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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA CÍVEL DA

CIDADE.

[ Formula-se pedido de tutela de antecipada de urgência ]

MARIA DE TAL, solteira, médica, residente e domiciliada na

Rua da X, nº. 0000, CEP 44555-666, nesta Capital, possuidora do CPF(MF) nº.
111.222.333-44, com endereço eletrônico ficto@ficticio.com.br, ora intermediada por seu
mandatário ao final firmado – instrumento procuratório acostado –, esse com endereço
eletrônico e profissional inserto na referida procuração, o qual, em obediência à diretriz
fixada no art. 77, inc. V c/c art. 287, caput, um e outro do CPC, indica-o para as intimações
que se fizerem necessárias, vem, com o devido respeito à presença de Vossa Excelência,
com suporte no art. 186 c/c art. 953, ambos do Código Civil e, ainda, arts. 6º, inc. VI, 12,
14, 18, 20 e 25, § 1º do CDC, ajuizar a presente

AÇÃO DE ANULATÓRIA C/C INDENIZAÇÃO,


COM PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA DE URGÊNCIA,
1
contra
( 01 ) EMPRESA DE CARTÃO DE CRÉDITO X S/A , pessoa jurídica de direito privado,
com sua sede na Av. Y, nº. 0000, em Ciade (PP) – CEP nº. 33444-555, inscrita no
CNPJ(MF) sob o nº. 33.444.555/0001-66, endereço eletrônico
cartão@cartao.com.br,

e solidariamente,

( 02 ) LOJA DE INFORMÁTICA LTDA, pessoa jurídica de direito privado, estabelida na


Rua Z, nº. 0000, nesta Capital – CEP nº. 55333-444, inscrita no CNPJ(MF) sob o
nº. 22.333.444/0001-55, endereço eletrônico informática@informatica.com.br,

em decorrência das justificativas de ordem fática e de direito abaixo delineadas.

INTROITO

( a ) Quanto à audiência de conciliação (CPC, art. 319, inc. VII)

A Autora opta pela realização de audiência conciliatória (CPC,


art. 319, inc. VII), razão qual requer a citação da Promovida, por carta (CPC, art. 247,
caput), para comparecer à audiência, designada para essa finalidade (CPC, art. 334, caput
c/c § 5º).

(1) – SÍNTESE DOS FATOS

2
A Promovente se utiliza dos serviços do Cartão de Crédito X há
mais de seis anos, cuja cópia do contrato (de adesão), ora se acosta. (doc. 01). Com esse
cartão, regularmente faz compras e pagamentos, por débito, em diversos no comércio
desta Capital; igualmente, fora dessa.

No dia 24 de janeiro de 2009, a Autora tivera furtado o cartão


supra-aludido. Todavia, não percebeu o ocorrido.

Tão somente na data de 02 de dezembro de 0000, foi que


recebeu comunicado da primeira Ré, dando conta que havia sido detectado
comportamento diferenciado nas suas últimas transações. Na ocasião, solicitara que
entrasse em contato com a Central de Atendimento pelo fone (xx) 111.222.333. Só aí, que
se deu conta do furto do cartão de crédito nº 777666555, antes descrito.

De pronto, registrou queixa de extravio na Delegacia de Polícia


da circunscrição do ocorrido, tendo recebido o BO 17377/0000. (doc. 02). Na mesma data,
também tomou as providências de registrar o episódio, por telefone, junto à primeira Ré,
pedindo o bloqueio imediato do citado cartão de crédito.

Entrementes, no vencimento seguinte, recebeu a fatura nº.


4.439.95, na qual constavam 03(três) compras, não realizadas por aquela junto à segunda
Ré. (doc. 03). Totalizaram o importe de R$ 2.745,95 (dois mil, setecentos e quarenta e
cinco reais e noventa e cinco centavos).

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Foi então que aquela, mais uma vez, tornou a manter contato
com a primeira Ré. Pedira o imediato cancelamento dessa fatura, porquanto realizadas
compras por terceiro(s).

Todavia, o pleito, de imediato, fora refutado pela atendente.


Argumentou que as compras haviam sido realizadas após o aviso do furto, à Central de
Atendimento. Asseverou, mais, que havia cláusula contratual expressamente dispondo
acerca desse procedimento/responsabilidade.

