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DIREITO
DA VARA DO SISTEMA DE JUIZADOS ESPECIAIS DO
CONSUMIDOR DA COMARCA DE SALVADOR - BAHIA
2. SINOPSE FÁTICA
Nobre julgador (a), conforme anexos ( doc 05) a EMPRESA RÉ está cobrando
cerca de R$21.000,00 ( vinte um mil reais) de juros conforme documento nº 05.
Excelência, em momento algum o postulante quer se imiscuir de pagar a sua dívida, porém,
ele que efetuar o pagamento aplicando os juros legais e não de mais de 21 mil reais. O que
demonstra a ilegalidade pela empresa-ré.
Por derradeiro, não houve outra alternativa para que o consumidor pagasse o valor
correto a não ser socorrer-se ao Poder Judiciário.
3. DO ENQUADRAMENTO LEGAL E DA RESPONSABILIDADE
CIVIL
Ademais, sabe-se que pela teoria Kelseniana as resoluções estão abaixo das
Leis, ou seja, a empresa ré deve se atentar ao Código de Defesa do Consumidor na
aplicação dos juros e em sua cobrança. Na seção IV do CDC dentre outras situações, são
considerados atos ilicitos as seguintes imposições:
4. DO PARCELAMENTO
O CDC em seu art. 6º prevê a inversão do ônus da prova. Em assim sendo, quem
deve tomar o interesse em provar não é o autor, mas a parte requerida. Ilustre julgador é
manifesto que “só prova quem pode provar”. O autor faz prova daquilo que está ao seu
alcance e é notório que a empresa ora ré possui melhores meios de produção de prova do
que o postulante.
6. DO DANO MORAL
Sabe-se que o dano moral é aquele que atinge o patrimônio ideal do cidadão, ou
seja, é uma conduta ilícita que viola a honra, a vida, a liberdade, o decoro, a paz interior
de cada qual, enfim, é a diminuição dos bens que têm um valor precípuo na vida do
homem. A esse respeito, ensina o erudito Sérgio Cavalieri:
Nesse aspecto, razão assiste, pois, ao comentário de José Afonso da Silva acerca
do art. 5º, X, da vigente Constituição Federal:
Dessa forma, o Art. 186 do CÓDIGO CIVIL define o que é ato ilícito, entretanto, observa-
se que não disciplina o dever de indenizar, ou seja, a responsabilidade civil, matéria tratada
no art. 927 do mesmo Código. Sendo assim, é previsto como ato ilícito àquele que cause
dano, ainda que, exclusivamente moral. Faça-se constar Art. 927, caput, do mesmo diploma
legal:
"Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a
outrem, fica obrigado a repará-lo."
O STF tem proclamado que" a indenização, a título de dano moral, não exige
comprovação de prejuízo "(RT 614/236), por ser este uma conseqüência irrecusável do
fato e um" direito subjetivo da pessoa ofendida "(RT 124/299).
Esta não é passível de prova, pois está ligada aos sentimentos íntimos da pessoa.
Assim, é correto admitir-se a responsabilidade civil, por exemplo, na maioria dos casos de
ofensa à honra, à imagem ou ao conceito da pessoa, pois subentendem-se feridos seus
íntimos sentimentos de auto-estima.1
Não é por acaso que a indenizabilidade encontra amparo no rol dos direitos e
garantias fundamentais. Isso foi possível devido à importância que foi dada pela
Constituição Pátria à pessoa humana, pois a dignidade é fundamento da República.
7. DA JURISPRUDÊNCIA SOBRE
O ASSUNTO
1
(CRJEC, 3ª Turma, Rec. 228/98, rel. Juiz Demócrito Reinaldo Filho, j. 20.08.98, DJ 21.08.98). Como já proclamava José de Aguiar Dias,
nesses casos "acreditar na presença de dano é tudo quanto há de mais natural" (Da Responsabilidade Civil, vol. II, p. 368). Sobre dano moral a Egrégia Corte
do Superior Tribunal de Justiça entende que: “Ementa: Dano moral puro. Caracterização. Sobrevindo em razão de ato ilícito, perturbação nas relações
psíquicas, na tranqüilidade, nos entendimentos e nos afetos de uma pessoa, configura-se o dano moral, passível de indenização. (STJ, Min. Barros Monteiro,
