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ii) A sociedade VitArneiro - Exploração vinícola, S.A. é uma sociedade anónima, o que
significa que tem o seu capital social dividido por ações e os seus sócios são os acionistas que
subscrevem essas ações (art. 271.º). Dizer que é uma sociedade anónima deriva do art. 275.º/ 1 do
CSC, que refere a abreviatura utilizada.
Como tal, a responsabilidade é limitada ao valor da entrada de cada sócio: cada sócio responde
apenas pelo valor da sua entrada. Por conseguinte, os sócios não respondem pelas dívidas da
sociedade.
Conclui-se que a responsabilidade de A e B é, nesta sociedade, duplamente limitada: tanto a
nível externo, pois os sócios não respondem perante os credores da sociedade pelas suas dívidas, como
internamente, porque, além da sua entrada, o sócio não responde por nenhuma dívida perante a
sociedade.
iii) A sociedade Arneiro e Arneiro, SNC. constitui uma sociedade em nome coletivo, tipo este
que se caracteriza por duas ou mais pessoas subsidiariamente responsáveis pelas dívidas da sociedade.
Isto é, os sócios, além de responderem perante a sociedade pela sua obrigação de entrada, ainda
respondem perante os credores da sociedade pelas obrigações desta. O art. 177.º indica a firma, daí se
saber que esta é uma sociedade em nome coletivo (apesar de, do preceito, não resultar ‘’SNC’’).
Diz-se, então, que existe responsabilidade pessoal e ilimitada, nos termos do art. 175.º/ 1: os
sócios respondem subsidiária, solidária e ilimitadamente pelas dívidas. A responsabilidade é
subsidiária em relação à sociedade, o que significa que, pelas dívidas, responde o património social, e,
na sua insuficiência, respondem os sócios perante os credores da sociedade depois de esgotado o
património da sociedade. É solidária entre sócios (solidariedade passiva), traduzindo-se na
possibilidade de os credores da sociedade exigirem de qualquer dos sócios a totalidade da dívida. E é
ilimitada, porque os sócios respondem por todas as dívidas da sociedade.
3. O negócio do vinho alvarinho está a correr bastante bem aos irmãos Arneiro, que
sonham agora em lançar-se na exportação. Para o efeito, a VitArneiro, SA. necessita de
contrair um financiamento bancário o que exige a constituição de uma hipoteca. Todo o
património imobiliário (incluindo os hectares de vinha) é propriedade da Solar Arneiro,
Lda.. Para além disso, António necessita de um financiamento pessoal que exige
igualmente a constituição de uma garantia real.
Em Assembleia Geral, a sociedade Solar Arneiro, Lda. deliberou, nos termos do art.
246.º/2 c), constituir as hipotecas voluntárias necessárias à garantia do cumprimento das
obrigações a assumir pela VitArneiro, SA. e por António. O notário, porém, recusa-se a lavrar a
escritura porque entende que se violou o disposto no art. 6.º do CSC. Quid juris?
Compete mencionar que, nas sociedades por quotas (Lda.), o órgão de deliberação da
coletividade dos sócios é a Assembleia Geral, que faz deliberações por escrito (art. 54.º), decidindo
mediante deliberação tomada ou por voto escrito, como consta do art. 247.º/ 1. Este órgão tem um
conjunto mínimo de competências, que não podem ser dadas a outro órgão, nos termos do art. 246.º/ 1,
ainda que o contrato possa fornecer outras competências à Assembleia.
O art. 246.º/ 2, c) do CSC refere que os sócios têm competência para deliberar sobre a
alienação ou oneração de bens imóveis e, ainda, a alienação, oneração e locação de estabelecimento.
O que está em causa é a constituição de uma hipoteca para que as obrigações da S.A. possam ser
cumpridas. A hipoteca incide sobre bem imóvel e funciona como um ‘’refinanciamento imobiliário’’.
No que respeita à recusa por parte do notário, este invocou o art. 6.º do CSC, que se reporta à
capacidade da sociedade (o número 1 deste preceito compreende, como capacidade da sociedade, os
direitos e as obrigações necessários ou convenientes à prossecução do seu fim), excluindo-se os
direitos e os deveres inseparáveis da personalidade singular. Já o art. 6.º/ 3 do CSC parece ser central
nesta resolução, pois afere que às sociedades estão vedados atos contrários à sua finalidade quando a
sociedade não tenha interesse neles (ou seja, é a sociedade que define o seu interesse em estabelecer
os atos que melhor servem a sua vontade).
Nesta hipótese, ambas as sociedades têm atividades comercial; mas, por outro lado, ambas são
detidas pelos mesmos sócios - pelas mesmas pessoas singulares. Cabe a cada uma das sociedades qual
o seu interesse e como o prosseguir (o interesse é medido em cada um dos momentos, em cada
deliberação).
Aludindo o art. 6.º/ 1 a garantias, aqui entende-se que a garantia era uma hipoteca. Por
conseguinte, o art. 6.º/ 2 e 3 do CSC estabelece um regime especial para atos gratuitos e para as
garantias, com o intuito de proibir atos contrários ao fim da sociedade. JANUÁRIO GOMES defende
uma interpretação do art. 6.º em articulação com o objeto imediato (prática de atos comerciais) e o
objeto mediato. Por isso, compreende-se a decisão do notário e não lavrar escritura.
como é o caso em questão). Podem existir grupos de facto quando há cooperação comercial entre as
sociedades, que se verifica ao longo do tempo ou de cadeias produtivas (no caso em questão, há
aglomerado económico, por isso a propriedade é percecionada como uma única realidade).
Portanto, nesta hipótese, está-se perante um grupo de facto.
O interesse é um conceito polissémico, que pressupõe uma relação entre meios e fins
(utilização de meios para atingir certo propósito). Isto não se pode reconduzir apenas ao lucro [por
exemplo, se uma sociedade deixar de fazer lucro, não deixa de ser uma sociedade comercial; se se
olhar para o art. 64.º/ 1, b) CSC, comprova-se uma amálgama de situações].
Questão do ónus da prova: 1) MENEZES CORDEIRO pensa que cabe aos outros interessados
(terceiros, por exemplo, credores da sociedade; não os beneficiários) que queiram atacar a garantia
demonstrar a sua invalidade, mostrando que não existe uma justificação na manutenção da garantia
em causa; 2) COUTINHO DE ABREU e OSÓRIO DE CASTRO dizem que cabe aos interessados
beneficiários da garantia a demonstração da justificação do interesse próprio; 3) MIGUEL TEIXEIRA
DE SOUSA lê no art. 6.º/ 3 uma presunção de invalidade da garantia, ou seja, as garantias são
inválidas exceto quando se demonstre interesse próprio ou grupo de facto.
Concluindo, tinha a sociedade o ónus da prova de comprovar a invalidade da garantia
4. Uma conhecida publicação da área do turismo e lazer fez uma reportagem sobre o Solar
do Arneiro. A reportagem em causa era bastante desfavorável ao empreendimento e
divulgava dados incorretos, alguns deles completamente falsos. A sociedade Solar
Arneiro, Lda. moveu uma ação contra a referida publicação pedindo a condenação da
mesma no pagamento de indemnização por violação do direito ao bom nome e à imagem,
a fixar nos termos do art. 496.º/3 do CC. A e B, moveram igualmente uma ação contra a
publicação, pedindo uma indemnização por violação dos seus direitos de personalidade.
Quid juris?
As sociedades comerciais gozam, ao abrigo do disposto no art. 5.º do CSC, de personalidade
jurídica desde a data do registo definitivo do seu contrato. Ora, a constituição das sociedades
comerciais e civis sob forma comercial está sujeita a registo obrigatório, nos termos dos arts. 3.º/ 1, a)
e 15.º/ 1 do CRCom.
Da análise do art. 6.º do CSC conclui-se que não ficam excluídos das sociedades os direitos
não patrimoniais compatíveis com as pessoas coletivas (que são direitos de personalidade, como o
direito ao bom nome e à honra). Assim, se a sociedade é titular de direitos de personalidade, também
tem capacidade para intentar uma ação que garanta que os mesmos são respeitados.
Embora as pessoas coletivas não tenham substrato humano que lhe permite o sofrimento da
construção da dimensão interna, tem-se uma proteção externa (a dimensão da honra da sociedade tem
impacto na sua rentabilidade e na sua possibilidade de desenvolver a atividade comercial; tem impacto
no bom nome e na reputação da sociedade).
Não deixa de ser controvertida a questão de saber se, e em que medida, podem as sociedades
sofrer danos (mesmo que sejam alheias a dores físicas, visto que são uma abstração, também sofrem
danos não patrimoniais, merecendo a tutela do direito - art. 496.º do CC).
Cumpre, primeiro, saber se a ofensa ao bom nome e reputação das sociedades comerciais
resulta sempre de um dano não patrimonial: para a jurisprudência, a ofensa ao bom nome a reputação
das sociedades apenas é relevante como dano patrimonial indireto - ou seja, não suscetível de
indemnização por danos não patrimoniais (Acórdão do STJ de 6/07/2011) -, ainda que interessem na
medida da vantagem económica que deles se pode retirar; outras opiniões (Acórdão do TRG de
16/02/2017) admitem que as pessoas coletivas possam ter direitos de personalidades, mas que estes
jamais causem danos não patrimoniais - quando muito, danos patrimoniais indiretos. São danos
patrimoniais indiretos os danos que, embora atinjam valores ou interesses não patrimoniais (bom
nome, honra, reputação), refletem-se, todavia, no património do lesado (por exemplo, diminuindo a
sua clientela). Conclui-se que nem sempre o dano patrimonial resulta da violação de direitos ou
interesses patrimoniais.
