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EXMO. SR. DR.

JUIZ DE DIREITO DA 1ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE


QUIRINÓPOLIS/GO

BANCO ITAÚ S.A., por seu advogado que esta


subscreve, nos autos da AÇÃO DE INDENIZAÇÃO, pelo rito ORDINÁRIO que
lhe move JANE DOMINGUES FRATARI VELOSO (processo nº 6870/03),
apresenta sua CONTESTAÇÃO, consubstanciada nas razões que seguem:

I – DA TEMPESTIVIDADE

Tendo em vista a promulgação do Decreto


Judiciário nº 499/2003, para o Estado de Goiás, foi considerado período de férias
forenses o período de 02 a 31/07/2003.

Essa determinação, somada ao disposto no artigo


179, do CPC (“A superveniência de férias suspenderá o curso do prazo; o que lhe
sobejar recomeçará a correr do primeiro dia útil seguinte ao termo das férias.”) , a
contagem do prazo para oferecimento da defesa só se iniciou no 1º dia útil
subseqüente às férias, ou seja, deflagrou em 01 de agosto de 2003.

1
É certo, assim, que o prazo fatal para
apresentação da defesa do contestante esgota-se em 15/08/2003, sendo esta
peça, portanto, sido protocolada tempestivamente.

II - DA PRETENSÃO INICIAL

Sustenta a autora, em suma, que seu nome


permaneceu maculado junto a diversos órgãos de crédito, mesmo após a
liquidação de valores relativos a taxa de manutenção de conta. Aduz que tentou
efetuar uma compra após o pagamento do débito, o que lhe teria sido negado em
razão da restrição, o que veio a lhe causar dano moral.

Pede, destarte, seja o réu compelido a repará-la


em danos morais no total de R$ 319.230,00 (trezentos e dezenove mil e duzentos e
trinta reais), além dos consectários legais.

III – PRELIMINARMENTE

III.1. - DA FALTA DE INTERESSE DE AGIR

Não é qualquer tipo de interesse que autoriza a


utilização do processo e a sua instauração através da propositura de ação; aqueles
de cunho meramente econômico e moral não autorizam ninguém a valer-se
utilmente do processo.

Nesta esteira, evidencia-se, de plano, a falta de


interesse jurídico para a ação proposta, porquanto a autora não logrou
demonstrar a resistência do contestante à sua pretensão e, conseqüentemente,
não mostrou qual a utilidade deste feito para si.

Com efeito, a autora não provou que o


contestante tenha se recusado a providenciar a baixa da mácula. Pelo contrário,
restou patenteada a boa-fé do réu na tentativa de solucionar a questão da melhor
maneira possível à autora, tanto que se comprometeu a solicitar (e efetivamente
fez) a exclusão do nome desta junto aos órgãos de crédito.

2
Portanto, patente é a falta de interesse de agir,
condição essencial para o exercício da função jurisdicional, pelo que requer-se
seja a autora julgada carecedora de ação em relação ao Banco Itaú S.A.,
extinguindo-se o feito, com base no art. 267, VI, do Código de Processo Civil.

III.2. DA INÉPCIA DA INICIAL

A petição inicial é inepta (art. 295, inciso I, do


CPC), pois não apresenta fundamentação jurídica do pedido, como exige o artigo
282, inciso III, do CPC, como se depreende das fls. 2, 7, 12, 13 e 21 dos autos.

De fato, a autora não demonstrou, como lhe


cabia, a subsunção dos fatos às normas jurídicas vigentes à época da
distribuição da petição inicial, pois esta foi protocolizada em 17/01/2003, quando
o novo Código Civil já estava em vigor1.

Assim, a base legal utilizada como ofendida –


artigo 159 do Código Civil - não era mais a aplicável ao caso concreto,
demonstrando ausência completa de base jurídica que possa dar embasamento à
sua pretensão. E não é só a utilização do artigo 159 que caracteriza a inépcia da
inicial; os artigos 76, 1547 e 1553 também foram citados pela autora. Esse último
nem representação no novo Código Civil se encontra!

Portanto, deve ser reconhecida expressamente a


inépcia da inicial por omissão dos fundamentos jurídicos do pedido como
exige o artigo 282, inciso III, do CPC, requerendo o réu se digne V. Exa. julgar
extinto o processo sem análise do mérito, condenando-se a autora no pagamento
dos encargos de sucumbência, com base no art. 267, inciso I, do CPC.

IV. MÉRITO

IV.1. - DA AUSÊNCIA DOS PRESSUPOSTOS DA OBRIGAÇÃO DE


INDENIZAR

1
Desde 11/01/2003 o novo Código Civil vigorava.

3
Para a caracterização da responsabilidade civil, é
necessário que concorram três circunstâncias, sem as quais a lei, a doutrina e
a jurisprudência não autorizam a indenização por parte do causador do ato:

- CULPA: É A AÇÃO IMPRUDENTE, NEGLIGÊNCIA OU IMPERITA DO CAUSADOR DO DANO;


- DANO: ASSIM COMPREENDIDA A CONDUTA ANTIJURÍDICA QUE CAUSA LESÃO AO
INDIVÍDUO E GERE PREJUÍZO, E;
- NEXO DE CAUSALIDADE ENTRE O DANO E A CULPA: VALE DIZER, A RELAÇÃO DE
CAUSALIDADE ENTRE A ANTIJURIDICIDADE DA AÇÃO E O MAL CAUSADO.

Ausente um dos pressupostos não há que se falar


em obrigação de indenizar.

1.1. DA INEXISTÊNCIA DE ATO ILÍCITO

A responsabilidade civil, no direito brasileiro,


norteia-se pelo princípio da culpa, cuja noção tem fundamental importância na
caracterização do ato ilícito e sua responsabilização. Nesse sentido dispõe o artigo
186, do Código Civil.

Assim, para que nasça a obrigação de alguém


reparar um dano, é imprescindível que tenha praticado culposamente um ato
ilícito, que tenha sido a causa do prejuízo experimentado pela vítima.

Conforme ensina Silvio Rodrigues, “ato ilícito é


aquele praticado com infração a um dever e do qual resulta dano para outrem.
Dever legal ou contratual” (in DIREITO CIVIL, Parte Geral, vol. I, 20ª edição, p. 324).

Daí resulta que não basta a prática do ato (ou a


omissão); é necessário que tal prática esteja revestida da ilicitude.

Importante, neste particular, a lição de Pontes


de Miranda (Tratado de Direito Privado - volume 53/82) , segundo a qual, "para que a
indenização se haja de dar sem ter havido agente culpável, é preciso que se tire do texto
legal". E complementa (página 85) "que o simples cometimento de dano patrimonial em
bem de outrem não torna, de regra, responsável pelo dano, a pessoa que o causou; pois
é preciso existir determinado fundamento pessoal da parte do autor, que justifique o
ressarcimento".

