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ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO

CONSULTORIA-GERAL DA UNIÃO
CONSULTORIA JURÍDICA JUNTO AO MINISTÉRIO DA DEFESA
CGDAM - COORDENAÇÃO-GERAL DE DIREITO ADMINISTRATIVO E MILITAR
ESPLANADA DOS MINISTÉRIOS, BLOCO Q, SALA 733, CEP: 70049-900, BRASÍLIA-DF TELEFONE: 61-3312-4123. EMAIL:

CONJUR@DEFESA.GOV.BR

PARECER n. 00237/2019/CONJUR-MD/CGU/AGU

NUP: 67400.001887/2018-59
INTERESSADOS: COMGEP - COMANDO GERAL DO PESSOAL E OUTROS
ASSUNTOS: FÉRIAS E OUTROS

EMENTA: PERÍODO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇO MILITAR OBRIGATÓRIO. DIREITO A


FÉRIAS TANTO PARA O RECRUTA ENGAJADO ÀS FORÇAS ARMADAS QUANTO PARA O
RECRUTA DESLIGADO DAS FORÇAS.
I - Tendo em vista o entendimento consagrado pela Turma Nacional de Uniformização do Conselho da
Justiça Federal, nos autos do Pedido de Uniformização nº 5000793-77.2016.4.04.7101/RS, as razões
expostas no Parecer nº 00578/2017/CONJUR-MD/CGU/AGU devem ser alteradas a fim de reconhecer o
direito às férias relativo ao período que o recruta prestou serviço militar obrigatório.
II - O período de prestação de serviço militar obrigatório deve gerar direito a férias tanto para o recruta que
fora engajado às Forças Armadas quanto para o recruta que fora desligado das Forças, tendo em vista que
não há diferença ontológica no serviço militar obrigatório prestado por eles, inexistindo, portanto, fator
discriminante apto a legitimar a diferenciação de tratamento.
III - O prazo prescricional de 05 (cinco) anos para o exercício da pretensão do direito a férias decorrente do
cumprimento do serviço militar obrigatório terá por termo inicial para o militar, a data de sua transferência
para a inatividade, e, para o ex-militar, a data de seu desligamento da Força Singular, momento em que
nasce seu direito de ser indenizado por não ter desfrutado do período de férias a que fazia jus.
IV - A tese jurídica uniformizada é a seguinte: o período de prestação de serviço militar obrigatório
gera direito a férias tanto para o recruta que fora engajado às Forças Armadas quanto para o recruta
que fora licenciado das Forças ao final desse período, respeitado o prazo prescricional de 05 (cinco)
anos.

I - DO CASO DOS AUTOS

A Nota nº 00029/2018/COJAER/CGU/AGU, da Consultoria Jurídica Adjunta da Aeronáutica


formula questionamentos a partir das compreensões fixadas no Parecer nº 00578/2017/CONJUR-
MD/CGU/AGU, de 19 de setembro de 2017, no qual foi firmado o entendimento de que o período
referente à prestação de serviço militar inicial não gera direito a férias em nenhuma hipótese, por
se um munus público constitucional e por inexistência de previsão de tal direito na legislação
específica.

As questões formuladas pela referida nota são as seguintes:


o A não concessão de férias, bem como a indenização das férias não gozadas por ocasião
do licenciamento por conclusão do tempo de serviço militar obrigatório, aplica-se a
todos os Quadros de militares temporários (recrutas – QSD, QOCon, QSCon)?
o O Oficial temporário com Certificado de Dispensa de Incorporação ratificado,
incorporado no serviço ativo, fará jus a indenização de férias não gozadas e ao
respectivo adicional, caso o licenciamento ocorra ao término do 1º ano de serviço?
o O entendimento do Parecer nº 00578/2017/CONJUR-MD/CGU/AGU, de 19 de
setembro de 2017, aplica-se às militares do sexo feminino?

Por meio da Cota nº 00518/2018/CONJUR-MD/CGU/AGU, de 08 de junho de 2018, desta


Coordenação-Geral de Direito Administrativo e Militar, foi destacado que o próprio Parecer nº
00578/2017/CONJUR-MD/CGU/AGU já estava sendo reavaliado por conta da jurisprudência
firmada pela Turma Nacional de Unificação no sentido de reconhecer o direito a férias
regulamentares ao militar em serviço militar obrigatório que vem a ser engajado a uma Força
Singular.

Assim sendo, considerando a jurisprudência firmada pela Turma Nacional de Unificação, e tendo
em vista que as dúvidas suscitadas pela COJAER poderiam ser comuns às outras Forças Armadas,
a aludida Cota nº 00518/2018/CONJUR-MD/CGU/AGU solicitou a abertura de vista para todas
Adjuntas, com pedido para que emitissem manifestação jurídica sobre as questões abaixo
indicadas:

a) No entender da Força, o serviço militar obrigatório gera direito às férias ao


militar ou somente quando este for engajado após o período obrigatório?
b) A não concessão de férias, bem como a indenização das férias não gozadas por
ocasião do licenciamento por conclusão do tempo de serviço militar obrigatório, aplica-se a todos
os Quadros de militares temporários?
c) O Oficial temporário com Certificado de Dispensa de Incorporação ratificado,
incorporado no serviço ativo, fará jus a indenização de férias não gozadas e ao respectivo
adicional, caso o licenciamento ocorra ao término do 1º ano de serviço?
d) No entender da Força, o entendimento do Parecer nº 00578/2017/CONJUR-
MD/CGU/AGU, de 19 de setembro de 2017, pode ser aplicado às militares do sexo feminino?