Considero que é possível reconhecer às sociedades comerciais o direito à indemnização por
danos não patrimoniais. Como sujeitos autónomos de direito, as sociedades têm direito em defender o
seu bom nome comercial, prestígio e credibilidade. ANTÓNIO PINTO MONTEIRO sustenta que
danos não patrimoniais não são transponíveis para as pessoas coletivas, pois que elas não têm
características humanas. Mas tal não faz sentido, visto que o próprio conceito de dano não patrimonial
é recortado pela negativa (ou seja, o dano diz-se não patrimonial quando a situação vantajosa lesada
tenha natureza espiritual, e é insuscetível de avaliação pecuniária).
A indemnização do dano não patrimonial não coloca o lesado na situação em que estaria se o
facto danoso não tivesse tido lugar, em diante a concessão de bens com valor equivalente ao dos
ofendidos em consequência do facto.
Pressupõe-se a existência de um direito subjetivo correspondente e confere-se o direito a
indemnização pelos danos sofridos com a ofensa perpetrada ao crédito e bom nome da pessoa coletiva.
Em matéria relativa à compensabilidade dos danos sofridos pelos sócios, em abstrato, dir-se-ia
que qualquer violação dos direitos de personalidade ficaria restrita à sociedade, não podendo lesar
direitos dos sócios. Contudo, poderão existir sociedades em que haja proximidade e identificação tão
grande entre a pessoa coletiva e os sócios que isso possa ter o efeito de lesar a honra e o bom nome
dos sócios (por exemplo, nos meios socioeconómicos mais pequenos em que os sócios se acabam por
confundir com a sociedade). A sociedade não atua sozinha, atua através dos seus órgãos.
O direito à imagem não se coloca nas sociedades, porque está ligado à temática da imagem
humana (retrato exposto ou lançado no comércio).
5. Os credores da Solar Arneiro, Lda. estão com enormes dificuldades em obter a satisfação
dos seus créditos. António e Bento refugiam-se na autonomia patrimonial da sociedade
para não pagar. Poderão os credores da sociedade ter esperança em que o vasto
património dos sócios seja chamado a satisfazer as dívidas sociais?
Esta é uma questão que se coloca ao nível da personalidade coletiva (das sociedades). Após
um longo debate, COUTINHO DE ABREU concluiu que a personalidade coletiva não é ficção, antes
uma realidade jurídica, que se justifica por duas razões: essa personalidade pressupõe a existência de
interesses comuns ou coletivos, satisfeitos exatamente através da própria pessoa coletiva; e as pessoas
coletivas têm determinados ‘’atributos’’ que importam certas consequências. Também MENEZES
CORDEIRO puna por uma solução que assenta na atribuição da personalidade coletiva a todas as
sociedades comerciais.
Ainda se enquadra neste caso, mais concretamente, na matéria do levantamento da
personalidade, instituto baseado no princípio da boa fé. Apesar de pouca jurisprudência operar este
levantamento - porque a prova é difícil - MENEZES CORDEIRO identifica um conjunto de casos em
que há abuso desta personificação: a subcapitalização material, a confusão de esfera, o atentado a
terceiros e o abuso da personalidade coletiva.
Nesta hipótese, estaria em causa a confusão de esferas, que consiste em misturar o património
pessoal do sócio com o património da sociedade; contudo, tem de existir uma autonomia entre a
pessoa coletiva e a pessoa do sócio, sendo necessário proteger os credores da sociedade. Neste âmbito,
distinguem-se as teses subjetivista, objetivista e monista (conduzir a uma base comum).
1. Quais terão sido os problemas suscitados pelo notário em relação à primeira ideia destes
cinco empreendedores?
Entrada com bens suscetíveis de penhora: ?
O que está em apreço prende-se com a temática das obrigações de entrada dos sócios da
sociedade. A obrigação de entrada é um dever essencial dos sócios, sem a qual a sociedade não
consegue desempenhar a sua atividade. Além disso, sem as entradas, os sócios não terão título de
legitimidade para recolher lucros e para pretender intervir na vida da sociedade.
O tipo de entrada é definido no contrato de sociedade, segundo o art. 9.º, g) e h) do CSC e tem
dupla apresentação, podendo distinguir-se o valor nominal (participação social a que a entrada
corresponda, sendo ações no caso das sociedades anónimas - o art. 25.º/ 1 do CSC estabelece que o
valor nominal da participação não pode exceder o valor da entrada) do valor real (corresponde à cifra,
em dinheiro, em que o valor da entrada se traduza, quando pecuniária, ou ao valor dos bens que
implique, quando em espécie).
As entradas podem constituir diversas realidades patrimoniais, podendo ser entradas em
dinheiro, entradas em espécie ou entradas em indústria. As entradas em dinheiro correspondem à
assunção de uma obrigação pecuniária. As entradas em espécie correspondem a entregas de bens
diferentes de dinheiro (art. 28.º/ 1), desde que sejam bens suscetíveis de penhora [art. 20.º, a)]. As
entradas em indústria traduzem-se em serviços humanos não subordinados (trabalho).
Problema suscitado pelo notário: No caso em concreto, a entrada de Alberto corresponde a
uma entrada em indústria (ou, como define PAULO DE TARSO DOMINGOS, entrada de serviços).
Estas entradas não são contabilizadas no capital social, como resulta do art. 178.º/ 1 do CSC, pelo que
são consideradas entradas de mero património (aumentam o património da sociedade, mas não se
contabilizam no capital social1). A entrada de Alberto é assim classificada porque consiste numa
entrada com um serviço por parte do sócio (de confecionar os carapaus à espanhola). Ora, as entradas
em indústria apenas podem ser realizadas pelos sócios em determinados tipos de sociedades, como se
retira o art. 20.º, a) do CSC: nas SNC [art. 176.º/ 1, a)]; e nas Sociedades em Comandita, mas apenas
pelos sócios comanditados (art. 468.º a contrario). Por isso, conclui-se que não seria admissível a
entrada em indústria neste cenário, já que o art. 277.º/ 1 do CSC proíbe as entradas em indústria nas
S.A. (tal como proíbe nas Sociedades por quotas - art. 202.º/ 1 - e nas Sociedades em Comandita
relativamente aos sócios comanditários - art. 468.º CSC).
O art. 25.º/ 4 sugere, assim, que o sócio deve realizar em dinheiro a sua participação, sem
prejuízo da eventual dissolução da sociedade por deliberação dos sócios.
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➢ Porque é que existe uma proibição de entradas de indústria nas S.A.?
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argumentos
contra-argumentos
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dela).
Este não é definitivo, visto que nas entradas em espécie há bens difíceis de
avaliação: o art. 28.º CSC não dispensa avaliação por um revisor oficial de
contas, por mais difícil que seja. Por isso, as prestações de serviço são
mensuráveis quanto ao seu valor, pois que há referências no mercado (por
exemplo, um advogado tem noção de quanto vale o seu trabalho por hora,
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fazendo um paralelo relativamente ao seu tempo de experiência, etc.).
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2. É uma prestação de facto, por isso é difícil forçar as pessoas a trabalhar.
Mas o processo executivo em Portugal tem um procedimento coercivo para
as prestações de facto, substituindo-as por prestações pecuniárias (se alguém
se vincula a fazer a prestação infungível, não se pode substituir a pessoa;
pede-se uma compensação pelo valor da prestação não cumprida).
1
A exclusão destas entradas em indústria têm a ver com o facto de elas serem difíceis de avaliar, devido à sua
natureza e devido ao facto de a duração das entradas ser incerta. Também não é possível garantir e assegurar o
cumprimento das mesmas, em virtude do seu carácter futuro e sucessivo, o que determina que elas não sejam
adequadas ao pretendido desempenho da função de garantia que se assinala ao capital social.
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pagar).
3. De acordo com o art. 178.º CSC, as entradas em indústria não são tidas em
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conta para a formação do capital social.
Mas não é assim, porque se a sociedade precisa do serviço, tem de pagar
da mesma forma, e haverá um dispêndio no património da sociedade. Basta
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considerar a prestação realizada a favor da sociedade pelo valor do que é feito.
4. Hiato temporal com que as prestações podem ser realizadas: as entradas
em espécie, por regra, devem ser realizadas no momento da celebração do
contrato de sociedade (constituição). Por isso, as entradas em indústria não se
podem consolidar no momento de contrato de sociedade: há um período lato
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no tempo em que a prestação pode ser exigida.
Contudo, há um horizonte temporal que permite que as entradas não sejam
realizadas no momento exato do contrato de sociedade (5 anos como limite
temporal).
2. Quais terão sido os problemas suscitados pelo notário quanto à reinvestida dos cinco
amigos?
A nova entrada de Alberto constitui-se como uma entrada em espécie, seguindo-se todo o
regime do art. 28.º do CSC.
A entrada de Bernarda, tal como a entrada de Carlos, referem-se a uma entrada em espécie
(art. 28.º), sendo uma entrada em bens diferentes de dinheiro (um equipamento de cozinha - A; uma
patente relativa à conservação de tomate e cebola - B; pavilhão industrial - C).
É de se acrescentar que o art. 277.º/ 1 a contrario permite concluir pela admissibilidade das
entradas em espécie nas S.A..
O art. 28.º/ 1 refere que existe a necessidade de cumprir um ritual de elaboração de um
relatório, como meio de avaliação por parte de um revisor de contas sem interesse na sociedade (que
deve ter o conteúdo relatado no n.º 3). O que se procura com isto é assegurar que o valor que é
atribuído à participação social seja compatível com o valor do bem que constitui a entrada, ou seja,
que o valor da entrada realizada pelo sócio tem efetivamente o valor de mercado (o art. 28.º/ 4 ainda
refere que o objetivo é o de que a avaliação do bem seja o mais aproximada possível da data do
contrato, para que se tenha um valor mais atualizado possível do bem, reportando-se a uma data de 90
dias). Ou seja, o que se pretende é que o valor do bem que é transmitido a favor da sociedade ou do
crédito corresponda, pelo menos, ao valor do capital social subscrito.
