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AO JUÍZO DE DIREITO DA ____ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE _____

WENDEL, estado civil, nacionalidade, profissão, pessoa física, inscrito no


Cadastro Nacional de Pessoas Físicas (CPF) sob o nº, com Registro Geral (RG) sob o nº,
endereço eletrônico, residente e domiciliado no endereço, Cidade/UF, vem respeitosamente
perante este juízo, por meio intermédio de seu advogado, conforme procuração (em anexo),
inscrito na OAB sob nº, com endereço profissional situado, e com endereço eletrônico, local
indicado para receber intimações (art. 77, V do CPC), propor

AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER CUMULADA C/ PEDIDO DE


DANOS MORAIS C/C PEDIDO DE TUTELA DE URGÊNCIA ANTECIPADA

Em face de 1- VIVA VIDA, pessoa jurídica, inscrita no CNPJ sob nº, endereço
eletrônico, situado no endereço, cidade/UF; 2- SALE ADMINISTRADORA DE
BENEFÍCIOS, pessoa jurídica, inscrita no CNPJ sob nº, endereço eletrônico, situado no
endereço, cidade/UF; e 3- SERASA EXPERIAM, pessoa jurídica, inscrita no CNPJ sob o
nº, com sede localizada no endereço, cidade/UF, pelos fatos e fundamento expostos a seguir.

I. DOS FATOS

O requerente possuía contrato com a empresa operadora de plano de saúde Viva


Vida, administrado pela empresa SALE Administradora de Benefícios, no valor mensal de
valor de R$ 634,31(seiscentos e trinta e quatro reais e trinta e um centavos), cujo vencimento
era dia 10 de cada mês.

Após anos utilizando os serviços, o requerente solicitou no dia 04/09/2021 o


cancelamento do plano de saúde, através do protocolo de ligação n° 123456789. Como se
observa a data de cancelamento foi anterior ao dia 10, dia do vencimento do plano, ocorre
que mesmo após o cancelamento o requerente recebeu uma cobrança no valor total de R$
634,31(seiscentos e trinta e quatro reais e trinta e um centavos).
Ao deparar-se com a injusta cobrança, o requerente entrou em contato novamente
com a requerida no dia 17/09/2021 sob o protocolo de ligação n° 87654321, com a finalidade
de contestar a cobrança abusiva, porém a requerida continuou em afirmar que o requerente
possui a responsabilidade de pagar o valor em sua totalidade. Mesmo após o requerente
tentar mais de 20 vezes por ligação solucionar o problema, solicitando o abatimento
proporcional do valor referente aos 24 dias de utilização, a requerida continuou por ignorar
a data de cancelamento do plano, na tentativa de o requerente realizar o pagamento do valor
injusto.

Ademais, após se negar realizar o pagamento por se tratar de cobrança abusiva, o


requerente foi surpreendido com o indevido registro de seus dados no Órgão de Proteção ao
Crédito SERASA EXPERIAN, sem previa notificação e direito de contestar, que
conseguintemente ocasionou a redução de seu Score.

II. DO MÉRITO
A) DA RELAÇÃO DE CONSUMO

A lei 8.078/90 dispõe sobre a proteção do consumidor, em seu art. 2º conceitua


quem será considerado consumidor e, nos termos do art. 3º, estabelece o conceito de
fornecedor em uma relação de consumo. Vejamos:

Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto
ou serviço como destinatário final.
Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional
ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade
de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação,
exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.

Da mesma forma, no art. 3º, § 2º do aludido diploma, conceitua serviço, assim


descreve:

Art. 3°, § 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo,


mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e
securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista.

Neste sentido, é indiscutível a caracterização de relação de consumo entre o


requerente, aqui consumidor, e as requeridas Viva Viva e Sale Administradora de
Benefícios, como prestadoras de serviço e logo, fornecedoras.

