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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUÍZ DE DIREITO PRESIDENTE DO COLÉ GIO

RECURSAL DA COMARCA DE BARRETOS, ESTADO DE SÃ O PAULO.


Processo n° -
, bem como LEMOEL MENDES , já devidamente qualificados no processo em epígrafe, por
seu advogado infra-assinado, vem, mui respeitosamente, perante V. Ex. a ., com fundamento
no artigo 102, inciso III, alínea a da Constituiçã o da Repú blica Federativa do Brasil de 1988,
artigo 1.029 e seguintes do Có digo de Processo Civil (Lei 13.105/2015) e na Lei
8.038/1990, interpor RECURSO EXTRAORDINÁ RIO em face do acó rdã o proferido nas fls
175/178, que julgou prejudicado o recurso inominado interposto nos autos da açã o em
epígrafe, em face do recorrido S/A , também já qualificado nos autos.
Requer seja recebido e processado o presente recurso, intimando-se a parte contrá ria para
que ofereça, dentro do prazo legal, as contrarrazõ es e, apó s, seja o recurso admitido e
encaminhado com a inclusa das razõ es ao Egrégio Supremo Tribunal Federal.
Por fim, quanto à s custas, informa que o preparo e o porte de remessa e retorno nã o
precisam ser pagos, pois os recorrentes sã o beneficiá rios da Justiça Gratuita (fl. 34) .
Termos em que,
Pede e espera o deferimento.
Olímpia, 12 de novembro de 2019

RAZÕ ES DE RECURSO EXTRAORDINÁ RIO


Recorrentes: e;
LEMOEL MENDES
Recorrido: S/A.
Processo n°
Origem: SEGUNDA TURMA DO COLÉ GIO RECURSAL CÍVEL DA COMARCA DE
BARRETOS, ESTADO DE SÃ O PAULO .
Egrégio Supremo Tribunal Federal,
Colenda Turma,
Ínclitos Julgadores,
Os recorrentes, nã o se conformando com o acó rdã o de fls. 175/178, que julgou o recurso
inominado, vem, mui respeitosamente, apresentar as razõ es do presente recurso
extraordiná rio.

I - BREVE SÍNTESE DOS FATOS


O autor Lemoel pagava financiamento de um veículo junto ao recorrido feito em nome de
sua sogra, , enquanto empregado. Pouco depois de ter sido demitido, em setembro de
2018, consultou o recorrido pelo nú mero constante no carnê de pagamento (0800 ) acerca
do valor necessá rio à quitaçã o integral do financiamento. Apó s a ligaçã o, o respondeu
solicitando um e-mail para que o boleto fosse encaminhado. Minutos depois o autor
recebeu uma ligaçã o da instituiçã o financeira, confirmando os dados da titular do
financiamento, dizendo que teria um desconto no pagamento antecipado, e que o boleto
seria enviado em seu endereço de e-mail. O pagamento foi entã o efetuado no valor de .
Ocorre que, no mês de novembro, os recorrentes foram cobrados pelo recorrido e assim
descobriram ter sido vítimas de uma fraude conhecida como "golpe do boleto falso". Apesar
disso, continuaram a pagar as prestaçõ es de boa fé, mesmo com o fato de o rapaz estar
desempregado e as despesas de sua casa e educaçã o de seus três filhos serem custeadas
apenas com o salá rio de sua esposa que é professora, isso nã o só causou um
constrangimento emocional no casal, como uma rachadura no convívio familiar com a
possibilidade de ter o veículo apreendido, caso os pagamentos nã o fossem realizados, vindo
a culminar com o divó rcio do Autor e sua esposa, filha da coautora.
A instituiçã o recorrida foi acionada na tentativa de um acordo amigá vel, porém a mesma
resultou infrutífera, pois antes mesmo da audiência o réu já havia apresentado sua
contestaçã o e na audiência foi dado aos seus representantes a ordem de que NÃ O HAVERIA
PROPOSTA DE ACORDO.
Sendo assim, foram feitos os pedidos que se desse a devoluçã o do valor pago pela
totalidade do contrato ou a quitaçã o do financiamento, a devoluçã o das parcelas pagas
depois do acordo e indenizaçã o por danos morais .
O Juízo de primeira instâ ncia deliberou por julgar a lide, advindo a seguinte sentença:
"Vistos.
I. Dispensado o relatório (art. 38, da Lei n° 9.099/95)
FUNDAMENTO e DECIDO.
II. Procedo ao julgamento antecipado da lide, na forma do artigo 355, inciso I, do Código de Processo Civil, uma vez
que a matéria controvertida não exige instrução probatória.

Nã o há preliminares a serem apreciadas.


