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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO VARA CÍVEL DA

COMARCA DE BETIM/MG

xxxxxxxxx, através de sua procuradora que a esta subscreve, vem,


respeitosamente, perante Vossa Excelência, IMPETRAR o presente

AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS

em face da xxxxxxxxx, pelos fatos e fundamentos jurídicos, a saber:

I - PRELIMINARMENTE

01. a) DA JUSTIÇA GRATUITA

A Autora não tem como assumir o ônus do pagamento das custas e despesas
relativas ao processo sem, contudo, prejudicar seus sustentos.

A doutrina pátria vem, reiteradamente, aceitando o deferimento dos benefícios


da gratuidade da justiça, sem maiores formalidades, posto que como bem leciona o professor
JOSÉ ROBERTO CASTRO ao tratar do assunto em referência, é taxativo aos dispor que,
verbis:

“Basta que o próprio interessado, ou seu procurador declare, sob as penas da lei, que
o seu estado financeiro não lhe permite arcar com o custeio do processo”

Por seu turno, o festejado processualista HUMBERTO THEODORO JÚNIOR é


ainda mais elucidativo ao dissertar sobre a assistência judiciária, prescrevendo que:

“Como regra geral, a parte tem o ônus de custear as despesas das atividades
processuais, antecipando-lhe o respectivo pagamento, à medida que o processo realiza
sua marcha. Exigir, porém, esse ônus, como pressuposto indeclinável de acesso ao
processo, seria privar os economicamente fracos da tutela jurisdicional do Estado (...)
Necessitado, para o legislador, não é apenas o miserável, mas, sim, `todo aquele cuja
situação econômica não lhe permita pagar as custas do processo e os honorários de
advogado, sem prejuízo do sustento próprio ou da família’ (artigo 2º, parágrafo único,
da Lei 1.060/50) (...)”
A propósito, não só os doutrinadores se preocuparam em esclarecer a matéria em
comento, mas também os tribunais pátrios têm reiteradamente entendido que:

APELAÇÃO CÍVEL - IMPUGNAÇÃO A ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA -


ALEGAÇÃO DE EXISTÊNCIA DE PATRIMÔNIO - IRRELEVÂNCIA - Para o
deferimento da gratuidade na Justiça, não se exige o estado de penúria ou miséria
absoluta, mas pobreza na acepção jurídica do termo, o que eqüivale a dizer que a
condição meramente econômica de que tem bens não afasta o direito ao benefício, se
ausente a possibilidade financeira de litigar em Juízo, sem prejuízo do sustento próprio
ou da família, ante a insuficiência de recursos para tanto. (TJ-MG - AC:
10056110051101002 MG, Relator: Domingos Coelho, Data de Julgamento:
30/01/2013, Câmaras Cíveis Isoladas / 12ª CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação:
08/02/2013)

“Sem procurar um histórico do conceito de necessitado, contido na lei da assistência


judiciária, vale lembrar que a atual Constituição em seu artigo 5º, item LXXIV,
estabelece como obrigação do Estado o oferecimento de assistência jurídica integral
e gratuita, não limitando tal assistência aos pobres no sentido legal, e sim, aos que
comprovarem insuficiência de recursos. O critério deslocou da ideia de pobreza para
a ideia de insuficiência de recursos. Sem dúvida o necessitado, para obtenção da
justiça gratuita, não é o da miséria absoluta, ou do pobre no sentido comum, nem que
o requerente ande descalço ou resida no morro. O conceito estabelecido é o do
orçamento apertado, de modo que haja prejuízo do sustento do próprio recorrente ou
da família.” (TACivRJ – APC 11223/93 – Rel. Juiz Gualberto Gonçalves de Miranda
– j. 10.11.93 – p. JUIS Jurisprudência Informatizada Saraiva, CdRom nº 17)

Vislumbra-se, pois, que para o deferimento da gratuidade na justiça, não se exige


o estado de penúria ou miséria absoluta, mas pobreza na acepção jurídica do termo, o que
equivale dizer, a impossibilidade de custear o processo, em razão de estado financeiro
deficitário.

