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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO JUIZADO

ESPECIAL CÍVEL E CRIMINAL DA COMARCA DE TERESINA-PI.

PAULO BORGES SILVA, brasileiro, solteiro, portador do RG n.º 383.602.282 SSP-


PI e inscrito no CPF n.º 655.526.603-15, residente e domiciliada na Rua Padre Cícero,
nº 3850, Bairro Santo Antônio, Cep.: 64033-510, Teresina-PI, por sua procuradora
infra-assinada, mandato anexo (doc. 1), vem, respeitosamente, a presença de Vossa
Excelência prestar

AÇÃO DE RESTITUIÇÃO DE QUANTIA PAGA C/C DANOS MORAIS

em face de ANTÔNIO GLEYSON CORDEIRO DA SILVA, brasileiro, empresário,


casado, inscrito no CPF nº 026.763.633-60 e RG nº 2.574.215 SSP-PI, residente e
domiciliado na Rua Professor Camilo Filho, 801, Bairro: São Sebastião, CEP: 64085-
338, onde deve ser citado pelos fatos e motivos abaixo elencados:

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DA JUSTIÇA GRATUITA

INICIALMENTE, requer a V. Exa. que seja deferido o pedido de


Assistência Judiciária nos termos das Leis nº 5.584/70 e 1.060/50 e artigos 98 e
seguintes do Código de Processo Civil. Porquanto o autor é pobre na acepção
jurídica do termo, não estando em condições e demandar, se sacrifício do sustento
próprio e de seus familiares, motivo pelo qual, pede que lhe conceda os benefícios
da JUSTIÇA GRATUITA (doc. anexo).

DOS FATOS

Excelência, no dia 31 de janeiro de 2019, o autor procurou o senhor


Antônio Gleyson Cordeiro da Silva para que o mesmo prestasse um serviço de
perfuração de um poço artesiano/semi-tubular em sua propriedade.

Apresentada as condições de pagamento, o senhor Antônio pediu que


fosse lhe dado uma entrada no valor de R$ 4.000,00 (quatro mil reais) na assinatura
do contrato e mais R$ 3.500,00 (três mil e quinhentos reais) ao final do serviço,
comprometendo-se a entregar o poço montado.

Prontamente o autor firmou contrato com a outra parte e efetuou o


pagamento da entrada no valor de R$ 4.000,00 (quatro mil reais), conforme
documento em anexo.

Ocorre, Excelência, que mesmo após a assinatura do contrato e o


pagamento da entrada o serviço nunca foi prestado, por displicência do senhor
Antônio Gleyson.

O autor já efetuou várias tentativas para que o problema fosse sanado,


inclusive pleiteando extrajudicialmente a devolução de pelo menos parte do
dinheiro investido, fato que nunca foi honrado pelo senhor Antônio Gleyson, que
alega não ter condições de devolver o valor. Pós acordo extrajudicial, o réu

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procedeu com a devolução de R$ 500,00, conforme consta comprovantes de
pagamento em anexo.

Fato completamente controverso, visto que no dia 11/10/2019, o senhor


Antônio Gleyson abriu sua própria empresa no ramo de construções, conforme
extrato da receita federal em anexo.

Informações de Registro
CNPJ: 35.160.046/0001-52 - 35160046000152
Razão Social: Antonio Gleyson Cordeiro da Silva
Nome Fantasia: Gleyson Construcoes
Data da Abertura: 11/10/2019
Capital Social: R$ 10.000,00
Tipo: MATRIZ
Situação: ATIVA
Natureza Jurídica: Empresário (Individual)
Contatos
E-mail: gleysoncordeirothe@hotmail.com (Enviar E-mail)
Telefone(s):
(86) 98885-0912 (Ligar) (Whatsapp)
Localização
Logradouro: Professor Camilo Filho, 801
Bairro: Sao Sebastiao
CEP: 64085-338
Município: Teresina

Pelo exposto, pleiteia pelos fundamentos jurídicos que seguem.

DA FUNDAMENTAÇÃO JURÍDICA

Da ofensa frontal ao artigo 1º, inciso III da Constituição Federal de 1988

Como descrito, o autor foi desrespeitado e submetido a sérios


constrangimentos, em múltiplas oportunidades, de forma atentatória ao princípio
da dignidade, conforme disposição do legislador constituinte:

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"Constituição Federal de 1988 – Art. 1º. A República Federativa do Brasil,
formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal,
constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
(...) II - a cidadania;
III - a dignidade da pessoa humana" .

A ofensa pode ser identificada em diversos pontos da narrativa


expendida, a começar pelo descaso e tratamento esquivo da empresa ré logo após a
confirmação do pagamento, não cumprindo com a obrigação por ela assumida, não
respondendo aos diversos e reiterados pedidos de solução da autora, assumindo
postura e comportamento não condizente com a lisura que se espera de todas os
operantes de serviços perante seus consumidores.
Outro ponto a ser salientado é a criação de falsas expectativas ao autor,
prometendo-lhe a entrega do produto, frustrando-a sempre e repetidas vezes, não
atendendo às reclamações da autor/cliente/consumidor, mesmo tendo o mesmo
entrado em contato via telefone e pessoalmente com o réu e obtido a promessa de
resolução do problema.

