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ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO
CONSULTORIA-GERAL DA UNIÃO
CONSULTORIA DA UNIÃO
INFORMAÇÕES n. 00035/2022/CONSUNIAO/CGU/AGU
NUP: 00692.000545/2022-99 (REF. 0115649-55.2022.1.00.0000)
INTERESSADOS: PARTIDO DEMOCRÁTICO TRABALHISTA - PDT E OUTROS
ASSUNTOS: ADI 7092
EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE COM PEDIDO DE
LIMINAR. SUPOSTA INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL E MATERIAL DA
LEI 13.954/2019. NO ÂMBITO FORMAL, INOCORRÊNCIA DE VÍCIO DE
INICIATIVA E DE OFENSA À MATÉRIA RESERVADA À LEI COMPLEMENTAR.
NA ESFERA MATERIAL, DEMONSTRADO O RESPEITO AO PRINCÍPIO DA
ISONOMIA (IGUALDADE MATERIAL), BEM COMO AOS PRIMADOS DO
CONCURSO PÚBLICO, IMPESSOALIDADE E EFICIÊNCIA, ALÉM DE
OBSERVÂNCIA AOS DIREITOS À ASSISTÊNCIA SOCIAL E PREVIDÊNCIA E
À VEDAÇÃO AO RETROCESSO SOCIAL. INEXISTÊNCIA DOS REQUISITOS
NECESSÁRIOS AO IMPLEMENTO DA MEDIDA CAUTELAR. IMPROCEDÊNCIA
DA AÇÃO.
I - RELATÓRIO
1. Trata-se de ADI, com pedido de medida liminar, ajuizada pelo Partido Democrático Trabalhista -
PDT.
2. Segundo a parte autora, a Lei nº 13.954/2019 apresenta-se formal e materialmente
inconstitucional. Sob o aspecto formal, ressalta que, ao dispor sobre reforma de militares temporários, a norma,
de natureza ordinária, afrontou, a um só tempo, o disposto nos artigos 69 e 142, §1º, da Constituição Federal. Sob
o ângulo material, teria violado o direito fundamental à previdência e à assistência social (art. 6º, caput, da
CF/88), a previsão de responsabilidade objetiva do Estado (art. 37, §6º, da CF/88), além do princípio da isonomia
(art. 5º, caput, da CF/88) e da vedação ao retrocesso social.
3. Em linhas gerais, a inicial pontua que a lei inquinada de inconstitucional incluiu um parágrafo
1º no art. 109 do Estatuto dos Militares, dispondo que a reforma por incapacidade permanente só se aplica ao
militar temporário nas hipóteses dos incisos I e II do art. 108 da Lei nº 6.880/1980. Previsão de igual teor foi
encampada no art. 102, II-A, "b" do Estatuto, também inserido pela Lei nº 13.954/2019. Tal situação
representa, a seu ver, a dispensa de um tratamento não-isonômico e de insuficiente proteção
previdenciária/social, a 55% do efetivo total das Forças Armadas (militares temporários).
4. Sustenta a presença dos requisitos autorizadores do provimento cautelar.
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5. Requer assim:
a) em sede liminar, a suspensão da eficácia dos arts. 106, II-A, "b" e §1º e art. 109.§§1º, 2º e 3º,
todos da Lei nº 6.880/1980 alterados pelo art. 2º da Lei Federal nº 13.954/2019.
b) no mérito, requer seja a presente ADI conhecida e julgada procedente para declarar a
inconstitucionalidade total da Lei Federal nº 13.954/2019, por violação aos dispositivos da Constituição
Federal. E, acaso não seja declarada a inconstitucionalidade total da norma inquinada, sejam declarados
inconstitucionais os arts. 106, II-A, "b" e §1º e art. 109, §§1º, 2º e 3º, todos da Lei nº 6.880/1980 alterados pelo
art. 2º da Lei Federal nº 13.954/2019.
6. Os autos foram distribuídos ao Ministro Edson Fachin, o qual proferiu decisão no seguinte
sentido:
[...]'