O relatório acompanha o contrato de sociedade e fica disponível para consulta dos credores da
sociedade (arts. 28.º/ 5 e 6)
Problema: O problema prende-se com o facto de, primeiro, parecer não existir o relatório que
é exigido (o valor da entrada de Alberto começa por ser 25 000€, mas rapidamente desce para 10 000€
porque o notário não gosta dele).
Há uma proibição de entradas abaixo do par. O contrato seria recusado, pois o sócio se
compromete a realizar uma entrada inferior ao valor da participação que vai subscrever. O art. 25.º/ 1
exige que o valor nominal das ações não exceda o valor da entrada, vindo o art. 25.º/ 3 acrescentar que
caso exista um erro de avaliação no relatório, o sócio tem de preencher o remanescente em dinheiro,
não sendo admissível uma segunda entrada em espécie. O valor da entrada de Alberto era, aqui, de 10
000€ (equipamento de cozinha) e o valor da quota que recebe é de 20 000€. Na segunda tentativa da
entrada de A, o valor da avaliação do bem é inferior ao valor do capital social que ele está a
prescrever, o que é proibido legalmente pelo art. 25.º/ 1: o sócio que entre com bens em espécie para a
sociedade tem de realizar a sua entrada pelo menos pelo valor nominal de participação que está a
subscrever (20 000€). Assim, Alberto tem a obrigação de realizar o remanescente da sua entrada em
dinheiro.
5 000€ são imputados no ágio, que integram a reserva legal e que só pode ser utilizada no
contexto do art. 296.º Do art. 277.º remete-se para o art. 285.º do CSC,
A regra relativamente à equivalência entre o valor nominal e o valor da entrada prevê-se no
art. 25.º. Ou seja, o valor dos bens com que o sócio entra deve ser igual, no mínimo, ao valor da sua
participação. Mas é permitido entrar com um valor superior: aplica-se 20 000€ à entrada (dos 25 000),
que servem para o capital social [art. 295.º/ 2, a)] e os restantes 5 000€ são a reserva legal.
De acordo com o art. 277.º/ 2, parte final (que remete para o art. 26.º, no que concerne ao
tempo das entradas) há a entrada em sentido amplo (abrange o valor dos bens com os quais o sócio
contribui para sociedade em troca das ações que subscreve ou da quota que está a adquirir, a que
acresce o ágio ou o prémio de emissão) e há uma entrada em sentido estrito (valor dos bens em
dinheiro com que o sócio entra em troca da participação).
O ágio ou prémio de emissão é obrigatoriamente celebrado no momento de celebração do
contrato de sociedade, nos termos do art. 26.º.
A reserva legal é uma ‘’almofada financeira’’, pois serve para amortecer um conjunto de
situações previstas no art. 296.º (se houver dificuldade financeira da sociedade, primeiro vai-se à
reserva legal e só depois ao capital social da sociedade).
Soma-se o valor das entradas que os sócios realizam e vê-se se esse valor corresponde ao
capital social (se não houver indicações sobre o capital social ou das participações com que os sócios
vão ficar, assume-se que todas as entradas são imputadas no capital social).
➢ Quer-se entrar numa sociedade com ações do SLB, que estão cotadas no mercado.
Por isso, sabe-se o valor das ações. Nos termos do art. 28.º do CSC, é dispensável o
relatório, na medida em que o valor é dado pelo mercado?
➢ Existindo um crédito no valor de 10 000€ sobre um determinado devedor, quer-se
entrar para o capital da sociedade, transmitido este direito de crédito. É necessário
passar pelo art. 28.º do CSC, sendo que está fixado o valor da dívida do credor?
Em qualquer dos casos, é necessário passar pelo art. 28.º do CSC.
Independentemente de haver valor nominal estabelecido para o crédito, tem sempre de se
passar pelo relatório do revisor oficial de contas (pode haver uma tendência decrescente ou haver uma
crise, por isso as ações podem não estar avaliadas no seu valor real). O valor final de avaliação das
ações pode corresponder a um valor de participação social diferente.
O art. 28.º nunca pode ser afastado, já que se constitui como uma norma imperativa
relativamente às entradas em espécie.
➢ Entra-se para a sociedade com ações do SLB, que valem 15 000€. Há uma
hecatombe no mercado depois da entrada, e as ações passam a valer 7 500 €. Pode
aplicar-se o art. 25.º/ 3 do CSC e pedir ao sócio que pague a diferença?
Não. A partir do momento em que se realizam as entradas, aplica-se o regime normal da
transferência do risco (o risco de desaparecimento, perecimento, valorização ou desvalorização passa a
correr pela sociedade e o sócio não pode ser responsabilizado).
➢ Numa S.A. ou numa LDA que se dedica à produção agrícola, pode entrar com um
jazigo de família do séc. XVII?
O critério do art. 20.º, a) é o da suscetibilidade de penhora e os túmulos são impenhoráveis
[art. 736, e) do CPC. não se pode coercivamente penhorar o bem e vendê-lo. O requisito da
penhorabilidade é um requisito para proceder à venda executiva dos bens.
A Diretiva da UE visa uniformizar as regras relativas ao capital social e outros aspetos da vida
das sociedades comerciais. Só se podem realizar entradas em espécie, se houver relatório do art. 28.º.
Se o bem não for suscetível de avaliação, não se pode entrar com ele para a sociedade.
Pode entrar-se com uns óculos da Versace de modelo vintage para a sociedade
agrícola (raro e avaliado em 15000€)?
Necessidade de articulação entre objeto das entradas em espécie e o objeto da sociedade, no
sentido em que só se poderia contribuir com bens que fossem úteis para a prossecução do fim da
sociedade. Mas este entendimento foi abandonado. Porque o capital social corresponde à cifra
numérica ideal representada pelo somatório das entradas, o que não significa que tenha de ser
preenchido na totalidade com os bens com que se entram para a sociedade. Não há nenhum requisito
de adequação que seja exigido no que toca à ligação entre a utilidade do objeto entradas em espécie e o
objeto da sociedade.
3. Que questões jurídicas devem ser analisadas a propósito das entradas estipuladas pelos
cinco sócios? E em relação ao negócio celebrado entre a sociedade e Diana e Edmundo?
As entradas de Diana e de Edmundo são entradas em dinheiro. Estas devem ser realizadas
apenas na moeda EURO (art. 14.º do CSC), porque são diretamente contabilizadas no capital social,
sem necessidade de qualquer avaliação quanto ao seu valor.
Entradas estipuladas pelos sócios: Sócio A - A questão que se coloca tem a ver com o
regime do diferimento das entradas em dinheiro: ou seja, os sócios pagam uma parte da entrada na
celebração do contrato (caso de A, que pretende pagar 1 000€ apenas) e o restante depois (9 000€). De
acordo com o art. 26.º/ 1 do CSC, as entradas deverão, em princípio, ser realizadas no momento da
celebração do contrato de sociedade. No entanto, o n.º 2 acrescenta que, nos casos em que a lei
permite, as entradas podem ser realizadas até ao termo do primeiro exercício económico; e o n.º 3
adianta que os sócios podem estipular contratualmente o diferimento das entradas em dinheiro. O
diferimento das entradas em dinheiro é admissível nas Sociedades por quotas (art. 202.º/ 4) - em que o
pagamento das entradas só pode ser diferido para datas certas ou ficar dependente de factos certos,
permitindo-se exigir o seu pagamento decorridos 5 anos sobre a celebração do contrato (art. 203.º/ 1) -
e nas S.A. (art. 277.º/ 2) - em que o diferimento é admitido na realização de 70% do valor nominal ou
do valor de emissão das ações e apenas é permitido o diferimento da realização das entradas em
dinheiro por prazo não superior a 5 anos (art. 285.º/ 1). O problema é que A apenas entraria no
momento da celebração do contrato com um valor correspondente a 10% (1 000€) do valor total (10
000€), diferindo os outros 90% para um momento indeterminado.
O art. 199.º, b) do CSC preceitua que, no momento da constituição da sociedade, os sócios devem entrar
para a Sociedade por Quotas com, pelo menos, 1€ (remete-se para o art. 219.º/ 3). Segundo o art. 275.º/ 2, tem de
se realizar 30% da entrada. O ágio ou prémio de emissão não entra para os 70% do diferimento.
Aqui, a consequência é a nulidade, por contrariedade da cláusula à lei (sócio não pode cumprir
quando quiser). A inadmissibilidade verifica-se a olhar para a regra prima, que está no art. 203.º para
as Sociedades por Quotas, quando se refere que podem existir cláusulas no contrato de sociedade que
permitam o diferimento para uma data certa; é aplicável ao regime das S.A.. Há proibição para este
tipo de cláusula.
A nulidade da cláusula sugere duas situações:
- COUTINHO DE ABREU pensa que, se há uma cláusula nula, a consequência é a
transformação numa obrigação pura (obrigação que a sociedade pode, a qualquer momento,
interpelar o devedor para a sua realização); o contrato de sociedade mantém-se, mas é
expurgada apenas esta cláusula; sendo uma obrigação pura, a interpelação tem de ser feita nos
termos do art. 285.º, mesmo que possa ser feita a todo o tempo;
- MENEZES CORDEIRO sustenta que, se o art. 285.º/1 permite deferimento no prazo de 5
anos, significa que esta cláusula deve ser convertida/ reduzida numa cláusula deste gênero até
este período - o sócio defere a sua entrada até ao prazo máximo de 5 anos; a interpelação só
pode ocorrer quando se verificar o prazo dos 5 anos, não pode ocorrer a todo o tempo.