Tal afronta merece ser reparada de forma exemplar, pois atentou à


dignidade humana em níveis que o autor não esperava encontrar.

Da responsabilidade civil subjetiva do réu decorrente do cometimento de ato


ilícito civil, e do descumprimento de obrigação contratual

Mesmo diante da posição jurídica mais conservadora, defensora da


aplicação subjetiva da responsabilidade, será obrigada o réu a indenizar o autor,
raciocínio decorrente da leitura do caput do artigo 927 do diploma civil:

"Lei nº 10.406/2002 (Código Civil) – Art. 927. Aquele que, por ato ilícito,
causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo".

O réu é responsável na medida em que assumiu as conseqüências de


seus atos e omissões, já descritos, contratuais ou extracontratuais, indiferentemente.
O próprio código fornece a definição de ato ilícito:

"Lei nº 10.406/2002 (Código Civil) – Art. 186. Aquele que, por ação
ou omissão voluntária, negligência, ou imprudência, violar direito e causar
dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

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Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-
lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou
social, pela boa-fé ou pelos bons costumes".

O mero dever genérico de não prejudicar não foi respeitado pelo réu que,
como observado, foi omisso, negligente e excedeu em muito os limites impostos
tanto pelo seu fim econômico-social como pelos bons costumes.

Sua culpa vai além, afrontando a dignidade e o Patrimônio do autor,


incorrendo, assim, em crime de Apropriação Indébita e Enriquecimento sem causa,
que, conforme disposição do Código Penal.

Esclarece o autor, ainda, que a questão discutida nesta ação não se encerra
no cumprimento do objeto do contrato principal, isto é, a relação consumerista de
prestação de serviço de obrigações-fins e obrigações acessórias dele decorrentes,
cujo conjunto pode ser considerado como o todo da relação consumerista.

"Na primeira modalidade, obrigações de resultado, o que importa é a aferição se o


resultado colimado foi alcançado. Só assim a obrigação será tida como cumprida.
No segundo caso, obrigações de meio, deve ser aferido se o devedor
empregou boa diligência no cumprimento da obrigação.
A idéia fundamental reside na noção de saber e de examinar o que o devedor
prometeu e o que o credor pode razoavelmente esperar".

Investida da obrigação, o réu contratou com o autor, ao fixar, o valor a ser


pago e o produto a ser entregue, fixando prazos, condições e prazos esses
descumpridos pelo réu, conforme demonstrado.

Desnecessário dizer que seu descumprimento deve gerar indenização à


parte prejudicada em sua universalidade de direito.

Nestes termos, o autor deve ter seu pedido integralmente provido, pois
demonstrou cabalmente a responsabilidade civil da empresa ré, decorrente da
prática de ilícitos civis e descumprimentos de obrigações.

Da caracterização da relação consumerista entre o autor e o réu

O Código de Defesa do Consumidor estabelece, como consumidor, "toda


pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como
destinatário final".

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O autor é pessoa física, de boa-fé, que contratou com o réu para realização
de serviço de construção de um poço artesiano/semi-tubular em sua propriedade

É consumidor, na acepção da melhor doutrina e da jurisprudência, todo


aquele que se encontra como parte vulnerável de um lado, tendo, por outro, o
fornecedor, seja de produtos (contrato de compra e venda de automóvel novo), ou
serviços (obrigações acessórias em relação ao contrato principal e obrigações de
meio, conforme demonstrado). Pacífica a jurisprudência a respeito do debate:

"Superior Tribunal de Justiça


Recurso Especial n º 476.428 - SC (2002⁄0145624-5)
Relatora: Ministra Nancy Andrighi
Ementa: Direito do Consumidor. Recurso especial. Conceito de consumidor.
Critério subjetivo ou finalista. Mitigação. Pessoa Jurídica. Excepcionalidade.
Vulnerabilidade. Constatação na hipótese dos autos. Prática abusiva. Oferta
inadequada. Característica, quantidade e composição do produto. Equiparação (art.
29). Decadência. Inexistência. Relação jurídica sob a premissa de tratos sucessivos.
Renovação do compromisso. Vício oculto.
- A relação jurídica qualificada por ser "de consumo" não se caracteriza pela
presença de pessoa física ou jurídica em seus pólos, mas pela presença de uma
parte vulnerável de um lado (consumidor), e de um fornecedor, de outro.
- Mesmo nas relações entre pessoas jurídicas, se da análise da hipótese concreta
decorrer inegável vulnerabilidade entre a pessoa-jurídica consumidora e a
fornecedora, deve-se aplicar o CDC na busca do equilíbrio entre as partes. Ao
consagrar o critério finalista para interpretação do conceito de
consumidor, a jurisprudência deste STJ também reconhece a necessidade
de, em situações específicas, abrandar o rigor do critério subjetivo do
conceito de consumidor, para admitir a aplicabilidade do CDC nas
relações entre fornecedores e consumidores-empresários em que fique
evidenciada a relação de consumo.
- São equiparáveis a consumidor todas as pessoas, determináveis ou não,
expostas às práticas comerciais abusivas.
- Não se conhece de matéria levantada em sede de embargos de declaração, fora dos
limites da lide (inovação recursal).
Recurso especial não conhecido".

