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Direito da Família

Turma A- Regência do Professor Dr. Luís Menezes Leitão

O Direito da Família enquanto ramo do Direito Civil


O Direito da Família integra o Livro IV do Código Civil, juntando-se ao
Direito das Sucessões enquanto Direito institucional. No Direito Privado
(Direito das Obrigações) as normas são supletivas, no Direito da Família há
uma proliferação de normas injuntivas. Consta em 1º lugar na CRP no Art.
36º e consagra como direito fundamental o direito de constituir família e
cumprir o casamento.
Como diplomas extravagantes temos: o Código do Regente Civil; Regime
Jurídico da Adoção; Regime geral do processo (...); Regime Jurídico do
Apadrinhamento.
Quatro Princípios gerais:
 Princípio da Autonomia Familiar
 Princípio da Solidariedade Familiar (estabelecimento de redes de
solidariedade dos membros da família. Ex: Estabelecimento da
obrigação de alimentos- Art. 200º e ss.)
 Princípio da igualdade e não discriminação (Arts. 1674º; 1678/1;
1676º)
 Princípio da proteção dos interesses do menor (Não valem
exclusividade- Art. 69º, 80º)

O Direito da Família representa o ramo do Direito Civil que trata do


conjunto de normas jurídicas reguladoras da instituição família, contudo
não encontramos no Código Civil a noção/designação da família. É
unânime que o conceito da família varia conforme o tempo e o espaço,
contudo desde a entrada em vigor do Código Civil que tem sido adotada a
mesma ideia de família.
Família é um grupo de pessoas que estão entreunidas por qualquer uma
das relações jurídicas familiares, presentes no Artigo 1576º do Código
Jurídico (Fontes das Relações Jurídicas).

Art. 1576º: “São fontes das relações jurídicas familiares o casamento, o


parentesco, a afinidade e a adoção.”

Exemplo de Relações Familiares:


 Matrimonial- pessoas que casaram uma com a outra
 Parentesco- pai e filho
 Afinidade- sogro e genro
 Adoção- adotado e adotante

Há um erro dogmático na identificação dos conceitos contidos no art.


1576ºCC. A epígrafe refere-se apenas a “fontes das relações familiares”;
mas sucede que não são apenas as fontes de tais relações que a norma
integra. Na verdade, só o casamento e a adoção representam fontes de
relações familiares, ou seja, formas de originar relações familiares. O
parentesco e a afinidade são já relações familiares.
Assim, este artigo não enumera as fontes das relações familiares, mas a
enumerar as próprias relações familiares.

Ex: o casamento baseia-se numa decisão constitutiva de vida conjugal –


duas pessoas decidem constituir família e atuam de forma juridicamente
idónea a que isso aconteça: celebram o casamento, sendo este, fonte da
relação familiar que constituem.

Quanto ao parentesco e à afinidade, são relações familiares que existem e


se constituem independentemente da vontade que possamos ter de
sermos parentes ou afins de alguém.
Ex: se os nossos progenitores tiverem outro filho, este será nosso irmão –
nós em nada contribuímos, através de um comportamento, para que esta
relação familiar, o parentesco, com o nosso irmão, exista.

A União de Facto é reconhecida por lei como um modo de vida


juridicamente relevante que promana da vida em condições análogas às
dos cônjuges, mas prescindindo a sua constituição e extinção da
formalidade que o casamento requer para se constituir e dissolver (o
contrato). E prescindindo também das consequências patrimoniais do
casamento.

Portanto, quanto ao Art. 1576ºCC: nem todos são fontes.


EX: O parentesco é uma relação jurídica familiar, cuja fonte é a filiação. Já
o casamento trata-se de uma verdadeira fonte. A união de facto tem
bastante relevância, mas não é referida (art. 5 2020ºCC, art. 143º quanto
ao acompanhamento).

FONTES das Relações Familiares RELAÇÕES familiares


CASAMENTO* - 1577º CC CONJUGAL, AFINIDADE (1584º CC)
FILIAÇÃO* PARENTESCO (1578º CC), AFINIDADE
ADOÇÃO VÍNCULO DE ADOÇÃO = PARENTESCO
(1986º CC)
UNIÃO DE FACTO (?) VÍNCULO (efeitos restritivos a título
fiscal e sucessório)

Não é conferida à família personalidade jurídica, pelo que a expressão


“interesse de família” não diz respeito a um interesse autónomo
associável a uma entidade coletiva, mas sim ao interesse dos indivíduos da
família. A Constituição fala deste grupo como sendo um “elemento
fundamental da sociedade”.
CRP: Artigo 67º/1 A família é qualificada como um “elemento
fundamental da sociedade”. A especial dignidade desta instituição resulta
da constante intervenção do Estado no que toca à constituição ou
extinção do grupo familiar.

O direito da família é direito privado?

CASAMENTO
Definido no Art. 1577º CC como: “contrato celebrado entre duas pessoas
que pretendem constituir família mediante uma plena comunhão de vida,
nos termos das disposições deste Código”.