4
No caso concreto, assim que a autora
procedeu ao pagamento da tarifa de manutenção de conta, o réu
comandou solicitação de baixa da restrição à SERASA e ao SCPC, não
restando configurado qualquer agir ilícito, despiciendo cogitar-se sobre o elemento
culpa. A mácula que a autora reputa como a causadora do hipotético dano moral
foi baixada em 12/12/2002, dias após a liquidação do débito.

Dessa forma, não pode o réu ser penalizado por


sua conduta, absolutamente regular, visando sempre à diminuição dos
aborrecimentos hipoticamente suportados pela autora.

Inexistindo, assim, qualquer ato ilícito que possa


ser imputado ao contestante, não há que se falar em obrigação de indenizar,
relativamente a ele, restando inaplicável o artigo 186 (antigo artigo 159), do
Código Civil.

1.2. DO CARÁTER PÚBLICO DA SERASA, SUA FINALIDADE E


RELEVÂNCIA.

A restrição creditícia em nome da autora foi feita e


em decorrência da inexistência de saldo suficiente para cobrança das tarifas
bancárias de utilização e manutenção de conta corrente.

Nesse sentido, admitindo que as restrições


creditícias são feitas no estrito cumprimento de dever legal e exercício regular de
direito reconhecido, fundado no artigo 188, inciso I, do CC, e jamais acarretando
qualquer tipo de constrangimento ilegal, coação ou ameaça, é firme nossa
doutrina e jurisprudência, servindo de mero exemplo as lições abaixo transcritas.

JOSÉ GERALDO BRITO FILOMENO, in Manual do


Direito do Consumidor (Atlas, 2.ª ed. 1991, p. 159), ao comentar o artigo 70 do
Código de Defesa do Consumidor, abaixo transcrito, demonstra que no exercício
regular do direito de cobrar não ocorre o constrangimento vil e covarde, do tipo
anormal, mas aquele derivado da própria lei:

“Trata-se, ainda, no que tange ao exercício regular do


direito de cobrar, porquanto os comportamentos
vedados são evidenciados pelo constrangimento vil e

5
covarde de tipo anormal, visto que muitas vezes se
pode justificar a divulgação do nome do consumidor
relapso ou inadimplente contumaz, mediante protesto
de títulos e inserção de seu nome no cadastro dos
serviços de proteção ao crédito, não havendo como se
evitar tal tipo de constrangimento, no caso admissível,
e porquanto derivado da própria lei (no caso de
protestos em cartórios) ou da praxe e costumes
comerciais (serviços de proteção ao crédito).” (grifos
nossos)

Portanto, inscrever e/ou negativar nomes de


clientes nos órgãos de proteção ao crédito SERASA, SCPC e outros não se constitui
em constrangimento ou ameaça, pois visa apenas a dar segurança na concessão
de créditos. A propósito, a comunicação de devedores inadimplentes aos
órgãos de proteção aos credores não só é um direito, mas também dever
das entidades financeiras, dado o caráter público de tais entidades e do
escopo almejado com a concepção de tais serviços.

Neste aspecto, HUMBERTO THEODORO JÚNIOR


manifesta-se sobre a instituição que foi criada para resguardar os
estabelecimentos de crédito dos maus pagadores:

“O SERASA é uma sociedade anônima, isto é, uma


entidade privada, que mantém um cadastro de
clientela bancária, para proteção de serviços
exclusivamente a seus associados, que são vários
bancos nacionais. Os dados compilados, como
acontece em qualquer cadastro bancário, são
confidenciais e sigilosos. Seus registros não são
publicados ou divulgados perante estranhos. Servem
apenas de fonte de consulta para os bancos
associados, os quais utilizam as informações como
dados necessários ao estudo e deferimento das
operações de crédito usualmente praticadas. Anotar,
portanto, a conduta de certo cliente no cadastro do
SERASA é operação de rotina que jamais poderá ser
vista como ato ilegal ou abusivo, mesmo porque a
atividade bancária tem nos dados sigilosos do cadastro
da clientela o principal instrumento de segurança da
atividade creditícia que desempenha. Na verdade,

6
nenhum estabelecimento de crédito pode prescindir do
apoio de rigoroso controle cadastral sobre a
idoneidade moral e patrimonial dos seus mutuários,
em virtude da própria natureza das operações que
constituem a essência de sua mercancia.” ( in
Responsabilidade Civil, Vol. I, Ed. Aide, 3.ª edição,
página 24)

E nem poderia ser diferente, pois não só as


entidades protecionistas de crédito, como também seus bancos de dados
cadastrais e serviços prestados são considerados de caráter público, previstos nos
artigos 5.º, inciso LXXII, da Constituição Federal e artigo 43, § 4º, do CDC, não
existindo qualquer previsão legal que vede a comunicação dos nomes dos
inadimplentes.

Muito pelo contrário, os próprios textos legais


acima citados (letras “a” e “b”, do inciso LXXII, da CF e § 3.º, do artigo 43, do
CDC) garantem ao cidadão comum e ao consumidor em geral exigir destes órgãos
informações e dados cadastrais a seu respeito, inclusive retificando-lhes
inexatidões e providenciando a baixa em registros incorretos, de imediato, por
meio de medidas meramente administrativas2.

Impedir, pois, tais inscrições creditícias regulares


– até mesmo judicialmente - seria ferir direito líqüido e certo do réu, em absoluta
ameaça à política de concessão de crédito em geral, passível de medidas judicias
austeras e corretoras para se reverter tais abusos, como tem reiteradamente
consagrado nossa firme jurisprudência, a qual, reconhecendo a evidência do
exercício regular de direito pelas instituições financeiras, tem coibido liminares
suspensivas da inscrição de devedores nos órgãos de proteção ao crédito,
cassando-as, ou reformando-as, diante da ausência de pressupostos para seu
regular cabimento, como se nota pelas decisões abaixo transcritas:

2
Segundo instrução fornecida pela própria SERASA (tel. 011 2320137 ou pelo site
www.serasa.com.br), para o interessado baixar as anotações em seu nome do sistema, é
necessário, primeiramente, a regularização da dívida junto a fonte que a originou. Após,
basta a entrega do documento hábil exigido para a baixa da anotação,
diretamente na SERASA. Relativamente a esse último parágrafo, saliente-se
que o réu, demonstrando seu interesse na solução mais rápida do problema e
menos custosa à autora, providenciou a regularização da restrição junto à
SERASA, obrigação que cabia ao devedor.

