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Mensagem nº 125

Senhor Presidente do Supremo Tribunal Federal,

Para instruir o julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 7.092-DF,


tenho a honra de encaminhar a Vossa Excelência as informações, em anexo, elaboradas pela
Advocacia-Geral da União.

Brasília, 28 de março de 2022.


28/03/2022 11:38 https://sapiens.agu.gov.br/documento/849072072

ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO

CONSULTORIA-GERAL DA UNIÃO

CONSULTORIA DA UNIÃO

 
INFORMAÇÕES n. 00035/2022/CONSUNIAO/CGU/AGU
 
NUP: 00692.000545/2022-99 (REF. 0115649-55.2022.1.00.0000)
INTERESSADOS: PARTIDO DEMOCRÁTICO TRABALHISTA - PDT E OUTROS
ASSUNTOS: ADI 7092
 
 
EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE COM PEDIDO DE
LIMINAR. SUPOSTA INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL E MATERIAL DA
LEI 13.954/2019.   NO ÂMBITO FORMAL, INOCORRÊNCIA DE VÍCIO DE
INICIATIVA E DE OFENSA À MATÉRIA RESERVADA À LEI COMPLEMENTAR.
NA ESFERA MATERIAL, DEMONSTRADO O RESPEITO AO  PRINCÍPIO  DA
ISONOMIA (IGUALDADE MATERIAL), BEM COMO AOS PRIMADOS DO
CONCURSO PÚBLICO, IMPESSOALIDADE E EFICIÊNCIA, ALÉM  DE
OBSERVÂNCIA AOS DIREITOS À ASSISTÊNCIA SOCIAL E PREVIDÊNCIA E
À  VEDAÇÃO AO RETROCESSO SOCIAL.  INEXISTÊNCIA DOS REQUISITOS
NECESSÁRIOS AO IMPLEMENTO DA MEDIDA CAUTELAR. IMPROCEDÊNCIA
DA AÇÃO.
 
 
I - RELATÓRIO 
 
 
1. Trata-se de ADI, com pedido de medida liminar, ajuizada pelo Partido Democrático Trabalhista -
PDT.
 
2. Segundo a parte autora, a Lei nº 13.954/2019 apresenta-se formal e materialmente
inconstitucional. Sob o aspecto formal, ressalta que, ao dispor sobre reforma de militares temporários, a norma,
de natureza ordinária, afrontou, a um só tempo, o disposto nos artigos 69 e 142, §1º, da Constituição Federal. Sob
o ângulo material, teria violado o direito fundamental à previdência e à assistência social (art. 6º, caput, da
CF/88), a previsão de responsabilidade objetiva do Estado (art. 37, §6º, da CF/88), além do princípio da isonomia
(art. 5º, caput, da CF/88) e da vedação ao retrocesso social.
 
3. Em linhas gerais, a inicial pontua que a lei inquinada de inconstitucional  incluiu um parágrafo
1º no art. 109 do Estatuto dos Militares, dispondo que a reforma por incapacidade permanente só se aplica ao
militar temporário nas hipóteses dos incisos I e II do art. 108 da Lei nº 6.880/1980. Previsão de igual teor foi
encampada no art. 102, II-A, "b" do Estatuto, também inserido pela Lei nº 13.954/2019.  Tal situação
representa, a seu ver, a dispensa de um  tratamento não-isonômico e de insuficiente proteção
previdenciária/social,  a 55% do efetivo total das Forças Armadas (militares temporários).
 
4. Sustenta a presença dos requisitos autorizadores do provimento cautelar.

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5. Requer assim:
 
a) em sede liminar, a suspensão da eficácia dos arts. 106, II-A, "b" e §1º e art. 109.§§1º, 2º e 3º,
todos da Lei nº 6.880/1980 alterados pelo art. 2º da Lei Federal nº 13.954/2019.
b) no mérito, requer seja a presente ADI  conhecida e julgada procedente para  declarar a
inconstitucionalidade total  da Lei Federal nº 13.954/2019, por violação aos dispositivos da Constituição
Federal. E, acaso não seja declarada a inconstitucionalidade total da norma inquinada, sejam    declarados
inconstitucionais os arts. 106, II-A, "b" e §1º e art. 109, §§1º, 2º e 3º, todos da Lei nº 6.880/1980 alterados pelo
art. 2º da Lei Federal nº 13.954/2019.
 