B) DA OBRIGAÇÃO DE FAZER
Ao nos deparamos com o narrado, é inegável que os atos praticados pelas requeridas
após o devido cancelamento violaram preceitos fundamentais da relação de consumo, como
o princípio da boa-fé objetiva, que estabelece na relação jurídica o dever de lealdade e
cooperação, evitando condutas lesivas, impondo ao fornecedor o dever de garantir termos
adequados da relação contratual.

Neste sentido, a falta de cumprimento do dever obrigacional das requeridas de


atender as exigências do consumidor mediante solicitação de abatimento do valor, de
cessação das cobranças excessivas em decorrência da falta de pagamento de um valor
injusto, e a falta de envio de previa notificação de negativação que, consequentemente
diminuiu seu score, causaram danos que deverão ser reparados.

Deste modo, fica clara a responsabilidade das requeridas VIVA VIDA, SALE
administradora de benéficos e SERASA EXPERIAN. Acima de tudo, possuem a obrigação
de fazer, respectivamente, enviando o valor devido referente aos dias que o plano estava
ativo, cancelando as cobranças excessivas, retirando a negativação do Órgão de Proteção ao
Crédito, e não menos importante, restabelecendo o score do consumidor.

C) DA VANTAGEM MANIFESTAMENTE EXCESSIVA

Conforme exposto, é indiscutível que as prestadoras de serviço médico-hospitalar


ao realizar a cobrança da totalidade da mensalidade exigiram do consumidor vantagem
excessiva, uma vez que há a desproporcionalidade entre os dias que o serviço se encontrava
ativo, anteriores ao dia 04/09, e os dias cobrados posteriores a data de cancelamento. Neste
sentido, o Código de Defesa do Consumidor conceitua em seu art. 39º, inciso V, como
prática abusiva a de requerer vantagem indevida ao consumidor.

Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas


abusivas: (Redação dada pela Lei nº 8.884, de 11.6.1994)
V - exigir do consumidor vantagem manifestamente excessiva;

Nestes moldes, decidiu o Tribunal de Justiça de São Paulo a respeito da onerosidade


das cobranças realizadas após o pedido de cancelamento de plano de saúde.

PLANO DE SAÚDE. RESCISÃO. Parte autora que requereu a declaração de


inexigibilidade de valores cobrados após o cancelamento. Sentença de
improcedência. APELAÇÃO. Insurgência da parte autora. PRELIMINAR.
Operadora alegou nas contrarrazões que o recurso não impugnou especificamente
os fundamentos da sentença. Razões recursais não estão divorciadas da solução de
mérito do julgado, dedicando-se a apelante a ventilar argumentos de fato de direito
que, no seu entender, podem ensejar a reforma da r. sentença. Ausência de
irregularidade. Arguição rejeitada. MÉRITO. Pessoa jurídica autora é pequena
empresa, a permitir a aplicação da legislação consumerista ao caso concreto, por
aplicação da Teoria Finalista Mitigada (Temperada ou Aprofundada).
Jurisprudência do STJ e precedentes do TJSP. Abusividade reconhecida. Previsão
contratual nula, pois estabelece obrigação abusiva, de modo a colocar os
consumidores em desvantagem exagerada e onerosidade excessiva, havendo
incompatibilidade com a boa-fé e a equidade (artigo 51, inciso IV e § 1º, inciso
III, do CDC). Jurisprudência do TJSP consolidada neste sentido. Entendimento
firmado nos autos da Ação Civil Pública nº 0136265-83.2013.4.02.5101, que
declarou a nulidade do disposto no parágrafo único do artigo 17, da Resolução
Normativa nº 195/2009 da ANS, o qual previa a antecedência mínima de 60 dias
para a rescisão unilateral dos contratos coletivos. Dispositivo cujo objetivo inicial
era conferir proteção aos beneficiários por certo tempo após o encerramento do
plano, mas esta finalidade foi desvirtuada de modo a causar onerosidade excessiva
aos contratantes e benefício desproporcional às operadoras. Norma não mais em
vigor. Sentença reformada julgar procedente a ação e afastar a exigibilidade do
débito cobrado pela operadora em face da empresa autora. RECURSO PROVIDO.
(TJ-SP - AC: 10601569620218260002 SP 1060156-96.2021.8.26.0002, Relator:
Maria Salete Corrêa Dias, Data de Julgamento: 12/05/2022, 2ª Câmara de Direito
Privado, Data de Publicação: 12/05/2022)