7
“AGRAVO DE INSTRUMENTO – ALIENAÇÃO
FIDUCIÁRIA – MEDIDA CAUTELAR REQUERIDA PELO
DEVEDOR PRINCIPAL E GARANTES OBJETIVANDO
IMPEDIR SUA INSCRIÇÃO NOS ORGANISMOS DE
PROTEÇÃO AO CRÉDITO – LIMINAR DEFERIDA –
PRESSUPOSTOS AUSENTES – RECURSO PROVIDO.
A concessão de liminar em medidas cautelares não
pode ser generalizada ao ponto de impedir que o
credor possa, livremente, para o resguardo de seu
direito, fazer uso de remédios postos à sua disposição
no ordenamento jurídico, tal qual a inscrição do nome
de devedor inadimplente nos organismos de proteção
ao crédito.
Para tal desiderato, não precisa o credor estar munido
de qualquer decisão judicial, bastando o
descumprimento da obrigação assumida pelo devedor
no seu termo.” (AI n.º 96.011932-9, da Terceira
Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Santa Catarina,
julgado em 18/03/97)

“AGRAVO DE INSTRUMENTO – Nomes negativados


junto ao SERASA e SPC – Determinação de
cancelamento por tutela antecipada em ação de
alongamento do vencimento – Inadmissibilidade –
Inadimplência reconhecida – Direito de proteção de
credores do sistema financeiro e do comércio legítima
– Agravo provido.” (AI n.º 726.078-2, da Comarca de
Presidente Venceslau, agravante: Banco Itaú S/A,
agravado: João Batista de Andrade e sua mulher,
deram provimento, v. u., julgado em 21/05/97 pelo 1.º
Tribunal de Alçada Civil do Estado de São Paulo)

Deste acórdão, destacam-se as seguintes


passagens:

“Dá-se provimento ao agravo, afastando-se a


determinação contida no r. despacho agravado, para
que permaneça a negativação referida, cancelando-se
também a multa arbitrada. (...)
Nenhum desrespeito ou direito foi violado pelo
agravado, que apenas exerceu comunicação, não

8
existindo nenhuma forma de coação mesmo moral.”
(grifos nossos)

“AGRAVO DE INSTRUMENTO – REGISTRO DE


DEVEDORES INADIMPLENTES – SERASA E SPC –
EXCLUSÃO POR INTERPOSIÇÃO DE AÇÃO
CONTESTATÓRIA DO DÉBITO – IMPOSSIBILIDADE –
INEXISTÊNCIA DE ILEGALIDADE NA MANUTENÇÃO DE
REGISTRO DE DEVEDORES INADIMPLENTES PARA
PROTEÇÃO DOS CREDORES NO SISTEMA FINANCEIRO
E DO COMÉRCIO – RECURSO PROVIDO.” (AI n.º
726.080-2, da Comarca de Presidente Venceslau,
agravante: Banco Itaú S/A, agravado: Braz Aristeu de
Lima e sua mulher e outro, deram provimento, v. u.,
julgado em 23/04/97 pelo 1.º Tribunal de Alçada Civil
do Estado de São Paulo)

Deste acórdão, destacam-se as seguintes


passagens:

“O procedimento de entidades de proteção ao crédito


de manterem cadastro de devedores inadimplentes e
em convênio com entidades financeiras e comerciais
para fornecimento de dados dos devedores constantes
de seus cadastros nada tem de irregular.
(...)
Pela inclusão do nome dos devedores nas listas de
inadimplentes das entidades mencionadas, não foi
desrespeitado qualquer direito ou dispositivo legal e é,
efetivamente, direito do agravante a comunicação dos
nomes dos devedores inadimplentes.”

Conclui-se, pois, que a inscrição do nome da


autora junto aos órgãos de proteção ao crédito está em perfeita harmonia com
todo o ordenamento jurídico pátrio, amparada inclusive por nossa firme
jurisprudência a respeito, a qual, corrigindo abusos e ressaltando o caráter público
destes órgãos e o direito líqüido e certo do credor em exercer este poder funcional
(poder/dever), tem como plenamente legítima e legal a inscrição e manutenção do
nome de devedores inadimplentes nesses cadastros de restrição creditícia.

9
Repita-se que logo que a autora promoveu ao
pagamento da taxa o réu comandou o pedido de baixa da restrição aos órgãos de
crédito. Porém, a SERASA pode demorar até 5 DIAS ÚTEIS PARA PROMOVER A
BAIXA DA MÁCULA, como se vê abaixo 3:

“Anotação de Dívida Vencida - Pendência


Bancária ou Financeira

1 Para a regularização desse tipo de anotação o


Cidadão deve procurar a instituição ou a
empresa credora, que enviará comando
específico para a Serasa executar a baixa da
anotação.

Prazo para Regularização das Anotações na


Serasa

Após a entrega do documento necessário para


baixa da Anotação, diretamente na Serasa, o
prazo para exclusão da informação no sistema
será de 5 (cinco) dias úteis, conforme o Código
de Defesa do Consumidor (Lei n.º 8.078, de
11/09/90).”

Destarte, o réu se comportou de maneira lícita e


sem intencionar ocasionar qualquer dano à autora; recebendo o valor devido e
imediatamente comandando a exclusão da restrição. Porém, como acima visto, a
baixa pode demorar até 5 dias úteis (saliente-se, neste tópico, que a mácula em
nome da autora vigorou por apenas 6 dias, não havendo que se falar em prejuízo
ou abalo à honra).

1.3. DA AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DOS DANOS

Jamais poderá prosperar a pretensão


indenizatória, na medida em que os fatos em apreço não geraram absolutamente
qualquer dano à autora.

Na ação de reparação de danos morais, como é


cediço, o interessado deve evidenciar o prejuízo dessa natureza, experimentado
pela conduta lesiva. Para a indenização do dano moral não basta, a rigor, o
3
Fonte: site da SERASA, www.serasa.com.br

10
acontecimento em si! Exige-se a existência e demonstração de sua repercussão
efetiva na esfera moral e de interesse do prejudicado, a teor da atual legislação a
respeito.

Como consigna José de Aguiar Dias, "o dano


moral é o efeito não patrimonial da lesão de direito e não a própria lesão,
abstratamente considerada".4

A autora, na espécie, em nenhum momento


comprova ter sofrido qualquer tipo de dano decorrente do acontecimento
em questão, ao qual, maliciosamente, procura emprestar uma relevância que
absolutamente inexistiu no caso. Não se verifica que houve qualquer tipo de
tentativa de obtenção de crédito ou realização de compra.

A AUTORA PERMANECEU COM A MÁCULA


5
DURANTE 6 DIAS !!!! CRÍVEL ALEGAR A OCORRÊNCIA DE QUALQUER PREJUÍZO
QUE POSSA SER CONSIDERADO COMO ABALO MORAL. Se verdadeiro fosse o
abalo de crédito argüido, certamente a inicial teria aportado documentos para
certificá-lo, o que não ocorreu.

