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Universidade Wutivi

Faculdade de Direito

Curso de Licenciatura em Direito


Disciplina: Direito da Família
Tema: Filiação: Estabelecimento da Paternidade

Boane, Agosto de 2022

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Disciplina: Direito da Família

Tema: Filiação: Estabelecimento da Paternidade

Discentes:
 Celsa Sabino Tembe;
 Edvalda Genência Banze;
 Lisa de Sousa;
 Nica Alexandre Ucucho.

Docente:
 Esmeraldo Matavele

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Índice
1. Introdução.................................................................................................................. 1

Filiação: Estabelecimento da Paternidade ........................................................................ 2

2. Estabelecimento Da Filiação ................................................................................. 2

2.1 Conceito de Filiação ............................................................................................ 2

2.2 Princípios fundamentais do Direito da Filiação ...................................................... 4

3. Estabelecimento da Paternidade ............................................................................ 6

3.1 Presunção da Paternidade .................................................................................... 6

3.2 Perfilhação ........................................................................................................... 8

3.3 Averiguação oficiosa da paternidade ( Paternidade Desconhecida) ................. 10

3.4 Reconhecimento Judicial................................................................................... 11

4. Conclusão ................................................................................................................ 13

5. Bibliografia.............................................................................................................. 14

6. Legislação................................................................................................................ 14

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1. Introdução
O presente trabalho consiste em debruçar sobre a Filiação enquanto instituto a
desenvolver no âmbito da disciplina de Direito da Família, lecionada no segundo ano do
da Faculdade de Direito da Universidade Wutivi. É sabido que a família atravessa uma
crise cultural profunda, como todas as comunidades e vínculos sociais. No caso da
família, a fragilidade dos vínculos reveste-se de especial gravidade porque se trata de
uma célula básica da sociedade. O Direito da Filiação é um ramo do Direito da Família
que reveste cada vez mais importância e que abrange realidades novas e complexas
transversais à sociedade contemporânea. Tem por objeto o estabelecimento das relações
de maternidade e paternidade, o modo ou os modos por que uma e outra se estabelecem,
convertendo os vínculos biológicos em relações jurídicas. Neste sentido, o nosso
trabalho versará sobre este tema, procurando clarificar e aprofundar todas as questões
conexas com a matéria da Filiação. Começaremos por abordar o interesse prático-
jurídico do nascimento e o estabelecimento da filiação que, tem impacto em relação aos
filhos e seus futuros bens e de seguida abordaremos sobre o estabelecimento da
Paternidade: a presunção de paternidade marital; a perfilhação; o reconhecimento
judicial; e a averiguação oficiosa da Paternidade.

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Filiação: Estabelecimento da Paternidade

O direito da filiação corresponde ao conjunto de normas que têm por objeto as relações
entre pais e filhos e os direitos e estados que daí resultam. Repare-se que,
independentemente da filiação biológica, só no momento em que se estabelece
a filiação jurídica, através de um dos meios de estabelecimento de paternidade e
maternidade, e que nasce a relação jurídica da filiação.

Ora, os poderes e deveres emergentes da filiação ou do parentesco só são atendíveis se a


filiação se encontrar legalmente estabelecida, pelo que a maternidade e a paternidade
têm que ser obrigatoriamente registadas.