T. 04, REsp 0008768, decisao 18/02/92, DJ 06/04/1998, p. 04499)”.
EMENTA RECURSO INOMINADO. AÇÃO
INDENIZATÓRIA. PAGAMENTO PARCIAL DA
FATURA. PARCELAMENTO AUTOMÁTICO IMPOSTO PELA
INSTITUIÇÃO BANCÁRIA. AUSÊNCIA DE INFORMAÇÃO
DETALHADA AO CONSUMIDOR ACERCA DO
PARCELAMENTO. FALHA NO DEVER DE INFORMAÇÃO.
INSTITUIÇÃO BANCÁRIA QUE NÃO COMPROVOU QUE O
PARCELAMENTO SE DEU EM CONDIÇÕES MAIS
VANTAJOSAS AO CONSUMIDOR. DESATENDIMENTO DOS
REQUISITOS DA RESOLUÇÃO BACEN nº
4.549/17. SENTENÇA QUE JULGOU IMPROCEDENTE OS
PEDIDOS FORMULADOS NA EXORDIAL. IMPERIOSA
NECESSIDADE DE REFORMA DO COMANDO JUDICIAL
PARA DECLAR NULA A COBRANÇA A TÍTULO DE
PARCELAMENTO, COM A DEVOLUÇÃO, EM DOBRO, DOS
VALORES PAGOS INDEVIDAMENTE, ALÉM DE ARBITRAR
INDENIZAÇÃO A TÍTULO DE DANO MORAL NO VALOR DE
R$ 3.000,00. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. RELATÓRIO
Dispensado o relatório nos termos do artigo 46 da Lei nº 9.099/95.
Presentes as condições de admissibilidade do recurso, conheço-o,
apresentando voto com a fundamentação aqui expressa, o qual
submeto aos demais membros desta Egrégia Turma. VOTO A título
de registro, pontuo que a controvérsia recursal reside na cobrança de
valores relativos ao pagamento de parcelamento automático, além do
arbitramento de indenização a título de dano moral. Referente às
preliminares suscitadas verifica-se que foram corretamente analisadas
e afastadas pelo juiz sentenciante, sem reparos. 1.PARCELAMENTO
AUTÓMATÍCO DA FATURA DE CARTÃO DE CRÉDITO: Da
análise dos autos, verifica-se que a parte Autora, nos meses de
fevereiro e julho de 2020 teve as suas faturas de cartão de crédito
parcelada automaticamente, por não ter efetuado o pagamento
integral do seu débito. Com efeito, em 26 de janeiro de 2017, o
Banco Central (BACEN) divulgou a Resolução nº 4.549 que altera
as normas de utilização do crédito rotativo do cartão de crédito,
que passou a vigorar a partir de 03/04/2017. De acordo com o
BACEN, o rotativo consiste em uma modalidade de crédito
concedido quando o pagamento integral da fatura não é efetuado
até o vencimento, ou seja, trata-se de um financiamento da
diferença entre o valor total da fatura e o valor efetivamente
quitado pelo consumidor, ocorrendo quando o consumidor opta
por realizar apenas o pagamento mínimo da sua fatura de cartão
de crédito e isso o sujeita ao pagamento de juros. Faz necessário
esclarecer que essas novas regras foram emitidas como meios de
prevenção, visando a redução da inadimplência, e para evitar o
superendividamento do consumidor, posto que os bancos devem
oferecer condições "mais vantajosas", com juros menores, de
parcelamento da dívida que permanecer no crédito rotativo por
30 dias. Entretanto, destaca-se que a Resolução do BACEN não
determina que o banco faça automaticamente o financiamento dos
valores não quitados no prazo de um mês, devendo-se observar um
direito básico do consumidor que é a liberdade de contratação. A Ré,
por sua vez, não se desincumbiu de seu ônus, deixando de provar fato
impeditivo, extintivo ou modificativo do direito da Autora, não
demonstrando que esta tenha anuído com o parcelamento lançado,
automaticamente, em sua fatura, razão pela qual o pedido de
cancelamento deve ser acolhido. CONDENAÇÃO AO
PAGAMENTO DE INDENIZAÇÃO A TÍTULO DE DANO
MORAL: Quanto aos danos morais postulados, a simples
alteração unilateral da forma de pagamento, com a cobrança de
tarifas mais onerosas não informadas ao consumidor, configura a
ocorrência de dano moral, uma vez que gera cobrança indevida e
prejuízo patrimonial, bem como, por consequência, transtornos
de ordem psíquica, já que obriga o consumidor a pagamento de
valores que não contratou, principalmente frente a necessidade de
não ter seu nome incluído em cadastros de restrição ao crédito.
