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ANO

LETIVO 2020/21 1.º SEMESTRE


1.º Ciclo – Licenciatura em Direito
DIREITO DAS OBRIGAÇÕES II – Exame de Recurso –21/05/2021
OBSERVAÇÕES: A duração do teste é de 120 minutos e a sua ponderação é a que consta da ficha da
unidade curricular.

PARTE I
1- O que entende por “natureza subsidiária da fiança”? (2 v.)
A subsidiariedade traduz-se na possibilidade do fiador invocar o benefício da excussão,
previsto no artigo 638.º do Código Civil, impedindo o credor de executar o seu património
enquanto não estiverem excutidos todos os bens do devedor principal. Ou seja, o fiador pode
recusar o cumprimento enquanto o credor não tiver esgotado todos os bens dodevedor sem
obter a satisfação do seu crédito ou se, apesar da excussão de todos os bens do devedor, o
fiador provar que o crédito não foi satisfeito por culpa do credor.

2- Distinga declaração de nulidade de impugnação pauliana. (2 v.)
São requisitos gerais da impugnação pauliana a existência de um crédito, a anterioridade
deste face ao acto a impugnar - ou, sendo posterior, que o acto tenha sido realizado
dolosamente com o fim de impedir a satisfação do direito do futuro credor - e que do acto
resulte a impossibilidade da satisfação integral do crédito, ou o seu agravamento. Tratando-
se de acto oneroso, exige-se ainda a má fé, para o que não basta o conhecimento da precária
situação patrimonial do devedor nem se exigindo intenção de prejudicar; exige-se que o
devedor e o terceiro tenham a consciência do prejuízo que a operação causa ao credor, ou da
sua possibilidade. Declaração de nulidade art. 605º e impugnação pauliana art. 610º. 612º.

O legislador entendeu, em favorecimento dos credores, conceder-lhes o recurso à


impugnação pauliana, mesmo no caso de nulidade do ato de devedor (afastando assim, por
razões práticas, o conceptualismo lógico-jurídico, que, num caso como esse, apontaria para
a admissibilidade apenas da invocação do ato nulo).

3- Distinga compensação de remissão. (2 v.)

IMP.GE.06.1
PARTE II
António adquiriu, com reserva de propriedade, a 15/03/2021, um barco de recreio a
Joaquim pelo preço de 25.000,00 euros.
Acordaram que Joaquim deveria entregar o barco impreterivelmente no dia
03/05/2021, pois António iria levar a sua mulher, Beatriz, no dia do seu aniversário –
07/05/2021 – dar um passeio pelo rio Douro.
Ficou ainda estabelecido que a embarcação seria fornecida com os equipamentos
suplementares, nomeadamente com um depósito de água.
O preço seria pago em prestações de 5.000,00 euros, sendo que a primeira deveria ser
paga no ato de celebração do contrato e as seguintes em igual dia dos meses
subsequentes.
Partindo dos factos descritos, responda fundamentadamente às seguintes
questões:
1. António, ao utilizar a embarcação, no passeio pelo rio Douro, verificou que a
mesma tinha a direção afetada pela colocação do depósito de água. Por essa
razão, António telefonou várias vezes a Joaquim, pedindo-lhe a substituição da
embarcação. Como este, porém, nunca se prestou a substituı́-la, António
comunicou-lhe a intenção de resolver o contrato. Poderá́ fazê -lo ? (3 v.)
TÓPICOS DE RESOLUÇÃO - Regime do cumprimento defeituoso (defeito oculto).
António terá de denunciar o defeito oculto; estabelecer um prazo para a substituição da
embarcação e, mais tarde (salvo perda de interesse), um prazo admonitório ( art. 808º) antes
de haver incumprimento definitivo e resolução do contrato (efeitos retroativos) com lugar a
uma indemnização por interesse contratual negativo.

2. Imagine que a 15/06/2021 António não pagou a prestação desse mês. O que
pode Joaquim fazer? A sua resposta manter-se-ia se a prestação em falta fosse a
de 15/04/2021? Justifique as suas respostas. (3 v.)

IMP.GE.06.1
TÓPICOS DE RESOLUÇÃO - Confrontar o regime do art. 934.º com o do artigo 781.º da
CC e com os artigos 801.º e 886.º do CC.

3. Imagine agora que Joaquim desloca-se a casa de António para entregar a
embarcação, no dia 30/04/2021, mas António recusa recebê-la. Será licita esta
atuação? (2 v.)
TÓPICOS DE RESOLUÇÃO - Obrigação a prazo; Benefício do Prazo.
Prazo estabelecido a favor do devedor, pois trata-se da obrigação de entrega do barco (art.
779.º). Devedor pode entregar antes, o credor é que não pode exigir a obrigação antes.
Adicionalmente, dever-se-ia, ainda, abordar a hipótese de, a entender-se que ficou
convencionado que só poderia ser entregue a 03/05, então o prazo era a favor do credor, caso
em que a atuação é lícita.

4. Considere agora que Joaquim não entrega a referida embarcação na data
acordada pois António não procedeu ainda ao pagamento da primeira prestação.
A 07 de Maio, este endereça uma carta a Joaquim exigindo uma indemnização
devido ao incumprimento definitivo do contrato. Aprecie o argumento de
António. (3 v.)
TÓPICOS DE RESOLUÇÃO - Joaquim não cumpre a sua obrigação porque António
também não cumpriu (mora), mas era o primeiro obrigado a cumprir.
O não cumprimento de Joaquim é lícito, ao abrigo da exceção do não cumprimento do
contrato – art. 428.º, n.º 1.
Joaquim não está em incumprimento definitivo (nem em mora) e António não pode exigir
uma indemnização.
Se tivesse procedido ao pagamento atempadamente, e se entendesse que a obrigação de
entrega tinha como prazo limite o dia 03/05, classificando-se como sendo um prazo fixo
absoluto, haveria incumprimento definitivo por parte de Joaquim, legitimando António a
pedir indemnização pela violação do contrato e/ou resolução contratual (a resolução pode ser
cumulada com um pedido de indemnização pela violação do interesse contratual negativo).
Se se entender que o prazo para entrega é um prazo relativo haveria mora no cumprimento.
Para haver incumprimento definitivo, teria de ocorrer uma das circunstâncias referidas no art.
808.º - interpelação admonitória e mesmo assim não ser cumprida a obrigação de entrega no
prazo suplementar concedido, ou perda de interesse (objetiva).

IMP.GE.06.1

5. Imagine a seguinte hipótese agora: Joaquim deve a quantia de 20.000,00 a Luís,
e não tem possibilidade de proceder ao pagamento dessa quantia. Joaquim
propõe pagar esse montante cedendo o crédito que possui sobre António a Luís.
Pode fazê-lo em que termos? Quando se considera exonerado da sua obrigação?
Justifique as suas respostas. (3 v.)
TÓPICOS DE RESOLUÇÃO: Cessão de créditos (arts 577.º e ss CC) por dação em
cumprimento (art. 837.º CC).

IMP.GE.06.1

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