2. Estabelecimento Da Filiação

2.1 Conceito de Filiação


A filiação é um vínculo de base natural ou biológico cuja conotação jurídica só pode ser
sustentada a partir da sujeição a registo. A filiação é uma «relação juridicamente
estabelecida de entre as pessoas que procriam e aquelas que foram geradas»). Não basta
a filiação natural para que se produzam os respectivos efeitos. É necessário que a
mesma seja recebida ou reconhecida na ordem jurídica. A relação de filiação é
estabelecida descensionalmente do pai ou mãe para com o filho, constituindo de entre
estes, respetivamente, laços de paternidade ou maternidade. É um verdadeiro estado de
família, uma verdadeira fonte de relações jurídicas familiares No Direito Romano, até
aos imperadores cristãos, apenas duas categorias de filhos eram reconhecidas: os iusti
liberi e os liberi spurii. Os primeiros procediam do iustia nuptiae. Os segundos,
chamados de vulgo concepti, eram concebidos fora do matrimónio. Nesta época, para a
consideração de um filho como legítimo impunha-se, primeiramente, a celebração de
«justas núpcias» e a concepção do então nascido durante a constância do casamento.
Deste modo, filho legítimo seria aquele nascido ou concebido na constância do
matrimónio. Em contrapartida, seria tido como ilegítimo aquele que procedia de uma
união sexual não reconhecida pelo Direito, fruto de uma relação incestuosa, adúltera ou
sacrílega. Conquanto, hoje em dia é inaceitável qualquer consideração de que o estado
de filiação matrimonial é mais perfeito e completo que o estado de filiação

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extramatrimonial. Em suma, a filiação configura um verdadeiro «status jurídico de uma
pessoa em razão da relação de procriação real ou suposta com um terceiro.
é uma situação ou posição integrada por um complexo de relações jurídicas de entre
procriadores e procriados» .
O nascimento: interesse prático-jurídico
A lei ao dispor que «a personalidade adquire-se no momento do nascimento completo e
com vida» (art. 66.º, n.º 1 CC) parece ir de encontro à posição doutrinária segundo a
qual o nascimento tem lugar quando o filho sai do ventre materno e no exato momento
em que lhe é cortado o cordão umbilical. Só neste preciso momento há uma concreta
separação do ventre materno para com o nado-vivo. Com este normativo esvai-se a
consideração de que o nascimento ocorre mal comecem os trabalhos de parto, em
sentido contrário daquilo que alguns autores insistem em propugnar. Na verdade, o
nascimento é um facto jurídico autónomo da filiação: «tem relevância mesmo que não
seja possível identificar a mãe e o pai e, portanto, mesmo que não seja possível vir a
estabelecer a maternidade e a paternidade.
Também se presumirá a paternidade em relação ao marido da mãe, tendo como ponto de
referência o filho nascido ou concebido na constância do matrimónio. Também o
momento da concepção do filho é determinado dentro dos cento e vinte dias dos
trezentos que precederam o seu nascimento (art. 217 da Lei da Família). Estes
determinismos legais concretizam-se no regime legalmente consagrado para as questões
do estabelecimento da maternidade e paternidade.
Ora, a sua inscrição registral efetiva um mecanismo de publicitação auxiliar e
concretizador de garantias de cidadania. «Um individuo não registado não é
contabilizado no momento da distribuição dos recursos do Estado Social, não goza da
proteção que a sociedade dispensa aos cidadãos através das obrigações que se impõem
aos pais, nem tem acesso aos instrumentos de desenvolvimento pessoal e económico
que estão generalizados».
A declaração de nascimento é uma declaração de ciência que a lei impõe ao maior
número de pessoas que hajam tido conhecimento do parto, de forma a evitar a
clandestinidade do nascimento. Deve ser proferida declaração verbal em qualquer
conservatória de registo civil ou, se o nascimento ocorrer em unidade de saúde onde
seja possível declarar o nascimento, até ao momento em que a parturiente receba alta
hospitalar, sendo mais frequente o registo efetuado em unidades de saúde. Compete,
sucessivamente, aos pais ou a qualquer outra pessoa que tenha assistido ao nascimento

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fazer a respetiva declaração. Aliás, é comum nos serviços registrais, o solicitar de
esclarecimentos ou comprovações em relação a alguma declaração cuja veracidade é
dúbia. Todavia, na prática, esta declaração não está sujeita, por via legal, a qualquer
controlo vinculado, seja quanto ao próprio facto do nascimento seja quanto a alguma
caraterística do lugar, data ou do próprio recém-nascido. Este aspeto pode surtir
implicações nefastas quanto à maternidade ou paternidade estabelecidas. Daí a
consagração da possibilidade de as crianças serem registadas logo nos centros
hospitalares.