6. Os autos foram distribuídos ao Ministro Edson Fachin, o qual proferiu decisão no seguinte
sentido:
 
[...]'
A Lei, como prevê o seu artigo 29, vige há mais de dois anos, razão pela qual,
considerando a relevância da matéria e o seu especial significado para a ordem jurídica,
prudente que o pedido veiculado pelo Partido seja diretamente submetido ao Plenário do
Supremo Tribunal Federal. Aplico, portanto, o rito do art. 12 da Lei 9.868, de 1999.
Solicitem-se informações da Câmara dos Deputados, do Senado Federal e da
Presidência da República, no prazo de dez dias.
Em seguida, ouça-se o Advogado-Geral da União e o Procurador-Geral da República,
sucessivamente, no prazo de cinco dias.
Após, nova conclusão.
Publique-se, Intime-se.
Brasília, 11 de março de 2022;
Ministro EDSON FACHIN
Relator
Documento assinado digitalmente
 
7. É o sucinto relatório.
 
 
II - ANÁLISE
 
- CONSTITUCIONALIDADE FORMAL DA LEI 13.954/2019
 
8.   Não prosperam as afirmações autorais no sentido de que  a Lei 13.954/2019 estaria maculada
pelo vício da inconstitucionalidade formal, pois que: a) primeiro,  a referida norma foi, nos estritos  moldes
determinados pela alínea f  do inciso II  do parágrafo 1º do art. 61 da Constituição Federal, de iniciativa do Chefe
do Poder Executivo, conforme se vislumbra do extrato de tramitação do PL 1645/2019 junto à Câmara dos
Deputados, acessível para consulta  no endereço
eletrônico https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2194874; b) segundo, a
lei complementar a que alude a Constituição Federal em seu artigo 142, §1º é a Lei Complementar nº 97, de 9 de
julho de 1999, a qual "Dispõe sobre as normas gerais para a organização, o preparo e o emprego das Forças
Armadas" e não a Lei 6.880/1980 (lei ordinária) como fez supor  o demandante, razão pela qual não se pode falar
em afronta ao disposto nos artigos 69 e 142, §1º da Carta Magna.
 
9. Percebe-se, pois, que as máculas formais imputadas pela exordial à Lei 13.954/2019 de fato não
subsistem, eis que se trata de norma de iniciativa presidencial e cujo conteúdo altera lei ordinária (Lei 6.880/80) e

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não lei complementar, uma vez que o preceito constante do §1º do art. 142 da Constituição Federal encontra-se
devidamente regulado pela Lei Complementar 97/1999.
 
10. Destarte, dispensadas maiores digressões, resta evidente a conformidade da Lei 13.954/2019 com
as diretrizes formais estabelecidas pela Carta Magna.
 
- CONSTITUCIONALIDADE MATERIAL DA LEI 13.954/2019
 
11. Da mesma forma, no âmbito material não encontram guarida as ilações no sentido de que haveria,
no bojo das disposições da Lei 13.954/2019,  violação aos direitos  constitucionais  à previdência e à assistência
social (art. 6º, caput, da CF/88), à previsão de responsabilidade objetiva do Estado (art. 37, §6º, da CF/88), além
de afronta ao princípio da isonomia (art. 5º, caput, da CF/88) e da vedação ao retrocesso social.
 