Por óbvio que a Autora não pagou aludida fatura, sobremodo


porque as compras não foram feitas por essa.

Porém, por conta disso, a Promovente recebera avisos de


inserção do seu nome junto ao SPC e na SERASA, justamente em face da aludida fatura
do cartão. (docs. 04/05)

Desse modo, promove a presente ação de sorte a se anular o


pretenso débito, além de requerer indenização por danos morais.

(2) – DO DIREITO

(2.1.) – RELAÇÃO DE CONSUMO CONFIGURADA

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Saliente-se, por oportuno, que o desenvolvimento desta ação
deve seguir o prisma da Legislação Consumerista. A relação em estudo é de consumo,
aplicando-se, maiormente, a inversão do ônus da prova. (CDC, art. 6º, inc. VIII)

Em se tratando de prestação de serviço, cujo destinatário final


é o tomador, no caso da Autora, é consomidor, prevalece o que o Código de Defesa do
Consumidor:

Art. 2º Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza


produtos ou serviço como destinatário final.

Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada,


nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que
desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção,
transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização
de produtos ou prestação de serviços.
§ 1° (...)
§ 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo,
mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de
crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter
trabalhista.

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Não bastasse isso, de bom alvitre relevar que as
administradoras de cartão de crédito são consideradas como instituições financeiras, por
equiparação, por isso submetendo-se ao CDC.

STJ - Súmula nº 283. As empresas administradoras de cartão de crédito


são instituições financeiras e, por isso, os juros remuneratórios por elas
cobrados não sofrem as limitações da Lei de Usura.

STJ - Súmula nº 297. O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às


instituições financeiras.

(2.2.) – DO LITISCONSÓRIO PASSIVO


RESPONSABILIDADE CIVIL SOLIDÁRIA

De outro contexto, em face, ainda, da Legislação


Consumerista, os réus figuram no polo passivo desta demanda, posto que são
solidariamente responsáveis:

CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR


Art. 25 – ( . . . )
§ 1º - Havendo mais de um responsável pela causação do dano, todos
responderão solidariamente pela reparação prevista nesta e nas seções
anteriores.

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A propósito:

APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANOS MORAIS E MATERIAIS.


PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE PASSIVA. INACOLHIDA. RESPONSABILIDADE
SOLIDÁRIA. EMPRESA QUE PARTICIPA DO MESMO GRUPO ECONÔMICO.
RELAÇÃO DE CONSUMO. PRELIMINAR DE NULIDADE DA SENTENÇA POR
CERCEAMENTO DE DEFESA INACOLHIDA. INCIDÊNCIA DO CÓDIGO DE DEFESA DO
CONSUMIDOR. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. VÍCIO NO PRODUTO. ATO ILÍCITO
CONFIGURADO. IMPOSSIBILIDADE DE ABATIMENTO DO VALOR DE DEPRECIAÇÃO.
EMPRESAS NÃO RESOLVERAM A PROBLEMÁTICA NO PRAZO LEGAL. MORA DO
JUDICIÁRIO NO JULGAMENTO. DANOS MORAIS CONFIGURADOS.
DESDOBRAMENTOS OFENSIVOS À HONRA E PERSONALIDADE. MAJORAÇÃO DO
QUANTUM INDENIZATÓRIO. OBSERVÂNCIA DOS PRINCÍPIOS DA
PROPORCIONALIDADE E RAZOABILIDADE.
01. Segundo prescreve o art. 18 do Código de Defesa do Consumidor, o
comerciante responde solidariamente pelo vício do produto comercializado,
cabendo ao consumidor exercitar sua pretensão contra um ou alguns daqueles
que intervieram na relação de fornecimento, ficando a cargo do demandado,
caso queira, manejar ação de regresso em desfavor de quem não compôs o polo
passivo da demanda, com vista à recomposição do status quo ante. 02. É
desnecessária a produção de prova pericial, quando existe suficiente conjunto
probatório para o livre convencimento motivado do Magistrado, pelo que deve
ser afastada a tese de nulidade da Sentença, por cerceamento de defesa. 03. No
caso dos autos, tem-se por configurada a prática de ato ilícito por parte das