Sócio C: O art. 203.º limita o momento até ao qual se pode realizar a entrada, não sendo
admissíveis cláusulas de condição relativamente ao regime das entradas (quando se diz que o sócio vai
entrar na sociedade quando tiver dinheiro para isso, ou que entra na sociedade quando a mesma
precisar de dinheiro). Tal não faz sentido, e tem de ser declarada uma data certa para a entrada, sob
pena de nulidade da cláusula. Então, o diferimento da entrada em espécie do sócio C não pode ser
válida, porque o art. 277.º/ 2 apenas se refere ao deferimento de entradas em dinheiro, tratando-se de
uma coisa, não poderá existir esta situação.
Negócio D e E: No que toca ao negócio celebrado entre a sociedade e Diana e Edmundo
(compra e venda de um camião frigorífico em segunda mão), pode estar em causa uma estrada em
espécie dissimulada, visto que o bem adquirido aos próprios sócios não foi sujeito à avaliação de um
relatório. O art. 29.º entra aqui, visando evitar fraudes nas entradas dos sócios, por isso, a aquisição
dos bens por uma S.A. deve ser aprovada por deliberações dos sócios, precedida da verificação do
valor dos bens (art. 28.º), sob pena de ineficácia.
A lógica subjacente ao art. 29.º é a de que, quando se realiza a entrada em dinheiro
dissimulada - para o bem não ser avaliado -, é obrigatório passar pelo art. 28.º, para não se furtar ao
controlo dos credores neste tipo de entradas. É uma norma de proteção dos credores da sociedade. Este
preceito tem três requisitos: um requisito de âmbito subjetivo que tem a ver com o facto de, num
negócio a apreciar, tem de ter intervenção um sócio ou por uma pessoa interposta [alínea a) do n.º 1];
depois, uma questão relacionada com um requisito de tipo objetivo ou quantificativo - valor do bem -,
havendo a necessidade de ver se os mínimos estão verificados [alínea b) do n.º 1]; há um requisito
temporal [alínea c) do n.º 1].
O n.º 2 é uma norma excecional pois retira do âmbito do art. 29.º um conjunto de situações:
aquisições feitas em Bolsa (não se compra fora do mercado, mas no contexto da Bolsa) ou aquisições
feitas através de processo executivo (há um juiz e um agente de execução que controlam o valor dos
bens, não sendo as partes a fixá-lo livremente).
A questão do objeto da sociedade não se aplica aqui.
Estas aquisições têm de ser deliberadas em contexto da Assembleia Geral. Há um
impedimento do direito de voto dos sócios que tenham interesse: pode participar, mas não pode votar.
Ineficácia quanto à realização das transações se não for seguido o art. 29.º: há inoponibilidade
deste contrato à sociedade. A sociedade não pode exigir o pagamento ou a entrega dos bens.
O art. 29.º/ 1 estabelece que só se aplica às S.A. e às Sociedade em Comandita por ações.
Pergunta-se se se pode extrapolar para as Sociedades por Quotas:
- FERNANDO SÁ defende a aplicação analógica do art. 29.º às SQ ou que, no limite,
se poderia aplicar o instituto da fraude à lei; se o art. 29.º visa proibir as entradas
dissimuladas, vale para as S.A. e para as SQ (cumprir a intangibilidade do capital
social, garantindo que em ambas as situações os credores da sociedade ficam
garantidos através do capital social);
- OSÓRIO DE CASTRO tem outra posição, dizendo que o art. 29.º só se aplica às S.A.
e às Sociedades em Comandita por ações, apesar de defender que se pode socorrer do
instituto do levantamento da personalidade para responsabilizar o sócio pela diferença
quando ela exista entre o valor efetivo da sua entrada e o valor da entrada que se
comprometeu a realizar.
ii) Marante foi mais esperto: entregou à sociedade os € 15.000 a que se comprometera
por ocasião do aumento, e promoveu o pagamento pela CS de uma dívida antiga, de € 15.000,
resultante da venda de uma mesa de misturas em 2010.
Estando em causa uma Sociedade Anónima, e tendo sido contraída uma dívida, importa referir
que só a sociedade pode ser responsabilizada por essas dívidas, segundo o art. 271.º do CSC. Isto,
porque as Sociedades Anónimas são tipos sociais de responsabilidade limitada.
Marante entrou com bens financeiros para a sociedade, para o aumento de capital social, mas,
de seguida, a sociedade devolve-lhe o valor relativamente à mesa de mistura.
Compensação: Ao contrário do primeiro cenário (Emanuel), aqui, tem-se a entrega pelo sócio
Marante de determinada quantia à sociedade, para que a sociedade depois devolvesse o dinheiro. Esta
é uma espécie de compensação diferida no tempo, proibida pelo art. 27.º/ 5 do CSC. Ora, se existe
uma proibição genérica de compensação, não faria sentido admitir que se pudesse ter um esquema nos
termos do qual se podia entrar com dinheiro na sociedade, liberando a sociedade dinheiro a seu favor
(pagando uma dívida anterior). Isto deve-se ao facto de isto corresponder a uma entrada em espécie
dissimulada ou mesmo a um esquema de compensação dissimulada de crédito.
Não há necessariamente uma aplicação direta do art. 29.º ao caso, mas pode haver uma
aplicação analógica.
Esta questão foi colocada na jurisprudência alemã, que formou dois grandes critérios
essenciais para a eventual colocação em causa deste tipo de operações em particular:
1) Proximidade objetiva (proximidade entre o valor relativo de aumento de capital e o
valor de entrada): pode haver uma aproximação ao regime das entradas em espécie e
simultaneamente pode estar em causa, por exemplo, a realização de uma entrada pelo
valor de 10 000€ para promover o pagamento de uma dívida que a sociedade tenha
também nesse valor; há, assim, uma proximidade objetiva que tem a ver com a
aproximação desta realidade às entradas em espécie e perante o próprio objeto das
entradas.
2) Proximidade temporal: entre o regime da entrada em dinheiro e o reembolso da
dívida, há uma proximidade tal que mostra que a intenção foi a da realização de uma
entrada dissimulada, ou a realização de uma compensação não permitida legalmente.
Constatadas estas realidades, ainda é de questionar se tem ou não de existir intenção
fraudulenta ou se esta análise pode ser feita apenas do ponto de vista objetivo (verificando os dois
critérios). Podem seguir-se dois caminhos:
1) Aplicação analógica do art. 29.º. A lei não proíbe. Atenta a proibição da compensação
nos termos do art. 27.º/ 5, faria sentido aplicar a regra do art. 29.º? Olhando para
esta situação, poder-se-ia entender que, nos termos do art. 29.º, tal se tratava de um
negócio que verifica o requisito temporal previsto no art. 29.º/ 1, c) do CSC: entender
o pagamento pela sociedade como um negócio realizado neste período temporal,
estado sob o regime do art. 29.º.
Pelos arts. 27.º, 28.º e 29.º não há nenhuma limitação expressa que proíba que o sócio
realize a sua entrada em dinheiro e que, logo a seguir, promova a que a sociedade lhe
pague uma dívida que tem para com ele, o que redundaria na possibilidade de se
admitirem as entradas em dinheiro e a seguir o pagamento da dívida.
A extensão analógica do art. 29.º pode ser aplicada a estas situações [art. 29.º, b)
quanto ao requisito quantitativo]. Sujeita-se, nos termos do art. 29.º/ 3 isto ao regime
do art. 28.º do CSC → proximidade temporal.
2) Aplicação analógica do art. 29.º, sem dobrar os dois requisitos [considerando que a
dívida nasceu em 2010, significa que o requisito da alínea c) o art. 929.º/ 1 não estava
verificado]. Como a dívida foi constituída mais de dois anos antes, não haveria razão.
Olhando para esta verificação, com o requisito objetivo e temporal, existem entradas
ocultas e até compensações dissimuladas que, no caso das entradas em espécie, têm o
regime específico do art. 28.º; para a compensação, há um regime específico no art.
27.º/ 5, que proíbe a sua realização, sendo apenas possível nos termos do art. 27.º/ 4
relativamente à questão dos lucros da sociedade com a obrigação de entrega não
cumprida.
O art. 29.º pretende regular a proibição de entradas ocultas que pretendam fugir ao
relatório do art. 28.º Estabelece-se um paralelo axiológico ao regime do art. 29.º/ 1, c).
óbice: oa rt. 29.º diz respeito a contratos que sejam realizados num momento posterior,
pelo que podem estar a aplicar-se formalismos de forma desnecessária.
3) Quando existem cobranças de dívidas do sócio para com a sociedade em momento
próximo ao do aumento de capital, este pagamento depende sempre do art. 28.º e
relatório. Há margem de aplicação, visto que o art. 28.º se aplica às entradas em
espécie. A última solução seria aplicar analogicamente o art. 27.º/ 5: há compensação,
porque o sócio vai buscar à sociedade aquilo de que dotou a sociedade do aumento de
capital.
4) Não estão verificados quaisquer pressupostos relativamente a este preceito, pelo que a
operação de pagamento por parte da sociedade seria válida. Portanto, não há óbice
legal a que exista a situação de o sócio cobrar uma dívida.
O art. 86.º/ 2 do CSC, que contempla a regra geral, refere-se à alteração do contrato,
enunciado que se esta envolver o aumento das prestações impostas pelo contrato aos sócios, o aumento
é ineficaz para os sócios que não tenham nele consentido.
No que toca as prestações suplementares, estas não estão convencionadas para as Sociedades
Anónimas, mas apenas a possibilidade de obrigação de prestações acessórias, como resulta do art.
287.º do CC. No entanto, tem-se entendido aplicar analogicamente o regime das Sociedades Por
Quotas quanto às prestações suplementares, nomeadamente o art. 210.º: deve ser contratualmente
acordada, sendo compatível com o princípio da autonomia privada e excepcionando as regras com
carácter excecional, designadamente o caso da sanção de exclusão por incumprimento. A favor desta
tese, e contra MENEZES CORDEIRO, pronunciou-se ANA PERESTRELO, deixando-nos com os
seguintes argumentos a favor da aplicabilidade das prestações suplementares às S.A.:
- Em termos económicos, é uma figura que faz sentido existir numa S.A., tal como
numa SPQ. Os sócios têm o seu interesse ao prever uma prestação acessória.