Dessa forma, a Consultoria Jurídica Adjunta do Comando da Aeronáutica apresentou o Parecer


nº 00259/2018/COJAER/CGU/AGU, de 12 de junho de 2018, que possui a seguinte conclusão:

Dessa forma, conclui-se:


Seguindo a esta CONJURMD, entendemos, também, ser o recruta convocado para a prestação do serviço
militar obrigatório uma categoria especial de militar, regida pela Lei nº 4.375, de 17 de agosto de 1964
Lei do Serviço Militar e, sendo assim, não tem direito ao gozo de férias, na medida em que não há previsão
legal que ampare essa;
O serviço militar obrigatório gera direito às férias ao militar somente quando este for engajado após o
período obrigatório e em consonância com as normas previstas em cada Força;
A não concessão de férias, bem como a não indenização das férias não gozadas por ocasião do
licenciamento por conclusão do tempo de serviço militar obrigatório, aplicase somente aos casos de
serviço militar obrigatório, e não voluntário;
O Oficial temporário com Certificado de Dispensa de Incorporação ratificado, incorporado no serviço
ativo, fará jus a indenização de férias não gozadas e ao respectivo adicional, caso o licenciamento ocorra
ao término do 1º ano de serviço de se considerar não ser objeto de serviço obrigatório;
Por ser o entendimento do Parecer n.º 00578/2017/CONJURMD/CGU/AGU, de 19 de setembro de 2017,
aplicado ao serviço militar obrigatório, não adotamos a aplicação às militares do sexo feminino.

A Consultoria Jurídica Adjunta do Comando da Marinha se manifestou por meio do Parecer nº


157/2018-STF/CJACM/CGU/AGU, de 27 de julho de 2018, apresentando a seguinte conclusão:

Diante do exposto, apresentamos, em resposta à consulta formulada pela CONJUR-MD, as seguintes


conclusões:
a) Caso o militar, logo após o período de Serviço Militar Obrigatório (SMO), tenha sido desligado da
Força, entendemos que o mesmo não terá qualquer direito relacionado a férias, tampouco qualquer direito
à indenização.
b) Em contrapartida, caso o militar, após o período de Serviço Militar Obrigatório (SMO), tenha sido
incorporado aos quadros permanentes da Força Singular, é razoável a concessão do direito às férias ou
sua conversão em pecúnia, desde que não tenha sido gozada ou contada em dobro para a inatividade,
sendo necessário aquiescer aos argumentos inseridos no Pedido de Uniformização de Interpretação de Lei
n° 5000793-77.2016.4.04.7101/RS, e do elevado custo da judicialização em tais casos.
c) Concluímos que as mesmas premissas adotadas no item 13 deste parecer devem ser aplicadas para os
médicos, farmacêuticos, dentistas ou veterinários sujeitos ao Serviço Militar Obrigatório nos termos da
Lei nº 5.292/1967.
d) Tendo em vista que o parecer multicitado tratou apenas de questões relacionadas ao SMO, e que,
segundo o §2º do art.143 da CF/88, as mulheres são isentas do serviço militar obrigatório, entendemos
que as conclusões jurídicas nele exaradas não se aplicam às militares do sexo feminino.

Por sua vez, a Consultoria Jurídica Adjunta do Comando do Exército, se manifestou sobre as
questões ora em tela por meio do Parecer nº 00925/2018/CONJUR-EB/CGU/AGU, de 24 de julho
de 2018, assim ementado:

CONSULTA. SERVIÇO MILITAR OBRIGATÓRIO. DIREITO A FÉRIAS.


1. Manifestação jurídica sobre questões referentes a férias de militares a serem concedidas (ou não) pelo
serviço militar obrigatório.
2. Atualmente há entendimento do Ministério da Defesa-MD de que o período referente à prestação de
serviço militar inicial não geraria direito à férias em nenhuma hipótese, por ser um munus público
constitucional e por inexistência de previsão na legislação específica. Ressalta-se que o MD informou que
está sendo reavaliado este entendimento por conta da jurisprudência firmada pela Turma Nacional de
Unificação - TNU.
3. O Exército entende que deve ser assegurado o direito à férias e/ou indenização correspondente aos
militares prestadores do serviço militar obrigatório. Observações.

A Secretaria de Pessoal, Ensino, Saúde e Desporto do Departamento de Pessoal desse Ministério


da Defesa, se manifestou sobre o assunto por meio do Despacho nº
138/DIPMIL/DEPES/SEPESD/SG-MD, concluindo o que se segue:

Assim, de acordo com o § 3º do art. 12, ratificado pelo § 3º do art. 37, os voluntários para o serviço militar
como MFDV estão sujeitos às mesmas obrigações, sanções e penalidades daqueles que prestam o Serviço
Militar obrigados pela Lei. Ou seja, para os oficiais temporários MFDV, voluntários ou não, uma vez
incorporados todos seguem as mesmas normas, sem diferenças. Dessa forma, ao final do primeiro ano de
serviço militar, como prevê o Estatuto, todos eles terão direito às férias.
Concluindo esta análise, não há como justificar que haja deveres e direitos distintos para militares
temporários em função de terem sido convocados e incorporados obrigatoriamente ou voluntariamente.
Também não se justifica que os militares que prestam o primeiro ano do serviço militar, de forma
obrigatória ou voluntária, não tenham direito a férias, pois a Constituição e o Estatuto dos Militares não
fazem distinção, ao prever direitos e deveres, entre os militares de carreira e os temporários, com mais ou
menos tempo de serviço.
Por fim, a Consultoria Jurídica Adjunta do Comando do Exército apresentou o Parecer nº
00243/2019/CONJUR-EB/CGU/AGU, de 07 de março de 2019, que possui a seguinte conclusão:

Em face das informações prestadas pelo Exército brasileiro, com as observações lançadas nos itens 10 e
11, conclui-se o seguinte: "os militares que prestaram serviço militar inicial, mesmo com as peculiaridades
inerentes à natureza deste, não devem ser excluídos dos direitos previstos na Constituição e no Estatuto
dos Militares que lhes cabem, fazendo jus ao reconhecimento das indenizações por eventuais férias não
gozadas", o que corrobora com o Parecer nº 00925/2018/CONJUR-EB/CGU/AGU.

Assim, após as manifestações da COJAER, COJAMAR, COJAEX e SEPESD, esse processo


administrativo foi remetido a esta CONJUR-MD para emissão de parecer uniformizador de tese.

Esse é o breve relato do caso dos autos.

