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EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA VARA CÍVEL DA COMARCA DE

CAETITÉ – ESTADO DA BAHIA

VERA LÚCIA ALVES CRAVEIRO, brasileira, casada, portadora do CIRG nº


05979731-21 SSP/BA, inscrita no CPF nº 004.016.455-17, residente e domiciliada
na Fazenda Lagoa de Dentro, Comunidade da Tabua, Zona Rural, Caetité, Bahia,
CEP: 46.400-000, vem, mui respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, por
meio de sua advogada abaixo firmada, ut mandato, KEYLLA GOMES CARVALHO
GUANAIS ROCHAEL, devidamente inscrita na Ordem dos Advogados do Brasil –
Seção do Estado da Bahia, sob o nº 28.908, ex vi nos Arts. 186 e 927 do Código Civil
Brasileiro e Arts. 6º, VI e 14 do Código de Defesa do Consumidor, propor a presente
AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C REPETIÇÃO DE
INDÉBITO E INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS C/C ANTECIPAÇÃO DE
TUTELA DE URGÊNCIA em face do BANCO MERCANTIL BRASIL (MERCANTIL
DO BRASIL S.A), inscrito no CNPJ nº 17.184.037/0001-10, estabelecido à Rua Rio
de Janeiro, nº 654, Bairro Centro, Belo Horizonte, Minas Gerais, CEP: 30.160-912,
pelas seguintes razões de fato e de direito:

Preliminarmente, roga pelo processamento da presente ação pelo procedimento


especial previsto na Lei nº 9.099/95.

I – DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA

Tendo em vista que a Autora é pessoa que se declara pobre, na acepção jurídica do
termo, sem ter condições de arcar com as custas e demais ônus processuais sem
prejuízo do sustento próprio e de sua família, requer sejam deferidas as benesses
da gratuidade de justiça, conforme estabelece a Lei 1.060/50, bem como suas
demais alterações, calcada ainda no Art. 5º, inciso LXXIV da Constituição Federal
de 1988 e Art. 92 do Código de Processo Civil.

II – DO FORO COMPETENTE
A presente ação discute questões que mostram conexão com “relações de
consumo”; portanto, inicialmente, para justificar a escolha desse foro para apreciá-
la e dirimir a questão apresentada, a Autora invoca o dispositivo constante do
Código Específico dos Direitos do Consumidor (lei nº 8.078/90), onde se estampa a
possibilidade de propositura de ação judicial no domicílio do Autor, (art. 101, I).

Além do mais, tem-se que eventuais contratos, ainda que tácitos, de prestações de
serviços públicos e/ou de consumo, vinculam-se, de uma forma ou de outra, à
existência de “relação de consumo”, como no presente caso trazido à baila.

III – DO ESPEQUE FÁTICO

A Autora é idosa, pessoa simples, de origem humilde, residente e domiciliada na


zona rural. É beneficiária do Instituto Nacional do Seguro Social – INSS (Nº do
Benefício 199.241.725-0), conforme comprovante em anexo.

Ocorre que, no mês de agosto de 2021, ao realizar uma consulta no saldo da conta
onde recebe seu benefício, foi surpreendida com o valor ali constante, pois estava
maior do que a mesma acreditava ter. Ao buscar informações junto ao Banco, o
mesmo a informou que havia um empréstimo em seu nome cujo valor foi creditado
em sua conta da Caixa Econômica Federal, agência 1050, conta nº 72632-7, no dia
26 de agosto de 2021, conforme se demonstra pelo extrato anexo.

Inconformada, a Requerente dirigiu-se ao INSS onde lhe foi informado que havia
um empréstimo ativo com o Banco Mercantil do Brasil, ora Réu, no valor de R$
4.375,84 (quatro mil trezentos e setenta e cinco reais e oitenta e quatro centavos),
e que, referente a este empréstimo, de contrato nº 017515474, iria ser descontado
do seu benefício o valor de R$ 112,00 (cento e doze reais) a começar em dezembro
de 2021 com previsão de fim em novembro de 2028.

Frise-se que a Autora declara nunca ter contratado qualquer negociação junto ao
Réu, e que inclusive ficou extremamente surpresa quando obteve a informação na
agência bancária, pois o seu benefício desde sempre era bloqueado para a
contratação de empréstimos.