No mesmo sentido, a Agência Nacional de Saúde Suplementar – ANS, por


meio da resolução normativa - RN Nº 412, dispõe sobre a solicitação de cancelamento do
contrato do plano de saúde individual. No seu art. 4º, inciso II, prevê que o cancelamento
poderá ser realizado por meio de atendimento telefônico, demonstrando assim que o
cancelamento realizado pelo consumidor se encontra dentro da previsão normativa. Em seu
art. 6º, § 2º, dispõe que a comprovação do cancelamento será por meio de número de
protocolo. Na presente resolução, em seu art.15º, inciso III, declara a obrigação da prestadora
de serviço informar ao consumidor de forma clara e precisa sobre as contraprestações
pecuniárias vencidas anterior a data de cancelamento, evidenciando assim, que a cobrança
no valor total da mensalidade é desproporcional e contra regulamentação, haja vista que a
utilização do plano ocorreu apenas por 24 dias, sendo cabível o abatimento proporcional,
além de que, sequer o consumidor foi informado do valor no momento do cancelamento,
sendo surpreendido com a chegada do boleto de cobrança, frisa-se, abusivo.

Art. 4º O cancelamento do contrato de plano de saúde individual ou familiar


poderá ser solicitado pelo titular, das seguintes formas:
II – por meio de atendimento telefônico disponibilizado pela operadora;
Art. 6º A operadora deverá fornecer ao beneficiário comprovante do recebimento
de sua solicitação de cancelamento do contrato de plano de saúde individual ou
familiar.
§ 2º As solicitações realizadas por meio de contato telefônico serão comprovadas
pelo fornecimento imediato do protocolo de atendimento ao beneficiário.
Art. 15. Recebida pela operadora ou administradora de benefícios, a solicitação do
cancelamento do contrato de plano de saúde individual ou familiar ou de exclusão
de beneficiários em plano coletivo empresarial ou coletivo por adesão, a operadora
ou administradora de benefícios, destinatária do pedido, deverá prestar de forma
clara e precisa, no mínimo, as seguintes informações:
III – as contraprestações pecuniárias vencidas e/ou eventuais coparticipações
devidas, nos planos em pré-pagamento ou em pós pagamento, pela utilização de
serviços realizados antes da solicitação de cancelamento ou exclusão do plano de
saúde são de responsabilidade do beneficiário;

Neste tocante, resta claro a onerosidade da cobrança ao exigir o pagamento total do


valor de R$ 634,31(seiscentos e trinta e quatro reais e trinta e um centavos), visando
obtenção de vantagem manifestamente excessiva.

D) DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

Dessarte, presente a hipossuficiência do requerente e a falha na prestação de


serviços das requeridas VIVA VIDA, SALE ADMINISTRADORA DE CARTÕES e a
SERASA EXPIRIAN, é cabível a inversão do ônus da prova de modo que os fornecedores
de serviços demonstrem a inexistência de falha na prestação de serviço.

Art. 6º São direitos básicos do consumidor:


VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da
prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a
alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de
experiências;

Nesse sentido, quaisquer informações e alegações aqui expostas, devem ser


comprovadas pelas requeridas do contrário, além de serem obrigadas a prestar informações
que negam ao requerente.

Portanto, cabível a inversão do ônus da prova, razão pela qual deve ser mantida.

E) DA RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA

A operadora do plano de assistência à saúde VIVA VIDA e a administradora de


benefícios SALE, respondem pelo dano causado ao consumidor Wendel, em razão da falha
na prestação de serviços que ocasionou todo o transtorno até aqui narrado, haja vista que as
duas fazem parte do que é conhecido como a cadeia de fornecimento de serviços.