A condição meramente econômica não afasta o direito ao benefício, mormente


quando evidenciada a impossibilidade financeira de ingressar em juízo, sem prejuízo do
sustento próprio ou da família, ante a insuficiência de recursos disponíveis no momento para
tanto.

Portanto, para a concessão dos benefícios da justiça gratuita à pessoa física,


hipótese dos autos, basta à simples alegação de que não possui recursos suficientes para suportar
o pagamento das despesas processuais, sem prejuízo do sustento próprio e da sua família.
Vale destacar que a Autora está desempregada há meses, conforme extrato da
sua CTPS Digital anexada aos autos, corroborando ainda mais com a incapacidade da mesma
de seguir este feito sem o deferimento do benefício aqui pleiteado.

Assim, faz jus a parte Autora à isenção do pagamento das custas processuais.

II - DOS FATOS

A Autora teve o seu nome negativado no SPC por iniciativa da Ré, em 10 de


junho de 2023, referente a dívida no valor de R$ 6.493,74 (seis mil quatrocentos e noventa e
três mil e setenta e quatro centavos).

Ocorre Excelência, que aqui não se discute a autenticidade da dívida, muito pelo
contrário, a Autora admite dever à Ré, mas o que se discute que, pela falta de responsabilidade
e organização da mesma, lesou moralmente à autora ilicitamente como será comprovado
adiante.

A Autora possui um financiamento estudantil junto à Ré desde 2016 com término


previsto em dezembro de 2023 e assim ela vinha fazendo os pagamentos das mensalidades
regularmente emitindo os boletos pelo Portal do Aluno.

Entretanto, em fevereiro de 2022, a Autora não conseguiu mais fazer os devidos


pagamentos. Inicialmente, ela conseguia ainda emitir os boletos, mas os mesmos nunca estavam
disponíveis para a quitação:
Em seguida, a Autora iniciou a comunicação junto à Ré para conseguir fazer os
pagamentos devidos. Assim, foram enviados novos boletos que também estavam impedidos de
serem pagos. Nessas tratativas se passaram meses sem os pagamentos, o boleto juntado em
anexo, de número 3938300006 e vencimento em 20/10/20222, comprova isso:

Diante de tanto trabalho e complexidade para conseguir quitar o financiamento,


a Autora se manteve inerte, entretanto, para sua surpresa, oito meses depois, recebeu a
comunicação via Correios, de que sua dívida estaria em R$ 6.493,74 (seis mil quatrocentos e
noventa e três mil e setenta e quatro centavos) e que seu nome estava sendo negativado no SPC.

Assustada com a comunicação, a Autora procurou o Procon da sua cidade no


intuito da Ré descriminar os valores negativados e uma negociação, para assim, finalmente, a
Autora conseguir pagar o que de fato é devido, entretanto, mais uma vez, a Ré se recusa a
comparecer e receber.

A negativação realizada no nome da Autora, propiciou-lhe danos de ordem


econômico financeira, pois tais registros negativos dificultam o acesso ao crédito, visto que lhes
imputaram um histórico de mal pagador.

É evidente a repercussão negativa gerada pela inscrição indevida, tendo em vista


que tal fato acarreta efeitos prejudiciais em diversos aspectos da vida civil, não só limitando
imediatamente a obtenção de crédito, mas atentando contra o patrimônio ideal formado pela
imagem idônea do consumidor.

Veja Excelência, no caso em tela, a Autora não nega a dívida, pelo contrário,
deseja quitá-la, o que se pleiteia é a reparação por danos morais em virtude da má prestação de
serviço por parte da Ré que ensejou a inadimplência da Autora e resultando na negativação
indevida do seu nome junto do SPC.

III – DO DIREITO

No presente caso, cabe indenização por danos morais, em conformidade com a


legislação pátria, conforme o disposto no Art. 186 com Art. 927 do Código Civil e ainda nos
moldes dos artigos 6º e 14 do Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/1990).

A legislação brasileira e a jurisprudência estão abarrotadas, no sentido de


garantir o direito a indenização àquele que sofre prejuízos de ordem moral , em função da ação
ou omissão de outrem.