- O âmbito do Direito Societário, que é Direito Privado, rege-se pelo princípio da
autonomia privada: se não se encontrar razões para limitar a forma de
financiamento, tem de se considerar admissível. Haver outros meios de
financiamento ao alcance dos sócios é irrelevante. Se não há razões para proibir,
De acordo com o art. 210.º/ 5 do CSC, as prestações suplementares não vencem juros (são
gratuitas) e o prazo da sua exigibilidade depende da deliberação dos sócios, não podendo, porém, ser
inferior a 30 dias a contar da comunicação aos sócios (art. 211.º/ 1 do CSC).
A sociedade não pode exonerar os sócios da obrigação de efetuar prestações suplementares,
como estatui o art. 212.º/ 3 Está em apreço uma questão relativa ao art. 210.º/ 3, a), porque não foi
estabelecido o montante global sobre as prestações suplementares (não implica que seja fixado este
valor das prestações, permitindo-se que existam cláusulas quanto a ela). A fixação dos valores pode
ser feita com limites máximos, com o objetivo de flexibilizar este mecanismo.
Nesta hipótese, o sócio E exigiu a constituição de uma hipoteca sobre um imóvel, de forma a
garantir o reembolso pela sociedade. Porém, de acordo com o art. 245.º/ 6, são nulas as garantias reais
prestadas pela sociedade relativas a obrigações de reembolso de suprimentos, uma vez declarada a
insolvência da sociedade (os créditos por suprimentos cedem no confronto com créditos de terceiros
ou de sócios enquanto terceiros): a garantia só é nula se estiver no âmbito de um contrato de
suprimento.
Neste caso, coloca-se a questão da extensão ou não dos suprimentos às S.A.: a doutrina
maioritária é favorável, vindo RAÚL VENTURA sustentar esta tese, onde apenas o acionista
empresário é que pode realizar os suprimentos (ou seja, o acionista que dispusesse pelo menos 10% do
capital social, ao abrigo do disposto no art. 392.º e no art. 418.º/ 1 (onde se estabelece um limite
quantitativo ao exercício dos direitos por parte dos sócios). COUTINHO DE ABREU critica esta
solução, porque, se não há uma norma que fixe este quantitativo para ser sócio empresário, então deve
adotar-se um critério mais flexível. MENEZES CORDEIRO, por sua vez, considera que, pelo art.
243.º/ 1, 2 e 3, pode estar-se perante contratos de suprimento se tiver carácter de permanência e se se
estiver perante um acionista ordenado (acionista colocado na situação particular em que o sócio se
encontra, teria realizado uma prestação de capital a favor da sociedade numa situação em que exista
uma crise financeira ou necessidade de financiamento por parte da sociedade: critério do acionista
ordenado).
No caso de Emanuel, nunca se exigiu o pagamento do montante, tendo passado mais de 1 ano
(arts. 243.º/ 1, 2 e 3 do CSC). Contudo, existe um problema que se prende com a exigência de uma
garantia real prestada pela sociedade a favor do sócio por este crédito de suprimentos. O art. 245.º/ 6
do CSC veda a exigibilidade de uma garantia pela sociedade a favor do sócio.
Relativamente ao sócio M, este também efetuou um contrato de suprimento com a sociedade,
à luz do disposto no art. 243.º do CSC: efetuou uma entrada em espécie. No caso de Marante, não se
tem um índice de carácter de permanência, porque sempre demandou a sociedade para que pagasse o
que devia. Este índice, nos termos do art. 243º/1, 2 e 3, revela uma intenção volitiva de o sócio não
exigir à sociedade o pagamento. Nesta hipótese, tal não se verifica, pois ele interpelou a sociedade
várias vezes. Não era a sua intenção que este crédito durasse por prazo superior a 1 ano ou que, se os
índices de permanência que vêm mencionados no artigo.
Há aplicação do art. 243.º/ 4: não obstante a aparência externa ser de que a dívida está vendida
há mais de 1 ano e não foi paga, é admissível que nestas situações possa ser ilidida esta presunção,
através de apresentação/demonstração de todos os atos que foram dirigidos à sociedade tendo em vista
a satisfação do direito de crédito em causa.
CORREÇÃO: Qualificava-se este suprimento de base contratual (art. 243.º/ 1 e art. 244.º/ 1 do
CSC).
Não existe, no âmbito das S.A., os suprimentos, por isso, ou vai-se buscar às SPQ ou diz-se
que não existem e não são aplicáveis. Parece difícil defender a ideia de que não podem existir
suprimentos nas S.A.: aplica-se o regime das prestações acessórias, se o suprimento estiver previsto no
contrato; se as prestações acessórias se aplicam às S.A,, não se justifica que o suprimento não possa
estar também, e ainda por razões históricas.
A generalidade da doutrina defende a extensão desta matéria e RAUL VENTURA tem uma
posição mais limitada - não pode haver aplicação analógica na medida em que só podem haver
suprimentos quando se esteja presente um acionista empresário (que se limita a emprestar dinheiro à
sociedade, mas tem objetivo a longo prazo que detém pelo menos 10% do capital - art. 392.º e art.
418.º/ 1) e não um acionista investidor.
MENEZES CORDEIRO e COUTINHO DE ABREU referem que o critério é útil, mas a
fixação dos 10% é puramente aleatória, havendo outros elementos no Código - direito à informação e
direito à convocação de Assembleia Geral -, por isso é arbitrário. Substitui-se por um critério de
acionista ordenado - diligente, que naquela posição em concreto realizaria a favor da sociedade uma
contribuição de capital.
PAULO OLAVO CUNHA admite suprimentos, pois só existem na prática, com a
particularidade de ter de haver ações nominativas
O sócio E emprestou dinheiro à sociedade em situação de declínio. pode especular-se se o
sócio está à espera ou não que a sociedade vá reembolsar no prazo de um ano. À partida não, porque
situação de declínio; por isso, verificar o índice de permanência necessário para este efeito.
Quanto a M, ele faz a cessão, não se combina prazo, mas no momento imediatamente a seguir
à cessão, o sócio interpela o diretor financeiro para realizar os pagamentos. significa que o sócio não
estava interessado no carácter de permanência (não estava para esperar que a sociedade lhe pagasse
quando quisesse. Há lugar à ilisão da presunção de carácter de permanência prevista no art. 243.º/ 4
(pode ilidir, demonstrando que fez esforços sérios, porque não era intenção do sócio manter esta
obrigação no prazo de 1 ano)
v) No início de 2019 Emanuel alienou o seu crédito de € 125.000 a Romana, que não é
sócia da CS. No final de 2019, Romana requereu a declaração de insolvência da CS.
Quid iuris?
No que toca à cedência do crédito a Romana, não existe nenhum obstáculo legal, nem
contratual. A cedência do crédito não altera a sua natureza.
A particularidade, aqui, tem a ver com o art. 245.º/ 2 e com o art. 245.º/ 3, b). O titular dos
créditos não pode requerer compensação de créditos com a sociedade. No contexto de insolvência,
estes créditos vêm previstos como créditos subordinados [art. 48.º, g) do CIRE]. Um crédito que nasce
como crédito de suprimento morre como crédito de suprimento (se nasce na esfera do sócio, mesmo
que ele seja transferido para terceiro, ele preserva qualidade de crédito de suprimento).
Romana estava impedida de requerer a declaração de insolvência.
Durante a assembleia geral anual de março de 2021, Ribeiro voltou à carga e solicitou ao
Presidente da AG que fossem prestadas informações a todos os sócios sobre os «ordenados
escandalosos dos gerentes». Esta informação não lhe foi prestada.
Ribeiro, furioso, pediu de novo a palavra e exigiu que lhe fossem explicados, como se de
um bebé se tratasse, os detalhes técnicos do novo vagão de transporte, que segundo a
administração «iria revolucionar o tráfego no Vouga». O sócio Constantino esfregou as mãos
com aquele alarido: também é acionista e administrador da Duquesa do Lordelo, S.A., que
explora o sofisticado Trem de Grande Rapidez e Velocidade do Lordelo, e dá-lhe jeito conhecer
os avanços técnicos da PV.
Formação do conceito de lucro: não podem ser distribuídos lucros quando ainda haja
prejuízos por cobrir - prejuízos transitados. Isto levaria a uma alteração do conceito de lucro (se
houvesse sócio isento de participação nas perdas, para ele poderia ser distribuível, na medida em que
poderiam transitar os prejuízos); mais do que o art. 22.º/ 3 estaria colocado o art. 33.º do CSC.
Dever de participar nas perdas: a responsabilidade dos sócios, além das suas entradas, existe
de forma mais ou menos restritiva, quer no âmbito das SPQ, quer no âmbito das S.A.. Ao repartir as
perdas, existindo prejuízos para a sociedade, não pode haver uma repartição dos prejuízos
estabelecendo que alguns dos sócios ficarão prejudicados em relação a isso, não recebendo lucros da
sociedade ou que os sócios devem compensar a sociedade pelos prejuízos que sofreram. Esta regra é
muito limitada na sua aplicação (nomeadamente nas sociedades de responsabilidade limitada - SPQ e
S.A.). É mais relevante para as sociedades em comandita - relativamente aos sócios comanditários.
➢ Poderia uma cláusula deste tipo ser introduzida nos estatutos através de alteração
ao contrato?
Nas SPQ esta matéria não oferece dúvidas - o art. 217.º admite. A maioria necessária é de ¾
do capital (mesma maioria para alteração do contrato).
Mas para as S.A. as maiorias são diferentes: para constituição de reservas, a maioria aplicável
para alteração do contrato é a do art. 294.º (e não do art. 383.º conjugado com o art. 386.º do CSC).