Casamento -ato: contrato celebrado entre duas pessoas que


pretendem constituir família mediante uma plena comunhão de
vida, nos termos das disposições deste Código.
 Casamento-estado: a relação matrimonial consiste no vínculo entre
duas pessoas que celebraram um contrato válido pelo qual se
comprometeram a constituir família mediante uma plena
comunhão de vida.
CC: 1628º, a) e 1629º O contrato tem de ser celebrado perante uma
entidade com competência funcional para o ato ou por funcionário de
facto. A consequência do incumprimento é a inexistência do casamento.
Exceção – Casamento urgente
CC: 1628º, b) e 1624º/1 d) Carece de ato posterior, a homologação pelo
funcionário do registo civil, salvo se tiver sido considerado católico pelas
autoridades eclesiásticas.
CC: 1651º/1 O casamento está sujeito a registo civil obrigatório.
CC: 1669º Caso não haja registo civil não pode ser invocado o vínculo
matrimonial.
CC: 1672º A relação matrimonial traduz-se em deveres recíprocos de
respeito, fidelidade, coabitação, cooperação e assistência.
CC: 2133º/2 e 2157º Com a morte de uma das partes, cabe à outra uma
posição privilegiada na sucessão legal do seu cuiús. A extinção do vínculo
matrimonial por outro motivo além da morte (divórcio ou invalidade)
exige a intervenção de uma entidade estatal ou equiparada.
Casamento-promessa (?)

ADOÇÃO CC: 1586º: vínculo que, tal como a filiação natural, mas sem
ligação sanguínea, se estabelece entre duas pessoas nos termos do artigo
1973º.
CC: 1990º/1, a) Depende da vontade do adotante.
CC: 1973º/1 Faz-se por sentença judicial.
CC:1986º Devido a ser equivalente à filiação biológica extingue as
relações familiares entre o adotado e a sua família biológica.
A adoção é um ato que tem de ser registado. A extinção do vínculo só
pode ocorrer por morte ou decisão judicial.

PARENTESCO CC: 1578º: é o vínculo que une duas pessoas, em


consequência de uma delas descender de outra ou ambas procederem de
um progenitor comum.
CC: 1579º É uma relação de consanguinidade ou de laços de sangue
determinadas por linhas e graus.

CC: 1580º/1 e 1581º Parentes em linha reta: quando uma das pessoas
descende de outra. Há tantos graus quanto as pessoas que formam a
linha, exceto o único progenitor. Parentes em linha colateral: quando
nenhuma pessoa descende da outra, mas ambas têm um progenitor
comum. Há tantos graus quanto as pessoas que formam a linha, não
contando o progenitor comum.

- No parentesco há linhas e graus. Cada geração forma um grau e a série


de gerações constitui a linha do parentesco (art. 1579). Pais e filhos são
parentes em linha reta, no grau mais próximo. Já pai e filho do filho, neto,
têm um maior distanciamento. A lei diz que haverá tantos graus quantas
as gerações envolvidas, excluindo o progenitor (art. 1581ºCC).

CC: 1580º/2 O parentesco em linha reta pode ser descendente ou


ascendente:
• Descendente - quando se parte do ascendente para o que dele procede;
• Ascendente - quando se parte do descendente para o progenitor.
CC: 1797º/1 A fonte do parentesco é a procriação, mas «os poderes e
deveres emergentes da filiação ou do parentesco só́ são atendíveis se a
filiação se encontrar legalmente estabelecida».
No entanto, a filiação não legalmente estabelecida releva,
excecionalmente, nos termos do artigo 1603º e o estabelecimento da
filiação tem eficácia retroativa CC: 1797º/2
Exemplo: Eu sou parente em 1º grau da linha reta dos meus pais.

O parentesco pode ser unilateral ou bilateral, consoante se verifica por


apenas uma ou pelas duas linhas – paterna e materna. Se o parentesco
unilateral se verificar por meio de um progenitor masculino comum,
falamos em irmãos consanguíneos; se for a mãe o progenitor comum,
falamos em irmãos uterinos.

Efeitos do Parentesco:
CC: 1797º/1 Os poderes e deveres da filiação só são atendíveis se a
filiação estiver legalmente estabelecida.
CC: 1582º Os efeitos produzem-se em qualquer grau na linha reta e até ao
sexto grau da linha colateral.

→ Direito ao nome: os descendentes têm o direito a receber apelidos dos


pais (art. 1876);
→ Efeitos em negócios jurídicos: as doações feitas por ascendentes têm
implicações no dto. das Sucessões e as doações entre casados têm um
regime próprio (art. 1761 a 1766);
→ Direitos sucessórios: os ascendentes e descendentes são herdeiros
legítimos e legitimários, reciprocamente (art. 2131 e ss e 2154 e ss,
respetivamente);
→ Incapacidades: os parentes na linha reta não deverão contrair
casamento. O casamento entre ascendentes e descendentes é sempre
vedado, seja qual for o grau de parentesco que os separa. Este casamento
é anulável – art. 1602.

A extinção do vínculo de parentesco dá-se por morte ou por ação judicial.

AFINIDADE- Art. 1584º; 1585º

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