II – DOS FUNDAMENTOS. DO PERÍODO DE PRESTAÇÃO DO SERVIÇO


MILITAR OBRIGATÓRIO. DO DIREITO ÀS FÉRIAS

De se considerar, aprioristicamente, que o exame desta Consultoria Jurídica é feito nos termos do
art. 11 da Lei Complementar n° 73/1993 e com base nos elementos dos autos, subtraindo-se do
âmbito da competência institucional deste órgão, delimitada em lei, análises que importem em
considerações de ordem técnica, fática e de âmbito discricionário do administrador público.

Inicialmente há que se consignar que no ano de 2017 a CONJUR-MD já havia enfrentado o tema
por meio do Parecer nº 00578/2017/CONJUR-MD/CGU/AGU, chegando à seguinte conclusão:

Ante o exposto, entende-se que serviço militar obrigatório não merece ser considerado como serviço
público. Apesar do nome serviço, possui natureza jurídica de munus público.
Ademais, considerando que no caso vertente existe norma especial a reger o caso, é esta que deve ser
aplicada, em face do critério da especialidade, para resolver aparentes antinomias jurídicas dentro do
direito interno.
Portanto, conclui-se que o serviço militar obrigatório, nos termos da legislação de regência (Lei
4.375/1964), é uma atividade compulsória e temporária que não confere o direito ao gozo de férias, e,
muito menos, indenização por não ter usufruído das mesmas.

Entretanto, de fato, conforme consignado, a Turma Nacional de Uniformização do Conselho da


Justiça Federal, no dia 15 de março de 2018, em decorrência de Pedido de Uniformização nº
5000793-77.2016.4.04.7101/RS, formulado pela Procuradoria-Geral da União, prolatou decisão
que considerou ser devido o direito às férias relativo ao período de serviço militar obrigatório,
considerando que inexiste qualquer distinção entre as modalidades dos serviços militares
(obrigatório e de carreira) nos termos do artigo 63, da Lei nº 6.880/80.

Observe-se, por oportuno, o entendimento exarado pela Turma Nacional de Uniformização do


Conselho da Justiça Federal, nos autos do referido Pedido de Uniformização nº 5000793-
77.2016.4.04.7101/RS:
PEDIDO DE UNIFORMIZAÇÃO. REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. DIREITO
ADMINISTRATIVO. FÉRIAS. INDENIZAÇÃO. PERÍODO DE SERVIÇO MILITAR INICIAL E DE
CURSO DE FORMAÇÃO DO MILITAR INCORPORADO ÀS FORÇAS ARMADAS. INCLUSÃO
EM PERÍODO AQUISITIVO.
1. Os incorporados para prestação de serviço militar inicial e os alunos de órgão de formação são
militares, aos quais é aplicável a regulamentação prevista no Estatuto Próprio, qual seja, a Lei n. 6.880/80.
2. O militar incorporado tem direito ao período aquisitivo de férias (art. 50, alínea 'o', da Lei n. 6.880/80)
enquanto prestou serviço obrigatório ou curso de formação, fazendo jus à contagem de período
proporcional de férias não gozado.
3. Os períodos de férias não gozados, tampouco aproveitados para fins de inatividade, deverão ser
convertidos em pecúnia, de forma simples – art. 9º da MP nº 2.215-10/2001 –, com o adicional correlato
de 1/3, para que não haja enriquecimento sem causa da Administração. Precedente do STF (ARE 721.001-
RG/RJ, Pleno - meio eletrônico, Rel. Min. Gilmar Mendes, DJE 06/03/2013).
4. Pedido de Uniformização conhecido e desprovido. Tese Fixada: “o período de prestação de serviço
militar obrigatório gera direito a férias regulamentares ao militar incorporado, uma vez que inexiste
qualquer distinção entre as modalidades dos serviços militares (obrigatório e de carreira) no artigo 63,
da Lei nº 6.880/80, cabendo a reparação mediante indenização em pecúnia, sem direito à dobra,
correspondente à última remuneração na ativa, acrescida do terço constitucional, obedecidos os
dispositivos legais aplicáveis, nos casos em que a parte já houver sido desligada das Forças Armadas”.

No julgamento do aludido Pedido de Uniformização, a tese vencedora foi fixada no voto-vista do


Juiz Federal Fábio César Oliveira, que divergiu do voto do relator apenas para consignar que o
direito às férias, relativo ao período de serviço militar obrigatório, deveria ser assegurado apenas
ao militar que fora engajado às Forças Armadas após o período de serviço militar obrigatório.

In casu, cumpre frisar que o engajamento consiste na prorrogação do tempo de serviço militar,
nos termos do art. 33 da Lei nº 4.375, de 1964. Ex vi:

Das Prorrogações do Serviço Militar


Art 33. Aos incorporados que concluírem o tempo de serviço a que estiverem obrigados poderá, desde que
o requeiram, ser concedida prorrogação dêsse tempo, uma ou mais vêzes, como engajados ou reengajados,
segundo as conveniências da Fôrça Armada interessada.
Parágrafo único. Os prazos e condições de engajamento ou reengajamento serão fixados em
Regulamentos, baixados pelos Ministérios da Guerra, da Marinha e da Aeronáutica.

Assim, o referido julgado uniformizador enfatizava que apenas aquele militar que tivesse o seu
tempo de serviço militar prorrogado para além do período a que estaria obrigado - que em regra,
segundo o art. 6º dessa mesma lei, é de 12 (doze) meses - é que fazia jus às férias ou a sua
indenização.

Entretanto, é imperioso destacar o motivo de tal condicionamento: o voto condutor do Pedido


de Uniformização apenas restringiu tal direito ao militar engajado tendo em vista que o caso
que originou o requerimento de uniformização de tese era relativo a uma demanda de um
militar que permaneceu nas Forças Armadas após o cumprimento do serviço militar
obrigatório.