Como sabido, nas ações indenizatórias as provas


devem ser concretas e suficientes, no sentido de demonstrarem efetivo
prejuízo na fase cognitiva da ação, só se remetendo para o juízo sucessivo da
execução a eventual apuração do respectivo quantum.

Com efeito, o dano, tem que ser provado, não


havendo nenhuma razão jurídica para se estabelecer derrogações aos princípios
gerais probatórios (art. 333, I, CPC) e aos da responsabilidade civil (art. 186 – antigo
159 -, CC). A respeito leciona Wilson Melo da Silva:

“Para a prova dos danos morais, valeriam todos os


meios, em direito permitidos, inclusive as presunções
estabelecidas, segundo se verá, para determinadas
pessoas da família da vítima.
Aqui o ônus probandi incumbit et qui dixit ainda é a
norma.

4
Da Responsabilidade Civil, 9ª ed. vol. II, p. 737
5
De 7 a 12 de Dezembro de 2002.

11
Se o que pede a reparação por danos morais não tem,
a seu favor, a presunção sempre vencível, juris
tantum, desses mesmos danos, terá que prová-los.
Não valeria, em absoluto, contrariamente às antigas
praxes e aos ensinamentos de Borciani, a prova
originada do juramento supletório de parte”.
(DANO MORAL E SUA REPARAÇÃO - pág. 510)

A posição jurisprudencial, por sua vez, é firme no


sentido de que não há dano sem prova, seja ele moral ou patrimonial:

“MANDATO. COAÇÃO. INDENIZAÇÃO. DANO MORAL.


APELAÇÃO: REQUISITOS
1 – Permitindo os elementos de convicção trazidos aos
autos reconhecer-se a existência de coação sobre o
mandante, cabe indenização pelos prejuízos advindos.
2 - Sem base probatória segura para que seja
identificado, o dano moral não há de ser indenizado.”
(STJ - Ag. I. 42.383-3 - Rio Grande do Sul, Rel. Min.
Cláudio Santos, DJU 21.02.94, nº 197, pág. 21685)
(grifos do contestante)

“INDENIZAÇÃO – Perdas e danos – Ausência de


comprovação cabal dos prejuízos aferíveis
economicamente – Dano hipotético que não justifica a
reparação – Ação improcedente – Recurso não
provido. “ (RJTJSP 120/175)

“RESPONSABILIDADE CIVIL - Abalo de crédito


decorrente de protesto de título - Indenização -
Necessidade de prova do prejuízo - Requisito não
atendido na espécie - Ação Improcedente.
(...)
Ora, a prova feita, tal a do negócio a realizar e que se
perdera, foi bem considerada como sem condições de
convencer. E nada mais se produziu, ao contrário, com
a publicação nos jornais, atestando a idoneidade do
autor, fez-se verdadeiro ressarcimento "in natura",
prevenindo-se algum dano indenizável e que não se
demonstrou presente.” (RT 423/166)

12
“RESPONSABILIDADE CIVIL - Ação de indenização por
abalo de crédito
(.....)
A jurisprudência é pacífica no entendimento de que
não se pode falar em indenização quando o autor não
comprova a existência do dano.” (RT 568/167 - TJSC -
Ap. Cível n.º 15.636, Florianópolis, j. 4.5.82)

“Para que haja pagamento da indenização pleiteada,


além da prova do dolo do agente, é necessário
comprovar a ocorrência de um dano patrimonial ou
moral.” (RT 436/97, 433/88, 368/181, 458/20,
434/101; RTJ-39/38, 41/844; RF 221/200)(grifos do
contestante)

Conclui-se, pois, pela não comprovação dos


alegados danos, nada, pois, sendo devido à autora.

Agostinho Alvim, ensina que “ainda mesmo


que haja violação de um dever jurídico, e que tenha existido culpa e até
mesmo dolo por parte do infrator, nenhuma indenização será devida,
uma vez que não se tenha verificado prejuízo.” (da Inexecução das Obrigações
e Suas Conseqüências - pág. 162)

Por outro lado, o artigo 186 do Código Civil é


expresso ao determinar a reparação integral dos danos que o ofendido tenha
suportado em razão de ato culposo de outrem. Porém, a reparação integral dos
danos deve ser a justa, isto é, a que compreenda os danos efetivamente sofridos
e decorrentes diretamente do ato culposo do agente.

No caso dos autos, não demonstrado, pela autora,


a ocorrência efetiva do dano alegado – divagando sobre meras suposições -, não
há que se falar em obrigação de indenizar.

Como sabido, no Direito pátrio não se indenizam


danos potenciais, eventuais, supostos ou abstratos. O sistema abraçado pelo
vigente Código Civil, em seu artigo 403 (antigo 1.060), não alimenta dúvidas a tal
respeito:

13
“Ainda que a inexecução resulte de dolo do devedor,
as perdas e danos só incluem os prejuízos efetivos e
os lucros cessantes por efeito dela direito e mediato
(...).” (grifamos)

Assim, convém lembrar que não é qualquer dano


moral que é indenizável.

José Osório de Azevedo Júnior, ilustre


Desembargador do Egrégio Tribunal de Justiça de São Paulo, em trabalho
intitulado "O Dano Moral e sua Avaliação" (publicado na Revista do Advogado n° 49,
de dezembro/96 - AASP – Associação dos Advogados de São Paulo) , enfatiza:

“os aborrecimentos, percalços, pequenas


ofensas, não geram o dever de indenizar.
O nobre instituto não tem por objetivo
amparar as suscetibilidades exageradas e
prestigiar os chatos.
...
por outras palavras, somente o dano
moral razoavelmente grave deve ser
indenizado.” (pág. 11) - grifamos

Nessa seara, o réu transcreve ementas de


decisões recentes demonstrando o entendimento do STJ:

“INDENIZAÇÃO. DANO MORAL. QUEDA EM COLETIVO.


O mero receio ou dissabor não pode ser alçado
ao patamar do dano moral, mas somente aquela
agressão que exacerba a naturalidade dos fatos
da vida, causando fundadas aflições ou
angústias no espírito de quem ela se dirige.
(...)
Recurso especial conhecido e provido.”
(RESP 337771/RJ; RECURSO ESPECIAL 2001/0105794-
0 – Fonte: DJ DATA:19/08/2002 PG:00175 – Relator
Min. CESAR ASFOR ROCHA - Data da Decisão:
16/04/2002 – Órgão Julgador: 4ª TURMA) - grifamos

“CIVIL. DANO MORAL. NÃO OCORRÊNCIA.