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apelantes, que não repararam em tempo oportuno os vícios do produto
comercializado, o que enseja reparação por danos morais e materiais. 04.
Impossibilidade de abatimento do valor de depreciação do veículo por força do
lapso temporal, quando a demora pela resolução do problema, se deu, de um
lado, em razão das empresas não cumprirem com o seu dever de reparação do
produto quando verificado vício, dentro do prazo legal, e do outro, pela mora do
judiciário que somente sentenciou o feito de 2014 em 2020.05. A indenização por
dano moral deve ser graduada de modo a coibir a reincidência e obviamente o
enriquecimento da vítima e para sua fixação, exige-se a observância às condições
econômicas e sociais dos envolvidos, bem como a gravidade da falta cometida, na
busca por uma reparação repressiva e pedagógica, que proporcione uma justa
compensação pelo dano sofrido, tudo em observância aos princípios da
razoabilidade e da proporcionalidade, atinando para as peculiaridades de cada
caso concreto. RECURSOS CONHECIDOS. APELOS DAS DEMANDADAS NÃO
PROVIDO. RECURSO CONSUMIDOR PARCIALMENTE PROVIDO. DECISÃO
UNÂNIME. (TJAL; AC 0712606-97.2014.8.02.0001; Maceió; Primeira Câmara Cível;
Rel. Des. Fernando Tourinho de Omena Souza; DJAL 10/05/2021; Pág. 43)

Verdadeiramente, constada a negligência dos Promovidos,


devendo, por isso, responderem solidariamente.

(2.3.) – ABUSIVIDADE DA CLÁUSULA DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

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Como antes especificado, nas considerações fáticas, a primeira
Ré alegou, por telefone, por meio de seu serviço de atendimento ao cliente, que não era
pertinente o cancelamento das compras apontadas (feitas por terceiro). Para aquela, as
operações, que foram realizadas antes da ciência do furto, não são de sua
responsabilidade.

Sugere isso, até mesmo, da leitura da cláusula 18ª do contrato


de adesão firmado, a qual reza que:

“ a posse e o uso do cartão de crédito são de inteira responsabilidade do usuário,


sendo sua obrigação comunicar imediatamente à administradora qualquer perda,
furto, extravio ou roubo do cartão . . . “

Porém, tais fundamentos não têm consistência.

Existe a culpabilidade da administradora de cartão de crédito,


primeira ré, na medida que, de forma negligente, sem os devidos cuidados, acolheu
documentos articulados fraudulentamente por terceiro(s). Assim, permitiu fossem
realizadas as compras, sem a devida prudência.

Nesse compasso, o que pretende a Ré (primeira), com a


cláusula mencionada, é transferir ao consumidor as ações negligentes das casas
comerciais, muitas vezes em conluio com o estelionatário.

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As pessoas comuns, de praxe, não têm o hábito de conferir,
sistematicamente, se seus cartões de crédito, ou documentos, permanecem em sua
carteira. Apenas verificam, em regra, quando precisam utilizá-los.

As administradoras, na realidade, é quem têm (senão,


deveriam) métodos de segurança de seus produtos fornecidos. A exigência da
apresentação de Carteira de Identidade, e sua conferência, são medidas mínimas que se
deve adotar.

Nesse diapasão, essa cláusula contratual é nula. Mostra-se,


assim, despropositada e abusiva, eis que coloca o consumidor em desproporcional
vantagem, atribuindo-lhe obrigação excessivamente onerosa.

Com esse enfoque:

CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR


Art. 51 – São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais
relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:
[...]
IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem
o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a
boa-fé ou a eqüidade;

É altamente ilustrativo transcrever os seguintes arestos:


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AÇÃO DE COBRANÇA C/C INDENIZATÓRIA MOVIDA POR BENEFICIÁRIA DE
SEGURO CONTRA PERDA, ROUBO OU FURTO DE CARTÃO DE CRÉDITO, COM
CAPITAL SEGURADO. PEDIDO PAGAMENTO DA INDENIZAÇÃO CONTRATADA NOS
TERMOS DAS APÓLICES, ALÉM DE INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. SENTENÇA
DE PROCEDÊNCIA.
Inconformismo do Banco réu. Demanda que se queda aos ditames do CDC.
Responsabilidade objetiva, não se perquirindo culpa do prestador de serviços.
Violação contratual por parte da Banco. Negativa de cobertura que caracteriza
não só abuso de direito, mas verdadeiro ato ilícito. Observância aos princípios da
proporcionalidade e da razoabilidade. Após a segurada não efetuar o pagamento
da fatura do cartão de crédito onde constava a cobrança indevida, teve seu nome
incluído em cadastros restritivos de crédito. Cuidando-se de relação de consumo,
as cláusulas contratuais devem ser interpretadas de maneira mais favorável ao
consumidor, nos termos do que determina o art. 47 do CÓDIGO DE DEFESA DO
CONSUMIDOR. Precedente desta Câmara Cível, que ora se prestigia. -Apelação
Cível. Direito do Consumidor. Cartão de Crédito. Ação Indenizatória de Danos
Materiais e Morais. Alegação autoral de utilização indevida e não autorizada de
seu cartão, por meio de fraude praticada por terceiro. Sentença julgando
improcedente os pedidos autorais. Recurso da parte autora postulando,
preliminarmente, a anulação da sentença, sob o argumento de que não houve
pronunciamento pelo juízo de piso quanto à inversão do ônus da prova. No
mérito, requer a reforma total da sentença para que sejam julgados procedentes
os pedidos de declaração da inexigibilidade dos valores lançados em sua conta
corrente e na fatura do cartão de crédito e indenização pelos danos materiais e
11
morais sofridos pelo apelante. Ausência de decisão acerca da inversão do ônus
probandi que não impede a produção das provas necessárias à comprovação do
direito alegado. Autor vítima de fraude. O fato de o autor ter perdido o cartão
não afasta a responsabilidade do fornecedor do serviço. Para que haja a exclusão
da responsabilidade necessário que se trate de culpa exclusiva do consumidor, o
que não ocorreu nos presentes autos. Operações realizadas com o cartão
múltiplo do autor incompatíveis com o perfil do consumidor. Instituições
bancárias (ITAÚ Unibanco e Banco Itaucard) que não tiveram o cuidado de
observar as discrepâncias nas operações realizadas, autorizando, inclusive,
quando já havia ultrapassado o saldo do cliente. Compras realizadas no período
de cinco horas durante a madrugada. Fraude evidente. Contrato de seguro
firmado com a ré ITAÚ Seguros. Negativa de cobertura indevida. Cláusula
contratual que exclui de cobertura fraude de terceiros que se mostra abusiva.
Responsabilidade das rés, na qualidade de fornecedoras de serviços, é objetiva,
fundada na "Teoria do Risco do Empreendimento". Ato praticado por terceiro
fraudador não tem o condão de afastar o dever de indenizar (Súmula nº 479 do
STJ e 94 TJRJ). Devolução dos valores cobrados e pagos indevidamente na forma
simples, acrescidas de correção monetária a contar da data do desembolso e
juros de mora a contar da data da citação. Precedente do STJ e do TJRJ. Dano
moral neste caso configurado. Verba indenizatória que deve ser arbitrada em R$
10.000,00 (dez mil reais), acrescida de correção monetária a contar da publicação
do presente acórdão e juros de mora a contar da data da citação. PROVIMENTO
PARCIAL AO RECURSO- (0046931-63.2017.8.19.0001. Apelação. Rel. Des. Jds
Maria Celeste Pinto De Castro Jatahy. Julgamento: 18/04/2018. Décima Terceira
Câmara Cível).. Manutenção integral da sentença. Majoração dos honorários
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sucumbenciais. DESPROVIMENTO DO RECURSO. (TJRJ; APL 0023333-
48.2015.8.19.0002; Niterói; Décima Terceira Câmara Cível; Relª Desª Sirley Abreu
Biondi; Julg. 18/07/2018; DORJ 20/07/2018; Pág. 315)

(2.4.) – DEFEITO NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS

É inconteste que que as promovidas se enquadram na classe de


fornecedoras de serviços. (CDC, art. 3º) Lado outro, a parte promovente, igualmente,
ajusta-se à categoria de consumidora, máxime quando a mesma é destinatária final dos
serviços/produtos. (CDC, art. 2º)

É conta disso, há inegável relação de consumo.