12. Pois bem, iniciemos a análise do tema definindo o que, de fato, é um  militar de carreira e um
militar temporário e as diferenças daí advindas. Em linhas gerais, militar de carreira é aquele que ingressa por
concurso público para  desempenhar,  de maneira permanente, o serviço militar, possui vitaliciedade (no caso
dos Oficiais) e estabilidade (no caso de Praças com mais de 10 anos de efetivo serviço). O militar temporário, a
seu turno, não se submete a concurso público, mas a processo seletivo simplificado (art. 27, §1º, da Lei nº
4.375, de 1964), detém um vínculo precário com a Administração (com  prazo determinado de 12 meses,
prorrogável a critério da Administração Militar, até o máximo de 96 meses),  para  o desempenho, a título
transitório, de serviço militar, ou seja, sem qualquer expectativa de estabilidade.
 
13. Note-se que o militar temporário, quando de seu ingresso nas fileiras de uma das Forças
Armadas tem conhecimento, desde o início, de que prestará serviços por tempo determinado, ao fim do
qual cessará a sua vinculação com o serviço ativo da Força, voltando à condição de civil. E, quando de seu
licenciamento (desligamento), o militar temporário receberá, a título de benefício, uma compensação
pecuniária, conforme previsto na Lei 7.963, de 21 de dezembro de 1989, que assim dispõe:
 
Art. 1º O oficial ou a praça, licenciado ex officio por término de prorrogação do
tempo de serviço, fará jus à compensação pecuniária equivalente a 1 (uma)
remuneração mensal por ano de efetivo serviço militar prestado, tomando-se como
base de cálculo o valor da remuneração correspondente ao posto ou à graduação, na
data de pagamento da referida compensação.
 
 
14. Acaso o militar temporário opte pelo seguimento na carreira da caserna, deverá submeter-
se a concurso público e frequentar e concluir com êxito as escolas e cursos específicos de formação
militar, conforme a área almejada.
 
15. Nesse sentido, face às evidentes diferenças entre militares de carreira e temporários, não poderia
a legislação de regência dispensar tratamento idêntico a duas situações jurídicas distintas, sob pena de
infringência ao princípio da igualdade material, e, em última análise, ao próprio princípio da isonomia
constitucionalmente protegido.
 
16. Nesse cenário, a Lei 13.954/2019, a qual "Altera a Lei nº 6.880, de 9 de dezembro de 1980
(Estatuto dos Militares), a Lei nº 3.765, de 4 de maio de 1960, a Lei nº 4.375, de 17 de agosto de 1964 (Lei do
Serviço Militar), a Lei nº 5.821, de 10 de novembro de 1972, a Lei nº 12.705, de 8 de agosto de 2012, e o
Decreto-Lei nº 667, de 2 de julho de 1969, para reestruturar a carreira militar e dispor sobre o Sistema de
Proteção Social dos Militares"  introduziu modificações em diversas normas, sendo objeto direto  da  presente
demanda as alterações que tratam da incapacidade e da reforma dos militares temporários, tratadas nos artigos 

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82-A;  106, II-A; 108;  109 e 111 do Estatuto dos Militares e art. 31 da Lei 4.375/64 (Lei do Serviço Militar).
Assim restaram cristalizados os dispositivos em tela:                                                                   
Lei nº 6.880/80 (Estatuto dos Militares)
 
Art. 82-A. Considera-se incapaz para o serviço ativo
o militar que, temporária ou definitivamente, se
encontrar física ou mentalmente inapto para o
exercício de cargos, funções e atividades militares.   
 