O texto legal, do Código Civil não deixa dúvida quanto a responsabilidade da


Ré na presente questão e o seu dever de indenizar. O art. 186 abre uma grande gama de
possibilidades de indenização quando expressa:
"Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência, ou imprudência, violar
direito, ou causar prejuízo a outrem, fica obrigado a reparar o dano".

O Código Civil no seu art. 186 combinado com o art. 927, impõem o dever de
indenizar àqueles que causam prejuízos a outras pessoas. Assim, o Código busca trazer para o
ordenamento jurídico positivo os diferentes tipos de danos indenizáveis já consolidados pela
jurisprudência. Visando este objetivo, procura enumerar as possibilidades em que o dano pode
ser causado. Um exemplo claro é o dano moral que será pleiteado aqui.

Assim, verifica-se que a lei, de forma expressa, não dá guarida a postura da Ré,
e ainda, prevê a indenização pelos danos causados por essa postura negligente e irresponsável
perpetrada pela escola.

Da mesma forma a CF/88 garante a todos o acesso ao judiciário. Garante também


em seu artigo 5º, inciso X, a proteção a honra e a indenização por eventual violação causadora
de dano material ou moral. O texto constitucional é cristalino, nesse sentido.

Na mesma trilha o Código de Defesa do Consumidor também estabelece a


possibilidade de reparação por danos morais e materiais causado ao consumidor na relação de
consumo (Art. 14 CDC). O que ocorreu, de fato, foi que a Ré negativou a Autora no órgão de
proteção ao crédito, desestabilizando sua vida financeira, expondo-o a situação vexatória,
causando-lhe sofrimento e dor, devendo indenizá-la pela má prestação do serviço.

A inscrição indevida no cadastro de inadimplente é, por si, suficiente para ensejar


a reparação. Nessa toada, vejamos os pronunciamentos desse Eg. Tribunal de Justiça em casos
nos quais estão presentes a relação de consumo entre fornecedores afins e o consumidor
hipossuficiente:

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS.


INSCRIÇÃO NOS CADASTROS DE RESTRIÇÃO AO CRÉDITO. DÉBITO
PRESCRITO. NEGATIVAÇÃO INDEVIDA. DANO MORAL CONFIGURADO.
VALOR DA INDENIZAÇÃO. PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E DA
PROPORCIONALIDADE. MAJORAÇÃO. NECESSIDADE. - Sendo indevida a
inscrição do nome do consumidor nos cadastros restritivos de crédito, na data da
propositura da ação, o dano moral é presumido. - O valor da indenização por danos
morais deve ser ponderado e fixado em conformidade com os princípios da
proporcionalidade e da razoabilidade, não se descurando do caráter pedagógico,
punitivo e reparatório da indenização. Afigura-se pertinente a fixação da verba
indenizatória, quando não há alegação de fraude, em R$10.000,00 (dez mil reais). -
Na fixação do valor de indenização por danos morais, decorrentes de conduta ilícita
consistente no indevido registro negativo do nome de pessoa física em Cadastro de
Inadimplentes, são observados os critérios de proporcionalidade e razoabilidade, em
sintonia com a conduta lesiva e as suas repercussões. - A reparação pecuniária, que
não pode servir como fonte de enriquecimento do ofendido, nem consubstanciar
incentivo à reincidência do responsável pela prática do ilícito, deve ser fixada com
observância da diretriz de arbitramento há muito consolidada pelo Órgão Julgador.
APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0000.20.532778-6/001 - COMARCA DE BOM
DESPACHO - RELATORA DESA. APARECIDA GROSSI (g.n.)

