Você está na página 1de 7

AO JUÍZO DE DIREITO DA VARA ÚNICA DA COMARCA DE MONTES ALTOS, ESTADO DO

MARANHÃO.

EMENTA: COBRANÇA INDEVIDA - APOSENTADA E


SEMIANALFABETA - AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE
CONTRATO, DANOS MORAIS E RESTITUIÇÃO EM DOBRO -
Consumidora idosa e humilde identifica descontos desconhecidos
em sua conta corrente atribuídos à "EAGLE SOCIEDADE DE
CRÉDITO DIRETO". Ausência de contrato e justificativa para os
débitos. Desconto total de R$ 299,40. Configuração de
vulnerabilidade da consumidora. Jurisprudência consolidada em
proteção aos direitos dos beneficiários previdenciários.

PRIORIDADE – IDOSO!!!

MARIA DO ESPIRITO SANTO MONTEIRO DOS SANTOS, brasileira, viúva,


aposentada, inscrita no CPF sob nº 973.856.703-34, RG nº 000069876996-1,
residente e domiciliada na ET Água Preta , S/N, Zona Rural do Município de Sítio
Novo/MA, CEP 65925-000, vem com o devido respeito e acatamento perante
Vossa Excelência, através dos seus advogados bastante procuradores, propor

AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE RELAÇÃO JURÍDICA C/C COM


REPETIÇÃO DE INDÉBITO, DANO MORAL E PEDIDO DE TUTELA PROVISÓRIA

em face de EAGLE SOCIEDADE DE CRÉDITO DIRETO S.A., pessoa jurídica de


direito privado, inscrita no CNPJ sob nº. 45.745.537/0001-19, com sede na Rua
Furriel Luiz Antonio de Vargas, 250 – Complemento: Andar 14 Sala A - Bairro:
Bela Vista, Porto Alegre/RS, CEP: 90.470-130, pelos fatos e fundamentos a
seguir expostos:

PREAMBULARMENTE

a. DA JUSTIÇA GRATUITA: Excelência, a parte autora é lavradora, vivendo


exclusivamente da sua aposentadoria para garantir sua subsistência, de modo
que requer seja concedida o direito a assistência judiciária gratuita, pois a
mesma não possui recursos para pagar custas processuais sem prejuízos ao seu
sustento e de sua família nos termos do art. 98 do Código de Processo Civil e
art. 5º LXXIV da Constituição Federal, para todas as fases processuais, conforme
documentos em anexo.
Página 2 de 7

1. DOS FATOS

A parte Autora, pessoa humilde, idosa, semianalfabeta, consoante


documentação anexa, pobre na forma da Lei, consumidora e aposentada junto ao INSS,
recebendo o benefício de aposentadoria por idade por meio da conta corrente nº 0531537-
9, Ag.: 5389.

Acontece que, ao tirar um extrato bancário de sua conta, a parte autora


percebeu que havia uma COBRANÇA que desconhece a procedência, a qual é denominada
de “EAGLE SOCIEDADE DE CRÉDITO DIRETO”, no valor de R$ 49,90 (quarenta e nove reais
e noventa centavos), sendo alguns pagamentos processados sob a denominação “PAGTO
COBRANÇA 000000...”.

Conforme extrato bancário em anexo (doc. 03), os valores em questão já foram


descontados valores nos meses de abril, agosto, setembro, outubro, novembro e dezembro
de 2023 (6 parcelas), cujo totaliza a quantia de R$ 299,40 (duzentos e noventa e nove reais
e quarenta centavos).

Informa a autora que, possivelmente, esses descontos também constam em


janeiro e fevereiro de 2024 e até mesmo perdurarão ao longo do ano corrente. No entanto,
a obtenção dos extratos referentes a tais meses tornou-se inviável no momento devido à
localização remota da residência da autora, de modo que ela realizará a juntada deles
posteriormente.

Registra-se também que, surpresa com a cobrança, tendo em vista que jamais
deu motivos para cobrança da espécie, a parte autora buscou obter informações junto ao
seu banco, assim como tentou que tais valores fossem estornados e devolvidos, porém,
não alcançou sucesso. É relevante destacar que devido a idade avançada e o parco
conhecimento, a parte autora sequer conhece o significado de tal cobrança.

Inconformada com a situação, em razão de ter que arcar com um débito do


qual não contratou, a parte Requerente não vê alternativa senão propor a presente
demanda para declarar inexistente a relação contratual, como também a condenação da
parte Requerida ao pagamento de danos morais e a restituição dos valores pagos de forma
dobrada, vez que não há causa subjacente a autorizar referidas cobranças.

2. DO DIREITO

a) Da inversão do ônus da prova

No contexto da presente demanda, há possibilidades claras de inversão do


ônus da prova por se tratar de idosa, que possui difícil acesso a todos os extratos bancários,
Página 3 de 7

bem como pela ausência de informações de quando iniciaram os descontos, conforme


disposto no artigo 6º do Código de Defesa do Consumidor.