Nesse passo, assentada o enlace consumerista, e, indiferente se há


conduta culposa do fornecedor, existindo defeito na prestação do serviço, alberga-se a
responsabilidade civil desse. (CDC, art. 14) É dizer, configura-se a teoria da
responsabilidade civil objetiva.

É de todo oportuno gizar o entendimento de Fábio Podestá, quando,


levantando considerações acerca da má prestação de serviços, leciona, ad litteram:

Aos sujeitos que pertencerem à categoria de prestadores de serviço, eu nã o


seja pessoas físicas, imputa-se uma responsabilidade objetiva por defeitos de
segurança do serviço prestado, sendo intuitivo que tal responsabilidade é
fundada no risco criado e no lucro que é extraído da atividade.

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O defeito do serviço tanto pode ser apurado em funçã o do modo de prestaçã o
(qualidade inadequada) ou na forma de comercializaçã o (informaçõ es
insuficientes ou inadequadas sobre sua fruiçã o e riscos) (Nessa linha
HERMAN E BENJAMIN, Comentá rios ao Có digo de Proteçã o ao Consumidor, p.
79).) (PODESTÁ , Fá bio; MORAIS, Ezequiel; CARAZAI, Marcos Marins. Código
de defesa do consumidor comentado. – Sã o Paulo: RT, 2010, p. 147)

Importa destacar arestos de jurisprudência, os quais traduzem,


especificamente tocante ao tema em espécie, a pertinência de se impor a condenação em
reparar os danos. Confiram-se:

RECURSO INOMINADO. CONTRATO DE CARTÃO DE CRÉDITO CONSIGNADO.


RELAÇÃO JURÍDICA DE NATUREZA CONSUMERISTA.
Aplicação do Código de Defesa do Consumidor - CDC. Ação declaratória negativa
de débito c/c condenação por danos morais e pedido de antecipação de tutela.
Anulatória de débito c/c danos morais e repetição do indébito. Juntada pela
defesa de contrato diverso do questionado na inicial. Ausência de prova da
liberação da quantia do cartão consignado em favor do recorrido. Consumidor
por equiparação. Falha na prestação do serviço que atrai a responsabilidade civil
objetiva do demandado recorrente. Inteligência dos arts. 14 e 17, do CDC.
Fortuito interno. Aplicação da Súmula nº 479 do STJ. Dever de indenizar
reconhecido. Dano moral configurado. Quantum indenizatório arbitrado em
r$5.000,00 (cinco mil reais). Valor que se adequa às peculiaridades do caso e aos
princípios da razoabilidade e proporcionalidade, dada a repercussão de
descontos indevidos na única fonte de subsistência do autor recorrido. Sentença14
de procedência mantida. Recurso inominado conhecido e improvido. Acórdãoos
membros da primeira turma recursal dos juizados especiais cíveis e criminais do
Estado do Ceará, por unanimidade de votos, e nos termos da manifestação do
juiz relator, acordam em conhecer e negar provimento ao recurso inominado - RI,
para manter incólume a sentença judicial vergastada. Condeno o demandado
recorrente vencido ao pagamento de custas processuais e honorários
advocatícios em 20% (vinte por cento), incidente sobre o valor da condenação
(art. 55, Lei n. 9.099/95).Fortaleza, CE. , 12 de abril de 2021. Bel. Irandes bastos
salesjuiz relator (JECCE; RIn 0000900-24.2018.8.06.0029; Primeira Turma Recursal
dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais; Rel. Juiz Irandes Bastos Sales; Julg.
12/04/2021; DJCE 19/04/2021; Pág. 395)