Art. 106. A reforma será aplicada ao militar que:        
   (Redação dada pela Lei nº 13.954, de 2019)
(...)
II-A. se temporário:            (Incluído pela Lei nº
13.954, de 2019)
a) for julgado inválido;            (Incluído pela Lei nº
13.954, de 2019)
b) for julgado incapaz, definitivamente, para o
serviço ativo das Forças Armadas, quando
enquadrado no disposto nos incisos I e II do caput do
art. 108 desta Lei;                      (Incluído pela Lei nº
13.954, de 2019)
 
Art. 108. A incapacidade definitiva pode sobrevir em
conseqüência de:
          I - ferimento recebido em campanha ou na
manutenção da ordem pública;
      II - enfermidade contraída em campanha ou na
manutenção da ordem pública, ou enfermidade cuja
causa eficiente decorra de uma dessas situações;
     III - acidente em serviço;
        IV - doença, moléstia ou enfermidade adquirida
em tempo de paz, com relação de causa e efeito a
condições inerentes ao serviço;
     V - tuberculose ativa, alienação mental, esclerose
múltipla, neoplasia maligna, cegueira, lepra, paralisia
irreversível e incapacitante, cardiopatia grave, mal de
Parkinson, pênfigo, espondiloartrose anquilosante,
nefropatia grave e outras moléstias que a lei indicar
com base nas conclusões da medicina especializada;
e                            (Redação dada pela Lei nº 12.670, de
2012)
     VI - acidente ou doença, moléstia ou enfermidade,
sem relação de causa e efeito com o serviço.
    § 1º Os casos de que tratam os itens I, II, III e IV
serão provados por atestado de origem, inquérito
sanitário de origem ou ficha de evacuação, sendo os
termos do acidente, baixa ao hospital, papeleta de
tratamento nas enfermarias e hospitais, e os registros
de baixa utilizados como meios subsidiários para
esclarecer a situação.

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     § 2º Os militares julgados incapazes por um dos


motivos constantes do item V deste artigo somente
poderão ser reformados após a homologação, por
Junta Superior de Saúde, da inspeção de saúde que
concluiu pela incapacidade definitiva, obedecida à
regulamentação específica de cada Força Singular.
 
Art. 109. O militar de carreira julgado incapaz
definitivamente para a  atividade militar por uma das
hipóteses previstas nos incisos I, II, III, IV e V
do caput do art. 108 desta Lei será reformado com
qualquer tempo de serviço.         (Redação dada pela
Lei nº 13.954, de 2019)
§ 1º O disposto neste artigo aplica-se ao militar
temporário enquadrado em uma das hipóteses
previstas nos incisos I e II do caput do art. 108 desta
Lei.            (Incluído pela Lei nº 13.954, de 2019)
§ 2º O disposto neste artigo aplica-se ao militar
temporário enquadrado em uma das hipóteses
previstas nos incisos III, IV e V do caput do art. 108
desta Lei se, concomitantemente, for considerado
inválido por estar impossibilitado total e
permanentemente para qualquer atividade laboral,
pública ou privada.                      (Incluído pela Lei nº
13.954, de 2019)
§ 3º O militar temporário que estiver enquadrado em
uma das hipóteses previstas nos incisos III, IV e V
do  caput  do art. 108 desta Lei, mas não for
considerado inválido por não estar impossibilitado
total e permanentemente para qualquer atividade
laboral, pública ou privada, será licenciado ou
desincorporado na forma prevista na legislação do
serviço militar.          (Incluído pela Lei nº 13.954, de
2019)
 
Art. 111. O militar da ativa julgado incapaz
definitivamente por um dos motivos constantes do
item VI do artigo 108 será reformado:
I - com remuneração proporcional ao tempo de
serviço, se oficial ou praça com estabilidade
assegurada; e
II - com remuneração calculada com base no soldo
integral do posto ou graduação, desde que, com
qualquer tempo de serviço, seja considerado inválido,
isto é, impossibilitado total e permanentemente para
qualquer trabalho.
§ 1º O militar temporário, na hipótese prevista neste
artigo, só fará jus à reforma se for considerado
inválido por estar impossibilitado total e
permanentemente para qualquer atividade laboral,
pública ou privada.                    (Incluído pela Lei nº
13.954, de 2019)

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§ 2º Será licenciado ou desincorporado, na forma


prevista na legislação pertinente, o militar temporário
que não for considerado inválido.            (Incluído
pela Lei nº 13.954, de 2019).
 