Conforme previsto nos art. 7º, parágrafo único, art. 25, §1º, e art. 34ºdo Código de
Defesa do Consumidor, em caso de danos, responde solidariamente as requeridas citadas,
que ficam obrigadas a repará-lo.

Art. 7°, Parágrafo único. Tendo mais de um autor a ofensa, todos responderão
solidariamente pela reparação dos danos previstos nas normas de consumo.
Art. 25. É vedada a estipulação contratual de cláusula que impossibilite, exonere
ou atenue a obrigação de indenizar prevista nesta e nas seções anteriores.
§ 1° Havendo mais de um responsável pela causação do dano, todos responderão
solidariamente pela reparação prevista nesta e nas seções anteriores.
Art. 34. O fornecedor do produto ou serviço é solidariamente responsável pelos
atos de seus prepostos ou representantes autônomos.

Ademais, a jurisprudência é uníssona a respeito do tema, vejamos: (grifo nosso)

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AGRAVO INTERNO. PLANO DE SAÚDE.


RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA ENTRE OPERADORA E
ADMINISTRADORA. TEORIA DA APARÊNCIA. JUÍZO DE PONDERAÇÃO
DE VALORES LEGÍTIMOS E CONFLITANTES. TUTELA DA VIDA E DA
SAÚDE. DECISÃO REFORMADA. AGRAVO PROVIDO. 1. As relações
jurídicas entre os usuários e as operadoras de planos de saúde submetem-se às
normas do Código de Defesa do Consumidor. Súmula 469/STJ. 2. A operadora e
a administradora do plano de saúde respondem, em face da teoria da aparência, de
forma solidária pela conduta praticada perante os segurados, nos termos constantes
do Código de Defesa do Consumidor. 3. Diante de um juízo de ponderação de
valores legítimos, porém conflitantes, não há dúvidas de que o sentido da tutela
jurisdicional haverá de ser sobre aquele que privilegie a vida, mesmo porque, até
o contrato entabulado entre as partes igualmente tinha no seu objeto o propósito
de tutelar esse bem maior ou a saúde do agravante. 4. Agravo de instrumento
conhecido e provido. Agravo interno prejudicado.
(TJ-DF 07237606720208070000 DF 0723760-67.2020.8.07.0000, Relator:
CARLOS RODRIGUES, Data de Julgamento: 14/10/2020, 1ª Turma Cível, Data
de Publicação: Publicado no DJE: 27/10/2020. Pág.: Sem Página Cadastrada)

É nítido a responsabilidade solidária, uma vez que se trata de uma relação


consumerista, e como exposto, toda cadeia de serviço deverá ser responsabilizada.

F) DO DANO MORAL

O dano moral deriva de violação a atributos inerentes ao direito da personalidade,


no que se insere o dano à honra, imagem, bom nome e fama, sendo assim, é o efeito não
patrimonial da lesão ao direito. Nesta lógica, configura-se dano moral sempre que alguém,
de maneira injusta, causar danos a outrem, sem com isso causar qualquer prejuízo material.

Com base nos fatos, é nítida a má prestação no serviço, bem como a lesão ao
consumidor, de forma repetida, demonstrando total desrespeito, causando diversos
transtornos à parte requerente, ultrapassando os limites da normalidade, que assim, motivam
a reparação por danos morais.

A Constituição Federal em seu art. 5º, V e X, incluiu no rol dos direitos


fundamentais, a proteção a moral. Vejamos:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:
V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da
indenização por dano material, moral ou à imagem;
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,
assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua
violação.

Do mesmo modo, o Código Civil buscou impedir as práticas capazes de lesar ou


causar danos a terceiros, trazendo em seus arts. 186 e 187, a responsabilização pelos danos
causado de forma ilícita a outrem.

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência,
violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato
ilícito.
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo,
excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela
boa-fé ou pelos bons costumes.

No mesmo sentido o art. 927º do referido diploma legal, prevê:

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito, causar dano a outrem, fica obrigado a repará-
lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de
culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente
desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos
de outrem.