Ante ao exposto, voto no sentido de CONHECER E DAR
PROVIMENTO AO RECURSO interposto pela parte Autora para
DECLARAR a 1) nulidade dos parcelamentos lançados no cartão de
crédito dela, discutidos na presente demanda, ocorridos em fevereiro
e julho de 20202, com seu imediato estorno, retirando-lhe os juros e
encargos que lhe são decorrentes; 2) determinar a devolução, em
dobro, se for o caso, dos valores pagos indevidamente a tal título, após
a quitação de todas as despesas realizadas pelo consumidor em seu
cartão de crédito; 3) condenar, ainda, a empresa Acionada a pagar à
Parte Autora, a título de indenização por danos morais, o valor de R$
3.000,00 (três mil reais), a ser corrigido monetariamente pelo INPC e
acrescido de juros de mora de 1% (um por cento) incidentes a partir
da presente sentença. Salvador-Ba, 2022. ELIENE SIMONE SILVA
OLIVEIRA Juíza Relatora ACÓRDÃO Realizado julgamento do
Recurso do processo acima epigrafado, a QUINTA TURMA,
composta dos Juízes de Direito, decidiu, à unanimidade de votos,
CONHECER E DAR PROVIMENTO AO RECURSO interposto pela
parte Autora para DECLARAR a 1) nulidade dos parcelamentos
lançados no cartão de crédito dela, discutidos na presente demanda,
ocorridos em fevereiro e julho de 20202, com seu imediato estorno,
retirando-lhe os juros e encargos que lhe são decorrentes; 2)
determinar a devolução, em dobro, se for o caso, dos valores pagos
indevidamente a tal título, após a quitação de todas as despesas
realizadas pelo consumidor em seu cartão de crédito; 3) condenar,
ainda, a empresa Acionada a pagar à Parte Autora, a título de
indenização por danos morais, o valor de R$ 3.000,00 (três mil
reais), a ser corrigido monetariamente pelo INPC e acrescido de
juros de mora de 1% (um por cento) incidentes a partir da presente
sentença. Salvador-Ba, 2022. ELIENE SIMONE SILVA OLIVEIRA
Juíza Relatora
Recorrido(s):
BANCO BRADESCO S A
EMENTA
ACÓRDÃO
Realizado Julgamento do Recurso do processo
acima epigrafado. A QUARTA TURMA decidiu,
à unanimidade de votos, CONHECER E DAR
PROVIMENTO AO RECURSO para cancelar
o parcelamento realizado, excluindo a
cobrança dos valores respectivos a tal serviço,
bem como os encargos correspondentes, e
devolver à parte autora as parcelas já pagas,
em dobro, devendo incidir correção monetária
(INPC) e juros moratórios de 1% ao mês a
partir da citação. Sem Custas e Honorários.
Recorrido(s):
BANCO ITAUCARD S A
EMENTA
8. DA TUTELA DE URGÊNCIA
Assim, resta claro o fumus boni iuris, hábil a ensejar a concessão da liminar,
diante da violação dos dispositivos legais invocados em sua proteção, tendo em vista
que o postulante acosta aos autos toda a documentação necessária além dos dados do
parcelamento ilegal imposto pela ré, bem como solicitações administrativas
(infrutíferas) de resolução do problema.
03 de outubro de 2023.