O TJMG já consolidou posição em relação a indenização em casos semelhantes,


conforme acórdão descrito a seguir:

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE


NEGÓCIO JURÍDICO C/C DANOS MORAIS - FATURA DE CARTÃO DE
CRÉDITO NÃO PAGA INTEGRALMENTE - RESOLUÇÃO Nº 4.549 BACEN -
PARCELAMENTO AUTOMÁTICO - DEVER DE INFORMAÇÃO -
NEGATIVAÇÃO INDEVIDA - DANO MORAL CONFIGURADO - VALOR DA
INDENIZAÇÃO - REDUÇÃO – IMPOSSIBILIDADE - O parcelamento automático
do débito de fatura de cartão de crédito não paga integralmente só pode ser
considerado válido quando a instituição financeira comprova que o consumidor tenha
sido cientificado dessa ocorrência caso não opte por outro plano de parcelamento. -
Uma vez anulado o parcelamento automático, a dívida originária, objeto do
parcelamento, deve ser restaurada. - O dano moral independe de qualquer
comprovação quando resulta de inscrição irregular de nome do consumidor nos
cadastros de inadimplentes. - O valor da indenização por danos morais deve ser
fixado com prudência, segundo os princípios da razoabilidade e proporcionalidade,
mostrando-se apto a reparar, adequadamente, o dano suportado pelo ofendido,
servindo, ainda, como meio de impedir que o condenado reitere a conduta ilícita. Em
casos de inscrição indevida de nome em cadastro de proteção ao crédito sem
ocorrência de fraude, tem-se entendido que deve a indenização por danos morais
ser fixada em valor equivalente a vinte salários mínimos. APELAÇÃO CÍVEL Nº
1.0000.20.580023-8/001 - COMARCA DE JUIZ DE FORA (g.n.)

Quanto à necessidade de indenizar no aspecto moral pelo dano causado pela


postura do réu, também não há dúvida. Deve ser fixado por V. Exª de forma pedagógica, para
que alcance o caráter inibitória de prática semelhante adiante. O próprio julgado acima ilustra
o entendimento desse Eg. Tribunal:

[...] O valor da indenização por danos morais deve ser fixado com prudência, segundo
os princípios da razoabilidade e proporcionalidade, mostrando-se apto a reparar,
adequadamente, o dano suportado pelo ofendido, servindo, ainda, como meio de
impedir que o condenado reitere a conduta ilícita. Em casos de inscrição indevida
de nome em cadastro de proteção ao crédito sem ocorrência de fraude, tem-se
entendido que deve a indenização por danos morais ser fixada em valor
equivalente a vinte salários mínimos. APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0000.20.580023-
8/001 - COMARCA DE JUIZ DE FORA (g.n.)

Atento às dificuldades de constituir provas numa relação desigual, o legislador


veio em socorro dos hipossuficientes, intervindo nas relações contratuais, para evitar o
enriquecimento ilícito, a preponderância da vontade do mais forte.
Nelson Nery Junior, faz a seguinte consideração:

"É importante que o Poder Judiciário acompanhe a evolução da sociedade e se insira


no contexto do novo direito: o Direito das Relações de Consumo. O juiz deve adaptar-
se à modernidade, relativamente aos temas ligados aos interesses difusos e coletivos,
como, por exemplo, os do meio ambiente e do consumidor. Estes novos direitos não
podem ser interpretados de acordo com os institutos ortodoxos do direito, criados para
a solução de direitos individuais, que não mais atendem aos reclamos da sociedade.
Os princípios individualísticos do século passado devem ser esquecidos, quando se
trata de solucionar conflitos de meio ambiente e de consumo". (NELSON NERY
JUNIOR - DIREITO DO CONSUMIDOR - VOL. 3 P.49).

Assim, o CDC, no artigo 6º e seus incisos dão embasamento para a reparação


dos danos e da inversão do ônus da prova. No inciso VI, prevê “a efetiva prevenção e reparação
de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos. “

O comportamento da Ré, pela falha nos seus procedimentos e, especialmente em


razão da falta de compromisso em sanar o problema, trouxe prejuízos à Autora, especialmente
afetando a sua imagem idônea.

Conforme o parágrafo único do art. 927, CC:

Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos


especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do
dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.

Numa ação de cunho indenizatório, além da ação ou omissão, há que se apurar


se houve relação de causalidade entre o ato do agente e o prejuízo sofrido pela vítima.
Concorrendo tais requisitos, surge o dever de indenizar. Prelecionam os artigos 186, 187 e 927
do Código Civil, combinados.