No mérito, o pedido é procedente em parte .
O autor Lemoel afirma que, em 21/09/2018, consultou o banco requerido acerca do valor necessário à quitação de
um financiamento veicular em nome da autora Maria. Após a ligação, o banco respondeu solicitando um e-mail
para que o boleto fosse encaminhado. O pagamento foi efetuado no valor de R$ 10.645,60.
Ocorre que, no mês seguinte, os requerentes receberam cobranças do requerido e descobriram que haviam sido
vítimas de uma fraude conhecida como "golpe do boleto falso". Apesar disso, continuaram a pagar as prestações
para evitar negativações. Pedem a devolução do valor pago pela totalidade do contrato ou a quitação do
financiamento, a devolução das parcelas pagas depois do acordo e indenização por danos morais.
Na contestação, o réu sustenta que em seu "site" contavam diversas recomendações de segurança para
pagamentos de boletos. Alega que não houve falha na prestação de seus serviços e que os autores efetuaram o
pagamento sem as devidas cautelas. Atribui aos requerentes a responsabilidade pelos danos suportados. Requer a
improcedência dos pedidos e recusa a tese dos danos morais.
A relação descrita nos autos é de consumo, estando autores e réu enquadrados nos conceitos de consumidor e
fornecedor, respectivamente, nos termos dos artigos 2° e 3°, do CDC.
"Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário
final. Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja
intervindo nas relações de consumo. Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada,
nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção,
montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de
produtos ou prestação de serviços. § 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante
remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária , salvo as decorrentes das
relações de caráter trabalhistas".
Assim a responsabilidade contratual do requerido é objetiva, respondendo, independentemente de culpa, nos
termos dos arts. 14, 18 e 22, do CDC, pela reparação de danos causados pelo defeito do produto ou má prestação
do serviço. Contudo, não se descarta a responsabilização subjetiva em caso de omissão juridicamente relevante.
Nota-se que, provavelmente por falhas intrínsecas de segurança nos sistemas do banco réu, os dados bancários e
pessoais dos requerentes foram acessados por terceiros. Os fraudadores encaminharam e-mail aos autores com os
"timbres" e dados do requerido, enviando o boleto para pagamento integral do débito logo depois do contato
inicial por parte do requerente (fls. 106/111).
A responsabilidade do réu está evidenciada pelo fato de o serviço não proporcionar a segurança que dele se
espera, pois permitiu a interceptação de dados sigilosos de seus clientes, configurando-se inegável falha na
prestação do serviço.
No caso dos autos, o requerido poderia ter evitado a fraude adotando meios seguros de negociação e
comunicação com os clientes. Poderia, por exemplo, gravar o diálogo contendo orientações adequadas sobre o
procedimento, ou, ainda, convidar o cliente a comparecer à agência. Poderia, até mesmo, encaminhar o boleto
mediante carta com aviso de recebimento. Não tomando medidas adequadas para preservar a autenticidade da
negociação, o banco deverá arcar com o risco inerente à atividade que desempenha. Portanto, entendo justo e
razoável que o réu dê quitação ao contrato de financiamento veicular em nome da autora Maria (n° ) e restitua aos
autores as quantias pagas depois da liquidação contratual.
Já em relação ao pedido de indenização por dano moral, este não deve prosperar, haja vista que não ficou
demonstrado nos autos que tenham os requerentes sofrido humilhação. O incômodo experimentado por eles não
extrapolou a esfera dos aborrecimentos cotidianos, não tendo lhes causado nenhum constrangimento, dor ou
abalo psíquico capaz de ensejar a reparação pretendida. Além disso, o réu não chegou a incluir o nome dos autores
nos órgãos de proteção ao crédito (SCPC/SERASA).
Neste sentido, o E. Superior Tribunal de Justiça já decidiu: "O mero dissabor não pode ser alçado ao patamar de
dano moral, mas somente aquela agressão que exacerba a naturalidade dos fatos da vida, causando fundadas
aflições ou angústias no espírito de quem ela se dirige" (Resp. 215666/RJ, 4a T. Rel. Ministro César Asfor Rocha,
21.06.01, DJ 29.10.01).
III. Ante o exposto, JULGO PROCEDENTE EM PARTE a pretensão deduzida por MARIA APARECIDA DE SOUZA
RAMOS e LEMOEL MENDES em face do BANCO PAN S.A para:
A) CONDENAR o requerido a dar quitação ao contrato de financiamento veicular em nome da autora Maria (n° ),
tornando definitiva a tutela de urgência concedida às fls. 41/42;
B) CONDENAR o requerido a devolver aos autores as quantias pagas após a liquidação do contrato (21/09/2018 -
fls 19), as quais deverão ser corrigidas monetariamente pela Tabela Prática do Tribunal de Justiça a partir de cada
desembolso, acrescidas de juros de 1% (um por cento) ao mês a partir da citação.
Desacolhe-se o pedido de indenização por danos morais.
Sem custas e honorários advocatícios nesta fase, nos termos do artigo 55, caput, da Lei n° 9.099/95.