AÇÃO ANULATÓRIA DE NEGÓCIO JURÍDICO C.C. RESTITUIÇÃO DE VALORES E


INDENIZATÓRIA POR DANOS MORAIS.
Contratos de empréstimo pessoal e empréstimo realizado via cartão de crédito
com reserva de margem consignável (RMC). Hipótese em que, determinada a
realização de prova pericial grafotécnica, esta restou frustrada porque o banco
não colacionou aos autos os documentos originais a serem periciados. Prova
declarada preclusa. Regularidade das contratações não comprovada. Ausência de
prova que contrarie o direito alegado na inicial. Débito que deve ser mesmo
declarado inexigível. Dano moral caracterizado. Indenização fixada em R$
5.000,00, valor que não se afigura elevado para atender aos requisitos de sanção
da conduta do agente e concessão de lenitivo à vítima. Necessidade, contudo, de
devolução da quantia creditada pelo banco em conta-corrente da autora, a fim
de se restituírem as partes ao status quo ante. Sentença parcialmente reformada.
15
Recurso provido em parte. (TJSP; AC 1012912-98.2017.8.26.0007; Ac. 14458126;
São Paulo; Décima Sétima Câmara de Direito Privado; Rel. Des. Paulo Pastore
Filho; Julg. 16/03/2021; DJESP 22/03/2021; Pág. 2316)

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO ANULATÓRIA DE COBRANÇA DE TARIFAS DE ANUIDADE


DE CARTÃO DE CRÉDITO C/C RESTITUIÇÃO DE VALORES E INDENIZAÇÃO POR
DANOS MORAIS. DESCONTOS EM BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO (PENSÃO POR
MORTE NO VALOR DE UM SALÁRIO MÍNIMO). CONTRATAÇÃO NÃO
DEMONSTRADA PELA PARTE REQUERIDA. RESTITUIÇÃO EM DOBRO CABÍVEL.
DANO MORAL IN RE IPSA. FIXAÇÃO DE INDENIZAÇÃO A TÍTULO DE DANOS
MORAIS NO VALOR DE R$ 5.000,00. PRECEDENTES DESTE TRIBUNAL. SENTENÇA
ALTERADA. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO.
Não demonstrada, pela parte requerida, a existência de contrato válido que
legitime o desconto efetuado na conta corrente da autora, deve-se reconhecer a
invalidade do débito. É devida a devolução em dobro dos valores descontados
indevidamente da conta corrente da autora, além de tais descontos diretos da
conta corrente da autora configurar dano moral in re ipsa. Analisadas as
condições econômicas das partes, bem como a dupla finalidade da indenização, o
valor arbitrado a título de danos morais deve ser fixado de forma a reparar o
sofrimento da vítima e servir de desestímulo à reiterada prática da conduta pelo
causador do dano (fins pedagógicos), respeitando a proporcionalidade e
razoabilidade. Recurso conhecido e provido. Sentença singular reformada. (TJMS;
AC 0800710-44.2020.8.12.0044; Rel. Des. Amaury da Silva Kuklinski; DJMS
22/02/2021; Pág. 116)

16
Uma vez que, nessa situação, o dano é presumido, maiormente face
à má prestação do serviço, cabe à Promovida, por isso, desincumbir-se em comprovar a
regularidade nos préstimos ofertados.

(2.5.) – DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

A inversão do ônus da prova se faz necessária na hipótese em


estudo, vez que a inversão é “ope legis” e resulta do quanto contido no Código de Defesa
do Consumidor. (CDC, art. 14, § 3°, incs. I e II)

À Ré, portanto, cabe, face à teoria da inversão do ônus da


prova, evidenciar se a Autora concorreu para o evento danoso, na qualidade de
consumidora dos serviços; ou, de outro bordo, em face de terceiro(s), que é justamente a
regra do inc. II, do art. 14, do CDC, acima citada.

Nesse sentido, de todo oportuno evidenciar as lições de Flávio


Tartuce e Daniel Amorim Assumpção Neves, verbis:

Como antes se adiantou, decorrência direta da hipossuficiência é o direito à


inversã o do ô nus da prova a favor do consumidor, nos termos do art. 6º, VIII,
da Lei 8.0788/1990, que reconhece como um dos direitos bá sicos do
consumidor “a facilitaçã o da defesa de seus direitos, inclusive com a inversã o
do ô nus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for
verossímil a alegaçã o ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras
ordiná rias de experiências”. A matéria é de grande interesse para a defesa

17
individual e coletiva dos consumidores em juízo, assunto que será
aprofundado no Capítulo 10 da presente obra. (TARTUCE, Flá vio; NEVES,
Daniel Assumpçã o. Manual de Direito do Consumidor - Volume Único - Direito
Material e Processual [livro eletrô nico]. 5ª Ed. Sã o Paulo: Método, 01/2016.
Epub. ISBN 978-85-309-6893-9)