14
O mero dissabor não pode ser alçado ao patamar
do dano moral, mas somente aquela agressão
que exacerba a naturalidade dos fatos da vida,
causando fundadas aflições ou angústias no
espírito de quem ela se dirige.
Recurso parcialmente conhecido e, nessa parte,
provido.”
(RESP 215666/RJ; RECURSO ESPECIAL 1999/0044982-
7 – Fonte: DJ DATA:29/10/2001 PG:00208 - RSTJ
150/382 – Relator: Min. CESAR ASFOR ROCHA - Data
da Decisão: 21/06/2001 – Órgão Julgador: 4ª TURMA)
- grifamos

Veja-se, desse último acórdão, trechos do voto do


Ministro Relator César Asfor Rocha, pelo qual conclui-se que aquele E. STJ
pretende cessar com banalização do dano moral:

“(...)
Sérgio Cavalieri Filho, em seu ‘Programa de
Responsabilidade Civil’ (Malheiros Editores Ltda., 1996, pg.
76), mencionado pela recorrente, traz lição de Antunes
Varela, segundo a qual observa ‘a gravidade do dano
há de medir-se por um padrão objetivo (conquanto a
apreciação deva ter em linha de conta as circunstâncias
de cada caso), e não à luz de fatores subjetivos (de
uma sensibilidade particularmente embotada ou
especialmente requintada).
Por outro lado, a gravidade será apreciada em função
da tutela do direito: ‘o dano deve ser de tal modo
grave que justifique a concessão de uma satisfação de
ordem pecuniária ao lesado’.
Por isso é que, ‘nessa linha de princípio, só deve
ser reputado como dano moral a dor, vexame,
sofrimento ou humilhação que, fugindo à
normalidade, interfira intensamente ao
comportamento psicológico do indivíduo,
causando-lhe aflições, angústias e desequilíbrio
em seu bem-estar. Mero dissabor,
aborrecimento, mágoa, irritação ou sensibilidade
exacerbada estão fora da órbita do dano moral.’
(...)

15
Mas, a meu sentir, certo é que o embaraço aqui
noticiado não pode ser alçado à categoria do
dano moral.” - grifamos

Destarte, o dano moral que deve ver indenizado é


aquele que representa uma angústia real, um sentimento de inferiorização ou
humilhação do ofendido.

Nessa linha de raciocínio, cita o réu decisão


proferida pela 2ª Câmara Cível, do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do
Rio de Janeiro, na qual, confirmando a improcedência de pedido de indenização
por dano moral, o rel. Des. Sergio Cavalieri Filho, com propriedade, enfatizou:

“A matéria de mérito cinge-se em saber o que


configura e o que não configura o dano moral. Na falta
de critérios objetivos, essa questão vem se tornando
tormentosa na doutrina e na jurisprudência, levando o
julgador a situação de perplexidade. Ultrapassadas as
fases da irreparabilidade do dano moral e da sua
inacumulabilidade com o dano material, corremos o
risco de ingressarmos na fase da sua industrialização,
onde o aborrecimento banal ou mera sensibilidade são
apresentados como dano moral, em busca de
indenizações milionárias.
Tenho entendido que, na solução dessa questão,
cumpre ao juiz seguir a trilha da lógica do razoável, em
busca da sensibilidade ético-social normal. Deve tomar
por paradigma o cidadão que se coloca a igual
distância do homem frio, insensível, e o homem de
extrema sensibilidade.
Nessa linha de princípio, só deve ser reputado como
dano moral a dor, vexame, sofrimento ou humilhação
que, fugindo à normalidade, interfira intensamente no
comportamento psicológico do indivíduo, causando-lhe
aflições, angustia e desequilíbrio em seu bem estar.
Mero dissabor, aborrecimento, mágoa, irritação ou
sensibilidade exacerbada estão fora da órbita do dano
moral, porquanto, além de fazerem parte da
normalidade do nosso dia a dia, no trabalho, no
trânsito, entre os amigos e até no ambiente familiar,
tais situações não são intensas e duradouras, a ponto

16
de romper o equilíbrio psicológico do indivíduo. Se
assim não se entender, acabaremos por banalizar o
dano moral, ensejando ações judiciais em busca de
indenizações pelos mais triviais aborrecimentos.” (Ap.
Cível nº 8.218/95, j. 13.02.96) (grifos do contestante)

Resta claro que os danos alegados na inicial são


meramente especulativos e irreais. Nenhum efeito prático grave, lesivo à moral da
autora, foi experimentado por ela no caso. Portanto, não há que se falar em
obrigação de indenizar.

IV.2. - DA EXORBITÂNCIA DO MONTANTE RECLAMADO

Admitindo-se, pelo princípio da eventualidade, a


existência efetiva de danos e sua comprovação, impugna o réu o exorbitante valor
pleiteado a título de indenização por dano moral.

O dano moral deve ser mensurado mediante a


conjugação de diversos elementos, entre os quais, o grau de culpa, a
gravidade, a extensão e a repercussão da ofensa, bem como a
intensidade do sofrimento acarretado à vítima.

A despeito da inexistência de critérios para a


fixação do dano moral, há certa uniformidade na jurisprudência quanto à
razoabilidade das indenizações, em especial do E. Superior Tribunal de Justiça
que, mostrando-se cauteloso, reiteradamente tem afastado os ressarcimentos
vultosos, recomendando o arbitramento com moderação, independente da
intensidade da culpa ou do dano.

Consigne-se que a orientação jurisprudencial mais


recente tem se valido dos critérios da limitação e moderação do dano moral:

“CIVIL. INDENIZAÇÃO. PROTESTO INDEVIDO DE


TÍTULO. DANO MORAL. ELEVAÇÃO DA CONDENAÇÃO.
CRITÉRIOS. PRECEDENTES DA CORTE. RECURSO
PROVIDO PARCIALMENTE.
I - A indenização pelo protesto indevido de título
cambiariforme deve representar punição a quem
indevidamente promoveu o ato e eficácia ressarcitória
à parte atingida.