A situação em debate é ainda mais simples do que aquela tratada pelo


venerando acórdão proferido, por votação unânime, pela excelsa Turma, pois se
trata o autor de pessoa física claramente hipossuficiente, conforme argumentação
que se desenvolverá, sucintamente, a seguir.

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Inversão do onus probandi: aplicação do artigo 6º da Lei nº 8.078/1990 em
detrimento do inciso I do artigo 333 do Código de Processo Civil

O autor apesar de acostar aos autos provas que acredite serem suficientes
para a demonstração da verdade dos fatos ora narrados, para a condução deste
exímio juízo à formação de seu livre convencimento, protesta pela inversão do ônus
da prova, pois considera ser a medida da boa administração da Justiça e do
exercício de seus direitos, conforme disposição do Código de Defesa do
Consumidor:

"Lei nº 8.078/1990 (Código de Defesa do Consumidor) – Art. 6º São direitos


básicos do consumidor: (...) VIII – a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive
com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a
critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente,
segundo as regras ordinárias experiências" – (seleção e grifos da autora).

No presente caso, conforme os documentos carreados, tanto é verossímil a


alegação do autor, bem como resta demonstrada a sua hipossuficiência, não
cabendo, assim, a aplicação do inciso I do artigo 333 do código instrumental, por
prestígio ao princípio da especialidade das leis.

A inversão do ônus de provar tem como objeto, equilibrar a relação de


consumo mediante tutela do Estado ao consumidor, reconhecendo-lhe a condição
de parte prejudicada e hipossuficiente, conforme expõe o Professor João Batista de
Almeida:

"Dentro do contexto de assegurar efetiva proteção ao consumidor, o legislador


outorgou a inversão, em seu favor, do ônus da prova. Cuida-se de benefício previsto
no rol dos direitos básicos (art. 6º, VII), constituindo-se numa das espécies do
gênero ‘facilitação da defesa de direitos’, que a legislação protetiva objetivou
endereçar ao consumidor.
Sabe-se que este, por força de sua situação de hipossuficiência e fragilidade,
via de regra enfrentava dificuldade invencível de realizar a prova de suas
alegações contra o fornecedor, mormente em se considerando ser este o
controlador dos meios de produção, com acesso e disposição sobre os
elementos de provas que interessam à demanda. Assim, a regra do art. 333, I,
do estatuto processual civil representava implacável obstáculo às pretensões
judiciais dos consumidores, reduzindo-lhes, de um lado, as chances de vitória, e
premiando, por outro lado, com a irresponsabilidade civil, o fornecedor.
Para inverter esse quadro francamente desfavorável ao consumidor, o legislador
alterou, para as relações de consumo, a regra processual do ônus da prova, atento à

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circunstância de que o fornecedor está em melhores condições de realizar a prova de
fato ligado à sua atividade".

Neste sentido, o entendimento dos tribunais:


"Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo
Apelação Cível nº 240.757-2
9ª Câmara Civil
Apelante: Fábrica de móveis São Luiz (fornecedor)
Apelado: Roberto Arantes Godoy (consumidor)
Ementa: PROVA – Ônus – Inversão – Cabimento – Ação de obrigação de fazer
– Existência de verossimilhança nas alegações do autor – Provas do
adimplemento não apresentadas pelo requerido – Inaplicabilidade do artigo 333,
inciso I, do Código de Processo Civil, em face da prevalência do artigo 6º, inciso
VIII, do Código de Defesa do Consumidor, por ser norma específica.
Acórdão: Acordam, (...) por votação unânime, negar provimento ao recurso (...)
A requerida, em momento algum, apresentou provas de seu adimplemento. Sendo
o caso em tela referente à ‘relação de consumo’, a ela caberia o ônus de provar
suas alegações. Nesses casos, inaplicável o artigo 333, inciso I, do Código
de Processo Civil, em face da prevalência do artigo 6º, inciso VIII, do
Código de Defesa do Consumidor, por ser norma específica".

E, na mesma toada, a compreensão do Superior Tribunal de Justiça:

"Superior Tribunal de Justiça


Recurso Especial n º REsp 637.608/SP
Relator: Carlos Alberto Menezes Direito
Ementa: Inversão do ônus da prova. Código de Defesa do Consumidor.
Honorários do perito. Precedentes da Terceira Turma e Súmulas nºs 7 e 297.
1. O Código de Defesa do Consumidor alcança a relação entre o devedor e as
instituições financeiras nos termos da Súmula nº 297 da Corte.
2. O deferimento da inversão do ônus da prova com base na
hipossuficiência foi feito considerando a realidade dos autos, o que está
coberto pela Súmula nº 7 da Corte.
3. Esta Terceira Turma já decidiu que "a regra probatória, quando a demanda
versa sobre relação de consumo, é a da inversão do respectivo ônus. Daí
não se segue que o réu esteja obrigado a antecipar os honorários do perito;
efetivamente não está, mas, se não o fizer, presumir-se-ão verdadeiros os fatos
afirmados pelo autor" (REsp nº 466.604/RJ, Relator o Ministro Ari Pargendler,
DJ de 2/6/03). No mesmo sentido, o REsp nº 443.208/RJ, Relatora a Ministra
Nancy Andrighi, DJ de 17/3/03, destacou que a "inversão do ônus da prova
não tem o efeito de obrigar a parte contrária a arcar com as custas da
prova requerida pelo consumidor. No entanto, sofre as conseqüências
processuais advindas de sua não produção". Igualmente, assim se decidiu no
REsp nº 579.944/RJ, de minha relatoria, DJ de 17/12/04, no REsp nº 435.155/MG,

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de minha relatoria, DJ de 10/3/03 e no REsp nº 402.399/RJ, Relator o Ministro
Antônio de Pádua Ribeiro, DJ de 18/4/05.

