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CONSULTORIA-GERAL DA UNIÃO
CONSULTORIA JURÍDICA JUNTO AO MINISTÉRIO DA DEFESA
CGDAM - COORDENAÇÃO-GERAL DE DIREITO ADMINISTRATIVO E MILITAR
ESPLANADA DOS MINISTÉRIOS, BLOCO Q, SALA 733, CEP: 70049-900, BRASÍLIA-DF TELEFONE: 61-3312-4123. EMAIL:
CONJUR@DEFESA.GOV.BR
PARECER n. 00237/2019/CONJUR-MD/CGU/AGU
NUP: 67400.001887/2018-59
INTERESSADOS: COMGEP - COMANDO GERAL DO PESSOAL E OUTROS
ASSUNTOS: FÉRIAS E OUTROS
Assim sendo, considerando a jurisprudência firmada pela Turma Nacional de Unificação, e tendo
em vista que as dúvidas suscitadas pela COJAER poderiam ser comuns às outras Forças Armadas,
a aludida Cota nº 00518/2018/CONJUR-MD/CGU/AGU solicitou a abertura de vista para todas
Adjuntas, com pedido para que emitissem manifestação jurídica sobre as questões abaixo
indicadas:
Por sua vez, a Consultoria Jurídica Adjunta do Comando do Exército, se manifestou sobre as
questões ora em tela por meio do Parecer nº 00925/2018/CONJUR-EB/CGU/AGU, de 24 de julho
de 2018, assim ementado:
Assim, de acordo com o § 3º do art. 12, ratificado pelo § 3º do art. 37, os voluntários para o serviço militar
como MFDV estão sujeitos às mesmas obrigações, sanções e penalidades daqueles que prestam o Serviço
Militar obrigados pela Lei. Ou seja, para os oficiais temporários MFDV, voluntários ou não, uma vez
incorporados todos seguem as mesmas normas, sem diferenças. Dessa forma, ao final do primeiro ano de
serviço militar, como prevê o Estatuto, todos eles terão direito às férias.
Concluindo esta análise, não há como justificar que haja deveres e direitos distintos para militares
temporários em função de terem sido convocados e incorporados obrigatoriamente ou voluntariamente.
Também não se justifica que os militares que prestam o primeiro ano do serviço militar, de forma
obrigatória ou voluntária, não tenham direito a férias, pois a Constituição e o Estatuto dos Militares não
fazem distinção, ao prever direitos e deveres, entre os militares de carreira e os temporários, com mais ou
menos tempo de serviço.
Por fim, a Consultoria Jurídica Adjunta do Comando do Exército apresentou o Parecer nº
00243/2019/CONJUR-EB/CGU/AGU, de 07 de março de 2019, que possui a seguinte conclusão:
Em face das informações prestadas pelo Exército brasileiro, com as observações lançadas nos itens 10 e
11, conclui-se o seguinte: "os militares que prestaram serviço militar inicial, mesmo com as peculiaridades
inerentes à natureza deste, não devem ser excluídos dos direitos previstos na Constituição e no Estatuto
dos Militares que lhes cabem, fazendo jus ao reconhecimento das indenizações por eventuais férias não
gozadas", o que corrobora com o Parecer nº 00925/2018/CONJUR-EB/CGU/AGU.
De se considerar, aprioristicamente, que o exame desta Consultoria Jurídica é feito nos termos do
art. 11 da Lei Complementar n° 73/1993 e com base nos elementos dos autos, subtraindo-se do
âmbito da competência institucional deste órgão, delimitada em lei, análises que importem em
considerações de ordem técnica, fática e de âmbito discricionário do administrador público.
Inicialmente há que se consignar que no ano de 2017 a CONJUR-MD já havia enfrentado o tema
por meio do Parecer nº 00578/2017/CONJUR-MD/CGU/AGU, chegando à seguinte conclusão:
Ante o exposto, entende-se que serviço militar obrigatório não merece ser considerado como serviço
público. Apesar do nome serviço, possui natureza jurídica de munus público.
Ademais, considerando que no caso vertente existe norma especial a reger o caso, é esta que deve ser
aplicada, em face do critério da especialidade, para resolver aparentes antinomias jurídicas dentro do
direito interno.
Portanto, conclui-se que o serviço militar obrigatório, nos termos da legislação de regência (Lei
4.375/1964), é uma atividade compulsória e temporária que não confere o direito ao gozo de férias, e,
muito menos, indenização por não ter usufruído das mesmas.