17
II - O arbitramento da condenação a título de
dano moral deve operar-se com moderação,
proporcionalmente ao grau de culpa, ao porte
empresarial das partes, suas atividades
comerciais, e, ainda, ao valor do negócio,
orientando-se o juiz pelos critérios sugeridos
pela doutrina e pela jurisprudência, com
razoabilidade, valendo-se de sua experiência e do
bom senso, atento à realidade da vida, notadamente à
situação econômica atual, e às peculiaridades de cada
caso.
III - O arbitramento do valor indenizatório por
dano moral sujeita-se ao controle do Superior
Tribunal de Justiça.”
(RESP 173366/SP ; RECURSO ESPECIAL
(1998/0031610-8) - Fonte DJ DATA:03/05/1999
PG:00152 - Relator Min. SALVIO DE FIGUEIREDO
TEIXEIRA - Data da Decisão 03/12/1998 – Órgão
Julgador QUARTA TURMA – v.u.) – grifos nossos

“Responsabilidade civil. Imprensa (publicação de


notícia ofensiva). Ofensa à honra. Dano moral. Valor
da indenização. Controle pelo STJ.
1. Quem pratica pela imprensa abuso no seu exercício
responde pelo prejuízo que causa. Violado direito, ou
causado prejuízo, impõe-se sejam reparados os danos.
Caso de reparação de dano moral, inexistindo, nesse
ponto, ofensa a texto de lei federal.
2. Em não sendo mais aplicável a indenização a que se
refere a Lei nº 5.520/67, deve o juiz no entanto
quantificá-la moderadamente. O critério da pena
de multa máxima prevista no Cód. Penal (em dobro,
segundo o disposto no Cód. Civil, art. 1.547, parágrafo
único) nem sempre é recomendável.
3. O valor da indenização por dano moral não
pode escapar ao controle do Superior Tribunal
de Justiça.
4. Recurso especial conhecido pelo dissídio e provido
em parte, para reduzir-se o valor da condenação.”
(RECURSO ESPECIAL Nº 53.321 - RJ - (Registro nº
94.0026523-9) - Relator: O Sr. Ministro Nilson Naves -
Recorrente: Jornal do Brasil S/A - Recorrido: Eduardo

18
Mayr - Advogados: Drs. Sérgio Bermudes e outros, e
Francisco Antônio Fabiano Mendes e outro -
Sustentação Oral: Dr. Marcelo Alexandre Lopes (pelo
recorrente) – v.u. - Publicado no DJ de 24-11-97 -
RSTJ 105/230). – grifos nossos

“Dano moral. Indenização. Arbitramento. Possível, em


tese, rever o valor da indenização em recurso especial.
Assim, quando se mostra evidentemente
exagerada, distanciando-se das finalidades da
lei que não deseja o enriquecimento de quem
sofreu a ofensa. Possibilidade, ainda, de
conhecimento pelo dissídio, cotejando-se o valor com o
estabelecido para outras hipóteses.
Hipótese em que se impunha a redução do valor
fixado, tendo em vista que o constrangimento sofrido
pelo autor não foi muito significativo.”
(RECURSO ESPECIAL Nº 87.719 – RJ - Registro nº
96.0008300-2 - Relator: O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro
- Recorrente: Casa Garson Aparelhos Elétricos S/A -
Recorrido: Delci Ribeiro - Advogados: Drs. Roberto
Algranti e outros, e Dr. Antônio Augusto de Souza
Mallet - Publicado no DJ de 25-05-98 - RSTJ
107/197). – grifos nossos

Sem argumentação plausível, pede a autora o


arbitramento indenizatório em equivalente a R$ 319.230,00 – mais de 1.330
salários mínimos. O quantum pretendido tem sido objeto de rejeição por parte
do Poder Judiciário.

Veja-se a manifestação, incidental, do Min. Sálvio


de Figueiredo Teixeira a esse respeito, no Agravo Regimental no AI nº
108.923/SP: “Ademais, é de assinalar-se que a reparação do dano moral não pode
ensejar o enriquecimento indevido, sendo de repudiar-se o posicionamento dos
que postulam vantagens fáceis por intermédio desta via.“

Se não bastasse a ausência de critérios


norteadores capazes de mensurar as indenizações nas ações de reparação por
danos e, visando coibir o enriquecimento indevido, o Superior Tribunal de

19
Justiça tem se preocupado em definir, em última instância, qual o real valor
devido.

Destarte, tolhendo um agravamento das situações


hodiernas é que o STJ, em acórdãos recentes chamou para si o controle dos
valores das indenizações por dano moral, à consideração de que “na fixação
da indenização, tem-se que, necessariamente, observar um padrão de
razoabilidade, e isso, em verdade, constitui questão jurídica, sendo passível,
pois, de exame por esta Corte.” (do voto do Min. Costa Leite, no Resp
53.321/RJ, j. 16/09/97,publ. 24/11/97)

Na sua declaração de voto o Min. CARLOS


ALBERTO MENEZES DIREITO, ponderadamente, consignou que “ à medida que o
Tribunal se vê diante de uma fixação que foge a qualquer parâmetro e que
violenta o razoável, é evidente que a sua intervenção se faz necessária, até
mesmo pela função política que tem a Corte Superior, qual seja, a de estabelecer
um padrão de razoabilidade para a fixação do dano moral.”

No julgamento do Recurso Especial nº 171.084-


MA (j. 18/08/98, publ. em 05/11/98), utilizando a mesma linha de raciocínio, o rel.
Min. SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA enfatizou que “a indenização deva ser
fixada em termos razoáveis, não se justificando que a reparação venha a
constituir-se em enriquecimento indevido, com manifestos abusos e exageros,
recomendando-se que o arbitramento se opere com moderação,
proporcionalmente ao grau de culpa, ao porte empresarial das partes, suas
atividades comerciais, e, ainda, ao valor do negócio, orientando-se o juiz pelos
critérios sugeridos pela doutrina e pela jurisprudência, com razoabilidade,
valendo-se de sua experiência e do bom senso, atendo à realidade da vida,
notadamente à situação econômica atual, e às peculiaridades de cada caso, sendo
certo que o arbitramento do valor indenizatório por dano moral se sujeita ao
controle desta Corte (REsps 53.321-RJ e 173.366-SP).” (grifamos)

E, seguindo esse entendimento, os Tribunais


Estaduais têm reduzido drasticamente os valores das indenizações por dano
moral, rejeitando pedidos como o pleiteado pela autora:

“RESPONSABILIDADE CIVIL – AÇÃO ORDINÁRIA


OBJETIVANDO INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS –
Cliente de supermercado que teve uma cédula de R$

20
50,00 recusada pela caixa do estabelecimento. Não
comprovado por prova idônea e convincente ter sido
imputada à autora a suposta falsificação da nota, mas
tendo sido a mesma submetida a vexame, diante do
tumulto surgido na ocasião, há que ser reformada em
parte, a sentença, para reduzir a indenização a
vinte salários mínimos.”
(j. 11/08/98 - Apelação Cível 6585/98 - TJRJ - 18ª
Câmara Cível - unânime – Relª. Desª. Helena Bekhor –
AASP nº 2090) - grifamos