Desta maneira, por serem verossímeis as alegações do autor, conforme as


provas conduzidas aos autos, e pela sua condição de hipossuficiência em relação à
empresa ré, é a presente para que se inverta o ônus da prova, em benefício do autor.

Da aplicação da teoria da responsabilidade objetiva e da teoria do risco

Uma vez caracterizada a relação fornecedor-consumidor entre o réu e o


autor, cabe a aplicação da teoria da responsabilidade objetiva, na qual não se
discute a existência ou não da culpa do agente, pois nem sempre poderá o
consumidor demonstrá-la com efetividade e êxito.

A responsabilização objetiva independe de culpa, assumindo o fornecedor,


mediante presunção “iure et iure”, o ônus de reparar os danos, morais ou materiais,
e o próprio risco inerente ao negócio que desenvolve.

"Lei nº 8.078/1990 (Código de Defesa do Consumidor) – Art. 12..O


fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o
importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela
reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de
projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação
ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informações insuficientes ou
inadequadas sobre sua utilização e riscos.
(...) Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da
existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos
consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por
informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos".

E, na compreensão do Professor Silvio de Salvo Venosa:

"Na responsabilidade objetiva, como regra geral, leva-se em conta o dano,


em detrimento do dolo ou da culpa. Desse modo, para o dever de indenizar,
bastam o dano e o nexo causal, prescindindo-se da prova da culpa. (...) é
crescente, como examinamos, o número de fenômenos que são regulados sob a
responsabilidade objetiva".

O nexo etiológico é facilmente demonstrável, na medida em que foram as


ações ou omissões do réu que custaram ao autor, dias seguidos de estresse,

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preocupações, constrangimentos e ofensas aos seus direitos e garantias
fundamentais, tanto de consumidor como de cidadão, conforme se depreende da
leitura dos fatos, não havendo sequer um elemento externo que justifique estas
perturbações em sua rotina regrada, planejada e equilibrada.

Portanto, é a presente para que se aplique a obrigação objetiva de reparação


do dano, decorrente, por força de lei federal, da assunção do risco por parte do réu
da atividade que explora.

Poder Judiciário
Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro
Vigésima Câmara Cível
APELAÇÃO CÍVEL 0001387-41.2011.8.19.0202
APELANTE 1: CLARO S.A.
APELANTE 2: CLUBE URBANO SERVIÇOS DIGITAIS LTDA.
APELADO: ORLANDO DIAS
RELATOR: DES. MARCO ANTONIO IBRAHIM
Consumidor. Responsabilidade civil objetiva. Site de compra coletiva.
Oferta de aparelho celular vinculado a plano de utilização da linha
telefônica. Aquisição de cupom sem a respectiva entrega do produto. Falha
na prestação do serviço. Dano moral configurado. Precedentes deste TJERJ.
Responsabilidade solidária dos integrantes da cadeia de consumo. Verba
reparatória fixada em conformidade com os princípios da
proporcionalidade e da razoabilidade. Recursos a que se nega seguimento.
DECISÃO
Relatório já apresentado. A hipótese trazida à discussão diz respeito à
oferta e aquisição de mercadoria em site de compra coletiva, frustrada em
razão de problemas técnicos. Insurgem-se as apelantes contra sentença de
procedência que as condenou a entregar o aparelho celular adquirido pela
parte autora, cadastrando-o no plano de utilização da linha telefônica
veiculado na oferta, e a indenizar o dano moral decorrente da falha na
prestação do serviço. Inicialmente, descarta-se a alegada ilegitimidade
passiva suscitada pelo apelante 2, corretamente rechaçada pelo julgador de
primeiro grau com fulcro na teoria da asserção, segundo a qual as
condições da ação devem ser analisadas verificando-se hipoteticamente o
relato da inicial, bastando, para configurar a legitimidade passiva, a
afirmação da parte autora quanto à responsabilidade imputada à parte ré.
No mérito, trata-se de matéria relativa à responsabilidade civil objetiva
decorrente de relação de consumo, enquadrando-se autor e rés,
respectivamente, nas definições legais de consumidor e fornecedoras de
serviços, conforme artigos 2º e 3º da Lei nº 8.078/90. Este diploma legal,
instituído para atender o disposto pelo artigo 5º, XXXII da Constituição
Federal, tem por objetivo o equilíbrio das relações de consumo e assegura