In casu, cumpre frisar que o engajamento consiste na prorrogação do tempo de serviço militar,
nos termos do art. 33 da Lei nº 4.375, de 1964. Ex vi:
Assim, o referido julgado uniformizador enfatizava que apenas aquele militar que tivesse o seu
tempo de serviço militar prorrogado para além do período a que estaria obrigado - que em regra,
segundo o art. 6º dessa mesma lei, é de 12 (doze) meses - é que fazia jus às férias ou a sua
indenização.
Observe-se que as razões da divergência, expostas nos itens 17 a 19 do voto condutor do Pedido
de Uniformização, menciona expressamente que a lide em análise não era relativa à hipótese do
militar que fora dispensado das Forças Armadas após a conclusão do serviço militar obrigatório:
17. Ademais, da leitura da petição inicial, da sentença e do acórdão impugnado, sublinho que a
controvérsia analisada esteve jungida ao julgamento do direito de férias de militar que, após curso inicial
de formação, é incorporado de forma permanente às Forças Armadas. A lide não cuidou da hipótese do
militar que, após a conclusão do serviço militar obrigatório, é logo dispensado das Forças Armadas.
18. Exposta essa conclusão, peço vênia ao MM. Juiz Federal Relator, para divergir da tese por ele firmada,
a fim de restringir seu alcance aos militares incorporados ao serviço ativo.
19. Ante exposto, voto por conhecer do Pedido de Uniformização, negar-lhe provimento e fixar tese com o
seguinte texto: “o período de prestação de serviço militar obrigatório gera direito a férias regulamentares
ao militar incorporado, uma vez que inexiste qualquer distinção entre as modalidades dos serviços
militares (obrigatório e de carreira) no artigo 63, da Lei nº 6.880/80, cabendo a reparação mediante
indenização em pecúnia, sem direito à dobra, correspondente à última remuneração na ativa, acrescida
do terço constitucional, obedecidos os dispositivos legais aplicáveis, nos casos em que a parte já houver
sido desligada das Forças Armadas”. (grifos inexistentes no original)
De se considerar, entretanto, que o julgado, ao restringir o direito às férias apenas ao militar que
fora engajado às Forças Armadas após o período de serviço militar obrigatório, o fez não por
considerar uma diferença ontológica entre o serviço militar daquele recruta que após a prestação
do serviço militar obrigatório é engajado e entre o serviço militar daquele recruta que após a
prestação do serviço militar obrigatório é licenciado das Forças, e sim pelo fato de que o caso que
fora submetido à Turma Nacional de Uniformização era relativo ao engajado.
Ora, como se sabe, a jurisdição é inerte e não pode julgar demandas e teses que não foram
submetidas à sua apreciação (princípio do ne procedat judex ex officio) sob pena de se proferir
decisão extra petita ou ultra petita. O princípio dispositivo do direito processual determina que
os julgamentos se façam nos limites do pedido.
Sobre o efeito devolutivo dos recursos, que se aplica mutatis mutandis aos pedidos de
uniformização de jurisprudência, são os ensinamentos de Nelson Nery Júnior [1]:
O efeito devolutivo é manifestação do princípio dispositivo, e não mera técnica do processo, princípio esse
fundamental do direito processual civil brasileiro. Como o juiz, normalmente, não pode agir de ofício,
devendo aguardar a provocação da parte ou interessado, deve, igualmente, julgar apenas nos limites do
pedido, que são fixados na petição inicial pelo autor, não podendo o juiz julgar extra, ultra ou infra petita.
Se o fizer, estará cometendo excesso de poder.
Transportando esses fundamentos para a esfera recursal, que é uma espécie de renovação do direito de
ação em outra fase do procedimento, verificamos que o recurso interposto devolve ao órgão ad quem o
conhecimento da matéria impugnada. O juízo destinatário do recurso somente poderá julgar o que o
recorrente tiver requerido nas suas razões de recurso, encerradas com o pedido de nova decisão. É esse
pedido de nova decisão que fixa os limites e o âmbito de devolutividade de todo e qualquer recurso (tantum
devolutum quantum apellatum).