2.2 Princípios fundamentais do Direito da Filiação

Todos têm direito a constituir família em condições de plena igualdade,


designadamente através do reconhecimento dos vínculos de parentesco. O Estado Social
tem o dever de implementar mecanismos de efetivação das condições de realização
pessoal dos membros que compõem o núcleo familiar. Através da previsão dos meios
para estabelecer ou impugnar vínculos de filiação, far-se-á jus a este desígnio
constitucional. O Direito da Filiação assenta numa concepção filiocêntrica dominada
pelo princípio do «superior interesse da criança”. O conceito de filiação abrange um
núcleo correspondente à «estabilidade das condições de vida da criança, das suas
relações afetivas e do seu ambiente físico e social» .
Ora, o desenvolvimento integral e salutar das crianças é uma garantia com a qual estes
seres podem contar, em especial os mais vulneráveis. Estas são incumbências em
relação às quais o instituto da filiação não se pode apartar. Os pais têm o direito e o
dever de educação e manutenção dos filhos. São «peças» insubstituíveis nas
incumbências de promoção das diligências necessárias e tendentes ao estabelecimento
da filiação, mormente nas ações de investigação ou impugnação. A regra é a de que os
filhos não podem ser separados dos pais, salvo se estes não cumprirem os seus deveres
paternofiliais para com aqueles. Em mais, o direito à identidade pessoal e ao livre
desenvolvimento da personalidade, apesar de não estarem inseridos autonomamente no
campo das relações familiares, influem substancialmente nas opções legislativas,
doutrinárias e jurisprudenciais conexas com a matéria da Filiação. A integridade pessoal
consubstancia-se «num direito a ter um nome, de não ser privado dele, de o defender e

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de impedir que outrem o utilize, sem prejuízo dos casos de homonímia» ( art. 215 da
LF).
O direito ao livre desenvolvimento da personalidade, por sua vez, deve ser
perspectivado num âmbito bidimensional: fundamenta uma tutela geral da
personalidade, por um lado, e, por outro, consagra uma liberdade de ação, uma
liberdade de comportamento cujo teor substantivo-prático confirma a verdadeira
autodeterminação individual. Portanto, a todo o indivíduo, e em especial às crianças e
jovens, é conferida a possibilidade de traçar um plano de vida . Existem ainda outros
princípios que, apesar de não terem referente constitucional, estruturam todo o regime
legal da filiação, configurando verdadeiras «traves-mestras» sobre as suas regras. São
eles: o princípio da verdade biológica e o princípio da taxatividade dos meios de
estabelecimento da filiação.
Como princípio estruturante do direito da filiação Moçambicana, a verdade biológica
também orientará o intérprete na aplicação das normas e na integração de eventuais
lacunas. Na verdade, é só o critério biológico o determinante para a constituição do
vínculo da filiação. Não se pense que o legislador procura fazer coincidir a verdade
jurídica com a verdade sociológica, a qual é, por sua vez, de ordem psicológica e
afetiva, ainda que por vezes se considere ser esta a conexão necessária para uma real e
concreta salvaguarda do superior interesse do filho. Por fim, o princípio da taxatividade
dos meios significa que os vínculos da filiação se estabelecem apenas nos modos
previstos na lei.

São três as modalidades de filiação: a filiação biológica, a filiação adoptiva, e a filiação


por consentimento não adoptivo. A filiação biológica decorre do fenómeno da
procriação. Identificando-se com o parentesco no primeiro grau da linha recta, configura
a forma clássica, mais corrente e materializa uma relação familiar inominada.
Subdivide-se de entre procriação por acto sexual e filiação decorrente de procriação
medicamente assistida. A filiação adoptiva, por sua vez, é aquela que,
independentemente dos laços de sangue, se constitui no âmbito de uma sentença
proferida no âmbito do processo de adopção. Como última modalidade, a filiação por
consentimento não adoptivo constitui-se mediante consentimento da parte que irá
assumir a posição jurídica de pai, independentemente dos laços de sangue e sem que
tenha havido uma sentença de adopção. Trata-se de uma relação jurídica familiar
inominada que acolhe o critério biológico.