“Art. 6º. São direitos básicos do consumidor:


VIII – a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do
ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz for
verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras
ordinárias de experiências”. (Grifo nosso)

Desse modo, cabe ao requerido demonstrar provas em contrário ao que foi


exposto pela autora. Resta informar ainda que algumas provas seguem em anexo. Assim,
requer-se desde já seja o banco réu compelido à juntar todos os extratos bancários da
autora.

b) Da inadmissibilidade de cobranças sem prévia autorização

Acerca da prestação de serviços e o indissociável dever de informação, chega a


ser exaustiva a menção ao art. 14 do CDC, que define a ausência de informações claras e
objetivas sobre um serviço como defeito e atribui a responsabilidade por ele ao
fornecedor.

Nada diferente, em consonância com a previsão legal, os regulatórios


infralegais são tão claros quanto, reforçando a abominação de tais práticas.

Conforme normatizado na Resolução nº 3.919/2010 do Banco Central (BACEN),


os bancos não podem cobrar tarifas relacionadas a serviços sem prévia e expressa
autorização do consumidor, mediante contrato específico. Veja-se:

Art. 1º (...) deve estar prevista no contrato firmado entre a instituição e o


cliente ou ter sido o respectivo serviço previamente autorizado ou
solicitado pelo cliente ou pelo usuário.

Observa-se como mais grave a cobrança indevida por parte do requerido,


porém não é de se ignorar a ausência na prestação de informações claras e concisas, desde
o início da relação entre as partes, já que em momento algum a parte requerente foi
cientificada sobre a incidência automática de tal tarifa.

Assim, é inegável a patente nulidade das cobranças efetuadas, bem como a


necessidade de sua restituição, o que desde já se requer

c) Da repetição de indébito
COBRANÇA INDEVIDA - MÁ-FÉ
Página 4 de 7

Conforme consta dos extratos acostados, fora descontado, ILICITAMENTE, do


benefício da autora mês a mês até o momento, 6 parcelas de R$ 49,90 (quarenta e nove e
noventa reais), na qual totaliza o valor de R$ 299,40 (duzentos e noventa e nove reais e
quarenta centavos).

Nesse caminhar, é de se aplicar o disposto no art. 42, parágrafo único, do


Código de Defesa do Consumidor, onde afirma que a autora possui direito à repetição de
indébito, visto a cobrança indevida.

Assim, requer a condenação do requerido, para devolver em dobro o valor


cobrado ilicitamente, que perfaz até o momento a quantia de R$ 598,80 (quinhentos e
noventa e oito reais e oitenta centavos), devendo ser acrescido de juros e correção
monetária a partir do efetivo desconto.

d) Do dano moral

No que cabe aos danos morais, é farta na legislação, dispositivos que abordam
o tema, defendendo a ideia de que é obrigação daquele que causar dano a outrem efetuar
a sua devida reparação, sendo tais princípios insculpidos desde a Carta Magna até
legislações infraconstitucionais, destacando o Código Civil e a Código de Defesa do
Consumidor (art. 5º, V e X, da CF; arts. 186 e 927, do CC; arts. 6º, I, 22, § único, do CDC).

Nesse sentido, eis o entendimento do respeitado Tribunal de Justiça deste


estado do Maranhão onde ementamos abaixo:

DESCONTO DE BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO. MÁ-FÉ DO BANCO.


RESTITUIÇÃO EM DOBRO. DANO MORAL IN RE IPSA. QUANTUM
PROPORCIONAL. 1. Deve ser mantido o julgamento monocrático que, com
fulcro no art. 932 V “c” do CPC e em aplicação da tese jurídica firmada no
IRDR nº 3.043/2017 deste Tribunal, reformou a sentença de base com o
fim de reconhecer a ilicitude da cobrança de tarifa bancária para
pagamento de pacote de serviços não contratado pelo correntista
beneficiário do INSS, determinando a devolução em dobro da quantia
indevidamente descontada da conta bancária onde ele recebe seus
proventos e verificando a ocorrência de dano moral “in re ipsa”, cuja
indenização foi fixada proporcionalmente. 2. Agravo Interno conhecido e
desprovido. Unanimidade. (AgIntCiv no(a) ApCiv 009745/2016, Rel.
Desembargador(a) PAULO SÉRGIO VELTEN PEREIRA, QUARTA CÂMARA
CÍVEL, julgado em 10/09/2019 , Dje 18/09/2019)

O valor arbitrado a título de danos morais deve observar, além do caráter


reparatório da lesão sofrida, o escopo educativo e punitivo da indenização, de modo que a
condenação sirva de desestímulo ao causador do ilícito na reiteração da prática lesiva, sem
que haja, por outro lado, enriquecimento sem causa por parte da vítima.
Página 5 de 7

Diante tudo isso, REQUER que seja o banco requerido condenado ao


pagamento a título de danos morais na quantia de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), valor
suficiente para reparar os danos morais sofridos, além de atender aos princípios da
razoabilidade e proporcionalidade no caso concreto.
3. DA TUTELA DE URGÊNCIA

O art. 300 do Código de Processo Civil determina que a concessão da tutela


provisória de urgência antecipada tem como pressupostos a existência de elementos que
evidenciem a probabilidade do direito, e ainda, o perigo de dano ou risco ao resultado útil
do processo (artigo 300 do CPC.

Os fatos narrados demonstram de forma clara a probabilidade do direito da


autora vez que ele nunca autorizou tais descontos (doc. 03), que revelam a plausibilidade
dos fatos alegados.

O perigo da demora, por sua vez, é evidente no presente caso, dado que a
cobrança indevida é realizada no aposento da autora de apenas um salário mínimo, na qual
impacta a sua qualidade de vida, vez que o valor repetidamente descontado mensalmente
vai prejudicar o seu próprio sustento.

Ademais, caso a decisão final seja contrária à parte autora, não há possibilidade
da tutela de urgência causar um prejuízo irreversível ao requerido, posto que, no caso de
eventual improcedência do pedido, poderá renovar os descontos na conta-corrente da
parte autora, revelando a ausência do periculum in mora inverso.

Assim, legítimo e necessário se faz o deferimento, in limine e inaudita altera


pars, da tutela específica ora pleiteada, a fim de que seja determinado à parte ré, no prazo
de 05 (cinco) dias, a imediata suspensão de descontos a título de “EAGLE SOCIEDADE DE
CRÉDITO DIRETO” na conta corrente nº 0531537-9, Ag.: 5389, em nome da parte autora,
sob pena de multa diária no valor de R$ 500,00 (quinhentos reais).

4. DOS PEDIDOS

Ante o exposto, requer:

a) A concessão dos benefícios da gratuidade judiciária, nos termos do art. 5º,


LXXIV e art. 98, do CPC;

b) concessão, in limine e inaudita altera pars, da tutela específica ora pleiteada,


a fim de que seja determinado à parte ré, no prazo de 05 (cinco) dias, a imediata
suspensão de descontos a título de “EAGLE SOCIEDADE DE CRÉDITO DIRETO” na conta
corrente nº 0531537-9, Ag.: 5389, em nome da parte autora, sob pena de multa diária no
valor de R$ 500,00 (quinhentos reais).
Página 6 de 7

c) A citação da parte requerida para, querendo, apresentar defesa, sob pena de


revelia e confissão quanto aos fatos aqui discorridos;

d) A inversão do ônus da prova, bem como as responsabilidades que tratam


conforme o art. Art. 6º, VIII, 14 do CDC e o art. 37, § 6°, da CF;

e) Ao final, que seja JULGADO PROCEDENTE os pedidos iniciais, afim de


confirmar a liminar pleiteada e condenar a parte requerida:

e.1 – declarar a nulidade das cobranças a título de EAGLE SOCIEDADE DE


CRÉDITO DIRETO, efetuadas em conta bancária da autora;

e.2 – restituir EM DOBRO a autora os valores das prestações que foram


descontadas de forma indevida, cujo até o momento perfaz o montante de R$
598,80 (quinhentos e noventa e oito reais e oitenta centavos), a título de
danos materiais, acrescidos de juros e correção monetária desde a data de cada
pagamento, tendo em vista que a autora jamais contraiu tal contrato acima,
bem como as parcelas eventualmente descontadas no curso do processo;

e.3 – ao pagamento de indenização por danos morais (in re ipsa) no valor de R$


5.000,00 (cinco mil reais) ou em valor a ser arbitrados por Vossa Excelência,
levando em consideração a natureza pedagógica da reparação civil;

f) A condenação da parte requerida ao pagamento das custas processuais e


honorários advocatícios, estes fixados em 20% (vinte por cento) sobre o valor da causa.

Protesta provar o alegado por todos os meios de prova em direito admitidos,


especialmente testemunhal, documental, juntada de novos documentos e tudo mais que
se fizer necessário.

Dá-se à causa o valor de R$ 5.598,80 (cinco mil, quinhentos e noventa e oito


reais e oitenta centavos), para efeitos fiscais.

Termos em que,
Pede e espera deferimento.
De Imperatriz (MA) para Montes Altos (MA), 04 de fevereiro de 2024.

PABLO DOS SANTOS SILVA


Advogado – OAB/MA nº 21.687

MARISA FREITAS DOS REIS


Página 7 de 7

Advogada – OAB/MA nº 22.107

Você também pode gostar