A Lei, como prevê o seu artigo 29, vige há mais de dois anos, razão pela qual,
considerando a relevância da matéria e o seu especial significado para a ordem jurídica,
prudente que o pedido veiculado pelo Partido seja diretamente submetido ao Plenário do
Supremo Tribunal Federal. Aplico, portanto, o rito do art. 12 da Lei 9.868, de 1999.
Solicitem-se informações da Câmara dos Deputados, do Senado Federal e da
Presidência da República, no prazo de dez dias.
Em seguida, ouça-se o Advogado-Geral da União e o Procurador-Geral da República,
sucessivamente, no prazo de cinco dias.
Após, nova conclusão.
Publique-se, Intime-se.
Brasília, 11 de março de 2022;
Ministro EDSON FACHIN
Relator
Documento assinado digitalmente
7. É o sucinto relatório.
II - ANÁLISE
- CONSTITUCIONALIDADE FORMAL DA LEI 13.954/2019
8. Não prosperam as afirmações autorais no sentido de que a Lei 13.954/2019 estaria maculada
pelo vício da inconstitucionalidade formal, pois que: a) primeiro, a referida norma foi, nos estritos moldes
determinados pela alínea f do inciso II do parágrafo 1º do art. 61 da Constituição Federal, de iniciativa do Chefe
do Poder Executivo, conforme se vislumbra do extrato de tramitação do PL 1645/2019 junto à Câmara dos
Deputados, acessível para consulta no endereço
eletrônico https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2194874; b) segundo, a
lei complementar a que alude a Constituição Federal em seu artigo 142, §1º é a Lei Complementar nº 97, de 9 de
julho de 1999, a qual "Dispõe sobre as normas gerais para a organização, o preparo e o emprego das Forças
Armadas" e não a Lei 6.880/1980 (lei ordinária) como fez supor o demandante, razão pela qual não se pode falar
em afronta ao disposto nos artigos 69 e 142, §1º da Carta Magna.
9. Percebe-se, pois, que as máculas formais imputadas pela exordial à Lei 13.954/2019 de fato não
subsistem, eis que se trata de norma de iniciativa presidencial e cujo conteúdo altera lei ordinária (Lei 6.880/80) e
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não lei complementar, uma vez que o preceito constante do §1º do art. 142 da Constituição Federal encontra-se
devidamente regulado pela Lei Complementar 97/1999.
10. Destarte, dispensadas maiores digressões, resta evidente a conformidade da Lei 13.954/2019 com
as diretrizes formais estabelecidas pela Carta Magna.
- CONSTITUCIONALIDADE MATERIAL DA LEI 13.954/2019
11. Da mesma forma, no âmbito material não encontram guarida as ilações no sentido de que haveria,
no bojo das disposições da Lei 13.954/2019, violação aos direitos constitucionais à previdência e à assistência
social (art. 6º, caput, da CF/88), à previsão de responsabilidade objetiva do Estado (art. 37, §6º, da CF/88), além
de afronta ao princípio da isonomia (art. 5º, caput, da CF/88) e da vedação ao retrocesso social.
12. Pois bem, iniciemos a análise do tema definindo o que, de fato, é um militar de carreira e um
militar temporário e as diferenças daí advindas. Em linhas gerais, militar de carreira é aquele que ingressa por
concurso público para desempenhar, de maneira permanente, o serviço militar, possui vitaliciedade (no caso
dos Oficiais) e estabilidade (no caso de Praças com mais de 10 anos de efetivo serviço). O militar temporário, a
seu turno, não se submete a concurso público, mas a processo seletivo simplificado (art. 27, §1º, da Lei nº
4.375, de 1964), detém um vínculo precário com a Administração (com prazo determinado de 12 meses,
prorrogável a critério da Administração Militar, até o máximo de 96 meses), para o desempenho, a título
transitório, de serviço militar, ou seja, sem qualquer expectativa de estabilidade.