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Actualmente,quer a mãe, quer o pai biológicos devem assumir o estatuto jurídico
correspondente. A maternidade resulta do facto biológico do nascimento. Este facto
biológico retira à mãe a possibilidade de impedir a constituição de estado . A
paternidade, por seu turno, presumir-se-á em relação ao marido da mãe. Fora do
casamento, estabelecer-se-á o elo com recurso à perfilhação ou ao reconhecimento. Na
paternidade também se verifica a participação física do progenitor no ato de fecundação.
Assim sendo, o próprio legislador assumiu o propósito de também vincular o pai ao
assumir da posição jurídica em que deve estar investido. Avulta neste âmbito a
circunstância de a relação natural entre o filho e a mãe ser clara no parto. Diversamente,
a relação entre o filho e o pai decorre de um processo biológico oculto, só determinável
através de presunções, perfilhação ou reconhecimento judicial. Assim sendo, a
maternidade estabelecer-se-á pela prova da própria filiação biológica e, por isso, o ato
voluntário do seu estabelecimento não nutre de eficácia constitutiva, como se demonstra
pela possibilidade de impugnação sem qualquer limitação em termos de prazo.
Diferentemente, na paternidade, a inexistência da notoriedade percetível na gravidez e
no parto, determina que o direito vigente aceite quer o acto pessoal e voluntário da
perfilhação, quer o sistema do reconhecimento, pois que admite a sua constituição
voluntária, nestes termos, a prolação da sentença que reconheça a paternidade tem uma
natureza declarativa porque declara o status em que as partes estão investidas ab initio,
não produzindo qualquer alteração na situação jurídica correspondente.
Duas considerações podem ser tecidas: se, por um lado, os avanços científicos facilitam,
hoje em dia, a prova da paternidade; em contrapartida, os processos de procriação
medicamente assistida geram dúvidas sobre a regra que associa o estabelecimento da
maternidade e o nascimento. É que, graças á maternidade de substituição e à dação de
óvulos ou embriões, a mãe de gestação pode diferir da mãe biológica.

3. Estabelecimento da Paternidade

3.1 Presunção da Paternidade


Quanto à presunção de paternidade, presume-se que o filho nascido ou concebido na
constância do matrimonio da mãe tem como pai o marido da mãe (art.244 da LF).

Daqui resulta que a presunção abrange os casos em que o filho foi concebido e nasceu
na constância do casamento da mãe, mas também os casos em que foi concebido antes

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do casamento, mas nasceu durante ele, e ainda os casos em que o filho foi concebido
durante o casamento, mas nasceu depois de o mesmo estar dissolvido.
Em qualquer destes casos, existe um elevado grau de probabilidade de o filho ser do
marido da mãe. Mesmo quando a concepção do filho se situa num momento anterior ao
casamento inferior a 180 dias, o compromisso de casar evidencia de certo modo a
probabilidade de a paternidade do filho pertencer ao marido.
O momento da dissolução do casamento por divórcio ou da sua anulação bem como da
cessação da união de facto, é o do trânsito em julgado da respectiva sentença no
divórcio por mútuo consentimento, ou da declaração de cessação da união de facto (
art.244 n 2 da LF).
Tanto a anulação do casamento civil como a declaração de nulidade do casamento
católico, transcrito no registo civil, não excluem a presunção da paternidade, quer dizer,
o desaparecimento do casamento não faz desaparecer a presunção da paternidade.
A declaração de negação da paternidade do marido pode partir de qualquer dos
cônjuges, se a mulher casada fizer a declaração do nascimento com a indicação de que o
filho não é do marido, não é efectuada a menção de paternidade presumida, podendo,
desde logo, ser aceite o reconhecimento voluntário da paternidade (art. 248 da LF).
A referida declaração faz cessar, de modo imediato, a presunção de paternidade e força
a sua não inclusão no assento de nascimento (art.248 n 2). Por isso, não haverá lugar à
impugnação de paternidade.
Quando não é feita esta declaração de negação da paternidade do marido da mãe, a
paternidade presumida é obrigatoriamente mencionada no assento de nascimento( art.
251 da LF).
A presunção da paternidade cessa também se o nascimento do filho ocorrer passados
trezentos dias depois de finda coabitação dos cônjuges (art. 246 n 1 da LF).
Se o filho nasceu depois de a mãe ter contraído novo casamento sem que o primeiro se
achasse dissolvido ou dentro dos trezentos dias após a sua dissolução, presume-se que o
pai é o segundo marido. Trata-se de casos em que a mãe praticou um acto de bigamia.
Porém, se houver impugnação da paternidade, renasce a presunção relativa ao primeiro
marido.Como se sabe, actualmente, devido ao avanço tecnológico, existem formas de
saber com facilidade e certeza qual é o pai da criança.