Desse modo, diante da impossibilidade de solucionar o problema amigavelmente,


bem como da possibilidade de mais transtornos ocorrerem em virtude do descaso
da parte Requerida e do transcurso do tempo, a Autora se volta ao Judiciário no
intuito de ver a sua pretensão atendida, por imperativo de Direito e Justiça!

IV- DA FUNDAMENTAÇÃO JURÍDICA

O Código Civil repudia a prática de ato ilícito em seu artigo 186, garantindo o
direito de reparação do dano. Vejamos:

"Art.186: Aquele que, por ação ou omissão voluntária,


negligência ou imprudência, violar direito e causar dano
a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato
ilícito."
Assim, nota-se que cometer ato ilícito é conduta conflitante com o Ordenamento
Jurídico. Violar Direito é, via de regra, transgredir norma. Neste caso o Réu foi
irresponsável e inconsequente ao realizar o desconto no benefício da Autora sem o
prévio consentimento da mesma, causando constrangimento e prejuízos.

Importante destacar que a Requerente é pessoa idosa, que recebe benefício


previdenciário em valor não expressivo, o qual é utilizado para a sua manutenção e
de sua família, e que irá sofrer descontos indevidos, por dívida não pretendida, a
limitar a disponibilidade à Autora, com comprometimento indevido em sua renda,
situação que gera angústia em qualquer pessoa.
Ainda à luz do Código Civil, remete-se o Julgador para o artigo 927, in verbis:

“Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187),
causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.”

Toda manifestação da atividade humana traz em si o problema da


responsabilidade, consistente na ideia de segurança ou garantia da restituição ou
compensação. A nobre doutrinadora MARIA HELENA DINIZ em comentário a este
tema, asseverou que:

"...poder-se-á definir a responsabilidade civil como a


aplicação de medidas que obriguem alguém a reparar
dano moral ou patrimonial causado a terceiros em razão
de ato do próprio imputado, de pessoa por quem ele
responde, ou de fato de coisa ou animal sob sua guarda
(responsabilidade subjetiva), ou, ainda, de simples
imposição legal (responsabilidade objetiva)".

A sinótica definição supracitada abrange, com elevado rigor doutrinário, as


diversas hipóteses de obrigação de indenizar decorrentes da responsabilidade
civil, seja ela subjetiva ou objetiva.

Maria Helena Diniz, em sua obra "Obrigações", define:

"A responsabilidade civil é aplicação das medidas que


obriguem uma ou mais pessoas, a repararem o dano
moral ou patrimonial causado a terceiro, em razão do ato
por ela praticado, por pessoa por quem ela responde, por
alguma coisa a ela pertencente ou de simples imposição
legal."

Inconteste por igual, a caracterização do ato ilícito praticado pelo Réu, que,
conscientemente, creditou valor e realizará descontos de parcelas no benefício
previdenciário por suposto empréstimo consignado contratado pela Autora, sem a
prévia autorização da mesma. Mas, o inaceitável é o fato de a Requerente não ter
pactuado contrato algum com o Réu para a obtenção do empréstimo consignado.

Ademais, o evento danoso restou perfeito e acabado, tendo em vista que preencheu
os fundamentos básicos necessários, ou seja, havia um dever preexistente e a
imputação do resultado à consciência de seu Autor.

V – DA TUTELA DE URGÊNCIA

Conforme dispõe o artigo 300 do Novo Código de Processo Civil, a tutela provisória
de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a: i) a
probabilidade do direito e o perigo de dano; ou ii) o risco ao resultado útil do
processo.

Presentes tais requisitos, a tutela de urgência será deferida, desde que não haja
perigo de irreversibilidade dos efeitos da decisão, vide o § 3º do artigo 300 do CPC.
Como bem ressaltado pelo eminente doutrinador Rodolfo Kronemberg Hartmann,
a probabilidade do direito implica no ônus de o demandante demonstrar,
juntamente com a sua petição, a prova suficiente da verossimilhança, o que, de
certa forma equivale à expressão latina fumus boni iuris.