Ademais, os danos morais são também aplicados como forma coercitiva, de modo
a conter a conduta praticada pela parte ré. Na aplicação do dano moral, devem ser levadas
em consideração as condições pessoais do ofendido, as condições econômicas do ofensor, o
grau de culpa e gravidade dos efeitos do evento danoso, a fim de que o resultado não seja
insignificante, a ponto de estimular a prática de atos ilícitos, nem represente enriquecimento
indevido da vítima.

Sem dúvidas os atos praticados pelas requeridas enquadram-se dentro das violações
previstas pela Constituição Federal e o Código Civil, tendo em vista que, mesmo diante das
provas apresentadas pelo requerente, não demonstram interesse em resolver, não atendendo
a solicitação do consumidor, bem como continuaram com as cobranças indevidas, causando
inúmeros transtornos que ultrapassam o mero aborrecimento.

1) DANO MORAL EM RAZÃO DA AUSÊNCIA DE NOTIFICAÇÃO

Como evidenciado acima, o requerente foi surpreendido com a negativação


indevida, o que demonstra que a requerida SERASA EXPERIAN não o notificou
previamente da possibilidade de ser inserido no cadastro de inadimplente, indo em
discordância com o previsto no Art. 43, § 2°, Código de Defesa do Consumidor, sem lhe ser
permitido o direito de contestar a inclusão de seus dados no Órgão de Proteção ao Crédito.

Art. 43. § 2° A abertura de cadastro, ficha, registro e dados pessoais e de consumo


deverá ser comunicada por escrito ao consumidor, quando não solicitada por ele.

Tal obrigação é entendimento jurisprudencial, conforme podemos enxergar na


Súmula a seguir exposta:

Súmula 359 STJ: Cabe ao órgão mantenedor do cadastro de proteção ao crédito a


notificação do devedor antes de proceder à inscrição.

Além disso, o Código Civil expressamente atribui o dever de indenizar quando por
ato ilícito, causar dano a outrem.

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica
obrigado a repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de
culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente
desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos
de outrem.

Deste modo, é cabível a condenação em danos morais da requerida, em virtude do


descumprimento de regulamentação, negativando o requerente de forma indevida sem o
permitir usar o seu direito de contestação.

2) DANO MORAL EM RAZÃO DA COBRANÇA INDEVIDA

A cobrança indevida se configura como dano moral indenizável, uma vez que as
adversidades por ela geradas transcendem o âmbito do mero aborrecimento. O art. 42 do
Código de Defesa do Consumidor estabelece que o fornecedor, no seu direito de efetuar
cobranças daqueles que se encontram inadimplente, não poderá os expor ao ridículo ou
constrangimento, neste sentido, ao ser realizada a cobrança em valor superior ao devido e
não atender as diversas solicitações de abatimento do valor, o consumidor claramente foi
exposto ao ridículo e passou por constrangimentos.

Art. 42. Na cobrança de débitos, o consumidor inadimplente não será exposto a


ridículo, nem será submetido a qualquer tipo de constrangimento ou ameaça.

Fica exposta abaixo o entendimento dos tribunais a respeito do fato:

DIREITO DO CONSUMIDOR. COBRANÇA ABUSIVA.


CONSTRANGIMENTO. DANO MORAL CARACTERIZADO. I. O teor do
disposto no art. 42 do CDC, na cobrança de dívidas, o consumidor inadimplente
não será exposto a ridículo ou submetido a qualquer tipo de ameaça ou
constrangimento. Com efeito, ao direito do credor de exigir o pagamento da dívida
se contrapõem os direitos à privacidade, à intimidade e a honra do devedor. II. O
conjunto probatório carregado aos autos revela que a ré efetuou cobranças de
forma insistente e degradante, além de inscrever o nome da autora nos órgãos de
proteção ao crédito, sem que fosse esclarecida a origem da suposta dívida,
perturbando, assim, a paz e o sossego. Há, portanto, dano moral a ser reparado.
III. Negou-se provimento ao recurso. (TJ-DF-07059465620188070018 DF
0705946-56.2018.8.07.0018, Relator: JOSÉ DIVINO Data de Julgamento:
11/04/2019, 6ª Turma Cível, Data de Publicação: Publicado no DJE: 22/04/2019)