Observe-se que as razões da divergência, expostas nos itens 17 a 19 do voto condutor do Pedido
de Uniformização, menciona expressamente que a lide em análise não era relativa à hipótese do
militar que fora dispensado das Forças Armadas após a conclusão do serviço militar obrigatório:
17. Ademais, da leitura da petição inicial, da sentença e do acórdão impugnado, sublinho que a
controvérsia analisada esteve jungida ao julgamento do direito de férias de militar que, após curso inicial
de formação, é incorporado de forma permanente às Forças Armadas. A lide não cuidou da hipótese do
militar que, após a conclusão do serviço militar obrigatório, é logo dispensado das Forças Armadas.
18. Exposta essa conclusão, peço vênia ao MM. Juiz Federal Relator, para divergir da tese por ele firmada,
a fim de restringir seu alcance aos militares incorporados ao serviço ativo.
19. Ante exposto, voto por conhecer do Pedido de Uniformização, negar-lhe provimento e fixar tese com o
seguinte texto: “o período de prestação de serviço militar obrigatório gera direito a férias regulamentares
ao militar incorporado, uma vez que inexiste qualquer distinção entre as modalidades dos serviços
militares (obrigatório e de carreira) no artigo 63, da Lei nº 6.880/80, cabendo a reparação mediante
indenização em pecúnia, sem direito à dobra, correspondente à última remuneração na ativa, acrescida
do terço constitucional, obedecidos os dispositivos legais aplicáveis, nos casos em que a parte já houver
sido desligada das Forças Armadas”. (grifos inexistentes no original)

A partir de tal entendimento, no âmbito da Advocacia-Geral da União foi aprovado o Parecer


Referencial nº 0020/2018/PGU/AGU, que autorizou “os Advogados (as) da União a reconhecer
a procedência do pedido, a abster-se de contestar e de recorrer e a desistir dos recursos já
interpostos, quando a parte adversa pretenda e/ou a decisão judicial confira indenização em
pecúnia, sem direito à dobra, correspondente à última remuneração na ativa, acrescida do terço
constitucional, em razão do período de férias não gozado e adquirido quando da prestação de
serviço militar obrigatório àquele que incorporou permanentemente às Forças Armadas”
[Grifou-se.].

De se considerar, entretanto, que o julgado, ao restringir o direito às férias apenas ao militar que
fora engajado às Forças Armadas após o período de serviço militar obrigatório, o fez não por
considerar uma diferença ontológica entre o serviço militar daquele recruta que após a prestação
do serviço militar obrigatório é engajado e entre o serviço militar daquele recruta que após a
prestação do serviço militar obrigatório é licenciado das Forças, e sim pelo fato de que o caso que
fora submetido à Turma Nacional de Uniformização era relativo ao engajado.

Ora, como se sabe, a jurisdição é inerte e não pode julgar demandas e teses que não foram
submetidas à sua apreciação (princípio do ne procedat judex ex officio) sob pena de se proferir
decisão extra petita ou ultra petita. O princípio dispositivo do direito processual determina que
os julgamentos se façam nos limites do pedido.

Tais características da jurisdição, no que tange às instâncias superiores, determinam a


análise unicamente da questão elevada ao juízo da instância superior sob o efeito devolutivo,
baseado no princípio do tantum devolutum quantum apellatum; é dizer, as instâncias superiores
não podem se desvincular do caso concreto nem dos argumentos que foram submetidos à sua
apreciação. O julgamento se dá nos limites da questão que fora posta sob julgamento.

Sobre o efeito devolutivo dos recursos, que se aplica mutatis mutandis aos pedidos de
uniformização de jurisprudência, são os ensinamentos de Nelson Nery Júnior [1]:

O efeito devolutivo é manifestação do princípio dispositivo, e não mera técnica do processo, princípio esse
fundamental do direito processual civil brasileiro. Como o juiz, normalmente, não pode agir de ofício,
devendo aguardar a provocação da parte ou interessado, deve, igualmente, julgar apenas nos limites do
pedido, que são fixados na petição inicial pelo autor, não podendo o juiz julgar extra, ultra ou infra petita.
Se o fizer, estará cometendo excesso de poder.
Transportando esses fundamentos para a esfera recursal, que é uma espécie de renovação do direito de
ação em outra fase do procedimento, verificamos que o recurso interposto devolve ao órgão ad quem o
conhecimento da matéria impugnada. O juízo destinatário do recurso somente poderá julgar o que o
recorrente tiver requerido nas suas razões de recurso, encerradas com o pedido de nova decisão. É esse
pedido de nova decisão que fixa os limites e o âmbito de devolutividade de todo e qualquer recurso (tantum
devolutum quantum apellatum).

A extensão do efeito devolutivo da apelação é tratada no caput do art. 1.013, do Código de


Processo Civil (Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015):

A apelação devolverá ao tribunal o conhecimento da matéria impugnada.

Nesse sentido, inclusive, foi o entendimento do STF que chegou a anular um acórdão que
extrapolou os limites da questão posta sub judice, conforme se observa:

HABEAS CORPUS. Condenação em primeiro grau por crime tentado. Apelação do Ministério Público,
quanto a dosagem da pena. Pena agravada pelo Tribunal por considerar ocorrido crime consumado.
Inexistência da "ementatio libellis", pois o réu se defende dos fatos contidos na denuncia, e não da
classificação jurídica do crime feita pelo Ministério Público. Aplicação do princípio "tantum devolutum
quantum apellatum", sujeitando-se a apelação ministerial ao efeito devolutivo. Arts. 574, 577 e 599 do
Código de Processo Penal. "Habeas corpus" conhecido e deferido para anular o acórdão e determinar que
outro seja prolatado nos limites das questões apeladas. (HC nº 68284, Rel. Min. Paulo Brossard, 2ª Turma,
Julgamento em 20/11/1990)

Assim, feitas essas considerações a respeito dos limites da atividade judicante, que não pode
analisar questões que não são objeto da demanda, fica claro entender a necessidade processual
da Turma Nacional de Uniformização em restringir o direito às férias apenas ao militar que fora
engajado às Forças Armadas após o período de serviço militar obrigatório, uma vez que a
demanda sob análise daquela TNU tratava apenas dessa situação.

