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EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA VARA DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS DE

BRASÍLIA/DF

NOME COMPLETO, brasileiro, solteiro, tatuador, portador do RG nº XXXXXX, e do CPF nº


XXXXXXXXXXX, telefone: DDD - XXXXXXX e-mail, endereço: XXXXXXXX, CEP nº XXXXXX,
vem, respeitosamente à presença de Vossa Excelência, por intermédio de sua patrona que
esta subscreve -instrumento procuratório atestado- e, com fundamento nos artigos 2º e
3º, inciso I da Lei nº 9.099/1995 propor a presente:
AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE CLÁUSULA CONTRATUAL c/c DANOS MORAIS E
MATERIAIS
Em face de AUTOESCOLA XXXXXX, pessoa jurídica de direito privado, Razão Social:
XXXXXXXXXXXXXXX, inscrita no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas do Ministério da
Fazenda sob nº XXXXXXXXXX, com sede em XXXXXXXXXXXXX, CEP nº XXXXXXX, pelos fatos
e direitos a seguir expostos:
I – FATOS
II – PRELIMINARMENTE
i. Da competência

Conforme preceitos estabelecidos nos artigos 3º, inciso I e 4º, inciso I da Lei nº
9.099/1995 é assentada a competência deste juízo que se estabelece à luz do valor da
causa não superior a quarenta salários-mínimos e pelo domicílio do réu.
Portanto, os requisitos para fixação da competência restam evidentes.
2. Da gratuidade
Determina o artigo 54 da Lei 9.099/1995, que independerá do pagamento de taxas,
despesas ou custas quando se tratar de ações submetidas ao rito do Juizado Especial.
Logo, não se tratando das hipóteses que abarcam o pagamento de taxas e custas
processuais, incide a gratuidade de peticionamento.
III – DO MÉRITO
i. Da inversão do ônus da prova

É sabido que, em se tratando de situações em que uma das partes se encontra em posição
de desigualdade jurídica, sendo obrigada a submeter-se à vontade da parte “mais forte”,
perfeitamente aplicável a inversão do ônus da prova.
Prescreve a norma do art. 4o, I, do CDC:
Art. 4º- A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o
atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade,
saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua
qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de
consumo, atendidos os seguintes princípios:
I - Reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo;
Portanto, aplica-se à presente lide as disposições do Código de Defesa do
Consumidor, Lei no 8.078/90, uma vez que o autor se caracteriza como
consumidor e a ré como fornecedora, nos termos dos artigos 2o e 3o do CDC.
Vejamos:
Art. 2º Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza
produto ou serviço como destinatário final.
Art. 3º Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional
ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem
atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação,
importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou
prestação de serviços.

(...)
§ 2º Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante
remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e
securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista. (grifei)

Ademais, nos termos do art. 6º, inciso VIII do CDC, é essencial que se declare a inversão
do ônus da prova no presente caso, de sorte a viabilizar a defesa dos direitos do
consumidor e, com a consequente inversão do ônus da prova, requer ainda a
responsabilização de forma objetiva da demandada em todos os pleitos requeridos na
inicial.
2. Da nulidade de cláusula contratual
Se depreende do contrato firmado entre as partes, contrato este anexo à petição, que:

Percebe-se que a cláusula é obscura quanto a especificar quais documentos que se,
extraviados, deveria ser pago a quantia de cem reais para se expedir uma segunda via.
Não obstante, a requerida, se utilizando desta cláusula, claramente fere o artigo 46 do
Código de Defesa do Consumidor que dispõe:
Os contratos que regulam as relações de consumo não obrigarão os
consumidores, se não lhes for dada a oportunidade de tomar conhecimento
prévio de seu conteúdo, ou se os respectivos instrumentos forem redigidos de
modo a dificultar a compreensão de seu sentido e alcance. (grifei)
Logo, é evidente que a cláusula contratual não torna claro quais documentos carecem de
pagamento para segunda expedição além de, eximir a requerida de assumir
responsabilidade por possíveis extravios que poderiam acontecer em suas dependências.
Diante da problemática da citada cláusula, é inequívoca a aplicabilidade do artigo 47 do
Código do Consumidor a fim de amparar o autor de abuso cometido pela requerida,
aplicando assim uma interpretação mais favorável ao autor e afastando a obscuridade da
cláusula imposta pela requerida.
Por fim, a abusividade da cláusula mencionada exonera a requerida de suas
responsabilizações e estabelece uma obrigação abusiva em face do autor.
3. Histórico de inadimplemento na prestação de serviços
Diante do tópico acima narrado, é necessário trazer à Vossa Excelência os seguintes
relatos extraídos das redes sociais de ex-contratantes de serviços da requerida.
É importante frisar que a maioria das reclamações são quanto aos serviços e
atendimentos prestados.
Fica evidente o comportamento constante da requerida em suas prestações de serviços e,
como relatado acima por um usuário, os clientes são cobrados para resolver questões que
a própria ré deveria fazer por estipulação contratual e sem ônus.
Portanto, Excelência, há evidente motivação da empresa em manter a má prestação de
serviços para apenas mover o capital financeiro da empresa, pois caso não fosse rentável,
a empresa não estaria ativa.
4. Dos danos morais
A ocorrência nesta petição relatada não pode ser entendida como apenas mero
aborrecimento, Excelência. É possível perceber que durante todo o processo de
habilitação erros injustificáveis, atrasos desnecessários, cobranças indevidas, abusos por
parte da requerida além dos comentários acima relatados são frequentes.
Portanto, resta indubitável a ocorrência de danos morais, e para melhor fundamentar este
tópico, segue julgados:
APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PRIVADO NÃO ESPECIFICADO. AÇÃO DECLARATÓRIA
DE RESCISÃO CONTRATUAL CUMULADA COM PERDAS E DANOS. DANOS
MORAIS. VALOR INDENIZATÓRIO. MAJORAÇÃO.
O quantum indenizatório, atendido o princípio da razoabilidade, deve ser fixado
considerando as circunstâncias do caso, o bem jurídico lesado, a situação
pessoal do autor, inclusive seu conceito, o potencial econômico do lesante, a
ideia de atenuação dos prejuízos do demandante e o sancionamento do réu a
fim de que não volte a praticar atos lesivos semelhantes contra outrem. JUROS
DE MORA. TERMO INICIAL. Os juros moratórios, tratando-se de responsabilidade
contratual, incidem desde a citação. APELAÇÃO PARCIALMENTE PROVIDA.
(TJ-RS - AC: 70065771289 RS, Relator: Marco Antonio Angelo, Data de
Julgamento: 17/12/2015, Décima Nona Câmara Cível, Data de Publicação:
20/01/2016) .
APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO DE RESCISÃO CONTRATUAL C/C INDENIZAÇÃO POR
DANOS – CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS – AUTOESCOLA –
CERCEAMENTO DE DEFESA – AFASTADO – DANOS MORAIS – NÃO
CONFIGURADO – SENTENÇA MANTIDA – RECURSO DESPROVIDO. O diploma
legal concede ao magistrado, destinatário final das provas, a prerrogativa de
avaliar sua efetiva conveniência e necessidade, advindo daí a possibilidade de
indeferimento das diligências inúteis ou meramente protelatórias. Assim,
inexiste nulidade quando o julgamento antecipado da lide decorre, justamente,
do entendimento do Juízo a quo de que o feito se encontrava devidamente
instruído. O c. STJ já pacificou que o dano moral advém do próprio fato, a
responsabilidade resulta do agente causador, dispensando a comprovação da
extensão dos danos, sendo estes evidenciados pelas circunstâncias do fato.
(grifei)
(TJ-MT 10105818720198110041 MT, Relator: SEBASTIAO BARBOSA FARIAS, Data
de Julgamento: 10/08/2021, Primeira Câmara de Direito Privado, Data de
Publicação: 16/08/2021).