Nesse sentido, inclusive, foi o entendimento do STF que chegou a anular um acórdão que
extrapolou os limites da questão posta sub judice, conforme se observa:
HABEAS CORPUS. Condenação em primeiro grau por crime tentado. Apelação do Ministério Público,
quanto a dosagem da pena. Pena agravada pelo Tribunal por considerar ocorrido crime consumado.
Inexistência da "ementatio libellis", pois o réu se defende dos fatos contidos na denuncia, e não da
classificação jurídica do crime feita pelo Ministério Público. Aplicação do princípio "tantum devolutum
quantum apellatum", sujeitando-se a apelação ministerial ao efeito devolutivo. Arts. 574, 577 e 599 do
Código de Processo Penal. "Habeas corpus" conhecido e deferido para anular o acórdão e determinar que
outro seja prolatado nos limites das questões apeladas. (HC nº 68284, Rel. Min. Paulo Brossard, 2ª Turma,
Julgamento em 20/11/1990)
Assim, feitas essas considerações a respeito dos limites da atividade judicante, que não pode
analisar questões que não são objeto da demanda, fica claro entender a necessidade processual
da Turma Nacional de Uniformização em restringir o direito às férias apenas ao militar que fora
engajado às Forças Armadas após o período de serviço militar obrigatório, uma vez que a
demanda sob análise daquela TNU tratava apenas dessa situação.
Todavia, tanto no voto-vista (que divergiu do voto do relator apenas no que tange à necessidade
processual de se restringir o direito às férias apenas ao militar que fora engajado às Forças
Armadas após o período de serviço militar obrigatório) quanto no voto do relator, as razões de
decidir reconhecem o direito às férias a todo aquele que presta o serviço militar obrigatório, por
considerar que o recruta também é militar, aplicando-se-lhe a regulamentação do Estatuto do
Militar.
2. O seu artigo 3º define o conceito de militares como os membros das Forças Armadas, ao passo que seu
§1º enumera as distintas situações nas quais podem ser classificados os militares ativos e inativos. Cumpre
destacar, no que essencial para o deslinde desta demanda, o contido no inciso IV, da alínea “a” deste
parágrafo:
Art. 3° Os membros das Forças Armadas, em razão de sua destinação constitucional, formam uma categoria
especial de servidores da Pátria e são denominados militares.
§ 1° Os militares encontram-se em uma das seguintes situações:
na ativa:
(...)
II - os incorporados às Forças Armadas para prestação de serviço militar inicial, durante os prazos previstos
na legislação que trata do serviço militar, ou durante as prorrogações daqueles prazos
(...)
IV - os alunos de órgão de formação de militares da ativa e da reserva; e
(...)
3. Da leitura das regras transcritas, constata-se que os os incorporados para prestação de serviço militar
inicial e os alunos de órgão de formação são militares, aos quais é aplicável a regulamentação prevista
no Estatuto Próprio, qual seja, a Lei nº 6.880/80.Ainda conforme o Estatuto dos Militares, o art. 50, alínea
‘o’, preconiza que, são direitos dos militares, “as férias, os afastamentos temporários do serviço e as
licenças”.
4. Portanto, há reconhecimento legal de que os militares, sem restrição, têm direito às férias, restando
apurar se há algum poder delegado de limitação de tal situação, como afirmado pela União em sua
contestação.
(...)
9. Nesses termos, o militar incorporado tem direito ao período aquisitivo de férias enquanto prestava
serviço obrigatório ou curso de formação, fazendo jus à contagem de período proporcional de férias não
gozado.
De igual forma, foi o entendimento do voto do relator, que no ponto não fora alterado pela
divergência, conforme se comprova:
Da leitura dos dispositivos acima, verifica-se que não há distinção de nenhuma modalidade de serviço
militar, de sorte que, a meu ver, não haveria por que se discriminar o serviço militar inicial para negar
o direito de férias aos seus prestadores.
Ademais, o próprio Estatuto dos Militares, em seu art. 3º, §1º, a), prevê que os incorporados às Forças
Armadas para a prestação de serviço militar inicial, durante todo o período em que durar a incorporação,
são considerados, para todos os fins, membros das Forças Armadas e estão sujeitos aos deveres e
benefícios estabelecidos pela Lei em referência (art. 1º):
(...)
Outrossim, o fato de a Lei nº 4.375/1964 (Lei do Serviço Militar) ser omissa quanto ao direito de férias
para os convocados ao serviço militar obrigatório, não pode configurar obstáculo à sua fruição ou
posterior conversão em indenização. Com efeito, não cabe à Administração Pública restringir os termos
da legislação do Estatuto dos Militares para criar regra que limita o gozo do direito a férias, sob pena de
afronta ao princípio da legalidade e exorbitância do seu Poder Regulamentar.
