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Tendo em vista que a Autora é pessoa que se declara pobre, na acepção jurídica do
termo, sem ter condições de arcar com as custas e demais ônus processuais sem
prejuízo do sustento próprio e de sua família, requer sejam deferidas as benesses
da gratuidade de justiça, conforme estabelece a Lei 1.060/50, bem como suas
demais alterações, calcada ainda no Art. 5º, inciso LXXIV da Constituição Federal
de 1988 e Art. 92 do Código de Processo Civil.
II – DO FORO COMPETENTE
A presente ação discute questões que mostram conexão com “relações de
consumo”; portanto, inicialmente, para justificar a escolha desse foro para apreciá-
la e dirimir a questão apresentada, a Autora invoca o dispositivo constante do
Código Específico dos Direitos do Consumidor (lei nº 8.078/90), onde se estampa a
possibilidade de propositura de ação judicial no domicílio do Autor, (art. 101, I).
Além do mais, tem-se que eventuais contratos, ainda que tácitos, de prestações de
serviços públicos e/ou de consumo, vinculam-se, de uma forma ou de outra, à
existência de “relação de consumo”, como no presente caso trazido à baila.
Ocorre que, no mês de agosto de 2021, ao realizar uma consulta no saldo da conta
onde recebe seu benefício, foi surpreendida com o valor ali constante, pois estava
maior do que a mesma acreditava ter. Ao buscar informações junto ao Banco, o
mesmo a informou que havia um empréstimo em seu nome cujo valor foi creditado
em sua conta da Caixa Econômica Federal, agência 1050, conta nº 72632-7, no dia
26 de agosto de 2021, conforme se demonstra pelo extrato anexo.
Inconformada, a Requerente dirigiu-se ao INSS onde lhe foi informado que havia
um empréstimo ativo com o Banco Mercantil do Brasil, ora Réu, no valor de R$
4.375,84 (quatro mil trezentos e setenta e cinco reais e oitenta e quatro centavos),
e que, referente a este empréstimo, de contrato nº 017515474, iria ser descontado
do seu benefício o valor de R$ 112,00 (cento e doze reais) a começar em dezembro
de 2021 com previsão de fim em novembro de 2028.
Frise-se que a Autora declara nunca ter contratado qualquer negociação junto ao
Réu, e que inclusive ficou extremamente surpresa quando obteve a informação na
agência bancária, pois o seu benefício desde sempre era bloqueado para a
contratação de empréstimos.
O Código Civil repudia a prática de ato ilícito em seu artigo 186, garantindo o
direito de reparação do dano. Vejamos:
“Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187),
causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.”
Inconteste por igual, a caracterização do ato ilícito praticado pelo Réu, que,
conscientemente, creditou valor e realizará descontos de parcelas no benefício
previdenciário por suposto empréstimo consignado contratado pela Autora, sem a
prévia autorização da mesma. Mas, o inaceitável é o fato de a Requerente não ter
pactuado contrato algum com o Réu para a obtenção do empréstimo consignado.
Ademais, o evento danoso restou perfeito e acabado, tendo em vista que preencheu
os fundamentos básicos necessários, ou seja, havia um dever preexistente e a
imputação do resultado à consciência de seu Autor.
V – DA TUTELA DE URGÊNCIA
Conforme dispõe o artigo 300 do Novo Código de Processo Civil, a tutela provisória
de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a: i) a
probabilidade do direito e o perigo de dano; ou ii) o risco ao resultado útil do
processo.
Presentes tais requisitos, a tutela de urgência será deferida, desde que não haja
perigo de irreversibilidade dos efeitos da decisão, vide o § 3º do artigo 300 do CPC.
Como bem ressaltado pelo eminente doutrinador Rodolfo Kronemberg Hartmann,
a probabilidade do direito implica no ônus de o demandante demonstrar,
juntamente com a sua petição, a prova suficiente da verossimilhança, o que, de
certa forma equivale à expressão latina fumus boni iuris.
A situação narrada pela Autora demonstra que haverá abusivos descontos em sua
folha de pagamento referente a um empréstimo consignado que ela não anuiu.
Prudente seria o cancelamento do suposto contrato, sob pena de perecimento da
Autora e sua família, que ora encontram-se privadas do básico para o sustento,
pois vê seu rendimento minguar com constantes aumentos dos serviços básicos,
gastos com alimentação e medicamentos, e seu salário não acompanha todos esses
aumentos, levando à corrosão de sua renda mensal.
Os danos morais, segundo a doutrina, são lesões sofridas pelas pessoas, físicas
ou jurídicas, em certos aspectos da sua personalidade, em razão de investidas
injustas de outrem. São aqueles que atingem a moralidade e a afetividade da
pessoa, causando-lhe constrangimentos, vexames, dores, enfim, sentimentos e
sensações negativas. Os danos morais atingem, pois, as esferas íntima e
valorativa do lesado, enquanto os materiais constituem reflexos negativos no
patrimônio alheio. (CARLOS ALBERTO BITTAR, in Reparação Civil por Danos
Morais, Tribuna da Magistratura, p. 33).
Mais adiante, p. 200, o dito autor preleciona que: “...a indenização por danos
morais deve traduzir-se em montante que represente advertência ao lesante e
à sociedade de que se não se aceita o comportamento assumido, ou o evento
lesivo advindo. Consubstancia-se, portanto, em importância compatível com o
vulto do interesse em conflito, refletindo-se de modo expressivo, no patrimônio
do lesante, a fim de que sinta, efetivamente, a resposta de ordem jurídica aos
efeitos do resultado lesivo produzido. Deve, pois, ser quantia economicamente
significativa, em razão das potencialidades do patrimônio do lesante”.
Assim, disciplina do artigo 14 do CDC que (...) "o fornecedor de serviços responde,
independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados
aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como
por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos."
Desta feita, o serviço será considerado defeituoso quando não fornece a segurança
que o consumidor dele pode esperar, levando-se em consideração as
circunstâncias relevantes, entre as quais (I) o modo de seu fornecimento, (II) o
resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam; (III) a época em que foi
fornecido, à luz do §1º, art. 14 do CDC.
Conclui-se, que a teor das disposições inseridas no artigo 5º, inciso V e X, da Carta
Fundamental de 1988, o dano moral é ressarcível, cabendo nesse caso ao Réu arcar
com a responsabilidade pelo pagamento de danos morais sofridos com a
ocorrência de crime contra a Autora, na ordem de quantia equivalente a 35 (trinta
e cinco) salários mínimos, ou então, no valor prudente a ser fixado por Vossa
Excelência.
Assim, requer a procedência dos danos morais causados à Autora pela situação
fática descrita, e, por ser a empresa Ré gigantesca instituição financeira, com
grande poder econômico, devendo a condenação ser em valor pujante e com
caráter não só ressarcitório como punitivo.
Com efeito, estatui o art. 6º, inciso VIII da Lei nº 8.078/90 que (...) "são direitos
básicos do consumidor (...) a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive
com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a
critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente,
segundo as regras ordinárias de experiência."
Termos em que,
Pede e espera deferimento.
Caetité,Ba., em 28 de setembro de 2021.