Contudo, estas conclusões parecem valer apenas para efeitos das sociedades de duração limitada; nas
de duração ilimitada (não se sabe quando vai entrar em liquidação, se alguma vez vier a entrar); o
princípio capitalista - sócios investem com esperança de recuperar os lucros e estando o direito ao
lucro consagrado como um dos principais, o que obstaria a proibição de distribuição de lucros durante
toda a vida da sociedade, não se sabendo em concreto a duração da sociedade.
➖
Cálculo:
VALOR DO LUCRO DE EXERCÍCIO VALORES NECESSÁRIOS PARA FORMAÇÃO DA RESERVA LEGAL
E COBERTURA DE PREJUÍZOS TRANSITADOS (quando existam, por imposição do art. 33.º)
Depois, ver se há acionistas com direitos especiais ao lucro (art. 24.º) ou acionistas preferenciais sem direito de voto: recebem
dividendo prioritário (recebem antes dos demais socios ); fora disto, art. 22.º
A competência para distribuição de lucros da sociedade cabe aos sócios - art. 31.º/ 1 e art.
246.º/ 1, e) + art. 376.º/ 1, b).
Resulta do art. 33.º a definição de lucro distribuível: nem todo o lucro gerado no primeiro
exercicio é passível de distribuição. Assim, relativamente à matéria do lucro do exercício, ele deriva
A resposta seria a mesma se, durante o ano de 2021, a gerência verificasse que a
locomotora adquirida pela PV, avaliada em € 500.000, se perdera definitivamente num acidente,
e que este dano não estava coberto por qualquer seguro?
Lucros distribuíveis: são 17 500 €.
Havendo um prejuízo de 500 000€, não há lucro distribuível: havendo prejuízo após o
encerramento de exercício, resulta que os lucros não pagos pela sociedade aos sócios do art. 32.º e art.
31.º/ 2, a). Neste caso, apurou-se um lucro de 500 000€, que corresponde ao lucro do exercício. Para
chegar ao lucro distribuível, fazem-se as operações impostas pelos arts. 32.º e 33.º, nomeadamente à
cobertura dos prejuízos transitados e, por outro lado, à constituição da reserva legal. O valor da reserva
legal mínima calcula-se sobre o lucro do exercício. Ficava-se com menos 30 000€, pois é o valor que
se retira para a cobertura dos prejuízos transitados. Para efeitos da reserva legal, calcula-se 5%, o que
resulta em 2 500€ (que se retiram para a reserva). Com este valor, está-se com 17 500€, como lucro
passível de distribuição (art. 22.º - lucro passível de se distribuir pelos sócios).
Contudo, há outra questão relacionada com a perda da locomotiva, que ocorreu em fase
posterior. Após a deliberação por parte da AG, cabe à gerência ou à administração proceder ao
pagamento destes lucros aos sócios, e o exercício do direito ocorre 30 dias após a distribuição. Neste
caso, há dever da gerência de não dar execução, visto que ocorreu após o termo do exercício. Nos
termos do art. 31.º/ 2, a), passa existir a obrigação dos membros do Conselho de Administração de
proceder à distribuição dos lucros sempre que ocorram factos que afetem a situação líquida da
sociedade.
O capital social era de 100 000€, a locomotiva que se perdeu era no valor de 50 000€ (valia 10
vezes mais do que o lucro do exercício apurado, e 5 vezes mais do que o capital social).
Por isso, seria de presumir que a situação líquida da sociedade estaria posta em causa, na
medida em que o passivo superaria o ativo da sociedade, e a diferença era insuficiente para a
cobertura do capital e das reservas. Logo, o CA estaria impedido de realizar esta distribuição.
Por outro lado, poderia estar em causa uma situação do art. 35.º do CSC, relativamente à
matéria de perda de mais de metade do capital social - ou havia outros bens do ativo da sociedade que
permitam a cobertura deste tipo de prejuízos - situação da sociedade sendo deficitária; ou, sendo
deficitária, há lugar à aplicação do art. 35.º
O art. 33.º procede à delimitação negativa do lucro distribuível, iniciada no art. 32.º, ao dispor
que não se contam como lucros distribuíveis os montantes necessários para cobrir prejuízos transitados
ou para constituir ou reforçar reservas impostas pela lei ou pelos estatutos (art. 33.º/ 1).
Há, então, três possibilidades:
1. Se se interpretar como cláusula mínima de distribuição de 50%;
2. Se todos os sócios estiverem de acordo com a distribuição integral dos lucros de 2019,
havendo unanimidade (não existia problema relativamente ao art. 217.º nem ao art.
294.º, porque há unanimidade no sentido de distribuição integral do montante);
3. Se não se tiver nada no contrato que estabeleça uma maioria de aprovação da não
distribuição de pelo menos 50% dos lucros do contrato de sociedade, qualquer
deliberação de não distribuição de pelo menos 50% dos lucros carece de aprovação
por ¾ do capital social da sociedade.
Estas são normas que visam salvaguardar a distribuição de, pelo menos, 50% dos lucros,
exceto se os sócios votarem no sentido da não distribuição. Quando se vota pela não distribuição, é
necessário haver aprovação por maioria de ¾ para que a deliberação seja válida. Neste caso, nada
indica qual foi a maioria de aprovação, parecendo que há unanimidade na distribuição.
- 50% ou mais: maioria simples;
- menos de 50%: maioria qualificada de ¾ .
Não podendo esquecer que a reserva legal corresponde a 20% do capital social e, nesta
hipótese, não há nenhum caso sobre isso, não se sabe se está cumprida ou o que falta para estar
cumprida. A reserva dos 5% do lucro distribuível do exercício apenas pode funcionar nas
circunstâncias em que ainda não haja sido completado o valor da reserva legal (ou seja, se se atinge os
20% do capital social, já não é preciso estar a retirar os 5%).
Nos termos do art. 21.º/ 1, c) do CSC, os sócios têm direito à informação, isto é, de obter
informação sobre a vida da sociedade e, portanto, de conhecer a sua sociedade independentemente do
seu tipo social. Nas Sociedades Por Quotas, este direito vem desenvolvido nos arts. 214.º e ss., e para
as Sociedades Anónimas, vem disciplinado nos arts. 288.º e ss. do CSC. A violação deste direito é
crime, com sanção penal, ao abrigo dos arts. 518.º e 519.º do CSC.
O direito à informação tem uma relevância autónoma, pois não é apenas um direito
funcionalizado a outros direitos, valendo por si, com a motivação principal de mitigar o
distanciamento do sócio em relação à sociedade. Além disso, prende-se com uma posição de igualdade
de todos os sócios. Porém, também tem um papel acessório ou instrumental de outros direitos, já que
serve para possibilitar a participação em AG e funciona numa ótica de controlo da Administração.
O direito à informação desdobra-se em várias modalidades: em sentido estrito significa o
direito a fazer perguntas, se se quer obter uma informação; o direito de consulta dos livros sociais dos
documento contabilísticos e de todos os documentos que refletem pactos sociais; e o direito de
inspeção dos bens sociais, que compõem o património da sociedade (se a lei permitir).
Não sendo iguais nos dois tipos sociais,
- para as Sociedades Por Quotas: a amplitude do direito à informação é muito marcada, não
havendo restrições subjetivas, e porque os sócios são menos (art. 214.º); todos os sócios têm
direito à informação nas três modalidades e, segundo o art. 214.º/ 1, a informação é dada por
escrito se o sócio pedir; no que toca ao direito a fazer perguntas, elas podem incidir sobre atos
já praticados, mas também sobre atos cuja prática seja esperada (art. 214.º/ 3) - as perguntas
abrangem todas as matérias que sejam da competência do órgão de gestão (art. 214.º/ 1); o
direito de consulta está previsto no art. 214.º/ 5 do CSC; no que toca à informação em sede de
Assembleia Geral, o art. 214.º/ 7 remete para o regime das Sociedades Anónimas (art. 290.º);
por fim, existindo utilização indevida e ilícita de informação, o art. 214.º/ 6 estabelece a
consequência da responsabilidade do sócio e possibilidade de exclusão do mesmo.
- para as Sociedades Anónimas: o direito à informação não é tão amplo por razões práticas (pelo
risco de bloqueio da atuação da Administração; e pelo risco de divulgação alargada); neste
tipo social são feitas restrições no art. 288.º (que reconhece direito mínimo à informação dos
sócios com 1% do capital social) e no art. 291.º (que restringe a suscetibilidade de fazer
perguntas aos sócios com 10% do capital social); quanto ao direito mínimo à informação,
qualquer acionista com pelo menos 1% do capital social - isoladamente ou em conjunto - tem
este direito, que é um direito de consulta, apesar de o sócio ter de alegar ‘’motivo justificado’’
(art. 288.º), expressão que não é bem vista pela doutrina; o direito de acesso de informações
preparatórias da AG é um direito de consulta, que se aplica até a quem não tem direito de voto
(art. 289.º); o direito de informação no contexto da própria AG refere-se a todos os acionistas,
que podem dirigir perguntas à Administração (art. 290.º); por fim, o direito de fazer perguntas
à Administração só pode ser feito por quem tenha - isoladamente ou em conjunto - pelo menos
10% do capital social (art. 291.º e art. 379.º/ 5); no que concerne à utilização indevida e ilícita
da informação, aplica-se o art. 291.º/ 6 do CSC.
Durante a assembleia geral anual de março de 2021, Ribeiro voltou à carga e solicitou ao Presidente da AG que
fossem prestadas informações a todos os sócios sobre os «ordenados escandalosos dos gerentes». Esta informação não lhe
foi prestada.
