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CASO PRÁTICO com tópicos de correção

Artigo 291.º (2.ª exceção ao Princípio Nemo plus iuris…)

Em maio de 2017, A doou um automóvel a B, pessoa com quem mantinha uma relação
extraconjugal, sem o conhecimento de C, sua mulher. B registou a sua aquisição

Passados 2 anos, A e B terminaram a sua relação extraconjugal e B de imediato vendeu o mesmo


automóvel a D, que registou a aquisição do automóvel e que não sabia da relação havida entre
A e B.

Em agosto de 2020, C soube de tudo o que se passara e pretende impugnar os negócios


realizados e reaver o automóvel.

a) Quid iuris? o proprietário é D, porque se verificam na sua pessoa todos os requisitos


do artigo 291.º que visa estabelecer uma eventual proteção de 3.º de boa fé.
C não poderia opor a nulidade da doação ente A e B a este terceiro D.

A-B: doação nula arts. 953.º, 2186.º; 286.ª (289.º: este artigo regula os efeitos entre
as partes, mas neste caso excecional não produz os efeitos em relação a 3.ºs nos
termos do artigo 291.º do CC)
B-D: venda válida: exceção ao princípio “Nemo plus iuris…”. D adquire um direito que
B não possuía na sua esfera jurídica aquando da venda

b) Suponha agora que C soube de tudo em março de 2020 e logo intentou ação judicial. A
resposta seria a mesma da alínea anterior?

Pronuncie-se sobre o fundamento, a legitimidade para intentar a ação judicial e o prazo em


que o poderia fazer, se fosse o caso.

Não. C teria agora o direito de obter a nulidade da doação ente A-B e o direito de obter a
nulidade da venda B-D, por ainda a não ter passado o prazo (a moratória) de 3 anos após a
celebração do 1.º negócio e a propositura da ação de nulidade (art. 291.º, 2).

Fundamento: indisponibilidade relativa (art. 953.º e 2196.º); ilegitimidade do transmitente B:


venda de coisa alheia art. 892.º
Legitimidade de C: art. 286.º “qualquer interessdo”
Prazo: art. 286.º “a todo o tempo”

c)O que mudaria na sua resposta à alínea b) se B e D fossem grandes amigos de infância e sempre
tivessem mantido estreita convivência?

Poderíamos estar em presença de má fé de D: (eventual) desconhecimento com culpa


do vício do negócio nulo, dada a sua proximidade com B art. 291.º, n.º 3). Esta má fé
a existir e ser comprovada prejudicaria a proteção concedida a D na al. a). Mas não
mudava a solução da al. b), na medida em que C continuaria a poder reivindicar o
direito de propriedade de D, agora com mais um argumento: o pressuposto da má fé
(n.º 3) e o pressuposto do prazo ainda não ter decorrido (n.º2).

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