Assim, fica evidenciado que ocorreu a violação dos dispositivos supracitados. As


cobranças efetuadas pela requerida são indevidas e vexatórias. E é relevante frisar que o
requerente buscou deliberar o problema em conjunto com o requerido, comprovando
mediante aos protocolos de atendimento, colocando em pauta que a cobrança deveria ser de
valor proporcional a data do cancelamento, mas não houve sucesso na busca de resolver a
lide.

Diante do contexto circunstancial e fático, é cabível e indispensável a devida


reparação indenizatória.

3) DO DANO MORAL EM RAZÃO DA NEGATIVAÇÃO INDEVIDA

Uma vez que é inexistente o débito atribuído ao requerente, é indiscutível que não
poderia haver a inscrição de seus dados no Órgão de Proteção ao Crédito, causando oscilação
no seu crédito no mercado, que é de saber de todos que a inscrição em cadastro de
inadimplente impossibilita de o consumidor aderir a formas de concessão de crédito no
mercado, conforme o Art. 54-D, II, do Código do Consumidor.

Art. 54-D. Na oferta de crédito, previamente à contratação, o fornecedor ou o


intermediário deverá, entre outras condutas: (Incluído pela Lei nº 14.181, de 2021)
II - avaliar, de forma responsável, as condições de crédito do consumidor,
mediante análise das informações disponíveis em bancos de dados de proteção ao
crédito, observado o disposto neste Código e na legislação sobre proteção de
dados; (Incluído pela Lei nº 14.181, de 2021)

Posto isso, é visível que o prejuízo ocorrido pela restrição de crédito no cadastro do
SERASA EXPIRIAN, propiciaram danos ao requerente de ordem econômico-financeira,
pois tais registros negativos dificultam o acesso ao crédito, visto que lhes imputaram um
histórico de mal pagador, ficando evidente o dever de indenizar da requerida supracitada em
danos morais.

4) DO DANO MORAL EM RAZÃO DA REDUÇÃO DO SCORE

Atualmente, a concessão de crédito no mercado financeiro ocorre mediante consulta


a órgão de proteção ao crédito, conforme previsão no art. 54-C, inciso II e 54-D, inciso II,
do código de defesa do consumidor, que, a depender da pontuação do score, é concedido ou
não. Neste sentido, a redução do score do consumidor mediante a restrição de seus dados de
forma indevida, ocasionou danos a sua moral, haja vista que, passou a ser visto no mercado
financeiro como mal pagador e irresponsável por não cumprir com suas obrigações,
consequentemente impedido o requerente de obter crédito no mercado.

Art. 54-C. É vedado, expressa ou implicitamente, na oferta de crédito ao


consumidor, publicitária ou não:
II - indicar que a operação de crédito poderá ser concluída sem consulta a serviços
de proteção ao crédito ou sem avaliação da situação financeira do
consumidor; (Incluído pela Lei nº 14.181, de 2021)
Art. 54-D. Na oferta de crédito, previamente à contratação, o fornecedor ou o
intermediário deverá, entre outras condutas:
II - avaliar, de forma responsável, as condições de crédito do consumidor,
mediante análise das informações disponíveis em bancos de dados de proteção ao
crédito, observado o disposto neste Código e na legislação sobre proteção de
dados;

Assim, demonstrada a negligência da empresa requerida ao negativar injustamente


o requerido e consequentemente diminuir seu score, é indiscutível o dever de indenizá-lo
pelo dano moral experimentado.

5) DO DANO MORAL EM RAZÃO DAS LIGAÇOES EXCESSIVAS

O requerente alega ter recebido inúmeras ligações da requerida SALE


ADMINISTRADORA DE CARTÕES, cobrando o débito inexistente, o colocando em uma
situação constrangedora ao ter que atender ligações em diversas ocasiões do seu dia,
atrapalhando sua vida privada e tendo que, em voz alta, tratar de um débito que não possui,
causando diversos transtornos, assim, é inevitável destacar o art. 42º do Código do
Consumidor, vajamos:

Art. 42. Na cobrança de débitos, o consumidor inadimplente não será exposto a


ridículo, nem será submetido a qualquer tipo de constrangimento ou ameaça.