No caso concreto, quando Ribeiro solicita ao Presidente da Assembleia Geral a prestação de
informações sobre os ordenados dos gerentes, estando em causa uma Sociedade Por Quotas, há direito
à informação, nos termos do art. 214.º do CSC. Contudo, como a informação se refere ao ordenado de
um dos órgãos da sociedade, tal já pode suscitar alguma questão. Nas Sociedades Por Quotas, o direito
à informação é amplo, não havendo restrições; mas há situações em que é possível recusar informação,
como consta do art. 215.º, ainda que a recusa tenha de ser devidamente fundamentada. Ora, se se
considerasse que poderia trazer risco e prejuízo para a sociedade a utilização desta informação pelo
sócio, ou que ele o faria para fins estranhos à sociedade, haveria caso de impedimento de direito à
informação. Caso contrário, entrariam em ação as consequências de recusa ilícita da informação: art.
216.º (inquérito judicial); anulabilidade no caso de deliberações sociais [art. 214.º/ 7 e arts. 58.º/ 1, c)
e 290.º/ 3 do CSC); ou responsabilidade dos administradores com justa causa (art. 257.º).
A Assembleia Geral aqui em causa é a Assembleia Geral anual, cujo objetivo principal é a
prestação de contas. Dentro disso, inclui-se a temática dos ordenados dos gerentes, por isso a
informação poderia ser prestada. Está em causa pedir informações sobre as próprias contas da
sociedade.
Mas há uma linha que separa este direito de pedir informações face à correspondente
obrigação de a gerência prestar estas informações: art. 288.º/ 1, c) do CSC. O direito a pedir
informações não abrange informações sobre os rendimentos agregados de cada um:
- pode ser matérias da intimidade da vida privada, pelo que à partida não são divulgados
e não há conhecimento efetivo, porque as declarações de IRS não são públicas;
- nas SPQ é obrigatória a descrição dos vencimentos de cada membro e dos
administradores da sociedade, pelo que haverá pouca margem para a recusa desta
informação;
- contudo, MENEZES CORDEIRO pensa que o direito de pedir informação no
contexto de Assembleia Geral tem um dever acrescido de o sócio fazer os trabalhos de
casa: se pode pedir informação em momento anterior, e opta por só pedir informação
no decurso da AG, tal pode causar prejuízo para os trabalhos da AG e pode ser
entendido como um pedido abusivo.
O dever de informação que existe é uma informação global e não individualmente a cada um
dos administradores: art. 288.º, a) do CSC. Pode suscitar-se uma questão da confidencialidade, nos
termos do art. 290.º (recusa de prestação de informação - art. 290.º/ 2 e art. 290.º/ 4).
Ribeiro, furioso, pediu de novo a palavra e exigiu que lhe fossem explicados, como se de um bebé se tratasse, os
detalhes técnicos do novo vagão de transporte, que segundo a administração «iria revolucionar o tráfego no Vouga». O
sócio Constantino esfregou as mãos com aquele alarido: também é acionista e administrador da Duquesa do Lordelo,
S.A., que explora o sofisticado Trem de Grande Rapidez e Velocidade do Lordelo, e dá-lhe jeito conhecer os avanços
técnicos da PV.
Estando em causa uma Sociedade Por Quotas, o art. 214.º/ 7 do CSC refere que a prestação de
informações em sede de Assembleia Geral seguem o disposto para as Sociedades Anónimas,
remetendo para o art. 290.º do CSC.
De acordo com o art. 290.º/ 1, o acionista requer que lhe sejam prestadas informações
verdadeiras, completas e elucidativas; e, segundo o art. 290.º/ 2 essas informações só podem ser
recusadas se a sua prestação puder causar grave prejuízo à sociedade.
Existe um dever da mesa da Assembleia de saber quem são os seus acionistas, devendo ter
conhecimento de que um deles é administrador de outra sociedade (art. 290.º/ 1 do CSC). Não sendo
indicado se o assunto em causa estava sujeito a deliberação, a recusa poderia ser validada porque havia
outro acionista que poderia usar a informação em benefício de outra sociedade, não devendo a
informação ser prestada em sede de Assembleia, mas unicamente a Ribeiro. Se a informação fosse
prestada a Constantino, este não a poderia utilizar, porque sendo administrador de uma empresa
concorrente, isso causaria prejuízo à Sociedade do Vouga (LDA).
Quanto a Constantino, pode ser-lhe aplicável o art. 214.º/ 6 (para SPQ) ou o art. 291.º/ 6 (para
S.A.) quanto à utilização indevida e/ ou ilícita da informação - pode vir a ser responsabilizado. Existe
um direito de recusa da informação, que, para as SPQ está no art. 215.º/ 1 do CSC e, para as S.A. está
consagrado no art. 291.º/ 4, a) - quando isso traga risco para a sociedade, na medida em que o sócio
utilize para fins estranhos à sociedade.
A razão pela qual o direito à informação não pode ser tão amplo nas Sociedades Anónimas é,
além de outras, um avultado risco de divulgação alargada: há maior risco de atitudes abusivas, por
exemplo, e como parece ser o caso, entrar na sociedade para colher informação (o sócio Constantino,
sendo sócio desta S.A. e ainda acionista e administrador de outra sociedade). Por isso, só é
reconhecido o direito mínimo à informação dos sócios com pelo menos 1% do capital social, como
resulta do art. 288.º do CSC. E só pode fazer perguntas quem tem pelo menos 10% do capital social,
ao abrigo do art. 291.º do CSC.
Este direito à informação de Ribeiro insere-se no âmbito da própria Assembleia Geral e
insere-se no art. 290.º/ 1 do CSC: todos os acionistas têm direito de fazer perguntas na própria AG,
podendo dirigi-las à Administração; e é raro existir fundamentos para recusar a informação (as
informações devem ser completas e elucidativas); contudo, o art. 290.º/ 2 faz menção aos casos em
que a prestação de informação pode ser recusada - ou seja, quando isso puder causar prejuízo à
sociedade. Relativamente aos assuntos sobre os quais o sócio pode fazer perguntas, eles podem ser
tudo o que seja da gestão societária - ou seja, tudo da vida da sociedade -, desde que tenha 10% do
capital social; estas informações devem ser detalhadas e não genéricas.
recusa do sócio neste contexto, a consequência natural é a de que não se possa adotar uma deliberação
válida. Todavia, não se configura como uma situação de nulidade, ao abrigo do disposto no art. 56.º/ 1,
a) do CSC. Há, antes, uma exceção no que se refere a Assembleias Gerais não convocadas: o regime é
o de que tem de se fazer uma convocatória prévia; não havendo regime, aplica-se o art. 56.º/ 1, a);
mas, estando presentes todos os sócios, há uma exceção (‘’salvo se todos os sócios tiverem estado
presentes ou representados’’). A sanção seria, então, a da mera anulabilidade da deliberação.
As Assembleias Universais têm um interesse em geral, no sentido em que os sócios vão
avançar com uma deliberação tomada por eles; mas também permite que haja uma Assembleia Geral
convocada com um determinado conjunto de assuntos sujeitos a deliberação dos sócios. Perante esta
deliberação, a invalidade de que ela padece é o vício de procedimento anulável [art. 58.º/ 1, a) do
CSC], porquanto todos os sócios estavam presentes, mas como está feita a ressalva do art. 56.º/ 1, a)
não é a deliberação nula.
ATENÇÃO: Não há nenhum requisito que imponha a unanimidade dos sócios na deliberação a
adotar. Os sócios não têm todos de votar favoravelmente, nem contra (a votação é a que for).
2. Como as relações entre as três ficaram degradadas depois deste incidente, Ermelinda
não ficou surpreendida quando recebeu uma carta de Benedita, sugerindo que outro
estabelecimento da sociedade fosse dado em garantia, para obtenção de um financiamento de
apoio à tesouraria. Ermelinda achou que não tinha nada que responder, mas começou a ficar
enervada quando recebeu outra carta, através da qual lhe era pedido que decidisse sobre aquele
tema. Ermelinda acha que se nada responder, nada a pode afetar. Terá razão?
Parece estar em causa um problema de convocação da Assembleia Geral. Nas Sociedades
Anónimas, as Assembleias devem ser convocadas quando a lei o determine (art. 375.º/ 1 do CSC).
Quem tem competência para convocar é o presidente da mesa e, em certos casos excecionais previstos
pela lei, o órgão de fiscalização ou o tribunal (arts. 377.º/ 1 e 377.º/ 7).
A forma para efetuar a convocação é a publicação, por norma, como consta do art. 377.º/ 2 do
CSC. Mas pode enviar-se cartas registadas. Deve respeitar-se o prazo de 1 mês enunciado no art. 377.º/
4 do CSC e, da convocatória devem constar os elementos referidos no art. 377.º/ 5 (lugar, dia e hora da
reunião, ordem do dia, etc.). Se não for enviada uma convocatória, entende-se que foi violado o direito
à informação, segundo o art. 58.º/ 1, c) do CSC.
Deliberações por escrito não se confundem com votos por correspondência (exercício do
direito de voto é por escrito - art. 384.º/ 9 do CSC). Fora dessa situação, não existem nas S.A. (art.
247.º/ 2 a 7), só existindo nas SPQ.
A existência de duas notificações, no âmbito do exercício do voto por escrito:
- art. 247.º/ 3 remete para a primeira convocatória (pergunta-se aos sócios se pretendem
ou não aquele meio de comunicação, notificação que deve ser clara, pressupondo que
todo o processo se faça por comunicação escrita), sendo importante destacar que o
silêncio tem valor negocial; não tem de se ter um fundamento razoável para recusar o
método deliberativo;
- se não houver oposição dos sócios quanto a este meio deliberativo, passa-se para o art.
