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Casos Práticos Filiação

Impugnação da paternidade

Caso 1

José é pai de Miguel, fruto de uma relação havida com Cristina.


Pretendendo reconhecer Miguel como seu filho, José recorreu a
um advogado que lhe disse que a perfilhação seria difícil, quer
pelo facto de o filho ter nascido na constância do casamento de
Cristina com Dário, quer por estes não estarem dispostos a
colaborar com José no estabelecimento da verdade.
Comente a informação prestada pelo advogado e diga se haverá
algum meio a que José possa recorrer para reconhecer o seu filho.

Resolução:

O caso em análise remete-nos para a matéria atinente ao


estabelecimento da filiação.
Conforme resulta das disposições conjugadas dos artigos 1796º,
nº2 e 1847º do CC, a lei determina, no caso de a mãe ser casada,
que a paternidade presume-se em relação ao marido da mãe e, não
sendo esta casada, que se determina por perfilhação ou por
decisão judicial.
A presunção da paternidade do marido da mãe funda-se, por sua
vez, na presunção de que a mulher casada só com o marido
manteve relações sexuais aptas à conceção. São, assim,
pressupostos da presunção de paternidade a existência de um
casamento, o nascimento do filho do cônjuge mulher, e ainda que
este nascimento ou a conceção do filho tenha, ocorrido na
constância do casamento.
Uma vez estabelecida a paternidade através da presunção, a
mesma só pode vir a ser impugnada nos termos do artigo 1839º
ou 1840º do CC, alegando e provando factos dos quais possa
concluir-se ser altamente improvável que o pai seja o marido da
mãe, ou que o filho nasceu dentro dos 180 dias posteriores à
celebração do casamento.
A legitimidade ativa para a impugnação da paternidade cabe ao
marido da mãe, à mãe ou ao filho, podendo ainda ser impugnada
pelo Ministério Público, nos termos do artigo 1841º do CC.
Conforme resulta do artigo 1846º do CC, a ação deve ser proposta
contra a mãe, o filho e o presumido pai, quando nela não se
figurem como autores.
Quanto aos prazos para a propositura da ação, determina o artigo
1842º do CC que esta pode ser intentada pelo marido, no prazo de
3 anos contados desde que teve conhecimento de factos de que se
possa concluir não ser o pai, pela mãe no prazo de 3 anos a contar
do nascimento do filho, e pelo filho, até 10 anos depois de ter
atingido a maioridade ou de se ter emancipado, ou
posteriormente, no prazo de 3 anos a contar da data em que teve
conhecimento de circunstâncias de que possa concluir não ser
filho do marido da mãe. Nos casos em que o registo seja omisso
quanto à maternidade, os prazos previstos nas alíneas a) e c) do
referido artigo contam-se a partir do estabelecimento da
maternidade.
No caso concreto, uma vez que Miguel havia nascido na
constância do casamento de Cristina com Dário, funcionado,
assim, a presunção pater is est, José poderia, na qualidade de
pretenso pai biológico do menor, requerer ao Ministério Público
que intentasse uma ação de impugnação da paternidade. Contudo,
conforme resulta do disposto no artigo 1841º, nº2, do mesmo
diploma legal, tal requerimento deve ser dirigido ao tribunal no
prazo de 60 dias a contar da data em que a paternidade do marido
conste do registo e depende de que haja despacho de viabilidade
da ação.
Assim, caso aquele procedimento não se mostrasse viável,
poderia sempre o Ministério Público intentar ação de impugnação
de paternidade em representação do menor.

Caso 2

João, filho de Maria, casada com Miguel desde junho de 2000,


nasceu em janeiro de 2005, tendo sido estabelecida a sua
paternidade pela presunção pater is est.
Miguel teve conhecimento, há dois meses, de que, durante o
período de seis meses que coincide com o período legal de
conceção de João, Maria havia mantido um relacionamento sexual
com António.
Admitindo agora a possibilidade de não ser o pai de João, Miguel
pretende saber o que pode fazer.
Resolução:

A paternidade pode ser estabelecida de várias formas,


designadamente através da presunção de paternidade, de
perfilhação, ou de reconhecimento judicial.
Constituem pressupostos do estabelecimento da paternidade, o
nascimento do investigante, o reconhecimento prévio ou
simultâneo da maternidade, e que a paternidade se encontre
omissa no registo no momento em que a ação é intentada, bem
como a inexistência de adoção plena relativamente ao filho.
No caso em análise, estando a paternidade estabelecida por meio
da presunção pater is est, terá que ser intentada, antes de mais,
ação de impugnação da paternidade. A impugnação da
paternidade presumida de filho concebido na constância de
casamento faz-se nos termos dos artigos 1838º e 1839º do CC.
Para o efeito, o autor terá de alegar e provar factos dos quais se
possa concluir pela manifesta improbabilidade de o marido da
mãe ser o pai- conforme artigo 1839º, nº2 do CC.
A ação poderá ser proposta pelo presumido pai, pela mãe ou pelo
filho nos termos do 1839º do CC, ou no caso de morte ou
ausência do presumido pai, da mãe ou do filho, pelas pessoas
legitimidas pelo artigo 1844º do CC e ainda pelo Ministério
Público em ação oficiosa de impugnação de paternidade.
A ação terá que ser intentada nos prazos previstos nos artigos
1842º do CC.
Miguel poderia, assim, impugnar a paternidade provando que a
mesma era manifestamente improvável.

Investigação da paternidade

Caso 3
António e Beatriz namoraram durante o ano de 2020, mantendo
relações sexuais no período compreendido entre 20 de abril e 19
de agosto do mesmo ano.
Em 12 de fevereiro de 2011 Beatriz dá à Luz Maria.
Maria foi registada como filha de Beatriz, encontrando-se a
respetiva paternidade omissa no registo porque António se recusa
a admitir a paternidade, uma vez que desconfia que, durante o
período em que namorou com Beatriz, esta manteve uma relação
amorosa com outro homem.
No presente caso, de que forma poderá ser estabelecida a
paternidade de Maria?

Resolução:

O caso que está aqui em apreço prende-se com o estabelecimento


da filiação.
Resoluta do disposto no artigo 1847º do CC que o
reconhecimento do filho nascido ou concebido fora do
matrimónio efetua-se por perfilhação ou decisão judicial.
Nesta situação concreta, atendendo a que António se recusa a
admitir a paternidade de Maria, não seria possível a perfilhação,
uma vez que esta constitui uma declaração expressa, de natureza
pessoal e livre, pela qual o pai reconhece ter gerado o filho.
Assim, a alternativa seria o reconhecimento judicial da
paternidade provocada por ação oficiosa de investigação da
paternidade.
Esta ação é intentada pelo Ministério Público.

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