Lei nº 4.375/64 (Lei do Serviço Militar)
 
Art. 31. O serviço ativo das Forças Armadas será
interrompido:     (Redação dada pela Lei nº 13.954,
de 2019)
 a) pela anulação da incorporação;
 b) pela desincorporação;
 c) pela expulsão;
 d) pela deserção.
(...)
§ 6º Os militares temporários licenciados por término
de tempo de serviço ou desincorporados que estejam
na condição de incapazes temporariamente para o
serviço militar em decorrência de moléstia ou
acidente deverão ser postos na situação de
encostamento, nos termos da legislação aplicável e
dos seus regulamentos.            (Incluído pela Lei nº
13.954, de 2019)
§ 7º Não se aplica o disposto no § 6º deste artigo aos
militares incapazes temporariamente em decorrência
das hipóteses previstas nos incisos I e II do caput do
art. 108 da Lei nº 6.880, de 9 de dezembro de 1980
(Estatuto dos Militares), ou que estejam
temporariamente impossibilitados de exercer
qualquer atividade laboral, pública ou
privada.     (Incluído pela Lei nº 13.954, de 2019) c
§ 8º O encostamento a que se refere o § 6º deste
artigo é o ato de manutenção do convocado,
voluntário, reservista, desincorporado, insubmisso ou
desertor na organização militar, para fins específicos
declarados no ato e sem percepção de
remuneração.            (Incluído pela Lei nº 13.954, de
2019)
 
17. Da leitura e análise conjugada das disposições supratranscritas, possível depreender que:
 
 -  em relação à incapacidade definitiva, o militar temporário:
 
a) será reformado  quando  julgado incapaz definitivamente para a atividade militar
em  decorrência de  ferimento recebido em campanha ou na manutenção da ordem pública, e por  enfermidade
contraída ou cuja causa eficiente decorra de uma dessas situações (incisos I e II do art. 108); e
 
b) será reformado quando considerado inválido por estar impossibilitado total e permanentemente
para qualquer atividade laboral, pública ou privada, nos casos dos incisos III a VI do art. 108 da Lei 6.880/80.
 

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- em relação à incapacidade temporária, o militar temporário:  ao ter interrompido o serviço


ativo das FA (art. 31 da Lei 4.375/64) e que esteja na condição de incapaz temporariamente para o serviço militar
em decorrência de moléstia ou acidente, deverá ser posto na situação de  encostamento (garantida a  assistência
médico-hospitalar de que necessite  para restabelecer  a sua  capacidade laborativa  e sem percepção de
remuneração), salvo se essa incapacidade for decorrente das hipóteses previstas nos incisos I e II do art. 108
da Lei 6.880/80 ou se estiver  temporariamente impossibilitado  de exercer qualquer atividade laboral,
pública ou privada, circunstâncias que lhe garantem a percepção de  remuneração e assistência médica e
hospitalar.
 
18. Em suma, e como bem pontuado pelo Departamento-Geral do Pessoal do Exército Brasileiro por
meio do DIEx Nº 649 -Div Est e Plj/APG/VCh DGP - CIRCULAR (em anexo), o militar temporário somente é
licenciado e colocado na condição de encostado (circunstância  que lhe garante apenas o tratamento de saúde de
forma gratuita no âmbito das respectivas Forças Armadas), quando se encontra com capacidade para atividades
laborais civis. Caso o agente médico pericial ateste que não há essa aptidão laborativa, o militar permanece adido
com direito à remuneração e ao tratamento de saúde  até que a adquira, oportunidade na qual será  licenciado e
colocado na condição de encostado; ou sobrevenha a invalidez que é incapacidade definitiva para toda e qualquer
atividade laboral, pública ou privada, quando então será reformado.
 