“DANO MORAL - Protesto indevido - Cambial -


Duplicata - Compra e venda mercantil - Envio para
protesto das cártulas em razão de aquisições em nome
da sacada - Inocorrência de sua aquisição no negócio
realizado - Caracterização da negligência da empresa
ao aceitar transação envolvendo o nome de terceira
pessoa - Necessidade da reparação do dano -
Condenação das requeridas ao pagamento da
indenização em 30 salários mínimos - Recurso
provido para este fim.”
(Primeiro Tribunal de Alçada Civel de São Paulo -
PROCESSO: 0829421-7 - RECURSO: Apelação -
ORIGEM: Sorocaba - JULGADOR: 10ª Câmara -
JULGAMENTO: 06/06/2000 - RELATOR: Frank Hungria
- REVISOR: Candido Alem - DECISÃO: Deram
Provimento ao(s) Recurso) – grifos nossos

“INDENIZAÇÃO - Dano moral - Hipótese em que


não executou em sua totalidade a empresa-ré os
serviços contratados - Inexistência de prova de que o
tenha efetuado integralmente - Ônus que competia à
ré - Protesto abusivo de título - Abalo de crédito ao
autor - Verba devida - Fixação em 25 (vinte e
cinco) salários mínimos - Verba advocatícia mantida
- Recurso do autor provido, em parte, desprovido o da
ré.” (Tribunal de Justiça de São Paulo - Apelação Cível
n. 036.749-4 - Ribeirão Preto - 5ª Câmara de Direito
Privado - Relator: Rodrigues de Carvalho - 25.06.98 -
V. U.) – grifos nossos

21
“RESPONSABILIDADE CIVIL - Dano moral -
Protesto cambiário indevido - Desnecessidade de
provar a existência de dnao patrimonial - Necessidade
de o Banco arcar com as conseqüências de seu ilícito
culposo - Condenação do Banco ao pagamento de
30 salários mínimos a título de danos morais,
bem como custas processuais e honorários
advocatícios fixados em 10% sobre o valor da
causa - Recurso parcialmente provido.”
(Primeiro Tribunal de Alçada Civel de São Paulo -
PROCESSO: 0829311-6 - RECURSO: Apelação -
ORIGEM: São Paulo - JULGADOR: 10ª Câmara -
JULGAMENTO: 04/06/2002 - RELATOR: Frank Hungria
- REVISOR: Simões de Vergueiro - DECISÃO: Deram
Provimento Parcial) – grifos nossos

“CAMBIAL - DUPLICATA - TÍTULO QUITADO -


PROTESTO EFETUADO - INADIMISSIBILIDADE -
PEDIDO DE INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL
DEFERIDO - FIXAÇÃO DO VALOR EM 20
SALÁRIOS MÍNIMOS, DEVENDO, AINDA, A RÉ
ARCAR COM O PAGAMENTO DAS VERBAS DA
SUCUMBÊNCIA - DECLARATÓRIA DE NULIDADE DO
TÍTULO CUMULADA COM PERDAS E DANOS
PROCEDENTES - RECURSO PROVIDO.”
(Primeiro Tribunal de Alçada Civil de São Paulo -
ACÓRDÃO: 25169 - PROCESSO: 0709879-5 -
RECURSO: Apelação Cível - ORIGEM: São Paulo -
JULGADOR: 2ª Câmara Especial de Janeiro -
JULGAMENTO: 06/02/1997 - RELATOR: Alberto
Tedesco - DECISÃO: Unânime - PUBLICAÇÃO: MF
24/NP) – grifos nossos

Destarte, se devida fosse a indenização, esta


deveria ser suficiente apenas para restabelecer o status quo ante, em coerência
aos princípios que norteiam a obrigação de indenizar, que não tolera o
enriquecimento sem causa.

Fitando a quaestio por outro prisma, tem-se que a


aplicação da lei penal alvitrada pela autora, ainda que por analogia, revela-se
absolutamente descabida (e já não mais em vigor).

22
Estabelecia o prefalado art. 1547, do antigo CC
6
(novo artigo 953, do CC ):

“Art. 1547 – A indenização por injúria ou calúnia


consistirá na reparação do dano que delas resulte ao
ofendido.
Parágrafo único. Se este não puder provar o prejuízo
material, pagar-lhe-á o ofensor o dobro da multa no
grau máximo da pena criminal respectiva.”
(grifamos)

Como se vê, o artigo acima transcrito referia-se a


“pena criminal respectiva”; isto porque, antes da reforma do Código Penal,
introduzida pela Lei nº 7.209/84, as penas de multa eram cominadas entre valores
determinados. Pelo art. 2º da citada Lei nº 7.209/84, foram canceladas as
referências aos valores de multas, substituindo-se a expressão “multa de” por,
apenas, “multa”, ficando a fixação desta a critério do Juízo Criminal, dentro dos
limites gerais indicados pelo art. 49 do Código Penal e, ainda, atentando à
natureza mais ou menos grave do crime, às circunstâncias judiciais que levarão à
pena-base, às causas de aumento e de diminuição da pena acaso cabíveis, etc.

Assim, diante da ausência da dosimetria legal da


multa, restou inaplicável o Parágrafo Único do artigo 1547, do CC, exceto se
houvesse sentença criminal aplicando a multa in concreto, o que não ocorre no
caso.

Esse, aliás, é o entendimento de Darcy Arruda


Miranda:

“Em nosso entender, a modificação prevista na Lei nº


7.209/84, referente aos valores atribuídos à multas, no
Código Penal e nas leis especiais (art. 2º), entre estas
incluindo a Lei de Imprensa, também alterou o
parágrafo único do artigo 1547 do Código Civil, em sua
parte final, onde menciona a multa em dobro, em face

6
“Art. 953 – A indenização por injúria ou calúnia consistirá na reparação do dano que delas resulte
ao ofendido.
Parágrafo único. Se o ofendido não puder provar prejuízo material, caberá ao juiz fixar,
eqüitativamente, o valor da indenização, na conformidade das circunstâncias do caso.”

23
da supressão dos valores das multas. Era este um
ponto de referência firmado pelo legislador civil, para
quando não fosse possível provar-se o prejuízo
material, para o cômputo da indenização.” (Anotações
ao Código Civil Brasileiro, 3ª edição, 1993, 3º vol., p.
600)

Vê-se, portanto, que em contraposição à


desmedida e infundada ambição da autora, o réu apresenta critérios lógicos que,
na eventualidade de condenação, devem obrigatoriamente, ser aplicados para a
justa composição de interesses.

IV.3. DO PEDIDO DE APLICAÇÃO DE JUROS COMPOSTOS

Na mesma seara o réu contesta o pedido de


aplicação de juros compostos, contido na inicial.

Primeiramente porque o novo Código Civil excluiu


dos seus artigos aquele que poderia ser aplicado à espécie, ou seja, o artigo 1544,
tornando-se inviável a condenação do réu em artigo de lei que já não existe mais.

E, depois, porque o novo Código Civil, naqueles


dispositivos que tratam sobre aplicação dos juros, artigos 402 e seguintes, nada
se menciona sobre possibilidade de aplicação destes na forma composta.