Outrossim, o art. 71º do mesmo código também considera que toda cobrança
excessiva, que viole o direito do consumidor de trabalho, de lazer e descanso, além de o
expor ao ridículo com constrangimento moral e até mesmo afirmações falsas, é considerada
inflação penal.

Art. 71. Utilizar, na cobrança de dívidas, de ameaça, coação, constrangimento


físico ou moral, afirmações falsas incorretas ou enganosas ou de qualquer outro
procedimento que exponha o consumidor, injustificadamente, a ridículo ou
interfira com seu trabalho, descanso ou lazer: Pena Detenção de três meses a um
ano e multa.
Assim, como toda conduta de cobrança excessiva, é cabível a condenação da
requerida aqui citada ao pagamento de indenização por danos morais também neste tocante.

G) DO “QUANTUM” INDENIZATÓRIO

Há a abusividade nos comportamentos praticadas pelas empresas citadas desde as


cobranças indevidas, as ligações, a negativação, a restrição sem a notificação prévia bem
como a redução do score. Deste modo, é cabível o quantum indenizatório no valor total de
R$ 35.000,00 (trinta e cinco mil reais), com fundamento em todos os danos morais sofrido
pelo requerente, que é referente a proporcional gravidade do detrimento sofrido,
considerando a conduta das requeridas, fixando um valor de indenização de modo a
desestimular o ofensor a repetir o ato gravoso.

QUANTUM INDENIZATÓRIO - DANO MORAL. O dano moral possui


natureza jurídica compensatório-punitiva e visa compensar financeiramente a dor
sofrida pelo lesado, tendo por finalidade punir o lesante. Assim, o valor arbitrado
não pode ser tão elevado a ponto de gerar um enriquecimento sem causa para o
lesado, nem ser tão ínfimo que não sirva de lição ao lesante, para que tenha receio
e não mais pratique a conduta lesiva. (TRT 17ª R., ROT 0000368-
84.2017.5.17.0011, Divisão da 1ª Turma, DEJT 26/11/2019).
(TRT-17 - ROT: 00003688420175170011, Relator: DESEMBARGADOR
CLÁUDIO ARMANDO COUCE DE MENEZES, Data de Julgamento:
12/11/2019, Data de Publicação: 26/11/2019).

A repercussão negativa gerada pela inscrição indevida acarreta efeitos prejudiciais


em diversos aspectos da vida civil, não só limitando a obtenção de crédito, mas atentando
contra o patrimônio ideal formado pela imagem idônea do consumidor.

Assim, enseja na reparação por danos morais em virtude da péssima prestação de


serviço por parte das requeridas VIVA VIDA, SALE administradora de benefícios, e
SERASA EXPERIAN, levando em conta a cobrança em valor abusivo, as ligações
excessivas, a negativação, e a falta de aviso prévio, respectivamente.

H) DA TUTELA DE URGÊNCIA ANTECIPADA

Na narrativa, fica de forma explicita que o requerente cumpre os preceitos para


requerer tal ação judicial de tutela de urgência, com fulcro no artigo 300 do Código de
Processo Civil, vejamos:

Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que
evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado
útil do processo.
Diante dos argumentos expostos podemos vinculá-los aos requisitos do Fumus Boni
Iuris e Periculum in mora, além da prova evidente de verossimilhança.

A fumaça do bom direito é demonstrada quando o requerente, realizou o


cancelamento do plano em conformidade com o estabelecido, recebeu a cobrança em um
valor injusto e após diversas tentativas de resolução do conflito amigavelmente teve seus
dados negativados. O perigo da demora está evidenciado no tempo que o autor poderá ficar
sem ter acesso ao crédito no mercado financeiro, ficando sujeito a passar por mais
transtornos.