19. A conduta administrativa determinada pela legislação é plenamente justificável pelo fato de o
militar temporário, em razão do vínculo provisório que mantém com as Forças Armadas, ter como parâmetro a
capacidade laborativa civil. Ora, se o militar temporário ingressou na Força com um vínculo precário,  para
prestar uma atividade transitória e, por conta de circunstâncias alheias ao serviço, ou não (no caso do inciso III do
art. 108 da Lei 13.954/2019), adquiriu uma incapacidade temporária exclusivamente para a atividade militar, a
qual - ressalvada a hipótese remota de mobilização - nunca mais exercerá, não há como lhe garantir, com base
apenas na incapacidade para o serviço militar (que exige uma condição física bem específica), o instituto da
reforma, bastando-lhe somente a proteção garantida pela adição, cuja permanência com direito à remuneração e
ao tratamento de saúde perdurará enquanto estiver na condição de incapaz para as atividades laborais públicas e
privadas, até que sobrevenha invalidez, quando então será reformado, ou obtenha a aptidão para laborar no meio
civil, hipótese em que será licenciado e colocado na condição de encostado com direito ao tratamento de saúde
(que não lhe é primordial para sua reinserção no mercado (civil) de trabalho, haja vista sua higidez para esse tipo
de função).
 
20. Como bem anotado pela Consultoria Jurídica do Ministério da Defesa no Parecer n.
00881/2021/CONJUR-MD/CGU/AGU, na seara civil também se visualizam distinções - decorrentes dos
diferentes vínculos de sujeição para com o Poder Público - entre servidores públicos estatutários, empregados
públicos e agentes contratados por tempo determinado para atender à necessidade temporária de excepcional
interesse público, sendo que cada uma dessas categorias de agentes públicos possui regramento legal distinto (na
esfera federal, respectivamente, Lei nº 8.112/1990, Lei nº 9.962/2000 e Lei nº 8.745/1993), sem que isso
caracterize afronta ao princípio da isonomia ou da assistência social e previdenciária.
 
21. Nesse contexto, pertinente transcrever parte do Parecer n. 00591/2021/COJAER/CGU/AGU (em
anexo), que trata do regime previdenciário aplicável aos militares temporários, a saber:
 
 
"(...)
Não por outra razão, a Lei 13.954, de 16 de dezembro de 2019, ao encontro da Emenda
Constitucional nº 103, acrescentou à Lei nº 4.375, de 17 de agosto de 1964, o artigo 27-
A, com a seguinte redação:
 
Art. 27-A. Por ocasião do licenciamento do militar
temporário das Forças Armadas, o tempo de
atividade e as contribuições recolhidas para a pensão

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militar serão transferidos ao Regime Geral de


Previdência Social, para fins de contagem de tempo
de contribuição, na forma estabelecida em
regulamento a ser editado pelo Poder Executivo
federal.      (Incluído pela Lei nº 13.954, de 2019)
 
28. De se recordar que a citada EC 103, aprovada pelo Congresso Nacional e publicada
no Diário Oficial da União, em 13.11.2019, alterou o Sistema de Previdência Social,
sendo, por isso, intitulada de "Reforma da Previdência".
 
29. Destarte, dentre estas alterações, operadas pela EC, foi incluído à magna Carta, o §9º-
A do art. 201, que resguardou o direito à contagem recíproca, também em relação ao
tempo de serviço militar, inclusive, com compensação financeira, verbis:
Art. 201. A previdência social será organizada sob a
forma do Regime Geral de Previdência Social, de
caráter contributivo e de filiação obrigatória,
observados critérios que preservem o equilíbrio
financeiro e atuarial, e atenderá, na forma da lei,
a:          
(...)
§ 9º-A. O tempo de serviço militar exercido nas
atividades de que tratam os arts. 42, 142 e 143 e o
tempo de contribuição ao Regime Geral de
Previdência Social ou a regime próprio de
previdência social terão contagem recíproca para fins
de inativação militar ou aposentadoria, e a
compensação financeira será devida entre as receitas
de contribuição referentes aos militares e as receitas
de contribuição aos demais regimes. 
 