A probabilidade que autoriza o emprego da técnica antecipatória para a tutela dos


direitos é a probabilidade lógica, que é aquela que surge da confrontação das
alegações e das provas com os elementos disponíveis nos autos, sendo provável a
hipótese que encontra maior grau de confirmação e menor grau de refutação
nesses elementos. Já o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo
correspondem ao periculum in mora, pois a demora da resposta jurisdicional gera
uma situação de risco. Há urgência quando a demora pode comprometer a
realização imediata ou futura do direito.
Feita esta breve explanação, cumpre ressaltar que estão presentes todos os
requisitos legais para o deferimento do pedido de tutela provisória de urgência em
caráter antecedente, senão vejamos.

Consoante às linhas anteriormente traçadas através da presente demanda,


sedimenta e traz à análise jurisdicional, a efetiva demonstração de que o Requerido
agiu de maneira flagrantemente ilegal ao impor o pagamento de parcelas de
empréstimo consignado sem a anuência da Requerente, um flagrante desrespeito
ao Código de Defesa do Consumidor. Desta maneira, é evidentemente ilegal a
cobrança realizada pelo Requerido, já que não foram observados os requisitos
legais para tanto.

Muito embora a Requerente confie que a probidade de seus argumentos ecoe no


integral acolhimento de suas pretensões, fato é que a espera pelo fim do trâmite
processual pode lhe trazer diversos prejuízos.

A situação narrada pela Autora demonstra que haverá abusivos descontos em sua
folha de pagamento referente a um empréstimo consignado que ela não anuiu.
Prudente seria o cancelamento do suposto contrato, sob pena de perecimento da
Autora e sua família, que ora encontram-se privadas do básico para o sustento,
pois vê seu rendimento minguar com constantes aumentos dos serviços básicos,
gastos com alimentação e medicamentos, e seu salário não acompanha todos esses
aumentos, levando à corrosão de sua renda mensal.

Verifica-se, MM. Juiz, de logo, que a situação da Autora atende perfeitamente a


todos os requisitos esperados para a concessão da medida antecipatória, pela qual
se busca, antes da decisão do mérito em si, a ordem judicial para a suspensão
dos descontos das parcelas mensais na sua conta já informada; para tanto,
requer a V. Exa. se digne em determinar a expedição de ofício à empresa Ré nesse
sentido, bem como seja oficiado o INSS do teor da presente demanda.

VI - DOS DANOS MORAIS


O dano moral é a repercussão não patrimonial que o ato ilícito causa na esfera de
subjetividade da vítima. Isso pode repercutir-se, como no caso em tela, em pessoa
física.

É indubitável que a prática ilícita realizada pelo Banco Réu causou


constrangimento passível de ser indenizado, uma vez que nunca celebrou qualquer
contrato de empréstimo consignado, e mesmo assim vem realizando descontos
mensais em seu benefício previdenciário, sua única renda.

Os danos morais, segundo a doutrina, são lesões sofridas pelas pessoas, físicas
ou jurídicas, em certos aspectos da sua personalidade, em razão de investidas
injustas de outrem. São aqueles que atingem a moralidade e a afetividade da
pessoa, causando-lhe constrangimentos, vexames, dores, enfim, sentimentos e
sensações negativas. Os danos morais atingem, pois, as esferas íntima e
valorativa do lesado, enquanto os materiais constituem reflexos negativos no
patrimônio alheio. (CARLOS ALBERTO BITTAR, in Reparação Civil por Danos
Morais, Tribuna da Magistratura, p. 33).

Mais adiante, p. 200, o dito autor preleciona que: “...a indenização por danos
morais deve traduzir-se em montante que represente advertência ao lesante e
à sociedade de que se não se aceita o comportamento assumido, ou o evento
lesivo advindo. Consubstancia-se, portanto, em importância compatível com o
vulto do interesse em conflito, refletindo-se de modo expressivo, no patrimônio
do lesante, a fim de que sinta, efetivamente, a resposta de ordem jurídica aos
efeitos do resultado lesivo produzido. Deve, pois, ser quantia economicamente
significativa, em razão das potencialidades do patrimônio do lesante”.

O Ministro Oscar Corrêa, em acórdão do Supremo Tribunal Federal inserido na RTJ


108, p. 287, ao discorrer sobre o dano moral, teve a oportunidade de destacar que:
“Não se trata de pecúnia doloris, ou pretium doloris, que se não pode avaliar e
pagar, mas satisfação de ordem moral, que não ressarci prejuízo e danos e
abalos e tribulações irreversíveis, mas representa a consagração e o
reconhecimento pelo direito, do valor da importância desse bem, que é a
consideração moral, que se deve proteger tanto quanto, senão mais do que os
bens materiais e interesses que a lei protege”.