Nesse caso, conforme documentos apresentados (protocolos de cancelamento) não


existe motivo hábil para que as empresas requeridas prestadoras de serviço médico-
hospitalar tenha incluído o requerente no cadastro de inadimplentes, haja vista que o valor
cobrado é comprovadamente oneroso, viabilizando assim a ação nesse juízo designando a
retirada direta do nome do requerente, afirmando a forma ilícita, com total abuso de direito,
má-fé, desprezo ao consumidor, e imprudência nas ações prestadas por tais empresa.

Vale frisar que toda negativação reproduz lesão com árduo reparo, impactando a
importância do crédito que havia o requerente, de modo a diminuir o score. É importante
acentuar a boa-fé do requerente, ao usufruir desde o ano de 2013 o plano de saúde, pagando
suas faturas mensalmente, bom o perfil de comprometimento e responsabilidade, ratificando
assim a urgência em tirar seu nome do cadastro de inadimplentes.

Ademais, em todo caso percebe-se que o requerente acata todos os requisitos


almejados para a outorga da medida antecipatória, através da averiguação, antes mesmo da
deliberação do mérito.

Pelos presentes requisitos, requer a este douto juízo, nos termos do art.300 do CPC
e art. 84 § 3° do Código de defesa do consumidor, a remoção instantânea do requerente do
Cadastro de Proteção ao Crédito- Serasa, com forma de mitigar os efeitos causados que até
o exato momento aflige-se com as duras decorrências dos atos ilegais e precipitados
praticados pelas requeridas.

III. DOS PEDIDOS

Diante de todo o exposto, REQUER que este douto juízo se digne a receber a
presente Ação, apreciando:
a) Que seja acolhida o pedido de antecipação da tutela, visando a retirada imediata
dos dados do requerente do Órgão de Proteção ao Crédito com o
restabelecimento do score e a cessação imediata das ligações de cobranças, sob
pena de incorrer em multa diária a ser arbitrada por este juízo;
b) A citação das requeridas, para que, querendo, venham contestar os fatos
narrados (art. 336 do novo CPC), sob pena de arcar com os efeitos da revelia.
c) A inversão do ônus da prova, conforme o disposto no artigo 6º, inciso VIII,
do CDC (Lei 8.078/1990), caso seja necessário, naquilo que ao requerente for
de difícil comprovação em virtude da hipossuficiência, especialmente por se
tratar de informações que se encontra em posse das requeridas;
d) Seja declarado o reconhecimento da inexistência da dívida que originou a
inscrição no órgão de proteção ao crédito;
e) A condenação das empresas fornecedoras de serviços Viva Vida e Sale
Administradora de benefícios, que respondem solidariamente, ao pagamento de
indenização no valor de R$ 15.000,00 (dez mil reais) em razão do dano moral
ocasionado pela negativação indevida;
f) A condenação das empresas fornecedoras de serviços Viva Vida e Sale
Administradora de benefícios, que respondem solidariamente, ao pagamento de
indenização no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais) em razão do dano moral
decorrente das ligações excessivas de cobrança abusiva;
g) A condenação da requerida SERASA EXPERIAN no valor não inferior a R$
10.000,00 (dez mil reais), a serem arbitrados por Vossa excelência,
considerando os danos causados ao requerente em razão da falta de aviso prévio
e redução do score, de forma a coibir a prática dos mesmos atos.
h) Por derradeiro, requer a condenação das requeridas no pagamento das custas
processuais e honorários de sucumbência fixados por este douto juízo, nos
moldes do Art. 85, parágrafo 2º, do novo CPC.

Protesta provar o alegado por todos os meios de provas admitidos em direito, em


especial pelas provas documentais juntadas e outras que vierem a ser produzidas no curso
processual e o depoimento dos representantes das requeridas;

Dá-se à presente causa o valor de R$ 35.000,00 (trinta e cinco mil reais).

Termos em que, pede deferimento.


Cidade, data

Advogado

OAB/UF

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