUTENÇÃO DA SENTENÇA.
Aplica-se o Código de Proteção e Defesa do
Consumidor ao contrato bancário, pois o CDC
abrange as atividades de natureza bancária,
financeira e de crédito, nos termos do art. 3º, § 2º
do referido diploma legal.

O parcelamento automático do débito de fatura de


cartão de crédito não paga integralmente só é
considerado válido desde que a instituição
financeira comprove que o consumidor tenha sido
cientificado dessa operação caso não opte por
outra forma de parcelamento.

Na ausência de ciência do consumidor, o


parcelamento automático do débito de fatura de
cartão de crédito não paga integralmente deve ser
anulado, pois viola o dever de informação ao
consumidor, tornando o débito excessivamente
oneroso e desviando da finalidade proposta por
meio da Resolução do BACEN nº 4.549.

Uma vez anulado o parcelamento automático, a


dívida originária, objeto do parcelamento, deve
ser restaurada.
Reconhecida a invalidade do negócio jurídico,
resta evidenciada a falha na prestação de serviços
por parte do Réu a caracterizar ato ilícito a ensejar
a responsabilidade civil e consequente reparação
pelos danos morais suportados, restando ainda
comprovada a inscrição indevida do nome do
Autor pelo Réu no cadastro de inadimplentes, ante
a mora desconfigurada.
Se o valor arbitrado pelo Magistrado primevo
quanto aos honorários advocatícios atente aos
parâmetros insculpidos no Código de Pro cesso
Civil, não é cabível a sua
alteração. (TJMG - Apelação
Cível 1.0000.19.097799-1/002, Relator(a):
Des.(a) Marcos Henrique Caldeira Brant , 16ª
CÂMARA CÍVEL, julgamento em 18/11/0020,
publicação da súmula em 19/11/2020)

Assim, verifico que a sentença merece reforma


Ante o quanto exposto, voto no sentido
de CONHECER E DAR PROVIMENTO AO
RECURSO para cancelar o parcelamento
realizado, excluindo a cobrança dos valores
respectivos a tal serviço, bem como os encargos
correspondentes, e devolver à parte autora as
parcelas já pagas, em dobro, devendo incidir
correção monetária (INPC) e juros moratórios de
1% ao mês a partir da citação. Sem Custas e
Honorários.

Salvador, 24 de maio de 2021.


MARY ANGÉLICA SANTOS COELHO
Juíza Relatora

ACÓRDÃO
Realizado Julgamento do Recurso do processo
acima epigrafado. A QUARTA TURMA decidiu,
à unanimidade de votos, CONHECER E DAR
PROVIMENTO AO RECURSO para cancelar
o parcelamento realizado, excluindo a
cobrança dos valores respectivos a tal serviço,
bem como os encargos correspondentes, e
devolver à parte autora as parcelas já pagas,
em dobro, devendo incidir correção monetária
(INPC) e juros moratórios de 1% ao mês a
partir da citação. Sem Custas e Honorários.

Salvador, Sala das Sessões, em 24 de maio de


2021.

MARTHA CAVALCANTI SILVA DE


OLIVEIRA
Juíza Presidente

MARY ANGÉLICA SANTOS COELHO


Juíza Relatora
Ação: Procedimento do Juizado Especial Cível
Recurso nº 0013164-36.2019.8.05.0039
Processo nº 0013164-36.2019.8.05.0039
Recorrente(s):
JAILDA CORDEIRO DA SILVA SANTOS