Portanto, pelo tratamento desastroso, hostil e repulsivo da requerida para com o autor, é
perceptível a incidência de danos morais.
Após a ocorrência aludida, ocorrido em 9 de março de 2022, o autor não pôde concluir
com seu processo e realizar as aulas práticas e assim, sendo mais uma vez prejudicado
pela requerida uma vez que carece de transporte para chegar ao trabalho e onde reside
atualmente, não dispõe de transporte público de fácil utilização, logo, vem utilizando de
caronas quando disponíveis e transportes de aplicativo que vem gerando gastos
extraordinários em sua receita mensal.
Tendo em vista o prazo de doze meses estabelecido pelo Conselho Nacional de Trânsito, o
autor segue sendo lesado pela requerida por ter concluído a primeira etapa de seu
processo habilitatório e por completa má-fé da requerida, não tendo tido a oportunidade
de finalizá-lo.
É importante ressaltar, v. Excelência, de que a presente situação carece da maior
celeridade para que o autor possa contatar outra Autoescola para concluir seu processo
dentro do prazo supracitado tendo inclusive que arcar com uma nova contratação e
consequentemente, com os custos que atualmente está em média de R$ 3.000,00,
conforme consultas online.
5. Da indenização por danos materiais
As partes firmaram contrato com as condições de pagamento elencadas abaixo:
Ocorre também que o autor infelizmente não conseguiu realizar a prova teórica para
obtenção de autorização para realização das aulas práticas. Diante do ocorrido, a
requerida realizou cobrança no valor de R$ 180,00 (cento e oitenta) reais para realizar
junto ao Detran a remarcação o exame teórico do autor, conforme Nota fiscal emitida
pela ré:
Entretanto, a tabela abaixo, extraída do sítio do Departamento de Trânsito do Distrito
Federal (link: http://www.detran.df.gov.br/wpcontent/uploads/2019/01/Tabela-de-
Precos-2022-1.pdf ), apresenta o seguinte valor para a realização de teste teórico:

Tendo inclusive, veículos de informações noticiado reajustes para o exercício de 2022,


conforme reportado pelo site G1 no seguinte link: https://g1.globo.com/df/distrito-
federal/noticia/2021/12/31/detran-df-reajusta-precos-de-servicos-para-2022-veja-novos-
valores.ghtml , de onde é possível perceber que a atividade de exame teórico, sendo este
aplicado eletronicamente ou escrito, o valor cobrado pelo Detran-DF é de R$ 44,00
(quarenta e quatro reais).
Realizadas buscas nos serviços ofertados pelo Detran-DF, não existe a atividade de
“reteste” de exame teórico.
Diante das ocorrências, é cabível a aplicação do artigo 14 do CDC quanto à
responsabilização da requerida pela má prestação dos serviços contratualmente firmados
e sua condenação ao pagamento de danos materiais pelos danos pela ré causados, além
do artigo 39, inciso V, também do CDC, quanto às cobranças manifestamente excessivas.
IV – DOS PEDIDOS
Diante do exposto, requer:
A) O recebimento da presente ação e a citação da requerida para comparecer
pessoalmente à audiência de conciliação, a ser designada no ato da distribuição, sendo
que o não comparecimento importará na pena de revelia e presunção de veracidade dos
fatos aludidos;
B) A decretação de nulidade de cláusula obscura e abusiva que indevidamente cobra a
quantia de R$ 100,00 (cem reais), em casos de extravio de documentos e impõe o ônus ao
consumidor;
C) A condenação da requerida na incidência dos danos materiais, quais sejam:
c.1) o valor de R$ 1.800,00 (um mil e oitocentos reais), referente ao valor do
contrato;
c.2) o valor de R$ 180,00 (cento e oitenta reais), referente à cobrança indevida pela
segunda aplicação de teste teórico;
c.3) o valor de R$ 100,00 (cem reais), referente à cobrança indevida de reexpedição
de teste de aptidão;
D) A condenação da requerida no valor de R$ 6.060,00 (seis mil e sessenta reais), por
danos morais;
E) A aplicação do Código de Defesa do Consumidor, com a consequente inversão do ônus
da prova, nos exatos termos do art. 6º, VIII;
F) Informa ainda, em atenção ao art. 39, I, do Código de Processo Civil, que todas as
intimações deverão ser feitas em nome da procuradora ..., OAB... sob pena de nulidade.
Atribui-se à causa o valor de R$ 8.140,00 (oito mil, cento e quarenta reais).

Nestes termos,
Pede deferimento.
Ilhéus/BA, 8 de dezembro de 2023

ADVOGADO
OAB

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