O fundamento da reparabilidade pelo dano moral está em que, a par do patrimônio


em sentido técnico, o indivíduo é titular de direitos, não podendo conformar-se à
ordem jurídica em que sejam impunemente atingidos. Colocando a questão em
termos de maior amplitude, o dano moral abrange todo atentado à reputação da
vítima, à sua autoridade legítima, ao seu pudor, à sua segurança e tranquilidade, ao
seu amor próprio estético, à integridade de sua inteligência, às suas afeições,
consoante a preciosa lição do abalizado CAIO MÁRIO DA SILVA PEREIRA, inclusive
citando SAVATIER.

Ainda mais nestes casos em que os bancos assumem, independentemente de prova


da culpa, de repor os danos que consumidores amargam pela insegurança das
atividades bancárias.

Presente neste caso concreto a responsabilidade objetiva, quanto não há a


possibilidade de discutir culpa para satisfazer o lesado. As vítimas de danos
injustos reivindicam os seus direitos e, por vezes, não são indenizadas, apesar de
seus excelentes fundamentos.

Algumas situações, contudo, recebem tratamento diferente e isso se deve a uma


revolucionária evolução nessa área do direito, a partir do reconhecimento da
desnecessidade de a vítima provar a culpa para obter a reparação do dano em
situações em que o exercitar um fato ou o realizar um serviço provocam riscos
para os sujeitos que se relacionam aos seus expedientes.

Os bancos foram inseridos no círculo da responsabilidade objetiva e diversas


razões conspiram para aceitabilidade do entendimento. Primeiro, o disposto no
art. 14 da Lei nº 8.078/990 – (CDC) que dispensa a prova da culpa para proteger o
consumidor vítima das operações bancárias e, depois, pela própria gestão
administrativa das agências, pois mirando atender bem para conquistar ou manter
a clientela, finaliza providências planejadas com esse desiderato sem executá-las
com o cuidado exigido para a segurança dos envolvidos, direta ou indiretamente.

Quando se obriga o banco a pagar essa conta, restaura-se o império da ordem


jurídica, impondo a quem causa prejuízo por sua atividade profissional, o dever de
restituir e compensar as agruras suportadas.

Assim, disciplina do artigo 14 do CDC que (...) "o fornecedor de serviços responde,
independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados
aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como
por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos."

Desta feita, o serviço será considerado defeituoso quando não fornece a segurança
que o consumidor dele pode esperar, levando-se em consideração as
circunstâncias relevantes, entre as quais (I) o modo de seu fornecimento, (II) o
resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam; (III) a época em que foi
fornecido, à luz do §1º, art. 14 do CDC.

Sobre a reparação do dano moral, nossos doutrinadores são unânimes em seu


favor, senão vejamos:

WILSON DE MELLO E SILVA (O Dano Moral e Sua Reparação):

"... lesões sofridas pelo sujeito físico ou pessoa natural de


direito em seu patrimônio ideal, entendendo-se
patrimônio ideal, em contraposição ao patrimônio
material, o conjunto de tudo aquilo que não seja
suscetível de valor econômico."

ORLANDO GOMES (Obrigações - 8ª Ed.):

"... dano moral é portanto, o constrangimento que alguém


experimenta em conseqüência de lesão em direito
personalíssimo, ilicitamente produzido por outrem. (...).
Não obstante, prevalece atualmente a doutrina da
ressarcibilidade do dano moral."

MARIA HELENA (Direito Civil Brasileiro - 7º vol.):

"O dano moral direto consiste na lesão a um interesse que


visa a satisfação ou gozo de um bem jurídico
extrapatrimonial contido nos direitos da personalidade
(como a vida, a integridade corporal, etc.)."

Além disso, existem entendimentos de que o dano moral emerge


inquestionavelmente da conduta lesionadora, e que o procedimento irresponsável
do banco de manter tal reserva ocasiona danos ao consumidor, o que autoriza a
condenação de indenização pelos danos suportados. Ainda mais, quando não se
contrata os serviços por ele ofertados.