Recorrido(s):
BANCO ITAUCARD S A

EMENTA

RECURSO INOMINADO. AÇÃO


INDENIZATÓRIA POR DANOS MORAIS E
MATERIAIS. PARCELAMENTO
AUTOMÁTICO DE FATURA, NÃO
PRETENDIDO PELA PARTE AUTORA.
SENTENÇA QUE JULGOU
IMPROCEDENTE O PEDIDO
FORMULADO, COM FULCRO NO ART.
487, I, CPC/2015. AO LANÇAR MÃO DA
RESOLUÇÃO CMN Nº 4.549/2017 DEVE A
INSTITUIÇÃO FINANCEIRA OBSERVAR
OS PRINCÍPIOS QUE NORTEIAM AS
RELAÇÕES DE CONSUMO.
PARCELAMENTO AUTOMÁTICO MAIS
PREJUDICIAL AO
CONSUMIDOR. PRÁTICA ABUSIVA, EM
CLARA VIOLAÇÃO AO ART. 39, INCISOS
III E IV DO CÓDIGO DE DEFESA DO
CONSUMIDOR. REFORMA DA
SENTENÇA DE PRIMEIRO GRAU PARA
JULGAR PROCEDENTE EM PARTE A
PRETENSÃO AUTORAL, DECLARANDO
INDEVIDA A COBRANÇA DO
PARCELAMENTO QUESTIONADO;
CONDENAR O RÉU NA DEVOLUÇÃO, EM
DOBRO, DAS PARCELAS DE PAGAS PELA
AUTORA E AO PAGAMENTO DE
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS DE
R$ 3.000,00 (TRÊS MIL REAIS). RECURSO
CONHECIDO E PARCIALMENTE
PROVIDO.

8. DA TUTELA DE URGÊNCIA

O autor requer que a Vossa Excelência defira a tutela jurisdicional pretendida de


modo antecipado, já que todos os requisitos exigidos no artigo 300 do CPC encontram-
se presentes no caso concreto.

Assim, resta claro o fumus boni iuris, hábil a ensejar a concessão da liminar,
diante da violação dos dispositivos legais invocados em sua proteção, tendo em vista
que o postulante acosta aos autos toda a documentação necessária além dos dados do
parcelamento ilegal imposto pela ré, bem como solicitações administrativas
(infrutíferas) de resolução do problema.

Da mesma forma exsurge, com não menos ênfase evidenciada, a ocorrência do


periculum in mora, uma vez que a perdurar as cobranças mensais do parcelamento
ilegal o consumidor vai continuar a sofrer os irreparáveis danos financeiros, vez que
as cobranças ilegais podem gerar a negativação do nome do consumidor.

Desta forma, requer o demandante a título de antecipação de tutela, o


deferimento da medida liminar no intuito de impedir as cobranças de ilegais bem como a
proibição de negativação do nome do consumidor por parte da ré, sob pena de
incorrer em multa diária em valor a ser arbitrado por V. Exa.
9. DOS PEDIDOS:
Por tudo quanto minuciosamente exposto, vem requerer deste MM.

I) Deferimento da Justiça Gratuita sendo o consumidor


hipossuficiente;
II) A citação da empresa ré para responder a ação e
comparecer à Audiência de Conciliação em data a ser designada por este
juízo, sob pena do não comparecimento resultar na aplicação dos efeitos da
revelia, nos moldes do §1º do art. 18, c/c art. 20, ambos da Lei 9099/95;

III) O pagamento de danos morais no valor não inferior a


R$ 5.000,00 (cinco mil reais) pela humilhação, sofrimento e
constrangimento ilegal sofrido.

IV) A produção de provas testemunhal, documental e todas


outras necessárias para o livre convencimento e o deslinde do litígio, ora
apresentado;

V) V) A inversão do ônus da prova com base no art. 6º, VIII


do CDC;

VI) Seja deferido o pedido de liminar, para que a empresa


acionada SUSPENDA as cobranças decorrentes do parcelamento bem como
a abstenção/proibição de negativação do nome do consumidor;
VII) A empresa ré parcele a dívida legal em no mínimo doze vezes sem
juros;

VIII) Seja JULGADA PROCEDENTE a presente ação para


o fim de DECLARAR A INEXISTÊNCIA DO DÉBITO IMPOSTO À
REQUERENTE, bem como CONDENAR a Requerida ao pagamento
do dano moral já citado;

Dá-se à causa o valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais)

Nestes termos, pede deferimento. Salvador,

03 de outubro de 2023.

LEILIANE SILVA NOVAES MACHADO OAB/BA 77108

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