Não é excessivo mencionar a Constituição Federal, precisamente no art. 5º,


inciso V, em que todo cidadão é “assegurado o direito de resposta, proporcionalmente ao
agravo, além de indenização por dano material, moral ou à imagem”. Isto posto, restou-se
comprovado a responsabilidade na conduta da Ré, visto que é dever e risco profissional do
fornecedor de serviços agir corretamente e segundo lhe permitem as normas jurídicas
imperativas.
Consequentemente, restou-se comprovada a responsabilidade da Ré. Por conta
dessa postura da Ré, a Autora experimentou humilhação, sofrimento e dor. Enfrentou inclusive
a insegurança quando a aplicação dos seus recursos para a sua manutenção nas necessidades
básicas, tudo em função da ação negligente da mesma. Sobre isso, o Código Civil é muito claro,
no artigo 186 já mencionado.

Entretanto, é de se salientar que o prejuízo moral experimentado pela Autora


deve ser ressarcido numa soma que não apenas compense a dor e sofrimento causados, mas
especialmente deve atender às circunstâncias do caso em tela, tendo em vista da situação
pessoal do ofendido, exigindo-se a um só tempo prudência, razoabilidade e severidade.

A respeito do valor da indenização por dano moral, a orientação doutrinária e


jurisprudencial está baseada no bom senso do julgador:

“No direito brasileiro, o arbitramento da indenização do dano moral ficou entregue ao


prudente arbítrio do Juiz. Portanto, em sendo assim, desinfluente será o parâmetro por
ele usado na fixação da mesma, desde que leve em conta a repercussão social do dano
e seja compatível com a situação econômica das partes e, portanto, razoável”.(Antônio
Chaves, “Responsabilidade Civil, atualização em matéria de responsabilidade por
danos moral”, publicada na RJ nº. 231, jan/1997, p. 11).

Pacífico, portanto, o entendimento legal, doutrinário e jurisprudencial de que se


trata de relação consumerista, onde, pelas características peculiares, há uma responsabilidade
objetiva por parte da Ré.

Verifica-se, dessa forma que não resta dúvida quanto a relação consumerista,
bem como a necessidade de indenizar pelos danos morais causados. Ademais, a
responsabilidade objetiva daquele que presta serviços é unanime na jurisprudência. Portanto,
deve indenizar o consumidor pelos danos causados, em quantia suficiente para inibir a sua
prática delituosa.

IV. DO QUANTUM INDENIZATÓRIO DO DANO MORAL

Na aferição do quantum indenizatório, CLAYTON REIS (Avaliação do Dano


Moral, 1998, Forense), em suas conclusões, assevera que “deve ser levado em conta o grau de
compreensão das pessoas sobre os seus direitos e obrigações, pois, quanto maior, maior será a
sua responsabilidade no cometimento de atos ilícitos e, por dedução lógica, maior será o grau
de apenamento quando ele romper com o equilíbrio necessário na condução de sua vida social".
Continua dizendo que "dentro do preceito do ‘in dubio pro creditori’ consubstanciada na norma
do art. 948 do Código Civil Brasileiro, o importante é que o lesado, a principal parte do
processo indenizatório seja integralmente satisfeito, de forma que a compensação corresponda
ao seu direito maculado pela ação lesiva”.

Isso leva à conclusão de que diante da disparidade do poder econômico existente


entre a Ré e a Autora, e tendo em vista o gravame produzido à tranquilidade da mesma, mister
se faz que o quantum indenizatório corresponda a uma cifra cujo montante seja capaz de trazer
o devido apenamento à Ré, e de persuadi-la a nunca mais deixar que ocorram tamanhos
desmandos contra as pessoas que se utilizam dos seus serviços.

MARIA HELENA DINIZ (Curso de Direito Civil Brasileiro, 7º vol., 9ª ed.,


Saraiva), ao tratar do dano moral, ressalva que a reparação tem sua dupla função, a penal
constituindo uma sanção imposta ao ofensor, visando a diminuição de seu patrimônio, pela
indenização paga ao ofendido, visto que o bem jurídico da pessoa (integridade física, moral e
intelectual) não poderá ser violado impunemente e a função satisfatória ou compensatória, pois,
como o dano moral constitui um menoscabo a interesses jurídicos extrapatrimoniais,
provocando sentimentos que não têm preço, a reparação pecuniária visa proporcionar ao
prejudicado uma satisfação que atenue a ofensa causada.