Fora destes casos, o estabelecimento da paternidade pode ocorrer de um dos seguintes


modos:

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3.2 Perfilhação

É uma das formas de reconhecimento da paternidade do filho nascido ou concebido


fora do matrimonio. Sendo um acto pessoal, tem de ser praticado pelo pai, embora a lei
consinta que o possa fazer por intermédio de procurador munido de procuração com
poderes especiais para o efeito ( art.267 da L.F).

Sendo um acto livre, significa que pode ser judicialmente anulável por erro ou coação
moral, a requerimento do perfilhante. A acção de anulação caduca no prazo de um ano a
contar do momento em que o perfilhante teve conhecimento do erro ou em que cessou a
coacção( art. 278 da LF).

Se o perfilhante for menor não emancipado ou maior acompanhado com restrições ao


exercício de direitos pessoais, a acção não caduca sem ter decorrido um ano sobre a
maioridade, emancipação, cessação ou modificação bastante do acompanhamento (
art.278 n 3 da LF).

A perfilhação é anulável por incapacidade do perfilhante a requerimento deste ou dos


seus pais, tutor ou acompanhante, se assim resultar de medida de acompanhamento
judicialmente decretadas ( art. 279 da LF).

A acção pode ser intentada dentro de um ano, contado:

 Da data da perfilhação, quando intentada pelos pais, tutor ou acompanhante com


 Da maioridade ou emancipação, quando intentada pelo que perfilhou antes da
idade exigida por lei:
 Do termo da limitação quando intentada por quem perfilhou estando em situação
de acompanhamento ou se encontre afetado por perturbação mental notória.

No que diz respeito à forma, a perfilhação pode fazer-se:

Por declaração prestada perante o funcionário do registo civil: Por testamento: Por
escritura pública: Por termo lavrado em juízo ( art. 271 da LF).

A lei permite que a perfilhação seja feita por meio de testamento ainda que dele não
constem outras disposições de caráter patrimonial, como é próprio do mesmo. Para o

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perfilhante o testamento tem a vantagem de manter a perfilhação em segredo ate ao
momento da sua morte.

Uma vez concretizada a perfilhação, torna-se irrevogável, é irrevogável, mesmo quando


feita em testamento, apesar da possibilidade de revogação deste ( art. 275 da LF).

A perfilhação deve corresponder à verdade. Se tal não acontecer, é impugnável em juízo


,mesmo depois da morte do perfilhado ( art. 276 da LF).

Têm capacidade para perfilhar os indivíduos com mais de dezoito anos, se não forem
maiores acompanhados com restrições ao exercício de direitos pessoais nem forem
afetados por perturbação mental notória no momento da perfilhação ( art. 269 n 1 da
LF).

Não são admitidas, portanto, limitações à titularidade do exercício do poder parental ou


às responsabilidades parentais, por exemplo, assim como quaisquer modificações
respeitantes aos direitos pessoais ou sucessórios atribuídos por lei ao perfilhado.
Igualmente está vedado ao perfilhante acrescentar qualquer cláusula no sentido de que a
perfilhação só produzirá os efeitos em determinadas circunstâncias ou durante certo
período de tempo.

Se, apesar de tudo, as cláusulas ou declarações proibidas constarem do acto de


perfilhação, não a invalidam, mas são consideradas como não escritas.

No que toca ao perfilhando, a perfilhação pode ser feita a todo tempo, antes ou depois
do nascimento do filho ou depois da morte deste ( art. 272 da LF).