13. Note-se que o militar temporário, quando de seu ingresso nas fileiras de uma das Forças
Armadas tem conhecimento, desde o início, de que prestará serviços por tempo determinado, ao fim do
qual cessará a sua vinculação com o serviço ativo da Força, voltando à condição de civil. E, quando de seu
licenciamento (desligamento), o militar temporário receberá, a título de benefício, uma compensação
pecuniária, conforme previsto na Lei 7.963, de 21 de dezembro de 1989, que assim dispõe:
Art. 1º O oficial ou a praça, licenciado ex officio por término de prorrogação do
tempo de serviço, fará jus à compensação pecuniária equivalente a 1 (uma)
remuneração mensal por ano de efetivo serviço militar prestado, tomando-se como
base de cálculo o valor da remuneração correspondente ao posto ou à graduação, na
data de pagamento da referida compensação.
14. Acaso o militar temporário opte pelo seguimento na carreira da caserna, deverá submeter-
se a concurso público e frequentar e concluir com êxito as escolas e cursos específicos de formação
militar, conforme a área almejada.
15. Nesse sentido, face às evidentes diferenças entre militares de carreira e temporários, não poderia
a legislação de regência dispensar tratamento idêntico a duas situações jurídicas distintas, sob pena de
infringência ao princípio da igualdade material, e, em última análise, ao próprio princípio da isonomia
constitucionalmente protegido.
16. Nesse cenário, a Lei 13.954/2019, a qual "Altera a Lei nº 6.880, de 9 de dezembro de 1980
(Estatuto dos Militares), a Lei nº 3.765, de 4 de maio de 1960, a Lei nº 4.375, de 17 de agosto de 1964 (Lei do
Serviço Militar), a Lei nº 5.821, de 10 de novembro de 1972, a Lei nº 12.705, de 8 de agosto de 2012, e o
Decreto-Lei nº 667, de 2 de julho de 1969, para reestruturar a carreira militar e dispor sobre o Sistema de
Proteção Social dos Militares" introduziu modificações em diversas normas, sendo objeto direto da presente
demanda as alterações que tratam da incapacidade e da reforma dos militares temporários, tratadas nos artigos
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82-A; 106, II-A; 108; 109 e 111 do Estatuto dos Militares e art. 31 da Lei 4.375/64 (Lei do Serviço Militar).
Assim restaram cristalizados os dispositivos em tela:
Lei nº 6.880/80 (Estatuto dos Militares)
Art. 82-A. Considera-se incapaz para o serviço ativo
o militar que, temporária ou definitivamente, se
encontrar física ou mentalmente inapto para o
exercício de cargos, funções e atividades militares.
Art. 106. A reforma será aplicada ao militar que:
(Redação dada pela Lei nº 13.954, de 2019)
(...)
II-A. se temporário: (Incluído pela Lei nº
13.954, de 2019)
a) for julgado inválido; (Incluído pela Lei nº
13.954, de 2019)
b) for julgado incapaz, definitivamente, para o
serviço ativo das Forças Armadas, quando
enquadrado no disposto nos incisos I e II do caput do
art. 108 desta Lei; (Incluído pela Lei nº
13.954, de 2019)
Art. 108. A incapacidade definitiva pode sobrevir em
conseqüência de:
I - ferimento recebido em campanha ou na
manutenção da ordem pública;
II - enfermidade contraída em campanha ou na
manutenção da ordem pública, ou enfermidade cuja
causa eficiente decorra de uma dessas situações;
III - acidente em serviço;
IV - doença, moléstia ou enfermidade adquirida
em tempo de paz, com relação de causa e efeito a
condições inerentes ao serviço;
V - tuberculose ativa, alienação mental, esclerose
múltipla, neoplasia maligna, cegueira, lepra, paralisia
irreversível e incapacitante, cardiopatia grave, mal de
Parkinson, pênfigo, espondiloartrose anquilosante,
nefropatia grave e outras moléstias que a lei indicar
com base nas conclusões da medicina especializada;
e (Redação dada pela Lei nº 12.670, de
2012)
VI - acidente ou doença, moléstia ou enfermidade,
sem relação de causa e efeito com o serviço.
§ 1º Os casos de que tratam os itens I, II, III e IV
serão provados por atestado de origem, inquérito
sanitário de origem ou ficha de evacuação, sendo os
termos do acidente, baixa ao hospital, papeleta de
tratamento nas enfermarias e hospitais, e os registros
de baixa utilizados como meios subsidiários para
esclarecer a situação.