Todavia, tanto no voto-vista (que divergiu do voto do relator apenas no que tange à necessidade
processual de se restringir o direito às férias apenas ao militar que fora engajado às Forças
Armadas após o período de serviço militar obrigatório) quanto no voto do relator, as razões de
decidir reconhecem o direito às férias a todo aquele que presta o serviço militar obrigatório, por
considerar que o recruta também é militar, aplicando-se-lhe a regulamentação do Estatuto do
Militar.

Observe-se, por oportunas, as seguintes considerações feitas no voto condutor do Pedido de


Uniformização, de relatoria do Juiz Federal Fábio César Oliveira:

2. O seu artigo 3º define o conceito de militares como os membros das Forças Armadas, ao passo que seu
§1º enumera as distintas situações nas quais podem ser classificados os militares ativos e inativos. Cumpre
destacar, no que essencial para o deslinde desta demanda, o contido no inciso IV, da alínea “a” deste
parágrafo:
Art. 3° Os membros das Forças Armadas, em razão de sua destinação constitucional, formam uma categoria
especial de servidores da Pátria e são denominados militares.
§ 1° Os militares encontram-se em uma das seguintes situações:
na ativa:
(...)
II - os incorporados às Forças Armadas para prestação de serviço militar inicial, durante os prazos previstos
na legislação que trata do serviço militar, ou durante as prorrogações daqueles prazos
(...)
IV - os alunos de órgão de formação de militares da ativa e da reserva; e
(...)
3. Da leitura das regras transcritas, constata-se que os os incorporados para prestação de serviço militar
inicial e os alunos de órgão de formação são militares, aos quais é aplicável a regulamentação prevista
no Estatuto Próprio, qual seja, a Lei nº 6.880/80.Ainda conforme o Estatuto dos Militares, o art. 50, alínea
‘o’, preconiza que, são direitos dos militares, “as férias, os afastamentos temporários do serviço e as
licenças”.
4. Portanto, há reconhecimento legal de que os militares, sem restrição, têm direito às férias, restando
apurar se há algum poder delegado de limitação de tal situação, como afirmado pela União em sua
contestação.
(...)
9. Nesses termos, o militar incorporado tem direito ao período aquisitivo de férias enquanto prestava
serviço obrigatório ou curso de formação, fazendo jus à contagem de período proporcional de férias não
gozado.

De igual forma, foi o entendimento do voto do relator, que no ponto não fora alterado pela
divergência, conforme se comprova:

Da leitura dos dispositivos acima, verifica-se que não há distinção de nenhuma modalidade de serviço
militar, de sorte que, a meu ver, não haveria por que se discriminar o serviço militar inicial para negar
o direito de férias aos seus prestadores.
Ademais, o próprio Estatuto dos Militares, em seu art. 3º, §1º, a), prevê que os incorporados às Forças
Armadas para a prestação de serviço militar inicial, durante todo o período em que durar a incorporação,
são considerados, para todos os fins, membros das Forças Armadas e estão sujeitos aos deveres e
benefícios estabelecidos pela Lei em referência (art. 1º):
(...)
Outrossim, o fato de a Lei nº 4.375/1964 (Lei do Serviço Militar) ser omissa quanto ao direito de férias
para os convocados ao serviço militar obrigatório, não pode configurar obstáculo à sua fruição ou
posterior conversão em indenização. Com efeito, não cabe à Administração Pública restringir os termos
da legislação do Estatuto dos Militares para criar regra que limita o gozo do direito a férias, sob pena de
afronta ao princípio da legalidade e exorbitância do seu Poder Regulamentar.
Além disso, não se pode olvidar que as férias são um direito essencial para garantir a segurança e a
saúde do trabalhador, inclusive com previsão constitucional (inciso XVII, do art. 7º, da Constituição
Federal de 1988).
Acresça-se a isso que a Lei nº 4.375/1964 (Lei do Serviço Militar) não esgota todo o regime jurídico
aplicável aos recrutas que prestem o serviço militar obrigatório, sendo imprescindível a aplicação
subsidiária da Lei nº 6.880/80 (Estatuto dos Militares) em vários pontos. Exemplo disso é o entendimento
consolidado do STJ, seguido pelos TRFs, no sentido de que: "4. O militar, ainda que temporário, declarado
incapaz para o serviço militar, tem direito à reforma ex officio no mesmo grau hierárquico que ocupava
na ativa, por força do que dispõem os arts. 106, II e108, III, c/c o art. 109 da Lei n. 6.880/80. Precedentes."
(AgRg no REsp 1254227/RS, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA, julgado em 17/05/2012,
DJe 28/05/2012).
Isso demonstra que não procede o argumento da União Federal de que todo o regime jurídico aplicável
aos recrutas que prestem o serviço militar inicial estaria previsto na Lei nº 4.375/1964, e que a omissão
deste diploma legal com relação ao direito às férias impossibilitaria o reconhecimento desse direito aos
referidos militares (negritos do original)

Em assim sendo, repita-se, há que se considerar que a Turma Nacional de Uniformização do


Conselho da Justiça Federal, nos autos do Pedido de Uniformização nº 5000793-
77.2016.4.04.7101/RS, expôs seu entendimento sobre o direito às férias do militar que presta
serviço militar obrigatório como um todo, apenas ressalvando que a uniformização de
entendimento se aplicava somente para aqueles militares que foram engajados nas Forças
Armadas, por ser essa a situação concreta dos autos que geraram o pedido de uniformização.

Com efeito, outras não poderiam ser as razões da Turma Nacional de Uniformização ao não
diferenciar a situação dos dois recrutas, tendo em vista que não há diferença ontológica entre o
serviço militar daquele militar que após a prestação do serviço militar obrigatório é engajado e
entre o serviço militar daquele militar que após a prestação do serviço militar obrigatório é
licenciado das Forças.

Observe-se que a Lei nº 4.375, de 17 de agosto de 1964, ao definir o que consiste o serviço militar,
não faz nenhuma distinção entre o militar que posteriormente é engajado nas Forças Armadas e
aquele que não o é, conforme se denota pelo art. 1º da aludida lei:

Art 1º O Serviço Militar consiste no exercício de atividades específicas desempenhadas nas Fôrças
Armadas - Exército, Marinha e Aeronáutica - e compreenderá, na mobilização, todos os encargos
relacionados com a defesa nacional.

