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CASOS PRÁTICOS DE DIREITO COMERCIAL II

2021/2022, TURMA A
Regência: Profs. Doutores António Menezes Cordeiro e Ana Perestrelo de Oliveira

NEGÓCIOS SOBRE O ESTABELECIMENTO

CASO PRÁTICO N.º 7

Albano tomou de arrendamento a Belarmina e Carmelinda um espaço no qual instalou


uma pastelaria, em 2009, a que chamou “Albanaria”. Segundo Albano, o espaço
nunca tinha sido usado para qualquer atividade, pelo que Albano teve de comprar e
pagar todos os móveis e produtos necessários ao funcionamento da sua pastelaria.

Em 2014, Albano, farto de servir tostas mistas, decidiu passar o negócio ao seu primo,
Diogo. Para o efeito, contactou Belarmina e Carmelinda para saber se nada tinham a
opor e, para sua grande surpresa, estas comunicaram-lhe que se opunham
terminantemente a tal transmissão, dizendo-lhe: «Não queremos cá esse seu primo
que, toda a gente sabe, é um caloteiro!».

Perante esta recusa, Albano não teve outro remédio senão continuar a servir tostas
mistas. Recorrendo a todas as forças que lhe restavam, promoveu o nome da
Albanaria, melhorou o serviço e passou a anunciar “as melhores tostas do mundo!”.

Dois anos mais tarde (2016), porém, um seu cliente de longa data, Ernesto, disse-lhe
entre duas dentadas numa tosta: «Oh Albano, se estás assim tão farto disto, eu dou
conta do recado! A Belarmina e a Carmelinda são loucas por mim!». Dito isto, logo
ali acordaram no preço, apertaram as mãos e deram o negócio por concluído.

Quem não gostou da situação foi Filipa, filha única de Albano que queria ficar com a
Albanaria e tinha planos para expandir o negócio, abrindo outras “Albanarias” por
toda a cidade. Albano, desolado, disse-lhe: «Oh filha, se eu soubesse... Agora é tarde
para isso, mas não te preocupes: ajudo-te a abrir uma pastelaria igualzinha a dois
quarteirões daquele: vamos chamar-lhe Nova Albanaria e vamos recuperar “as
melhores tostas de Lisboa”!».

1. Imagine que, perante a tentativa de Albano de “passar o negócio” ao seu primo,


Belarmina e Carmelinda pretendiam reagir. Segundo estas, o contrato celebrado não
era de arrendamento, mas de “cessão de exploração”: contrariamente ao afirmado por
Albano, com o gozo do espaço foi igualmente cedido mobiliário e equipamento

1
identificado num anexo ao contrato. Não existiam, porém, empregados e clientela.
Quid iuris?

2. Ignorando a pergunta anterior: Precisava Albano do consentimento das senhorias


para transmitir a sua posição a Diogo? E como é que as senhorias se poderiam
proteger face à perspetiva de ter um caloteiro como arrendatário?

3. Imagine agora que a pastelaria não era de Albano, mas sim de uma sociedade por
quotas por si detida a 100%, cuja quota transmitiu a Diogo. Precisava Albano do
consentimento das senhorias para transmitir a sua quota, representativa de 100% do
capital social da sociedade, a Diogo?

4. Ernesto está furioso com a traição de Albano ao ajudar a filha a abrir a Nova
Albanaria ali tão perto. O que pode fazer?

5. Imagine por fim que Albano tinha também arrendado um armazém de apoio ao
funcionamento da Albanaria. Pode trespassá-lo a sua filha para apoio ao
funcionamento da Nova Albanaria?

CASO PRÁTICO N.º 8


Continuação do caso n.º 7:
1. Quando tomou posse da Albanaria, Ernesto apercebeu-se de que Albano tinha
esvaziado o armazém, levando todo o stock de produtos necessário ao funcionamento
da pastelaria. Ligou a Albano a reclamar, mas este respondeu que o stock não tinha
sido transmitido. Analise a resposta de Albano e os eventuais meios de reação à
disposição de Ernesto.

2. Imagine agora que, no contrato pelo qual Albano transmitiu a Albanaria a Ernesto,
podia ler-se:
«1. Pelo presente contrato, Albano transmite a Ernesto a pastelaria “Albanaria”,
incluindo a sua posição contratual em todos os contratos de fornecimento, por
100.000 euros.
2. Ficam ainda expressamente incluídas as dívidas já vencidas a todos os
fornecedores, ficando Albano exonerado do seu pagamento.
3. Ficam expressamente excluídas:

2
a) O direito a usar o nome “Albanaria” para identificar o estabelecimento;
b) A máquina que permite fazer “as melhores tostas mistas do mundo”;
c) A marca “As melhores tostas mistas do mundo”;
d) A trabalhadora Maria Albertina.
4. Sem prejuízo do disposto na alínea a) do n.º anterior, Ernesto poderá usar a
referência à “Albanaria” na sua firma pessoal.»
Quid iuris?
2. Albano entretanto cedeu o direito a usar o nome “Albanaria” em estabelecimentos
comerciais à sua filha Filipa, para que o pudesse usar no seu novo projeto empresarial.
Quid iuris?

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