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os direitos do consumidor, garantindo-lhe indenização por danos causados
por defeitos relativos à prestação de serviços, independentemente da
existência de culpa, na forma do seu artigo 14. Assim, é certo que
cumpriria à parte ré comprovar a configuração de uma das excludentes
previstas no § 3º, do mencionado dispositivo legal, quais sejam, a
inexistência do defeito ou a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.
E o defeito no caso em tela é justamente a não entrega do produto
regularmente adquirido pelo site de compra coletiva administrado pelo
apelante 1, em comunhão de interesses com o apelante 2. Ora, decerto que
ambos os réus, ao veicularem as propostas de compra, auferem vantagens
para si, o que torna descabida a tese por eles defendida em que buscam
transferir de um para outro a responsabilidade pela falha na prestação do
serviço. Assim, inegável a responsabilidade de ambos quanto aos fatos
narrados na inicial, à luz das disposições inseridas no Código de Defesa do
Consumidor, que estabelece a solidariedade entre os integrantes da cadeia
de consumo. O exame do conjunto probatório carreado aos autos
comprova sem sombra de dúvidas as alegações contidas na inicial, na
medida em que demonstrada a oferta do aparelho celular pelo site
administrado pelo apelante 1, vinculada à aquisição do Plano Controle 35,
disponibilizado pelo apelante 2, no período mencionado na exordial (fls.
22/23). Comprovada, também, a compra do cupom (fls. 24/26), seu
pagamento (fls. 27), e as cartas virtuais expedidas pela parte ré noticiando
o erro no hotsite e a consequente perda da promoção (fls. 28/34). Os
apelantes, por sua vez, não trouxeram aos autos qualquer elemento que
impedisse, modificasse ou extinguisse o direito autoral, limitando-se a
sustentar a inexistência de responsabilidade sobre o evento e a ausência do
dever de indenizar. Como se pode facilmente concluir, o autor comprovou
os fatos constitutivos de seu direito, enquanto os réus não se
desincumbiram do ônus que lhes competia, inserido no artigo 333, II do
Código de Processo Civil. A persistência dos réus no erro e a negativa de
entrega do produto requerido e pago no momento oportuno, procurando,
ainda, locupletar-se com o crédito recebido pelo bem não entregue,
ofertando a aquisição de outros produtos quiçá com os mesmos problemas
de entrega, ultrapassam o mero aborrecimento, gerando o dever de
indenizar o dano moral, que ocorre in re ipsa, de acordo com doutrina e
jurisprudência mais atuais, sendo desnecessária, por conseguinte, a prova
do prejuízo. Neste sentido é a jurisprudência deste Tribunal de Justiça,
senão vejamos:
Apelação cível - Direito do consumidor - Compra de aparelho celular
realizada
pela internet - Solidariedade entre o site de compra on line e a empresa
prestadora de serviço de intermediação comercial por meio eletrônico
quanto à finalização da transação - Não entrega do produto –
Responsabilidade solidária de todos que integram a "cadeia de
fornecimento" - Risco do empreendimento - Circunstância em que o autor,

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até a presente data, não recebeu a restituição - Situação que desborda do
mero descumprimento contratual, tornando inaplicável a Súmula 75 do
TJRJ. Frustração da legítima expectativa do consumidor reforma parcial da
sentença.(...) (Apelação Cível 2193188-70.2011.8.19.0021, Rel. Des.
MARCELO LIMA BUHATEM, Quarta Câmara Cível, j. 26.08.2011)
AÇÃO INDENIZATÓRIA. COMPRA REALIZADA ATRAVÉS DE SITE
NA INTERNET. CANCELAMENTO UNILATERAL. PRODUTO
DIVULGADO. CARÁTER VINCULATIVO. PRINCÍPIO DA
CONFIANÇA. DANO MORAL CONFIGURADO. QUANTUM FIXADO
EM OBSERVÂNCIA AOS PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E
PROPORCIONALIDADE. DECISÃO MONOCRÁTICA COM FULCRO
NO ART. 557, CAPUT, DO CPC, QUE NEGA SEGUIMENTO AOS
RECURSOS. A legislação consumerista vinculou o fornecedor àquilo que
por ele é ofertado, protegendo, dessa forma, o consumidor. A ré deveria ter
verificado o estoque ou a possibilidade de reposição do produto antes de
oferecê-lo ao consumidor, o que não ocorreu na hipótese. (Apelação Cível
0151516- 84.2008.8.19.0001, Rel. Des. VERA MARIA SOARES VAN
HOMBEECK, Primeira Câmara Cível, j. 06/04/2011)
Nem se diga que a obrigação imposta pela sentença é impossível de ser
cumprida, como quer fazer crer o apelante 1. Do mesmo modo que pôde
oferecer inicialmente o produto, em consórcio com o apelante 2, assim o
fará desta feita, por força do título executivo judicial.
Quanto ao valor fixado como reparação pelos danos morais
experimentados pelo autor, este não merece revisão, porque convergente
com os parâmetros usualmente adotados por esta Vigésima Câmara Cível,
em casos como dos autos. É certo que a condenação a tal título não pode
revelar punição elevada e desmedida e nem tampouco ínfima ou irrisória –
o que ocorre quando estabelecidos valores sem qualquer critério pelo
Julgador – mas, no caso de que se trata, o quantum estabelecido pelo juízo
no valor de R$ 2.000,00 observou os princípios da proporcionalidade e da
razoabilidade, que deve ter lugar em tais circunstâncias.
À conta de tais fundamentos, hei por bem negar seguimento aos recursos,
dada sua manifesta improcedência.
Rio de Janeiro, 12 de setembro de 2011.
DES. MARCO ANTONIO IBRAHIM
Relator