Não por outro motivo, o art. 3º da Lei nº 6.880, de 09 de dezembro de 1980, considera que o
incorporado para o serviço militar já é considerado militar, não sendo exigido o seu engajamento,
que nada mais é do que a prorrogação do tempo desse serviço militar. Observe-se, por oportuno,
a redação do aludido art. 3º, II, da Lei nº 6.880/80:

Art. 3° Os membros das Forças Armadas, em razão de sua destinação constitucional, formam uma
categoria especial de servidores da Pátria e são denominados militares.
§ 1° Os militares encontram-se em uma das seguintes situações:
a) na ativa:
I - os de carreira;
II - os incorporados às Forças Armadas para prestação de serviço militar inicial, durante os prazos
previstos na legislação que trata do serviço militar, ou durante as prorrogações daqueles prazos; [Grifou-
se.].

Ademais, resta imperioso reconhecer que os recrutas prestam exatamente o mesmo serviço militar
obrigatório, até porque o eventual engajamento ocorre em momento posterior ao serviço militar
obrigatório.

Assim, não haveria fator discriminante legítimo para diferenciar a situação do recruta que após o
cumprimento do serviço militar obrigatório fora engajado nas Forças Armadas daquele que após
tal cumprimento fora licenciado. Trata-se de serviço militar da mesma natureza, não podendo a
mesma situação gerar direitos distintos.

A inexistência de fator discriminante legítimo também é verificada no caso do serviço militar


voluntário. Mais uma vez verifica-se que não há diferença ontológica no serviço militar daquele
recruta que presta o serviço militar de forma voluntária do serviço daquele que o faz de forma
obrigatória.

Apesar das motivações diversas, ambos prestam o mesmo serviço e, para o recruta voluntário
nunca fora questionado seu direito a férias. Dessa forma, vislumbramos mais uma razão para se
reconhecer o direito a férias também do recruta que prestou o serviço militar obrigatório e não foi
engajado.

Entendemos que a situação é binária: ou considera-se que todos os serviços militares inciais não
geram direito a férias - assim como fizemos anteriormente no Parecer nº 00578/2017/CONJUR-
MD/CGU/AGU, de 19 de setembro de 2017; ou considera-se que todos os serviços militares
iniciais geram direito a férias - assim como expõem as razões dos votos do Pedido de
Uniformização nº 5000793-77.2016.4.04.7101/RS.

Consideramos que o Poder Público, caso estabelecesse o direito a férias relativo ao período de
serviço militar apenas ao militar que após tal período fora engajado às Forças Armadas, estaria
tratando de forma desigual situações iguais, violando o princípio da igualdade, já consagrado por
Aristóteles [2]:

E haverá a mesma igualdade entre as porções tal como entre os indivíduos, uma vez que a proporção entre
as porções será igual à proporção entre os indivíduos, pois não sendo as pessoas iguais, não terão porções
iguais – é quando os iguais detêm ou recebem porções desiguais, ou indivíduos desiguais (detêm ou
recebem) porções iguais que surgem conflitos e queixas.

Ao tratar sobre o conteúdo jurídico do princípio da igualdade, Celso Antônio Bandeira de Mello
[3] explica que pessoas em situações idênticas devem receber o mesmo tratamento e que apenas
a situação distinta é o que legitimaria a existência de fator discriminante:

É inadmissível, perante a isonomia, discriminar pessoas ou situações ou coisas (o que resulta, em última
instância, na discriminação de pessoas) mediante traço diferencial que não seja nelas mesmas residentes.
Por isso, são incabíveis regimes diferentes determinados em vista de fator alheio a elas; quer-se dizer: que
não seja extraído delas mesmas.
Em outras palavras: um fator neutro em relação às situações, coisas ou pessoas diferenciadas é inidôneo
para distingui-las. Então, não pode ser deferido aos magistrados ou aos advogados ou aos médicos que
habitem em determinada região do País – só por isto – um tratamento mais favorável ou mais desfavorável
juridicamente. Em suma, discriminação alguma pode ser feita entre eles, simplesmente em razão da área
especial em que estejam sediados.
Poderão, isto sim – o que é coisa bastante diversa – existir nestes vários locais, situações e circunstâncias,
as quais sejam, elas mesmas, distintas entre si, gerando, então, por condições próprias suas, elementos
diferenciais pertinentes. Em tal caso, não será a demarcação espacial, mas o que nelas exista, a razão
eventualmente substante para justificar discrímen entre os que se assujeitam – por sua presença contínua
ali – àquelas condições e as demais pessoas que não enfrentam idênticas circunstâncias.

Dessa forma, tendo em vista que não há fator discriminante legítimo apto a diferenciar a situação
dos recrutas que prestam serviço militar obrigatório, e tendo em conta o entendimento consagrado
pela Turma Nacional de Uniformização do Conselho da Justiça Federal, nos autos do Pedido de
Uniformização nº 5000793-77.2016.4.04.7101/RS, considera-se que as razões expostas no
Parecer nº 00578/2017/CONJUR-MD/CGU/AGU devem ser alteradas a fim de reconhecer o
direito às férias relativo ao período de serviço militar obrigatório, tanto para o licenciado após
a conclusão desse tempo de serviço militar quanto para o engajado.

Observa-se que, conforme já mencionado, a Turma Nacional de Uniformização já expôs seu


entendimento sobre a existência de direito às férias, relativo ao período de serviço militar
obrigatório, não o estendendo a todos aqueles que prestaram esse serviço apenas por uma questão
processual. No entanto, considerando as razões jurídicas que fundamentaram o referido acórdão,
entende-se que o mesmo tratamento jurídico deve ser dado ao militar licenciado ao final do
período de serviço militar obrigatório, uma vez que onde existe a mesma razão deve haver o
mesmo direito.

Nesse sentido, Carlos Maximiliano [4] expõe:

Ubi eadem ratio, ibi eadem legis dispositio: “Onde existe a mesma razão fundamental, prevalece a mesma
regra de Direito”. Os casos idênticos regem-se por disposições idênticas.