Nesse sentido, as decisões de Tribunais Pátrios têm apontado que:

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - CONTRATO DE


EMPRÉSTIMO E CARTÃO DE CRÉDITO CONSIGNADO EM
BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO - REMESSA DE CARTÃO E
DISPONIBILIZAÇÃO DE CRÉDITO NÃO SOLICITADOS -
PRATICA COMERCIAL ILÍCITA E ABUSIVA -
RECONHECIMENTO - NULIDADE E PRIVAÇÃO DE
EFEITOS - CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR –
DESCONTOS INDEVIDOS - PROVENTOS DE
APOSENTADORIA - NATUREZA ALIMENTAR - MÁ-FÉ DO
CORRESPONDENTE BANCÁRIO - RESTITUIÇÃO EM
DOBRO - DANOS MORAIS - CONFIGURAÇÃO - VALOR DA
INDENIZAÇÃO – CRITÉRIOS DE FIXAÇÃO - EXTENSÃO DO
DANO -PROPORCIONALIDADE E RAZOABILIDADE -
COMPENSAÇÃO - VEDAÇÃO AO ENRIQUECIMENTO SEM
CAUSA. I - Merecem ser fulminados de nulidade e
privados de efeito os ajustes contratuais que sejam
incompatíveis com a boa-fé e sejam resultado de
práticas comerciais ilícitas do fornecedor de serviços,
mediante a imposição de produtos financeiros não
solicitados. II - Reconhecida a má-fé da instituição
financeira, deve ser determinada a devolução, em
dobro, dos valores indevidamente descontados do
consumidor. III - É devida a reparação por dano moral
diante de descontos indevidos em benefício
previdenciário. IV - Na fixação de indenização por dano
moral, deve o magistrado considerar as lesões sofridas
pela parte e a sua extensão, de com atenção aos
princípios da proporcionalidade, da razoabilidade e da
vedação ao enriquecimento ilícito. V - Em decorrência
da vedação ao locupletamento sem causa, deve o
consumidor restituir à instituição bancária, o valor
depositado em sua conta, mediante simples correção
monetária. VI - Havendo condenação de ambas as
partes, deve ser autorizada a compensação entre os
créditos. (TJ-MG - AC: 10000200515591001 MG, Relator:
Fabiano Rubinger de Queiroz, Data de Julgamento:
25/08/2020, Data de Publicação: 26/08/2020)

APELAÇÃO CÍVEL. Desconto indevido em aposentadoria.


Inexistência de relação jurídica entre as partes para
embasar a cobrança. O autor afirma que o réu realizou
descontos mensais em seu benefício previdenciário
referentes a cartão de crédito, mesmo sem ter solicitado
o título ou qualquer empréstimo. Em sua defesa, o
demandado sustenta que o débito que ensejou os
descontos na conta do autor decorreu de contrato de
empréstimo consignado. O contrato trazido aos autos
pelo réu é claro ao se referir a cartão de crédito apenas,
não fazendo qualquer referência a contratação de
empréstimo consignado ou cartão de crédito
consignado, como pretende fazer crer o apelado.
Realização de desconto sem que o autor tenha
contratado o cartão ou realizado qualquer compra ou
saque. Provimento parcial do recurso para declarar a
inexistência da dívida e a do empréstimo imputados ao
autor e condenar o réu a cancelar o cartão de crédito,
devolver, em dobro, os valores efetivamente
descontados da aposentadoria e pagar indenização por
danos morais. (TJ-RJ - APL: 00318602520168190205,
Relator: Des(a). FERDINALDO DO NASCIMENTO, Data de
Julgamento: 07/07/2020, DÉCIMA NONA CÂMARA
CÍVEL, Data de Publicação: 09/07/2020)

Conclui-se, que a teor das disposições inseridas no artigo 5º, inciso V e X, da Carta
Fundamental de 1988, o dano moral é ressarcível, cabendo nesse caso ao Réu arcar
com a responsabilidade pelo pagamento de danos morais sofridos com a
ocorrência de crime contra a Autora, na ordem de quantia equivalente a 35 (trinta
e cinco) salários mínimos, ou então, no valor prudente a ser fixado por Vossa
Excelência.

Assim, requer a procedência dos danos morais causados à Autora pela situação
fática descrita, e, por ser a empresa Ré gigantesca instituição financeira, com
grande poder econômico, devendo a condenação ser em valor pujante e com
caráter não só ressarcitório como punitivo.