A tal respeito, colacionamos este ilustrativo julgado:

RECURSO DE APELAÇÃO. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS C/C


INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA. SERVIÇO DE QUIZ
NÃO CONTRATADO. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO PELO ACIONADO DA
REGULARIDADE DO NEGÓCIO OBJURGADO. TEORIA DO RISCO DO
EMPREENDIMENTO. DEVER DE INDENIZAR. DANO MORAL CONFIGURADO.
MANUTENÇÃO DO QUANTUM INDENIZATÓRIO. RECURSO DA PARTE PROMOVIDA
CONHECIDO E IMPROVIDO. RECURSO DO AUTOR NÃO CONHECIDO, POSTO
INTEMPESTIVO. 1 - Trata-se de relação de consumo e, portanto, aplica-se a Lei nº
8.078/90, sendo a responsabilidade civil da parte promovida/apelante objetiva,
baseada na teoria do risco, independentemente de culpa, aplicando-se ainda a
inversão do ônus da prova. 2 - Analisando-se o conjunto probatório dos autos,
verifica-se de fato a existência de faturas de cobrança no nome da parte autora
fls. 48/72 e prints da referida promoção fls. 13/47, provenientes de um suposto
contrato de serviços de interação de quiz não contratado pela parte promovente.
3 - O demandado, por sua vez, não se desincumbiu do ônus de comprovar a
legitimidade da transação questionada, deixando de juntar aos autos contrato

18
sob o negócio questionado. Dessa forma, responde de forma objetiva pelos
prejuízos causados ao consumidor, nos termos do art. 14, § 3º, I e II, do CDC. 4 -
Dano moral caracterizado, diante dos dissabores e constrangimentos vividos pela
parte autora. Quantum fixado de forma justa e razoável. 5 - Recurso da parte
autora não conhecido em razão da intepestividade. 6 - Recurso da parte
promovida conhecido e improvido. Sentença mantida. (TJCE; AC 0174203-
71.2015.8.06.0001; Quarta Câmara de Direito Privado; Relª Desª Maria do
Livramento Alves Magalhães; DJCE 11/05/2021; Pág. 97)

(2.6.) – PEDIDO DE TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA

Demonstrado, claramente, em tópico próprio, que fora feito


indevidamente o apontamento do nome da Autora junto aos órgãos de restrições. Desse
modo, necessita de tutela urgente de sorte a anular as inserções indevidas.

O Código de Processo Civil autoriza o Juiz conceder a tutela de


urgência, quando há “probabilidade do direito” e o “perigo de dano ou o risco ao resultado
útil do processo”:

Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que
evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao
resultado útil do processo.

19
Há, nos autos, “prova inequívoca” da ilicitude cometida pelas
Rés, fartamente comprovada por documentos imersos, máxime pelas várias
correspondência enviadas, pelo apontamento do título a protesto, e outros mais.

Dessarte, à guisa de sumariedade de cognição, os elementos


indicativos de ilegalidades são circunstâncias que demonstram que o direito muito
provavelmente existe.

Acerca do tema do tema, é do magistério de José Miguel


Garcia Medina as seguintes linhas:

. . . sob outro ponto de vista, contudo, essa probabilidade é vista como requisito,
no sentido de que a parte deve demonstrar, no mínimo, que o direito afirmado é
provável (e mais se exigirá, no sentido de se demonstrar que tal direito muito
provavelmente existe, quanto menor for o grau de periculum. (MEDINA, José
Miguel Garcia. Novo código de processo civil comentado ... – São Paulo: RT, 2015,
p. 472)
(itálicos do texto original)

Com esse mesmo enfoque, sustenta Nélson Nery Júnior,


delimitando comparações acerca da “probabilidade de direito” e o “ fumus boni iuris”, esse
professa, in verbis:

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“4. Requisitos para a concessão da tutela de urgência: fumus boni iuris: Também
é preciso que a parte comprove a existência da plausibilidade do direito por ela
afirmado (fumus boni iuris). Assim, a tutela de urgência visa assegurar a eficácia
do processo de conhecimento ou do processo de execução...” (NERY JÚNIOR,
Nélson. Comentários ao código de processo civil. – São Paulo: RT, 2015, p. 857-
858)
(destaques do autor)

Diante dessas circunstâncias jurídicas, faz-se necessária a


concessão da tutela de urgência antecipatória, o que também sustentamos à luz dos
ensinamentos de Tereza Arruda Alvim Wambier:

"O juízo de plausibilidade ou de probabilidade – que envolvem dose significativa


de subjetividade – ficam, ao nosso ver, num segundo plano, dependendo do
periculum evidenciado. Mesmo em situações que o magistrado não vislumbre
uma maior probabilidade do direito invocado, dependendo do bem em jogo e da
urgência demonstrada (princípio da proporcionalidade), deverá ser deferida a
tutela de urgência, mesmo que satisfativa. “ (Wambier, Teresa Arruda Alvim ... [et
tal]. – São Paulo: RT, 2015, p. 499)

No tocante ao periculum na demora da providência judicial,


urge demonstrar que a inserção do nome da Autora junto aos órgãos de restrições, sem

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sombra de dúvida, faz emergir incontáveis danos. Registro maior deve ser dado, para a
impossibilidade de se obter linha de crédito, talonários de cheques, etc.

Diante disso, a Autora vem pleitear, sem a oitiva prévia da


parte contrária (CPC, art. 9º, parágrafo único, inc. I c/c 300, § 2º), independente de
caução (CPC, art. 300, § 1º), tutela de urgência antecipatória no sentido de:

a) independente de qualquer caução ou outra garantia, seja cancelada a


inscrição do nome da Autora dos órgãos de restrições, expedindo-se,
para tanto, os devidos ofícios;

b) requer, ainda, que as Rés sejam intimadas a excluirem o nome da


Autora do cadastro da Central de Risco do Bacen, no prazo de 10(dez)
dias úteis, sob pena de multa diária de R$ 100,00;

c) subsidiariamente, requer que seja conferida a Autora prestar caução


fidejussória, com o fito do pronto atendimento da tutela de urgência
aqui almejada.

(3) – P E D I D O S e R E Q U E R I M E N T O S

POSTO ISSO,
como últimos requerimentos desta Ação, a Autora requer que Vossa Excelência se digne
de tomar as seguintes providências:
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3.1. Requerimentos

( i ) A Autora opta pela realização de audiência conciliatória (CPC, art. 319, inc. VII), razão qual
requer a citação da Promovida para comparecer à audiência, designada para essa finalidade (CPC,
art. 334, caput), antes apreciando-se a tutela de urgência solicitada;

( ii ) Requer seja deferida a inversão do ônus da prova.

3.2. Pedidos

a) Pede-se, mais, sejam JULGADOS PROCEDENTES OS PEDIDOS,


declarando-se nula a cláusula contratual de isenção de responsabilidade, assim
como a inexistência de dívida concernente aos lançamentos de débitos insertos na
fatura nº. 00000, e, por consequência:

( i ) a guisa de danos morais, pede-se a condenação solidária das Rés a


indenizarem a Promovente com a quantia de R$ 10.000,00 (dez mil reais);

( ii ) pleiteia, mais, ratificando-se a tutela antes deferida, que as Rés sejam


condenadas, por definitivo, a não inserirem o nome da Autora junto aos órgãos de
restrições e na Central de Risco, sob pena de pagamento de multa diária de R$
100,00 (cem reais), consoante as regras do art. 497 c/c art. 537 do CPC;

( iii ) pleiteia que seja definida por sentença a extensão da obrigação condenatória,
o índice de correção monetária e seu termo inicial, os juros moratórios e seu prazo
inicial (CPC, art. 491, caput);
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( iv ) por fim, sejam as Promovidas condenadas em custas e honorários
advocatícios, esses arbitrados em 20%(vinte por cento) sobre o valor da
condenação (CPC, art. 82, § 2º, art. 85 c/c art. 322, § 1º), além de outras eventuais
despesas no processo (CPC, art. 84).

Ainda que seja com o ônus invertido, protesta prova o alegado


por todos os meios admissíveis em direito assegurados em direito.

Dá-se à causa o valor da pretensão condenatória de R$


10.000,00 (dez mil reais). (CPC, art. 292, inc. V)

Respeitosamente, pede deferimento.

Cidade, 00 de julho de 0000.

Beltrano de tal
Advogado – OAB (PP) 112233

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