P.I.C.
Olímpia, 8 de maio de 2019."
Inconformados, tanto autores como réus apresentaram recurso inominado, pois para os
autores os danos sofridos em ordem extra patrimonial, justificavam o recebimento da
devida indenizaçã o, uma vez que a empresa, mesmo diante de ordem judicial, continuou a
efetuar as cobranças impondo pressã o sobre a titular do financiamento (fl. 112), além do
mais, a mesma teria valor pedagó gico para que tais problemas nã o atingissem outros
usuá rios dos serviços prestados. Ao passo que o réu apenas se ateve em imputar sobre os
autores a responsabilidade de identificar padrõ es técnicos impossíveis de se observar até
mesmo à s pessoas com formaçã o mais avançada.
Em resposta aos referidos recursos, os julgadores expediram teratologicamente o seguinte
acó rdã o:
"(...)
Com efeito, a demanda é decorrente de modalidade da fraude conhecida comumente como "golpe do boleto".
Em princípio, as instituições financeiras respondem objetivamente por atos ilícitos de terceiro no campo de sua
atividade bancária, consoante dispõe a Súmula 479 do Superior Tribunal de Justiça: "As instituições financeiras
respondem objetivamente pelos danos gerados por fortuito interno relativo a fraudes e delitos praticados por
terceiros no âmbito de operações bancárias".
Ocorre que no caso em tela não houve demonstração de que os dados obtidos pelo fraudador foram efetivamente
obtidos junto ao banco réu, sendo certo que o boleto falsificado foi enviado por fraudador diretamente à caixa
postal eletrônica do autor (fls. 106/107).
A alegação de que teria havido vazamento de dados sigilosos da cliente não encontra nenhum elemento de
corroboração, tratando-se de mera ilação.
Perceba-se que a vítima registrou Boletim de Ocorrência após os fatos, e apresentou relato diferente do que
consta na inicial, não descrevendo a suposta primeira ligação telefônica que teria partido de sua iniciativa, ocasião
em que teria sido informada do valor necessário para quitação do financiamento (R$ 13.327,83).
De fato, consta no histórico do Boletim de Ocorrência que, na realidade, a parte autora simplesmente recebeu
uma ligação de pessoa que se apresentava como preposta do banco e ofereceu proposta para pagamento
antecipado, em valor diverso, prontamente aceita (R$ 10.645,60 - fls. 20/21).
Assim sendo, é possível que a própria parte autora tenha fornecido as informações pessoais que constam no
boleto fraudado (fl. 19), como sói ocorrer em casos semelhantes.
Ademais, nota-se que o boleto enviado, e que serviria para quitar antecipadamente as prestações vincendas do
contrato de financiamento automotivo, tinha valor bem inferior (R$ 10.645,60) ao que supostamente havia sido
informado pelo banco como devido na ligação telefônica prévia, mantida na mesma data (R$ 13.327,83).
Além disso, constou claramente no comprovante de pagamento (vide documento - fl. 19) que o emissário do
boleto era o "Banco Intermedium S/A" (quando deveria ser o "Banco Pan S/A"), bem como que o beneficiário do
dinheiro seria "Banco Inter S/A" (quando deveria ser o "Banco Pan S/A"), e que o pagador do boleto era "Mario
Lucas Cavalcante de Barros, CPF n° " (quando o certo seria a autora Maria Aparecida de Souza Ramos, CPF ).
A despeito de todas as graves divergências, manifestamente indicativas da fraude, o autor procedeu com a
quitação do boleto falsificado.
Portanto, está-se diante de hipótese de culpa exclusiva de terceiro, ou de culpa exclusiva da vítima, não tendo o
banco réu participado, ainda que na modalidade culposa, dos infelizes fatos narrados na exordial.
Inaplicável o princípio da responsabilidade objetiva do banco réu, pois o boleto não foi obtido por meio dos seus
sistemas informatizados, mas recebido por e-mail enviado por terceiro, em nome da suposta sacadora do título.
Vale dizer, os lamentáveis fatos descritos na petição inicial não advieram da prestação de serviços do banco
corréu, que teve simplesmente seu nome utilizado por fraudadores para iludir a vítima, sem que tenha,
efetivamente, praticado alguma conduta que comporte questionamento. O nexo de causalidade está ausente.
Em tese, porém, seria possível a responsabilização do banco que emitiu o boleto fraudado e foi efetivamente
usado para concretização da fraude, no caso, o "Banco Inter S/A" (atraindo, aqui sim, o primado da Súmula 479 do
STJ), o que deve ser objeto de demanda própria.
Assim sendo, DOU PROVIMENTO AO RECURSO DO RÉU , para julgar improcedente a ação, nos termos do art. 487,
I, NCPC, ficando prejudicado o recurso inominado interposto pelos autores.
Incabíveis os encargos da sucumbência, pois a recorrente não ficou vencida, nos termos do art. 55 da Lei n°
9.099/95

RELATOR"
Infelizmente, os argumentos utilizados pelo Colendo colégio Recursal do município de
Barretos é eivado de obscuridade e de falhas de avaliaçã o material, motivo pelo qual, foi
alvo dos devidos Embargos de declaraçã o (Embargos de Declaraçã o Cível - /50000), os
quais foram teimosamente rejeitados, pois o erro de avaliaçã o material é cristalino
(conforme será exposto adiante), ainda assim, tal decisã o proferida fere as seguintes
normas constitucionais:
 Direito 1 - Art. 5°, caput - Dano ao princípio da isonomia quando nã o
reconhece a hipossuficiência técnica suprimindo o direito à inversã o o ô nus da prova, o que
coloca o consumidor, hipossuficiente, em igualdade diante do prestador dos serviços
perante a Lei;
 Direito 2 - Art. 5°, V - Dano material gerado pelo vazamento de informaçõ es
sigilosas do cliente dos sistemas do provenientes de grave falha na prestaçã o do serviço;
 Direito 3 - Art. 5°, X - Dano material decorrente da violaçã o de seus dados,
afrontando dessa forma sua intimidade e vida privada;
 Direito 4 - Art. 5°, XII - Sigilo da comunicaçã o telefô nica foi vituperada por
cristalina falha de prestaçã o de serviço por parte da instituiçã o financeira;
 Direito 5 - Art. 5°, XXXII - Nã o obstante os fatos apresentados, a
responsabilidade objetiva da instituiçã o financeira e a lesã o propriamente dita quanto à
prestaçã o de serviço, o acó rdã o proferido fere diretamente a proteçã o devida do Estado ao
consumidor quando, desconsiderando a verossimilhança e a hipossuficiência (ambos
presente no caso), omitem a devida inversã o do ô nus da prova, garantido ainda pelo inciso
VIII do art. 6° do CDC, e imputa ao lado hipossuficiente, tanto financeiro quanto (ainda
mais) técnico, a obrigaçã o de identificar as falhas oriundas da prestaçã o do serviço da
instituiçã o, a saber, a tarefa impossível diante de suas condiçõ es de produzir provas;
Desta forma, faz-se necessá rio a referida reforma do acó rdã o prolatado, conforme será , a
seguir, demonstrado.