Ademais, o próprio STJ decidiu contrariamente ao


pleiteado pela autora:

“RESPONSABILIDADE CIVIL. DANO MORAL. JUROS.


DATA INICIAL. PREPONENTE (JUROS SIMPLES).
1. O DEFERIMENTO DA INDENIZAÇÃO PELO DANO
MORAL SOFRIDO COM A MORTE DO MARIDO E PAI
DOS AUTORES INDEPENDENTE DE PROVA DO
EFETIVO SOFRIMENTO, QUE DECORRE DA NATUREZA
DAS COISAS. O DECURSO DE MAIS DE 17 ANOS
ENTRE O FATO E O AJUIZAMENTO DO PEDIDO E
FATOR A PONDERAR NA FIXAÇÃO DO "QUANTUM"
INDENIZATORIO.
2. OS JUROS PELA MORA, EM SE TRATANDO DE ATO
ILICITO ABSOLUTO, FLUEM DESDE O FATO. PEDIDO

24
FUNDADO NO ART. 159 DO CC E NÃO NA
RESPONSABILIDADE CONTRATUAL.
3. A EMPRESA PREPONENTE NÃO RESPONDE
POR JUROS COMPOSTOS. RESSALVA DA
POSIÇÃO DO RELATOR.
RECURSO CONHECIDO EM PARTE E PARCIALMENTE
PROVIDO.”
(STJ - RESP 153155/SP; RECURSO ESPECIAL
1997/0076694-2 – Fonte DJ DATA:16/03/1998
PG:00167 - RSTJ 109/239 – Relator Min. RUY ROSADO
DE AGUIAR - Data da Decisão: 10/12/1997 - Orgão
Julgador 4ª TURMA) - grifamos

“Acidente de trânsito. Valor do pensionamento. Dano


estético e dano moral. Juros compostos. Termo inicial
dos juros de mora. Precedentes da Corte.
1. Cabível a condenação cumulativa pelo dano moral e
pelo dano estético quando distintas as suas causas.
2. Os juros compostos do art. 1.544 do Código
Civil não se aplicam ao preponente.
3. Os juros de mora contam-se da citação quando se
trate de responsabilidade contratual.
4. Cabível a redução do pensionamento considerando
outros critérios, de acordo com a realidade dos autos,
assim a dedução da parte que corresponderia à
manutenção do falecido.
5. Recurso especial conhecido em parte e, nessa parte,
provido.”
(STJ - RESP 247266/SP; RECURSO ESPECIAL
2000/0009917-1 – Fonte DJ DATA:23/10/2000
PG:00138 – Relator Min. CARLOS ALBERTO MENEZES
DIREITO - Data da Decisão: 20/06/2000 - Orgão
Julgador: 3ª TURMA) - grifamos

“Responsabilidade civil. Acidente de ônibus com morte


do passageiro. Juros compostos. Juros moratórios.
Súmula nº 37 da Corte. Precedentes.
1. Está assentado na jurisprudência da Corte que
os juros compostos somente são exigíveis de
quem cometeu o crime, não se aplicando o art.
1.544 do Código Civil ao preponente.

25
2. Não se cuidando de ilícito extracontratual os
juros moratórios são contados da citação.
3. Os danos material e moral são acumuláveis (Súmula
nº 37 da Corte).
4. Recurso especial conhecido e provido, em parte.”
(STJ - RESP 182187/SP; RECURSO ESPECIAL
1998/0052677-3 – Fonte: DJ DATA:17/12/1999
PG:00353 – Relator Min. CARLOS ALBERTO MENEZES
DIREITO - Data da Decisão: 21/10/1999 - Orgão
Julgador: 3ª TURMA) - grifamos

“DIREITOS CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO


INDENIZATÓRIA. ATROPELAMENTO. EMPRESA
PREPONENTE COMO RÉ. JUROS COMPOSTOS. NÃO-
APLICAÇÃO. SÚMULA STJ, ENUNCIADO Nº 186.
INCIDÊNCIA. DATA DO FATO. VERBETE SUMULAR N.
54 DESTA CORTE. JULGAMENTO ULTRA PETITA.
INOCORRÊNCIA. IMPOSIÇÃO DE LEI. DANOS MORAIS.
QUANTIFICAÇÃO. CONTROLE PELA INSTÂNCIA
ESPECIAL. POSSIBILIDADE. VALOR JUSTO. CASO
CONCRETO. RECURSO PROVIDO EM PARTE.
I - Os juros compostos são devidos se o dever de
indenizar resulta de ilícito penal e são exigíveis
daquele que efetiva e diretamente o haja
praticado, disso decorrendo inacolhível a
pretensão no sentido de que sejam suportados
pela empresa preponente.
(...)
IV - O valor da indenização por dano moral sujeita-se
ao controle do Superior Tribunal de Justiça,
recomendando-se que, na fixação da indenização a
esse título, o arbitramento seja feito com moderação,
proporcionalmente ao grau de culpa, ao nível sócio-
econômico da parte autora e, ainda, ao porte
econômico da ré, orientando-se o juiz pelos critérios
sugeridos pela doutrina e pela jurisprudência,
com razoabilidade, valendo-se de sua experiência e do
bom senso, atento à realidade da vida e às
peculiaridades de cada caso.
V - No caso, diante de suas circunstâncias, o valor
fixado a título de danos morais mostrou-se razoável.”

26
(STJ - RESP 248764/MG; RECURSO ESPECIAL
2000/0014940-3 – Fonte DJ DATA:07/08/2000
PG:00115 – Relator Min. SÁLVIO DE FIGUEIREDO
TEIXEIRA - Data da Decisão: 09/05/2000 - Orgão
Julgador: 4ª TURMA) - grifamos

Assim, totalmente contra a legislação em vigor o


pedido formulado pela autora.

V. CONCLUSÕES

Diante do exposto, requer o acolhimento das


preliminares de falta de interesse de agir e inépcia da inicial, extinguindo-se o
feito sem julgamento do mérito. Caso ultrapassado esse pedido, requer seja a
demanda julgada totalmente improcedente, com a condenação da autora nas
verbas sucumbenciais.

Caso assim não entenda esse R. Juízo, necessária


se faz a observância aos parâmetros legais e jurisprudenciais consagrados, tudo
com o intuito de evitar-se locupletamento ilícito por parte da autora.

Outrossim, requer a produção de todas as provas


em direito admitidas, em especial a juntada de novos documentos, a expedição de
ofícios, o depoimento pessoal da autora e a oitiva de testemunhas a serem
arroladas oportunamente.

Termos em que,
pede deferimento.
Quirinópolis, 12 de agosto de 2003

___________________________________
OAB/GO

2003/023
BJ 030200068960

27

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