Das múltiplas infrações ao Código de Defesa do Consumidor cometidas pelo réu


ensejadoras de reparação de dano

Houve má prestação de serviço inerente à venda de produto e um longo


seriado de abusos e infrações ao Código de Defesa do Consumidor, gerando, ao réu
a obrigação de reparar os danos, morais e materiais, causados ao autor, com base

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em seus já referidos artigos 12 e 14, caput, e em conformidade com seus direitos
básicos:

"Lei nº 8.078/1990 (Código de Defesa do Consumidor) – Art. 6º..São direitos


básicos do consumidor:
VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais,
coletivos e difusos"

Isto porque, em primeiro lugar, o autor teve desrespeitados os seus direitos


à informação e a ser atendida: ao se comportar o réu de modo esquivo e obscuro; ao
não retornar as reclamações contínuas; ao prometer solução para o autor da
realização da obra que o autor contratou com o réu,; e por fim, por lesar o autor,
retendo indevidamente o valor pago pela autor, não realizando o serviço contratado
e agindo, o réu, com descaso para com autor/consumidor, frustrando, assim, o
autor; e, finalmente, ao simplesmente ignorá-lo em suas diversas tentativas de
contato para a solução da relação contratual.

"Lei nº 8.078/1990 (Código de Defesa do Consumidor) – Art. 6º..São direitos


básicos do consumidor:
(...) III - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e
serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição,
qualidade e preço, bem como sobre os riscos que apresentem;
IV - a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos
comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e
cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços" .

Doutrinalmente incontroverso ser a informação um direito inerente ao


consumidor:
"São direitos fundamentais e universais do consumidor, reconhecidos pela
ONU, por meio da Resolução n. 32/248, de 10 de abril de 1985, e também pela
IOCU:
d) direito a ser ouvido – o consumidor deve ser participante da política de defesa
respectiva, sendo ouvido e tendo assento nos organismos de planejamento e
execução das políticas econômicas e nos órgãos colegiados de defesa;
e) direito à indenização – é indispensável buscar a reparação financeira por
danos causados por produtos ou serviços.
(...) Conquanto seja um direito básico do consumidor, e uma decorrência do
princípio da transparência, a informação ao consumidor assume posição relevante
para instrumentalizar sua defesa. É obrigação do fornecedor informar ao
consumidor todos os dados acerca dos produtos e serviços.

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(...) Quanto aos serviços, o fornecedor está obrigado à reparação de danos causados
aos consumidores, por defeitos relativos à respectiva prestação, sob qualquer
modalidade (...).

O que se observou foi a prática reiterada de abuso de prazos e um


injustificado descumprimento de promessa, conduzindo o autor ao erro e ao dano,
tanto moral como material, prescindindo a empresa ré da boa-fé, que deve
necessariamente lastrear as relações de consumo.

"Lei nº 8.078/1990 (Código de Defesa do Consumidor) – Art. 4º..A Política


Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das
necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança,
a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de
vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo" .

A conduta do réu configurou abuso na relação de consumo:

"O CDC elenca, no art. 39, (...) algumas práticas abusivas (...) são as seguintes:
(...) XII. Abusos quanto aos prazos: ao contratar o fornecimento de produto
ou serviço as partes devem convencionar prazos de entrega e o termo inicial
da execução dos serviços, o que proporciona maior segurança para os contratantes
e a possibilidade de sua execução forçada em caso de descumprimento. Por isso, a
lei sanciona a conduta do fornecedor de ‘deixar de estipular prazo para o
cumprimento de sua obrigação ou deixar a fixação de seu termo inicial a seu
exclusivo critério’".

Não houve preocupação quanto ao respeito à dignidade do autoro, bem


como à responsabilidade do réu em cumprir com sua obrigação. Como visto, o
autor foi lesado. Não houve transparência ou harmonia na relação.

Conforme anotação da boa doutrina sobre o tema, é garantido ao


consumidor ser indenizado quando afrontada a sua dignidade, quando exposto ao
constrangimento, quando submetido a estresse indevido, quando sobre ele se
praticam condutas reprováveis pela sociedade, como foi o caso do autor, denotando
total ausência de cidadania e de respeito.

Da quantificação da indenização (determinação do quantum debeatur)

A quantificação da indenização deve atender a um


binômio: (i) capacidade/possibilidade daquele que indeniza, que não poderá ser

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conduzido à ruína com o valor condenado, e (ii) suficiência àquele que é
indenizado, que deve considerar satisfatório o valor recebido, como forma de
compensação pelos danos sofridos, mas que não poderá enriquecer ilicitamente ou
explorar o Poder Judiciário como fonte de proventos.

O posicionamento incontroverso do Superior Tribunal de Justiça prevê a


possibilidade de se cumularem as indenizações por dano moral e material, devendo
incidir a correção monetária desde a data do prejuízo:

"Súmula nº 37. São cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral
oriundos do mesmo fato.
(...) Súmula nº 43. Incide correção monetária sobre dívida por ato ilícito a partir
da data do efetivo prejuízo".

Para que efetivamente se cumpra o decisório deste douto juízo, necessário


se estabelecer, sobre o valor da condenação, multa diária em caso de
inadimplemento da obrigação por parte da empresa ré, além dos juros e da correção
monetária, conforme a seguinte disposição legal:

"Lei nº 9.099/1995 (Lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais) – Art.