A perfilhação do nascituro só é valida se for posterior à concepção e o perfilhante


identificar a mãe ( art.274da LF).

Se pela data do nascimento se verificar ser a concepção posterior à perfilhação, deve o


conservador comunicar o facto ao Ministério Publico para, se for caso disso, requerer a
declaração de nulidade do acto.

A perfilhação posterior à morte do filho só produz efeitos em favor dos seus


descendentes. Significa que a perfilhação post mortem, apesar da eficácia retroactiva
concedida pela lei, não aproveita ao perfilhante.
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A perfilhação de filho maior ou emancipado, ou de filho predefundo de quem vivam
descendentes maiores ou emancipados, só produz efeitos se aquele ou estes ou,
tratando-se de maiores acompanhados, precedendo autorização judicial, derem o seu
consentimento ( art. 273 da LF). O consentimento pode ser dado antes ou depois da
perfilhação, ainda que o perfilhante tenha falecido, sendo o registo da perfilhação
considerado secreto ate ser prestado o assentimento necessário. No entanto, qualquer
interessado tem o direito de requerer judicialmente a notificação pessoal do perfilhando,
dos seus descendentes ou dos seus representantes legais, para declararem se dão o seu
assentimento aa perfilhação, considerando-se esta aceite no caso de falta de resposta e
sendo cancelado o registo no caso de recusa. Também não existem obstáculos à
perfilhação de filhos incestuosos.

3.3 Averiguação oficiosa da paternidade ( Paternidade Desconhecida)

Sempre que seja lavrado registo de nascimento de menor apenas com a menção de
maternidade, deve o funcionário dos serviços de registo civil remeter ao Ministério
Publico da área de residência do menor a certidão integral do registo, a fim de ser
averiguada oficiosamente a identidade do pai ( art. 282 da LF).

Através da averiguação oficiosa de paternidade, quando coroada de êxito, pode ser


conseguido o pretendido estabelecimento da paternidade por um dos modos já referidos:
a perfilhação ou o reconhecimento judicial.

A averiguação oficiosa impõe-se nos casos em que a paternidade é desconhecida, com


fundamento de que todo o filho tem o direito de conhecer o seu pai. Para o efeito, deve
o Estado, quando necessário, tomar a iniciativa de averiguar oficiosamente a
paternidade.

Sempre que possível, o tribunal ouvirá a mãe acerca da paternidade que atribui ao filho.
Conhecida a identidade do pretenso pai, este será igualmente ouvido. Nas suas
declarações presumido pai confirmará ou negará a paternidade do filho. Se a confirmar,
será lavrado termo de perfilhação e remetida certidão para averbamento proceder-se- á
a averiguação oficiosa da paternidade.Se o pretenso progenitor não assumir a
paternidade proceder-se-á à averiguação oficiosa da paternidade ( art. 283 da LF).

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Finda a instrução do processo, que tem carácter secreto para evitar ofensa à reserva da
dignidade das pessoas, cabe ao Ministério publico emitir decisão sobre a viabilidade ou
inviabilidade e, se decidir pela viabilidade, deve propor a acção, em conformidade com
a lei.

Por iniciativa do Ministério Público pode ainda ter lugar investigação com base em
processo crime. Quando em processo crime se considere provada a cópula em termos de
constituir fundamento para a investigação da paternidade e se mostre que a ofendida
teve um filho em condições de o período legal da concepção abranger a época do crime,
deve o ministério Publico instaurar a correspondente acção de investigação,
independentemente do prazo.

Terminado o processo crime, se não houver reconhecimento voluntário da paternidade,


deve ser instaurada a ação civil de investigação de paternidade. A demonstração de que
a pratica do crime ocorreu durante o período da concepção do filho não é suficiente para
provar que o condenado pela cópula é o pai. Na acção civil o demandado pode
defender-se invocando a exceptio plurium ou requerendo exames de sangue.

Se a averiguação oficiosa de paternidade for julgada improcedente, isso não constituirá


obstáculo a que seja a intentada nova acção de investigação de paternidade, ainda que
fundada nos mesmos factos.