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25. Quanto à probabilidade do direito, resta afastada ante a cabal demonstração acerca da
inexistência de qualquer tipo de inconstitucionalidade.
26. O periculum in mora, por sua vez, é inverso, uma vez que, acaso deferida a cautelar, estará o
Pretório Excelso perpetrando situação de desigualdade material, em claro prejuízo aos primados do concurso
público, economicidade, impessoalidade e eficiência da Administração Pública.
IV - CONCLUSÃO
27. Diante do exposto pugna-se:
a) pela não concessão da medida cautelar pleiteada;
b) no mérito, pela improcedência da demanda ante o reconhecimento da constitucionalidade
formal e material da Lei 13.954/2019.
28. São essas as considerações tidas por pertinentes e as quais opina-se sejam apresentadas ao
Supremo Tribunal Federal a título de informações a serem prestadas pelo Presidente da República na ADI 7092.
À consideração superior.
Brasília, 22 de março de 2022.
MÁRCIA DE HOLLEBEN JUNQUEIRA
ADVOGADA DA UNIÃO
ANEXOS:
- INFORMAÇÕES n. 00007/2022/CONJUR-MD/CGU/AGU E SEUS ANEXOS
https://sapiens.agu.gov.br/documento/849072072 10/10
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ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO
CONSULTORIA-GERAL DA UNIÃO
CONSULTORIA DA UNIÃO
DESPACHO n. 00136/2022/CONSUNIAO/CGU/AGU
NUP: 00692.000545/2022-99 (REF. 0115649-55.2022.1.00.0000)
INTERESSADOS: PARTIDO DEMOCRÁTICO TRABALHISTA - PDT E OUTROS
ASSUNTO: ADI 7092
Estou de acordo com as INFORMAÇÕES n. 00035/2022/CONSUNIAO/CGU/AGU , da
lavra da Dra. Márcia De Holleben Junqueira.
Submeto a matéria à consideração do Senhor Consultor-Geral da União.
Brasília, 28 de março de 2022.
(assinado eletronicamente)
Alyne Gonzaga de Souza
Advogada da União
Consultora da União
Documento assinado eletronicamente por ALYNE GONZAGA DE SOUZA, de acordo com os normativos
legais aplicáveis.
A conferência da autenticidade do documento está disponível com o código 853401870 no
endereço eletrônico http://sapiens.agu.gov.br.
Informações adicionais:
Signatário (a): ALYNE GONZAGA
DE SOUZA.
Data e Hora: 28-03-2022 10:07.
Número de Série: 13190960.
Emissor: Autoridade
Certificadora SERPRORFBv4.
https://sapiens.agu.gov.br/documento/853401870 1/1
28/03/2022 11:40 https://sapiens.agu.gov.br/documento/853479381
ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO
CONSULTORIA-GERAL DA UNIÃO
GABINETE
SAS, QUADRA 03, LOTE 5/6, 12 ANDAR - AGU SEDE IFONE (61) 2026-8557 BRASÍLIA/DF 70.070-030
DESPACHO n. 00136/2022/GAB/CGU/AGU
NUP: 00692.000545/2022-99 (REF. 0115649-55.2022.1.00.0000)
INTERESSADOS: PARTIDO DEMOCRÁTICO TRABALHISTA - PDT E OUTROS
ASSUNTO: ADI 7092
1. Aprovo, nos termos do DESPACHO n.
00136/2022/CONSUNIAO/CGU/AGU, as INFORMAÇÕES n. 00035/2022/CONSUNIAO/CGU/AGU , da
lavra da Advogada da União, Dra. Márcia De Holleben Junqueira.
2. Submeto-as à apreciação do Excelentíssimo Senhor Advogado-Geral da União.
Brasília, 28 de março de 2022.
(assinado eletronicamente)
ARTHUR CERQUEIRA VALÉRIO
Advogado da União
Consultor-Geral da União
https://sapiens.agu.gov.br/documento/853479381 1/1
ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO