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UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE

FACULDADE DE DIREITO
LICENCIATURA EM DIREITO
3º Ano –laboral
Cadeira: DIREITO DA FAMÍLIA
Tema: REGULAÇÃO DO EXERCÍCIO DO PODER PARENTAL NO DIREITO
CONSUETUDINÁRIO MOÇAMBICANO
DISCENTE:
CUMBETE, Helena
DOMINGOS, Juscelino Anderson
JÚNIOR, Armindo Paulo Massingue
MACHEL, Silvínia Rosa Dirce
MACIA, Isaías Alson
MAITA, Cordeiro Denec
MAÚNZE, Manuel
ORDELA, Chelcio Adolfo
SENKORO, Rahel Lúcia
TCHAMBE, Tilna Arlindo

DOCENES: Doutor Adelino Muchanga


Me. Tânia Denise Waty
Me. Ivete Mafundza Espada
Maputo, Maio de 2022

Índice
Introdução..........................................................................................................................2

Noção de família e contextualização histórica..................................................................4

Família e Direito consuetudinário.....................................................................................4

Casamento.........................................................................................................................4

Divorcio.............................................................................................................................5

Família e a legislação em vigor.........................................................................................5

Parentesco para os tsongas................................................................................................6

Os tabus nas relações com os parentes por aliança.........................................................11

Necessidade do poder parental no direito consuetudinário moçambicano......................12

Necessidade do poder parental no direito moçambicano................................................12

Poder Parental..................................................................................................................17

Como é feito nas sociedades Matrilineares e Patrilineares.............................................17

As sociedades Matrilineares............................................................................................17

As sociedades Patrilineares.............................................................................................18

Comparação do regime jurídico da regulação do exercício do poder parental nas leis que
se sucederam em Moçambique até a atualidade..............................................................19

Lei 22/2019......................................................................................................................23

Exercício do poder parental na constância do casamento ou da união de facto..............26

Exercício do poder parental em caso de divórcio, separação, anulação do casamento ou


cessação da união de facto...............................................................................................26

Conclusão........................................................................................................................33

Bibliografia......................................................................................................................36

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Introdução

No presente trabalho, abordaremos sobre a regulação do exercido do poder parental no


direito consuetudinário moçambicano, porém, antes iremos definir aquilo que é o poder
parental no geral.

O poder parental é o conjunto de responsabilidade que os pais têm para com os seus
filhos de forma igual, tanto para o pai bem como para a mãe. Na constância do
matrimônio, o poder parental pertence a ambos, os pais exercem as responsabilidades
parentais de comum acordo.

Os filhos estão sujeitos ao poder parental até a sua maioridade o a sua emancipação
(art. 130 e seguintes do código civil), é da responsabilidade parental a educação dos
filhos, promover o desenvolvimento físico e psíquico, promover sustento e assumir
despesas relativas a sua segurança e saúde, administrar os bens dos filhos entre outros, e
por sua vez os filhos devem obediência aos seus pais.

Porem nem sempre essa realidade foi ou é assim, as sociedades tradicionais tem
variado muito deste o surgimento da humanidade, em Moçambique o poder parental não
é exercido da mesma forma em todo país, pois na região sul do rio Zambeze o poder
parental é exercido pela família paterna (sociedade patrilinear) e no norte esse poder é
exercido pela família materna (sociedade matrilinear).

Nas sociedades patrilineares só se reconhecem como parentes os que o são pela linha
paterna, não podendo os eventuais contactos com a família materna, a educação dos
filhos (regras de como viver dentro da sociedade, caça aos animais etc.) cabe ao apaí e
estes adoptam o seu apelido por direito. Os homens herdam do pai os bens e os títulos
honoríficos.

Nas sociedades matrilineares cada filho pertence à família da mãe, o que significa, em
concreto, que o homem não pode transmitir os seus bens e os seus títulos honoríficos
aos seus filhos varões, mas sim aos varões mais próximos da linha materna, designada-
mente um tio ou um primo. Os seus próprios filhos, que não pertencem à estirpe, não
poderão suceder-lhe mas receberão, em contrapartida, a herança dos seus tios maternos.
Cabe ao tio materno (ou tio uterino) cuidar dos seus sobrinhos (filhos de irmã), o tio tem
muitas das vezes a responsabilidade que caracterizam as relações do pai em regime

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patrilinear como, por exemplo, cuidar da sua educação e arranjar uma mulher para o seu
sobrinho.

Ao logo do trabalho especificaremos com mais detalhes sobre como o poder parental é
feita em diversas regiões de Moçambique e assua devida comparação.

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Noção de família e contextualização histórica
Começaremos por definir o termo família. A família no direito moçambicano define-se
pro ser o produto de relações entre pessoas ligadas por vínculos tais como procriação,
casamento, parentesco, afinidade, adopção e união de facto.
A família no direito moçambicano obedece uma estrutura e organização na qual um
homem e a mulher possuem direitos e deveres comuns e especiais dadas as diferentes
funções que ambos que ocupam na família como cônjuge e como pais.
ambos estão vinculados reciprocamente pelos deveres de fidelidade, coabitação e
assistência, o que quer dizer que tanto um como outro estão obrigados a ser fieis e não
abandonar nem obrigar o outro a retirar-se do lar conjugal, e durante a vigência do
casamento deve prestar assistência um ao outro, providenciado alimentos, contribuindo
para as despesas domesticas, selando pelo património comum e assistência no caso de
doença.

Família e Direito consuetudinário


Tendo como ponto de partida a informação deste livro, procuramos identificar na
investigação realizada quais os elementos que permanecem como estruturantes nas
relações da família e quais os que se transforma.

Casamento
Na região sul de Moçambique, o casamento é uma troca de serviços e bens entre
famílias em que o lobolo (compensação obtida pela família da mulher), estabelece a
união entre as duas famílias.

O casamento poligâmico observa-se frequentemente onde um dos membros da familia


era mineiro. Neste contexto, a primeira mulher goza de grande influencia tendo o seu
primogênito poder sobre todos os filhos das outras mulheres. O lobolo serve por sua vez
para o irmão da mulher “adquirir” esposa, tendo um grande significado material e
simbólico.
Ao representar a transferência do poder da família da mulher para o do marido
responsabilizando os parentes do marido pelo seu sustento em que a mulher aparece
com propriedade colectiva da nova família, o lobolo legitima a desigualdade.
Como contrapartida da protecção recebida a mulher deve reproduzir-se através dos
filhos e trabalho doméstico, sendo a mulher considerada pela sua utilidade a mulher que

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não procria pode ser repudiada. Os filhos das mulheres concebidos fora do casamento
são considerados filhos do marido.

Os filhos representam um recurso e um investimento. Isto significa que a dominação se


exerce não apenas sobre as mulheres mas também sobre seus filhos.

Divorcio
Os fundamentos do pedido de divórcio pelo marido são diferentes dos fundamentos
apresentados pela mulher. A esterilidade (que é sempre imputada a mulher) constitui um
dos motivos principais do pedido de divórcio.
O adultério é apenas considerado falta grave por parte da mulher e pode ser sancionado
com uma indemnização.

No caso do marido querer o divórcio a família da mulher deve devolver o lobolo.


No entanto o adultério do homem não constitui razão para a mulher pedir divórcio. Em
qualquer dos casos a mulher perde o direito aos filhos e não recebe pensão.

Família e a legislação em vigor


A constituição da república consagra a família como o elemento fundamental e a base
de toda a sociedade, nos ternos do seu artigo 119°.

O Estado protege e reconhece nos termos da lei o casamento como a instituição que
garante a prossecução dos objectivos da família.

O instituto família foi, outrora, regulado pelo Código civil no seu livro IV. Passados
anos na regência do Código civil, este veio a ser revogado pela lei n° 10/2004 de 25 de
Agosto.

O arranque do processo legislativo desta lei sucedeu em 1998 e só foi aprovada em


2004. Foram 6 anos de árduos debates representando uma resistência a mudança. Esta
lei objectiva acabar com a discriminação e garantir que a mulher tivesse direitos iguais
aos do homem na família, limando os confrontos de exclusão e hierarquia, onde a
mulher e a criança viam-se privadas do gozo dos seus direitos de cidadania no seio
familiar.

A lei visava também, limar o comportamento, dos agentes em instâncias tanto formais
como informais, relacionado as limitações da lei que dirimiam conflitos relacionados
com a família, tanto nas modalidades da sua aplicação como nos obstáculos não só

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provenientes do próprio funcionamentos das instituições mas também da interferência
do modelo cultural patriarcal.

Justificando-se de tal modo a intervenção daquela lei que entrou em vigor em 2005.

Esta lei foi revogada pela Lei n° 22/2019 de 11 de Dezembro, lei ainda em vigor.

O código de Registo Civil complementa e até colmata algumas lacunas da Lei de


família quando por exemplo, que os casamentos tradicionais podem ser transcritos
passando a ser regidos como o casamento civil nos termos do art.º 227 Código de
Registo Civil.

O código penal tem o seu campo de actuação ao nível da família quando prevê formas
de proteger os interesses da família, punindo severamente os que de dada forma
contribuem para a desestabilização desta, qualificando, agravando sobre maneira os que
agem criminalmente contra sua própria família.

Parentesco para os tsongas


Nos tsongas consideram-se duas formas de parentesco:

Parentesco pelo sangue

Consanguinidade e o parentesco por casamento ou parentesco por aliança do lado da


mulher. Os parentes consanguíneos dividem-se em duas categorias que diferem uma das
outras mais nos bantus que entre nós: são os parentes do lado do pai e os do lado da
Mãe. Chamam-se vakwerhu os parentes do lado do pai, varikweru os da nossa casa e
vakokwana os antepassados. Estas designações exprimem muitas coisas diferentes, pois
uma das considerações principais que as ditam é o direito de casar com as parentes da
mulher ou de receber em herança as mulheres pertencentes a sua própria família, isto é,
para os homens.
Parentesco pelo sangue: lado paterno

Pai designado tatana, detém respeito e temor dos filhos, o pai embora nada se ocupe dos
filhos, é o instrutor aquele que reprende e pune e devem lhe obediência absoluta. Os
irmãos do pai aquém chamam vatatana va xirharhe, neste caso o irmão mais velho do
pai e avô, o irmão mais novo eetatanalwentrongo (um pequeno pai). As mulheres deles
são suas mães, embora em certos casos ele possa casar com elas quando as recebe por

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herança. Os primos do pai são também pais, desde que o pai os trate como irmãos. O
correlativo detatana é nwana (filho ou filha). A expressão tatanawakokwana (pai do
avô) nunca se emprega. O facto desses termos não se usarem mostra que o sistema de
filiação paterna é de facto muito antigo nesta tribo. Deve ter havido uma época em que
os antepassados da linha paterna eram melhores conhecidos que na actualidade. As
mulheres destes vakokwana (avô) são também vakokwana, exactamente como os
maridos. Rharhana emprega-se para dizer minha tia e rharhakatiwaku para dizer vossa
tia, os sobrinhos da tia testemunham-lhe grande respeito, embora ela não seja de
qualquer modo uma mãe, contudo do lado paterno é ela que os rapazes ou raparigas
contam os segredos. Eles vão procura-la para obterem ajuda e conselhos nas ocasiões
difíceis, ela intercede por elas junto do pai na ocasião própria e a sua influência pode ser
decisiva e as vezes pode ser chamada para oficiar num sacrifício oferecido em favor do
sobrinho, filhos dos irmãos se todos estes já tiverem morrido. O marido da tia paterna,
não é nem pai, nem um tio para os sobrinhos, mas ummukon'wana (cunhado) tem uma
espécie de direito de prioridade para casar com a sua irmã. O irmão mais velho chama-
se nhondrwa, ouhosi e os demais irmãos chamam-se makwavu. Os Tsongas observam
de forma rigorosa a hierarquia da idade. O irmão mais velho é tratado com grande
respeito e dá ordens aos irmãos mais novos, com autoridade quase igual a do pai. A
situação do mais velho não é só devido a idade, pois na família polígama todos os filhos
da primeira mulher ou do primeiro lar são tihosi em relação aos filhos das mulheres ou
lares secundários, embora nasçam depois. Quanto as raparigas chamam-se muitas vezes
mamana, mãe, a irmã mais velha, mas o irmão mais velho nunca é tatana, mas sim um
hosi. Com estes termos começamos a ver que as leis de sucessão, especialmente a
distribuição das viúvas entre os membros da família que que as comprou, estão
intimamente relacionadas com o sistema de parentesco.

Parentesco pelo sangue: lado materno

Parentes do lado materno são geralmente os pais, avós e irmãos da mãe (minha mãe).
Mamana, chama-se assim a mãe, aquela que se ocupa na educação dos filhos, e a quem
eles devem respeito. Às irmãs da Mãe, são designadas vamamana porque no caso de a
Mãe morrer provavelmente uma delas ou toda cuidarão dos filhos da irmã falecida. E os
maridos destas serão Vatatana dos órfãos. Vakokwana são todos os parentes masculinos
da Mãe, os irmãos, o pai, os tios e outros. O termo vakokwana significa “a casa de

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minha Mãe”. Kokwana, é o avô materno e a ele devemos respeitar pela idade, ele é mais
indulgente com o filho da filha que com o filho do filho, se o filho da filha estragar algo
ele dira: “não me importo, que lhe rale o pai, pois não é da minha povoação”,
contrariamente ao filho do filho. Malume é irmão germano da Mãe, mas todos os meios-
irmãos desta, são também vamalume em segundo grau. O mesmo se dá para os irmãos
do verdadeiro malume.A criança vive encasa do pai e só vai em visita a povoação da
Mãe, pode la viver durante anos, depois do desmame, mas não se pode instalar
definitivamente na povoação da Mãe, porque seria severamente repreendida, pois ela
estaria a abandonando a sua própria povoação (do seu pai) e aumentando a dos seus
vakokwanas (a povoação da sua Mãe).Na sua cultura a mulher é comprada no lovolo,
portanto, ela (a mulher) e os filhos seriam pertences do pai, assim como os vitelos dos
seus bois. Mas se a morada da família da Mãe não pode vir a ser a morada dos filhos, as
relações que estes mantem com os vakokwana são de natureza muito mais livres,
agradáveis e amigáveis que as que mantem com os parentes do Pai. É característico do
sistema familiar rhonga, um primo casar-se com a filha do seu tio materno, mas na
tsonga o direito de casar com esta prima não é reconhecido, pode-se brincar com ela,
mas nunca se pode casar com ela, pois, constituiria uma violação de costumes e seria
punida pelo chefe.

Parentesco por aliança

Parentesco por lado da mulher Características a gerais Um dia falava desses assuntos o
velho Viguete declarou solenemente «desde que se e aceite, entra se pelo noivado, numa
nova espécie de respeito que se deve manter até a morte» O novo laco de parentesco
chama se Vukonˊwana, que geralmente pronuncia se com sentimento de inquietação. E
porquê? Da relação entre o marido e a mulher.  Mboza chama Nsati a aNsavula ou trata
por nkanta, termo de reciprocidade, ou Ntrivele, minha cozinheira e até por mamana, a
palavra Nsati implica um amor misturado de respeito e até medo, a mulher pode causar
ao seu marido uma infinidade de aborrecimento se disputa com ele foge para casa dela,
por tanto todas relações de Vukonˊwana serão arruinadas por discussões intermináveis.
O termo Vukonˊwana compõe se de três elementos: A raiz koˊ, antiga raiz bantu que se
integra igualmente em zulo-xhosa (kwe), em suthu (hoe) e em pedi. O seu significado
etimológico constitui uma incógnita. Juntam-se-lhe o sufixo nˊwana e o prefixo Vu. O
prefixo Vu tem duplo sentido: abstracto e de lugar. Diz se empregando a palavra no

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locativo: e Vukonˊwanine, ou simplesmente: Vukwene.Verifica se que a família Gogwe
e extraordinariamente completa. Em termos usados para exprimir os diferentes
parentescos dividem se em duas categorias: quando o homem visita a povoação da
mulher encontra as pessoas que mais teme na terra, as suas Vukonˊwanas e as mulheres
em relação as que tem mais liberdade, o seu tinamu: um informador descrevendo as
duas categorias de parentes por aliança, disse «as vukonˊwana são as que arranjam
mulheres, as tinamusão as que arranjam filho…Pois são as suas mulheres presuntivas. 
Mesmo que não case com elas, os filhos delas tratam no por Pai» «As Vukonˊwana»
Em primeiro lugar estão pai da mulher. No coração do genro há um grande temor dele,
pois em caso de conflitos o sogro tratava as discussões, é o protector natural da filha,
contudo os dois homens vivem em harmonia e depreca o genro trata o sogro por tatana,
Pai. Naturalmente o termo tatana não é empregue aqui no sentido técnico, mais por
extensão. Em segundo lugar estão os Vakonˊwanas irmãos da mulher, quando o Pai
morre tomam o lugar dele como protectores da irmã. Daí o embaraço e o temor que o
marido sente em relação a eles, mas de modo menos acentuado para o pai. Os irmãos da
mulher não são chamados Vamakwerhu, mas designam nas frequentemente pelo termo
soar, ou sivar, que é simplesmente a corrupção da palavra holandesa Zwanger.É
moderna, esta curiosa adopção de um termo estrangeira, e se propaga principalmente
entre os zulos, os xhosas e os Suthos da busutulândia. Entre os Tsongas só emprega se a
palavra sivaruma única vez. A tendência para designar esta espécie de parentesco pelo
seu nome europeu é a prova de que o temor inspirado pelos cunhados vai desaparecer
nas novas regiões. O respeito pelos vakonˊwanas atinge um alto grau em relação as duas
mulheres da família da mulher. A mãe dela e a mulher do irmão neste caso não se
sentem só respeito, mas um afastamento que vai até ao ponto de se evitarem.  Se um dos
dois vir o outro ao longe apresenta se a esconder sem ser avistado dando uma grande
volta se for necessário. Sempre que o genro for a povoação da mulher e avistar a sogra
ela devera tapar o peito com um pano, e ele tapa os olhos evitando sempre a sogra. Tão
bizarra conduta é regra, e não só acontece em relação a mãe da mulher, mas
também relativamente as irmãs da sogra. No clã maputhru o genro fornece um boi e
comunga com ela, comendo a carne do animal ao mesmo tempo com os parentes por
aliança. A partir daí o genro e a sogra podem comer juntos o que era impossível antes de
oferecerem os presentes. Neste clã o futuro genro não come com os Vakonˊwanas ates
de dar o boi. Entre os zulos a sogra jamais deve comer com o genro.  No claxhoza é de
costume oferecer um presente para maximizar afastamento entre eles. As tinamu são as

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irmãs mais novas da esposa do homem. Namu significa irmã mais nova, e quanto
tinamu é o plural de namu. Com as tinamu o homem tem vários direitos estendidos a
brincadeiras, como uma relação exclusivamente “amigável” mantendo respeito.
Contudo não são permitidas as relações sexuais, caso se relacionassem sexualmente e a
cunhada ficasse grávida, o homem teria de pagar uma multa, ou antes iria ter com o
sogro dizendo “NdridlayeleKuda” (Matei para comer). O que quer dizer: cometeu uma
ma acção, com intenção de remir a falta casando com a rapariga (irmã da sua primeira
esposa). Levaria cinco enxadas anunciando a nova esposa e entregaria mais tarde o resto
do lovolo. Uma rapariga casada com o marido da irmã mais velha é nlhampsa desta (da
mulher mais velha). O direito de casar com as irmãs da mulher não é, de qualquer
modo, uma obrigação, não é focado a fazê-lo se não o agradas. Às irmãs mais velhas da
mulher não são tinamu para o marido, são vakon’ wana, porque quando casa com a
mulher, as irmãs mais velhas já se encontram casadas, segundo a lei pela qual uma irmã
mais velha deve sempre casar-se antes da irmã mais nova. Nunca o pai deve consentir
dar a mais nova antes da mais velha.
Parentes do lado do marido considera-se o parentesco de mboza com a família da
mulher. Nsavula trata Masuluke e Nsengamun’we por n’wingi, e o tratamento, que é
reciproco, implica grande respeito. A recém-casada deve trabalhar um ano inteiro para a
sogra. Nsavula demostra o mesmo respeito a Djane, Same e Fose, irmãos mais velhos
do marido. São também n’wingi um apara o outro. A mulher respeita geralmente os
irmãos mais velhos do marido (vengi), mantem o convívio livre com os irmãos mais
novos (tinamu) e vice-versa. O homem evita as mulheres dos iramos mais novos
(Vengi) e brinca com as dos irmãos mais velhos (tinamu). A mulher dum irmão mis
velho é esposa eventual de todos os irmãos mais novos, por terem direito de a receber
em herança, por morte do marido. Pelo contrário, um irmão mais velho não pode
receber em herança a mulher dum irmão mais novo a não ser em circunstâncias muito
excepcionais. Até que ponto a mulher é incorporada na família do marido? A mulher
pertence ao homem até a morte desde que os bois do lovolo tenham sido pagos, mas não
reconhece os seus deuses antepassados dos sogros. Conservam os seus próprios deuses,
a quem o pai ou iramos dirigem muitas vezes preces a favor dos filhos dela.

Extensão do parentesco devido ao lovolo

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O direito matrimonial tsonga assenta em dois princípios: um princípio jurídico e outro
moral, ou antes de moral social. Princípio jurídico: como o casamento é uma transacção
pela qual o marido, ou grupo do marido paga uma prestação afim de adquirir uma
mulher para manter e multiplicar o grupo, é preciso, se esta mulher falhar neste
objectivo que o marido possa voltar a posse da propriedade que abandonou ou obter
outro meio de descendência desejada. Hás três circunstancias que podem originar a falta
da mulher assi adquirida: a morte sem deixar filhos ao grupo que a obteve; a deserção
definitiva do domicilio conjugal em consequência dum acordo remediável; a
esterilidade. Caso a mulher não satisfaça as exigências legitimas dos masulukes o
Gogwe recorre a devolução dos bois ou enxadas pagas para adquirir a Nsavula (esposa),
caso não haja consenso começa uma outra discussão que consiste em fornecer-lhe a
substituta segundo o direito matrimonial fundado no costume do lovolo caso a substituta
exista, mas o Gogwe não oferece outras das suas filhas para substituição da anterior e
sim a filha de uma das suas filhas.

Os tabus nas relações com os parentes por aliança


A maior parte desses tabus, pequenas proibições, não são tão severos como os
relacionados com as relações sexuais,a doença e a morte. Não crêem que pelo facto de
infligir as regras do vukon`wana cause morte, contudo observam nas religiosamente,
porque são necessárias para assegurar relações normais entre as duas famílias.

Já vimos os tabus que devem ser observados durante o período do noivado, mais tarde
são impostos outros tabus durante a reunião que tem lugar antes do casamento

1. No decurso da discussão relativa ao lovolo quando enumeram os bois, os pais do


noivo nunca devem oferecer oito cabeças de gado, porque uma delas e morta
para festa e assim 8 só significa sete. Contam até sete levantando um a um os
cinco dedos da mão esquerda, e depois o polegar e o indicador da direita.
Levantar o indicador e apontar aos vukon`wana e ofensa moral. Designar quem
quer que seja com o indicador e tão grave como fazer lhe um feitiço. Só o fazem
em momento de cólera, e todas as discussões precedentes são anuladas se for
cometida essa imprudência.
2. E tabu se um dos bois se assustar com os gritos de alegria que saúdam a chegada
do rebanho com os combates simulados do dia do lovolo.
3. Se um dos bois não tem armação, ou as tem muyito pequenas, nas relações com
os parentes por aliança não haverá amizade, porque tal boi, mexe a cabeça em
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todos os sentidos enquanto vacabudeia fora, durante a noite, e normal e a família
da noiva não o aceita.
4. Se o lovolo consiste em enxadas, e cai chuva em cima delas quando as levam
aos vakon`wana e tabu. O lovolo não deve chegar molhado, senão os novos
laços de parentesco irão se desfazer, então os noivos não podem casar.
5. Não podem levar tabaco em folhas, quando vao vukweni com os noivos, só
devem leva-lo em pó, senão acontece alguma desgraça, podem faz elo mais
tarde, depois do casamento.
6. Não podem comer carne de zebra ou de antílope hlangu, quando estão em casa
dos noivos. Se estes matam um desses animais quando estão em casa deles, ou a
caminho para lá, não devem tocar lhe.
7. Se quando vão com mulheres ver os pais de noiva para um xirhwalo, isto e, para
lhes levar cerveja, cair uma das bilhas svayili, voltam para casa.
8. Não devem construir palhota para a mulher antes do casamento, mesmo que
tenham dinheiro em abundancia para o lovolo, se cometerem tal descuido, a
mulher será roubada.
9. Mais tarde, quando se casam, devem evitar comer mel com a mulher durante um
ano ate ela ter filho. A noiva pode comer mel em casa dos pais, mas não no seu
novo domicilio, nem com o marido. O marido pode come lo no mato, mas deve
lavar as mãos quando volta com receio de que a mulher descubra, porque ela
voltaria para casa se soubesse.

Necessidade do poder parental no direito consuetudinário moçambicano


Visto que no direito moçambicano a família obedece a uma estrutura e organização na
qual o homem e a mulher possuem direitos e deveres comuns e especiais dadas as
diferentes funções que ambos ocupam como cônjuges e pais, o homem é tido como o
chefe da família como marido e como pai, cabe a ele representar em todos os actos da
vida conjugal comum, como na administração dos bens do casal ou da família, e sobre
os bens próprios da mulher.

A regulação do poder parental é necessária para efeitos da gestão da vida dos filhos e
dos bens dos filhos

Na qualidade de pai, compete-lhe providenciar alimentos os alimentos devidos aos


filhos, orientar a sua instrução e educação, prestar assistência moral, defender,

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representar, autorizar a praticar determinados actos que carecem de autorização ou
consentimento deste, administrar os bens dos filhos menores e ainda emancipá-los.

A mulher na qualidade e esposa cabe-lhe o governo da casa segundo os usos e


condições do casal.

Necessidade do poder parental no direito moçambicano


Todos os pais têm responsabilidades deveres parentais relativamente aos filhos menores
de 21 anos de idade, nomeadamente:

Guardar, guiar e sustentar os filhos, assumindo as despesas relativas à sua segurança,


saúde e educação;

Educar os filhos, proporcionando-lhes formação;

Promover o desenvolvimento físico e psíquico dos filhos;

Ter a guarda e determinar qual a residência dos filhos;

Representar os filhos em todos os actos e negócios jurídicos;

Administrar os bens dos filhos;

De acordo com a maturidade dos filhos, ter em conta a opinião destes nos assuntos
familiares importantes e reconhecer-lhes autonomia na organização da própria vida.

Regulação do Exercício do Poder Paternal(REPP)

A Regulação do Exercício do Poder Paternal visa, de acordo com o interesse exclusivo


da criança/adolescente, regular a guarda do filho, o seu sustento (alimentos), o regime
de visitas, a representação legal e a administração dos seus bens.

O que se entende por Guarda?

Um processo de separação implica mudanças na vida do casal. No entanto, a


responsabilidade dos pais em relação aos filhos permanece inalterada. Assim, definir a
guarda tem por objectivo garantir o cumprimento dos deveres e a observação dos
direitos relacionados aos pais e aos filhos.

O que se entende por Alimentos?

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Entende-se por alimentos, tudo que é indispensável ao sustento, saúde, habitação e
vestuário do alimentado.

O que se entende por Regime de Visitas?

O pai ou a mãe, que não estejam com a guarda do filho, poderá visitá-lo e estar com ele,
segundo o que foi acordado com o outro progenitor, ou for fixado pelo juiz. A
finalidade do direito de visita é evitar a ruptura dos laços de afectividade existentes no
seio familiar e garantir à criança o seu pleno desenvolvimento físico e psíquico.

Acordo de Pais

O acordo de regulação do poder paternal é o documento que estabelece os termos em


que o poder paternal sobre a criança passa a ser exercido:

Os pais terão de acordar com quem é que a criança deve residir, se com o pai ou com a
mãe;

 Quando os pais chegarem ao acordo o juiz homologará esse acordo (que tem a
designação de sentença homologatória).

Quem pode pedir a Regulação do Exercício do Poder Parental?

No caso de problemas e divergências quanto ao exercício do poder paternal, impõe-se o


recurso a acção judicial. Assim, pode pedir a REPP:

Um dos pais, ou ambos, quando não tenham chegado a acordo entre eles;

O Ministério Público, em representação da criança/adolescente.

Onde pedir a REPP?

O processo de REPP pode ser requerido no Juízo de Família e Menores ou junto das
Procuradorias da área de residência da criança/adolescente;

Incumprimento da REPP

Se um dos pais não cumprir com o que ficou acordado ou decidido (incluindo quanto ao
pagamento dos alimentos e ao regime de visitas), o outro deve pedir que sejam tomadas
medidas para o cumprimento do acordado, junto do juiz ou do Ministério Público da
área de residência da criança/adolescente;

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O juiz realiza uma nova conferência com vista chegar-se a um novo acordo, sempre
tendo em conta o superior interesse da criança/adolescente;

Caso não seja possível um novo acordo entre os pais, o juiz profere a sentença, tendo
em vista o superior interesse da criança/adolescente;

Alteração da REPP

Quando o acordo ou a decisão final não é cumprido, por ambos os pais ou quando é do
interesse da criança/adolescente, qualquer um dos pais ou o Curador de Menores pode
pedir ao tribunal a alteração do acordo de Regulação do Poder Paternal;

Os motivos do pedido devem ser bem explicados e deve ser juntado o acordo feito
anteriormente;

No caso a REPP tiver sido fixada pelo tribunal, o pedido é juntado ao processo/acordo
anterior;

O juiz depois de analisar o pedido decide de acordo com o superior interesse da


criança/adolescente.

A Lei da família fazendo jus ao espírito constitucional, realça o conteúdo do poder


parental no dever especial que incumbe aos pais de, no superior interesse dos filhos,
garantir a sua protecção, saúde, segurança e sustento, orientando a sua educação e
promovendo o seu desenvolvimento harmonioso.

O direito de a criança manter regularmente relações pessoais e contactos directos com


os pais só pode ser limitado por justificada necessidade de salvaguardar o superior
interesse daquela. São, normalmente situações em que se prova que os contactos com
certo progenitor perturbam o salutar crescimento psicossocial da criança, ilustrando-se
em agressividade do pai, mãe ou das pessoas conviventes com os filhos.

Retomando a questão chave colocada pelo nosso leitor e em conclusão, decaímos na


situação em que há filhos fora do casamento, havendo que indicar as balizas legais
sobre a regulamentação do poder parental nestas condições.

A regra para estes casos é de que o poder parental recairá sobre o progenitor que tiver o
filho à sua guarda e presume-se que é a mãe que detém essa qualidade. (Artigo 326 da
Lei da Família).

16
A lei permite que os pais exerçam o poder parental por comum acordo ou seja a criança
pode passar a viver com o pai se houver concordância nesse sentido (número 2 do artigo
318).

Para todos os efeitos, a questão de guarda dos filhos não se confunde com o acesso aos
mesmos. Em nenhuma circunstância se pode vedar o pai de conviver com os filhos pois
estes merecem o afecto de ambos para o seu crescimento equilibrado. A separação é
apenas entre os pais e nunca deve lesar os filhos.

Para concretizar a ligação do pai ao filho nos casos em que a mãe detém a sua guarda
basta um acordo que possa prever o regime de visitas e de férias da criança.

Não havendo acordo e mostrando-se rija a recusa do acesso à criança, a parte lesada
pode a coberto do referido n. 2 do artigo 318, recorrer ao Tribunal para que este decida,
fixando o esquema da convivência requerida.

Saliente-se que nos termos da lei, o Tribunal tentará uma solução reconciliatória e se,
esta não for possível ouve, antes de decidir o filho maior de 12 anos, salvo se
circunstâncias ponderosas o desaconselharem.

Os filhos só podem ser separados dos pais quando estes não cumpram os seus deveres
fundamentais para com eles (dever de educação e manutenção) e sempre mediante
decisão judicial a partir dos casos previstos pela lei.

O exercício das responsabilidades parentais pode ser inibido ou limitado. Estão inibidos
os condenados definitivamente por crime a que a lei atribua tal efeito; os maiores
acompanhados nos casos em que a sentença de acompanhamento assim o declare; os
ausentes; e os pais que infrinjam culposamente os deveres parentais ou que, por
inexperiência, enfermidade, ausência ou outros motivos não se achem em condições de
cumprir tais deveres.

Quando não seja caso de inibição, mas exista perigo para a segurança, saúde, formação
moral e educação do filho, a pessoa a cuja guarda o menor esteja confiado, qualquer
parente ou o Ministério Público podem requerer ao tribunal que decrete as providências
adequadas, nomeadamente a entrega do menor a uma terceira pessoa ou a um
estabelecimento educacional ou de assistência.

17
Havendo inibição do poder paternal ou impedimento de facto dos pais em exercê-lo, o
Ministério Público deve tomar as providências necessárias à defesa do menor. Este fica
sujeito a tutela, a cargo de um tutor (designado normalmente pelo tribunal) e do
conselho de família, sob vigilância do tribunal de menores.

O poder parental faz parte do estado das pessoas e por isso não pode ser alienado nem
renunciado, delegado ou substabelecido. Qualquer convenção, em que o pai ou a mãe
abdiquem desse poder, será nula.

É, portanto, irrenunciável, incompatível com a transacção, e indelegável, não podendo


os pais renunciá-lo, nem transferi-lo a outrem, já que o poder familiar é múnus público,
pois é o Estado que fixa as normas para o seu exercício. É, ainda, imprescritível, no
sentido de que dele o genitor não decai pelo fato de não exercitá-lo, somente podendo
perde-lo na forma e nos casos expressos em lei. Outrossim, é incompatível com a tutela,
não se podendo nomear tutor a menor cujos pais não foram suspensos ou destituídos

Poder parental

Poder Parental

Como é feito nas sociedades Matrilineares e Patrilineares

As sociedades Matrilineares
Matrilocal é aquela que estabelece residência conjunta entre o casal e os pais da mulher.
Com frequência acontece nas sociedades setentrionais de Moçambique onde há uma
tendência de as famílias estabelecerem residência matrilocais.

Matriarcal ou matrilinear é a família cujo poder é exercido pela mulher. As famílias


matriarcais abundam no norte de Moçambique, sendo que a mulher exerce o poder
indirectamente através do seu irmão do sexo masculino. É este a quem cabe zelar pela
orientação da vida dos filhos da irmã cuidar pela iniciação desses filhos e legar-lhes a
sua herança em caso de morte. O papel do pai biológico é quase que passivo, pelo que
quando o filho porta-se mal ou comete uma infracção, o pai remete a solução dessa
solução dessa situação ao tio materno do filho, isto é, ao irmão da mãe do filho.

Como resultado da influência nesta região, assiste-se as diferenças entre a região norte e
sul do Zambeze, a norte do Zambeze devido ao impacto da mosca Tsé-Tsé, impediu
numa primeira fase a prática da pecuária, sobretudo o gado bovino e privilegiando a
prática da agricultura, actividades que maioritariamente eram praticadas pelas mulheres,

18
o que teria originado comunidades matrilineares, estas sociedades desenvolveram-se no
norte do Zambeze.

Devido à prática da agricultura, conferiu a mulher poderes sobre o homem onde os


filhos do casal pertencem ao grupo de parentesco da mãe e os bens e poderes são
herdados por via materna. O casamento na sociedade matrilinear, o homem fixa a sua
residência na família da mulher, isto é, o casamento é matrilocal, a esta prática chama-
se uxorilocalidade.

As funções políticas e jurídicas são desempenhadas pelo tio materno. Nestas


sociedades, se no casal a mulher morre, o homem é obrigado a casar-se com a irmã da
sua defunta mulher, a esta prática chama-se Surrurato.

Neste caso as mulheres e que transmitem os apelidos aos descendentes. Nas sociedades
matrilineares as principais decisões da família, como o casamento e resolução de alguns
problemas, são tomadas pelo irmão da mãe (tio materno). Este tipo de sociedade é
característico de algumas regiões das províncias de Tete, Zambézia, Nampula, Cabo
Delgado e Niassa.

As sociedades Patrilineares
Patrilocal é aquela que estabelece uma residência conjunta entre um casal e os pais do
homem. Geralmente nas sociedades meridionais de Moçambique há uma tendência de
as famílias estabelecerem residências patrilocais devido a estrutura e a natureza do
poder que se centra nas mãos dos homens.

Patriarcal ou patrilinear é a família cujo poder é exercido pelo marido. As famílias


patriarcais abundam no sul de Moçambique, sendo que o patriarcado como uma relação
de poder incide também no casamento, na sucessão, na herança e na estrutura social das
famílias.

Estas sociedades desenvolveram-se no sul do Zambeze, devido a prática da pastorícia,


actividade praticada pelo homem, conferiu ao homem poderes sobre a mulher entretanto
o estatuto de filho pertence a família do homem. Nessa sociedade a herança dos bens e
poderes é feita por via paterna, isto é, do pai para filho. O casal fixa a sua residência na
casa do marido, ou por outra, o casamento é patrilocal, a esta prática chama-se
virilocalidade.

19
Os filhos pertencem à família do marido e se no casal o homem morre, a mulher tem a
obrigação de casar-se com o irmão do seu defunto marido, esta prática chama-se
liverato.

Nas sociedades Patrilineares o parentesco transmite-se pelo apelido, é o pai que o


transmite aos filhos. Nas antigas sociedades a sul do rio Zambeze, e até actualmente,
quando decorre a cerimónia do lobolo e do casamento é a mulher que abandona o seu
grupo e se junta a família do marido. Estas famílias são característica das províncias de
Sofala, Manica, Inhambane, Gaza e Maputo.

Na zona Sul do pais. Os grupos étnicos dominantes incluem os Ronga, Changana,


Chope e Bitonga, nas províncias de Maputo, Gaza e Inhambane respectivamente.
Nessas regiões, e particularmente na Província de Inhambane, prevalece o sistema
patrilinear, por meio do qual o acesso das mulheres a terra depende do marido e dos
parentes de sexo masculino. Quando as mulheres ganham o acesso á terra, normalmente
as parcelas são menores, não sendo maiores de 1 ha. Além disso, as mulheres ficam
confinadas aos trabalhos domésticos e ao transporte de cargas pesadas porque muitos
homens migram para procurar trabalho em outras zonas.

Embora a lei não preveja o pagamento tradicional do preço da noiva, conhecido como
lobolo, é abertamente aceito. Esta pratica concede aos maridos a custodia integral das
suas esposas que não têm nenhuma palavra na administração dos recursos, não podendo
assim, reivindicar o seu direito de acesso à terra.

De acordo com as normas costumeiras, os filhos protegem as mulheres, especialmente


as viúvas e as pessoas idosas. Além disso, segundo o habito do levirato as viúvas podem
continuar a ter acesso ás receitas provenientes da terra e aos seus benefícios casando-se
com o seu cunhado.

Em geral, as relações do gênero e as práticas costumeiras sociais, que definem a divisão


sexual do trabalho, limitam as actividades das mulheres à agricultura de pequena escala
e impedem ás mulheres de terem acesso á melhores oportunidades econômicas. As
mulheres precisam da autorização do marido ou de outros parentes de sexo masculino
para participar na vida econômica e o seu envolvimento no mercado informal é
considerado improprio.

20
Comparação do regime jurídico da regulação do exercício do poder parental nas
leis que se sucederam em Moçambique até a atualidade

Quanto ao tempo em que se pode exercer ou Duração do Poder Parental, os códigos


em comparação são unanimes e sólidos quanto aos efeitos. Desta forma houve uma
continuidade no que diz respeito a sujeição dos filhos ao Poder paternal até a
maioridade ou emancipação. Nos termos do art.º 1877 da LF (1966), Art. 283 da LF
(2004) e Art. 292 da LF (2019).

No que diz respeito ao Conteúdo do poder parental, verifica-se que de forma expressa
as posições mantiveram-se desde o primeiro código e desse jeito por demostrar-se
eficaz, pelo que, se designa como no especial dever que incumbe aos pais de, no
superior interesse dos filhos, garantir a sua protecção, saúde, segurança e sustento,
orientando a sua educação e promovendo o seu desenvolvimento harmonioso; O poder
parental inclui igualmente a representação dos filhos menores, ainda que nascituros,
bem como a administração dos seus bens; Os pais, de acordo com a maturidade dos
filhos, devem ter em conta a sua opinião nas questões da vida familiar e reconhecer-lhes
autonomia na organização da própria vida. Nos termos do art.º. 284 da LF (2004) e art.º.
293 da LF (2019).
Pelo que as disposições foram retiradas da primeira Lei da Família e dando
continuidade, porém, o legislador na verificação de como era interpretada o teor do
conteúdo, preferiu de forma expressa enunciar que não basta só que haja cumprimento
das despesas (sustento, segurança, saúde e educação dos filhos); Autonomia para
organização da vida e a Liberdade de expressão, tem que estar tudo conjugado com os
interesses superiores dos filhos.

Quanto as despesas, verifica-se que se podia ter problemas quanto a linguagem em


utilização e desse jeito um consequente mau interpretação por parte de quem exerce o
poder parental, pelo que, vê-se uma reforma na forma de expressão passando de ‘Os
pais ficam desobrigados de prover’ para ‘Os pais estão obrigados a prover’

Quanto as despesas de maiores ou emancipados, os códigos são unanimes na medida


em que se pretende acautelar o facto de que por ser maior não quer dizer que não
precisa de apoio, ou seja, a maioridade não determina liberdade financeira e desse jeito
torna-se considerável que ainda que seja pode exigir o pagamento de despesas referentes

21
a formação académica, sendo necessário atender a razoabilidade e o tempo requerido
para efectivação da mesma formação.

Quanto ao poder de representação, verifica-se de antemão que o modelo que as Leis


seguintes se seguem, são de continuidade, pelo que, podemos afirmar que não se
verifica nenhum problema quanto a eficácia por isso mantém-se a questão de exercício
de todos os Direitos e obrigações dos filhos serem de representação do competente
legal. Não obstante tendo alguns Direitos de exercício pessoal e livre.
Quanto a irrenunciabilidade dos actos, verifica-se que Os pais não podem renunciar
ao poder paternal nem a qualquer dos direitos que ele especialmente lhes confere, sem
prejuízo do que neste código se dispõe acerca da adopção. Não obstante, nos termos das
Leis posteriores ( Lei da Família 2004 e 2019), o Legislador viu-se na necessidade de
acautelar a segurança não só dos filhos adoptivos mas também dos filhos de
acolhimento.
(Quanto aos filhos concebidos fora do matrimónio, verifica-se que no código de 1966
O pai ou a mãe não pode introduzir no lar conjugal o filho concebido na constância do
matrimónio que não seja filho do seu cônjuge, sem consentimento deste. Pelo que, na
Lei da família de 2004 o legislador referencia-se a questão de que as obrigações do
respectivo Cônjuge não se abdicam, mas não pode introduzir-se no lar conjugal sem o
devido consentimento. Nos termos do art.298 da lei da família de 2019, após a
verificação da União de facto o legislador faz questão de fazer menção ao facto de que
não cessam as obrigações dos filhos vindouras de uma união de facto.

Quanto aos alimentos a Mãe, verifica-se casos em que:

o O pai não unido pelo matrimónio à mãe do filho é obrigado, desde a data do
estabelecimento de paternidade, a prestar-lhe alimentos relativos ao período da
gravidez e ao primeiro ano de vida do filho, sem prejuízo das indemnizações a
que por lei ela tenha direito.
o A mãe pode pedir os alimentos na acção de investigação de paternidade e tem
direito a alimentos provisórios se a acção foi proposta antes de decorrido o prazo
a que se refere o número anterior, desde que o tribunal considere provável o
reconhecimento.

22
A presente disposição legal foi revogada, pelo que, nos termos das Leis posteriores
(2004 e 2019), não constitui mais uma obrigação o facto de fornecer alimentos a Mãe da
criança.

Poder paternal relativamente à pessoa dos filhos

Quanto a educação, cabe a ambos os pais, de acordo com as suas possibilidades e com
o superior interesse dos seus filhos, promover o desenvolvimento físico, intelectual e
moral daqueles. Os pais devem proporcionar aos filhos, em especial aos portadores de
deficiência física ou mental, instrução geral e profissional adequada às aptidões e
inclinações de cada um. Quanto ao respectivo ponto, estamos numa situação de
unanimidade entre as Leis da Família posterior (2004 e 2019).

Quanto a educação religiosa, nos termos do art.1886. Pertence aos pais decidir sobre a
educação religiosa dos filhos menores de dezesseis anos. Pelo que, após a
independência e a constituição de uma Constituição da Republica de Moçambique seria
uma violação a um princípio de carácter constitucional (Estado laico, art.12 da CRM),
desta forma não foi mais adoptada pelas Leis posteriores, ou seja, foi revogado.
Quanto a Formação do carácter, que de certa forma não era regulado pelo código
antigo, mas foi introduzido pelas leis posteriores para que sirva de diretriz para criação
de um indivíduo ético e moralmente equilibrado para a sociedade transmitindo lhe
valores.
Quanto a Afetividade, não era regulada pelo código anterior, mas actualmente viu-se
uma necessidade de atender a questões de caracter imaterial que de certa forma vem a
ajudar no desenvolvimento harmonioso dos respectivos filhos.

Quanto ao Abandono do lar, os menores não podem abandonar a casa paterna ou


aquela que os pais lhes destinaram, nem dela ser retirados. Se a abandonarem ou dela
forem retirados; qualquer dos pais e, em caso de urgência, as pessoas a quem eles
tenham confiado o filho podem reclamá-lo, recorrendo, se for necessário, ao tribunal ou
à autoridade competente. Nas leis posteriores deu se continuidade e não permitindo de
qualquer forma que seja, estando sujeitos a imputação.

Poder paternal relativamente aos bens dos filhos

23
Quanto a exclusão da administração, os pais não têm a administração: dos bens do
filho que procedam de sucessão da qual os pais tenham sido excluídos por indignidade
ou deserdação; dos bens que tenham advindo ao filho por doação ou sucessão contra a
vontade dos pais; dos bens deixados ou doados ao filho com exclusão da administração
dos pais. Dos bens adquiridos pelo filho maior de dezasseis anos pelo seu trabalho. A
exclusão da administração, nos termos da alínea c) do número anterior, é permitida
mesmo relativamente a bens que caibam ao filho a título de legítima. De acordo com as
Leis posteriores, verifica-se que se mantiveram as respectivas disposições legais.

Quanto a Actos cuja validade depende de autorização do tribunal, Como


representantes do filho não podem os pais, sem autorização do tribunal: a) alienar ou
onerar bens, salvo tratando-se de alienação onerosa de coisas susceptíveis de perda ou
deterioração: b) votar, nas assembleias gerais das sociedades, deliberações que
importem a sua dissolução;

c) Adquirir estabelecimento comercial ou industrial ou continuar a exploração do que o


filho haja recebido por sucessão ou doação; d) Entrar em sociedade em nome colectivo
ou em comandita simples ou por acções; e) Contrair obrigações cambiárias ou
resultantes de qualquer título transmissível por endosso; f) Garantir ou assumir dívidas
alheias; g) Contrair empréstimos; h) Contrair obrigações cujo cumprimento se deva
verificar depois da maioridade; i) Ceder direitos de crédito; j) Repudiar herança ou
legado; l) Aceitar herança, doação ou legado com encargos, ou convencionar partilha
extrajudicial; m) Locar bens, por prazo superior a seis anos; n) Convencionar ou
requerer em juízo a divisão de coisa comum ou a liquidação e partilha de patrimónios
sociais; o) Negociar transacção ou comprometer-se em árbitros relativamente a actos
referidos nas alíneas anteriores, ou negociar concordata com os credores. De modo geral
todas as disposições foram mantidas e actualmente estão em vigor nas presentes Leis.

Quanto a Aceitação e rejeição de liberalidades, verifica-se que a toma decisão do


legislador não foi de efectuar nenhuma mudança quanto ao regime, pelo que deu a
respectiva continuidade as leis posteriores.

Quanto a Nomeação de curador especial, se o menor não tiver quem legalmente o


represente, qualquer das pessoas mencionadas no nº 2 do artigo anterior tem
legitimidade para requerer ao tribunal a nomeação de um curador especial para os
efeitos do disposto no nº 1 do mesmo artigo. Quando o tribunal recusar autorização aos

24
pais para rejeitarem a liberalidade, será também nomeado oficiosamente um curador
para o efeito da sua aceitação. Desta forma, houve uma repetição, considerando a
eficácia da disposição.

Proibição de adquirir bens do filho, Verifica-se que nesta disposição não existe uma
possibilidade de forma livre de se apoderar dos bens do filho, assim sendo, somente
pode-se verificar um acto contrario se for por via de autorização do Tribunal. Nos
termos da LF 1986. Pelo que, na lei da Família em vigor o tribunal deve ouvir
previamente o menor, quando este tenha capacidade de discernimento, e ter em devida
conta a sua opinião, de acordo com a sua idade e maturidade.

Lei 22/2019 
Os menores estão protegidos pela legislação vigente em Moçambique. Em caso de
separação, dissolução do casamento, seja por morte de um dos cônjuges ou por efeitos
de divórcio, devem ser sempre garantidos os interesses dos filhos. No seu artigo 292 e
ss da Lei da Família. Prevê que, para o caso do divórcio não litigioso, o conservador
deve zelar pela protecção dos interesses dos filhos do casal. A regulação do poder
parental, a prestação de alimentos, a meação de bens do casal e o destino da casa de
morada da família, quando os casos se aplicarem, têm repercussões directas e indirectas
sobre a protecção dos interesses de menores, constituindo por isso parte dos acordos
entre o casal para a instrução do processo de divórcio.

Efeitos 

No âmbito geral, os pais estão obrigados a prover ao sustento dos filhos e a assumir as
despesas relativas à sua segurança, saúde e educação, até que eles estejam legalmente
em condições de as suportar através do produto do seu próprio trabalho ou de outros
rendimentos. 

Comportam o regime de irrenunciabilidade, o que culmina com os pais não poderem


renunciar ao poder parental nem a qualquer dos direitos e deveres que aquele
especialmente lhes confere, sem prejuízo do que na presente Lei se estabelece acerca da
família de acolhimento e da adopção.

25
Aqui cabe a ambos os pais, de acordo com as suas possibilidades e com o superior
interesse dos seus filhos, promover o desenvolvimento físico, intelectual e moral
daqueles. 

Filhos nascidos for a do casamento 

O pai ou a mãe não pode desobrigar-se dos seus deveres em relação a filho concebido
na constância do casamento ou da união de facto que não seja filho do seu cônjuge ou
do seu companheiro da união de facto, mas não pode introduzi-lo no lar conjugal, sem o
consentimento do outro cônjuge ou companheiro da união de facto.

Poder parental quanto aos bens dos filhos

Neste regime, os pais não têm a administração de bens do filho provenientes de


sucessão da qual os pais tenham sido excluídos por indignidade ou deserdação; bens que
o filho haja recebido por doação ou sucessão contra a vontade dos pais; bens deixados
ou doados ao filho com exclusão de administração dos pais; e bens adquiridos pelo filho
maior de dezesseis anos em resultado do seu trabalho.

Formação do carácter e da personalidade

Nas relações paterno-filiais, os pais devem transmitir os valores éticos, morais,


familiares e culturais estruturantes de uma personalidade equilibrada e tolerante no
respeito pela família e pelos mais velhos.

Actos cuja validade depende de autorização do tribunal

Na qualidade de representantes do filho os pais não podem, sem autorização do tribunal:

a) alienar ou onerar bens, excepto tratando-se de alienação onerosa de coisas


susceptíveis de deterioração ou de perda;

b) votar, em assembleia geral de sociedades, deliberações que importem a sua


dissolução;

c) adquirir empresa comercial ou continuar a exploração da que haja sido recebida pelo
filho por sucessão ou doação;

d) entrar em sociedade em nome colectivo ou por acções ou em comandita simples


como sócio de responsabilidade ilimitada;

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e) contrair obrigações cambiárias ou resultantes de qualquer título transmissível por
endosso;

f) garantir ou assumir dívidas alheias;

g) contrair empréstimos;

h) contrair obrigações cujo cumprimento se deva verificar depois da maioridade;

i) ceder direitos de crédito;

j) repudiar herança ou legado;

k) aceitar herança, doação ou legado com encargos;

l) locar bens, por prazo superior a dois anos;

m) convencionar ou requerer em juízo a divisão de coisa comum ou a liquidação e


partilha de patrimónios sociais;

n) negociar transacção ou comprometer-se perante árbitros relativamente a actos


referidos nas alíneas anteriores, ou negociar concordata com credores.

Actos anuláveis

Os actos praticados pelos pais em contraversão à lei, são anuláveis a requerimento do


filho, até um ano depois de atingir a maioridade ou ser emancipado ou, se, entretanto,
tiver falecido, a pedido dos seus herdeiros, excluídos os próprios pais responsáveis, no
prazo de um ano a contar da morte do filho. A anulação pode ser requerida depois de
findar o prazo se o filho ou os seus herdeiros mostrarem que só tomaram conhecimento
do acto impugnado nos seis meses anteriores à proposição da acção. A acção de
anulação pode também ser intentada pelas pessoas com legitimidade para requerer a
inibição do poder parental, contanto que o façam no ano seguinte à prática dos actos
impugnados e antes do menor atingir a maioridade ou ser emancipado.

Exercício do poder parental na constância do casamento ou da união de facto


Na constância do matrimónio ou da união de facto o exercício do poder parental
pertence a ambos os Pais. Os pais exercem o poder parental por comum acordo e, se
este faltar em questões de especial importância, qualquer deles pode recorrer ao
tribunal, que tenta a conciliação e, se esta não for possível, o tribunal ouve, antes de

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decidir, o filho maior de doze anos, salvo se circunstâncias ponderosas o
desaconselharem.

Impedimento de um dos pais

Se um dos pais não puder exercer o poder parental por ausência, impossibilidade
temporária, incapacidade ou outro impedimento, cabe unicamente ao outro progenitor o
exercício daquele poder.

Exercício do poder parental em caso de divórcio, separação, anulação do


casamento ou cessação da união de facto
Em caso de divórcio, separação judicial, anulação do casamento ou cessação da união
de facto, o tribunal que tenha decretado tais providências deve ordenar a notificação dos
progenitores, para no prazo de 10 dias apresentarem o correspondente acordo sobre o
exercício do poder parental, que é homologado logo de seguida. Não sendo apresentado
o acordo pelos progenitores, o tribunal comunica esse facto ao curador de menores para
os fins estabelecidos na lei.

Em caso de separação de facto, bem como de cessação da união de facto, os


progenitores podem acordar sobre o modo do exercício do poder parental que é
homologado pelo tribunal competente. Os pais podem ainda acordar que determinados
assuntos sejam resolvidos por acerto de ambos ou que a administração dos bens do filho
seja exercida pelo progenitor que não tiver a sua guarda.

O acordo alcançado pelos progenitores deve ser recusado se não corresponder ao


superior interesse do menor, incluindo o interesse de ele manter relação de proximidade
com o progenitor a quem não tiver sido confiada a guarda.

Na falta de acordo ou da sua recusa, o tribunal competente decide sobre o destino do


menor, os alimentos que lhe são devidos e a forma de os prestar, confiando-o à guarda
de um dos pais ou, quando o superior interesse do menor o justificar, a outro familiar, a
terceira pessoa ou a instituição pública ou privada adequada. Ao progenitor que não
exerça o poder parental assiste o poder de acompanhar de perto a educação e as
condições de vida do filho.

Inibição de pleno direito

Consideram-se inibidos de pleno direito do exercício do poder parental:

28
a) os condenados definitivamente por crime a que a lei atribua esse efeito;

b) as reincidentes por crime de lenocínio e de corrupção de menores;

c) os interditos e os inabilitados por anomalia psíquica;

d) as pessoas sujeitas, nos termos do número 1 do artigo 89.o do Código Civil, ao


instituto de curadoria, desde a nomeação de curador; consideram-se também inibidos de
representar de pleno direito o filho e administrar os seus bens os menores de dezoito
anos não emancipados e os inabilitados por prodigalidade.

A inibição de exercício de pleno direito de poder parental cessa pelo levantamento da


interdição ou inabilitação e pelo termo da curadoria. 

Registo das decisões relativas ao poder parental

São comunicadas oficiosamente ao registo civil competente a fim de serem registadas:

a) as decisões que regulem o exercício do poder parental ou homologuem acordo sobre


esse exercício;

b) as decisões que façam cessar a regulação do poder parental em caso de reconciliação


dos cônjuges separados judicialmente ou de facto;

c) as decisões que importem inibição do exercício do poder parental, o suspendam


provisoriamente ou estabeleçam providências limitativas desse poder.

Meios de suprir o poder parental

O poder parental é suprido por meio da tutela ou da família de acolhimento.

Menores sujeitos a tutela

O menor está obrigatoriamente sujeito à tutela se os pais:

a) tiverem falecido;

b) estiverem inibidos do poder parental quanto à regência

da pessoa do filho;

c) estiverem há mais de 6 meses impedidos de facto de

29
exercer o poder parental;

 d) forem incógnitos.

Maiores sujeitos a tutela

Estão também sujeitos à tutela os maiores interditos ou incapazes de dispor da sua


pessoa e bens, em razão de anomalia psíquica, de surdez, de mudez ou de algum outro
motivo e não possam ser representados pelos seus pais.

Objectivo da tutela

A tutela tem por objectivo a defesa dos direitos, a protecção da pessoa e do seu
património e a satisfação das obrigações do incapaz ou interdito por decisão judicial.

Modo de constituição

A tutela constitui-se por sentença judicial, a requerimento do Ministério Público, dos


ascendentes ou colaterais até ao quarto grau do menor. A tutela é exercida sob controlo
do tribunal.

 Órgãos de tutela

A tutela é exercida por um tutor, coadjuvado pelo Conselho de Família. O cargo de tutor
é obrigatório e uma vez aceite não pode ser recusado, salvo por motivo legítimo,
devidamente comprovado pelo tribunal.

Lei 10/2004

A presente lei vigorou no nosso ordenamento jurídico neste período de 2004 a 2018 e
foi revogada pela lei 22/2019. O regime do exercício de poder parental nesta lei é
meramente idêntico à lei nova, e o seu regime está estabelecido no artigo 283 e ss. 

Efeitos 

Os efeitos produzidos são os mesmos, pelo que os pais estão obrigados a prover ao
sustento dos filhos e a assumir as despesas relativas à sua segurança, saúde e educação,
até que eles estejam legalmente em condições de as suportar através do produto do seu
próprio trabalho ou de outros rendimentos. 

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Comportam o regime de irrenunciabilidade, o que culmina com os pais não poderem
renunciar ao poder parental nem a qualquer dos direitos e deveres que aquele
especialmente lhes confere, sem prejuízo do que na presente Lei se estabelece acerca da
família de acolhimento e da adopção.

Aqui cabe a ambos os pais, de acordo com as suas possibilidades e com o superior
interesse dos seus filhos, promover o desenvolvimento físico, intelectual e moral
daqueles. 

O regime estabelecido para os filhos nascidos fora do casamento, os bens dos filhos,
formação do carácter e da personalidade e os actos anuláveis, são os mesmos
estabelecidos na nova lei.

Exercício do poder parental na constância do casamento 

Aqui nesta lei percebemos que ainda não havia lugar à esta figura de União de Facto,
que se assemelha em questões gerais, ao casamento. Portanto aqui, diferentemente da
nova lei, em casos de divórcio, separação judicial ou separação de facto, ou anulação do
casamento, o poder parental é exercido por acordo dos pais, sujeito a homologação do
tribunal, que é recusada se o acordo não corresponder ao superior interesse do menor,
incluindo o interesse de ele manter com o progenitor a quem não seja confiado uma
relação de proximidade. Os pais podem ainda acordar, nos termos do número anterior,
que determinados assuntos sejam resolvidos por acordo de ambos ou que a
administração dos bens do filho seja exercida pelo progenitor a quem o menor não for
confiado,

Na falta de acordo, o tribunal decide o destino do menor, os alimentos que lhe são
devidos e a forma de os prestar, confiando- -o à guarda de um dos pais ou, quando o
superior interesse do menor o justificar, a outro familiar, a terceira pessoa ou a
instituição pública ou privada adequada. Ao progenitor que não exerça o poder parental
assiste o poder de acompanhar de perto a educação e as condições de vida do filho.

Inibição e limitações ao exercício do poder parental

Consideram-se de pleno direito inibidos do exercício do poder parental:

a) os condenados definitivamente por crime a que a lei atribua esse efeito;

31
b) as reincidentes por crime de lenocínio e de corrupção de menores;

c) os interditos e os inabilitados por anomalia psíquica; 

d) as pessoas sujeitas, nos termos do n.° 1 do artigo 89 do Código Civil, ao instituto de


curadoria, desde a nomeação de curador.