30. Assim, findo o serviço temporário, é possível que o tempo como militar seja
computado como tempo de contribuição nas aposentadorias civis, especificamente as do
Regime Geral de Previdência Social, inclusive com a transferência das contribuições
recolhidas pelo militar licenciado.
 
31. Quanto a isto, bem pontua o COMGEP, por meio do Ofício nº 249/ALE/12276, DE
15 DE OUTUBRO DE 2021 (seq. 16):                                 
                             
3. Cabe ressaltar que o militar temporário quando
cessar a vinculação ao serviço ativo terá transferido
para o Regime Geral de Previdência Social o tempo
de atividade e as contribuições recolhidas para a
pensão militar para fins de contagem de tempo de
contribuição.
4. Diante disso, fica claro que a norma quis que o
militar temporário diagnosticado com alguma
enfermidade incapacitante seja reinserido no
mercado de trabalho e siga as regras para a
aposentadoria pelo Regime Geral de Previdência
Social (desde que não julgado inválido, quando será
reformado). Isso porque a doença ou moléstia não o

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incapacita para o exercício de atividades no meio


civil.
5. Diferente para o militar de carreira que caso venha
a ser diagnosticado com alguma enfermidade
incapacitante será abarcado pela reforma que é o
meio hábil para a sua proteção social e de sua
família.
6. Assim, o militar temporário, ao ingressar nas
fileiras da Força, tem ciência de que sua função será
exercida por tempo limitado e não o dá direito a
proventos na inatividade, por outro lado o militar de
carreira se forma e desenvolve sua atividade
profissional com a certeza de que, se obedecer aos
princípios constitucionais da hierarquia e da
disciplina, bem como as obrigações castrenses
seguirá para a inatividade remunerada.
7. Importa salientar que caso o temporário venha a
ficar inválido será amparado pela reforma, haja vista
que não poderá exercer atividades laborativas no
meio civil. Mas, caso a incapacidade física não
acarrete em invalidez, em que pese não fazerem jus a
qualquer quantia dos cofres públicos, terá direito a
tratamento de saúde na qualidade de encostado.
 
32. Destarte, o militar temporário, quando licenciado, não fica ao desabrigo da proteção
social, podendo recorrer ao Regime Geral de Previdência Social.
 
33. Ademais, cumpre registrar que quando do seu licenciamento, o militar temporário faz
jus à compensação  pecuniária equivalente a 1 (uma) remuneração mensal por ano de
efetivo serviço militar prestado, tomando-se como base de cálculo o valor da
remuneração correspondente ao posto ou à graduação (Art. 1º, caput, da Lei nº 7.963,
de 21 de dezembro de 1989)."
 
 
22. Nesse sentido e como bem demonstrado, não há, sob qualquer ângulo de observação, afronta ou
violação ao direito à assistência social e à previdência, ao princípio da isonomia, à vedação ao retrocesso social
ou à responsabilidade objetiva do Estado.
 
23. Ao revés, a eventual procedência dos pleitos autorais  levariam à quebra da igualdade material,
bem como ao aviltamento dos primados do concurso público, da impessoalidade e da eficiência na Administração
Pública, além de graves repercussões na esfera econômica e social, uma vez que não há justificativa razoável
para a permanência, na condição de adido, ou para a reforma automática, de militares temporários que, de
fato, detêm higidez física e capacidade laborativa compatíveis com o desempenho de atividades civis.
 
 
 
III -  DA INEXISTÊNCIA DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS AO IMPLEMENTO DA
MEDIDA LIMINAR
 
24. É necessário registrar que a análise da situação ora apresentada revela que os requisitos para
concessão da medida liminar, quais sejam, o fumus boni iuris e o periculum in mora, não estão presentes.

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28/03/2022 11:38 https://sapiens.agu.gov.br/documento/849072072

 
25. Quanto à probabilidade do direito,  resta afastada ante a cabal demonstração acerca da
inexistência de qualquer  tipo de inconstitucionalidade.
 