Além disso, não se pode olvidar que as férias são um direito essencial para garantir a segurança e a
saúde do trabalhador, inclusive com previsão constitucional (inciso XVII, do art. 7º, da Constituição
Federal de 1988).
Acresça-se a isso que a Lei nº 4.375/1964 (Lei do Serviço Militar) não esgota todo o regime jurídico
aplicável aos recrutas que prestem o serviço militar obrigatório, sendo imprescindível a aplicação
subsidiária da Lei nº 6.880/80 (Estatuto dos Militares) em vários pontos. Exemplo disso é o entendimento
consolidado do STJ, seguido pelos TRFs, no sentido de que: "4. O militar, ainda que temporário, declarado
incapaz para o serviço militar, tem direito à reforma ex officio no mesmo grau hierárquico que ocupava
na ativa, por força do que dispõem os arts. 106, II e108, III, c/c o art. 109 da Lei n. 6.880/80. Precedentes."
(AgRg no REsp 1254227/RS, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA, julgado em 17/05/2012,
DJe 28/05/2012).
Isso demonstra que não procede o argumento da União Federal de que todo o regime jurídico aplicável
aos recrutas que prestem o serviço militar inicial estaria previsto na Lei nº 4.375/1964, e que a omissão
deste diploma legal com relação ao direito às férias impossibilitaria o reconhecimento desse direito aos
referidos militares (negritos do original)
Com efeito, outras não poderiam ser as razões da Turma Nacional de Uniformização ao não
diferenciar a situação dos dois recrutas, tendo em vista que não há diferença ontológica entre o
serviço militar daquele militar que após a prestação do serviço militar obrigatório é engajado e
entre o serviço militar daquele militar que após a prestação do serviço militar obrigatório é
licenciado das Forças.
Observe-se que a Lei nº 4.375, de 17 de agosto de 1964, ao definir o que consiste o serviço militar,
não faz nenhuma distinção entre o militar que posteriormente é engajado nas Forças Armadas e
aquele que não o é, conforme se denota pelo art. 1º da aludida lei:
Art 1º O Serviço Militar consiste no exercício de atividades específicas desempenhadas nas Fôrças
Armadas - Exército, Marinha e Aeronáutica - e compreenderá, na mobilização, todos os encargos
relacionados com a defesa nacional.
Não por outro motivo, o art. 3º da Lei nº 6.880, de 09 de dezembro de 1980, considera que o
incorporado para o serviço militar já é considerado militar, não sendo exigido o seu engajamento,
que nada mais é do que a prorrogação do tempo desse serviço militar. Observe-se, por oportuno,
a redação do aludido art. 3º, II, da Lei nº 6.880/80:
Art. 3° Os membros das Forças Armadas, em razão de sua destinação constitucional, formam uma
categoria especial de servidores da Pátria e são denominados militares.
§ 1° Os militares encontram-se em uma das seguintes situações:
a) na ativa:
I - os de carreira;
II - os incorporados às Forças Armadas para prestação de serviço militar inicial, durante os prazos
previstos na legislação que trata do serviço militar, ou durante as prorrogações daqueles prazos; [Grifou-
se.].
Ademais, resta imperioso reconhecer que os recrutas prestam exatamente o mesmo serviço militar
obrigatório, até porque o eventual engajamento ocorre em momento posterior ao serviço militar
obrigatório.
Assim, não haveria fator discriminante legítimo para diferenciar a situação do recruta que após o
cumprimento do serviço militar obrigatório fora engajado nas Forças Armadas daquele que após
tal cumprimento fora licenciado. Trata-se de serviço militar da mesma natureza, não podendo a
mesma situação gerar direitos distintos.
Apesar das motivações diversas, ambos prestam o mesmo serviço e, para o recruta voluntário
nunca fora questionado seu direito a férias. Dessa forma, vislumbramos mais uma razão para se
reconhecer o direito a férias também do recruta que prestou o serviço militar obrigatório e não foi
engajado.