Daí a necessidade de se observar as condições de ambas as partes.

O Ministro OSCAR CORREA, em acórdão do STF (RTJ 108/287), ao falar


sobre dano moral, bem salientou que:

[...] não se trata de “pecúnia doloris”, ou “pretium doloris”, que se não pode avaliar e
pagar; mas satisfação de ordem moral, que não ressarce prejuízo e danos e abalos e
tribulações irreversíveis, mas representa a consagração e o reconhecimento pelo
direito, do valor da importância desse bem, que é a consideração moral, que se deve
proteger tanto quanto, senão mais do que os bens materiais e interesses que a lei
protege.

Disso resulta que a toda injusta ofensa à moral deve existir a devida reparação.
Assim, mediante a documentação acoplada comprovando à saciedade a
ocorrência de ato ilícito perpetrado pela Ré, e, plenamente caracterizado o dano moral de
presunção jure et de jure, não resta alternativa para a Autora senão socorrer-se do Poder
Judiciário para ver o seu direito tutelado e protegido, posto que esgotados todos os seus esforços
em se ver livre de tal situação. Por isso, é devido o reconhecimento o dano moral e nexo causal,
sugere-se o valor de 20 (vinte) salários mínimos à título de indenização por danos morais no
presente caso, atendendo aos princípios norteadores da fixação dos danos morais a espécie.

V. DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

Diante de tal relação de consumo, e em virtude da indiscutível situação de


hipossuficiência e fragilidade do consumidor, francamente desfavorável, inevitável é a
inversão, em seu favor, do ônus da prova.

Tal proteção está inserida no inciso VIII, do artigo 6º do CDC, onde visa facilitar
a defesa do consumidor lesado, com a inversão do ônus da prova, a favor do mesmo:

Art. 6º. São direitos básicos do consumidor:


(...)
VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da
prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a
alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de
experiências.

Da exegese do artigo vislumbra-se que para a inversão do ônus da prova se faz


necessária à verossimilhança da alegação, conforme o entendimento do Juiz, ou a
hipossuficiência da Autora.

A verossimilhança é mais que um indício de prova, tem uma aparência de


verdade, o que no caso em tela, se constata através dos documentos acostados.

Por outro lado, a hipossuficiência é a diminuição da capacidade do consumidor,


diante da situação de vantagem econômica da empresa fornecedora. O que por sua vez,
facilmente se verifica, em virtude de a Parte Demandante ser pessoa simples, enquanto a Ré
constitui-se em uma instituição de ensino de grande vulto.
Assim, requer a inversão do ônus “probandi”, na remota hipótese de Vossa
Excelência entender pela necessidade de demais provas a serem produzidas, uma vez que a
Autora instruiu a inicial com todos os documentos que estão em seu poder, devendo, portanto,
ser compelido a Ré a apresentar os demais documentos pertinentes.

Sem prejuízo do requerimento acima formulado, protesta pela produção de todos


os meios de prova em direito admitidas especialmente:

a) pelo depoimento pessoal do representante legal da parte Ré, sob pena de


confissão;
b) pela oitiva das testemunhas que serão arroladas oportunamente;
c) pela realização de prova pericial;
d) pela juntada de novos documentos.

VI – DA CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO

Como exposto, a Autora não nega a dívida, mas comprovou que deixou efetuar
os pagamentos por conta da ação da Ré ao não manter meios de recebimentos.

Desta forma, a Autora pleiteia autorização para que possa efetuar o depósito
judicial do valor de R$ 368,54 (trezentos e sessenta e oito reais e cinquenta e quatro centavos)
mensalmente, até que a Ré regulariza a emissão de boletos para que assim possa exonerar-se da
obrigação, já que não consegue realizar o pagamento diretamente à ela, que se recusa a receber
o valor devido.

Eis que o Código Civil prevê a ação:

Art. 334. Considera-se pagamento, e extingue a obrigação, o depósito judicial ou em


estabelecimento bancário da coisa devida, nos casos e forma legais.