De se considerar ainda que doutrina do consequencialismo ganhou estatura de determinação legal


com a edição da Lei nº 13.655, de 25 de abril de 2018, que incluiu no Decreto-Lei nº 4.657, de 4
de setembro de 1942 (Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro), disposições sobre
segurança jurídica e eficiência na criação e na aplicação do direito público. Foi acrescido à
LINDB, o art. 20, que dispõe:

Art. 20. Nas esferas administrativa, controladora e judicial, não se decidirá com base em valores jurídicos
abstratos sem que sejam consideradas as consequências práticas da decisão.
Parágrafo único. A motivação demonstrará a necessidade e a adequação da medida imposta ou da
invalidação de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa, inclusive em face das possíveis
alternativas. (grifos inexistentes no original)

Resta imperioso aventar as consequências práticas de uma decisão administrativa que negasse o
direito a férias do recruta que fora desligado das Forças Armadas. Entende-se que sobrariam
motivos para o ex-militar demandar judicialmente o reconhecimento do seu direito às férias, caso
em que as chances de êxito da União seriam mínimas em face do julgado da Turma Nacional de
Uniformização do Conselho da Justiça Federal, nos autos do Pedido de Uniformização nº
5000793-77.2016.4.04.7101/RS.

Assim, ressaltamos que o período de prestação de serviço militar obrigatório gera direito a férias
tanto para o recruta que fora engajado às Forças Armadas quanto para o recruta que fora desligado
das Forças, tendo em vista que, conforme exposto, não há diferença ontológica no serviço militar
obrigatório prestado por eles, inexistindo, portanto, fator discriminante apto a legitimar a
diferenciação.

Além disso, reforça-se: o art. 63 da Lei nº 6.880/80 assegura o direito às férias a todos os militares,
sem distinguir o que está em serviço militar obrigatório dos demais. Outrossim, o art. 3º dessa
mesma lei não exige o engajamento para uma pessoa passe a ser considerada militar. Muito pelo
contrário. A norma já considera como militar aquele que é "incorporado às Forças Armadas
para prestação de serviço militar inicial".

Também há que se consignar sobre a prescrição quinquenal do direito em pleitear as férias, que
prescrevem em 05 (cinco) anos contados da data do ato ou fato do qual se originaram, nos termos
do art. 1º do Decreto 20.910, de 06 de janeiro de 1932:
Art. 1º As dívidas passivas da União, dos Estados e dos Municípios, bem assim todo e qualquer direito ou
ação contra a Fazenda federal, estadual ou municipal, seja qual for a sua natureza, prescrevem em cinco
anos contados da data do ato ou fato do qual se originarem.

O entendimento jurisprudencial do Superior Tribunal de Justiça preconiza que o termo inicial do


prazo prescricional da pretensão de pleitear a indenização dos períodos de férias não gozadas tem
início com o ato de aposentadoria, quando o servidor não poderá mais usufruí-las. Assim, para o
caso dos autos, esse termo inicial é a inativação do militar ou o licenciamento deste das Forças
Armadas, ocasião justamente em que não será mais possível gozar das férias. Ex vi:

ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. FÉRIAS NÃO GOZADAS. INDENIZAÇÃO. CORREÇÃO


MONETÁRIA. LEGITIMIDADE DO MUNICÍPIO. PRESCRIÇÃO.
O Município possui legitimidade passiva para a ação de servidor da Câmara Municipal, pleiteando a
indenização de férias não gozadas, por ocasião da aposentadoria. O termo inicial da prescrição do direito
de pleitear a indenização dos períodos de férias não gozadas tem início com o ato de aposentadoria,
quando o servidor não poderá mais usufruí-las. Precedentes do STJ. Recurso especial do Município de
São Paulo não conhecido. Recurso especial de Francisco Moraes conhecido parcialmente." (RESP
36500/SP, Relator Ministro GILSON DIPP, DJ de 22/02/1999; grifos inexistentes no original)

ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO FEDERAL. MILITAR. REFORMA. CÔMPUTO EM DOBRO


DE FÉRIAS NÃO GOZADAS. PRESCRIÇÃO INEXISTENTE.
1. O Superior Tribunal de Justiça já assentou entendimento, segundo o qual o termo inicial da prescrição
do direito de pleitear a indenização referente a férias não gozadas tem início com a impossibilidade de
não mais usufruí-las.
2. In casu, passando o autor a ser inativo em 26.10.2003, e a ação ordinária proposta em 17.1.2007, o
direito pleiteado permanece intocável pela prescrição. Agravo regimental improvido.(AgRg no AREsp
255.215/BA, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 06/12/2012, DJe
17/12/2012; grifos inexistentes no original)

ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. VIOLAÇÃO DO ART. 126 DO CPC.INEXISTÊNCIA.


DEVIDO ENFRENTAMENTO DAS QUESTÕES RECURSAIS. VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC.
INEXISTÊNCIA. SERVIDOR PÚBLICO FEDERAL. MILITAR.REFORMA. CÔMPUTO EM DOBRO DE
FÉRIAS NÃO GOZADAS. PRESCRIÇÃO INEXISTENTE. VERBA HONORÁRIA. SUCUMBÊNCIA
RECÍPROCA. ART. 21 DO CPC.AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. NÃO OPOSIÇÃO DE
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. (...)
3. O Superior Tribunal de Justiça já assentou entendimento, segundo o qual o termo inicial da prescrição
do direito de pleitear a indenização referente a férias não gozadas tem início com a impossibilidade de
não mais usufruí-las.
4. In casu, tratando-se o autor ser inativo em 13.7.2001, e a ação ordinária proposta em 16.4.2003, o
direito pleiteado permanece intocável pela prescrição.(...).(AgRg no AREsp 185.117/BA, Rel. Ministro
HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 18/09/2012, DJe 25/09/2012; grifos
inexistentes no original)

Por conseguinte, conclui-se que o prazo prescricional de 05 (cinco) anos para o exercício da
pretensão do direito a férias decorrente do cumprimento do serviço militar obrigatório terá por
termo inicial para o militar, a data de sua transferência para a inatividade, e, para o ex-militar, a
data de seu licenciamento da Força Singular, momento em que nasce seu direito de ser
indenizado por não ter desfrutado do período de férias a que fazia jus.