3.4 Reconhecimento Judicial

O reconhecimento judicial da paternidade é outro modo de estabelecer a paternidade do


filho nascido fora do casamento. Quando o estabelecimento da filiação não é
conseguido pelo reconhecimento voluntário por parte do progenitor ou através da
conclusão do processo administrativo ou judicial de averiguação oficiosa, poderá ser
obtido por meio de acção especialmente proposta pelo filho ( art. 285 da LF). A acção
deve ser proposta pelo filho contra o pretenso pai, durante a menoridade do investigante
ou nos dez anos posteriores aa sua maioridade ou emancipação e, em caso de
falecimento deste na pendencia da ação, podem prosseguir nesta o cônjuge não separado
judicialmente de pessoas e bens ou os seus descendentes. Na acção de investigação é
permitida a coligação de investigantes filhos da mesma mãe, em relação ao mesmo
pretenso progenitor.

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Os menores e os maiores acompanhados sujeitos a representação só podem estar em
juízo por intermédio dos seus representantes, excepto quanto aos actos que possam
exercer pessoal e livremente.

Como é do conhecimento comum, não é normalmente viável a prova directa do facto


biológico da procriação. Só poderá ser alcançada através de presunções judiciais ( art.
286 da LF) ou naturais que têm por base as lições da experiência da vida, são elas, em
síntese:

 Posse de estado do filho;


 Declaração escrita do pretenso pai em que assume a paternidade;
 A união de facto ou concubinato entre a mãe e o pretenso pai: sedução da mãe
pelo pretenso progenitor;
 Relações sexuais havidas entre a mãe e o pretenso pai no período legal da
concepção;
 Quando o filho tiver sido reputado e tratado como tal pelo pretenso pai e como
tal reconhecido pela sociedade;
 Quando o pretenso pai tenha seduzido a mãe, no período legal de concepção, se
era menor naquele momento, ou se o consentimento dela foi obtido por meio de
promessa de casamento, abuso de autoridade ou outro meio fraudulento.

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4. Conclusão
São três as modalidades de filiação: a filiação biológica, a filiação adoptiva, e a filiação
por consentimento não adoptivo. Pais e filhos unem-se mutuamente através do facto do
nascimento. Todavia, hoje em dia, o estabelecimento das relações de filiação não se
cinge ao facto biológico, não raras vezes é feito uso de mecanismos legalmente
previstos como os da Procriação Medicamente Assistida ou da Adopção. Assim sendo,
o Direito da Filiação, que reconhece a sua preferência pela verdade biológica, prevê,
regula e soluciona também todo um conjunto de situações jurídicas que podem surgir
como resultado da interpenetração destas novas realidades no Direito da Família.
Na paternidade, a inexistência da notoriedade perceptível na gravidez e no parto,
determina que o direito vigente aceite quer a presunção da paternidade, quer o acto
pessoal e voluntário da perfilhação, quer o sistema do reconhecimento, pois que admite
a sua constituição voluntária, nestes termos, a prolação da sentença que reconheça a
paternidade tem uma natureza declarativa porque declara o status em que as partes estão
investidas ab initio, não produzindo qualquer alteração na situação jurídica
correspondente.

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5. Bibliografia
 AMARAL Gorge Pais de. Direito da Família e das Sucessões. 6 ed. Lisboa:
Edições Almedina. 2020. 222-231 pág.
 CASTRO MENDES/ TEIXEIRA DE SOUSA, DF, p. 214.
 FRANCISCO Pereira Coelho / GUILHERME de Oliveira, Curso de Direito da
Família, Vol. II, Tomo I, Coimbra Editora, maio de 2006, pág. 98;
 OLIVEIRA Filho. Alimentos e Investigação da Paternidade. 3 ed rev e amp.
Belo horizonte: Del Rey, 1998;
 Muniz, Lamartine e, Curso de Direito da Família. Juruá, Curitiba, 1988.

6. Legislação
 Código Civil ( Decreto-lei 47 344, de 25 de Novembro de 1966);
 Código do Registo Civil;
Lei da Família ( lei n 22.2019, de 11 de Dezembro.

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