Art. 335. A consignação tem lugar:


I - se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar receber o pagamento, ou dar
quitação na devida forma;
II - se o credor não for, nem mandar receber a coisa no lugar, tempo e condição
devidos;
III - se o credor for incapaz de receber, for desconhecido, declarado ausente, ou residir
em lugar incerto ou de acesso perigoso ou difícil;
IV - se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o objeto do pagamento;
V - se pender litígio sobre o objeto do pagamento.

Além disso, o Código de Processo Civil preceitua:

Art. 542. Na petição inicial, o autor requererá:


I – o depósito da quantia ou da coisa devida, a ser efetivado no prazo de 5 (cinco) dias
contados do deferimento, ressalvada a hipótese do art. 539, § 3º;
II – a citação do réu para levantar o depósito ou oferecer contestação.

Art. 893. O autor, na petição inicial, requererá:


I - o depósito da quantia ou da coisa devida, a ser efetivado no prazo de 5 (cinco) dias
contados do deferimento, ressalvada a hipótese do § 3odo art. 890;
II - a citação do réu para levantar o depósito ou oferecer resposta.

VII – DOS PEDIDOS

Diante do exposto e do que preceitua a legislação vigente, a doutrina e a


jurisprudência, requer-se o julgamento procedente da presente ação, em todos os seus termos,
determinado desde já as seguintes providências:

a) A citação da Ré no endereço supra, para que, querendo, venha contestar os


fatos narrados (art. 336 do novo CPC), sob pena de arcar com os efeitos da revelia.

b) Desde já, deseja INFORMAR QUE NÃO TEM INTERESSE NA


REALIZAÇÃO DE AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO NO CEJUCS (art. 334. § 4º, I, NCPC),
haja visto que há pouca resolutividade nessas audiências, especialmente quando a parte
contrária adota a política de não realizar acordos, como é o caso da Ré.

c) A inversão do ônus da prova, conforme o disposto no artigo 6º, inciso VIII, do


CDC (Lei 8.078/1990), caso seja necessário, naquilo que ao autor for de difícil comprovação
em virtude da hipossuficiência do consumidor, especialmente por se tratar de informações ou
documentos que estejam em posse do réu.

d) Seja declarado o reconhecimento da inexistência da dívida que originou a


inscrição no órgão de proteção ao crédito pela Ré, no valor de R$ 6.493,74 (seis mil
quatrocentos e noventa e três mil e setenta e quatro centavos), pois não se há ciência nem do
que se engloba tal valor.
e) A condenação da Ré ao pagamento de indenização por danos morais a serem
arbitrados por Vossa Excelência, em quantia suficiente para alcançar o caráter pedagógico da
medida, considerando ainda os danos causados ao autor e as posses do ofensor, em valor não
inferior a 20 (vinte) salários mínimos, corrigidos monetariamente e com juros de 1% a. M., até
a liquidação da sentença;

f) O deferimento da consignação, para que possa efetuar mensalmente o depósito


judicial da quantia correspondente ao valor das prestações do financiamento estudantil, a qual
alcança R$ 368,54 (trezentos e sessenta e oito reais e cinquenta e quatro centavos), oficiando-
se, em seguida, ao SERASA S/A, a fim de que suspendam inscrição do nome da Autora relativa
a esta dívida de seus cadastros;

g) Por derradeiro, requer a condenação da Ré no pagamento das custas


processuais e honorários de sucumbência fixados por V. Exª, nos moldes do Art. 85, parágrafo
2º, do novo CPC.

Protesta provar o alegado por todos os meios de provas admitidos em direito, em


especial pelas provas documentais juntadas e outras que vierem a ser produzidas no curso
processual, provas testemunhais, pelo depoimento pessoal dos representantes do réu, sob pena
de confissão e demais provas que vierem a ser produzidas durante a instrução processual.

Dá a presente causa o valor de R$ 26.400,00 (vinte e seis mil e quatrocentos


reais), somente para fins fiscais.

Termos em que,

Pede e espera deferimento.

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