52. A execução da sentença processar-se-á no próprio Juizado, aplicando-se, no que
couber, o disposto no Código de Processo Civil, com as seguintes alterações:
I - as sentenças serão necessariamente líquidas, contendo a conversão em Bônus do
Tesouro Nacional - BTN ou índice equivalente;
(...) IV - não cumprida voluntariamente a sentença transitada em julgado, e tendo
havido solicitação do interessado, que poderá ser verbal, proceder-se-á desde logo à
execução, dispensada nova citação;
V - nos casos de obrigação de entregar, de fazer, ou de não fazer, o Juiz, na
sentença ou na fase de execução, cominará multa diária, arbitrada de acordo
com as condições econômicas do devedor, para a hipótese de inadimplemento. Não
cumprida a obrigação, o credor poderá requerer a elevação da multa ou a
transformação da condenação em perdas e danos, que o Juiz de imediato
arbitrará, seguindo-se a execução por quantia certa, incluída a multa vencida de
obrigação de dar, quando evidenciada a malícia do devedor na execução do julgado"

Neste mesmo sentido, conforme orientação do Professor Cândido Rangel


Dinamarco, poderá o juiz, sobretudo em sede de Juizado Especial Cível,
encontrando nos fatos narrados pelo autor fundamentos outros que possam
conduzir ao seu livre convencimento, subsumi-los à norma e utilizá-los como
fundamentos para a sua sentença.

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DOS DANOS MATERIAIS E MORAIS

Pelos fatos expostos, ambas as reclamadas são solidariamente responsáveis


pela má prestação de serviço, por força do disposto no Art. 18 do CDC, uma vez
que anunciaram a prestação de um serviço, a saber, a construção de um poço
artesiano/semi-tubular na propriedade do autor.

Fartamente ficou demonstrado e provado o dano material sofrido pelo


autor, vez que além de pagar quantia contratual e não ter o bem entregue, o dano
agravou-se durante todo o período que amigavelmente tentou a solução da
presente lide, despendendo tempo e dinheiro na solução do seu problema.

Com efeito, o autor foi vítima do descaso e desorganização, bem como do


descumprimento contratual pelo reclamado, que agindo em descompasso aos
princípios contratuais consumeristas, além de receber o pagamento pelo serviço
contratado e não prestado, agindo descompromissadamente e negligentemente, não
atenderam às inúmeras tentativas do autor em ver seu direito respeitado.

A reparação por dano moral constitui garantia constitucional, prevista no


artigo 5° - X, da Constituição Federal, onde lemos:

“São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das


pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral
decorrente de sua violação.”

Não pode o juiz ignorar, na apreciação do caso concreto que lhe seja
submetido, os aspectos relacionados aos mecanismos básicos do comportamento
humano, das leis de motivação humana, bem como a necessidade de interrelacionar
essas dimensões aos aspectos morais, tutelados pelas leis ordinárias.

O dano moral, na esfera do Direito, é todo sofrimento humano resultante de


lesões de direitos estranhos ao patrimônio, encarado como complexo de relações
jurídicas com valor econômico.

Trata-se de dano moral in re ipsa, que dispensa a comprovação da extensão


dos danos, sendo estes evidenciados pelas circunstâncias do fato.

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Trata-se de dano moral presumido.

Em regra, para a configuração do dano moral é necessário provar a


conduta, o dano e o nexo causal.

Excepcionalmente o dano moral é presumido, ou seja, independe da


comprovação do grande abalo psicológico sofrido pela vítima.

Um exemplo de dano moral in re ipsa é o decorrente da inscrição indevida


em cadastro de inadimplentes, pois esta presumidamente afeta a dignidade da
pessoa humana, tanto em sua honra subjetiva, como perante a sociedade.

Vejamos o entendimento do STJ:

RESPONSABILIDADE CIVIL. DANO MORAL. REGISTRO NO CADASTRO


DE DEVEDORES DO SERASA. EXISTÊNCIA DE OUTROS REGISTROS.
INDENIZAÇAO. POSSIBILIDADE. A existência de registros de outros débitos
do recorrente em órgãos de restrição de crédito não afasta a presunção de existência
do dano moral, que decorre in re ipsa, vale dizer, do próprio registro de fato
inexistente . Precedente. Hipótese em que o próprio recorrido reconheceu o erro
em negativar o nome do recorrente. Recurso a que se dá provimento.

De acordo com o magistério do clássico Wilson Melo da Silva, cuja definição


de dano moral dispensa quaisquer acréscimos ou comentários, temos:

Danos morais são lesões sofridas pelo sujeito físico ou pessoa natural de
direito em seu patrimônio ideal, entendendo-se por patrimônio ideal, em
contraposição a patrimônio material, o conjunto de tudo aquilo que não seja
suscetível de valor econômico. Jamais afetam o patrimônio material, como o salienta
DEMOGUE. E para que facilmente os reconheçamos, basta que se atente, não para o
bem sobre que incidiram, mas, sobretudo, para a natureza do prejuízo final. Seu
elemento característico é a dor, tomado o termo em seu sentido amplo, abrangendo
tanto os sofrimentos meramente físicos, como os morais propriamente ditos.