VII- DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

Por admitir que, em geral, o consumidor é a parte vulnerável na relação de


consumo, a lei contempla uma série de medidas protetivas que lhe são
proporcionadas, dentre elas a possibilidade de inversão do ônus da prova, a
facilitação da defesa de seus interesses, a interpretação mais favorável das
cláusulas contratuais etc.

Com efeito, estatui o art. 6º, inciso VIII da Lei nº 8.078/90 que (...) "são direitos
básicos do consumidor (...) a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive
com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a
critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente,
segundo as regras ordinárias de experiência."

De igual forma, contempla o inciso VII do dispositivo em questão, que também se


inclui entre os direitos básicos do consumidor (...) "o acesso aos órgãos
judiciários e administrativos, com vistas à prevenção ou reparação de danos
patrimoniais e morais, ... assegurando a proteção jurídica, administrativa e
técnica aos necessitados."

E, sendo assim, de antemão faz-se aplicável a inversão do ônus da prova à ora


Autora, sobremodo em face sua hipossuficiência e ante à verossimilhança de suas
alegações.

VIII – DOS PEDIDOS E REQUERIMENTOS

Ante todo o exposto, vem mui respeitosamente à presença de Vossa Excelência,


requerer seja a presente ação julgada totalmente procedente, ao tempo em que
requer ainda:

a) em razão da verossimilhança dos fatos ora narrados, seja concedida


liminarmente a tutela de urgência, “initio littis” e “inaudita altera pars”,
com o fim de obrigar o Requerido, de imediato, a tomar as providencias
necessárias para a suspensão dos descontos programados em seu benefício
de nº 199.241.725-0, recebido em sua conta bancária na conta da Caixa
Econômica Federal, agência 1050, conta nº 72632-7;
b) Em sendo deferido o pedido constante no item “a”, seja expedido o
competente Ofício Judicial à empresa-Ré, assinalando-se prazo de 48h para
cumprimento da ordem, com a fixação de multa por dia de atraso, com base
no art. 536, § 1.º do CPC;

c) Proceda a citação do Requerido no endereço indicado preambularmente


quanto à presente ação e sobre a decisão proferida em sede liminar, para
que, querendo, apresente defesa, perante esse Juízo, dentro do prazo legal,
sob pena de confissão quanto a matéria fática ou pena de revelia, sendo
designada, consequentemente, a data da audiência a critério do D. juízo;

d) Seja declarado nulo e cancelado o contrato de nº 017515474, bem como


seja declarado inexigível qualquer débito junto ao Réu referente à
contratação fictícia;

e) Seja o Réu condenado a ressarcir eventuais os valores que vierem a ser


indevidamente descontados na conta da Autora, em dobro, com fulcro no
Art. 42,§ único, do Código de Defesa 13 do Consumidor, até a data da efetiva
suspensão dos descontos;

f) Requer, ainda, seja o valor creditado na conta da Autora transferido para


conta judicial a disposição deste Juízo;

g) Seja o Réu condenado ao pagamento de uma indenização, de cunho


compensatório e punitivo, pelos danos morais causados à Autora, tudo
conforme fundamentado, em valor pecuniário justo e condizente com o
presente caso, qual seja o equivalente a 35 salários mínimos, nesta data
correspondente a R$ 38.500,00 (trinta e oito mil e quinhentos reais),
tendo em vista o poder aquisitivo do Requerido;

h) Seja o INSS – Instituto Nacional do Seguro Nacional oficiado sobre o teor da


presente demanda;

i) Seja a empresa Ré condenada nas custas e honorários advocatícios, estes na


proporção de 20% do valor da condenação;
j) Sejam concedidas as benesses da gratuidade de justiça, haja vista que a
Autora se declara pobre no sentido jurídico do termo;

Ad probationem, protesta por todos os meios de provas em direito admitidos,


especialmente prova documental e depoimento pessoal, sem prejuízo das demais
espécies, inclusive requerendo a inversão do ônus da prova, conforme disposição
do Código de Defesa do Consumidor no seu art. 6º, VIII.

Dá-se à causa o valor de R$ 42.875,84 (quarenta e dois mil oitocentos e setenta


e cinco reais e oitenta e quatro centavos) apenas para efeito de fixação de rito.

Termos em que,
Pede e espera deferimento.
Caetité,Ba., em 28 de setembro de 2021.

KEYLLA GOMES CARVALHO GUANAIS ROCHAEL


OAB/BA 28.908

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