Por fim, registre-se que foram elaborados questionamentos na Nota nº


00029/2018/COJAER/CGU/AGU, da Consultoria Jurídica Adjunta da Aeronáutica, relativos ao
direito às férias, concernente ao período de serviço militar obrigatório, no caso dos militares que
foram engajados às Forças Armadas, sobre o serviço militar obrigatório temporário dos Médicos,
Farmacêuticos, Dentistas e Veterinários e sobre o serviço militar obrigatório das militares.

Tendo em conta as novas considerações trazidas por esse parecer no sentido de considerar que
todos aqueles que prestam serviço militar obrigatório possuem o direito a férias relativas a esse
período, consideramos que os aludidos questionamentos da Nota nº
00029/2018/COJAER/CGU/AGU encontram-se prejudicados.

III - DA CONCLUSÃO

Diante do exposto, tendo em vista o entendimento consagrado pela Turma Nacional de


Uniformização do Conselho da Justiça Federal, nos autos do Pedido de Uniformização nº
5000793-77.2016.4.04.7101/RS, as razões expostas no Parecer nº 00578/2017/CONJUR-
MD/CGU/AGU devem ser alteradas a fim de reconhecer que o período de prestação de serviço
militar obrigatório gera direito a férias tanto para o recruta que fora engajado às Forças Armadas
quanto para o recruta que fora licenciado das Forças.

Entendemos que o período de prestação de serviço militar obrigatório deve gerar direito a férias
tanto para o recruta que fora engajado às Forças Armadas quanto para o recruta que fora licenciado
das Forças, tendo em vista que não há diferença ontológica no serviço militar obrigatório prestado
por eles, inexistindo, portanto, fator discriminante apto a legitimar a diferenciação de tratamento.

Acreditamos que o prazo prescricional de 05 (cinco) anos para o exercício da pretensão do direito
a férias decorrente do cumprimento do serviço militar obrigatório terá por termo inicial para o
militar, a data de sua transferência para a inatividade, e, para o ex-militar, a data de seu
licenciamento da Força Singular, momento em que nasce seu direito de ser indenizado por não
ter desfrutado do período de férias a que fazia jus.

Dessa forma, consignamos que a tese jurídica uniformizada é a seguinte: o período de prestação
de serviço militar obrigatório gera direito a férias tanto para o recruta que fora engajado
às Forças Armadas quanto para o recruta que fora licenciado das Forças ao final desse
período, respeitado o prazo prescricional de 05 (cinco) anos.

Assim, caso seja aprovado o presente parecer, solicito que a Coordenação Administrativa, inclua
a tese uniformizada no item 53 no "Quadro de Teses Uniformizadas e Análises Relevantes",
disponível na pasta da Coordenação-Geral de Direito Administrativo e Militar -CGDAM, bem
como registro no referido quadro das principais informações referentes ao presente processo.

Solicito, por fim que sejam cientificadas as doutas COJAER, COJAEX, COJAMAR e SEPESD
sobre o conteúdo deste parecer.

À consideração superior.

Brasília, 15 de abril de 2019.


JULIANA GOMES FALLEIROS CAVALHEIRO
ADVOGADA DA UNIÃO

[1] NERY JÚNIOR, Nelson. Teoria Geral dos Recursos. 6 ed. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2004, p. 428/429.

[2] ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. 1 d. Bauru: Edipro, 2002, p. 141.

[3] MELLO, Celso Antônio Bandeira de. O Conteúdo Jurídico do Princípio da


Igualdade. São Paulo: Malheiro, 2011, p. 29-30.

[4] MAXIMILIANO, Carlos. Hermenêutica e Aplicação do Direito. 20 ed. Rio


de Janeiro: Forense, p. 200.

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Brasília, 25 de abril de 2019.

BRUNO CORREIA CARDOSO


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este Despacho, que revisa o entendimento anteriormente consignado no Parecer nº
00578/2017/CONJUR-MD/CGU/AGU desta Consultoria e uniformiza o entendimento sobre o
direito à férias dos militares em serviço militar obrigatório ou voluntário, nos seguintes termos:
i - O período de prestação de serviço militar obrigatório deve gerar direito a férias tanto para o recruta que
fora engajado às Forças Armadas quanto para o recruta que fora desligado das Forças, tendo em vista que
não há diferença ontológica no serviço militar obrigatório prestado por eles, inexistindo, portanto, fator
discriminante apto a legitimar a diferenciação de tratamento.
ii - O prazo prescricional de 05 (cinco) anos para o exercício da pretensão do direito a férias decorrente do
cumprimento do serviço militar obrigatório terá por termo inicial para o militar, a data de sua transferência
para a inatividade, e, para o ex-militar, a data de seu desligamento da Força Singular, momento em que
nasce seu direito de ser indenizado por não ter desfrutado do período de férias a que fazia jus.
iii - A tese jurídica uniformizada é a seguinte: o período de prestação de serviço militar obrigatório gera
direito a férias tanto para o recruta que fora engajado às Forças Armadas quanto para o recruta que
fora licenciado das Forças ao final desse período, respeitado o prazo prescricional de 05 (cinco) anos.
Pela relevância da matéria e pela sua repercussão orçamentária no âmbito das
Forças Armadas, entendo necessária a submissão do presente parecer jurídico à aprovação do
Senhor Ministro de Estado da Defesa, para conferir-lhe efeito vinculante e observância obrigatória
pelos órgãos e entidades vinculadas ao Ministério da Defesa, nos termos do art. 42 da Lei
Complementar nº 73, de 10 de fevereiro 1993.
Deste modo, encaminhe-se à SEPESD/MD para conhecimento da posição desta
CONJUR/MD e, se estiver de acordo, elaborar despacho decisório da ser submetido à decisão do
Senhor Ministro de Estado da Defesa.

Brasília, 06 de maio de 2019.

IDERVANIO DA SILVA COSTA


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