II - PRELIMINARMENTE
II.1 - DOS PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE ESPECÍFICOS
II.1.1 - DA REPERCUSSÃ O GERAL
Por força do § 3° acrescentado ao artigo 102, III da CRFB de 1988, pela Emenda
constitucional de n° 45/04, os recorrentes demonstram, neste capítulo preliminar e
autô nomo, que já repercussã o geral nas questõ es constitucionais discutidas no presente
caso, apta a ensejar a admissibilidade do apelo extraordiná rio por este Colendo Supremo
Tribunal Federal.
De acordo com o § 1° do art. 1.035 do CPC de 2015: " Para efeito da repercussã o geral, será
considerada a existência, ou nã o, de questõ es relevantes do ponto de vista econô mico,
político, social ou jurídico, que ultrapassem os interesses subjetivos do processo".
Assim, a preliminar re Repercussã o Geral é um instrumento processual inserido na
Constituiçã o Federal de 1988, por meio da Emenda Constitucional 45, de modo a
possibilitar que o Supremo Tribunal Federal selecione os Recursos Extraordiná rios que irá
analisar, de acordo com critérios de relevâ ncia jurídica, política, social e/ou econô mica.
O uso desse filtro recursal resulta numa diminuiçã o do nú mero de processos encaminhados
à Suprema Corte. Uma vez constatada a existência de repercussã o geral, o STF analisa o
mérito da questã o e a decisã o proveniente dessa aná lise será aplicada posteriormente
pelas instâ ncias inferiores, em casos idênticos.
In casu , existem questõ es relevantes do ponto de vista jurídico, econô mico e social que
ultrapassam os interesses subjetivos da causa.
II.1.1.1 - DESDOBRAMENTOS NA ESFERA SOCIAL
Os desdobramentos na esfera social se vislumbram, a despeito de todo o alegado, com
riqueza de provas e detalhes, tanto a instituiçã o financeira quanto o Colégio Recursal da
Comarca de Barretos, de forma gritante, ignoraram o fato de os recorrentes serem
hipossuficientes em um contesto geral. Nã o falamos aqui apenas da hipossuficiência
financeira que garante aos Autores do presente recurso a Gratuidade de Justiça, mas, ainda
mais grave, a HIPOSSUFICIÊ NCIA TÉ CNICA , a qual é garantida ao consumidor pelo artigo
6°, inciso VII do CDC, sendo que a mesma visa preservar o incauto, o inciente, aquele que
por falta de cultura ou de experiência ordiná ria, se deixa ludibriarem um contato realizado
a cerca de relaçã o de consumo. Assim, a Lei inverte o ô nus da prova, na defesa do
hipossuficiente técnico, transferindo ao produtor ou prestador de serviço, em geral, o ô nus
de provar sua inocência.
É sabido que, até o advento da Lei de defesa do consumidor, o ô nus de provar a culpa do
produtor ou do prestador do serviço era do consumidor, assim, com a Lei, basta justificada
assertiva do consumidor, de que há vício no produto ou na prestaçã o de serviço, de ordem
qualitativa ou quantitativa, para transferir ao prestador ou produtor o ô nus de provar sua
inocência.
Para tanto cabe ao prestador de serviço, para eximir-se da culpa, provar de forma
incontestá vel, a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.
Tal inversã o do ô nus da prova está , no entanto, sujeita a dois pressupostos expressos no
inc. VII do art. 6° do CDC: a verossimilhança (como foi sabiamente reconhecida na decisã o
de primeira instâ ncia fls. 122/124) e a alegaçã o da hipossuficiência (como foi constatada
durante toda a movimentaçã o processual, principalmente na manifestaçã o à contestaçã o -
fls. 99/105). Assim esclarece o Desembargador (Princípios Gerais do Có digo de defesa do
Consumidor: Visã o Histó rica, publicado na Revista da EMERJ, vol. 2, n° 06, 1999):
"Não há que se confundir aqui, hipossuficiência técnica, a respeito das regras ordinárias de experiência, com a
hipossuficiência econômica, responsável pela concessão da Justiça Gratuita aos que não possam enfrentar as
custas judiciais sem o desfalque do necessário ao seu sustento, nos termos da Lei n° 1060/50 (Lei da Assistência
Judiciária).
Aqui, a Lei quis proteger o leigo, o incauto, aquele que, por falta de cultura ou de experiência ordinária, se deixa
ludibriar em um contrato de consumo, do qual lhe resultem danos materiais ou morais."

Aliá s, o inciso VII, do art. 6° do CDC, ao reconhecer a vulnerabilidade do consumidor no


mercado de consumo, assegurando o acesso aos ó rgã os judiciais e administrativos como
um de seus direitos bá sicos, referiu-se à proteçã o jurídica, administrativa e técnica dos
necessitados.
In casu , nã o há como se exigir que um soldador de boias de aproximadamente quarenta
anos e uma senhora de 68 anos possa ter conhecimento técnico suficiente para identificar a
inveracidade ou a autenticidade de um título bancá rio através do có digo de barras, fato que
mesmo pessoas de uma cultura mais elevada têm dificuldades em precisar. Assim sendo
pode-se identificar o risco social que o referido acó rdã o representa.
II.1.1.2 - DESDOBRAMENTOS NA ESFERA JURÍDICA
A repercussã o geral jurídica também resta caracterizada porque, em se tratando de
responsabilidade que, legalmente se entende por objetiva da instituiçã o, o acó rdã o
guerreado torna-se um perigoso precedente a outros julgados, como, por exemplo, os
seguintes :
"CONSUMIDOR. CERCEAMENTO DE DEFESA NÃO CONFIGURADO. P AGAMENTO DE BOLETOS BANCÁRIOS.
ADULTERAÇÃO DO NÚMERO DO CÓDIGO DE BARRAS. FRAUDE. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DA INSTITUIÇÃO
FINANCEIRA . 1. DESNECESSÁRIA A OITIVA DAS PARTES OU A REALIZAÇÃO DE PERÍCIA QUANDO OS ELEMENTOS DE
PROVAS CONSTANTES NOS AUTOS - SOBRETUDO OS COMPROVANTES DE PAGAMENTO E RELATÓRIOS DO BANCO -
PERMITEM O BOM JULGAMENTO DO FEITO. 2. SE AS EVIDÊNCIAS DOS AUTOS INDICAM A OCORRÊNCIA DE
FRAUDE NO PROCESSAMENTO DO PAGAMENTO DE BOLETO BANCÁRIO POR MEIO DO SISTEMA BANKNET, MERECE
SER CONFIRMADA A SENTENÇA QUE, FUNDAMENTADA NA RESPONSABILIDADE
OBJETIVA DO FORNECEDOR DE PRODUTO OU SERVIÇOS, CONDENOU O BANCO A RESTITUIR AO CORRENTISTA A
QUANTIA INDEVIDAMENTE DEBITADA . 3. RECURSO CONHECIDO. PRELIMINAR REJEITADA. NO MÉRITO, NEGADO
PROVIMENTO. 4. ACÓRDÃO LAVRADO NA FORMA DO ART. 46 DA LEI 9.099/95. 5. RECORRENTE CONDENADO A
PAGAR AS CUSTAS PROCESSUAIS E OS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS, ESTES FIXADOS EM 10% DA VERBA
CONDENATÓRIA.(TJ-DF - ACJ: 0019853- 69.2013.8.07.0001, Relator: EDI MARIA COUTINHO BIZZI, Data de
Julgamento: 06/08/2013, 3a Turma Recursal dos Juizados Especiais do Distrito Federal, Data de Publicação:
Publicado no DJE: 16/08/2013. Pág.: 268)."

Bem como:
"RESPONSABILIDADE CIVIL DANO MATERIAL E MORAL Serviços Bancários Adulteração do código de barras em
boleto de pagamento que gerou crédito em conta de terceiro. Arguição de fraude praticada por terceiro que não
afasta a responsabilidade do banco responsável pelo pagamento, em atenção ao risco da atividade que desenvolve
e diante da falta de segurança dos serviços que disponibiliza aos clientes Aplicação do art. 14/CDC. Pleito do autor
de que o banco por si eleito respondesse de forma solidária que não comporta acolhimento, porquanto a parte
que lhe competia na transação foi devidamente executada Sentença de parcial procedência que cabe ser mantida
Inteligência do art. 252 do Regimento Interno deste tribunal Recursos desprovidos." (TJ-SP - APL:
02055861620098260100 SP 0205586-16.2009.8.26.0100, Relator: Jacob Valente, Data de Julgamento: 15/05/2013,
12a Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 16/05/2013)."

Ou ainda:
"RESPONSABILIDADE CIVIL - FRAUDE PRATICADA POR TERCEIROS - RISCO DA ATIVIDADE EXERCIDA PELA
INSTITUIÇÃO FINANCEIRA - MATÉRIA QUE FOI OBJETO DA SÚMULA 479 DO STJ - INEXIGIBILIDADE DA DÍVIDA E
DEVOLUÇÃO DOS VALORES INDEVIDAMENTE DESONTADOS QUE SE IMPÕEM - DANO MORAL - CABIMENTO -
INSTITUIÇÃO FINANCEIRA QUE, ALÉM DE COMETER FALHA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO, IMPÔS AO CONSUMIDOR
UMA CONTRATAÇÃO - CASO EM QUE O BANCO RÉU RECONHECEU A FRAUDE E ESTORNOU AS OPERAÇÕES
IMPUGNADAS, EXCETO O EMPRÉSTIMO - AUTOR QUE PERMANECERA COM O VALOR DISPONIBILIZADO E COM AS
PARCELAS DESCONTADAS ATÉ CUMPRIMENTO DA LIMINAR - FATO QUE ULTRAPASSA O MERO ABORRECIMENTO -
VALOR ARBITRADO EM PRIMEIRO GRAU (R$ 10.000,00) QUE ATENDE OS CRITÉRIOS DA RAZOABILIDADE E
PROPORCIONALIDADE - SENTENÇA MANTIDA - RECURSO IMPROVIDO.
(TJ-SP - AC: 10057915420188260566 SP 1005791- 54.2018.8.26.0566, Relator: Paulo Roberto de Santana, Data de
Julgamento: 13/03/2019, 23a Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 13/03/2019)

Bem como tantas outras que poderã o ser prejudicadas caso tal acó rdã o dú bio e eivado de
falhas de interpretaçã o material e legal permaneça sem a devida reforma.
II.1.1.3 - DESDOBRAMENTOS NA ESFERA ECONÔ MICA
Sob o aspecto econô mico, observa-se um terrível perigo frente à possibilidade de tal
decisã o oferecer precedentes para derrubar julgados prejudicando consumidores cuja
dimensã o econô mica atinge a esfera da hipossuficiência, trabalhadores e pessoas
dependentes de aposentados, como é o caso dos autores do presente recurso, que se veem
diante de uma luta desigual mediante a força do seu oponente.
No direito do consumidor, é reconhecido a hipossuficiência e a fragilidade dos
consumidores ante a força econô mica dos fornecedores ou prestadores de serviço, assim
sendo, tanto a sú mula 479, quanto os artigos 6°, VIII do CDC, garante, diante dos fatos
apresentados, a inversã o do ô nus da prova, fato que foi completamente ignorado pelo
acó rdã o.
Diante de todos os acontecimentos e desdobramentos do caso, é iminente o risco
econô mico que poderá atingir o consumidor, que além de já reconhecidamente vulnerá vel,
somando-se a hipossuficiência, poderá ter total prejuízo se o presente acó rdã o gerar
consequências e precedentes para futuras decisõ es ou até mesmo, prejudicar as que estã o
sob a aná lise do condã o judiciá rio.
II.1.1.4 - CONCLUSÃ O DA REPERCUSSÃ O DO PRESENTE CASO
Sendo assim, com suporte nos entendimentos supracitados, conclui-se que a presente
causa guarda pertinência com a repercussã o geral jurídica, econô mica e social.
Isto posto, comprova-se, fundamentadamente, que a causa preenche todos os requisitos
necessá rios para o seu recebimento e julgamento perante o Supremo Tribunal Federal.
II.1.2 - DO PREQUESTIONAMENTO
Verifica-se presente o requisito bá sico do prequestionamento para fins a admissibilidade
do presente recurso, pela tratativa prévia do tema constitucional ventilado no tribunal a
quo .
Como se pode averiguar nos autos, os recorrentes adotaram a cautela de questionar com
antecedência e de modo expresso a matéria que se tornaria objeto deste recurso
extraordiná rio, superando a ressalva entabulada na Sú mula 282 do STF, in verbis :
Súmula 282 do STF - "É inadmissível o recurso extraordinário, quando não ventilada, na decisão recorrida, a
questão federal suscitada."