Entendemos que a situação é binária: ou considera-se que todos os serviços militares inciais não
geram direito a férias - assim como fizemos anteriormente no Parecer nº 00578/2017/CONJUR-
MD/CGU/AGU, de 19 de setembro de 2017; ou considera-se que todos os serviços militares
iniciais geram direito a férias - assim como expõem as razões dos votos do Pedido de
Uniformização nº 5000793-77.2016.4.04.7101/RS.
Consideramos que o Poder Público, caso estabelecesse o direito a férias relativo ao período de
serviço militar apenas ao militar que após tal período fora engajado às Forças Armadas, estaria
tratando de forma desigual situações iguais, violando o princípio da igualdade, já consagrado por
Aristóteles [2]:
E haverá a mesma igualdade entre as porções tal como entre os indivíduos, uma vez que a proporção entre
as porções será igual à proporção entre os indivíduos, pois não sendo as pessoas iguais, não terão porções
iguais – é quando os iguais detêm ou recebem porções desiguais, ou indivíduos desiguais (detêm ou
recebem) porções iguais que surgem conflitos e queixas.
Ao tratar sobre o conteúdo jurídico do princípio da igualdade, Celso Antônio Bandeira de Mello
[3] explica que pessoas em situações idênticas devem receber o mesmo tratamento e que apenas
a situação distinta é o que legitimaria a existência de fator discriminante:
É inadmissível, perante a isonomia, discriminar pessoas ou situações ou coisas (o que resulta, em última
instância, na discriminação de pessoas) mediante traço diferencial que não seja nelas mesmas residentes.
Por isso, são incabíveis regimes diferentes determinados em vista de fator alheio a elas; quer-se dizer: que
não seja extraído delas mesmas.
Em outras palavras: um fator neutro em relação às situações, coisas ou pessoas diferenciadas é inidôneo
para distingui-las. Então, não pode ser deferido aos magistrados ou aos advogados ou aos médicos que
habitem em determinada região do País – só por isto – um tratamento mais favorável ou mais desfavorável
juridicamente. Em suma, discriminação alguma pode ser feita entre eles, simplesmente em razão da área
especial em que estejam sediados.
Poderão, isto sim – o que é coisa bastante diversa – existir nestes vários locais, situações e circunstâncias,
as quais sejam, elas mesmas, distintas entre si, gerando, então, por condições próprias suas, elementos
diferenciais pertinentes. Em tal caso, não será a demarcação espacial, mas o que nelas exista, a razão
eventualmente substante para justificar discrímen entre os que se assujeitam – por sua presença contínua
ali – àquelas condições e as demais pessoas que não enfrentam idênticas circunstâncias.
Dessa forma, tendo em vista que não há fator discriminante legítimo apto a diferenciar a situação
dos recrutas que prestam serviço militar obrigatório, e tendo em conta o entendimento consagrado
pela Turma Nacional de Uniformização do Conselho da Justiça Federal, nos autos do Pedido de
Uniformização nº 5000793-77.2016.4.04.7101/RS, considera-se que as razões expostas no
Parecer nº 00578/2017/CONJUR-MD/CGU/AGU devem ser alteradas a fim de reconhecer o
direito às férias relativo ao período de serviço militar obrigatório, tanto para o licenciado após
a conclusão desse tempo de serviço militar quanto para o engajado.
Ubi eadem ratio, ibi eadem legis dispositio: “Onde existe a mesma razão fundamental, prevalece a mesma
regra de Direito”. Os casos idênticos regem-se por disposições idênticas.
Art. 20. Nas esferas administrativa, controladora e judicial, não se decidirá com base em valores jurídicos
abstratos sem que sejam consideradas as consequências práticas da decisão.
Parágrafo único. A motivação demonstrará a necessidade e a adequação da medida imposta ou da
invalidação de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa, inclusive em face das possíveis
alternativas. (grifos inexistentes no original)
Resta imperioso aventar as consequências práticas de uma decisão administrativa que negasse o
direito a férias do recruta que fora desligado das Forças Armadas. Entende-se que sobrariam
motivos para o ex-militar demandar judicialmente o reconhecimento do seu direito às férias, caso
em que as chances de êxito da União seriam mínimas em face do julgado da Turma Nacional de
Uniformização do Conselho da Justiça Federal, nos autos do Pedido de Uniformização nº
5000793-77.2016.4.04.7101/RS.
Assim, ressaltamos que o período de prestação de serviço militar obrigatório gera direito a férias
tanto para o recruta que fora engajado às Forças Armadas quanto para o recruta que fora desligado
das Forças, tendo em vista que, conforme exposto, não há diferença ontológica no serviço militar
obrigatório prestado por eles, inexistindo, portanto, fator discriminante apto a legitimar a
diferenciação.