Registo das decisões relativas ao poder parental

São comunicadas oficiosamente ao registo civil competente a fim de serem registadas:

a) as decisões que regulem o exercício do poder parental ou homologuem acordo sobre


esse exercício;

b) as decisões que façam cessar a regulação do poder parental em caso de reconciliação


dos cônjuges separados judicialmente ou de facto;

c) as decisões que importem inibição do exercício do poder parental, o suspendam


provisoriamente ou estabeleçam providências limitativas desse poder.

Meios de suprir o poder parental

O poder parental é suprido por meio da tutela ou da família de acolhimento.

Menores sujeitos a tutela

O menor está obrigatoriamente sujeito à tutela se os pais:

a) tiverem falecido;

b) estiverem inibidos do poder parental quanto à regência

da pessoa do filho;

c) estiverem há mais de 6 meses impedidos de facto de

exercer o poder parental;

 d) forem incógnitos.

Maiores sujeitos a tutela

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Estão também sujeitos à tutela os maiores interditos ou incapazes de dispor da sua
pessoa e bens, em razão de anomalia psíquica, de surdez, de mudez ou de algum outro
motivo e não possam ser representados pelos seus pais.

Objectivo da tutela

A tutela tem por objectivo a defesa dos direitos, a protecção da pessoa e do seu
património e a satisfação das obrigações do incapaz ou interdito por decisão judicial.

Modo de constituição

A tutela constitui-se por sentença judicial, a requerimento do Ministério Público, dos


ascendentes ou colaterais até ao quarto grau do menor. A tutela é exercida sob controlo
do tribunal.

 Órgãos de tutela

A tutela é exercida por um tutor, coadjuvado pelo Conselho de Família. O cargo de tutor
é obrigatório e uma vez aceite não pode ser recusado, salvo por motivo legítimo,
devidamente comprovado pelo tribunal.

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Conclusão
No trabalho realizado, constatamos que família no direito consuetudinário era
constituída através de casamento tradicional, que assume várias formas, que diferem de
região para região.

As relações de parentesco são os elementos que atravessam todas as formas de família,


quer se trate de grupos domésticos extensos ou simples.

As relações de parentesco que são de cooperação/ conflito, definem a composição da


família, identificam e identificam-se na sua organização e, constroem relações de
gênero, diferenciando, assim as posições de cada membro na hierarquia familiar.

A maneira como a família se reproduz enquanto reprodutora de novos membros e


reprodutora da ordem parental reforça os mecanismos de controle do sistema de
parentesco.

Na patrilinearidade sendo a mulher o elemento circulante entre grupos de famílias, é


pela posição que ela ocupara que se garante a permanência do poder parentar

O poder parental é o conjunto de responsabilidade que os pais têm para com os seus
filhos de forma igual, tanto para o pai bem como para a mãe. Na constância do

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matrimónio, o poder parental pertence a ambos, os pais exercem as responsabilidades
parentais de comum acordo.

Em Moçambique quanto ao Direito consuetudinário o poder parental era exercido


segundo as sociedades em que o casal estava inserido, no sentido de falar das linhas
familiares, sendo elas matrilineares e patrilineares.

Matrilocal é aquela que estabelece residência conjunta entre o casal e os pais da mulher.
Com frequência acontece nas sociedades setentrionais de Moçambique onde há uma
tendência de as famílias estabelecerem residência matrilocais,é a família cujo poder é
exercido pela mulher.

Patrilocal é aquela que estabelece uma residência conjunta entre um casal e os pais do
homem. Geralmente nas sociedades meridionais de Moçambique há uma tendência de
as famílias estabelecerem residências patrilocais devido a estrutura e a natureza do
poder que se centra nas mãos dos homens, é a família cujo poder é exercido pelo
marido.

Relativamente as leis, os dados mostram que o instituto investigado desafiou o tempo;


com raízes no Direito Romano e sendo aplicado nos períodos subsequentes a este
Direito, o poder familiar está previsto em quase todos os sistemas jurídicos modernos e
é considerado um dos mais importantes do Direito Privado. Ao se comparar os dados,
verificou-se ainda que, apesar de em sua “razão de ser” o instituto ter sofrido mudanças,
vários direitos entre pais e filhos foram mantidos pelas sucessivas legislações, com as
devidas alterações decorrentes, entre outras, das mudanças do ambiente social, das
funções e da estrutura familiar e do parentesco.
Constatou-se que, para se chegar ao reconhecimento da condição do filho como a
concebemos hoje, foi preciso transpor uma longa e árdua trajectória, que se inicia com
os fundamentos cristãos, passa pela consideração de sua incapacidade – apesar das
intercessões de iluminados juristas, os quais ressaltavam a finalidade protectiva do
instituto –, percorre um caminho que desvaloriza sua condição em favor da vontade dos
pais para, finalmente, rumar em direcção a uma nova codificação que consagra a eles
um conjunto de direitos capaz de assegurar-lhes, “com absoluta prioridade, a
efectivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao
esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à
convivência familiar e comunitária”, além de colocá-los a salvo de “qualquer forma de

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negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na
forma da lei qualquer atentado, por acção ou omissão, aos seus direitos fundamentais.

Nota-se que o instituto também é abrilhantado pela reciprocidade de direitos e deveres


entre pais e filhos, já que todos os cuidados para com estes devem se reverter em favor
daqueles quando na velhice ou enfermidade necessitarem, conforme previsto tanto pela
Constituição como pela legislação ordinária e especial. Essa orientação mantém estrita
relação com a solidariedade social e, nas relações privadas, está presente na
solidariedade familiar.
Da análise do material coligado infere-se que a actual concepção do poder familiar sofre
influências de diversos factores sociais e culturais e deve ser interpretada segundo os
valores presentes na sociedade, os quais têm como primeira finalidade as protecções
física, mental, moral, espiritual e social e a defesa dos interesses dos filhos e da família.
Anota-se que a interpretação e a execução desse novo entendimento também são
permitidas a partir da leitura da actual Lei da Família, tanto em razão de suas cláusulas
gerais como pela possibilidade de haver interacção entre as normas jurídicas.

Os dados indicaram, exemplo do ocorrido em outros países, as mudanças na letra da lei,


no que concerne aos direitos e deveres paternos estabelecidos, não foram tão
significativas quanto a concepção das atribuições que circundam o instituto do poder
familiar.
Ao investigar os princípios constitucionais e o carácter normativo dos mesmos, tinha-se
como objectivo subsidiar a compreensão do tema – o que ocorreu, pois após o
levantamento e a análise dos dados foi possível: reflectir acerca da evolução do direito
de família (em geral, e seu instituto do poder familiar, em particular).

Observa-se na legislação e nas doutrinas nacional e estrangeira que, embora existam


denominações diferentes para designar as atribuições decorrentes do exercício do poder
familiar, todas têm em comum os cuidados no plano pessoal e patrimonial dos filhos,
para sua protecção e formação integral, e que a denominação “autoridade parental”,
utilizada pelas modernas legislações e por alguns doutrinadores, associa-se aos deveres,
tais como os de alimentar, proteger, cuidar, educar, apoiar; à noção de responsabilidade
dos pais – responsabilidade que é necessária para a segurança do filho e da família; ao
direito assegurado aos pais para praticarem determinados actos relativos aos filhos; à
função dos pais como detentores de autoridade.

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Ao mesmo tempo, de acordo com as actuais concepções jurídicas do instituto, foi
possível inferir que, para os pais desempenharem suas funções, um dos caminhos
possíveis deve passar pela valorização de sua autoridade pela família. Deve passar,
ainda, pelos deveres, tanto dos pais de exercerem a autoridade no interesse do filho,
como do filho em respeitar seus pais.

Bibliografia
ANDRADE, Ximena, Ana Maria Loforte, Conceição Osório, Lúcia Ribeiro, e Eulália

Temba. FAMÍLIAS EM CONTEXTO DE MUDANÇAS EM MOÇAMBIQUE.

1998.

BURGUIÈRE, André. Histórias da Família- O CHOQUE DAS MODRNIDADES,

ÁSIA, ÁFRICA, AMÉRIC, EUROPA. TERRAMAR Editores, 1986.

JUNOD, Hanri Alexandre. Usos e custumes dos bantu. Tomo. I.

MOURIM, EDGAR. O HOMEM E A MORTE.

PIRES, Candida da Silva Antunes. FAMÍLIA, PARENTESCO E CASAMENTO.

ASSIMETRIAS E ESPECIAIS E TEMPORAIS.

https://sopra-educacao.com/2020/12/12/familia-em-mocambique-conceito-conceito-
tipos-importancia-patrilinear-matrilinear-e-conjuges/

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LEGISLAÇÃO

CÓDIGO CIVIL. 5ª. Maputo: ESCOLAR EDITORA, 2020.

Lei nº 10/2004, de 25 de Agosto (aprova a Lei da Família e revoga o Livro IV do


Código Civil

Lei nº 22/2019, de 11 de Dezembro (Lei da Família e revoga a Lei nº 10/2004, de 25 de


Agosto.

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