247.º/ 4, em que é enviada a proposta de deliberação, indicando-se obrigatoriamente
um prazo para o exercício do direito de foto, art. 247.º/ 7 - deliberações só são
tomadas quando são recebidos todos os votos ou quando termina o prazo de votação
(tem o objetivo; resulta deste preceito que o voto não é obrigatório por este meio
deliberativo por escrito; art 247.º/ 5 - não se pode fazer votos condicionais, não
havendo lugar a nenhuma outra manifestação a não ser voto a favor, voto contra ou
abstenção; art. 247.º/ 8 - impedimento ao direito de voto (se o sócio está impedido de
votar, este método não pode ser seguido).
Há duas soluções:
- nem a primeira nem a segunda notificações estão perfeitas (não existindo menção da
cominação do art. 247.º/ 3, parte final - para o valor declarativo do silêncio tem de se advertir),
pelo que se dá uma falha no processo deliberativo, porque não se cumprem requisitos
procedimentais para este tipo de votação em concreto; caso em que não é de se aplicar o art.
56.º/ 1, b) porque todos foram convocados, mas foram mal convocados - no limite, a
consequência é a anulabilidade;
- se não se cumprir o art. 247.º/ 4, estabelecendo prazo para os sócios exercerem o direito de
voto, equivale (art. 247.º/ 7), a que só há deliberação quando o último sócio votar, situação em
que não existe deliberação, porque o sócio não votou.
➢ O art. 56.º/ 2 revela que se, para ter deliberação e voto escrito, carece-se de ter
convocatória ou todo o processo desencadeado pelo gerente (art. 247.º/ 3). ‘Quid
iuris’ se for um dos sócios a propor esta deliberação, votando todos a favor?
Segundo o art. 54.º do CSC, pode transformar-se isto materialmente numa deliberação
unânime por escrito, porque todos votaram favoravelmente.
3. A gota de água foi o último negócio celebrado entre a Só Pequenas, Lda. e Daniela.
Tratava-se da compra de um pavilhão industrial, pela sociedade a Daniela, por um preço
manifestamente superior ao seu valor de mercado. O tema foi levado a deliberação dos sócios:
Daniela e Benedita votaram a favor, mas Ermelinda votou contra, achando escandaloso não só os
termos do negócio, como também o facto de Daniela votar nesta deliberação. Ermelinda acha
que
(i) a deliberação não pode ser válida;
(ii) o negócio não pode ser válido; e que
(iii) pelo menos Daniela deve indemnizar a sociedade pelos danos a esta causados com
esta trapalhada.
Terá razão?
A primeira perspetiva abordar prende-se com o impedimento do direito de voto, o que está
previsto no art. 251.º para as Sociedades Por Quotas (e no art. 384.º/ 6 para as Sociedades Anónimas).
Ambos os preceitos são entendidos como normas taxativas (ainda que ANA PERESTRELO considere
que estes elencos devem ser entendidos como meramente exemplificativos), ou seja, as situações em
que existe impedimento do direito de voto são as previstas nos preceitos legais.
O art. 248.º/ 5 é a norma que regula a matéria de que o sócio impedido de participar numa
determinada votação não está impedido de estar na AG. Não há equivalência do direito de voto ao
direito de participação na AG. Tal é aplicável às S.A., não havendo nenhum impedimento para esta
matéria só ser regulada para as SPQ.
empate). Em suma, esta deliberação nunca teria sido aprovada se o voto do outro não tivesse sido
impedido. A conclusão era a de que a deliberação não seria aprovada (a deliberação não resistia ao
teste).
A lógica é a do favor societatis, na medida em que se preserva o conteúdo material da decisão
em que se perde tempo (o art. 62.º/ 2 prevê que, mesmo em situações de vício da deliberação, ainda
assim é possível renovar esta deliberação). O que teria de acontecer era uma nova deliberação, mas
sem que o sócio impedido pudesse votar. Ou seja, a deliberação seria aprovada mesmo sem o voto
daquele sócio concreto. Então, não há fundamento para anular a deliberação.
Neste cenário, não estava em causa uma situação do art. 56.º/ 1, c) ou d) do CSC, porque não
era um vício de conteúdo, mas um vício de procedimento (se sócio está impedido de votar e ainda
assim participa na deliberação).
Porém, tudo isto não esgota a problemática associada ao caso prático:
- se a deliberação fosse anulável, poderia ser intentada uma ação de anulabilidade;
- se a deliberação ainda pudesse ser válida, há um extra para colocar: há prejuízo
causado à sociedade, na medida em que o valor do negócio celebrado é superior ao
valor do mercado (convocação do art. 280.º/ 2 do CC - cláusula geral dos bons
costumes, concretizado na deontologia societária); como a sociedade tem finalidade
lucrativa, para proteção dos credores da sociedade, a lógica não pode ser a de que a
sociedade pague um preço elevado por um conjunto de bens, sobretudo quando está
em apreço aquisição aos sócios da sociedade.
Então:
Se fosse aplicado o art. 280.º/ 2 do CC, o negócio era nulo, com a consequente obrigação de o
sócio restituir à sociedade tudo o que foi adquirido por este negócio com a sociedade.
Se não se aplicasse o art. 280.º/ 2 do CC, questionavam-se os deveres de lealdade dos sócios,
quer para com a sociedade, quer entre si: poderia haver uma violação destes deveres.
De acordo com o art. 58.º/ 3 do CSC, nas situações em que haja voto abusivo, há lugar à
responsabilidade dos sócios (e solidariamente de todos os sócios que tenham intervindo na deliberação
e que tenham votado).
- Se se tivesse aplicado anulabilidade para o voto abusivo, a conclusão era a de que havia dever
do sócio de compensar a sociedade pelo prejuízo (por causa da diferença entre o valor que a
sociedade pagou e valor do bem no mercado).
- Se não se aplica o art. 58.º/ 3, ainda assim, pode ir-se à sua base: se há deliberação apta a
causar prejuízo à sociedade e benefício atribuído a um sócio, há uma obrigação geral de
indemnizar; o que remete para a teoria dos deveres de lealdade do sócio para com a sociedade.
- Ainda se podia ponderar eventual exclusão do sócio da sociedade, por violação dos seus
deveres de lealdade.
3. Reserva legal: tem-se o art. 295.º aplicável às S.A. e o art. 218.º aplicável às SPQ.
Podem, aqui, seguir-se duas orientações:
- uma teoria de que a reserva legal é importa nas Sociedades Por Quotas;
- a teoria de ENGRÁCIA ANTUNES, que defende que este artigo não se aplica às
Sociedades Por Quotas, em virtude da revisão de 2011; ou seja, a reserva legal é
insuscetível de existir nas SPQ, o que não traria, neste caso, problema quanto à
invalidade (estaria presente uma reserva livre, que pode ser distribuível, desde que
sejam respeitados os requisitos do teste de solvência.
Considerando que há reservas legais nas SPQ, segue-se o art. 218.º e, consequentemente, o art.
295.º (quanto à constituição da reserva legal) e o art. 296.º (quanto à utilização da reserva legal).
Conclui-se pela nulidade da deliberação, à luz do art. 56.º/ 1, d) do CSC.
(b) Benedita, que também é gerente, decide adquirir a quota de Ermelinda, para
viabilizar a recusa do consentimento da sociedade e evitar que a quota seja adquirida por
estranhos.
Nos termos do art. 231.º/ 4, coloca-se a questão da deliberação de aquisição da quota, neste
caso, quanto à questão do direito de preferência. Há diversas situações previstas.
Há lugar a uma preferência, que é proporcional ao valor das quotas de cada sócio na
sociedade, em caso de concurso de vários sócios que pretendam adquirir a mesma quota. A recusa de
consentimento tem de ser acompanhada de contraproposta. Não faz sentido a sociedade limitar que o
sócio transmita a quota a terceiro por livre vontade e depois ir ela à procura de um terceiro para vender
a quota.
É lícito a Ermelinda proceder a esta aquisição, chamado à atenção para o facto de que a recusa
de consentimento para transmissão da participação tem de estar ligada a duas situações.
3. Por fim, imagine que o contrato de sociedade proíbe, em absoluto, a cessão de quotas.
Se o contrato pode proibir a cessão de quotas (art. 229.º/ 1), não se pode verificar a cessão. É
uma derrogação do regime do art. 228.º/ 2 do CSC. Esta cláusula é a favor do sócio, permitindo que
ele saia da sociedade dentro de um horizonte temporal razoável. Se se reduz este limite, agravando-o,
não há proteção do interesse do sócio (seria ‘’amarrar’’ o sócio à sociedade).
Há que referir a limitação existente do prazo de 10 anos: há lugar a proibição genérica da
quota, desde que o sócio possa exonerar-se - sair da sociedade -, desde que estejam passados 10 anos
desde aquisição da quota do sócio na sociedade.
2. Imagine agora que o contrato de sociedade continha uma norma nos termos da qual a
sociedade pode recusar por três vezes, em relação a cada acionista, a transmissão de ações: à
quarta vez a sociedade tem que demonstrar esforços sérios para encontrar um comprador.
Nos termos do art. 329.º, há uma fixação do prazo, sendo que o art. 329.º/ 2 impõe a
exigibilidade de que os fundamentos da recusa têm de ser válidos, relacionados com o interesse da
sociedade, para recusar a transmissão. Por exemplo, se o sócio ainda não tiver realizado a sua
obrigação de entrada - porque houve deferimento - e quer transmitir a participação social antes de
executar essa obrigação. Dessa forma, a sociedade pode não ter forma de recusar.
Na maioria dos casos, não há interesse da sociedade digno de limitação da transmissão das
participações.
Concluindo, a cláusula seria nula, pois não há fundamento para a recusa. A sociedade poderia
recusar.
Poderia ser nula, ainda por outro argumento: o do art. 329.º/ 3 do CSC, que refere que a recusa
do consentimento é acompanhada da obrigação da sociedade fazer promover aquisição das quotas por
um terceiro, não podendo haver recusa pura do consentimento, tem de ter sempre como consequência
a aquisição por terceiro destas participações.