26. O periculum  in mora, por sua vez, é inverso, uma vez que, acaso deferida a cautelar, estará o
Pretório Excelso perpetrando situação de desigualdade material, em claro prejuízo aos primados do concurso
público, economicidade, impessoalidade e eficiência da Administração Pública.
 
IV -  CONCLUSÃO
 
27. Diante do exposto pugna-se:
 
a) pela não concessão da medida cautelar pleiteada;
b)  no mérito, pela improcedência da demanda ante o reconhecimento da constitucionalidade
formal e material da Lei 13.954/2019.
 
28. São essas as considerações tidas por pertinentes e as quais opina-se sejam apresentadas ao
Supremo Tribunal Federal a título de informações a serem prestadas pelo Presidente da República na ADI 7092.
 
À consideração superior.
 
Brasília, 22 de março de 2022.
 
 
MÁRCIA DE HOLLEBEN JUNQUEIRA
ADVOGADA DA UNIÃO
 
 
ANEXOS:
- INFORMAÇÕES n. 00007/2022/CONJUR-MD/CGU/AGU E SEUS ANEXOS
 
 
 
 

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Informações adicionais:
Signatário (a): MARCIA
DE HOLLEBEN JUNQUEIRA.
Data e Hora: 28-03-2022 10:02.
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NUP: 00692.000545/2022-99 (REF. 0115649-55.2022.1.00.0000)
INTERESSADOS: PARTIDO DEMOCRÁTICO TRABALHISTA - PDT E OUTROS
ASSUNTO: ADI 7092
 
 
Estou de acordo com as INFORMAÇÕES n. 00035/2022/CONSUNIAO/CGU/AGU  , da
lavra da Dra. Márcia De Holleben Junqueira.
 
Submeto a matéria à consideração do Senhor Consultor-Geral da União.
Brasília, 28 de março de 2022.
 
(assinado eletronicamente)
Alyne Gonzaga de Souza
Advogada da União
Consultora da União
 
 

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GABINETE

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DESPACHO n. 00136/2022/GAB/CGU/AGU
 
NUP: 00692.000545/2022-99 (REF. 0115649-55.2022.1.00.0000)
INTERESSADOS: PARTIDO DEMOCRÁTICO TRABALHISTA - PDT E OUTROS
ASSUNTO: ADI 7092
 
 
 
1. Aprovo, nos termos do DESPACHO n.
00136/2022/CONSUNIAO/CGU/AGU, as INFORMAÇÕES n. 00035/2022/CONSUNIAO/CGU/AGU , da
lavra da Advogada da União, Dra. Márcia De Holleben Junqueira.
 
2. Submeto-as à apreciação do Excelentíssimo Senhor Advogado-Geral da União.
 
Brasília, 28 de março de 2022.
 
 
(assinado eletronicamente)
ARTHUR CERQUEIRA VALÉRIO
Advogado da União
Consultor-Geral da União
 
 

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PROCESSO Nº 00692.000545/2022-99 (REF. 0115649-55.2022.1.00.0000)


ORIGEM: STF - Ofício nº 216/2022, de 11 de março de 2022.
RELATOR: MIN. EDSON FACHIN
ASSUNTO: Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 7.092

Despacho do Advogado-Geral da União nº 124

Adoto, nos termos do Despacho do Consultor-Geral da União, para os fins e


efeitos do art. 4º, inciso V, da Lei Complementar nº 73, de 10 de fevereiro de 1993, as
INFORMAÇÕES nº 00035/2022/CONSUNIAO/CGU/AGU, elaboradas pela
Advogada da União Dra. Márcia de Holleben Junqueira.

Brasília, 28 de março de 2022.

Assinado de forma digital


BRUNO por BRUNO BIANCO LEAL

BIANCO LEAL Dados: 2022.03.28


18:03:20 -03'00'
BRUNO BIANCO LEAL
Advogado-Geral da União

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