Além disso, reforça-se: o art. 63 da Lei nº 6.880/80 assegura o direito às férias a todos os militares,
sem distinguir o que está em serviço militar obrigatório dos demais. Outrossim, o art. 3º dessa
mesma lei não exige o engajamento para uma pessoa passe a ser considerada militar. Muito pelo
contrário. A norma já considera como militar aquele que é "incorporado às Forças Armadas
para prestação de serviço militar inicial".
Também há que se consignar sobre a prescrição quinquenal do direito em pleitear as férias, que
prescrevem em 05 (cinco) anos contados da data do ato ou fato do qual se originaram, nos termos
do art. 1º do Decreto 20.910, de 06 de janeiro de 1932:
Art. 1º As dívidas passivas da União, dos Estados e dos Municípios, bem assim todo e qualquer direito ou
ação contra a Fazenda federal, estadual ou municipal, seja qual for a sua natureza, prescrevem em cinco
anos contados da data do ato ou fato do qual se originarem.
Por conseguinte, conclui-se que o prazo prescricional de 05 (cinco) anos para o exercício da
pretensão do direito a férias decorrente do cumprimento do serviço militar obrigatório terá por
termo inicial para o militar, a data de sua transferência para a inatividade, e, para o ex-militar, a
data de seu licenciamento da Força Singular, momento em que nasce seu direito de ser
indenizado por não ter desfrutado do período de férias a que fazia jus.
Tendo em conta as novas considerações trazidas por esse parecer no sentido de considerar que
todos aqueles que prestam serviço militar obrigatório possuem o direito a férias relativas a esse
período, consideramos que os aludidos questionamentos da Nota nº
00029/2018/COJAER/CGU/AGU encontram-se prejudicados.
III - DA CONCLUSÃO
Entendemos que o período de prestação de serviço militar obrigatório deve gerar direito a férias
tanto para o recruta que fora engajado às Forças Armadas quanto para o recruta que fora licenciado
das Forças, tendo em vista que não há diferença ontológica no serviço militar obrigatório prestado
por eles, inexistindo, portanto, fator discriminante apto a legitimar a diferenciação de tratamento.
Acreditamos que o prazo prescricional de 05 (cinco) anos para o exercício da pretensão do direito
a férias decorrente do cumprimento do serviço militar obrigatório terá por termo inicial para o
militar, a data de sua transferência para a inatividade, e, para o ex-militar, a data de seu
licenciamento da Força Singular, momento em que nasce seu direito de ser indenizado por não
ter desfrutado do período de férias a que fazia jus.
Dessa forma, consignamos que a tese jurídica uniformizada é a seguinte: o período de prestação
de serviço militar obrigatório gera direito a férias tanto para o recruta que fora engajado
às Forças Armadas quanto para o recruta que fora licenciado das Forças ao final desse
período, respeitado o prazo prescricional de 05 (cinco) anos.
Assim, caso seja aprovado o presente parecer, solicito que a Coordenação Administrativa, inclua
a tese uniformizada no item 53 no "Quadro de Teses Uniformizadas e Análises Relevantes",
disponível na pasta da Coordenação-Geral de Direito Administrativo e Militar -CGDAM, bem
como registro no referido quadro das principais informações referentes ao presente processo.
Solicito, por fim que sejam cientificadas as doutas COJAER, COJAEX, COJAMAR e SEPESD
sobre o conteúdo deste parecer.
À consideração superior.
[1] NERY JÚNIOR, Nelson. Teoria Geral dos Recursos. 6 ed. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2004, p. 428/429.
CONJUR@DEFESA.GOV.BR
DESPACHO n. 00714/2019/CONJUR-MD/CGU/AGU
NUP: 67400.001887/2018-59
INTERESSADOS: COMGEP - COMANDO GERAL DO PESSOAL E OUTROS
ASSUNTOS: FÉRIAS E OUTROS
CONJUR@DEFESA.GOV.BR
DESPACHO n. 00774/2019/CONJUR-MD/CGU/AGU
NUP: 67400.001887/2018-59
INTERESSADOS: COMGEP - COMANDO GERAL DO PESSOAL E OUTROS
ASSUNTOS: FÉRIAS E OUTROS