Dito isto, demonstra-se que nã o restam no bojo deste recurso questõ es de ordem
constitucional que nã o tenham sido previamente suscitadas nas instâ ncias inferiores,
prequestionadas, principalmente como explanadas nas especificaçõ es acima, merecendo
ser admitido o presente Recurso Extraordiná rio.
II.1.3 - DO EXAURIMENTO DOS RECURSOS ORDINÁ RIOS
A decisã o ora recorrida foi objeto de recurso inominado, seguido dos devidos Embargos de
Declaraçã o, tratando-se de decisã o de ú ltima instâ ncia, conforme prolatada na intimaçã o da
sentença dos embargos, da qual nã o cabe nenhum outro recurso ordiná rio, nos termos da
Sú mula 281 do STF.
II.1.4 - DA NÃ O REANÁ LISE DE FATO
O recurso extraordiná rio interposto nã o implica reaná lise de fato, que é vedada pela
sú mula 279 do STF, pois está apenas discutindo a interpretaçã o e a aplicaçã o dos
dispositivos constitucionais indicados.
II.2 - DOS PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE
II.2.1 - DA TEMPESTIVIDADE
O recurso ora interposto preenche o requisito da tempestividade, conforme se passa a
demonstrar:
O prazo para recurso especial é de 15 dias, conforme determina o artigo 1003, § 5° do
Có digo de Processo Civil de 2015.
O r. acó rdã o recorrido foi publicado em 04 de novembro de 2019, de modo que o início do
prazo ocorreu em 05 de novembro de 2019.
Desta forma, o dies ad quem para interposiçã o do presente recurso extraordiná rio é dia 26
de novembro de 2019, tendo em vista que os prazos processuais civis computam-se
excluindo o dia do começo e incluindo o do vencimento e somente em dias ú teis, consoante
prescrevem os arts. 219 e 224, caput, do Có digo de Processo Civil de 2015.
II.2.2 - DO PREPARO
As partes sã o beneficiá rias de Justiça Gratuita (conforme pode-se verificar à fl. 34 do
processo de origem), motivo pelo qual nã o precisa pagar as custas relativas ao
processamento do presente recurso. Ademais, o processo tramita de forma digital, nã o
havendo que se falar em gastos com remessa de autos físicos, portanto, o pagamento com
estas despesas nã o sã o devidos.
II.2.3 - DO CABIMENTO
O presente recurso é cabível, haja vista que houve esgotamento prévio das vias ordiná rias e
que a decisã o recorrida contrariou dispositivos da Constituiçã o da Repú blica Federativa do
Brasil, nos termos do art. 102, inciso III, alínea a, in verbis :
"Art. 102 - Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe (...)
III - julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas em única ou última instância, quando a decisão
recorrida:
a) Contrariar dispositivo desta Constituição; (...)"

O acó rdã o proferido pelo Colendo Colégio Recursal de Barretos contrariou as seguintes
normas constitucionais:
 Direito 1 - Art. 5°, caput - Dano ao princípio da isonomia quando nã o
reconhece a hipossuficiência técnica suprimindo o direito à inversã o o ô nus da prova, o que
coloca o consumidor, hipossuficiente, em igualdade diante do prestador dos serviços
perante a Lei;
 Direito 2 - Art. 5°, V - Dano material gerado pelo vazamento de informaçõ es
sigilosas do cliente dos sistemas do provenientes de grave falha na prestaçã o do serviço;
 Direito 3 - Art. 5°, X - Dano material decorrente da violaçã o de seus dados,
afrontando dessa forma sua intimidade e vida privada;
 Direito 4 - Art. 5°, XII - Sigilo da comunicaçã o telefô nica foi vituperada por
cristalina falha de prestaçã o de serviço por parte da instituiçã o financeira;
 Direito 5 - Art. 5°, XXXII - Nã o obstante os fatos apresentados, a
responsabilidade objetiva da instituiçã o financeira e a lesã o propriamente dita quanto à
prestaçã o de serviço, o acó rdã o proferido fere diretamente a proteçã o devida do Estado ao
consumidor quando, desconsiderando a verossimilhança e a hipossuficiência (ambos
presente no caso), omitem a devida inversã o do ô nus da prova, garantido ainda pelo inciso
VIII do art. 6° do CDC, e imputa ao lado hipossuficiente, tanto financeiro quanto (ainda
mais) técnico, a obrigaçã o de identificar as falhas oriundas da prestaçã o do serviço da
instituiçã o, a saber, a tarefa impossível diante de suas condiçõ es de produzir provas;
Portanto, este recurso - como todo recurso extraordiná rio - tem por finalidade a proteçã o
do direito de forma objetiva, protegendo a norma jurídica constitucional.

III - DO ACÓRDÃO RECORRIDO


O acó rdã o recorrido foi proferido à s fls. 175 a 178 dos autos de n° da Segunda Turma do
Colégio Recursal de Barretos/SP, em julgamento, em julgamento, diante da devida
sustentaçã o oral deste causídico, em recurso inominado movido pelas razõ es conforme
apresentadas, tanto no processo como na síntese dos fatos acima apresentados.
Fato é que o presente acó rdã o apresenta um perigo, nã o só ao direito dos recorrentes, mas
ao direito coletivo, quando ignora uma série de fundamentos e princípios basilares do
ordenamento jurídico brasileiro.
Fazendo uma breve aná lise do mesmo podemos constatar o claro desrespeito à s normas
constitucionais elencadas no presente recurso, ainda se formos esmiuçar podemos
observar os seguintes pontos:
Os julgadores, em sua decisã o, ignoram os elementos da verossimilhança e da
hipossuficiência e consideram as informaçõ es, com riqueza de provas e detalhes, passadas
pelas vítimas, como " mera ilaçã o".
Na sequência, usam fundamentaçõ es ambíguas, ora desconsiderando a ligaçã o prévia, ora
considerando a ligaçã o prévia, quando questionam os valores, ora É CRISTALINA A
OCORRÊ NCIA DE UMA LIGAÇÃ O PRÉ VIA, DE OUTRA FORMA, COMO OS RECORRENTES
TERIAM OBTIDO O VALOR DE ?! Desconsideram a hipossuficiência técnica dos recorrentes,
vítimas em todo o ocorrido, até mesmo da lavratura do boletim de ocorrência, que cita
apenas os ú ltimos movimentos de todo o ocorrido, ora, sabe-se que o BO possui presunçã o
de verdade, mas é ferramenta meramente informativa, como bem disse o Magistrado
trabalhista Ricardo Artur Costa e Trigueiros - " O boletim de ocorrência (BO) é mera peça
informativa, lavrada a partir da notícia de prá tica delituosa levada unilateralmente pela
parte ao conhecimento da autoridade policial, Faz prova apenas da ‘notícia criminis’, mas
nã o do crime..." (conforme processo 02022-2002-444-02-00 da 4a Turma do TRT da 2a
Regiã o, publicada em 21 de março de 2006), devendo ser complementado com os
elementos comprobató rios existentes na açã o, outro fato que corrobora para a existência
da ligaçã o prévia à instituiçã o é o fato de que, o recorrente Lemoel, em momento algum faz
parte do negó cio jurídico, ou seja, fica evidente que, em caso de uma ligaçã o direta de um
possível fraudador externo, o mesmo teria ligado para a titular do negó cio, que é a
recorrente , de outra forma, seria impossível que o fraudador ligasse para o primeiro
recorrente falando sobre a quitaçã o do veículo se nã o tivesse obtido as informaçõ es
diretamente da ligaçã o anterior, realizada minutos antes.
Em seguida, fazem uso de avaliaçã o material indevido, alegando que os recorrentes tinham
informaçõ es sobre os fraudadores quando dizem - " Além disso, constou claramente no
comprovante de pagamento (vide documento - fl. 19) que o emissá rio do boleto era o "
Intermedium S/A" (quando deveria ser o "quot;), bem como que o beneficiá rio do dinheiro
seria " Inter S/A" (quando deveria ser o "quot;), e que o pagador do boleto era ", CPF n° "
(quando o certo seria a autora , CPF )." - quando uma simples observaçã o no boleto que
fora enviado aos recorrentes comprova que estas informaçõ es sã o inverídicas e totalmente
erradas (fl. 108), que o beneficiá rio informado É SIM O
e que o pagador É SIM A SRA. , diferente do que é alegado pelos julgadores.
Os julgadores, ao ignorarem completamente os princípios da verossimilhança e da
hipossuficiência, tanto técnica quanto financeira, ignoraram também o princípio da
INVERSÃ O DO Ô NUS DA PROVA, vislumbrado no art. 6°, VIII do CDC, que atribui à
instituiçã o financeira o ô nus de comprovar que nã o houve falha na prestaçã o de serviço, o
que em toda a açã o nã o ocorreu, muito pelo contrá rio, durante a açã o, os recorrentes foram
confundidos por terceiros pela defesa da instituiçã o, sendo que até mesmo informaçõ es
sigilosas de terceiros foram aventados no processo (fl. 69). Sabe-se que, em havendo
sequer um destes princípios no caso é concedido a inversã o do ô nus da prova. Quanto à
isso, bem definiu os Drs. , e Dra Mirella Caldeira Fadel no seguinte comentá rio:
"Cremos que a proteção deve atingir àquele que não detém conhecimentos técnicos - o que ocorre em qualquer
classe social - e não àquele que não possui recursos financeiros, uma vez que, para esses, tanto a CF como o
próprio CDC já garantem a defesa de seus direitos.
(...)
Desse modo, a inversão visa a auxiliar aquele que não tem condições sequer de dialogar com o fornecedor, pois
não entende ou nada sabe sobre o produto, não tendo subsídios para realizar provas que comprovem seu direito.
Cabe aqui ressaltar que hipossuficiência não é sinônimo de vulnerabilidade. Esta última é princípio básico adotado
pelo CDC (art. 4°, I), a fim de concretizar o princípio constitucional da isonomia. Trata-se de uma presunção legal,
isto é, todos são vulneráveis porque assim manda a lei.
Já a hipossuficiência é uma condição a mais, ou seja, há consumidores que, além de vulneráveis, possuem um
‘plus’, que os torna ainda mais frágeis, deixando-os impossibilitados de realizar a prova dos fatos constitutivos de
seus direitos.
(...)
Nesse caso, então, o consumidor fica isento de comprovar o nexo de causalidade entre o fato danoso e o dano,
bastando comprovar o dano. Isto é, quando as alegações do consumidor forem verossímeis ou for o consumidor
hipossuficiente, o juiz poderá deixar de aplicar a regra geral de que ao autor incumbe o encargo probatório dos
fatos constitutivos de seu direito, verificando, tão somente, se houve a comprovação, por parte do fornecedor, de
uma das excludentes de responsabilidade civil, como forma única de eximir-se da responsabilidade de indenizar,
uma vez que tais excludentes rompem o nexo causal, não tendo nenhuma ligação com a culpa. Trata-se, tão só, de
distribuição do encargo probatório.
(COSTA MACHADO, Antônio Claudio; FRONTINI, Paulo Salvador - Código de Defesa do Consumidor interpretado -
Pgs. 26 à 28 - Ed. 2013 - Editora Manole - Barueri/SP)

Outrossim, brilhantemente decidiu o juízo de primeira instâ ncia quando considerou tanto a
verossimilhança quanto a hipossuficiência técnica, concedendo a inversã o do ô nus e
verificando a incapacidade da instituiçã o de apontar as provas necessá rias para excluir a
objetividade da responsabilidade a ela atribuída.
Como todo o exposto, observa-se claro o perigo de tal acó rdã o, tamanho o equívoco do
julgamento, que poderá vir a prejudicar muitas outras lides e, ainda assim, demonstrando
uma afronta clara e evidente aos princípios constitucionais aqui já relacionados.

IV - DO DIREITO
O recurso extraordiná rio tem por finalidade manter a guarda, a proteçã o e a devida eficá cia
da Constituiçã o da Repú blica Federativa do Brasil.
Por isso, interpõ es os recorrentes o presente recurso, haja vista as vá rias violaçõ es de
norma constitucional ocasionadas pelo acó rdã o.
IV.1 - DA OFENSA AO PRINCÍPIO DA ISONOMIA
O Acó rdã o recorrido afronta diretamente um dos mais importantes princípios do
ordenamento jurídico brasileiro, o Princípio da Isonomia, no momento em que ignora a
hipossuficiência técnica dos recorrentes, bem como a verossimilhança dos fatos alegados,
suprimindo o direito à inversã o o ô nus da prova, o que equipara o consumidor,
hipossuficiente, com o prestador dos serviços diante do poder jurisdicional.
Desta forma o acó rdã o recorrido deve ser reformado.
IV.2 - DA OFENSA AO DIREITO À INDENIZAÇÃ O POR DANOS MATERIAIS
O Acó rdã o recorrido afronta diretamente o direito à indenizaçã o por danos materiais,
decorrente do vazamento das informaçõ es dos recorrentes, afrontando sua intimidade e
vida privada, todas protegidas pelo art. 5° nos incisos V e X.
Assim sendo, o Acó rdã o recorrido deve ser totalmente modificado, atendendo ao pedido
feito no Recurso Inominado do presente processo.
IV.3 - DA OFENSA AO DIREITO AO SIGILO DAS COMUNICAÇÕ ES TELEFÔ NICAS
Os recorrentes tiveram seu diretito ao sigilo das comunicaçõ es telefô nicas vituperados por
cristalina falha de prestaçã o de serviço por parte da instituiçã o financeira, direito este
protegido pela Carta Magna no art. 5°, inciso XII.
Desta forma, o Acó rdã o deve ser reformado, no sentido de resguardar a proteçã o
Constitucional e a inviolabilidade das comunicaçõ es.
IV.4 - DA OFENSA AO DIREITO À DEFESA DO CONSUMIDOR PELO ESTADO
Ao ignorar a hipossuficiência e a verossimilhança, os julgadores retiraram dos recorrentes
a possibilidade de serem assistidos pelo que garante o dispositivo legal no art. 6°, VIII,
assim retiraram o direito de serem defendidos pelo Estado.
Dessa forma, merece em todos os aspectos, ser reformado o Acó rdã o recorrido.

V - DA CONCLUSÃO
Diante do exposto, os recorrentes, por meio desta, vem requerer seja admitido o presente
recurso no juízo " a quo " para ser remetido ao Juízo "ad quem", o Supremo Tribunal
Federal, para que por este Tribunal haja o conhecimento e o provimento do presente
recurso extraordiná rio, pois estã o presentes todos os pressupostos de sua admissibilidade,
reformando-se totalmente o Acó rdã o recorrido de fls. 175/178 dos autos de n° (origem de
2a instâ ncia: 2a Turma do Colégio Recursal de Barretos - SP; Origem de 1a instâ ncia:
Juizado Especial Cível de Olímpia - SP), Acó rdã o registrado sob o n° 20190000097159, em
seguida, apó s embargos de declaraçã o, registrado sob o n° 20190000118393, para que se
mantenha a condenaçã o de primeira instâ ncia, condenando-se a instituiçã o financeira à
quitaçã o do financiamento, bem como o pedido no Recurso Inominado quanto à
condenaçã o de danos morais e materiais devidos frente aos direitos ofendidos conforme
consta no presente recurso, com fulcro em todo o regramento constitucional acerca da
matéria, consoante exposto nestas razõ es recursais.
Por conseguinte, requer a inversã o do ô nus da sucumbência, com a condenaçã o da parte
recorrida ao pagamento das custas e honorá rios advocatícios, nos termos do art. 82, § 2° do
Có digo de Processo Civil de 2015.
Informa ainda que, como já citado, os recorrentes sã o beneficiá rios da justiça gratuita,
sendo dispensada o recolhimento das custas de preparo.
Requer a intimaçã o da parte contrá ria para a apresentaçã o de contrarrazõ es.
Termos em que, respeitosamente
Pede e espera o deferimento.
Olímpia, 12 de novembro de 2019.

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