Danos morais, pois, seriam, exemplificadamente, os decorrentes das ofensas


à honra, ao decoro, à paz interior de cada qual, às crenças intimas, aos sentimentos
afetivos de qualquer espécie, à liberdade, à vida, à integridade corporal.

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Hodiernamente, é pacífico o entendimento de que o dano moral é
indenizável, posto que qualquer dano causado a alguém ou a seu patrimônio deve
ser reparado. O dinheiro possui valor permutativo, podendo-se, de alguma forma,
lenir a dor pela indenização, que representa também punição e desestímulo do ato
ilícito.

Já a responsabilidade civil é a obrigação que pode incumbir a uma pessoa


de reparar o dano causado a outrém, por fato a ela imputável, ou por fato imputado
a pessoas ou coisas que dela dependem ou a ela estejam sujeitas. Elemento
fundamental para a sua caracterização é a culpa do agente, qual, segundo o
magistério de René Savatier, em obra que se tornou clássica no tema, "... é a
inexecução de um dever que o agente podia conhecer e observar. Se ele o conhecia
efetivamente e, o violou deliberadamente, existe um delito civil, ou, em matéria contratual,
dolo contratual".

Ainda quanto à hipótese lançada aos autos, transcrevemos os seguintes


arestos jurisprudenciais:

RESPONSABILIDADE CIVIL - INDENIZAÇÃO - DANO MORAL


ARTIGO 5 INCISO V DA CARTA MAGNA - ROMPIMENTO DE
RELACIONAMENTO AMOROSO - RUPTURA DESMOTIVADA - FATO
QUE GERA A RESPONSABILIDADE CIVIL - 1. Produzindo-se dano que
afeta a parte social da ofendida, seu patrimônio moral, como a honra,
reputação, causando-lhe dor, tristeza, com privação da paz, da
tranqüilidade de espírito, impõe-se reparação do dano moral. 2.
Evidenciadas circunstâncias gravemente injuriosas a envolver a ruptura de
relacionamento amoroso, a mulher agravada em sua honra, pela promessa
de casamento, tem direito a reparação do dano sofrido.

No que diz respeito à caracterização da situação em que, diante de um


negócio jurídico de compra e venda, verifica-se o pagamento por parte do
comprador, sem a respectiva entrega da coisa, pelo vendedor, é interessante a
remissão a um excerto do voto proferido pelo Desembargador Valter Ressel, que ao
analisar um caso análogo ao presente, na apelação cível nº. 637.253-0, fez alusão ao
entendimento da Turma Recursal Única do Estado do Paraná. Veja-se:

“Quanto ao dano moral, deve-se ter em mente que na compra e venda a obrigação
do vendedor é entregar a coisa e a do comprador é pagar o preço, de modo que o
pagamento sem a correspondente entrega gera um grau de insatisfação e angústia
superior a mero aborrecimento, que deve ser compreendido como ofensa moral.”

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IV. DOS PEDIDOS

Ex positis, requer a autora se digne Vossa Excelência:

a) Seja deferido o pedido de justiça gratuita;


b) Por se tratar de uma demanda envolvendo relação consumerista, requer a
inversão do ônus da prova, com base no Código de Defesa do Consumidor,
determinando a apresentação do contrato de adesão ao cartão de crédito.
c) Requer que o requerido sejam condenadas a devolução da quantia paga
no total de R$ 3.500,00 (três mil e quinhentos reais), acrescidos de
correção monetária e juros leais;
d) Ao pagamento de uma indenização, pelos Danos Morais causados pelo
requerido, em valor pecuniário justo e condizente com o caso apresentado
em tela, qual no entendimento da requerente, amparado em pacificada
jurisprudência, de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), ou então, em valor que
esse D. Juízo fixar, pelos próprios critérios analíticos e jurídicos;
e) Ordenar a CITAÇÃO DO REQUERIDO, no endereço inicialmente
indicado quanto à presente ação devendo ser realizada por via postal, para
que, perante esse Juízo, apresente a defesa que tiver dentro do prazo legal,
sob pena de confissão quanto à matéria de fato ou pena de revelia, com
designação de data para audiência a critério do D.Juízo, devendo ao final
ser julgada PROCEDENTE a presente Ação, sendo a mesma condenada nos
seguintes termos:
f) Requer-se que a audiência seja realizada por meio de vídeo conferência em
obediência as recomendações feitas aos órgãos públicos para que se utilizem
de atendimento remoto;
g) Pagamento das custas processuais que a demanda por ventura ocasionar,
bem como as que se fizerem necessárias, conforme arbitrados por esse D.
Juízo; e ainda arbitramento dos honorários advocatícios em 20% sobre o
valor da condenação;

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Provará o alegado por todos os meios de prova e direito admitidas,
notadamente depoimento pessoal do requerente do requerido, oitiva de
testemunhas e outras que se fizerem necessárias.

Dá-se à presente causa o valor de R$ 23.500,00 (vinte e três mil e quinhentos


reais) para todos os efeitos e direito e alçada, equivalente ao valor da
indenização pretendida pelo requerente desde a citação da requerida, pelo
que se pede Vosso respeitável DEFERIMENTO.

Termos em que,
pede deferimento.

Teresina, 05 de fevereiro de 2021.

ANA CAROLINA SOARES BARROSO


OAB PI 17.917

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